A Rua da Bica da Guarda pessoal do Marquês de Pombal, dada em 1918

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Na presidência de José Carlos da Maia na edilidade lisboeta, nasceu numa artéria da Ajuda a Rua da Bica do Marquês sobre a Rua Alegre, com a publicação do Edital municipal de 8 de fevereiro de 1918, que assim fixou na toponímia lisboeta a proximidade de uma bica de água ao quartel da Companhia da Guarda do Marquês de Pombal.

Este arruamento era só denominado como Rua da Bica até o Edital municipal de 26 de setembro de 1916 preferir antes designá-la como Rua Alegre. Contudo, este nome não vingou porque passados menos de dois anos, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa, presidida por Carlos da Maia, voltou a mudar-lhe o nome, retomando a antiga denominação de Rua da Bica, através do Edital de 1918 acima referido, mas transformando esta artéria que une a Rua de Dom Vasco à  Calçada da Ajuda na memória mais explicativa de Rua da Bica do Marquês.

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Saliente-se que foi no quarteirão que termina com o prédio da antiga Farmácia Mendes Gomes que existiu o Pátio da Guarda, um conjunto de casebres dispostos em forma de U, que era o quartel da Companhia da Guarda do Marquês de Pombal, uma guarda de proteção pessoal do Conde de Oeiras (título de 1759) e Marquês de Pombal (título de 1769). Onde hoje são instalações da Junta de Freguesia da Ajuda – Calçada da Ajuda nº 236 – eram as antigas cavalarias da Companhia da Guarda do Marquês. O Pátio da Guarda também foi denominado Pátio do Bonfim, por nele ter vivido o Conde de Bonfim.

Do Largo dos Tanques à Rua da Cruz a Alcântara e à Rua da Fábrica da Pólvora, em 1919

A Rua da Cruz e a Rua da Fábrica, provavelmente nos anos trinta ou quarenta do séc. XX
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Edital camarário de 3 de outubro de 1919 estipulou que «as portas com os nºs 142, 143, 144, 145, 146 e 147, situados num troço da via publica que antigamente o vulgo  dava o nome de Largo dos Tanques, pertencentes à propriedade que, pela citada numeração, faz indevidamente parte da Rua da Cruz, em Alcantara,  sejam desta via publica desanexadas e encorporadas [ incorporadas] na Rua da Fabrica da Polvora», conforme a Comissão Executiva da Câmara Municipal de Lisboa deliberou na sessão de 25 de setembro desse mesmo ano, iniciada «pelas 21 horas e meia».

O Largo dos Tanques surge mencionado na documentação municipal em 30 de outubro de 1837, numa vistoria a um quintal que fazia parte de um prédio no Largo dos Tanques e Rua da Fábrica da Pólvora n.ºs 5 a 9, o que mostra que o Largo era contíguo à artéria onde vai ser integrado em 1919. Com esta mesma denominação de Largo dos Tanques aparece também numa escritura pública de 23 de julho de 1858, entre a Câmara Municipal de Belém e Joaquim José Ferreira, um morador da freguesia de S. Pedro de Alcântara que aqui tinha um estabelecimento de tanques de lavadeiras. Na planta de 1857, de Filipe Folque, o espaço deste Largo aparece junto à Rua da Cruz e Rua da Fábrica da Pólvora mas sem denominação alguma.

Este Largo dos Tanques terá sido absorvido pelas obras para alargamento do Largo de Alcântara, que começaram a partir de 1891 e o que dele sobejou terá sido integrado na Rua da Cruz a Alcântara, denominação cujo acrescento de localização foi colocado pelo Edital municipal da CML de 8 de junho de 1889. Note-se que nas obras de regularização do pavimento do Largo de Alcântara, de 1895 a 1905, as plantas já não referem o Largo dos Tanques mas colocam nas proximidades a Estrada da Circunvalação, a Rua da Fábrica da Pólvora, a Rua da Cruz a Alcântara, a Rua de São Jerónimo (a partir de 21/06/1926 passou a ser a Rua Feliciano de Sousa), a Rua do Alvito, a estação dos caminhos de ferro de Alcântara-Terra, a Rua de Alcântara, o mercado, a Rua do Livramento e a Rua Vieira da Silva. Na planta de 1910 de Silva Pinto também já não aparece a designação de Largo dos Tanques, justificando que era uma denominação popular mas não oficial, ou como redige o Edital de 1919: «antigamente o vulgo  dava o nome de Largo dos Tanques

