Jardim Botânico

O Jardim Botânico da Ajuda na planta de Silva Pinto de 1908
(Foto: © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Jardim Botânico da Ajuda foi o primeiro de Lisboa, nascido no ano de 1768, e ficou registado na memória toponímica lisboeta 148 anos depois, na Rua do Jardim Botânico, que faz a ligação da Calçada da Ajuda à Calçada do Galvão, pelo Edital municipal de 26 de setembro de 1916 que oficializou 56 artérias da Ajuda.

O Jardim Botânico da Ajuda foi fundado em 1768, de acordo com o desenho do botânico italiano Domingos Vandelli (1735-1816), chamado de Pádua pelo rei D. José I, por influência de Miguel Franzini, mestre dos príncipes e com o intuito de servir para a educação destes. O espaço escolhido foram os terrenos arborizados que haviam sido da Quinta do Conde da Ponte e que D. José I em boa hora adquiriu para cultura de frutas e hortaliças necessárias ao palácio real, instalado na Ajuda após o terramoto de 1 de novembro de 1755. No Jardim se procurou estudar e colecionar o máximo de espécies do mundo vegetal, tendo tido 5000 espécies dispostas segundo o sistema sexual proposto por Lineu, que fora mestre de Vandelli.

Em 1765, Domingos Vandelli ficou com o encargo de delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botânico da Ajuda enquanto o ministro da Marinha, Francisco Xavier de Carvalho, irmão do Marquês de Pombal, as devia fiscalizar. Domingos Vandelli dirigiu o então denominado Real Jardim Botânico da Ajuda de 1768 a 1774 e o 2º diretor foi o botânico Félix de Avelar Brotero, de 1811 a 1828, altura em que por ordem de D. João VI o Jardim foi aberto ao público às quintas-feiras. Por decreto de 27 de agosto de 1836,o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda foi confiado à administração da Academia das Ciências de Lisboa mas passados dois anos, a partir de 1838-1839 o Jardim Botânico da Ajuda passou para a tutela da Escola Politécnica e a ser usado pelos seus alunos. Em 1874, o Jardim foi entregue à administração da Casa Real, altura em que decaiu progressivamente.

Já no século XX, em 1910, o Jardim Botânico da Ajuda passou a integrar o património nacional e em 1918 foi entregue ao Instituto Superior de Agronomia permitindo assim que em 1934, sob a direção do Prof. André Navarro, o Prof. Caldeira Cabral estabelecesse o traçado dos canteiros do tabuleiro superior, que se tinha perdido completamente. Entre 1993 e 1997, com o apoio do Prémio de Conservação do Património Europeu e do Fundo de Turismo, sob a orientação da Profª. Cristina Castel-Branco, foi restaurado o Jardim, com a recuperação da coleção botânica, do sistema de rega e a instalação do Jardim dos Aromas.

O outro Jardim Botânico de Lisboa pertence ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC) e data de 1878. Foi por iniciativa do Conde de Ficalho que em 1873 se iniciaram os trabalhos deste novo jardim que esteve aberto ao público desde 1878 e está classificado como Monumento Nacional desde 2010, integrando todo o património artístico (esculturas) e edificado que nele se encontra: Observatório Astronómico da Escola Politécnica, Edifício dos Herbários, Estufas, Palmário e ainda, a antiga estufa em madeira.

Por definição, um jardim botânico é o local onde se colecionam plantas e onde estas são cultivadas e identificadas, sendo ao longo do tempo utilizados com diversas finalidades. Assim, os que surgiram na Europa no séc. XVI, então denominados «hortus medicus» (jardins de plantas medicinais), tinham como finalidade o fornecimento de plantas às boticas e serviam de apoio ao estudo da medicina. Já nos séculos seguintes, passaram sobretudo a ser utilizados como locais de plantação e estudo de novas espécies vegetais exóticas trazidas para o continente europeu.

O Jardim Botânico da Ajuda não foi exceção, acolhendo plantas e sementes vindas de outros jardins, mas sobretudo oriundas dos territórios portugueses na América, África e Ásia e das ilhas atlânticas, viabilizando a observação direta, a análise e interpretação da natureza, imperativo filosófico e científico que decorreu dos novos postulados do Iluminismo. Este espaço, ornamentado com esculturas e artes decorativas, construído na proximidade da Real Barraca, desde o seu início que foi pensado e criado em torno de várias premissas que se mantiveram até à atualidade: ser um espaço lúdico e de lazer; e, ser um espaço de aprendizagem e de produção de conhecimento.

