A Rua Flores do Lima nascida a 7 de julho e o Quarteto das 4 salas e 4 filmes

O cinema Quarteto, na Rua Flores do Lima, em 1977 (Foto: Vasques, Arquivo Municipal de Lisboa9

O cinema Quarteto, na Rua Flores do Lima, em 1977
(Foto: Vasques, Arquivo Municipal de Lisboa)

A obra Flores do Lima  da autoria de Diogo Bernardes, impressa em 1597,  deu origem em 1961 à Rua Flores do Lima que justamente tem entrada a partir da Rua Diogo Bernardes,  no Bairro de São Miguel da Freguesia de Alvalade, e na qual esteve sediado de 1975 até 2007 o cinema Quarteto, obra do empenhado Pedro Bandeira Freire para toda a cidade.

A Rua Diogo Bernardes foi atribuída pelo Edital municipal de 6 de março de 1952 e nove anos mais tarde,  os moradores de um arruamento paralelo à Avenida Estados Unidos da América cujo acesso se fazia a partir dessa artéria pediram a atribuição de denominação ao mesmo, tendo a Comissão Municipal de Toponímia proposto «que o referido arruamento se denomine: Rua Flores do Lima, porque Flores do Lima é o título de um livro da autoria de Diogo Bernardes, que teve várias edições», o que se veio a verificar pelo Edital municipal de 7 de julho de 1961.

Freguesia de Alvalade (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Foto: Sérgio Dias)

O cinema Quarteto,obra do Arqt.º Nuno San-Payo, foi inaugurado no nº 16 da Rua Flores do Lima em 21 novembro de 1975, com 716 lugares e apresentando-se como o 1º complexo de salas de Lisboa,  característica justamente realçada  no slogan que usava: «4 Salas / 4 Filmes.». Foi gerido pelo cinéfilo Pedro Bandeira Freire, garantindo uma atmosfera de cinefilia com exibições exclusivas. Ficaram memoráveis as famosas maratonas de 24 horas de cinema, a exibição de A Religiosa (1967) de Jacques Rivette, um dos mais espantosos sucessos do pós 25 de Abril e o 2º maior êxito do Quarteto, o ter dado a conhecer em Portugal o realizador Martin Scorcese com Taxi Driver  (a partir de 15 de abril de 1977),e a estreia de All That Jazz (1979) de Bob Fosse, em exclusivo e nas quatro salas, sendo o maior êxito de sempre deste cinema, propriedade de Pedro Bandeira Freire e do seu sócio, o escritor Almeida Faria. O Quarteto albergou ainda numa das suas salas, em 1981, a Cinemateca, devido a um incêndio que destruiu o edifício da Rua Barata Salgueiro.

Encerrou no dia 16 de novembro de 2007, por ordem da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) que invocou falhas de segurança, sobretudo no combate a incêndios. Pedro Bandeira Freire faleceu 5 meses depois, a 16 de abril de 2008, aos 68 anos de idade. Em 2014, o edifício passou para a Igreja da Plenitude de Cristo, de protestantes evangélicos.

Freguesia de Alvalade (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias)

O Apolo 70 na Avenida do autor d’As Pupilas do Senhor Reitor

O cinema Apolo 70 na Avenida Júlio Dinis em 1977 (Foto: Vasques, Arquivo Municipal)

O cinema Estúdio Apolo 70 na Avenida Júlio Dinis em 1977
(Foto: Vasques, Arquivo Municipal)

A artéria do início do séc. XX – primeiro Rua e depois Avenida – que perpetua em Lisboa o escritor portuense Júlio Dinis, autor de As Pupilas do Senhor Reitor e criador do romance campesino, acolheu em 1971 o cinema Estúdio Apolo 70, no Drugstore do mesmo nome, simbolizando a sua modernidade com a colagem à chegada do homem à Lua no Programa Apollo, que na 5ª missão tripulada – Apollo 11 – conseguiu  realizar a primeira alunagem, no dia 20 de julho de 1969.

