A Rua João Anastácio Rosa, o ator pai de dois atores

 

Página dedicada a João Anastácio Rosa n’ O António Maria de 18 de dezembro de 1884

João Anastácio Rosa, pai dos também atores João Rosa e Augusto Rosa e por isso conhecido como Rosa-Pai, dá nome à Rua que liga a Avenida Álvares Cabral com a Rua de São Bernardo, desde a publicação do Edital municipal de 18 de novembro de 1913, tendo nesse mesmo ano havido uma permuta de terrenos entre a  CML e a Associação de Escolas Móveis e Jardins-Escolas João de Deus que permitiu concretizar a abertura deste arruamento.

Onze anos depois, o Edital municipal de 17/03/1924  consagrou o seu filho mais novo  Augusto Rosa (1850 – 1918) na antiga Rua do Arco do Limoeiro e dois anos depois, o Edital de 27 de janeiro de 1926 colocou o seu primogénito João Rosa (1842 – 1910) no Bairro dos Aliados ao Areeiro.

Freguesias de Campo de Ourique e da Estrela
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

João Anastácio Rosa (Redondo/1812 ou 1816 – 17.12.1884/Lisboa) nasceu no Redondo, filho de José Manuel da Rosa Munhoz e D. Merina do Carmo, embora se desconheça a sua data de nascimento, conforme afirma  Eduardo Augusto Vidal na biografia que lhe escreveu em dezembro de 1869 e publicou no ano seguinte, impressa na Tipografia Universal de Tomás Quintino Antunes, na Rua dos Calafates (é a Rua Diário de Notícias dos nossos dias).

Veio para Lisboa  em 1827, para estudar na Aula Régia de Desenho. Sabe-se que 18 de janeiro de 1832 foi a  data da sua matrícula na Aula Pública de Desenho de História, Figura e Arquitetura Civil, de acordo com registo guardado na Universidade de Lisboa, assim como segundo a biografia de E. A. Vidal, um tal de Marechal Raposo o encaminhou para discípulo do pintor Taborda no Palácio da Ajuda e mais tarde, o patriarca de Lisboa, Cardeal Frei Francisco de São Luís, também natural do Redondo, de quem ele pintou um retrato em 1835, conseguiu que fosse trabalhar para o Jardim Botânico da Ajuda. Na guerra civil entre liberais e miguelistas João Anastácio Rosa entrou na contenda, pelos liberais, tendo alcançado o posto de sargento do 5º batalhão móvel.

Finda a guerra João Anastácio Rosa passou a assegurar o seu sustento como retratista, o que o fez ligar-se a gente do teatro, como os atores Epifânio e Delfina. No Teatro da Rua dos Condes, conheceu o  comediante Emile Doux, então radicado em Lisboa e acabou por se estrear como ator em 1839, nesse mesmo Teatro, no drama Maria Tudor.

Em 1846 foi inaugurado o Teatro D. Maria II e João Anastácio Rosa  lá estava, convidado para ser ator residente. Deu brado em O Estudante de São Ciro e alcançou também muito êxito como ensaiador, ator e responsável pela decoração e/ou o guarda-roupa de A Profecia ou a Queda de Jerusalém, tal como em O Morgado de Fafe em Lisboa de Camilo ou no Marquês de la Seiglière.

Em 1853, sendo Ministro do Reino Rodrigo da Fonseca Magalhães, conseguiu uma licença de 3 meses do Teatro Nacional para ir a Paris estagiar na Comédie Française e com uma bolsa concedida para o efeito. Conheceu nos Pirinéus o florista Constantino – o que dá nome a um jardim lisboeta-, de quem também pintará um retrato em 1854.  Mais tarde, João Anastácio Rosa dai do elenco do Teatro D. Maria II para percorrer o país com uma companhia que ele próprio formou, sendo certo estar a 25 de setembro 1862 no Porto, determinado a fazer a estreia do seu filho João no  Teatro de São João, o que aconteceu a 1 de novembro na comédia As jóias de família. Aceitou de seguida um convite para estar no Teatro Académico de Coimbra que mais tarde lhe concederá o diploma de sócio. Regressou a Lisboa em junho de 1863 e a 12 de agosto João Anastácio Rosa estreiava o seu Ricardo III, de Shakespeare, no São Carlos.

Quando se reformou do teatro em 1866, passou a dedicar-se à pintura, à caricatura, a criar o busto de Garrett para o átrio do D. Maria II e a desenvolver invenções, como umas botas impermeáveis para o exército, cujo sistema ganhou um prémio numa Exposição em Paris, em 1878. Mais tarde, em 1883 ou 1884,  segundo Luís Pastor de Macedo, morou na Rua Áurea (vulgarmente designada Rua do Ouro).

No dia seguinte ao seu falecimento, o António Maria de Rafael Bordalo Pinheiro dedicou-lhe uma página inteira, retratando-o em várias fases da vida. Foi também agraciado com a Ordem de Santiago. O Teatro do Redondo, construído em 1839, também tomou o nome de João Anastácio da Rosa. Para além de Lisboa, o seu nome está ainda na toponímia do Redondo, do Alandroal, de Queijas e da Venda Nova – Amadora.

Freguesias de Campo de Ourique e da Estrela
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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Mariana Vilar numa Rua de Carnide

Freguesia de Carnide
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Lucinda Costa Alves Figueira, nascida algarvia em 1927, foi uma atriz de cinema, teatro e televisão que ficou conhecida pelo nome artístico de Mariana Vilar e ficou perpetuada numa artéria de Lisboa três anos depois do seu falecimento, em 2001.

Carnide foi a freguesia em que Rua A da Urbanização da Cerâmica de Carnide ( antiga Quinta das Barradas ), pela publicação do Edital municipal de 21 de dezembro de 2001,  com a legenda «Actriz/1927 – 1998», passou a ser a Rua Mariana Vilar, no topo da Rua Álvaro Benamor e paralela à Rua José Gamboa, outros dois nomes do teatro.

