Largo das Duas Igrejas é um topónimo setecentista que perdurou até aos dias de hoje, como as duas igrejas que o originaram, apesar de oficialmente o arruamento se designar Largo do Chiado desde 1925.
Era aqui a Porta ou Portas de Santa Catarina, construída na muralha fernandina entre 1373 e 1375, com as suas duas torres. Depois do séc. XVI as Portas de Santa Catarina coexistiram com a denominação Chiado, já que segundo Norberto de Araújo «Depois do século XVI essas designações foram simultaneamente usadas, havendo contudo um período, pelo menos, de distinção: Porta (ou Portas) de Santa Catarina – era o actual Largo do Chiado; Rua das Portas ou Rua Direita de Santa Catarina – era o troço da actual Rua Garrett, até onde se rompe a Rua Ivens de hoje; Rua do Chiado se chamava apenas ao troço desde esta confluência até ao topo, isto é: ao Convento do Espírito Santo, depois Palácio Barcelinhos, e hoje Armazéns do Chiado.»
As Portas de Santa Catarina foram demolidas entre 1702 a 1707 e o local começou a ser conhecido como Praça do Loreto, embora com o tempo tenha passado a ser mais usada a denominação Largo das Duas Igrejas por referência aos dois templos ali existentes: a Igreja italiana de Nossa Senhora do Loreto (de 1518 e restaurada em 1785) e a Igreja de Nossa Senhora da Encarnação (de 1708 e restaurada em 1784). O Cartulário Pombalino menciona a artéria como Rua das Duas Igrejas. De 1771 a 1853, o o Largo das Duas Igrejas tinha em si implantado o Chafariz do Loreto, encimado pela estátua de Neptuno, da autoria de Machado de Castro, que hoje está no centro do Largo de Dona Estefânia.
Já no séc. XX, em 1925, a edilidade lisboeta atribuiu a este arruamento a denominação de Largo do Chiado, com a legenda «António Ribeiro Chiado – Poeta do Século XVI», através da publicação dos Editais de 28 de abril e 19 de maio, homenageando assim o autor do Auto das Regateiras, tendo também a vereação municipal ali erguido uma estátua da autoria de Costa Mota (tio), inaugurada em 18 de dezembro desse mesmo ano de 1925.
Refira-se que António Ribeiro, conhecido como Poeta Chiado, apesar de ter professado na Ordem dos Franciscanos, abandonou a vida religiosa e veio viver para Lisboa, tornando-se conhecido como poeta popular e boémio, sendo até mencionado no Auto de El Rei Seleuco de Camões, o poeta maior para os republicanos. António Ribeiro Chiado dedicou-se sobretudo à poesia jocosa e à sátira sobre a vida social do período em que viveu, sendo que em 1925 faria sentido para a vereação republicana a proximidade entre os poetas Camões e Chiado ser repetida na toponímia da cidade.
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