O Largo do Governador da Guiné do séc. XIX, Honório Barreto, em Lisboa desde 1964

Freguesia do Beato (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Beato
(Foto: Sérgio Dias)

Na Guiné, a Guerra Colonial foi iniciada a 23 de janeiro de 1963, com o ataque do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) ao quartel de Tite e no ano seguinte, o Edital de 23 de julho de 1964, atribuiu o Largo Honório Barreto na Freguesia do Beato, por via de uma sugestão da Sociedade de Geografia de Lisboa feita cerca de 11 anos antes, em homenagem  a um Governador da Guiné do séc. XIX, que era natural daquele território.

Em 22 de janeiro de 1953, Luís Nunes da Ponte proferiu uma conferência na Sociedade de Geografia de Lisboa intitulada «Honório Pereira Barreto, heróico governador negro da Guiné» e na reunião da Comissão Municipal de Toponímia de 12 de outubro desse ano, foi  analisado o pedido da Sociedade de Geografia de Lisboa, no qual solicitava que « o nome de Honório Barreto – heróico governador negro da Guiné – e, bem assim, os nomes de Caldas Xavier e Artur de Paiva, sejam atribuídos a artérias da capital» tendo então avançado « que o nome de Honório Barreto denomine a primeira transversal do Parque Eduardo VII, que liga a Avenida António Augusto de Aguiar à Avenida Sidónio Pais». Contudo, o Edital de 28/05/1956 atribuiu a essa mesma artéria a denominação de Rua Eugénio dos Santos que ainda hoje vigora. Assim, só pelo Edital de 23/07/1964 foi fixado o nome de Honório Barreto na toponímia de Lisboa, desta feita na freguesia do Beato, no cruzamento da Rua João do Nascimento Costa com a Calçada da Picheleira.

10-honorio-barretoHonório Pereira Barreto (Guiné – Cacheu/24.04.1813 – 16 ou 24 ou 26.04.1859/Bissau – Guiné), estudou em Portugal até ao falecimento de seu pai, em 1829, e foi um militar que chegou ao posto de tenente-coronel e a Governador da Guiné.

Era filho do caboverdiano, João Pereira Barreto Jr. –  Sargento-Mor e maior comerciante de Cacheu – e da guineense, Rosa de Carvalho Alvarenga,  conhecida por Dona Rosa de Cacheu ou Nha Rosa, uma reconhecida autoridade local. Aliás, Honório Barreto geriu com a sua mãe o negócio de família em Cacheu, onde os principais produtos dos seus negócios mercantis eram escravos obtidos dos Soninké/Mandinga e dos Bijagó.

Este Governador da Guiné manteve o controlo português da área e ainda estendeu territorialmente a sua influência. Desempenhou as funções de Provedor de Cacheu (1834) Capitão-Mor de Cacheu por três vezes (1834 – 1835, 1846 a 1848 e 1852), Governador da Praça de Cacheu (1852 -1854), e Capitão-Mor de Bissau por cinco vezes (1837 –  1839, 1840 – 1841, 1853 – 1854, 1855 – 1858 e de 1858 até à sua morte).

Conseguiu através de luta armada, mas também comprando terrenos, que Bolama e Casamansa não ficassem na posse dos ingleses e reconstruiu Bolama após os incêndios dos britânicos (1839). Em 1843 publicou a sua Memória sobre o Estado Actual da Senegâmbia Portuguesa, Causa da sua Decadência e Meios de a Fazer Prosperar. Também acabou com a sublevação dos Papéis de Bissau (1853) e as investidas dos Nagos (1856) enquanto cedia graciosamente à coroa portuguesa um território seu, na região dos Felupes de Varela (1857).

Honório Barreto foi galardoado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Cristo e com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, assim como teve a sua efígie em notas da Guiné de 1.000$00 (30 de abril de 1964) e 500$00 (27 de julho de 1971), bem como em selos e ainda deu o seu nome a uma corveta de guerra da Marinha Portuguesa em 1971.

Freguesia do Beato (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Beato
(Foto: Sérgio Dias)

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