Lucinda Costa Alves Figueira (São Brás de Alportel/14.03.1927 – 29.04.1998/Lisboa) veio com a mãe para Lisboa em 1949, após o divórcio dos pais. Começou a sua carreira pelo cinema, concorrendo a uma audição na Lisboa-Filmes que venceu e assim lhe foi confiado o principal papel feminino nos filmes do realizador Henrique Campos: Rosa de Alfama (1952), Duas Causas (1953) e Quando o Mar Galgou a Terra (1954).  Ainda em 1954, Mariana Vilar também protagonizou Bom Dia Senhora Professora, uma curta metragem de Fernando Garcia para educação de adultos. Em 1982 João Mário Grilo trouxe-a de volta às telas cinematográficas, em A Estrangeira.

No teatro, estreou-se em 1954 na comédia Lua-de-Mel… Entre Três, ao lado de Irene Isidro, António Silva, Assis Pacheco e Barroso Lopes, no palco do  Monumental.  Prosseguiu em peças como Yerma (1955) de Garcia Lorca; Joana d’Arc de Jean Anouilh e Envelhecer  de Marcelino Mesquita, encenado por José Gamboa, ambas em 1956; a comédia musical João Valentão (1957) de Amadeu do Vale e encenada por Eugénio Salvador; A Cidade Não é Para Mim (1966); O Processo (1970) de Kafka encenado por Artur Ramos; tendo até 1971 pisado os palcos do Monumental, do Teatro Avenida, do Trindade na companhia Teatro d’Arte de Lisboa, do Maria Vitória,  do Villaret no «Grupo de Acção Teatral», para regressar aos palcos em 1981, na Casa da Comédia, para Seis Aparições de Lenine Sobre um Piano, uma peça de Noel Coward.

Na televisão, Mariana Vilar estreou-se em 1957 ou 58 em Querida Ruth e até 1971 surgiu em várias outras produções de teatro televisivo como Longa Ceia de Natal de Thorton Wilder, Nós os dois somos quatro de A. Vieira Pinto e Luiz Francisco Rebello (1959), Tanto Barulho por nada (1960), Os fidalgos da casa mourisca de Júlio Dinis Carmosina de Musset (1963), Poeira nos olhos de Labiche (1966), Fronteira de Mrozek (1969). Na década de oitenta participou na série Retalhos da Vida de um Médico (1980), no telefilme de Eduardo Geada Pôr do Sol no Areeiro  (1983), na telenovela Chuva na Areia (1985), baseada no romance Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão de Sttau Monteiro e ainda, no teledrama Todo o Amor é Amor de Perdição (1990), sobre o processo de Camilo e Ana Plácido, escrito por Luiz Francisco Rebello e realizado por Herlander Peyroteo.

Na sua vida particular foi casada com Luiz Francisco Rebello desde 1959 e o  casal teve um filha a que chamaram Catarina. Em 1962, o dramaturgo escreveu expressamente para ela a peça Condenados à Vida mas a censura não permitiu que subisse à cena, tal como lhe dedicou ainda obra Mariana Villar – Uma Existência Luminosa que organizou e  coordenou, publicada no ano 2000 pelas Edições Hugin.

Mariana Vilar também dá o seu nome a arruamentos de São Brás de Alportel, Cascais e Fernão Ferro.

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Helena Félix do Teatro Estúdio de Lisboa na Feira Popular

Freguesia de Alvalade
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

No ano seguinte ao falecimento de Helena Félix, a atriz foi perpetuada numa Rua próxima do Teatro Vasco Santana , na Feira Popular, onde em 1964 havia fundado com Luzia Maria Martins o TEL- Teatro Estúdio de Lisboa, tendo sido a artéria oficialmente inaugurada no Dia Internacional da Mulher de 1993.

A partir da sugestão da Assembleia Municipal de Lisboa para que Helena Félix desse nome a uma artéria lisboeta,  por deliberação camarária de 13/05/1992 e consequente Edital municipal de 18/05/1992, Helena Félix passou a ser o topónimo do Impasse 1 à Avenida das Forças Armadas (junto ao nº 34-A), com a legenda «Actriz/1920 – 1991».  A cerimónia de inauguração do arruamento foi agendada significativamente para o Dia Internacional da Mulher de 1993, tal como aconteceu com a Rua Elvira Velez, tendo a placa toponímica da Rua Helena Félix sido descerrada por Luzia Martins, acompanhada pelo Vereador Anselmo Aníbal, Presidente da Comissão Municipal de Toponímia, tendo ainda usado da palavra Luiz Francisco Rebello, representante da Sociedade Portuguesa de Autores na Comissão Municipal de Toponímia.

Ao longo de meio século, Maria Helena de Carvalho Félix (Porto/10.04.1920 – 7 ou 17.03.1991/Lisboa) dignificou o teatro português com o seu talento e criatividade, usando a sua formação de dois anos de canto no Conservatório de Música do Porto e o estudo em Londres, de 1961 a 1964, onde frequentava um curso de aperfeiçoamento de Arte de Representar no Instituto Literário, cidade onde conheceu  Luzia Maria Martins que trabalhava na BBC.

Já antes,  em 1941, Helena se havia estreado como atriz na revista O jogo da laranjinha, no Teatro da Trindade, a partir daí trabalhando em teatro musicado, da opereta e da revista. De 1949 até 1961, integrou a Companhia Amélia Rey-Colaço/Robles Monteiro instalada no Teatro Nacional D. Maria II, em mais de 50 peças. E no regresso de Londres, em 1964, com Luzia Maria Martins e Valentina Trigo de Sousa, fundou a Companhia Teatro Estúdio de Lisboa (TEL), a primeira companhia de teatro independente de Lisboa, instalada no Teatro Vasco Santana, na Feira Popular de Lisboa. O primeiro espetáculo aconteceu em dezembro de 1964,  sendo Joana de Lorena de Maxwell Anderson e até 1991 subiram a cena inúmeras peças de autores contemporâneos e de grande relevo, quer fossem portugueses – como  Sttau Monteiro, Fernando Luso Soares, Prista Monteiro e a própria Luzia Maria Martins – quer fossem estrangeiros – como John Osborne, Marguerite Duras, Rafael Alberti, Strindberg, Tchekov, Thornton Wilder ou Vaclav Havel.

