Placa Tipo IV – Freguesia do Lumiar
O compositor Fernando Lopes Graça recebeu logo no dia seguinte ao seu falecimento uma Moção de Pesar da reunião de câmara da edilidade lisboeta, o que originou que viesse a dar nome à Rua E da Urbanização do Paço do Lumiar, pelo Edital de 20/03/1995 .
Fernando Lopes Graça (Tomar/17.12.1906 – 29.11.1994/Parede) foi um compositor, maestro, pianista e professor de música que muito enriqueceu o património artístico português. Começou a trabalhar logo aos 14 anos, como pianista no Cine-Teatro de Tomar, tocando peças de Debussy e de compositores russos contemporâneos. Passados três anos abalou para Lisboa para estudar no Conservatório, onde foi aluno de Adriano Meira (Piano), Tomás Borba (Composição), Luís de Freitas Branco (Ciências Musicais) e, a partir de 1927, de Viana da Mota (Classe de Virtuosidade). De 1928 a 1931 também frequentou o curso de Ciências Históricas e Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa, instituição que abandonou em protesto contra a repressão feita a uma greve académica.
Lopes Graça procurou uma linguagem estética portuguesa e definiu o conceito de «música portuguesa» como uma fórmula que exprime uma relação alicerçada na tradição musical do povo. Com uma obra vasta e abrangendo diversas correntes, com destaque para a canção popular portuguesa, sendo pioneiro no estudo e recolha do folclore nacional, também se exprimiu na criação de ciclos de canções com textos de grandes poetas portugueses como Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa e Luís de Camões.
Como compositor apresentou-se pela primeira vez em 1929, com as Variações sobre um Tema Popular Português, para piano, e com Poemeto, para orquestra de cordas. Destacam-se depois La fièvre du temps (1937), Sete Lembranças para Vieira da Silva (1966), Requiem pelas Vitimas do Fascismo em Portugal (1979), Melodias Rústicas (1979), Charneca em Flor (1981), Meu País de Marinheiros (1981) e Dez Novos Sonetos de Camões (1984). Em paralelo, também publicou ensaios sobre música como Introdução à Música Moderna (1942) ou A Canção Popular Portuguesa (1953) e, em 1951 lançou a revista Gazeta Musical.
Fernando Lopes Graça recebeu vários prémios de composição, por Concerto para piano e orquestra nº1 (Prémio do Círculo de Cultura Musical, 1940), História Trágico-Marítima (Prémio CCM, 1942), Sinfonia per Orchestra (Prémio CCM, 1944), Sonata para piano nº 3 (Prémio CCM, 1952) e, Quarteto de cordas (Prémio Príncipe Rainier III do Mónaco, 1965).
Em 1940 propuseram-lhe que dirigisse os Serviços de Música da Emissora Nacional, mas Lopes Graça recusou assinar a declaração de «repúdio activo do comunismo e de todas as ideias subversivas» que, era então exigida a todos os funcionários públicos. Em 1942, fundou a Sociedade de Concertos Sonata, que dirigiu até 1961, dedicada à divulgação da música contemporânea e que se tornou numa referência da vanguarda intelectual. A partir de 1945 integrou o Movimento de Unidade Democrática (MUD), de que será dirigente e foi nesse âmbito que criou o Coro do Grupo Dramático Lisbonense, mais tarde Coro da Academia dos Amadores de Música e, após a sua morte, renomeado Coro Lopes-Graça. Foi este Coro que por todo o país divulgou As Canções Regionais Portuguesas e as Canções Heróicas de Lopes Graça.
Como opositor ao regime salazarista, Lopes Graça conheceu as prisões políticas. Em 1931, foi preso pela PIDE, no Aljube e, mais tarde, desterrado para Alpiarça. Em 1934, a PIDE anulou a decisão do Júri que o tornava o vencedor do concurso para uma bolsa de estudo em Paris, na área da música. Voltou a ser preso em Setembro do ano seguinte, desta feita em Caxias e, ao ser libertado em 1937 partiu para França por conta própria. Ainda na década de quarenta do séc. XX aderiu ao Partido Comunista Português e, na década seguinte as orquestras nacionais foram proibidas de interpretar obras dele, anularam-lhe o diploma de professor do ensino particular e teve de abandonar a Academia dos Amadores de Música, à qual só regressou em 1972.
Fernando Lopes Graça foi condecorado com o Grande Oficialato da Ordem Militar de Santiago de Espada (1981), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1987), a Ordem do Mérito Cultural (1988) e a soviética Ordem da Amizade dos Povos (1976), para além de ter sido Doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro (1986), bem como a casa onde nasceu em Tomar foi transformada em Museu Fernando Lopes-Graça.
Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias)