Escola Politécnica

A Escola Politécnica em inícios do séc. XX (Foto: Augusto Bobone © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua da Escola Politécnica é o topónimo que consagra o estabelecimento de ensino superior que naquele arruamento foi fundada em 1837- a Escola Politécnica –, nas instalações que haviam sido do Colégio dos Nobres (1766) e ainda antes, do Noviciado da Companhia de Jesus (1619) na Cotovia.

A Rua da Escola Politécnica, que une a Praça do Príncipe Real ao Largo do Rato, nasceu do Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859 que determinou que a Rua da Patriarcal Queimada e a Rua Direita da Fábrica das Sedas passassem a constituir um único arruamento com a denominação de Rua da Escola Politécnica.

Conta Norberto de Araújo nas suas Peregrinações que «Esta artéria, rasgada como larga serventia entre as quintas do Noviciado da Companhia de Jesus e a de D. Rodrigo, fazia a ligação do sítio da Cotovia com o de Campolide, que começava – já o disse – onde veio a ser o Rato. Antes do Terramoto a rua tinha duas designações para cada um dos seus troços: Rua Direita da Fábrica das Sedas até ao Palácio dos Soares (depois Imprensa Nacional), daí para diante até à actual Praça do Rio de Janeiro [desde 1948 corresponde à Praça do Príncipe Real] era Rua do Colégio dos Nobres, designação que sucedeu à de Rua Direita da Cotovia. Em Setembro de 1859 passou toda a artéria a ser Rua da Escola Politécnica». Em resumo, a Rua Direita da Cotovia passou a ser Rua do Colégio dos Nobres que mais tarde se torna Rua da Patriarcal Queimada e depois, 22 anos após a abertura da Escola Politécnica, se une com a Rua Direita da Fábrica das Sedas para dar lugar à Rua da Escola Politécnica.

A Casa do Noviciado da Cotovia, foi construída pelo arquiteto Baltazar Álvares na Quinta do Monte Olivete e estando concluída em 1616, começou três anos depois a ser o centro de formação dos Jesuítas, até à sua expulsão de Portugal em 1759. Depois de expulsar os Jesuítas, o Marquês de Pombal aproveitou o colégio deles para instalar, a partir de 7 de março de 1761, o Real Colégio dos Nobres, remodelado por Carlos Mardel, para ministrar uma formação inicial a jovens aristocratas, no quadro do Iluminismo.

Foi o Colégio dos Nobres extinto em 4 de janeiro de 1837 para dar lugar, pela publicação do Decreto de 11 de janeiro de 1837 à Escola Polytechnica de Lisboa, concebida para ministrar um ensino preparatório científico aos candidatos a oficiais do Exército e da Marinha, que seria completado nas escolas especializadas – Escola do Exército e Escola Naval – copiando o modelo da Escola Politécnica de Paris, sob a tutela dos ministérios da Guerra e da Marinha e Ultramar. Do antigo Colégio pombalino herdaram os Laboratórios de Física, de Química e de Ciências Naturais. Os cursos ministrados eram um curso geral, um curso preparatório para oficiais de artilharia, outro para oficiais de marinha e outro para oficiais de infantaria e cavalaria, um curso preparatório para oficiais de estado-maior e de engenharia militar para engenheiros civis bem como um curso preparatório para engenheiros construtores navais. Entretanto, o antigo edifício ficou totalmente destruído em virtude de um incêndio ocorrido em 22 de abril de 1843, pelo que a partir de 1857 foram sendo construídas novas instalações que já só virão a albergar a Escola Politécnica uma vez que a Escola do Exército havia sido deslocada em 1850 para o Palácio da Bemposta. Em 1859 a Escola passou a ter um estatuto civil uma vez que ficou sob a tutela do Ministério do Reino.

A partir de 19 de abril 1911, na sequência da criação da Universidade de Lisboa, passou a ser a Faculdade de Ciências que 74 anos depois, em 1985, se mudou para novas instalações na Cidade Universitária de Lisboa, no Campo Grande. Nas instalações da Rua da Escola Politécnica passou então a funcionar o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), onde se integra o Jardim Botânico (nascido em 1878), classificado como Monumento Nacional desde 2010, e que inclui o Observatório Astronómico da Escola Politécnica, o Edifício dos Herbários, as Estufas e o Palmário.