Júlio Dinis começou por ser topónimo lisboeta com a categoria de Rua, através da deliberação camarária de 4 de fevereiro de 1909, passando a Avenida dezasseis anos depois, pelo Edital municipal de 8 de junho de 1925, que também tornou Avenidas as Ruas António de Serpa, Barbosa du Bocage, Elias Garcia, João Crisóstomo e Visconde de Valmor.

 em 26 de maio de 1971 foi inaugurado no nº 10 A da Avenida Júlio Dinis o Drugstore Apolo 70, com o nome que se dava então na Europa aos centros comerciais. No dia seguinte, abriu nele uma sala de cinema com 300 lugares, o Estúdio Apolo 70, planificado pelo Arqº Augusto Silva e decorado por Paulo Guilherme. A programação estava a cargo de Lauro António (entre 1969 e 1985) que escolheu como filme de estreia O Vale do Fugitivo, de Abraham Polonsky, um western que era uma metáfora da guerra do Vietname. O cinema fechou em 1990 e o seu espaço foi ocupado por um restaurante.

Branco e Negro, 13 de setembro de 1896

Branco e Negro, 13 de setembro de 1896

Júlio Dinis é o pseudónimo do médico Joaquim Guilherme Gomes Coelho (Porto/14.11.1839-12.09.1871/Porto) mas que se notabilizou sobretudo pela escrita, considerado cultor da transição entre o romantismo e o realismo, através dos títulos As Pupilas do Senhor Reitor (1867), publicado no ano anterior em fascículos no Jornal do PortoUma Família Inglesa (1868), também publicado no ano anterior em fascículos no Jornal do Porto; A Morgadinha dos Canaviais (1868); as novelas Serões da Província (1870); Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871). Postumamente, foram acrescentados à sua obra impressa os volumes Poesias (1873), Inéditos e Esparsos (1910) e Teatro Inédito (1946-1947). No decorrer do séc. XX  os seus romances foram diversas vezes adaptados ao cinema e mais tarde, também à televisão.

Formado em medicina na Escola Médica do Porto,em 27 de julho de 1861,  passou a maior parte da sua vida entre o Porto e Ovar, e por ter contraído tuberculose não chegou a exercer medicina e ocupou-se com a escrita, tendo também publicado textos literários em A Grinalda,  O Jornal do Comércio, Semana de Lisboa e Serões. Contudo, foi lente substituto no corpo docente da Escola Médica-Cirúrgica do Porto. Júlio Dinis também usou o pseudónimo de Diana de Aveleda, com que assinou pequenas narrativas ingénuas como Os Novelos da Tia Filomena e o Espólio do Senhor Cipriano (1862 e 1863), assim como  pequenas crónicas no Diário do Porto.

Júlio Dinis ainda foi duas vezes para a Madeira, considerada na época um lugar eficaz para a cura da tuberculose, mas acabou por falecer antes de completar 32 anos de idade, como antes acontecera a sua mãe e aos seus 8 irmãos.

Freguesia das Avenidas Novas (Planta: Sérgio Dias)

A Rua do pintor romântico Francisco Metrass e as duas vidas do cinema Europa

Grupo de artistas. Em primeiro plano, da esquerda para a direita, José Rodrigues, António Manuel da Fonseca, Francisco Augusto Metrass; em segundo plano João Cristino da Silva e Tomás da Anunciação e Vitor Figueiredo Bastos (Foto: José Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa)

Em baixo da esquerda para a direita: José Rodrigues, António Manuel da Fonseca, Francisco Metrass; em cima: João Cristino da Silva, Tomás da Anunciação e Vítor Bastos
(Foto: José Leitão Bárcia, depois de 1890, Arquivo Municipal de Lisboa)

O romântico pintor Francisco Metrass   foi colocado numa artéria do Bairro de Campo de Ourique em 1880 e já no séc. XX foi nela que se ergueu o Cinema Europa que foi também Europa Cinema.

Por deliberação camarária de 23 de agosto de 1880 e consequente Edital de 30 de agosto, Rua Francisco Metrass foi o topónimo dado à  3ª rua nova aberta paralelamente à Rua Ferreira Borges ou Rua nº 4 aberta nos terrenos da antiga Parada de Campo de Ourique, em memória do pintor que falecera 19 anos antes. Por esse mesmo Edital municipal foi também colocado na Rua nº 3 o pintor Tomás da Anunciação, falecido no ano anterior, bem como a Rua do Quatro de Infantaria (na Rua nº 1 ) e a Rua Ferreira Borges (na Avenida de Campo de Ourique).

