A Fábrica de Tabacos da Rua de Xabregas

Freguesias do Beato e da Penha de França                                           (Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua de Xabregas, que liga a  Calçada de Dom Gastão à Rua da Madre de Deus, albergou nos séculos XIX e XX uma Fábrica de Tabacos, onde antes fora  o Convento de São Francisco de Xabregas e hoje encontramos o Teatro Ibérico.

A Rua Direita de Xabregas passou pelo Edital municipal de 8 de junho de 1889 a ter a sua denominação simplificada para Rua de Xabregas, transportando em ambos os casos a memória do sítio de Xabregas, topónimo cuja explicação ainda é controversa. A lenda popular narra que resultou da expressão leixa bregas (deixa brigas) que seria frequentemente usada pelas mulheres no lavadouro público do lugar. Há quem relacione o termo com a rede de arrasto xávega (do árabe xabaka), dada a proximidade ao rio. Nos documentos medievais surge com a grafia de Exevregas, Exabregas, Eyxebregas, Enxobregas. E os vestígios romanos encontrados na zona indicam que ali existiu uma povoação designada Axabrica.

Chegados ao século XIX esta zona da cidade, antes campestre e senhorial, passou a assumir uma vocação fabril. A Fábrica de Tabacos da Rua de Xabregas existiu desde 1845 no que fora o Convento de São Francisco de Xabregas. Em 1455, D. Afonso V doou  a D. Guiomar de Castro, condessa de Atouguia, umas ruínas do antigo Paço Real de Enxobregas para que  procedesse à fundação de um convento, que ficou concluído a 17 de maio de 1460, data em que nele entraram os primeiros 9 frades da Ordem de São Francisco, vindos da ilha Terceira. Destruído pelo terramoto de 1755 foi reconstruído e ampliado, com uma fachada monumental e o pórtico principal encimado pelo brasão de armas do rei D. José I de Portugal.

A antiga Fábrica de Tabacos de Xabregas em 1859, pintada por J. Pedrozo

Após a extinção das ordens religiosas, em 1834, o convento foi encerrado e nele aquartelado o Regimento de Artilharia e em 1838,  o edifício foi arrendado à Companhia de Fiação e Tecidos de Algodão Lisbonense, que utilizou o imóvel até 1844, ano em que um incêndio o destruiu. O imóvel foi reconstruído e em 1845, nele se instalou a Fábrica de Tabacos, depois Companhia de Tabacos de Portugal ( resultado da fusão de 1881 da Fábrica de Tabacos com a Lisbonense, conhecida como a fábrica de  Santa Apolónia e fundada em 1865), tendo então 800 trabalhadores e uma empresa  subsidiária no Porto com 200 trabalhadores. A empresa importava tabaco dos E.U.A., Cuba, Java e Brasil, transformando-o depois em charutos, cigarros, cigarrilhas, folha picada, rapé e tabaco em pó. A partir de 1927, passou a denominar-se Companhia Portuguesa de Tabacos e em 1962, a Fábrica mudou-se para um novo edifício na Avenida Marechal Gomes da Costa, sendo que as instalações de Xabregas foram em finais de novembro de 1980 destinadas ao Teatro Ibérico.

Refira-se que o tabaco  era um monopólio estatal, periodicamente arrendado pela Coroa a particulares, até 1864, quando o governo do duque de Loulé resolveu liberalizar o setor. Todavia, durante a década de 1880, os lucros da Companhia Nacional de Tabacos não pararam de aumentar e em 1891, o ministro da Fazenda, Augusto José da Cunha, aceitou a ressurreição do monopólio, em troca de um empréstimo de 36000 contos, destinado a consolidar os 13 000 contos da dívida flutuante externa, tendo o Conde de Burnay arrematado o contrato do tabaco, e apesar de em 1906 a Companhia dos Fósforos ter contestado a sua hegemonia, Burnay renovou o contrato por mais 20 anos. Só em 1927 o Estado aceitou a existência da Tabaqueira de Alfredo Silva, ao lado da Companhia Nacional de Tabacos.