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Colégio dos Nobres

A Cerca do Colégio dos Nobres
(Foto: Armando Serôdio © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Colégio Real dos Nobres de Lisboa, instituído no reinado de D. José I por iniciativa do Marquês de Pombal, iniciou a sua atividade em 1766, embora os seus Estatutos tivessem sido aprovados cinco anos antes. Diversos acontecimentos contribuíram para a sua criação: o atentado contra o rei (1758), o processo dos Távoras que culminou com a sua execução pública em Belém em 1759, ano em que os jesuítas, que então dominavam o ensino, foram expulsos de Portugal.

Com capacidade para 100 alunos e um corpo docente essencialmente constituído por mestres estrangeiros, foi instalado num edifício pertencente à Companhia de Jesus, na Cotovia. No seu primeiro ano letivo abriu com 24 discípulos que tinham que ter entre 7 e 13 anos e, no mínimo, o foro de moço-fidalgo. Contrariando os princípios do ensino ministrado pelos jesuítas, o modelo pedagógico do Colégio refletia princípios de laicização do ensino, valorizando as Matemáticas e a Física Experimental e tendo no seu programa, para além das Ciências, as Humanidades e a atividade física, aproximando-se assim do ideário educativo da Europa das Luzes.

O funcionamento do Colégio dos Nobres, o seu sucesso formativo e a sua organização interna ficaram sempre aquém das expetativas, levando a que em 1771 a administração fosse transferida para a Real Mesa Censória. A partir do ano seguinte, prosseguia apenas com o ensino das Humanidades. Assim, uma vez abolido o ensino científico, o conjunto dos instrumentos científicos que integravam o Gabinete de Física do Colégio e que constituem atualmente um importante acervo do Museu de Física da Universidade de Coimbra, foi transferido para a Universidade de Coimbra, reformada nesse mesmo ano.

A derrota das forças absolutistas, lideradas por D. Miguel, pelos defensores do liberalismo aglutinados em torno de D. Pedro IV e a nova Constituição liberal de 1834, foram fatores determinantes para o encerramento do Colégio dos Nobres que não sobreviveu ao conflito ideológico que punha em confronto os interesses da nobreza tradicional com os da burguesia em ascensão.

O Colégio dos Nobres foi também um estabelecimento fixado como topónimo na memória de artérias próximas. A artéria no seguimento da Rua Direita da Fábrica das Sedas, desde o Palácio Soares (depois, Imprensa Nacional) até ao Príncipe Real foi a Rua Direita do Colégio dos Nobres (conforme planta da freguesia das Mercês da remodelação paroquial de 1770), depois Rua do Colégio dos Nobres e ainda mais tarde, Rua da Patriarcal Queimada até o Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859 unir as duas artérias sob a denominação única de Rua da Escola Politécnica. Também fronteiro ao Colégio dos Nobres nasceu o Beco Colégio dos Nobres que hoje é o arruamento situado entre os nºs 87 e 89 da Rua da Escola Politécnica. Das escassas fontes para conhecer a malha urbana imediatamente anterior ao terramoto nesta zona da Cotovia apenas podemos supor que este Beco resulte de um pátio ou saguão posterior à remodelação pombalina executada na área, desde a abertura da Rua Nova de São Mamede até junto do então Colégio dos Nobres. Só na planta de 1857 de Filipe Folque  surge já registado o Beco do Colégio dos Nobres, onde 20 anos mais tarde foi construída uma escadaria empedrada, conforme documentação municipal.

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A Rua da Voz do Operário e o Arraial Beco de Lisboa

A Voz do Operário na Rua Voz do Operário – Freguesia de São Vicente

Na Rua da Voz do Operário,  num logradouro do edifício que começa num portão e contorna o edifício da Voz do Operário está a decorrer até ao final do mês o arraial Beco de Lisboa , que a instituição organiza no âmbito das Festas de Lisboa 2019 e que inclui noites de fado.

A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário fundada em 1879 está desde 1913 sediada nesta artéria, e teve honras de ser o próprio Presidente da República de então, Manuel de Arriaga, a ter lançado a 1ª pedra da sua sede. Nas Festas de Lisboa, para além de organizar a Marcha Infantil desde 1988 proporciona ainda o arraial Beco de Lisboa nas suas instalações.