Cinema Europa na década de 30 do séc. XX

Cinema Europa na década de 30 do séc. XX

 

Numa esquina da Rua Francisco Metrass abriu portas em 14 de fevereiro de 1931 o Cinema Europa, traçado pelo Arqº Raul Martins e que se tornou um dos edifícios emblemáticos de Campo de Ourique. Em 1936 foi modificado na fachada e no interior, segundo um plano do Arqº João Carlos Silva mas acabou por ser demolido em 1957. No seu lugar foi construído em 1958 o Europa Cinema, esboçado pelo Arqº Antero Ferreira e com uma escultura em alto-relevo na fachada, da autoria de Euclides Vaz, com 843 lugares à disposição. Assim, funcionou como sala de cinema até 1981 e em 2010 foi demolido.

Europa Cinema após 1957

Europa Cinema após 1958

Francisco Augusto Metrass ( Lisboa/07.02. 1825 – 14.02.1861/Funchal) foi um pintor da época romântica que ingressou   aos 11 anos, em 1836, como aluno voluntário da Academia das Belas Artes de Lisboa, onde foi colega de Tomás da Anunciação, Manuel Maria Bordalo Pinheiro e João Cristino da Silva e teve como professores Joaquim Rafael e António Manuel da Fonseca. Dedicava-se sobretudo à pintura de retratos até partir em 1844 para estudar para Roma, com os pintores de origem alemã do Grupo dos Nazarenos Cornelius e Overbeck, e pintar Jesus acolhendo as crianças. No regresso, empenhou-se sobretudo na pintura histórica mas face à falta de reconhecimento vendeu toda a sua obra a um corretor de leilões e estabeleceu-se a tirar retratos na zona do Cais do Sodré. Voltou depois a partir, para Paris, onde estudou as obras de Rubens, Rembrandt e Van Dyck. De volta a Portugal em 1853, com melhor técnica, o rei D. Fernando comprou-lhe o quadro Camões na Gruta de Macau e a sua obra passou a ser admirada pelo grande público e, a partir do ano seguinte exerceu também como professor de pintura histórica na Academia de Belas Artes.  O seu quadro Só Deus (1856), foi considerado a mais poderosa imagem do romantismo português.

Francisco Metrass morreu aos 36 anos de idade, vítima de tuberculose e a sua obra está representada no Museu do Chiado/ Museu de Arte Contemporânea.

Freguesia de Campo de Ourique                                                                                 (Planta: Sérgio Dias)

 

O regenerador Martens Ferrão na rua onde se ergueu o Cinema Mundial

O Cinema Mundial, na Rua Martens Ferrão, em 1967 (Foto: Augusto de Jesus Fernandes, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Cinema Mundial, na Rua Martens Ferrão, em 1967
(Foto: Augusto de Jesus Fernandes, Arquivo Municipal de Lisboa)

O político regenerador conhecido como Martens Ferrão está desde 1902 perpetuado numa artéria de Picoas, graças a um Edital da câmara presidida pelo Conde d’Ávila que perpetuou mais onze políticos regeneradores em artérias lisboetas e nesta rua partilhada hoje pelas freguesias das Avenidas Novas e de Arroios nasceu há 51 anos o Cinema Mundial.

O Edital de 29 de novembro de 1902 colocou nesta zona, em Avenidas, os nomes dos políticos António de Serpa, Casal Ribeiro, Duque D’Ávila, Hintze Ribeiro (hoje Avenida Miguel Bombarda), José Luciano (hoje Avenida Elias Garcia),  e em Ruas, os nomes de Andrade Corvo, António Enes, Barros Gomes (hoje Rua Viriato), Latino Coelho , Luís Bivar (hoje Avenida), Martens Ferrão e Pinheiro Chagas, bem como o médico Pedro Nunes e o matemático e cartógrafo Filipe Folque.

Martens Ferrão no Diário Ilustrado de 3 de novembro de 1890

Martens Ferrão no Diário Ilustrado de 3 de novembro de 1890

Sessenta e três depois, a 22 de setembro de 1965 abriu no nº 12 A da Rua Martens Ferrão o Cinema Mundial, concebido pelo Arqº Manuel Ramos Chaves. Encerrou em 2004, no ano seguinte a ter exibido a última obra de João César Monteiro (Vaivém) .

