Frei Manuel do Cenáculo

Busto de Frei Manuel do Cenáculo na Academia das Ciências de Lisboa
(Foto: António da Silva Fernandes Duarte © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O primeiro topónimo atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa no ano de 1916 foi a Rua Frei Manuel do Cenáculo, na Penha de França, através do Edital de 8 de janeiro de 1916.

O homenageado é Manuel de Villas-Boas Anes de Carvalho (Lisboa/01.03.1724- 26.01.1814/Évora), conhecido como Frei Manuel do Cenáculo, que se notabilizou enquanto arcebispo de Évora, pensador iluminista e criador de bibliotecas.

Enquanto jovem frequentou as lições do Padre João Baptista da Congregação do Oratório (1737-1740) e aos 16 anos vestiu o hábito de franciscano da Ordem Terceira. Depois teve também aulas com Frei Joaquim de São José, que lhe deu uma orientação mais moderna e coincidente com uma movimentação intelectual de crítica da Escolástica. Doutorou-se em Teologia na Universidade de Coimbra em 26 de maio de 1749 e foi nomeado lente de Artes do Colégio de São Pedro de Coimbra (1746-1749), vindo depois a reger uma cadeira de teologia (1751 a 1755) na Universidade, instituição onde mais tarde foi também mentor da Junta Reformadora (1772).

Frei Manuel do Cenáculo que chegou a desempenhar as funções de Superior provincial da Ordem Terceira de São Francisco, na sua viagem a Roma de 1750 conheceu bibliotecas que o influenciarão na sua dedicação a esta área, nomeadamente como dinamizador da reconstrução da Real Biblioteca Pública e da Biblioteca Pública de Évora (1775).

Foi uma  figura de relevo do iluminismo em Portugal, caracterizando-se o seu pensamento filosófico por matematismo, gosto do real e  crítica moderada da escolástica, de acordo com os seus estudiosos Hernâni Cidade e Francisco da Gama Caeiro. Tornou-se uma referência no círculo político e intelectual português que lhe valeram sucessivas nomeações por parte de D. José I e do Marquês de Pombal:  Presidente da Real Mesa Censória (1768) e consequentemente, participação na organização do ensino através da sua função neste organismo que lhe permitiu dinamizar a abertura de escolas em zonas rurais, sobretudo no Sul do País, em 1771; Bispo de Beja (1770 a 1795), instituindo um curso de humanidades e de teologia no seu paço episcopal onde também instalou uma biblioteca e um museu e em 1779  mandou escolher alguns rapazes das famílias pobres da zona entre Campo de Ourique e o Algarve para serem instruídos em Beja e depois instruírem aquela localidade da sua diocese de onde provinham, para além de ter fundado a Academia Eclesiástica de Beja (1793);  Presidente da Junta de Providência Literária criada para tratar da reforma dos estudos, Preceptor do Príncipe Herdeiro D. José, Príncipe da Beira (todos em 1770); e ainda, Presidente da Junta do Subsídio Literário (1772).

 

© CML | DPC | NT | 2019

Filinto Elísio

 

Filinto Elísio, pintado por António Nunes Júnior nos Paços do Concelho de Lisboa

O sacerdote Francisco Manuel do Nascimento que enquanto poeta neoclássico usou o pseudónimo de Filinto Elísio, é o topónimo de uma Rua da freguesia de Alcântara desde o final do séc. XIX.

A Rua Filinto Elísio nasceu na Rua nº 2 do Bairro Rolão pela deliberação camarária de 8 de julho de 1892, na presidência do Conde de Ottolini na edilidade lisboeta. E nessa mesma deliberação mais artérias do Bairro Rolão tiveram também topónimos de escritores atribuídos: João de Barros ficou na Rua n.º 1, Soares dos Passos na Rua n.º 4, Bocage nas Ruas n.º 7 e 8 (que é a Rua Amadeu de Sousa Cardoso desde os anos oitenta do séc. XX, pelo Edital municipal de 29/02/1988), Gil Vicente na Rua n.º 9, e o botânico Avelar Brotero ficou na Rua n.º 6 (que é a Rua Pedro Calmon desde os anos oitenta do séc. XX, pelo Edital municipal de 07/09/1987).