A Voz do Operário ganhou tal importância ao longo da sua vida  que o  arruamento onde está sediada, aberto na antiga Quinta da Abelha nos princípios do último quartel do séc. XIX e que teve atribuído o nome de Rua da Infância, por deliberação camarária de 22 de novembro de 1880, dois anos depois de A Voz do Operário ter aqui a sua sede passou a denominar-se Rua Voz do Operário, pelo Edital municipal de 11 de fevereiro de 1915.

Em 1877, foi inaugurado no n.º 19 desta artéria o Asilo de São Vicente, uma das casas da Sociedade das Casas de Asilo da Infância Desvalida, razão para segundo o olisipógrafo Vieira da Silva ter sido denominada dois anos depois como Rua da Infância, em 1880. Mas cerca de 35 anos depois, a vereação republicana alterou o topónimo para consagrar a Sociedade «Voz do Operário», formada em 11 de Outubro de 1879 para para dar voz aos muitos operários tabaqueiros através da publicação de um semanário: o Voz do Operário. O operário tabaqueiro Custódio Gomes foi quem lançou a ideia do jornal da sua classe, mas foi outro operário, também tabaqueiro, Custódio Brás Pacheco de seu nome, o verdadeiro impulsionador da instituição e que levou a que em 13 de Fevereiro de 1883 nascesse a Sociedade Cooperativa A Voz do Operário em cujos estatutos se definia «sustentar a publicação do periódico A Voz do Operário, órgão dos manipuladores de tabaco, desligado de qualquer partido ou grupo político (…) estabelecer escolas, gabinete de leitura, caixa económica e tudo quanto, em harmonia com a índole das sociedades desta natureza, e com as circunstâncias do cofre, possa concorrer para a instrução e bem estar da classe trabalhadora em geral e dos sócios em particular».

Em 1879, aquele título tinha a sua sede no Beco dos Fróis. Em julho de 1887, mudou-se para a Calçada de São Vicente, com 1.114 sócios, nem todos operários tabaqueiros, o que obrigou a uma revisão dos estatutos, concretizada em 1889, aprovada no ano seguinte, convertendo-se em Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário e, transitando em 1896 para o Largo do Outeirinho da Amendoeira. Com o desenvolvimento crescente da Sociedade propuseram ao governo em 1906 a cedência de uma parcela de terreno da designada Cerca das Mónicas para a construção de um edifício de raiz onde pudessem ser instaladas as escolas e os serviços de A Voz do Operário, o que foi despachado favoravelmente por decreto do governo de 29 de maio de 1907. Todavia, a primeira pedra de construção da sede de A Voz do Operário, para incluir a sua escola central, secretaria, biblioteca, serviços de assistência e sala de conferências só aconteceu em outubro de 1912, com a presença do próprio Presidente da República, Manuel de Arriaga. Em 1925, a instituição ganhou estatuto de utilidade pública.

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Shegundo Galarza e a Sons da Lusofonia no Muro’19

O compositor basco Shegundo Galarza e a Sons da Lusofonia vão partilhar o espaço do Muro’19, 3ª edição do Festival de Arte Urbana de Lisboa, desta feita com a inspiração da música que a toponímia local evoca –  com a Alameda da Música, as fadistas Maria Alice, Maria do Carmo Torres e Maria José da Guia ou nomes da  música clássica como Arminda Correia ou Tomás del Negro-, fazendo a ligação da arte urbana a sonoridades, na vontade expressa da Galeria de Arte Urbana de Lisboa|GAU de apostar na divulgação de abordagens artísticas experimentais e inovadoras.

Criada em 1996, a Associação Sons da Lusofonia partiu do saxofonista português Carlos Martins e da sua experiência musical, com o intuito de juntar artistas de diversas origens- em especial, africanos, brasileiros e portugueses – em vários agrupamentos dos quais se destaca a Orquestra Sons da Lusofonia. A Associação procura ainda aliar a intervenção social e a educação global à música, assim como à relação entre comunidades, pessoas e artes,  numa ampla área de intervenção de  Criação de Projetos Culturais, Festivais, Cooperação cultural e técnica, Educação Global através da música, Criação e produção de suportes de comunicação, Investigação em Etnomusicologia e Promoção de espetáculos.