Este topónimo perpetua na memória da cidade João Baptismo da Silva Ferrão de Carvalho Martens (Lisboa – Olivais/28.01.1824 – 15.11.1895/Florença), mais conhecido como Martens Ferrão, um jurisconsulto que se destacou sobretudo como um deputado muito interventivo do Partido Regenerador (de 1854 a 1871) e com capacidade de produzir propostas de legislação, ficando também famoso por ter apoiado o governo do Duque d’Ávila na decisão de proibir as Conferências do Casino ( que decorreram de 22 de março a 26 de junho de 1871). Foi também ministro da justiça e negócios eclesiásticos (de 16 de março de 1859 a 4 de julho de 1860) e ministro do reino (1866 a 1868), substituindo António Augusto Aguiar no Ministério dos Negócios do Reino e assim promoveu a Lei da Administração Civil de 26 de junho de 1867, conhecida como Código Martens Ferrão, cujo mapa final de divisão do território ao ser publicado em dezembro gerou descontentamento generalizado e manifestações populares que levaram à queda do governo em janeiro de 1868 ( a Janeirinha) e à revogação da reforma.

Martens Ferrão exerceu ainda funções de procurador geral da Coroa e da Fazenda (1868- 1885), par do reino ( 1871), conselheiro de Estado (1874), aio dos príncipes na educação literária e científica (1874) e embaixador de Portugal junto da Santa Sé (1885-1895). Refira-se ainda que a partir de 1858 foi também lente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, afirmando-se como um reputado especialista em Direito.

Fregeusias de Arroios e das Avenidas Novas (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias de Arroios e das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias)

Publicação municipal da toponímia sobre Mariano Gago

A publicação municipal de toponímia referente a Mariano Gago, distribuída hoje no decorrer da inauguração do Largo Mariano Gago, já está on-line.

É só carregar na capa abaixo e poderá ler.

mariano-gago

Caso queira conhecer publicações anteriores poderá ir às Publicações Digitais do site da CML e escolher o separador Toponímia.

Ou no topo do nosso blogue carregar em 3 – As nossas Edições.

A Avenida de Roma que alimentou três cinemas

Cinema Alvalade nos anos 50 do séc. XX (Foto: Salvador de Almeida Fernandes, Arquivo Municipal de Lisboa)

Cinema Alvalade nos anos 50 do séc. XX
(Foto: Salvador de Almeida Fernandes, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Avenida de Roma, hoje pertença das Freguesias de  Alvalade e do Areeiro, nasceu no último mês do ano de 1930 e nesta grandiosa artéria se ergueram sucessivamente, a partir do fim da II Guerra, três cinemas: o  Alvalade, 0 Roma e o Londres.

Antes era a  Avenida nº 19 do plano de melhoramentos aprovado por deliberação camarária de 7 de abril de 1928, compreendida entre a Rotunda a norte da Avenida de António José de Almeida (hoje, Avenida Guerra Junqueiro) e a Avenida Alferes Malheiro (hoje, Avenida do Brasil), que a partir do Edital de 27 de dezembro de 1930 passou a ser a Avenida de Roma.

Como existe uma Via Lisbona em Roma e embora desconheçamos a sua data de atribuição, a Avenida de Roma em Lisboa pode ter sido atribuída apenas como retribuição. As atas das sessões de Câmara apenas informam que em 11 de dezembro de 1930, por proposta José Vicente de Freitas, que presidia então à Câmara,  foram sugeridos como topónimos as Avenidas de Roma, Avenida General Roçadas e a do Poeta Mistral «Considerando que se torna necessário dar nomes a diversos arruamentos da Capital que não possuem ainda nomenclatura», e todas foram aprovadas por unanimidade. Já antes, em 20 de março,  o mesmo Presidente da CML havia proposto um voto de sentimento pela morte do General Primo de Rivera que foi aprovado por aclamação. Sabemos também que o primeiro-ministro italiano, Benito Mussolini, em 11 de fevereiro de 1929, ratificou com Pio XI a Concordata de São João Latrão, pela qual se criava o Estado do Vaticano, o Papa  recebia uma indemnização monetária pelas perdas territoriais, o ensino religioso passava a ser obrigatório nas escolas italianas e o catolicismo a religião oficial da Itália e que  a 19 de abril desse mesmo ano de 1929, Benito Mussolini foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada portuguesa.