Helena Félix também trabalhou no cinema, integrando os elencos de Aqui, Portugal (1947) de Armando de Miranda, Quando o Mar Galgou a Terra (1954) e Os Touros de Mary Foster (1972) de Henrique Campos, O Mal-Amado (1974) de Fernando Matos Silva e A Noite e a Madrugada (1985) de Artur Ramos.

Foi agraciada com  os Prémios Bordalo da Casa da Imprensa para melhor interpretação feminina (em 1968 e em 1970) nas peças A Louca de Chaillot de Jean Girardoux e Quem é esta mulher de Marguerite Duras e com a Medalha de Mérito Cultural (1990) do Ministério da Cultura. Helena Félix é ainda o topónimo de Ruas na Charneca da Caparica, Fernão Ferro e São Domingos de Rana.

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Virgílio Martinho, surrealista do Café Gelo e do Teatro de Almada

Freguesia de Carnide
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A partir de uma sugestão de Francisco Nicholson, enquanto membro da Comissão Municipal de Toponímia, ficou o escritor Virgílio Martinho, surrealista do Grupo do Café Gelo e dramaturgo da Companhia de Teatro de Almada, inscrito na toponímia de Lisboa, pelo Edital municipal nº 82/1997, a ligar a Rua Prista Monteiro à Rua Eugénio Salvador, artérias de Carnide  que consagram outro dramaturgo e um ator.

Francisco Nicholson, enquanto representante da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) na Comissão Municipal de Toponímia,  sugeriu a homenagem na toponímia de Lisboa aos escritores Fernanda de Castro, Prista Monteiro e Virgílio Martinho, tendo a Rua Virgílio Martinho sido atribuída pelo Edital municipal de 30 de setembro de 1997, com a legenda «Dramaturgo/1928 – 1994», tal como a Rua Prista Monteiro o foi pelo  Edital nº 81/1997 da mesma data. Tanto a Rua Virgílio Martinho como a Rua Prista Monteiro foram inauguradas no mês em que se comemorou os 25 anos do 25 de Abril, no dia 16 de abril de 1999, sendo oradora Alice Vieira, que era então a representante da SPA na Comissão Municipal de Toponímia.

Virgílio Alberto Nunes Martinho (Lisboa/18.09.1928 – 04.12.1994/Almada), funcionário público e membro do Grupo do Café Gelo, estreou-se na ficção em 1958, com a novela fantástica Festa Pública a que se seguiu o romance  O Grande Cidadão (1963) que em 1976 adaptou para teatro, os contos Orlando em Tríptico e Aventuras (1961), Rainhas Cláudias ao Domingo (1972),  Relógio de Cuco (1973), A Caça (1974), o romance O Concerto das Buzinas (1976) onde relatou a sua experiência de 1949-1950 na prisão do Aljube e os contos O Menino Novo (1989). Martinho usou uma escrita comprometida com o tempo que vivia e crítica do Salazarismo, com alegorização ideológica.

Das várias tertúlias de cafés lisboetas que Virgílio Martinho frequentou nas décadas de 50 e 60 do séc. XX, destaque-se a do Café Gelo, próxima do movimento surrealista, com Alexandre O’Neill, António José Forte, António Maria Lisboa, Cruzeiro Seixas, Herberto Helder, Luiz Pacheco, Mário Cesariny, Mário Henrique Leiria e Pedro Oom, entre outros. Note-se que Martinho escreveu o texto de apresentação da exposição de António Maria Lisboa de 1961 no Instituto Superior Técnico, colaborou nas antologias Surrealismo/Abjeccionismo (1963) e Intervenção Surrealista (1966), prefaciou em 1967 a Crítica de Circunstância de Luiz Pacheco logo apreendida pela PIDE e com Ernesto Sampaio, escolheu os textos para a Antologia do Humor Português editada em 1969 pela Afrodite. Em 1991, fez também uma colagem de textos dos membros da tertúlia deste Café, O Gelo à Mesa, ainda hoje inédita.

O dramaturgo começou logo na peça  Filopópulus que só foi publicado em 1970 e deu então brado na imprensa quando em 1973 foi encenada por Joaquim Benite e levada à cena pelo Grupo de Teatro de Campolide. Depois, foi o sucesso com a sua  1383 (1977), o fresco histórico construído a partir das crónicas de Fernão Lopes, que também adaptou para a infância, intitulando-a 1383zinho (1983) . Foi uma fase importante de Virgílio Martinho, a partir de 1972, quando se consagrou quase em exclusivo ao Grupo de Teatro de Campolide, mais tarde designado Companhia de Teatro de Almada, onde adaptou para esta Companhia, entre muitos outras peças, A Vida do Grande D. Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança (1972) de António José da Silva, As Aventuras de Till Eulenspiegel (1978) de Charles de Coster ou Réus e Juizes (1986) a partir de textos de Gil Vicente e de António José da Silva sendo também a partir de textos vicentinos que construiu Amor a Quanto Obrigas (1990). Ainda nos anos setenta, a portuense Seiva Trupe produziu em 1975 Aqui é que a Porca Torce o Rabo,  com textos de Virgílio Martinho, Luís Humberto, Luíz Valdes e Fernando Luso Soares, tendo ainda Martinho feito os diálogos da curta-metragem  Os Prisioneiros (1977) de Sérgio Ferreira. Virgílio Martinho ainda publicou a farsa satírica em 2 atos A Sagrada Família (1980), O herói Chegado da Guerra e Outros textos de teatro e  a peça Pão de Mel, Lda.(1982), tendo ainda escrito a peça de teatro infantil Valentim e Valentina em palco em 1989 e publicada em 1993, bem como A Próxima Peça, em 1994, numa encomenda da Câmara Municipal do Seixal.