A Associação Sons da Lusofonia tem marcado o seu percurso através de cruzamentos interdisciplinares e pessoas de diferentes geoculturalidades e neste âmbito produz anualmente a Festa do Jazz, a OPA- Oficina Portátil de Artes, a Lisboa Mistura, assim como desenvolveu o Portugal em Jazz, para além de editar discos e livros. Em 2007, realizou ainda para televisão o programa Lisboa Mistura TV, da autoria de Carlos Martins.

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Shegundo Ramón Galarza Arace (Espanha – Guipuzcoa/07.09.1924 – 04.01.2003/Lisboa), maestro e compositor de origem basca, filho único de um comerciante, começou a residir em Lisboa a partir de 1948 e em mais de 50 anos de carreira deixou uma marca de qualidade na música ligeira portuguesa que justificam a sua presença desde a publicação do Edital municipal de 15 de dezembro de 2003 como topónimo no núcleo dedicado à toponímia musical, no arruamento formado pela junção da Rua B com a  Rua 7.1 do Alto do Lumiar, pelo que hoje une a Avenida Álvaro Cunhal  à Rua Ferrer Trindade.

Com a sua orquestra de violinos, Shegundo Galarza esteve presente na televisão portuguesa desde o seu começo e celebrizou o restaurante Mónaco, de que era coproprietário com o empresário galego Manuel Outerelo Costa.

Shegundo Galarza concluiu o conservatório de Bilbau,  ganhou um prémio de piano e aos 18 anos começou a percorrer a Europa em concertos. Chegou a Portugal com 24 anos de idade e a partir de 25 de novembro de 1948 passou a atuar diariamente no Casino Estoril, situação que manteve até maio de 1950. Na década de cinquenta também tocou em diversos restaurantes portugueses, nos de Luanda e da então Lourenço Marques (hoje Maputo), bem como de Joanesburgo (1952 -1954), até se estabelecer  junto à Marginal, no Restaurante Mónaco (de novembro de 1956 a 1974), local que introduziu o jantar dançante em Portugal.

Em paralelo, Shegundo Galarza integrou prestigiadas orquestras ligeiras portuguesas e teve a sua, para além de um conjunto em nome próprio. Por via do maestro José Atalaya, logo em 1956 foi convidado pela RTP a protagonizar um programa semanal, com a sua orquestra de violinos, que atingiu 100 emissões. Ao longo da sua carreira colaborou com a RTP quer em programas de música quer em arranjos musicais de várias longas metragens e de centenas de documentários.

Gravou os seus três primeiros discos para a editora Melodia (1951) com temas de Frederico Valério e seus; mais seis para a editora Decca  (1952 -1954) e assinou a gravação de quatro com a editora Estoril, para além de ter gravado  Fado Rossio para a Fonomat, de Lisboa,  em 1959. Como solista ou com a sua orquestra de violinos, gravou cerca de 50 discos em Portugal e Espanha, para editoras como a Alvorada, BelterEstoril, Marfer, Orfeu, RCA, Roda e Voz do Dono. Em 1996, Shegundo Galarza gravou um disco em que interpretava, ao piano, temas como Lisboa AntigaMadeiraAçoresMoçambique, Aldeia da Roupa Branca e em 2001 editou Sorrisos do Tempo.

Como orquestrador,  Shegundo Galarza trabalhou para o Festival Eurovisão da Canção ou da OTI – tendo dirigido a orquestra da Eurovisão para Playback de Carlos Paião (1981) – e trabalhado com outros inúmeros artistas como AmáliaCândida Branca FlorManuel João Vieira, Frei Hermano da Câmara, Herman José, Jorge Fontes, José Cid, Lara Li, Madalena Iglésias, Marco Paulo, Maria da Fé, Maria de Lurdes Resende, Max, Natália de Andrade, Paulo de Carvalho, Quim Barreiros, TonichaTony de Matos ou Tozé Brito.

Na sua vida pessoal, foi pai da enfermeira Teresa Galarza (1952) e do também músico Ramón Galarza (1957).