O jardim Botânico da Ajuda em 1973
(Foto: Artur Pastor © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

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Brotero

Gravura de Félix de Avelar Brotero
(Foto: Eduardo Portugal © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

Félix de Avelar Brotero, médico que preferiu dedicar-se à botânica e assim dirigiu o Jardim Botânico da Ajuda, começou por ter Rua em Lisboa na freguesia de Alcântara no final do séc. XIX e em 1916, também passou a dar nome a uma artéria da Ajuda e depois, foi também o nome do Jardim do Alto de Santo Amaro em Alcântara.

Por deliberação camarária de 8 de julho de 1892 passou a existir em Alcântara, na Rua 6 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro, a Rua Avelar Brotero. Já no séc. XX, o Edital municipal de 26 de setembro de 1916, alterou o topónimo Rua da Paz para Rua Brotero, considerando a localização desta entre o Largo da Paz e o Jardim Botânico que Brotero dirigira. Nos anos 80 do séc. XX, perante a manifesta escassez de novos arruamentos na cidade, a edilidade alterou pelo Edital de 7 de setembro de 1987 a Rua Avelar Brotero para Rua Pedro Calmon, passando a existir apenas uma rua dedica a Brotero em Lisboa, a da Ajuda, à qual em 1992 foi aditada a legenda «Félix de Avelar Brotero / Médico e Botânico/1744 – 1828», a partir da sugestão de um munícipe para se identificar convenientemente o antropónimo.

Ainda em Alcântara, no início do séc. XX, o Jardim do Alto de Santo Amaro, sito na Rua Filinto Elísio- que antes de 8 de julho de 1892 era a Rua 2 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro-, foi denominado Jardim Avelar Brotero mas tal resolução nunca tornou oficial o topónimo do Jardim. A CML aumentou o número de bancos deste espaço verde nos anos 50, a pedido dos moradores da zona e a última remodelação do Jardim aconteceu no ano passado.

Nascido Félix da Silva de Avelar (Loures – Santo Antão do Tojal/25.11.1744 – 04.08.1828/Lisboa), pela forte amizade que o ligava a Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento) e pelo ardor com que se dedicava à ciência tornou-se suspeito para o Santo Ofício e para fugir à polícia de Pina Manique, emigrou para Paris em 1778, com Filinto Elísio. Durante os 12 anos de permanência em Paris, fez os principais estudos de história natural e doutorou-se na Escola de Medicina de Reims, assim como adotou o apelido de Brotero, que significa amante dos mortais (pela junção do grego brothos com eros). Publicou o Compêndio Botânico (Compendio de Botanica ou Noçoens Elementares desta Sciencia, segundo os melhores Escritores modernos, expostas na língua Portugueza) em 1788, em Paris.

Regressou a Lisboa no ano de 1790, tendo sido logo nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, em 1791 e que manteve até 1807, acumulando com a direção do Jardim Botânico da Universidade e publicou Flora Lusitanica (1804). As invasões francesas alcançaram Coimbra em 1807 e Brotero veio refugiar-se em Lisboa e só lá voltou para ser jubiliado, o que sucedeu por Carta Régia de 27 de abril e Decreto de 16 de agosto de 1811. Passou então a dirigir o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda (o primeiro jardim botânico português e o 15.º da Europa, desenhado em 1768 por Domingos Vandelli por ordem de D. José I), reabilitando o Jardim Botânico e elaborando o seu catálogo. Da sua investigação, resultaram também as suas obras Phytographia Lusitaniae selectior – em 2 tomos- 1816 e 1827 – e a História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos (1827).

Em 1821, Félix Avelar Brotero foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura, tendo participado na discussão da lei dos cereais, onde exortou os agricultores a cultivarem centeio e trigo, para que fosse possível produzir pão para toda a população e a um preço acessível à bolsa de todos mas 4 meses depois pediu dispensa, pela idade avançada (77 anos) e foi-lhe concedida. Faleceu aos 83 anos de idade na sua casa, na Calçada do Galvão, em Alcolena, em Belém.