Virgílio estudou na Escola Industrial Machado de Castro e em 1949, quando transportava uma máquina de stencil do MUD juvenil, foi preso  preventivamente no Aljube, sendo presente a tribunal plenário na Boa Hora em julho do ano seguinte, junto com António Horácio Simões de Abreu, Henrique Correia dos Santos Carvalho, José Maria de Figueiredo Sobral, Manuel Gomes, entre outros.  Também trabalhou como escriturário na Câmara Municipal de Lisboa a partir de 1 de abril de 1953, passando rapidamente a desenhador pelas suas apitidões mas no 1º dia do ano de 1955 foi demitido por razões políticas e em 1956, foi admitido como desenhador tarefeiro da Direção Geral de Obras Públicas e Comunicações do Ministério do Ultramar.

Na sua vida pessoal, Virgilio Martinho teve um filho de seu nome Rui Martinho, aderiu ao PCP em 1976 e em 1981, saiu de Lisboa morar na Margem Sul, tendo morado sucessivamente no Laranjeiro, em Brejos de Azeitão, em Cacilhas e na Cova da Piedade.Em 1985, filiou-se no Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos.

A sua obra artística foi reconhecida com o Prémio 25 de Abril da Associação Portuguesa de Críticos (1984), como a personalidade homenageada no festival de Teatro de Nantes de 1988, com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Almada (1995), uma exposição sobre a sua vida na 12ª edição do Festival de Teatro de Almada e um número inteiro da revista Cadernos ( o nº de setembro de 1995) da Companhia de Teatro de Almada, bem como o seu nome foi dado a uma sala do Teatro Municipal Joaquim Benite. É também o topónimo de Ruas da freguesia de Laranjeiro e Feijó (Almada), de Paio Pires (Seixal) e de Alcochete.

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Laura Alves do Monumental

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Laura Alves,  atriz  cuja vida, carreira e popularidade ficou indelevelmente ligada ao Teatro Monumental, faleceu dois anos após a demolição deste e logo a edilidade decidiu atribuir o seu nome a uma artéria relativamente próxima da Praça Duque de Saldanha.

A Rainha do Palco, como era apelidada, retirou-se dele em 1983 e numa entrevista dada em junho desse ano afirmou «toca-me na pele» sobre o  Cine-Teatro Monumental, espaço a cuja destruição assistira, sendo o palco onde trabalhou 32 anos. Laura Alves faleceu aos 64 anos, em maio de 1986 e logo no mês seguinte, a deliberação camarária de 16 de junho atribuía o seu nome a uma artéria de Lisboa, sendo que consegui-la apenas foi possível dois anos depois e mudando o nome da Travessa Marquês de Sá da Bandeira para Rua Laura Alves, através do Edital municipal nº 21/1988 de 29 de fevereiro de 1988, justificando a Comissão Municipal de Toponímia a alteração dado «(…) que existem em Lisboa dois topónimos [uma rua e uma travessa], ambos perpetuando a memória do Marquês de Sá da Bandeira e que não se justifica essa duplicação, até pelos inconvenientes que daí resultam para a localização dos respectivos arruamentos.» No mesmo dia 29 de fevereiro de 1988, mas pelo Edital nº 22/1988, foi dado a uma rua contígua o nome da também atriz Ivone Silva, falecida em novembro de 1987. 

Laura Alves em 1956, com Alves da Costa
(Foto: Bourdain de Macedo, Arquivo Municipal de Lisboa)

Laura Alves Magno (Lisboa/08.09.1921 – 06.05.1986/Lisboa) foi uma popular artista que nasceu no nº 638 da Rua de São Bento, filha de Celestino Magno e de Mariana Alves. Frequentou a Escola Industrial Machado de Castro, onde conheceu o professor Lucena que a levou ao empresário Alves da Cunha, perante o qual prestou provas e assim se estreou profissionalmente em 20 de agosto de 1935, a 20 dias de fazer 14 anos, no palco do Teatro Politeama, interpretando a Gaby de As duas garotas de Paris, de Feuillade e Cartoux adaptada por Eduardo Schwalbach, ao lado de Alves da Cunha, Berta de Bívar e João Villaret.

Praticou diversos géneros, como a opereta, a revista, a comédia e o drama e passou do Politeama para o Teatro Nacional em 1939, onde fez duas épocas, representando ao lado de Palmira Bastos, Álvaro Benamor, Amélia Rey Colaço, Nascimento Fernandes, Maria Lalande e participando também em peças infantis, tendo interpretado ao longo da sua carreira cerca de 400 espetáculos nos palcos dos já referidos a que se somam o Variedades – a partir de 1941, na opereta Lisboa 1900, ao lado de Irene Isidro, António Silva ou Ribeirinho -, o Maria Vitória – onde em 1942 se iniciou no teatro de revista em Essa é que é essa, ao lado de Amália Rodrigues, Luísa Durão e Costinha -, o Trindade, o Avenida e o Apolo, até se fixar em 1951 no Monumental.

Mas dez anos antes do Monumental, dá-se a sua estreia no cinema,  em 1941, no filme O Pai Tirano, de António Lopes Ribeiro. Seguiram-se depois  O Pátio das Cantigas (1942) de Ribeirinho, o Leão da Estrela (1947) de Artur Duarte, Sonhar é Fácil (1951) de Perdigão Queiroga, Um Marido Solteiro (1952) de Fernando Garcia, O Costa d’África (1954) de João Mendes, Perdeu-se um Marido (1956) de Henrique Campos, O parque das ilusões (1963) numa produção de Perdigão Queiroga e O ladrão de quem se fala (1969) produzido pela Tobis Portuguesa. Também com diálogos inspirados no filme O Leão da Estrela, num guião de Francisco Matta, interpretou com Artur Agostinho o folhetim radiofónico Dois num automóvel.