Na década de trinta do século XX a Rua Rua A, situada no prolongamento da Rua Filinto Elísio passou também a ser parte integrante da primeira, conforme Edital municipal em 20 de junho de 1938 e este arruamento dedicado ao poeta arcádico, com dimensão aumentada passou assim a ligar a Rua da Indústria à Rua Soares de Passos.

O homenageado Filinto Elísio é Francisco Manuel do Nascimento (Lisboa/23.12.1734 – 25.02.1819/Paris) de seu nome. Nasceu na freguesia de São Julião, como filho de um casal de Ílhavo, um fragateiro e uma peixeira, que sempre viveram com João Manuel, um Mestre das Fragatas Reais e depois, Patrão-mor da Ribeira das Naus, que Filinto sempre considerou seu pai.

Francisco Manuel do Nascimento tornou-se sacerdote ordenado em 1754 e o Filinto Elísio poeta arcádico. Quando Leonor de Almeida Portugal, a futura Marquesa de Alorna, estava presa no Mosteiro de São Félix, em Chelas, com a sua irmã Maria, antes da Viradeira, ele começou a ser visita do local e também como era moda na época começou a cortejar uma das reclusas, Maria, a quem deu o nome árcade Daphne e à sua irmã, Leonor, o de Alcípe. Leonor retribuiu-lhe esse gesto dando-lhe o nome de Filinto Elísio, para substituir o pseudónimo de Niceno que usara até então no círculo poético do Grupo da Ribeira das Naus.

Este poeta neoclássico compôs odes, epístolas, epigramas e sátiras, tendo as suas poesias sido publicadas ainda em vida, em Paris, em 11 volumes, entre 1817 e 1819, mas só após a sua morte foram editadas em Lisboa as suas Obras Completas, num total de 22 tomos, entre 1836 e 1840, sendo a sua obra considerada precursora do Romantismo. Também os seus restos mortais foram transladados do Père Lachaise para o claustro da Sé de Lisboa em 1843, e mais tarde, para o cemitério do Alto de São João.

Refira-se que a partir de 1778 se refugiou em França, com Avelar Brotero, e foi lá que acabou por falecer, tendo nesses 41 anos conhecido o poeta Lamartine, que até lhe dedicou um poema. As suas ideias enciclopedistas e liberais levaram a que fosse denunciado à Inquisição em 22 de junho de 1778, por leituras heréticas proibidas e afirmações blasfemas, o que somado a uma forte amizade que o ligava a Félix da Silva de Avelar tornou-os a ambos suspeitos para o Santo Ofício, pelo que exilaram em Paris. E para sobreviver na capital francesa fez trabalhos de tradução: Os Mártires de Chateaubriand, As Fábulas de La Fontaine, Púnica de Sílio Itálico e o Elogio do Doutor António Nunes Ribeiro Sanches de M. Vicq-d’Azyr para português e verteu as Cartas de Mariana Alcoforado para francês como Lettres Portugaises de Mariana Alcoforado. A ida para França de Filinto Elísio permitiu-lhe contactar com personalidades relevantes da cultura francesa o que foi decisivo para a obra e para a sua defesa dos ideais enciclopedistas e iluministas e, também, das revoluções francesa e americana.

Filinto Elísio está também como topónimo nos concelhos de Ílhavo, Almada, Barreiro, Caldas da Rainha, Gondomar, Odivelas, Oeiras, assim como Francisco Manuel do Nascimento surge em dois topónimos da Charneca da Caparica, no concelho de Almada.

© CML | DPC | NT | 2019

Bartolomeu de Gusmão

Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus inventos à Corte de D. João V
(Imagem de domínio público)

A Rua de São Bartolomeu passou pelo Edital municipal de 13 de dezembro de 1911 a denominar-se Rua Bartolomeu de Gusmão, com a legenda «Inventor dos Aeróstatos/1675 – 1724», em homenagem ao criador da Passarola Voadora, embora mais de 40 anos depois a legenda tenha passado a «Precursor da Aeronáutica/1685 – 1724» de acordo com o parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 24 de julho de 1958.