Brotero foi homenageado com a atribuição do seu nome a várias plantas, como é o caso da Brotera ovata e da Brotera trinervata e está também na toponímia de Coimbra, do seu concelho natal – em Loures, Santo António dos Cavaleiros e Santo Antão do Tojal-, da Amadora, do Barreiro, Carnaxide, Custóias, Mafra, Matosinhos, Montijo, Odivelas (em Ramada e em Caneças), do Porto, Santa Maria da Feira, Seixal e Setúbal.

Também os seus pares, perpetuando a sua memória e sua importância decisiva para o desenvolvimento da Botânica em Portugal fundaram em Coimbra, em 1880, a agremiação científica “Sociedade Broteriana”. O seu prestígio internacional de Brotero é confirmado pelas várias Sociedades e Academias a que pertenceu, entre outras, a Sociedade de Horticultura e a de Linnean, ambas de Londres, a Academia de História Natural e Filomática de Paris, a Sociedade Fisiográfica de Lunden na Suécia, a Sociedade de História Natural de Rostock e a Academia Cesarea de Bona (Alemanha). Em Portugal, pertenceu à Academia Real das Ciências de Lisboa.

O sucesso dos seus trabalhos de registo, inventariação e compilação de espécies botânicas, traduz na prática o enquadramento do novo espírito científico e filocientífico de oitocentos, bem como o prestígio crescente das ciências naturais que decorreu dos novos paradigmas do pensamento Iluminista.

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Da Rua da Praga à Rua do Cardal de São José dos Carpinteiros

A Rua do Cardal de São José em 1907
(Foto: Machado & Souza, © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

A pedido dos moradores da Rua da Praga esta passou a integrar a Rua do Cardal da qual seguia como prolongamento, unindo o arruamento daí resultante com o topónimo de Rua do São Cardal de São José por terminar em frente do templo de São José dos Carpinteiros, o que se processou através do Edital do Governo Civil de Lisboa de 7 de novembro de 1874.

O olisipógrafo Gomes de Brito, no seu Ruas de Lisboa refere que  «Em sessão [ de Câmara] de 17 de Agosto de 1874 foi lido o ofício do Governador Civil de Lisboa, acompanhando o requerimento dos moradores da Rua da Praga, pedindo, pelos motivos que alegavam, que o nome desta rua fosse substituído pelo de Rua do Cardal de S. José », solicitação a que a edilidade lisboeta deu parecer favorável «dizendo que a Vereação nenhuma dúvida tem em que se faça a substituição requerida.»

Cardal significa terra de catos e na carta topográfica de Lisboa de 1856 elaborada por Filipe Folque também se encontra o Cardal de Santo António e o Cardal da Graça. Nesta Cardal de São José evoca-se a proximidade à Igreja Paroquial de São José que foi também denominação da Freguesia, designada originalmente São José de Entre as Hortas quando em 1567 foi criada por desanexação da freguesia de Santa Justa. Hoje, a Rua do Cardal de São José liga a Rua da Fé à Travessa Larga e é território sob administração da Freguesia de Santo António.

A igreja de São José dos Carpinteiros teve origem numa pequena ermida em 1545 e vinte e dois anos depois, em 1567, foi elevada a paroquial. Em meados do séc. XVII conheceu obras de ampliação e após o terramoto de 1755, foi reedificada e está classificada como Imóvel de Interesse Público.

Ainda no séc. XIX, a Rua do Cardal de São José, foi alvo de um memorial de João Henrique da Costa Sermenho sobre a melhor ocasião para construção de passeios de pedra miúda, para melhorar o trânsito a pé e ajudar no declive do cruzamento com a rua do Carrião (1881-10-17) e teve um alinhamento aprovado em sessão de câmara de 14 de abril de 1890.

Pelo mesmo Edital do Governo Civil de 7 de novembro de 1874, foram também alterados os seguintes topónimos: o Beco da Linheira  passou a ser a Travessa do Ferragial, a Travessa das Moças tornou-se a Travessa do Olival a Santos, o Pátio ou Largo da Alfândega Velha  mudou para Rua do Cais da Alfândega Velha, assim como uma nova travessa aberta na Rua da Junqueira ganhou a denominação de Travessa do Cais da Alfândega Velha.

