Freguesia de Arroios – Placa Tipo II
(Foto: NT do DPC)
O topónimo Rua do Instituto Bacteriológico ficou firmado definitivamente em 1918, o ano em que a «pneumónica» vitimou milhares de portugueses.
A gripe pneumónica ou gripe espanhola, foi uma pandemia mundial que causou milhares de mortos. Chegou a Portugal em final de maio de 1918 e em cerca de dois anos, dizimou mais de 50 mil pessoas, chegando a somar 10 por cento da população em algumas zonas do país, numa época em que Portugal participava na I Guerra Mundial e era governado ditatorialmente por Sidónio Pais.
O combate à doença, liderado por Ricardo Jorge – que era então Inspector-Geral de Saúde, diretor do Instituto Central de Higiene-, passou pelo fecho de escolas, pela proibição de feiras e romarias, pela notificação obrigatória de todos os casos e foram requisitados dezenas de espaços públicos para funcionarem como enfermarias. Entre junho e julho de 1918 esta gripe grassou na capital, onde chegou a provocar mais de 400 mortos por semana e em finais de agosto, começou uma segunda vaga cuja máxima intensidade ocorreu em outubro. Jornais como A Luta noticiavam em outubro e novembro a intensidade da epidemia em Lisboa e na ata da sessão de câmara de 24 de outubro de 1918 pode ler-se o seguinte:
«O Sr. Pedro Midosi Baúto declarou estar normalizado o serviço de enterramentos nos cemitérios, tendo-se oficiado ao Conservador Geral do Registo Civil para, em vista do estado anormal, se prolongar o serviço nas Repartições do Registo Civil , o qual, como determinava a lei respectiva, podia até ser prestado de noite em momentos como os actuais. Ainda o orador declarou que já se tinham fabricado nas oficinas municipais e vendido pelo preço do custo, caixões a pessoas necessitadas e que esperava dentro em pouco possuir em depósito bastantes caixões. Terminou o Sr. Midosi Baúto por propor que, de futuro, não só se vendessem pelo preço de custo os caixões às pessoas necessitadas, como aos indigentes fôssem êles fornecidos gratuitamente mediante atestado do regedor respectivo comprovando as suas circunstâncias.»
O Instituto Bacteriológico foi criado numa enfermaria do Hospital de São José, em 1892, pelo médico Luís da Câmara Pestana. O nome Câmara Pestana seria dado ao Instituto no ano do falecimento do médico, em 1899. No ano seguinte, a Câmara Municipal de Lisboa, na sua sessão de 21 de novembro, estabeleceu que tanto o nome do Instituto como do seu criador passassem a fazer parte da toponímia lisboeta naquela precisa zona da cidade. Depois, o Edital municipal de 5 de dezembro de 1901 determinou que a Rua Câmara Pestana ficasse na Rua do Convento de Santana e que a Rua do Instituto Bacteriológico fosse a Travessa do Convento de Santana. Todavia, passados 17 anos, o Edital de 13 de agosto de 1918 retificou o anterior, colocando antes a Rua Câmara Pestana na Travessa do Convento de Santana e a Rua do Instituto Bacteriológico na Rua do Convento de Santana, situação de que houve ainda uma reconfirmação pelo Edital de 17 de outubro de 1924.
Luís da Câmara Pestana (Funchal/1863 – 1899/Lisboa) criou o Instituto Bacteriológico de Lisboa para combater um surto de febre tifóide declarado em Lisboa e arredores. O decreto que o formalizou foi publicado em 29 de dezembro de 1892, ou seja, apenas 4 anos após a criação do Instituto Pasteur de Paris, que era então a instituição de referência, bem como no ano imediatamente seguinte aos congéneres de Berlim (Instituto Robert Koch) e Londres (Instituto Lister). Em 1895 ficou com a designação de Real Instituto Bacteriológico de Lisboa e quatro anos depois mudou-se para um edifício próprio, na Rua Câmara Pestana, traçado pelos arquitetos Pedro Romano Folque e Joaquim Pedro Xavier da Silva, sobre as ruínas do Convento e Ermida de Sant’Ana, no que constitui o primeiro exemplar português de arquitetura hospitalar e laboratorial de investigação construído de raiz. Nesse mesmo ano de 1899, o nome do fundador, falecido nesse mesmo ano, passou a ser o nome do Instituto, por proposta dos estudantes da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Em 1911, o Instituto foi incorporado na Universidade de Lisboa, agregado à Faculdade de Medicina de Lisboa.
Freguesia de Arroios – Placa Tipo II
(Foto: NT do DPC)