A partir de 1919 o troço do Largo dos Tanques que fora antes colocado na Rua da Cruz a Alcântara ficou na Rua da Fábrica da Pólvora e sete anos depois, a partir de 25 de março de 1926, começou-se a alargar a Rua da Cruz a Alcântara, expropriando terrenos a particulares como Francisco Inácio Bonito, António Lourenço Rodrigues, Ermelinda Alves Rêgo, Manuel Lopes e Raúl Silva, Francisco de Oliveira Margioche e Alfredo Caetano Dias, situados nas Quintas do Cabrinha, da Lamparina, da Água e nos terrenos da Empresa Cerâmica de Lisboa.

Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua que dá nome ao Elevador de Santa Justa

Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: Artur Matos)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Artur Matos)

Desde que foi inaugurado em 1902 que o Elevador de Santa Justa tomou o topónimo da artéria que o acolheu: a Rua de Santa Justa. Esta é uma artéria pombalina, saída do primeiro diploma legal de toponímia que existiu em Lisboa, de 5 de novembro de 1760, sendo o seu nome derivado da proximidade à Igreja de Santa Justa.

A Rua de Santa Justa foi um dos 14 topónimos que integrou a Portaria do rei D. José I de 5 de novembro de 1760, diploma que inaugurou em Lisboa a prática de atribuição de nomes de ruas por decreto. Neste se estabeleceu a denominação dos arruamentos localizados da Baixa lisboeta reconstruída, no espaço entre a Praça do Comércio e o Rossio [hoje, Praça Dom Pedro IV], a saber, «Rua Nova d’El Rey [hoje, Rua do Comércio], Rua Augusta, Rua Áurea, Rua Bella da Rainha [hoje, Rua da Prata], Rua Nova da Princesa [hoje, Rua dos Fanqueiros], Rua dos Douradores, Rua dos Correeiros, Rua dos Sapateiros, Rua de S. Julião, Rua da Conceição, Rua de S. Nicolau, Rua da Victoria, Rua da Assumpção e Rua de Santa Justa». Em paralelo, esta Portaria também determinava a distribuição dos ofícios e ramos do comércio por estes arruamentos.

O olisipógrafo Luís Pastor de Macedo sublinha ainda que «os nomes de S. Julião, da Conceição, de S. Nicolau, da Vitória e de Santa Justa, foram dados às ruas que mais perto passavam das igrejas e ermidas que com aquela invocação, segundo o plano estabelecido, se haviam de erguer ou se estavam já construindo.» Ora a Igreja de Santa Justa ficava na esquina da Rua dos Fanqueiros com a Rua de Santa Justa – onde hoje encontramos a Pollux-  e era sede da paróquia de Santa Justa e Rufina, criada por D. Gilberto,  1º bispo de Lisboa, em data anterior a 1173. E se o Terramoto poupou o edifício o subsequente incêndio arruinou-o e em 1834 a sede da freguesia passou para a Igreja de São Domingos.

 

 

A Rua da Boavista da Fábrica do Gás

Freguesia da Misericórdia
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua da Boavista, abaixo do Monte de Belver ou Alto da Boavista, dotada de um bica para melhoras dos olhos, que hoje encontramos a unir a Rua de São Paulo ao Largo do Conde Barão, albergou entre 1847 e 1914 a Fábrica do Gás da Boavista.

Fábrica de Gás da Boavista foi inaugurada em 1847 e segundo Norberto de Araújo, ainda cerca de 1860 se encontrava de frente para a Praia da Boavista e os Boqueirões da Moeda e dos Ferreiros, tendo assim sucedido ao antigo Quartel da Brigada Real da Marinha o edifício da Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás, estando nos terrenos por detrás deste a primeira Fábrica de Gás, de Cláudio Adriano da Costa e do francês José Detry, que por privilégio concedido em 3 de maio de 1846 detinham o monopólio da produção e comercialização de gás. A  junção desta Fábrica do Gás com a Central Tejo, a partir de 1909, permitiu fornecer eletricidade a Lisboa e a toda a faixa costeira até ao Estoril.

O traçado de elevação da fachada da Fábrica do Gás na Rua da Boavista, aprovada pela CML em 16 de maio de 1850

Em 1887 foi fundada uma concorrente, a Companhia do Gás de Lisboa, com fábrica em Belém, junto à Torre, em terrenos cedidos pela CML e, em 1891, as duas companhias acabaram por se fundir. Em 1914, deu-se na Fábrica da Boavista uma formidável explosão que originou 19 mortos e um incêndio, tendo então o fabrico do gás passado, inteiramente, para o sítio do Bom Sucesso, na proximidade da Torre de Belém, tendo Norberto de Araújo adiantado mais tarde que «a fábrica deve estar instalada, no ano próximo, no ocidente da Cidade, na Quinta da Mantinha, ao Poço do Bispo (se a guerra, que rebentou em 3 de Setembro dêste ano de 1939, não vier impedir a realização do projecto).»

A Rua da Boavista já existia como topónimo antes do Terramoto de 1755 como o registam as memórias paroquiais de Lisboa.  Ao Alto de Santa Catarina com quem a Rua da Boavista se relaciona na toponímia semelhante, também se chamava Alto do Belver, ou Belveder ou Alto da Boavista. Contudo, o nome de Boavista está também especialmente relacionado com a Bica dos Olhos, a Bica de Duarte Belo, construída em 1675 e muito popular pela sua eficácia no tratamento de doenças dos olhos, tendo até um médico de D. João V referido a sua água como medicinal na sua obra  Aquilégio Medicinal de 1726. E assim, durante muito tempo, acorreram a esta bica muitas pessoas para lavar os olhos com o propósito de manter uma boa visão ou curar outros males dos olhos.

Freguesia da Misericórdia
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

O Largo da Ponte Nova de Alcântara

Freguesia de Alcântara
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Largo da Ponte Nova, hoje juntinho a um dos lados da Avenida de Ceuta, é um topónimo do final do séc. XIX que guarda a memória de uma ponte de Alcântara junto à Ribeira de Alcântara, bem como da Rua da Ponte Nova já que é o espaço que dela resta.

Na planta de 1807 de Duarte Fava, a zona era ainda campestre mas quase cinquenta anos passados, na planta de 1856 de Filipe Folque surge a Rua da Ponte Nova, que começava no espaço que é hoje o Largo da Fonte Nova na junção com a Rua da Fábrica da Pólvora, tal e qual como aparece ainda em 1871 na planta da CML para canalizações.

Ainda sob a administração da  Câmara Municipal de Belém, surge a referência à Ponte Nova de Alcântara em 12 de junho de 1858, num auto da arrematação da reconstrução e melhoramento da Azinhaga de Vila Pouca até à dita ponte. E já no território de Lisboa mas ainda no séc. XIX, o Largo da Ponte Nova surge pela primeira vez mencionado num documento em 1892, numa planta municipal anexa ao orçamento nº 153 do Chefe da 3ª Repartição, bem como na planta sobre uma conduta na Rua da Fábrica da Pólvora.

No séc. XX, o Largo da Ponte Nova surge logo em 1903 no estudo de Ressano Garcia para uma avenida entre o Largo de Alcântara e Benfica, sendo do ano seguinte a primeira ideia de «reconhecida necessidade que era o desaparecimento do Caneiro de Alcântara», conforme refere o engº Inácio Francisco da Silva em 3 de agosto de 1935. Continua a surgir o Largo da Ponte Nova na planta da cidade de 1911, de Júlio Silva Pinto,  assim como seis anos depois surge no plano da Avenida de Ceuta, cujo topónimo será dado por deliberação municipal de 1915, e que o engº Inácio Francisco da Silva também considera «que será de futuro a transversal de maior trânsito». Na década de trinta, aparece na alteração ao projeto da Avenida de Ceuta, do engº António Emídio Abrantes, entre o Largo de Alcântara e a Ponte Nova, onde se inclui a cobertura do Caneiro de Alcântara, obra continuada pelo engº Inácio Francisco da Silva, prosseguindo com a construção da Avenida de Ceuta no troço entre a Ponte Nova e Vila Pouca, após a resolução do problema do Caneiro de Alcântara. Aliás, o Diário Municipal de 12 de fevereiro de 1944, publica o programa do concurso para a empreitada da canalização da Ribeira de Alcântara.

Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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A Rua do Arco do Aqueduto a São Mamede

Freguesias de Santo António e Campo de Ourique
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Era a Rua do Arco, por mor de ter em si um dos 127 arcos do Aqueduto das Águas Livres, até lhe ser acrescentada a localização a São Mamede no ano de 1953.

Este arruamento que liga a Rua de São Bento à Rua da Escola Politécnica tem um topónimo posterior a 1748 e que já surge referido nas plantas da cidade de Lisboa após a remodelação paroquial de 1780. A Rua do Arco a São Mamede ostenta um dos 127 arcos do Aqueduto das Águas Livres, equipamento que começou a fornecer água à cidade de Lisboa a partir de 1748, aumentando assim de 6 para 15 litros o volume de água diário que cada cidadão de Lisboa tinha ao seu dispor.

Por volta de 1808, ficou o arco com um chafariz de encosto, da autoria de Honorato Correia de Macedo e Sá, seguindo a influência do modelo de chafariz ligado ao Aqueduto que foi introduzido por Reinaldo Manuel dos Santos. A ordem para a construção deste chafariz,  alimentado pelas águas provenientes da Galeria da Esperança e da Água Livre por intermédio da Casa do Registo das Amoreiras, partiu da Direção das Águas Livres em 12 de junho de 1805.

Já o topónimo ficou a ser Rua do Arco a São Mamede por parecer da Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa, que no dia 21 de outubro de 1953 foi  homologado pelo Vice-Presidente da CML que era então Luís Pastor de Macedo.

Refira-se que na parte da rua mais próxima da Rua de São Bento foi morador Frederico Romão Daupiás d’Alcochete (1839-1928) que também tinha aí os seus jardins de ensaio de floricultura.

Também no século XVIII terá ali vivido uma família Soares já que Gustavo de Matos Sequeira menciona que o prédio da Rua do Arco que torneja para a Rua do Noronha tem «uma lápide com os seguintes dizeres : SOARES — N.” 21», para além de acrescentar  que em 1762 é mencionada pela primeira vez uma Rua dos Soares que o olisipógrafo não conseguiu apurar se seria a Rua do Arco ou a Rua do Noronha. Mencione-se que Gustavo de Matos Sequeira residiu numa artéria transversal a esta Rua do Arco a São Mamede, a Rua Nova de Santo António, que depois ficou com o seu nome.

Freguesias de Santo António e Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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O Aqueduto das Águas Livres em 3 topónimos lisboetas

O Aqueduto das Águas Livres cerca de 1912
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Aqueduto das Águas Livres erguido entre 1732 a 1748 para melhorar o abastecimento de água a Lisboa, por ordem de D. João V, deu origem a 3 topónimos lisboetas no decorrer do século XX, sendo por ordem cronológica a Travessa das Águas Livres (1911), a Praça das Águas Livres (1948 e 1986) e a Rua do Aqueduto das Águas Livres (1990).

A Travessa das Águas Livres quando ainda era Travessa das Bruxas, em 1908
(Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Travessa das Águas Livres que liga a Rua das Amoreiras à Praça das Amoreiras, hoje sob administração da Freguesia de Santo António, por deliberação de câmara de 3 de agosto de 1911 e consequente Edital  municipal de 7 de agosto de 1911, foi o topónimo escolhido para substituir a denominação existente de Travessa das Bruxas às Amoreiras. Refira-se que esta nova designação se fazia por referência de proximidade à Rua dos Arcos das Águas Livres que até 1874 foi o nome da Rua das Amoreiras, onde aliás se encontra  o arco triunfal que celebrou a entrada das águas do Aqueduto na cidade de Lisboa.