Cinema Roma nos anos 50 do séc. XX (Foto: Salvador de Almeida Fernandes, Arquivo Municipal de Lisboa)

Cinema Roma nos anos 50 do séc. XX
(Foto: Salvador de Almeida Fernandes, Arquivo Municipal de Lisboa)

Dos três cinemas da Avenida de Roma o primeiro a nascer foi o Cinema Alvalade, sob o traçado dos Arqºs Lima Franco e Filipe de Figueiredo em 1945, mas inaugurado em 8 de dezembro de 1953 no nº 100 da Avenida de Roma e esquina com a Rua Luís Augusto Palmeirim. Era um cinema de estreia com mais de mil lugares. Fechou portas em 1985 e o espaço foi arrendado à Igreja Universal do Reino de Deus até 2000, sendo demolido em 2003. No seu lugar está desde 2009 outro edifício onde está o Cinema City Alvalade com 389 lugares.
Em 15 de março de 1957 foi inaugurado o Cinema Roma no nº 14 da Avenida de Roma, da autoria de Licínio Cruz  e com 1107 lugares. É desde 1997 a sede da Assembleia Municipal de Lisboa, e designado o espaço como Fórum Lisboa, que voltou em 2016 a ter sessões regulares de cinema aos fins de semana, exibindo filmes realizados entre 1970 e 1990.
E finalmente, a 30 de janeiro de 1972, abriu portas no nº 7-A da Avenida de Roma o Cinema Londres, que originalmente possuía mais de 400 lugares, segundo o risco de Eduardo Goulart de Medeiros . A Socorama, distribuidora de cinema ligada à família Castello Lopes, ocupou o Londres até 21 de fevereiro de 2013. E a 1 de setembro de 2015 abriu neste espaço a Londres Shopping, uma loja chinesa.

O Cinema Londres em 1977 (Foto: Vasques , Arquivo Municipal de Lisboa)

O Cinema Londres em 1977
(Foto: Vasques , Arquivo Municipal de Lisboa)

Inaugura amanhã às 13: 00 horas, o Largo José Mariano Gago, no Parque das Nações

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Amanhã, Dia Nacional da Cultura Científica,  às 13:00 horas, o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, acompanhado pela Vereadora da Cultura e Presidente da Comissão Municipal de Toponímia, Catarina Vaz Pinto, procederá à inauguração do Largo José Mariano Gago, frente ao Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva, que passará a ter este topónimo como morada, na freguesia do Parque das Nações.

Estarão também presentes na cerimónia Eduardo Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República; António Costa, Primeiro-Ministro; Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Maria Fernanda Rollo, Secretária de Estado da Ciência; e Rosalia Vargas, Presidente da Ciência Viva.

Na ocasião será plantado neste Largo um plátano oriental (Platanus orientalis), árvore que acompanha o conhecimento, seguida de uma intervenção de Paulo Farinha Marques, Diretor do Jardim Botânico do Porto, bem como da leitura de Poema  das Folhas Secas de Plátano, de António Gedeão, cuja data de nascimento serviu para a a criação do Dia Nacional da Cultura Científica.

José Mariano Gago (Lisboa/16.05.1948-17.o4.2015/Lisboa), foi o grande divulgador e promotor dos estudos científicos e tecnológicos em Portugal, participando ativamente na sua implementação. Possuidor de uma natural capacidade de liderança guiou a sua geração e procurou abrir o caminho às futuras gerações de cientistas. Empenhou-se em colocar a investigação científica e tecnológica na agenda política portuguesa e inserir a argumentação científica nos debates sociais e na decisão política democrática.

Foi físico no campo da aceleração e colisão de partículas e das altas energias na Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN – Suíça), presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) e professor catedrático em Física no Instituto Superior Técnico. Pensou e escreveu o Manifesto para a Ciência em Portugal, que procurou implementar quando convidado a integrar os XIII e o XIV Governos Constitucionais, de António Guterres, entre 1995 e 2002. Foi titular do 1º ministério vocacionado integralmente para as áreas científicas e tecnológicas, o Ministério da Ciência e da Tecnologia. Nele trabalhou para cimentar o desenvolvimento e a prática de uma cultura do conhecimento e investigação científica, criando os centros Ciência Viva, com o objetivo de levar a experimentação à escola e o conhecimento da ciência à rua. Voltou à vida política entre 2005 e 2011, agora na qualidade de Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, para integrar os XVII e XVIII Governos Constitucionais, de José Sócrates. Aí trabalhou principalmente na área do Ensino Superior, sendo responsável pela implementação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior que estabeleceu várias mudanças no modelo vigente da sua organização e gestão, com o objetivo final de concretizar uma maior independência do Estado.
Freguesia do Parque das Nações (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias)

O Cinearte e o Largo dos Santos Mártires Veríssimo, Máxima e Júlia

O Cinearte no Largo de Santos em 1960 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Cinearte no Largo de Santos em 1960
(Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Cinearte foi inaugurado em 1940 na via pública que na época se denominava Rua Vasco da Gama e hoje conhecemos por Largo de Santos, topónimo evocativo dos Santos Mártires Veríssimo, Máxima e Júlia.

O Cinearte foi  encomendado pela Sociedade Administradora de Cinemas, Lda. ao Arqº. Rodrigues Lima (1909-1980) que planificou um volume modernista coberto por terraço, contrastante com a traça urbana envolvente e que está classificado como Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56 de 06/03/ 1996). Começou a ser construído em 1938 na então Rua Vasco da Gama e abriu ao público em 14 de março de 1940, encerrando como cinema  em dezembro de 1981. A partir de 1989 o nº2-A do Largo de Santos passou a ser a casa da companhia de teatro A Barraca.

Só 7 anos após a abertura de portas do Cinearte é que  nasceu o Largo de Santos, formado pelo troço da Rua Vasco da Gama que tinha os prédios com os nºs 68 a 172 e pela Rua Vitorino Damásio, através do Edital municipal de 17 de junho de 1947. O topónimo ligava-se à então Calçada de Santos (desde 30 de dezembro de 1974 é a Calçada Ribeiro dos Santos) e à Paroquial de Santos-ao-Velho, junto ao antigo Mosteiro de Santos-o-Velho (e Embaixada de França no ano seguinte), nome que se relaciona com os três irmãos Santos Mártires Veríssimo, Máxima e Júlia, mortos em 303 ou 304 nesta cidade de Lisboa, a mando do imperador romano Diocleciano por confirmaram a sua fé cristã e cujos corpos terão dado à praia de Santos, segundo a tradição.

A Rua Vasco da Gama em 1901 (Foto: Machado & Souza; Arquivo Municipal de Lisboa)

A Rua Vasco da Gama em 1901 (Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Talvez tenha existido um  templo tardoromano do século IV provavelmente, dedicado aos santos mártires Veríssimo, Máxima e Júlia, e sobre ele (ou não) foi edificada uma igreja em 1147 por determinação de D. Afonso Henriques, já que a devoção lisboeta a estes Santos Mártires seria já enraizada. A igreja e o Mosteiro de Santos-o-Velho foram doados pelo filho do 1º rei português, D. Sancho I , em 1194, aos freires da Ordem de Santiago, mas que em 1290, por força da partida dos cavaleiros para o sul do país para fazerem a Reconquista, estava sobretudo ocupados pelas mulheres, filhas e viúvas daqueles monges-cavaleiros, convertendo-se no Mosteiro das Comendadeiras da Ordem de Santiago, que acabou por ser transferido para Coimbra e regressar a Lisboa depois, mas desta feita para a zona de Xabregas (Calçada da Cruz da Pedra) que ficou conhecido como Santos-o-Novo.

Já em Santos-o-Velho, o espaço foi arrendado a Fernão Lourenço, banqueiro e armador. Em 1497, por acordo entre as partes passou a ser um Paço Real e foi sendo ora morada de reis ora morada dos nobres Lancastre que o conseguiram comprar às Comendadeiras em 1629. Já a Igreja Paroquial de Santos-o-Velho teve intervenções em 1696 do arqº João Antunes  e obras de restauro em 1861 e 1876. Em 1870, o Palácio foi arrendado ao Ministro de França em Lisboa, o Conde Armand, que aí instalou a legação francesa e em 1909 o governo francês comprou mesmo o edifício, no qual instalou em parte, em 1937, o Institut Français e a partir de 1948, a Embaixada de França.

Largo de Santos -Freguesia da Estrela (Planta: Sérgio Dias)

Largo de Santos -Freguesia da Estrela
(Planta: Sérgio Dias)