A Rua do Cardal de São José em 1881
(Planta: Francisco Goullard, © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

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O nascimento da Rua das Amoreiras em 1874

A Rua das Amoreiras no início do séc. XX
(Foto: José Leitão Bárcia © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Governador Civil de Lisboa Augusto César Cau da Costa tendo tido conhecimento da «conveniencia que resultará de se dar uma só denominação á Rua que vai desde o Largo do Rato até ás portas da Cidade que ficam em frente dos arcos das aguas livres, a qual, em todo o seu prolongamento tem três denominações diversas, que nenhuma razão justifica antes são causa de permanente confusão» determinou que a Rua do Arco das Águas Livres, a Rua de S. João dos Bem Casados e a Rua dos Arcos das Águas Livres passassem a ter a denominação única de Rua das Amoreiras, pelo seu Edital de 3 de fevereiro de 1874. Nasceu assim a Rua das Amoreiras, do Largo do Rato até às Portas da Cidade, assinaladas pelo Arco da autoria de Carlos Mardel, construído entre 1746 e 1748, para celebrar a entrada da água do Aqueduto das Águas Livres na cidade ao mesmo tempo que era um arco triunfal de entrada em Lisboa.

Hoje, a Rua das Amoreiras vai do Largo do Rato à Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, sendo território das Freguesias de Santo António e de Campo de Ourique. Já as amoreiras que permitiram o topónimo desta Rua começaram a ser plantadas em 1761 na Praça das Amoreiras – que começou por ser Largo – e assim se ligam ao pombalino Bairro das Águas Livres de  1759.

Marquês de Pombal, no seu ímpeto de desenvolvimento das manufaturas nacionais, traçou em 1759 o plano do Bairro das Águas Livres que foi aprovado por Decreto de 14 de março. Este Bairro englobava mais uma Fábrica de Sedas, a pombalina, cujo epíteto de Real Colégio de Manufacturas Nacionais demonstrava que a Real Fábrica das Sedas para além de manufaturas de seda se dedicava a dar aulas aos aprendizes. Foi para esta fábrica que se plantaram 331 amoreiras na Praça das Amoreiras, de 1761 a 1771. E em volta desta Praça da fábrica – como a apelidava D. José I -,  ou Largo das Águas Livres, mas que pelo menos desde de 1807 é a Praça das Amoreiras –  conforme é designada na planta de Duarte Fava -, foram rasgadas diversas ruas, onde foram edificados prédios de estrutura pombalina, destinados a residências dos fabricantes que trabalhavam na fiação bem como aos aprendizes que trabalhavam com eles.

A Rua das Amoreiras, nascida em 3 de fevereiro de 1874, logo no ano seguinte  começou a ser alinhada e alargada com diversos terrenos comprados, trocados ou expropriados, situação que se manteve pelo menos até 1890, bem como mais tarde, em 1906 e 1908.

Nesta zona da cidade próxima do Arco triunfal das Águas Livres o topónimo Amoreiras começou com a plantação das amoreiras no Largo que viria a ser a Praça das Amoreiras no início do séc. XIX. Quase no início do último quartel desse século, em 1874 juntou-se a Rua das Amoreiras e em 1889, por Edital municipal de 8 de junho, a Travessa da Fábrica das Sedas às Amoreiras passou a ser a Travessa das Amoreiras.

Freguesias de  Santo António e de, Campo de Ourique

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A Calçadinha da Figueira para o Arraial do Adicense nas Festas de Lisboa’19

A Calçadinha da Figueira, algures entre 1950 e 1969
(Foto: Artur Pastor, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Calçadinha da Figueira é o palco para o arraial do Grupo Sportivo Adicense ecoar em Alfama, também com tardes e noites de fado, nesta edição de 2019 das Festas de Lisboa.

Com mais de 100 anos de serviço em prol da comunidade nas áreas do desporto, da cultura e do recreio, o Grupo Sportivo Adicense foi fundado em 26 de janeiro de 1916 – como Club Sportivo Adicense -, derivando o seu nome da antiga Rua da Adiça. Segundo Júlio de Castilho, a Rua da Adiça era um topónimo de Alfama pelo menos desde 1470, mas no final do séc. XIX o Edital municipal de 19 de abril de 1893 transformou-a na Calçada de São João da Praça.  Passados 63 anos, o Edital municipal de 22 de junho de 1956, pegou nessa Calçada e dividiu-a em duas artérias: desde o seu início até aos n.ºs 51 e 68 (inclusive) voltou a denominar-se Rua da Adiça, enquanto o troço restante até ao Largo das Portas do Sol  ficou como Rua Norberto de Araújo. O Adicense ficou então na Rua Norberto Araújo mas já tem sede no nº 20 da Rua de São Pedro.

Já a artéria onde decorre o arraial do Adicense, a Calçadinha da Figueira, é um nome que advém da tradição de os topónimos georreferenciarem os locais pela flora local ou por outras circunstâncias que fossem distintivas de outros locais, bem como da outra tradição de usar diminutivos nas categorias dos topónimos para transmitir ora a proximidade dos moradores ao local ora o tamanho exíguo do arruamento ou então, ambas as coisas sendo assim de supor que terá existido um figueira no local.

Na estrutura urbana da Alfama medieval  desde o final do séc. XII que São João da Praça era uma freguesia urbana vizinha da freguesia Regueira do Salvador e então a Rua da Adiça era rua principal, a par da Rua de São Pedro e da de São Miguel. A urbanização de Alfama completou-se no séc. XVI com a construção sistemática de habitações ao longo das Ruas de São Pedro, de São Miguel, da Judiaria e da Regueira. Na descrição corográfica da cidade antes do terramoto de 1755 encontramos mencionadas uma Rua da Figueira próxima de uma Rua da Adiça, na então freguesia de São Miguel e quinze anos depois, na remodelação administrativa de 1770, deparamos com um Beco da Figueira a desembocar na Rua da Adiça.

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A Rua das Azáleas e o Arraial do Bairro da Boavista

Freguesia de Benfica

A Rua das Azáleas vai acolher o Arraial  Popular do Bairro da Boavista nas Festas de Lisboa’19, promovido pela ARMABB – Associação Recreativa de Moradores e Amigos do Bairro da Boavista, criada em 2001 e hoje sediada no nº 4 da Rua das Magnólias.

A Rua das Azáleas que começa na Rua Rainha Dona Catarina foi o topónimo atribuído ao arruamento resultante da junção da Rua 10 A com a Rua 11 A do Bairro da Boavista pelo Edital municipal de 6 de outubro de 2005.

O Bairro da Boavista, rodeado pela IC19 e o Parque Florestal do Monsanto,  é um bairro social criado entre 1939 e 1941, que como outros criados em Lisboa da década de quarenta aos anos setenta  – de que são exemplos o Bairro das Furnas (1946), o Bairro do Charquinho (1961), o Bairro Padre Cruz (1961), o Bairro das Pedralvas (1963), o Bairro da Cruz Vermelha (1966),   os Bairros da Musgueira Norte e Musgueira Sul e o Bairro da Horta Nova (1973), – seguiram o contorno periférico da cidade, próximo da Estrada Militar, aproveitando o baixo valor desses solos.

A toponímia deste Bairro da Boavista é essencialmente composta por denominações de plantas e nomes de rainhas portuguesas e como foram assim sendo conhecidos pelos moradores a Câmara Municipal de Lisboa oficializou estes topónimos. Quando houve uma reorganização urbanística e crescimento do Bairro da Boavista criou-se a necessidade de nomear seis novos arruamentos e a Comissão Municipal de Toponímia sugeriu para o efeito os nomes das espécies vegetais Acácias, Azáleas, Azevinho, Begónias, Buganvílias e Magnólias, que passaram a ser os topónimos atribuídos pelo Edital municipal de 6 de outubro de 2005.

Freguesia de Benfica

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O extinto Largo do Museu Agrícola Colonial

O antigo Largo do Museu Agrícola Colonial em 1939
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Por proposta do vice-presidente Abílio Trovisqueira, foi atribuído o Largo do Museu Agrícola Colonial ao largo em frente do portão da entrada do Pátio das Vacas, delineado entre a Calçada de Ajuda e a Calçada do Galvão e compreendendo a parte da Travessa do Pátio das Vacas, conforme deliberação por unanimidade da  Comissão Executiva da CML de 15 de novembro e o consequente Edital de 13 de dezembro de 1917. Assim, o Largo do Museu Agrícola Colonial existiu durante quase 43 anos, de 13 de dezembro de 1917 a  28 de outubro de 1960.

