A Rua da Cruz e a Rua da Fábrica, provavelmente nos anos trinta ou quarenta do séc. XX
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)
O Edital camarário de 3 de outubro de 1919 estipulou que «as portas com os nºs 142, 143, 144, 145, 146 e 147, situados num troço da via publica que antigamente o vulgo dava o nome de Largo dos Tanques, pertencentes à propriedade que, pela citada numeração, faz indevidamente parte da Rua da Cruz, em Alcantara, sejam desta via publica desanexadas e encorporadas [ incorporadas] na Rua da Fabrica da Polvora», conforme a Comissão Executiva da Câmara Municipal de Lisboa deliberou na sessão de 25 de setembro desse mesmo ano, iniciada «pelas 21 horas e meia».
O Largo dos Tanques surge mencionado na documentação municipal em 30 de outubro de 1837, numa vistoria a um quintal que fazia parte de um prédio no Largo dos Tanques e Rua da Fábrica da Pólvora n.ºs 5 a 9, o que mostra que o Largo era contíguo à artéria onde vai ser integrado em 1919. Com esta mesma denominação de Largo dos Tanques aparece também numa escritura pública de 23 de julho de 1858, entre a Câmara Municipal de Belém e Joaquim José Ferreira, um morador da freguesia de S. Pedro de Alcântara que aqui tinha um estabelecimento de tanques de lavadeiras. Na planta de 1857, de Filipe Folque, o espaço deste Largo aparece junto à Rua da Cruz e Rua da Fábrica da Pólvora mas sem denominação alguma.
Este Largo dos Tanques terá sido absorvido pelas obras para alargamento do Largo de Alcântara, que começaram a partir de 1891 e o que dele sobejou terá sido integrado na Rua da Cruz a Alcântara, denominação cujo acrescento de localização foi colocado pelo Edital municipal da CML de 8 de junho de 1889. Note-se que nas obras de regularização do pavimento do Largo de Alcântara, de 1895 a 1905, as plantas já não referem o Largo dos Tanques mas colocam nas proximidades a Estrada da Circunvalação, a Rua da Fábrica da Pólvora, a Rua da Cruz a Alcântara, a Rua de São Jerónimo (a partir de 21/06/1926 passou a ser a Rua Feliciano de Sousa), a Rua do Alvito, a estação dos caminhos de ferro de Alcântara-Terra, a Rua de Alcântara, o mercado, a Rua do Livramento e a Rua Vieira da Silva. Na planta de 1910 de Silva Pinto também já não aparece a designação de Largo dos Tanques, justificando que era uma denominação popular mas não oficial, ou como redige o Edital de 1919: «antigamente o vulgo dava o nome de Largo dos Tanques.»
A partir de 1919 o troço do Largo dos Tanques que fora antes colocado na Rua da Cruz a Alcântara ficou na Rua da Fábrica da Pólvora e sete anos depois, a partir de 25 de março de 1926, começou-se a alargar a Rua da Cruz a Alcântara, expropriando terrenos a particulares como Francisco Inácio Bonito, António Lourenço Rodrigues, Ermelinda Alves Rêgo, Manuel Lopes e Raúl Silva, Francisco de Oliveira Margioche e Alfredo Caetano Dias, situados nas Quintas do Cabrinha, da Lamparina, da Água e nos terrenos da Empresa Cerâmica de Lisboa.
Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)