Na sua vida pessoal, Laura Alves namorou com o compositor Frederico Valério mas em 25 de agosto de 1948 casou com o então ator de cinema Vasco Morgado, com quem  teve um único filho, Vasco Morgado Júnior, ator e produtor teatral. Divorciou-se do empresário teatral em 1967 e mais tarde,  em 18 de julho de 1979, casou com Frederico Valério.

Em 1949 associou-se a Irene Isidro, Ribeirinho, António Silva, Carlos Alves e Barroso Lopes, para fundar a Sociedade Artística que se apresentou durante dois anos no Teatro Apolo (antigo Teatro do Príncipe Real), na Rua da Palma e foi esta a 1ª empresa de Vasco Morgado como empresário teatral, a que seguiu a exploração em 1951,  do Teatro Monumental, na Praça Duque de Saldanha, inaugurado com a opereta de Strauss As três valsas. Laura Alves aprendeu até a dançar em pontas para este espectáculo de que Santos Carvalho era o encenador, Frederico Valério o diretor musical e regente da orquestra e Eugénio Salvador o ator e ensaiador coreográfico, tendo nas suas  3 épocas contracenado com nomes como Álvaro Pereira, Camilo de Oliveira, Graziela Mendes, João Villaret, Teresa Gomes ou Tomás Alcaide,  entre outros. Laura Alves atuou no Monumental até se retirar da carreira em 1983, sendo o seu último espetáculo Pai precisa-se, de Manuel Correia. Laura Alves faleceu três anos depois no seu apartamento na Avenida Praia da Vitória, próximo do Teatro Monumental, então já demolido.

Foi galardoada com o Óscar da Imprensa (1962) e o Prémio Lucinda Simões (1963); agraciada por Vasco Morgado com o seu nome num teatro (1968) na Rua da Palma que veio substituir o antigo cinema Rex até na década de oitenta do séc. XX passar a ser uma pensão;  homenageada como o filme Laura Alves, Evocação de uma actriz (1986), uma sessão pública no Politeama (2001), uma exposição na Junta de Freguesia de Santos-O-Velho (2012) e o documentário Laurinha (2012) de Cristina Ferreira Gomes para a RTP. Laura Alves, para além de ser a morada de alguns hotéis lisboetas, dá ainda o seu nome também a Ruas da Charneca da Caparica, de Odivelas, da Parede, da Pontinha, de Queluz e de São Domingos de Rana.

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Elvira Velez no Dia Internacional da Mulher

Freguesia de Benfica
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Elvira Velez, atriz de palco, do teatro radiofónico, do cinema e da televisão , foi consagrada numa artéria de Benfica, inaugurada significativamente no Dia Internacional da Mulher, como hoje, mas no ano de 1993.

A Rua Elvira Velez  passou a ser o topónimo do Impasse I à Rua da Quinta do Charquinho por deliberação camarária de 03/02/1993 e consequente Edital municipal de  04/02/1993, com a legenda «Actriz/1892 – 1981», passados quase doze anos após o falecimento da atriz, a partir de uma sugestão de vários admiradores seus enviada por carta à edilidade alfacinha. A cerimónia de inauguração da artéria foi agendada para o Dia Internacional da Mulher de 1993, tendo sucedido nesse dia o mesmo com a Rua que consagrou a também atriz Helena Félix. O descerramento da placa toponímia foi feito pelo Vereador do Pelouro, Engº Rego Mendes, com o genro da homenageada, Igrejas Caeiro, tendo Appio Sottomayor usado da palavra em representação da Comissão Municipal de Toponímia.

Elvira Velez assina autógrafos, em 1960, no Jardim da Estrela
(Foto: Armando Serôdio, Arquivo Municipal de Lisboa)

Elvira Sales Velez Pereira (Lisboa/19.11.1892 – 08.04.1981/Caxias), nasceu na então freguesia de Santa Isabel e dos 6 aos 18 anos foi viver com a família para Torres Novas, já que o seu pai era aí o empresário do Teatro da vila e, mesmo contrariando a vontade dele, começou por isso mesmo a desejar ser atriz. Depois de mudar para Tomar conseguiu aí  entrar num grupo de teatro de amadores e de novo em Lisboa, após várias tentativas de chegar à carreira teatral, conseguiu finalmente estrear-se  aos 21 anos, em 1913, no Teatro Moderno da Rua Álvaro Coutinho, na opereta Os Grotescos, com o consagrado ator cómico Augusto Costa (Costinha).

Elvira Velez passou a interpretar  comédia, tragédia, farsa, revista e opereta, tendo representado em quase todos os teatros do País e tendo começado na Companhia do Teatro Moderno, passou para a de Chaby Pinheiro no Teatro Apolo, também pelo elenco do Teatro de S. Luís, pela Companhia Palmira Bastos (1921), a de Vasco Santana e Alves da Cunha, a do ABC do Parque Mayer e a do seu genro  Igrejas Caeiro no Teatro Maria Matos.

Também na rádio Elvira Velez se destacou, sobretudo como a sogra do folhetim radiofónico Lélé e Zéquinha (1952), da autoria de Aníbal Nazaré e Nélson de Barros, contracenando com Irene Velez e  Vasco Santana que desempenhavam os protagonistas, programa produzido por Igrejas Caeiro, na Emissora Nacional, embora a atriz também tenha colaborado no Rádio Clube Português.

No cinema, fez parte do elenco dos filmes Aldeia da Roupa Branca de Chianca de Garcia e Sorte Grande de Erico Braga (1938);  Um Homem às Direitas (1944) de Jorge Brum do Canto; Três Dias Sem Deus (1946) de Bárbara Virgínia; O Comissário de Polícia de Constantino Esteves e Duas Causas de Henrique Campos (1953); Agora é que São Elas (1954) uma revista filmada por Fernando Garcia; O Primo Basílio (1959) de António Lopes Ribeiro e ainda mais dois filmes todos em 1960: As Pupilas do Senhor Reitor de Perdigão Queiroga e Encontro com a Vida de Artur Duarte.

Na televisão, era presença frequente nas peças das Noites de Teatro da RTP, nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, tendo também participado na série Lisboa em Camisa, realizada por Herlander Peyroteo em 15 episódios.