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Chapitô e Belo Marques no MURO’19

O Chapitô e o compositor Belo Marques, pioneiros na formação de jovens, quer nas artes circenses quer em artistas de música ligeira, vão partilhar o espaço do MURO’19 que nesta edição de 23 a 26 de maio junta à vertente da arte urbana a sonoridade da música inspirada pela toponímia do local, com os artistas do primeiro animando o local do Festival de Arte Urbana e o segundo aí presente na Rua Belo Marques desde a publicação do Edital municipal de 15 de dezembro de 2003.

O Chapitô – Coletividade Cultural e Recreativa de Santa Catarina, é uma casa de cultura e espetáculo sediada na Costa do Castelo, com especial relevância nas Artes Circenses, embora articule quatro áreas: Cultura, Formação, Ação Social e Economia Social. Constituída em 1981, a Coletividade Cultural e Recreativa de Santa Catarina é a entidade de suporte do Chapitô, desde a criação da primeira Escola de Circo – a Escola de Circo Mariano Franco-, ainda no Bairro Alto, através de acordo com a Santa Casa da Misericórdia, em que durante quatro anos realizou trabalhos de animação com jovens e idosos do Bairro ao mesmo tempo que foi o embrião da Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espetáculo (EPAOE). Desde 1986, ao abrigo de um protocolo com o Ministério da Justiça, o Chapitô instalou-se na Costa do Castelo, onde a partir do ano letivo de 1987/1988 arrancou o  inovador Curso de Expressão Circense que formou a primeira geração de jovens artistas de cariz circense para o mercado de trabalho.

O compositor Belo Marques, muito recordado pela canção Alcobaçacom letra de Silva Tavares, criação de Cidália Meireles e interpretação de Maria de Lourdes Resende -, desde a publicação do Edital municipal de 15 de dezembro de 2003 que é o topónimo da Rua C da Malha 3 do Alto do Lumiar, artéria que hoje liga a Rua General Vasco Gonçalves à Avenida Carlos Paredes, e assim integra o Bairro da Música criado no local pela edilidade lisboeta desde então.

De seu nome completo José Ramos Belo Costa Marques du Boutac (Leiria/25.01.1898 – 27.03.1987/Sobral de Monte Agraço), distinguiu-se como compositor, orquestrador e figura relevante da Emissora Nacional, onde criou o Centro de Preparação de Artistas. Escreveu mais de 700 canções onde enalteceu cenários portugueses como o Vale do Vouga, o Alcoa, Leiria ou Alcobaça. Também dedicou a Lisboa  inúmeros temas como Campanários de Lisboa, Miradouros de Lisboa, Lisboa Nova ou O Gaiato de Lisboa.

Como violoncelista, teve a sua primeira contratação aos 16 anos, para o Casino Mondego (na Figueira da Foz) e quatro anos depois, tornou-se músico profissional e foi tocar em paquetes que se dirigiam à América do Sul, percorrendo vários países da Europa e da América, até regressar em 1924 para cumprir o serviço militar. Dois anos mais tarde fundou e dirigiu o Orfeão Scalabitano e três anos depois foi para os Açores e Madeira tendo dirigido no Funchal uma orquestra privativa de 35 elementos. Em seguida, integrou as orquestras de Pedro Blanch e David de Sousa, tal como a do Casino Estoril (1932 a 1935).

A partir de 1935 entrou na Emissora Nacional, na Rua do Quelhas. Até 1938 foi violoncelista da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigida por Pedro de Freitas Branco. Nesta Rádio criou a Orquestra Típica Portuguesa, a Orquestra de Salão e os Quarteto e Sexteto de Música Clássica. Partiu em 1938, para ser o Diretor do Rádio Clube de Moçambique, onde fundou um Coro Feminino e as Orquestras Típica e de Salão. Nos anos em que lá permaneceu também foi pesquisando e fazendo uma recolha de Folclore indígena da região de Tonga e Machangane, que divulgará em 1953 na sua obra Música Negra e da qual já em 1943 publicara Estudos do Folclore Tonga, editado pela Agência Geral das Colónias, bem como compusera a fantasia sinfónica para coro e orquestra, em seis andamentos, Fantasia Negra, estreada em 19 de outubro de 1944 no Teatro São Carlos, executada pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional. Com elementos da Orquestra Típica Portuguesa da Emissora também  fundou a sua própria orquestra que até 1960 teria trabalho constante e inúmeras gravações.

Regressou à Rua do Quelhas em 1941, empenhado em dedicar-se à canção ligeira. Criou  a Orquestra de Variedades, ao mesmo tempo que dirigiu  a Orquestra de Salão em parceria com René Bohet (entre 1942 e 1945) e depois como titular (1948 a 1954), assim como o Coro Feminino da Emissora. Foi também Belo Marques que criou na Emissora Nacional o Centro de Preparação de Artistas, para o lançamento de novas estrelas da rádio, de que foram exemplo Francisco José, Júlia Barroso, Madalena Iglésias, Simone de Oliveira ou Tony de Matos. Em 1956 também ajudou a criar a Orquestra Típica e Coral de Alcobaça. No ano de 1958, desempenhava o papel de consultor de programas na Emissora Nacional mas foi despedido por ter apoiado a candidatura do General Humberto Delgado.

Belo Marques compôs ainda marchas populares e trabalhou para teatro de revista, bem como para o cinema, áreas em que assinou cerca de 70 canções, onde se destaca a canção Minha aldeia, em parceria com Silva Tavares para a revista Rosmaninho, a banda sonora do filme Rosa do Adro (1938) de Chianca de Garcia e a popular Desgarrada da versão radiofónica de As Pupilas do Senhor Reitor de Júlio Dinis.

Foi  regente honoris causa da Escola de Música do Conservatório Nacional; 1º prémio do Festival Internacional Latino (1938); 2º prémio do Concurso Internacional da Canção Latina (1955), assim como homenageado por Raúl Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia no 1º programa de E o Resto São Cantigas (1981).

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A Travessa da Escola Araújo

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Travessa da Escola Araújo, na Freguesia de Arroios, foi um topónimo solicitado à edilidade lisboeta pelo dono de umas propriedades nessa artéria e desconhece-se que Escola seria essa cujo mentor teria Araújo como apelido.

Um requerimento de «Raymundo da Silva Leal, dono d’umas propriedades situadas na via publica, que dá serventia para a Quinta do Pinheiro, no bairro Estephania, freguezia de S. Jorge» solicitou a denominação Travessa da Escola Araújo para poder ser atribuída numeração às suas propriedades, o que teve o parecer favorável da repartição de polícia municipal e a câmara deliberou nesse sentido na sua reunião de 10 de janeiro de 1894, tendo no dia 26 do mesmo mês, sido publicado o Edital que identificava a «2ª à direita na Rua de Dona Estefânia, vindo do lado sul e que partindo desta rua vai terminar no portão da entrada da Quinta do Pinheiro» doravante como Travessa Escola Araújo. O roteiro das ruas de Lisboa de Queirós Veloso, do ano seguinte (1895) refere ainda que o arruamento não tinha saída.

Menos de quarenta anos antes, em 1856, na planta de Filipe Folque o espaço era um conjunto de terrenos e ainda antes, na planta de  1807, de Duarte Fava,  era uma espécie de azinhaga que dava acesso à Rua da Cruz do Tabuado. Recuando ainda mais à planta de Lisboa de 1780, vemos nela apenas um espaço rural.

Como curiosidade, refira-se que o pintor Henrique Medina, talvez o maior pintor retratista do séc. XX,  tinha casa e ateliê nesta artéria,  para atender as personalidades da capital ou outras a quem a cidade de Lisboa fosse mais favorável para deslocação, situação que manteve até ao final da sua vida.

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua das Escolas do Bairro da Encarnação

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua das Escolas, no Bairro da  Encarnação, faz referência à sua proximidade às antigas escolas primárias 113 e 114 (uma para o sexo feminino e outra para o sexo masculino) e foi atribuída a parte da Rua O pelo Edital municipal de 15 de março de 1950, como os restantes topónimos do Bairro da Encarnação.

Numa época em que o ensino separava as raparigas dos rapazes, as escolas referidas no topónimo são hoje a Escola Básica Paulino Montez e jardim infantil nº 6, assumindo agora como patrono o arquiteto que traçou o Bairro da Encarnação. As escolas originais serão da década de cinquenta do século XX que tiveram obras de beneficiação geral em 1964, conforme o contrato de empreitada n.º 5/64 estabelecido entre a edilidade e António Correia da Silva.