Este arruamento da antiga Freguesia de Santiago (hoje, Santa Maria Maior), com início na Rua do Milagre de Santo António e fim na Rua do Chão da Feira,  que segundo Norberto de Araújo  corresponde «sensivelmente à setecentista Rua Direita das Portas de Alfofa», veio com a vereação republicana a perpetuar Bartolomeu Lourenço de Gusmão (Brasil- Santos/1685 – 18.11.1724/Toledo -Espanha), filho do português Francisco Lourenço Rodrigues e da brasileira Maria Álvares, que  aos 24 anos inventou um aeróstato – um balão de ar aquecido capaz de voar – e mostrou as suas experiências  a D. João V e à sua corte, em 1709. Por tal feito foi cognominado pelos seus contemporâneos como Padre Voador e o seu invento ficou conhecido como Passarola Voadora. Durante a segunda metade do século XVIII difundiu-se a ideia de que o próprio Bartolomeu de Gusmão teria voado entre o Castelo de São Jorge e o Terreiro do Paço, num aeróstato por ele construído, mas que só se pode entender como uma lenda enquanto não se encontrarem documentos que registem esse acontecimento.

Este padre jesuíta estudou no Seminário de Belém, na Baía, com especial empenho em Matemática e Ciências Físicas e aí foi ordenado. Logo aos 15 anos, para resolver o problema de falta de água do Seminário concretizou o seu primeiro invento: uma máquina de elevar água até ao cume do monte onde se encontrava instalada a instituição. Também aí teve importância o reitor do Seminário e seu preceptor, Alexandre de Gusmão,  que aliás era um dos seus 11 irmãos e que se tornou um importante diplomata de D. João V, fazendo com que Bartolomeu em 1718 escolhesse «de Gusmão» como apelido  e o acrescentasse ao seu nome original.

O padre Bartolomeu viveu em Lisboa, de 1701 a 1705, alojado na casa do 3º Marquês de Fontes e regressou em 1708 para ficar até 1724, com algumas interrupções. Houve um interregno entre 1713 e 1715 quando residiu na Holanda, e talvez também em Inglaterra e França. Em 1710 inventou «vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água»; em 1721 foi a vez do «carvão de lama»  e em 1724, da «máquina para aumentar o rendimento dos moinhos hidráulicos». Para desenvolver este trabalho arrendou umas casas em Santa Apolónia, que eram do senhor de Pancas, onde construiu um moinho de vento e fazia observações astronómicas. Sabe-se também que vivia no Vale de Santo António, perto da Bica do Sapato.

Em 1720, Bartolomeu de Gusmão tornou-se bacharel, licenciado e doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra e foi nomeado académico da Academia Real de História, também com a incumbência de redigir a História Eclesiástica do Bispado do Porto. O rei D. João V colocou-o em Lisboa, na Secretaria de Estado, para decifrar mensagens interceptadas aos diplomatas estrangeiros, tanto mais que como poliglota que era, também executou traduções de francês, italiano, flamengo, inglês, grego, latim e hebraico. Em 1722, foi nomeado fidalgo-capelão da casa real.

No entanto, em setembro de 1724 fugiu de Portugal,  por ter sido acusado de bruxaria e judaísmo, fruto da denúncia do padre Luiz Gonzaga à Inquisição. Na viagem de fuga adoeceu e foi internado no Hospital da Misericórdia de Toledo, onde acabou por falecer, com 38 anos de idade, mas ao longo dos séculos seguintes foi recebendo inúmeras homenagens.

Em 1912, houve uma cerimónia de colocação de uma lápide, na esplanada do Castelo de São Jorge, a comemorar a primeira elevação do Aeróstato do Padre Bartolomeu de Gusmão, promovida pelo Aero Club de Portugal, onde estiveram presentes o Tenente Coronel Hermano de Oliveira e o Dr. Veloso Rebelo, encarregado dos negócios do Brasil. Setenta anos depois, o  Memorial do Convento (1982) de José Saramago, colocou Bartolomeu de Gusmão como uma das personagens centrais do romance. E sete anos mais tarde, em 25 de outubro de 1989, foi inaugurada na Alameda das Comunidades Portuguesas, via de acesso ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, uma estátua de pedra sua, da autoria do escultor Mestre Martins Correia, executada no início da década de setenta, quando já dava o seu nome a um Aeroporto da Força Aérea Brasileira. Na década de noventa do séc. XX, a Escola Básica do 2º ciclo sita na Rua da Bela Vista à Lapa nº 43 deixou de ser a Escola Paula Vicente para ter como Patrono Bartolomeu de Gusmão.

Para além disto, Bartolomeu de Gusmão teve honras de retrato em selos de Portugal, Brasil, Paraguai e Vaticano, assim como o seu nome passou a topónimo em inúmeras artérias portuguesas como em Chaves, Damaia, Fernão Ferro, Murtosa, Oeiras, Ovar, Parede, Rio de Mouro e Tires, assim como no Brasil, em Anápolis, Aparecida, Baía, Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Mangueira, Minas Gerais, Pernambuco, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Salvador, Santa Catarina, Santos e São Paulo, entre outras.

© CML | DPC | NT | 2019

Publicação municipal de toponímia do Largo Padre Filipe Carreira Rosário

A publicação municipal de toponímia referente ao Largo Padre Filipe Carreira do Rosário, na Freguesia de Carnide, hoje distribuída no decorrer da inauguração oficial deste arruamento, já está online.

É só carregar na capa abaixo e poderá ler.

 

 

 

 

 

 

 

Caso queira conhecer publicações anteriores poderá ir às Publicações Digitais do site da CML e escolher o separador Toponímia.

Ou no topo do nosso blogue carregar em 3 – As nossas Edições.

 

Da Rua da Praga à Rua do Cardal de São José dos Carpinteiros

A Rua do Cardal de São José em 1907
(Foto: Machado & Souza, © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

A pedido dos moradores da Rua da Praga esta passou a integrar a Rua do Cardal da qual seguia como prolongamento, unindo o arruamento daí resultante com o topónimo de Rua do São Cardal de São José por terminar em frente do templo de São José dos Carpinteiros, o que se processou através do Edital do Governo Civil de Lisboa de 7 de novembro de 1874.

O olisipógrafo Gomes de Brito, no seu Ruas de Lisboa refere que  «Em sessão [ de Câmara] de 17 de Agosto de 1874 foi lido o ofício do Governador Civil de Lisboa, acompanhando o requerimento dos moradores da Rua da Praga, pedindo, pelos motivos que alegavam, que o nome desta rua fosse substituído pelo de Rua do Cardal de S. José », solicitação a que a edilidade lisboeta deu parecer favorável «dizendo que a Vereação nenhuma dúvida tem em que se faça a substituição requerida.»

Cardal significa terra de catos e na carta topográfica de Lisboa de 1856 elaborada por Filipe Folque também se encontra o Cardal de Santo António e o Cardal da Graça. Nesta Cardal de São José evoca-se a proximidade à Igreja Paroquial de São José que foi também denominação da Freguesia, designada originalmente São José de Entre as Hortas quando em 1567 foi criada por desanexação da freguesia de Santa Justa. Hoje, a Rua do Cardal de São José liga a Rua da Fé à Travessa Larga e é território sob administração da Freguesia de Santo António.

A igreja de São José dos Carpinteiros teve origem numa pequena ermida em 1545 e vinte e dois anos depois, em 1567, foi elevada a paroquial. Em meados do séc. XVII conheceu obras de ampliação e após o terramoto de 1755, foi reedificada e está classificada como Imóvel de Interesse Público.

Ainda no séc. XIX, a Rua do Cardal de São José, foi alvo de um memorial de João Henrique da Costa Sermenho sobre a melhor ocasião para construção de passeios de pedra miúda, para melhorar o trânsito a pé e ajudar no declive do cruzamento com a rua do Carrião (1881-10-17) e teve um alinhamento aprovado em sessão de câmara de 14 de abril de 1890.

Pelo mesmo Edital do Governo Civil de 7 de novembro de 1874, foram também alterados os seguintes topónimos: o Beco da Linheira  passou a ser a Travessa do Ferragial, a Travessa das Moças tornou-se a Travessa do Olival a Santos, o Pátio ou Largo da Alfândega Velha  mudou para Rua do Cais da Alfândega Velha, assim como uma nova travessa aberta na Rua da Junqueira ganhou a denominação de Travessa do Cais da Alfândega Velha.

A Rua do Cardal de São José em 1881
(Planta: Francisco Goullard, © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

© CML | DPC | NT | 2019

Inauguração do Largo Padre Filipe Carreira Rosário

A Câmara Municipal de Lisboa vai inaugurar o Largo Padre Filipe Carreira Rosário, frente à Igreja de São Lourenço de Carnide, pelas 17:30 horas da próxima quinta-feira, dia 26 de setembro.

Figura muito querida e popular na Freguesia de Carnide, o Padre Filipe Carreira Rosário aí exerceu como pároco durante 16 anos, destacando-se  na resolução de questões sociais e na busca de uma sociedade mais fraterna, particularmente através do seu envolvimento na criação do Centro Dia para a Terceira Idade, do Lar Residencial, da Creche, do Jardim de Infância e do ATL,  no âmbito do Centro Social Paroquial de Carnide.

As Escadas de Nossa Senhora do Monte de São Gens desde 1876

As Escadas do Monte em 2011
(Foto: Luís Pavão © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

As Escadas do Monte nasceram em 1876 como topónimo atribuído pelo  Governo Civil de Lisboa em Edital de 11 de janeiro e como via para fazer a ligação da Rua Damasceno Monteiro à Rua das Olarias.

O topónimo Escadas do Monte deriva da Ermida de Nossa Senhora do Monte e de São Gens, fundada no Monte de São Gens logo em 1147, ano da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques. Em 1893, no nº 6 destas Escadas do Monte foi erguida uma vila operária para servir a crescente população que vinha trabalhar para a capital. Desta Ermida de Nossa Senhora do Monte e de São Gens geraram-se mais 6 topónimos que ainda hoje encontramos nas proximidades: o Beco do Monte, a Calçada do Monte, o Largo do Monte, a Rua da Senhora do Monte, a Travessa do Monte e a Travessa das Terras do Monte.

No ponto mais alto do Bairro da Graça, a Ermida de Nossa Senhora do Monte e de São Gens que encontramos no Largo do Monte, evoca aquele que foi o 1º bispo de Lisboa e que neste local teria sido martirizado no ano de 284. A cadeira de pedra de S. Gens foi colocada na Ermida em consideração às suas virtudes milagrosas no aumento da fertilidade e numa boa hora no parto. Cerca de um século depois, em 1243, foi construído um segundo ermitério dos frades Agostinhos Calçados para o qual foi deslocada a cadeira, assim como o obelisco foi para o Largo do Monte. A Ermida e o ermitério sofreram com o Terramoto de 1755 e a igreja foi reedificada com traçado de Honorato José Correia, mantendo a cadeira no interior. Em 1815, os Agostinhos plantaram árvores no Largo do Monte que duraram até ao ciclone de Lisboa de 1941. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o Estado vendeu toda a propriedade (a ermida e a quinta) a Clemente José Monteiro, cuja viúva, Henriqueta de Mendonça casou em segundas núpcias com Damasceno Monteiro, o qual criou em 1857 uma nova Irmandade de Nossa Senhora do Monte e São Gens, tendo no ano seguinte os devotos lisboetas  oferecido uma imagem de Nossa Senhora do Monte para o altar-mor. O herdeiro, Higino de Mendonça, parcelou e urbanizou esta zona no início do séc. XX.

