E viva a Rua de pistolas na mão!

Estátua de fulano de tal no Jardim da Parada (Foto: Rui Mendes)

Estátua de Costa Mota no Jardim Teófilo Braga
(Foto: Rui Mendes)

 

A Rua Maria da Fonte que hoje se estende da Rua da Bombarda até à Rua Angelina Vidal, nasceu da publicação do Edital camarário de 19/03/1917, que tornou a antiga Calçada do Forno do Tijolo numa homenagem à Revolução da Maria da Fonte iniciada na Póvoa do Lanhoso em 1846, em protesto contra a proibição de enterrar os mortos nas igrejas, decretada pelo Governo de Costa Cabral.

(Foto:  João H Goulart, 1967, Arquivo Municipal de Lisboa)

(Foto: João H. Goulart, 1967, Arquivo Municipal de Lisboa)

Maria da Fonte é o nome pelo qual ficou conhecido um movimento revolucionário popular, também denominado Revolução do Minho, que terá sido começado por uma mulher que hoje não sabemos bem quem seja. Talvez Josefa Caetano da Casa da Fonte que deu uma falsa identificação às autoridades. Ou Maria da freguesia de Oliveira que de machado em punho rebentou as grades da cadeia para libertar as suas companheiras. Ou Maria Luísa Baldaio, proprietária de uma hospedaria que era conhecida por Maria da Fonte e que dava de comer gratuitamente aos revolucionários. Ou então, Maria Angelina, evocada em canções populares por ser a única mulher que naquele tempo andava de pistolas à cinta.

Maria da Fonte inspirou um panfleto humorístico (1846) a António Feliciano de Castilho e a obra Maria da Fonte (1885) a Camilo, e esta última, por sua vez levou Campos Monteiro a escrever e a fazer representar uma opereta (1928).

Também o maestro Ângelo Frondoni compôs na época da sublevação popular um hino que ficou conhecido pelo nome de Hino da Maria da Fonte ou Hino do Minho, e que por muito tempo foi o canto de guerra do Partido Progressista. Aliás, a Rua Ângelo Frondoni, na freguesia alfacinha de Belém, tem como legenda «Autor do Hino da Maria da Fonte». E ainda hoje, o Hino da Maria da Fonte continua a ser a música com que se saúdam os ministros portugueses, sendo utilizado em cerimónias cívicas e militares, nomeadamente, nas inaugurações de novos arruamentos de Lisboa.

Freguesia de qq coisinha ou balha-me deus

Freguesia de Arroios

A Rainha do Congo em Lisboa

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Placa Tipo II (Foto: José Carlos Batista)

Pelo edital municipal de 8 de fevereiro de 1949 foram denominados os arruamentos do Bairro do Caramão da Ajuda com toponímia numérica, como na época se usava fazer para os bairros sociais mas 40 anos mais tarde, pelo edital de 18 de dezembro de 1989, foi a Rua 9 crismada como Rua Rainha do Congo e a legenda «Figura Popular».

Este topónimo e mais outros dez resultaram de uma resolução da Comissão Municipal de Toponímia que recuperou figuras populares e tradicionais para a toponímia da zona ocidental de Lisboa e, que o edital fixou na toponímia desse Bairro da Ajuda, e de que são exemplo a Rua da Preta Constança (Figura Popular da Ajuda) na Rua 3 ,  a Rua Rainha das Ilhas das Cobras (Figura Popular) na Rua 7, a Rua José Maria Preto (Barbeiro Popular) na Rua 11  ou a Rua dos Vaga-Lumes na Rua 4.

A Rainha do Congo era Maria Amália I, que no último quartel do século XIX se instalou em Lisboa, na Travessa do Outeiro, perto da Rua da Bela Vista à Lapa e do Jardim da Estrela e aí também organizava festas e bailes como, por exemplo se pode ser nos dizeres do cartaz da sua coroação: «Grande Sucesso/Domingo, 17 de Setembro de 1882/Assombrosa Festa/na Travessa do Outeiro à Rua da Bella Vista à Lapa/Acclamação e Coroação/da Nova Rainha do Congo, Maria Amália 1ª/Grande festa da côrte do Congo».

Narra Luiz Silveira Botelho (em A Mulher na Toponímia de Lisboa) que «A  comitiva régia compunha-se de cozinheiro, secretário particular e de seis altos dignitários da corte, acompanhados das repectivas consortes. A Casa, desde que nela se alojou a Rainha e a sua comitiva, estava situada na Travessa do Outeiro, à Rua da Bela Vista à Lapa, e como as despesas com a viagem foram grandes e o passadio em Lisboa era dispendioso, organizou uma festa régia, com entradas pagas e a concessão, pela Rainha, de mercês honoríficas a quem provasse ser filho da sua gente, mediante espórtula grande e que o diploma desenhado por Manuel de Macedo fosse pago por bom preço.»

E de acordo com a biografia desta Rainha elaborada por João Jardim de Vilhena, ela acabou por renunciar ao trono e abalar com um rico lavrador para o Alentejo, tendo   com ele casado e gerado numerosa prole no monte de Évora onde viveu até aos 82 anos.

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Freguesia da Ajuda (Foto: José Carlos Batista)