Esta Rua das Escolas, que vai da   Rua do Poço Coberto à Rua da Quinta de Santa Maria, é uma das 12 do Bairro da Encarnação que fugiu à regra de ter toponímia numérica como era uso nos bairros sociais de então, e se pode ver no Edital municipal de 15/03/195o, também para os Bairros de Casas Económicas do Alto da Ajuda, do Alto da Serafina, da Calçada dos Mestres, de Caselas e das Terras do Forno, com a maioria das ruas a receberem denominações numéricas.

No quinhentista sítio da Panasqueira – cuja memória ainda se mantinha em 1939 numa Azinhaga da Panasqueira – foi inaugurado em 1946 o Bairro da Encarnação, da autoria do arquiteto Paulino Montez, o qual procurou reproduzir neste bairro social um pretenso modelo de aldeia portuguesa, mas em forma de borboleta que poderia ser admirada por vista aérea, sendo a Alameda da Encarnação o eixo principal das duas asas simétricas de borboleta do Bairro-Jardim da Encarnação. O Bairro Económico da Encarnação, foi construído de 1940 a 1943 numa área de cerca de 47 ha, em terrenos do então Ministério das Obras Públicas e Comunicações.

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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O Largo das Escolas do Bairro das Terras do Forno em Belém

O Largo das Escolas em data entre 1941 e 1945
(Foto: Domingos Alvão, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Largo das Escolas no Bairro das Terras do Forno, em Belém, nasceu como topónimo do Edital de 15 de março de 1950, que atribuiu toponímia a 6 bairros sociais de Lisboa: o do Alto da Ajuda, o do Alto da Serafina, o da Calçada dos Mestres, o de Caselas, o da Encarnação e o da Terras dos Forno.

O Largo das Escolas foi o único topónimo não numérico atribuído no Bairro das Terras do Forno, ao espaço na confluência das Ruas 1, 2 e 3. A designação de Largo das Escolas, no plural, radica no ensino separado por sexos que era então a norma, sendo estas escolas primárias a masculina e a feminina. O edifício foi construído em 1941 e desde 24 de setembro de 2015 que é um Jardim de Infância da rede pública da autarquia.

O Bairro das Casas Económicas Terras do Forno ou Bairro Económico de Belém, traçado pelo arquiteto Raul Lino a partir de 1933, foi inaugurado em 1938 e era constituído por 204 habitações destinadas a funcionários civis e militares, assim como a sócios dos Sindicatos Nacionais.

Por último, refira-se que o Edital de 15 de março de 1950, atribuiu  denominação sobretudo numérica ao Bairro do Alto da Ajuda, de Caselas e da Encarnação;  exclusivamente numérica ao Bairro do Alto da Serafina, e com apenas um topónimo não numérico ao Bairro da Calçada dos Mestres e ao Bairro das Terras do Forno.

Freguesias de Belém
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do Instituto Industrial de Fontes Pereira de Melo

Freguesia da Misericórdia
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do Instituto Industrial, que liga a Avenida 24 de Julho à Rua da Boavista, é um topónimo resultante de ser a artéria onde nasceu em 1852 o Instituto Industrial de Lisboa, estabelecimento de ensino técnico criado por Fontes Pereira de Melo, por decreto de 30 de dezembro desse ano.

Refira-se ainda que não muito longe podemos encontrar o Largo Vitorino Damásio, topónimo que consagra o engenheiro do Conselho Superior de Obras Públicas e Minas que dirigiu em 1852 as obras do Aterro – que viriam a permitir a Avenida 24 de Julho –  e a partir do ano seguinte, desempenhou as funções de Reitor do Instituto Industrial.

Dezassete anos após o seu nascimento, em 1869, o Instituto Industrial de Lisboa sofreu uma fusão com a Escola de Comércio e passou a denominar-se Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, denominação que manteve até 1911, ano em que foi divido em duas instituições: o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior de Comércio (hoje ISEG), tendo em 1930 integrado a criação da Universidade Técnica de Lisboa sob a denominação de Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras.