Na sua vida, Elvira Velez casou com o também ator Henrique Pereira, união da qual nasceu Irene Velez que viria a seguir a mesma carreira teatral, tendo a morada de família sido no nº 82 da Rua Passos Manuel.

Elvira Velez foi distinguida com o prémio Lucília Simões (1970) pela sua interpretação  no papel da Titi de A Relíquia, a partir do original de Eça de Queiroz, que esteve vários meses em exibição no Teatro Maria Matos e foi o fecho da sua carreira. Foi ainda agraciada com a Ordem de Santiago de Espada, assim como pela Caritas e pela Cruz Vermelha.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do funcionário público e presidente do Benfica dedicado ao teatro, Bento Mântua

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Bento Mântua  foi um funcionário público da área das Finanças e o 12º Presidente do Sport Lisboa e Benfica,  que ainda se devotou a escrever para teatro e que 63 anos após o seu falecimento deu o seu nome a rua do Bairro do Alfenim, na freguesia de Marvila, com a legenda «Autor Teatral/ 1878 – 1932».

Foi a partir de um pedido dos CTT, para que fossem denominados os arruamentos junto à Azinhaga do Vale Fundão, que a edilidade lisboeta aproveitou a oportunidade para criar um Bairro dos Autores Teatrais no Bairro do Alfenim, por via da publicação do Edital municipal de 20 de março de 1995. A Rua Bento Mântua ficou no arruamento compreendido entre a Azinhaga do Vale Fundão e o Lote B12, tendo os outros autores teatrais escolhidos ficado como Largo Álvaro de Andrade (no Largo compreendido entre os lotes 21, 22 e 23   ),  Rua Ernesto Rodrigues (no arruamento compreendido entre a Rua Sousa Bastos e a Avenida Paulo VI, de acesso ao lotes C e D), Rua Lino Ferreira (no arruamento do Bairro do Alfenim que dá acesso às escolas), Rua Sousa Bastos (no arruamento compreendido entre a Azinhaga do Vale Fundão e o Lote B do Bairro do Alfenim), Largo Vitoriano Braga (no arruamento que partindo da Rua Sousa Bastos dá acesso aos lotes 8, 9, 14 e 15) e Rua Xavier de Magalhães (no arruamento compreendido entre a Rua Sousa Bastos e a Avenida Paulo VI, de acesso aos lotes 17 a 23).

O Domingo Ilustrado, 16 de agosto de 1925

Bento Joaquim Cortez Mântua (Lisboa- Belém/06.09.1878 – 20.12.1932/Lisboa- Anjos) foi um funcionário público que exerceu altos cargos no Ministério da Fazenda Pública (hoje, diríamos, das Finanças), que se dedicou também a ser dramaturgo – tal como mais tarde acontecerá com outro funcionário da CML, Virgílio Martinho- e ainda foi o 12º presidente do Sport Lisboa e Benfica por 8 mandatos consecutivos.

A primeira peça publicada de Bento Mântua foi Novo Altar, em 1905, a que se seguiram, entre outras criadas para os alunos da Escola da Arte de Representar, a  Má Sina (1908) – a 1ª a estrear no palco do Nacional em 1911 -, Gente Moça (1910), a peça em um ato A Morte (1912), Álcool e Ordinário… Marche (ambas em 1913) e O Fado (1915), inspirada no célebre quadro de José Malhoa e talvez a sua peça mais conhecida, com representações em Portugal e no Brasil. Fez um interregno para ser Presidente do Sport Lisboa e Benfica, de julho de 1917 a 25 de agosto de 1926, num total de 8 mandatos cumpridos, voltando ainda à dramaturgia em 1932 para publicar Quando o Coração Manda.

Há quem o considere como um dos criadores do teatro regionalista  e em 1916, com  Albino Forjaz Sampaio, publicou a  antologia de poetas portugueses e brasileiros intitulada O livro das cortesãs, que teve várias reedições.  Saliente-se ainda que poucos meses passados após a implantação da República, juntamente com António Pinheiro, Bento Faria, Emídio Garcia e Afonso Gaio, também integrou uma comissão constituída por algumas personalidades ligadas ao Teatro Livre e Teatro Moderno,  como Ramada Curto, para proceder a um inquérito à arte dramática nacional, para a reformar e adaptar às novas estruturas políticas, trabalho de que resultou em 22 de maio de 1911 a promulgação de um decreto que reformulou o ensino de arte teatral e mudou a imagem do Conservatório, tornando-o um dos mais sofisticados estabelecimentos europeus do género. Como homem de cultura que era, Bento Mântua também colaborou na revista Atlântida, no semanário Azulejos e à data do seu falecimento era jornalista de O Século.

Como presidente do clube das Águias de 22 de julho de 1917 a 25 de agosto de 1926, um dos marcos mais importantes foi o lançamento e conclusão do  Campo das Amoreiras, o primeiro que foi propriedade do clube, inaugurado em 6 de dezembro de 1925, para cujas obras contribui do seu próprio bolso, forma pela qual também liquidou as dívidas existentes à sua chegada ao clube. Saliente-se ainda nos seus mandatos a realização do primeiro jogo noturno de futebol no campo da Avenida Gomes Pereira, a organização do torneio anual de atletismo inter-clubes que foi único no decorrer da I Guerra e o desenvolvimento das modalidades de patinagem e hóquei em patins.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua da dramaturga Virgínia Vitorino do D. Maria e da Emissora

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A escritora teatral e poetisa Virgínia Vitorino, ligada ao teatro radiofónico da Emissora Nacional e à Companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro sediado no Teatro D. Maria II, foi o nome escolhido para topónimo da Rua I e Dois à Alameda das Linhas de Torres, dois anos após o seu falecimento, ficando a ligar a  Alameda das Linhas de Torres à Rua António Ferro ( que é a  Rua Luís de Freitas Branco desde 28.07.1975), a partir da publicação do Edital municipal de 29 de janeiro de 1969.