Freguesias do Beato e da Penha de França
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

#EuropeForCulture

5 thoughts on “A Fábrica de Tabacos da Rua de Xabregas

  1. Pingback: A Rua do Convento da Madre de Deus em Xabregas | Toponímia de Lisboa

  2. Pingback: A Rua da Fábrica das Moagens Aliança na Rua de Xabregas | Toponímia de Lisboa

  3. Corrections: With the beginning of the 19th century (not the end), this area of the city, previously rural and owned by the minor nobility….

    final paragraph: …the Conde de Burnay signed the contract with the tobacco company, and despite a 1906 challenge….

    Gostar

  4. In the 19th and 20th centuries Rua de Xabregas, which links Calçada de Dom Gastão to Rua da Madre de Deus, was home to a Tobacco Factory, where previously the Monastery of São Francisco of Xabregas had been, and where today we find the Ibérico Theatre.

    The road name was shortened from Rua Direita de Xabregas to Rua de Xabregas in the city council’s Notice of the 8th of June 1889. Both names had preserved the old Xabregas area name, the meaning of which is still disputed. The local version says that it comes from the phrase leixa bregas (deixa brigas, stop fighting) which would have been used very often by the women in the public laundry area there. Others say that the term is connected to the fishing net called xávega (from the Arabic xabaka), given the proximity to the river. It appears in medieval documents written as Exevregas, Exabregas, Eyxebregas, Enxobrega. Roman remains found in the area show that a settlement called Axabrica existed there.

    By the end of the 19th century this area of the city, previously rural and in the ownership of small landowners, was starting to change into a manufacturing area. The Rua de Xabregas Tobacco Factory had been in the former Monastery of São Francisco of Xabregas since 1845. In 1455, D. Afonso V had granted to D. Guiomar de Castro, the Countess of Atouguia, some ruins of the old Paço Real de Enxobregas so that she could create a monastery, which was eventually finished on the 17th of May 1460. That was the date when the first nine monks of the Order of Saint Francis entered the monastery, having come from the island of Terceira in the Azores. The monastery was destroyed in the 1755 earthquake and then extended when it was rebuilt, with a monumental style of façade and a central portal over which was the coat of arms of the king, D. José I of Portugal.

    After the suppression of the religious orders in 1834, the monastery was closed down and the Regiment of Artillery was quartered there. In 1838 the building was rented to the Lisbon Company of Cotton Spinning and Textiles which used the building until 1844, the year in which it was destroyed in a fire. It was rebuilt and in 1845 the Tobacco Factory moved into it. The latter became the Tobacco Company of Portugal (as a result of its amalgamation with the Lisbon firm known as the Santa Apolónia Factory, est. 1865). The Tobacco Company of Portugal employed 800 workers and a subsidiary in Porto employed 200. The company imported tobacco from the USA, Cuba, Java and Brazil, making it into cigars, cigarettes, cigarillos, loose cut leaf tobacco, snuff and tobacco powder. From 1927 onwards it was called the Portuguese Tobacco Company. In 1962 the factory moved to a new building in Avenida Marechal Gomes da Costa and the Xabregas buildings became the Ibérico Theatre at the end of November 1980.

    It should be noted that tobacco was a state monopoly, periodically rented out by the Crown to private individuals until 1864, when the government of the Duke of Loulé decided to liberalize the sector. However, the profits of the National Tobacco Company continued to rise during the 1880s and in 1891 the Minister of Finance, Augusto José da Cunha, accepted the reinstitution of the monopoly in return for a loan of 36,000 contos, intended to consolidate the 13,000 contos of external floating debt, as the Conde de Burnay’s tobacco contract had finished. Despite a 1906 challenge to his dominance from the Company of Matches, Burnay renewed the contract for a further 20 years. Only in 1927 did the State accept the existence of the company “Tabaqueira” of Alfredo Silva alongside the National Tobacco Company.

    Gostar

  5. Pingback: A Rua da Fábrica de Tecidos Lisbonenses | Toponímia de Lisboa

Os comentários estão fechados.