A Praça das Águas Livres em 1959
(Foto: Fernando Manuel de Jesus Matias, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Praça das Águas Livres, hoje parte da Freguesia de Campo de Ourique, foi o nome atribuído à praça situada no extremo oriental da Rua D às Amoreiras, por Edital municipal de 18 de junho de 1948 e assim se manteve por 33 anos. No entanto, sendo este o espaço onde o Ginásio Clube Português fez a sua sede passou então esta artéria a designar-se Praça Ginásio Clube Português, pelo Edital municipal de 10 de agosto de 1981. Cinco anos depois, o Edital de 3 de novembro de 1986 resolveu criar duas praças da seguinte forma: o troço da Praça Ginásio Clube Português constituído pela antiga Praça das Águas Livres passou a constituir novamente um arruamento distinto, com a antiga denominação de Praça das Águas Livres, mantendo o restante troço a denominação de Praça Ginásio Clube Português.

Rua do Aqueduto das Águas Livres – Freguesia de Campolide
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Por último, temos a Rua do Aqueduto das Águas Livres, no Bairro do Alto da Serafina, na Freguesia de Campolide. Pelo Edital de 15 de março de 1950 foi dada toponímica numérica no Bairro do Alto da Serafina e a outros Bairros Sociais da cidade, sendo então este arruamento a Rua 19. No final de 1989, o Edital de 28 de dezembro, denominou-a como Rua dos Ardinas, sendo alterados os restantes topónimos do Bairro, o que gerou protestos da população residente, pelo que com mediação da  Junta de Freguesia de Campolide e da Comissão de Moradores do Bairro foi possível chegar a um acordo para nova toponímia, desta feita relacionada com a época da construção do Aqueduto das Águas Livres ou instituições com uma forte ligação ao Bairro, que a Câmara fixou através do Edital de 14 de dezembro de 1990 e desde aí é a Rua do Aqueduto das Águas Livres.

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A Rua da Bica que soma a Rua da Bica Duarte Belo com a Calçada da Bica Pequena

Rua da Bica de Duarte Belo e início da Calçada da Bica Pequena, em 1915
(Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Elevador da Bica, inaugurado no dia 28 de junho de 1892, corre por duas artérias da freguesia da Misericórdia, cujos topónimos oficiais são Rua da Bica Duarte Belo e Calçada da Bica Pequena, razão para que estas duas sejam conhecidas como se fossem uma só e sob a denominação popular de Rua da Bica ou apenas Bica.

Bica é o nome de todo o Sítio cavado entre a vertente das encostas  de Santa Catarina e das Chagas, por efeito de um desmoronamento de terras restrito ao local, ocorrido em 22 de julho de 1597 e que  25 anos mais tarde se repetiu.

A partir do Largo do Calhariz o primeiro troço da Rua da Bica é a  Rua da Bica Duarte Belo que vai até à Travessa do Cabral. Segundo Norberto de Araújo,  este  Duarte Belo possuía na Boa Vista [ Rua da Boavista] umas casas e um chão no qual existia uma bica, conhecida como a Bica dos Olhos, conhecidas que eram as suas capacidades curativas para maleitas das vistas. De acordo com Gomes de Brito, a Bica do Bello já em 1551 ali se achava, dado que aparece inventariada no Sumário de Cristóvão Rodrigues de Oliveira.

O segunda troço da vulgarmente designada Rua da Bica, que se estende da Rua da Bica Duarte Belo até junto do nº 242 da Rua de São Paulo é a Calçada da Bica Pequena, onde chegou a existir uma bica. Contudo, o olisipógrafo Norberto de Araújo argumenta que esta Calçada  e a da Bica Grande podem ser topónimos apenas com o sentido de Calçada Grande e Calçada Pequena, o que até se ajusta à largura e extensão destas serventias.

O final da Rua da Bica de Duarte Belo e início da Calçada da Bica Pequena, em 2017
(Foto: António Dias)

O Largo do Chafariz de Dentro do Museu do Fado

Freguesia de Santa Maria Maior                                                         (Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Desde a sua inauguração em 25 de setembro de 1998 que o Museu do Fado está sediado no Largo do Chafariz de Dentro, arruamento de Alfama com muitos séculos, na confluência da Rua do Terreiro do Trigo, Rua Jardim do Tabaco, Rua dos Remédios e Rua de São Pedro, que o olisipógrafo Norberto de Araújo considera «o Rossio de tôda a Alfama, e melhor diria o seu Terreiro do Paço pois muitos séculos não há que o mar aqui chegava».