Ilustração Portuguesa, 7 de junho de 1920 [clicar na imagem para ver maior]

Virgínia Villa-Nova de Sousa Victorino (Alcobaça/13.08.1895 — 21.12.1967/Lisboa), licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e também com o curso superior de Canto e Piano, bem como o geral de Harmonia e Italiano do Conservatório Nacional de Música, notabilizou-se primeiro como poetisa e  a partir dos anos trinta do séc. xx ligada ao teatro.

Sob o pseudónimo de Maria João do Vale, dirigiu o Teatro Radiofónico da Emissora Nacional de 1935 a 1951, divulgando poesia e teatro de autores portugueses e estrangeiros, principalmente brasileiros.  A convite do presidente Getúlio Vargas foi ao  Brasil,  por volta de 1937. Ainda na Emissora Nacional também integrou os júris de Jogos Florais da Primavera.

Era muito amiga de Amélia Rey Colaço, sendo ambas da mesma geração e as seis peças de teatro que escreveu , todas em 3 atos, foram também todas representadas pela Companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro, no palco do Teatro D. Maria II, com muito sucesso. Também assim conheceu Fernanda de Castro, que veio a casar com António Ferro, e terá sido por essa via que recebeu a encomenda para redigir a sua 5ª peça, intitulada Camaradas (estreada em 1937 e publicada em 1938), uma peça de intenção social ao contrário da sua habitual temática do amor com algum pendor feminista, mas que recebeu o prémio Gil Vicente do SNI-Secretariado Nacional de Informação.  As outras cinco peças que escreveu foram Degredados (1931),  A Volta (1932), Fascinação (1933),  Manuela (1934) e Vendaval (1942).

Antes, na década de vinte, publicou quatro livros de poesia em sonetos de bom recorte, repetindo o tema da mulher sofredora e traída mas sempre apaixonada, tendo editado o seu primeiro à sua custa, intitulado Namorados (1920), que se esgotou em 6 dias e somou um total de 12 edições em Portugal e duas no Brasil, êxito que ainda lhe valeu no ano seguinte uma imitação satírica, da autoria da jornalista Marinha de Campos, intitulada Ironias de Namorados.  Em 13 de janeiro de 1922, em entrevista ao jornal A Pátria Virgínia Vitorino manifestou-se contrária a ser concedido o direito de voto às mulheres. Desde o início, Júlio Dantas apoiou-a enquanto escritora. Os outros seus três títulos de poesia foram Apaixonadamente (1923) com capa de Almada Negreiros numa das edições, Renúncia (1926) e Esta Palavra Saudade (1929).

Virgínia Vitorina foi também professora de liceu e do  Conservatório Nacional de Lisboa, tendo ainda deixado vasta colaboração em jornais e revistas portuguesas e brasileiras,  como o Diário de Lisboa ou O Século. Em Lisboa, teve casa na Rua das Flores, junto ao Largo do Barão de Quintela, mas quando foi viver para as Caldas da Rainha para casa de um amiga sempre que vinha à capital ficava antes no Hotel Borges, na Rua Garrett, onde faleceu.

Virgínia Vitorino foi caricaturada por Amarelhe e muitos outros, bem como retratada por Eduardo Malta, Teixeira Lopes, José Paulo Ferro, Manuela Pinheiro e também agraciada com o grau de Oficial da Ordem de Cristo (1929) e a Comendada Ordem de Santiago (1932), bem como a espanhola Cruz de D. Afonso XII (1930). Foi também homenageada com o Teatro Virgínia Victorino em Cabo Verde (na cidade da Praia) e o seu nome numa rua de Alcobaça, sua terra natal.

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do autor e empresário teatral Sousa Bastos

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Sousa Bastos, autor, encenador e empresário teatral, em Portugal e no Brasil, na transição do séc. XIX para o séc. XX, passou a dar nome a uma artéria lisboeta 84 anos após o seu falecimento, na freguesia de Marvila.

Para responder a um pedido dos CTT que solicitava topónimos para os arruamentos do Bairro do Alfenim, na área envolvente da Azinhaga do Vale Fundão, a edilidade alfacinha resolveu aí criar pela toponímia um Bairro de Autores Teatrais, através do Edital municipal de 20 de março de 1995, com a Rua Sousa Bastos, o Largo Álvaro de Andrade, a Rua Bento Mântua, a Rua Ernesto Rodrigues, a Rua Lino Ferreira, o Largo Vitoriano Braga e a Rua Xavier de Magalhães. A Rua Sousa Bastos, com a legenda «Empresário e Autor Teatral/1844 – 1911 »,  ficou no arruamento compreendido entre a Azinhaga do Vale Fundão e o Lote B do Bairro do Alfenim.

O Grande Elias, 8 de setembro de 1904

António de Sousa Bastos (Lisboa/13.03.1844 – 02.07.1911/Lisboa), filho do nobre napolitano D. Francisco de Judicibus e da lisboeta D. Joana Maria da Salvação de Sousa Bastos,  segundo o assento de batismo da Paroquial de Santa Isabel nascido no nº 87 do Largo do Patrocínio (seria provavelmente, o Largo do Monteiro) e batizado como António Rodrigo Francisco João Valeriano Bernardino Peregrino Ângelo André Carlos Nicolau Vicente José Augusto Máximo Magalhães de Sousa Bastos de Judicibus, tendo como padrinhos Rodrigo da Fonseca Magalhães e Maria Gertrudes Guimarães.

Concluída a instrução primária em Lisboa e o Liceu em Santarém, regressou a Lisboa para seguir o Curso de Agronomia no Instituto Agrícola que abandonou por se ter casado aos 21 anos e assim teve de avançar para sucessivos  empregos. Começou como jornalista no Álbum Literário  e seguiu depois para o Comércio de LisboaDiário ComercialGazeta SetubalenseGazeta do Dia, entre outros. Mesmo depois de se dedicar ao teatro ainda escrevia regularmente crónicas sobre teatro para o Diário de Notícias e colaborava com outros periódicos como o Espectador Imparcial, A Arte Dramática e a revista Ribaltas e Gambiarras.