Freguesia de São Vicente e de Arroios

© CML | DPC | NT | 2019

Do Beco do Cemitério à Travessa da igreja barroca da Pena

A Travessa da Pena em 1901
(Foto: Machado & Souza, © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

Na quarta-feira dia 7 de novembro de 1866 um Edital do Governo Civil de Lisboa mudou o topónimo Beco do Cemitério para Travessa da Pena, por solicitação de «alguns proprietarios , e outros indivíduos residentes no beco do Cemiterio, freguezia da Pena, districto do Bairro Alto».

Assim, «o beco denominado do Cemiterio, contiguo á calçada de Santa Anna» passou a fazer referência à Igreja paroquial de Nossa Senhora da Pena que foi também invocação da própria Freguesia até 2012. Hoje, este arruamento sem saída que encontramos a nascer junto ao nº 179 da Calçada de Santana, pertence à Freguesia de Arroios.

Entre 1564 e 1570, o cardeal D. Henrique, então Arcebispo de Lisboa, criou seis paróquias a partir da Paróquia de Santa Justa, entre elas a de Sant’Ana, com sede na igreja quinhentista do Mosteiro de Santa Ana das Religiosas da Ordem Terceira de São Francisco. Contudo, dissidências entre as religiosas do Mosteiro e os fregueses da Irmandade do Santíssimo Sacramento operaram a criação de uma nova igreja, no cimo da Calçada de Santana, para onde se mudaram em 25 de março de 1705, dia da Encarnação, dando depois à nova Igreja Paroquial a invocação de Nossa Senhora da Pena, benzida pelo bispo de Bona. Segundo Nuno Saldanha, no seu artigo sobre esta matéria no Dicionário da História de Lisboa , «É sobretudo a Manuel Antunes, ao mesmo tempo mestre pedreiro e tesoureiro da Irmandade, que se devem as obras de edificação da nova fábrica, que, a partir de 1703, contrai um empréstimo para a compra de um conjunto de casas situadas na Rua do Adro, local onde se ergueria a futura capela-mora da igreja».

Neste templo de estilo barroco joanino trabalharam nas suas talhas Claude Laprade, Manuel Quaresma, Domingos da Costa e Santos Pacheco; bem como Jerónimo da Silva, André Gonçalves, João Nunes de Abreu e António Lobo  nas suas telas e pinturas, para além de Luís Baptista e Pedro Alexandrino, após o sismo de 1755, que causou danos na frontaria e interior da igreja mas permitindo reedificação, obra que se prolongou até 1793. Contudo, o templo reabriu ao culto em 1763 e no período entre 1755 e 1763 a paróquia funcionou, sucessivamente, no Colégio de Santo Antão dos Jesuítas (hoje, Hospital de São José) e na Ermida dos Perdões do Palácio Mitelo.

Freguesia de Arroios

© CML | DPC | NT | 2019

Do Beco das Moscas à Travessa de São João da Praça e da Rua do Chinelo à Travessa Nova de Santos

O Beco das Moscas na planta de Filipe Folque de 1858 e a Travessa São João da Praça na planta de 1909 de Silva Pinto

O Edital do Governo Civil de Lisboa do sábado 17 de outubro de 1863, transformou o Beco das Moscas na Travessa de São João da Praça, assim como  a Rua do Chinelo na Travessa Nova de Santos, a pedido de «alguns proprietarios de predios, e outros individuos, residentes» nesses arruamentos, alterando os topónimos comuns por referências religiosas dos locais onde se inseriam.

O Beco das Moscas já aparece em 1858 no levantamento cartográfico de Lisboa executado por Filipe Folque e  de acordo com o Edital do Governo Civil de 1863 «dá serventia do Caes de Santarem para o largo da egreja parochial de S. João da Praça», pelo que se entende que o novo topónimo faça referência à essa igreja e à artéria próxima que é a Rua de São João da Praça., que já em 1551 era a Rua Direita de São João, conforme o Sumário de Cristóvão Rodrigues de Oliveira. A Travessa de São João da Praça, hoje na Freguesia Santa Maria Maior, passou a fazer menção ao templo medieval que de acordo com Norberto de Araújo   «data do princípio do século XIV, pelo menos, e teve como orago S. João Degolado, ou seja S. João Baptista», embora tenha sido completamente destruído com o terramoto de 1755 surgindo no seu lugar um novo construído em 1789.