Placa Tipo I

Freguesia de Santa Maria Maior – Placa Tipo I                                                            (Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O chafariz que está em funcionamento desde o séc. XIII, ganhou o nome de Dentro porque no século XIV ficava entre muralhas mas também foi vulgarmente conhecido como Chafariz de Alfama. A Cerca Fernandina tinha então uma porta para este Largo que recolheu o nome do chafariz. Antes, de acordo com uma referência documental de 1280, chamar-se-ia Chafariz dos Cavalos já que as suas águas jorravam da boca de uns cavalos de bronze que adornavam a frontaria mas, segundo o cronista Fernão Lopes estas bicas foram roubadas pelos castelhanos, aquando do cerco de Lisboa de 1384. Em 1494, o chafariz teve alguns arranjos, mas foi em 1622 que tiveram lugar as obras de monta, de que ficou a memória na inscrição da frontaria: «Êste Chafariz mandou a Câmara desta Cidade reformar no ano de 1622, sendo presidente dela João Furtado de Mendonça do Conselho de Sua Majestade (…) o qual se reformou com o dinheiro do real d’água». Em 1694 também o Largo recebeu grandes obras de saneamento e urbanização.

Alfama afamada pelas suas boas e abundantes águas, teve neste Largo do Chafariz de Dentro um espaço onde no séc. XIV as populações locais acorriam para abastecimento de água, mas também para o mercado regular e feiras periódicas que se estendiam para a Rua de São Pedro e para a praia. A urbanização do Largo em 1622 e em 1694 tornou-o um espaço mais cosmopolita e de relação com o exterior.

Freguesia de Santa Maria Maior                        (Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Travessa do Poço da Cidade onde a Severa morou

A Travessa do Poço da Cidade num excerto da planta de Filipe Folque de 1856

A Travessa do Poço da Cidade, hoje pertença da Freguesia da Misericórdia, foi uma das moradas da lisboeta Severa, em 1844 ou em 1845, residindo então com a sua mãe, de acordo com o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo.

Esta artéria que vai da Rua da Misericórdia à Rua da Rosa integra o  núcleo inicial do Bairro Alto e «Quando em 1622 começa a ser citada nos livros paroquiais, davam-lhe a categoria de rua», segundo Pastor de Macedo.

Júlio de Castilho sugeriu que o topónimo se devia a um poço público desta artéria, então já no interior de um prédio privado, no que é secundado por Norberto de Araújo ao defender a existência de diversos poços públicos e particulares neste arruamento. Em 1844, na edição de 12 de setembro, a Revista Universal Lisbonense a propósito do abastecimento de água na cidade menciona que «Temos o grande poço que ainda hoje dá o nome a uma travessa notável, a do Poço da Cidade. Este poço, situado na esquina da Rua da Atalaia, na propriedade nº 33, abasteceu em tempos antigos aquelle districto, e ha poucos annos, que em igual escassèz concorriam alli grande numero de carroças, a que o senhorio, ou inquilinos facilitaram a agua, que nunca diminuiu.»

Por documentos municipais sabemos que a Travessa do Poço da Cidade teve o seu pavimento reparado em 1886, numa empreitada com envolvendo diversas ruas de Lisboa. Registe-se ainda que esta artéria com a contígua antiga Rua dos Calafates (e a partir de 31/12/1885 Rua do Diário de Notícias) foi a morada de tipografias e jornais:  a oficina de impressão de Francisco Luís Ameno (1740), a  tipografia Morandiana (1830) , a tipografia de Aguiar Viana, a tipografia de Eduardo de Faria,  a Tipografia Universal (1853) e a sua ampliação por  Sebastião José Ribeiro de Sá e Luís Augusto Rebelo da Silva , o  jornal  Diário Notícias (29 de dezembro de 1864 até 24 de setembro de 1940) e o jornal A Capital .

A Travessa do Poço da Cidade, em data incerta entre 1898 a 1908, a nascer junto à Rua da Misericórdia, então Rua de São Roque
(Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)