A data de fixação deste topónimo será posterior a 1852, provavelmente ainda atribuído pelo Governo Civil de Lisboa. Na documentação municipal descortinamos as primeiras menções à Rua do Instituto Industrial no último quartel do séc. XIX, nomeadamente numa resolução municipal de 28 de dezembro de 1874 sobre redução do arrendamento de prédios na artéria, bem como num requerimento de 16 de fevereiro de 1878 do Director da Companhia Previdente pedindo a prorrogação do prazo para a conclusão da reconstrução do edifício da Fábrica da Companhia neste arruamento, ou ainda na identificação do traçado de uma casa de banhos que Teresa de Jesus Soares pretendia em 1883 construir no prédio com o nº 91 da Rua da Boavista, fazendo esquina para a Rua do Instituto Industrial. Certo também é que a primeira planta em que surge a Rua do Instituto Industrial como topónimo é na de 1876, executada por Francisco Goullard para a Câmara Municipal de Lisboa.

Freguesia da Misericórdia
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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Do Largo do Matadouro público ao Largo da Escola Municipal nº 1

O Largo da Escola Municipal no início do séc. XX
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Largo da Escola Municipal, na confluência da Rua de São Lázaro, Rua Nova do Desterro e Rua do Saco, consagra desde a publicação do Edital municipal de 8 de agosto de 1889 a Escola Municipal nº 1, ali construída 14 anos antes – em 1875 – no local onde fora o matadouro público que havia dado ao local o nome de Largo do Matadouro.

Sobreposição da planta de Filipe Folque de 1858 com a dos nossos dias para se ver o Largo da Escola Municipal no Largo do Matadouro

Como se pode ver  na planta de Filipe Folque de 1858, o espaço deste Largo da Escola Municipal era o Largo do Matadouro, contíguo ao Matadouro público instalado entre a Rua das Forçureiras [vendedoras de forçuras que eram  os bofes e os intestinos das reses] e o Beco do Saco [hoje Rua do Saco] que não deve ser confundido com o Largo do Matadouro que mais tarde alojou o Matadouro Municipal e hoje conhecemos como Praça José Fontana.

Dois anos depois da abertura da Escola nº 1, um ofício de 25 de junho de 1877, do professor António Simões Lopes, pedia à Câmara providências para um muro com apenas 5 a 6 cm de altura do lado do edifício escolar, pelo perigo dos alunos caírem para o lado da rua. Também oito anos depois, em 5 de agosto de 1883, nasceu encostada a esta Escola Municipal nº 1 a então Biblioteca Municipal de São Lázaro.

O Serviço de Instrução fora criado na Câmara Municipal de Lisboa dois anos antes desta Escola nº 1, em 16 de setembro de 1873, sucedendo ao «Pelouro das escolas municipaes de artes e industria, e Beneficencia» que existia desde 1852. Este Serviço dependia do Pelouro da Instrução que teve como primeiro vereador José Elias Garcia, que desempenhou essas funções em 1873-1875 e 1878-1881, com competências no domínio da instrução primária e das bibliotecas municipais.

Quando da atribuição do Largo da Escola Municipal, em 8 de agosto de 1889, era vereador Augusto José da Cunha que manteve as funções até ao final desse ano. Três anos depois, em 1892, a responsabilidade da instrução primária passou para o Estado e o Pelouro da Instrução municipal foi extinto, ficando apenas uma delegação na 1ª Repartição do Serviço de Fazenda Municipal que durou até setembro de 1913, porque o Decreto de 29 de junho de 1913 procedera à descentralização do ensino primário e a Câmara Municipal de Lisboa voltou a ter responsabilidades na área da instrução primária até 1918, quando o Decreto de 12 de julho transferiu novamente a responsabilidade da instrução primária para o Estado, o que gerou contestação por parte de alguns vereadores.

Em 1919, por proposta do vereador Vladimiro Contreiras, a Instrução passou a inserir-se nos serviços da Secretaria Geral da edilidade, na 2ª Secção da 3ª Repartição (Instrução, Estatística, Bibliotecas e Arquivos), à qual competia as direções das bibliotecas municipais e dos estabelecimentos de instrução pública.  Em 1921, com uma reorganização dos Serviços Municipais, a Instrução passou para a 6ª Repartição dos Serviços Técnicos, de Bibliotecas, Museus, Arquivos e Escolas. Em  1924, o Pelouro passou a denominar-se Pelouro da Instrução e Assistência, responsável pela instrução primária e pela assistência do município, sendo Alexandre Ferreira o vereador, até junho de 1926.

Freguesia dos Arroios
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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