Já a Travessa Nova de Santos resulta de uma segunda intervenção do Governo Civil de Lisboa naquele arruamento. A artéria denominada Rua do Noronha,  «na Freguezia de Santos o velho», passou pelo primeiro Edital do Governo Civil de Lisboa, de 1 de setembro de 1859, a designar-se  Rua do Chinelo como era vulgarmente conhecida, mas quatro anos volvidos, mudou novamente o seu nome, desta feita para referir a invocação local desde logo presente no topónimo da freguesia: Santos, dos Santos Mártires Veríssimo, Máxima e Júlia.

Esta Travessa Nova de Santos que é hoje território sob a administração da Freguesia da Estrela, teve o seu calcetamento reparado em junho de 1886; assim como sabemos que pelo menos em junho de 1910 acolheu Festejos dos Santos Populares com a artéria ornamentada para esse efeito bem como em 1919 teve o seu traçado de via alinhado.

Travessa Nova de Santos na Freguesia da Estrela

© CML | DPC | NT | 2019

A Rua Nova da Trindade de 1836 com os acrescentos de 1859 e 1863

A Rua Nova da Trindade no início do séc. XX
(Foto: Beatriz Chaves Bobone, © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

A antiga Portaria do Carro, o loteamento do Convento da Santíssima Trindade e a Travessa do Secretário de Guerra deram o espaço que permitiu abrir a Rua Nova da Trindade em 1836 e concluir a sua extensão em 1863, com o Edital do Governo Civil de Lisboa de 6 de junho de 1863.

Conforme o olisipógrafo Gustavo de Matos Sequeira, «A Portaria do Carro, ficava, como o leitor já sabe, onde corre o leito da rua Nova da Trindade, junto à entrada da travessa de João de Deus». Depois, em 1836, suprimido o convento é aberta a Rua Nova da Trindade, no prolongamento da Travessa do Secretário da Guerra.

De seguida, o primeiro Edital do Governo Civil de Lisboa – de 1 de setembro de 1859 – uniu a Rua Nova da Trindade e a Travessa de João de Deus (apenas a parte no seguimento daquela) num arruamento único com a denominação de Rua Nova da Trindade.  Quatro anos depois, sendo o Marquês de Sabugosa o Governador Civil, outro Edital de 6 de junho de 1863, a pedido de «alguns proprietarios de predios, e outros individuos residentes na travessa do Secretario de Guerra, freguezia do Sacramento, districto do Bairro -Alto desta cidade», acrescentou a Travessa do Secretário da Guerra à Rua Nova da Trindade, «favoravel à pretenção dos supplicantes, no sentido de que a referida travessa se considere, como realmente é, prolongamento e continuação da rua nova da Trindade».

Freguesia de Santa Maria Maior

Este topónimo evoca o Convento da Santíssima Trindade,  fundado por D. Afonso II  em 1218, para a Ordem da Santíssima Trindade do Resgate dos Cativos, religiosos franceses, vulgarmente conhecidos por Trinitários, que se estabeleceram assim em Lisboa numa zona envolvida por um olival, na franja urbana da cidade e  que originou diversos topónimos nesta zona que ficou conhecida como Trindade. Após o terramoto de 1755 a reconstrução do mosteiro prolongou-se por décadas, acompanhando o edifício parte do lado oriental da Rua Larga de São Roque (hoje, Rua da Misericórdia) e com a fachada principal virada a sul, nela se abrindo a portaria para o lado norte do Largo da Trindade e a nova igreja do convento localizava-se no local onde está o prédio que albergou a Livraria Barateira. Em 1833 foram dispersos os frades e em 1834, o convento foi loteado e vendido. O refeitório do antigo edifício conventual é o vestígio que ainda hoje podemos encontrar como salão grande da Cervejaria Trindade.

© CML | DPC | NT | 2019