Sousa Bastos notabilizou-se como autor, encenador e empresário teatral, em Portugal e no Brasil, dirigindo vários teatros, tanto em Lisboa como no Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e Pernambuco, para além de ter sido o empresário de diversas companhias teatrais. Foi ele que em 1881 levou as primeiras digressões da revista à portuguesa pelo Brasil. Em Lisboa, foi o empresário e ensaiador dos Teatros da Rua dos Condes, do Príncipe Real (depois, denominado Teatro Apolo), da Trindade, do Avenida, entre outros.

Como autor dramático, somou mais de uma centena de obras, entre  revistas, operetas, comédias e dramas originais, para além de ter traduzido e adaptado outras peças. A primeira das mais de vinte revistas que escreveu subiu à cena em 1869 e intitulava-se Coisas e Loisas, enquanto as duas últimas revistas foram  Talvez Te Escreva (1901) e A Nove (1909). Na nota necrológica do jornal O Occidente afirma-se que «Essa popularidade veio-lhe sobre tudo das revistas que compoz e mais calaram no gosto publico, como as intituladas “Sal e Pimenta”, “Tim Tim por Tim Tim” e “Fim de Seculo”, além de muitas outras que fez, pois foi o primeiro, ou dos primeiros autores a compôr este género de peças». A popularidade das suas produções também se deveu à aposta em cenografias mais elaboradas, números musicais,  vedetas femininas e coristas.

Paralelamente, com o tipógrafo João António de Matos, Sousa Bastos fundou em 1877 a Empresa Literária de Lisboa que editou uma História de Portugal em 6 volumes, da autoria de António Enes, Bernardino Pinheiro, Eduardo Vidal, Gervásio Lobato, Luciano Cordeiro e Pinheiro Chagas, e uma História Universal traduzida. Ele próprio escreveu  Carteira do Artista (1898), com biografias de autores dramáticos, artistas, pontos, cenógrafos e anedotas do meio teatral português e brasileiro, num total de 866 páginas  impressas pela Antiga Casa Bertrand, assim como lançou um Dicionário do Teatro Português (1908) de 380 páginas, sobre  técnicas teatrais, autores dramáticos, atores e atrizes, empresários da área, publicadas pela Imprensa Libanio da Silva, para além de Lisboa velha: sessenta anos de recordações, 1850 a 1910.

Na sua vida pessoal, António de Sousa Bastos casou com Leopoldina Rosa Vieira Martins (1847 – 1879) em 24 de agosto de 1865, de quem teve vários filhos e depois de enviuvar voltou a casar, em 1 de julho de 1894, com a atriz Palmira Bastos, de quem teve duas filhas. Sousa Bastos sucumbiu à diabetes, aos 67 anos de idade,  tendo sido sepultado em jazigo particular no Cemitério dos Prazeres.

De entre as várias homenagens de que Sousa Bastos foi alvo destacamos o Teatro Sousa Bastos inaugurado em Coimbra no dia 15 de junho de 1914, uma Exposição comemorativa do seu centenário do nascimento em  1944 no Museu Rafael Bordalo Pinheiro seguida em 1947 da publicação pela edilidade lisboeta do seu livro Lisboa Velha.  Tem ainda ruas com o seu nome em Linda-a-Velha e em Odivelas.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Actriz Palmira Bastos que se estreou no Teatro da Rua dos Condes

Inauguração da Rua Actriz Palmira Bastos nos anos 70 do séc. XX
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

Três anos após o seu falecimento, em 1970, Maria da Conceição Martins que se estreou  no Teatro da Rua dos Condes em 1890 e terminou a sua carreira aos 90 anos na peça As Árvores Morrem de Pé, deu o seu nome artístico de Palmira Bastos a uma Rua da freguesia de Marvila.

A Rua Actriz Palmira Bastos une hoje a Avenida Dr. Augusto de Castro à Rua Dr. José Espírito Santo e foi atribuída por Edital municipal de 4 de novembro de 1970 na artéria até aí designada por Rua I-12 da Malha I de Chelas, tendo a sua consagração na toponímia citadina partido da iniciativa do então Presidente da Câmara, Engº Santos e Castro, em despacho apresentado em 21/10/1970 à Comissão Consultiva Municipal de Toponímia.

Revista O Palco, 5 de março de 1912

Maria da Conceição Martins (Aldeia Gavinha/30.05.1875 – 10.05.1967/Lisboa), terceira filha de um casal de atores de uma companhia de teatro ambulante – sendo a mãe galega e o pai castelhano -,  também seguiu  carreira no teatro, durante 75 anos, com o nome artístico de Palmira Bastos.

Estreou-se em 1890, no Teatro da Rua dos Condes de que Sousa Bastos era o empresário, ainda sob o nome de Palmira Martins e foi depois vedeta de opereta, de revista, de comédia e do drama, bem como do teatro declamado, chegando a ser considerada a primeira-dama do teatro português, tendo em atenção que de 1913 até ao ano da sua morte foi primeira figura da companhia Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, onde aos 90 anos de idade teve um enorme êxito na peça As Árvores Morrem de Pé. Palmira Bastos integrou ainda o elenco do filme mudo O destino.

Palmira Bastos casou aos 19 anos, em 1894, com o autor e empresário teatral António de Sousa Bastos (1844 – 1911) e depois do falecimento deste, contraiu matrimónio com o ator e empresário de teatro António de Almeida Cruz (1879 – 1951).

Foi agraciada com o Prémio António Pinheiro (1955) pela sua encenação da peça de Pirandello Para Cada Um Sua Vontade, o Prémio Lucinda Simões (1965) pela sua interpretação em Ciclone de Somerset Maugham, assim como com lápides de homenagem no Teatro Copacabana do Rio de Janeiro (1960) e no Teatro S. Luiz (1965), as comendas da Ordem de Santiago (1959) e de Cristo (1965), bem como com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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