Hoje este Largo não tem existência física porque é parte da Rua General João de Almeida. Este último topónimo foi atribuído por Edital municipal de 28 de outubro de 1960  e dez anos depois, o Edital municipal de 4 de novembro de 1970, integrou neste arruamento a Travessa do Pátio das Vacas e o Largo do Museu Agrícola Colonial.

Como o nome indica, este topónimo registava a presença no local do Museu Agrícola Colonial, no Palácio conhecido como Palácio dos Condes da Calheta. O palácio data de meados do séc. XVII, provavelmente por iniciativa de D. João Gonçalves da Câmara, 4º conde da Calheta, como residência de veraneio. Em 1726 foi adquirido por D. João V  mas no final desse século estava quase ao abandono. Foi depois recuperado para receber visitas de famílias reais (como o pai de D. Fernando II) e veio até a converter-se na casa dos funcionários reais aposentados, como o precetor dos príncipes.

Por Decreto Régio de 25 de janeiro de 1906, no contexto da organização do Ensino Agronómico Colonial no Instituto de Agronomia e de Veterinária, foi criado o Jardim Colonial e o Museu Agrícola Colonial. O primeiro teve execução prática a partir de 1914 e dois anos depois, isto é, em 1916, foi a vez do Museu, no ano anterior à deliberação municipal de atribuição do topónimo. O Decreto Régio fundador, para além da instalação do ensino agrícola tropical incluir um jardim-laboratório e um museu, especificava que o Diretor do Jardim seria o docente da disciplina de Geografia económica e culturas coloniais do IAV.

O espaço do Palácio e dos seus jardins e estufa serviram em 1940 como Pavilhão da Caça e do Turismo da Exposição do Mundo Português, com os seus tanques a exporem crocodilos e a mostrar várias geografias coloniais portuguesas pelos jardins, para além da Casa da Direção exibir jaulas com leões.

A partir de 1944 o Jardim Colonial fundiu-se com o Museu Agrícola Colonial, para formar o Jardim e Museu Agrícola Colonial, fora da dependência do Instituto Superior de Agronomia. Em 1951 passou a denominar-se Jardim e Museu Agrícola do Ultramar  e em 1974, ficou parte integrante da Junta de Investigações do Ultramar, depois Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Em 1983 tomou a designação de Jardim-Museu Agrícola Tropical (JMAT), uma das unidades funcionais do Instituto de Investigação Científica Tropical, com o seu Centro de Documentação e Informação.

Em 2007, o Jardim foi classificado como Monumento Nacional, juntamente com o Palácio Presidencial ou Palácio Nacional de Belém e todo o conjunto intramuros. O Jardim Botânico Tropical, um museu da flora da Expansão Portuguesa, foi integrado na Universidade de Lisboa em 2015 e é hoje dirigido pelo Professor José Sousa Dias, que já foi o representante dessa Universidade na Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa.

Planta do Largo do Museu Agrícola Colonial em 23 de agosto de 1923 (Arquivo Municipal de Lisboa)

 

O Jardim dos Jacarandás da Expo 98

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Jardim dos Jacarandás nasceu com a Expo 98 e desde a publicação do Edital municipal de 16 de setembro de 2009 que este espaço verde de 2.500 metros quadrados que vai da Alameda dos Oceanos à Rua de Moscavide é parte integrante da freguesia lisboeta do Parque das Nações.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Jardim dos Jacarandás caracteriza-se por ser uma zona arborizada que com situações de desníveis, tradicionais em Lisboa, resolvidas com plantações e muros. Por outro lado, guarda na memória o nome popular de várias espécies de árvores dos géneros Jacarandá-da-Bahia, Jacarandá-do-pará, Jacandará-africano, sendo o Jacarandá-mimoso o mais comum e que em Lisboa é possível encontrar, por exemplo, no Parque Eduardo VII, no Largo do Carmo ou ainda nas Avenidas 5 de Outubro ou Dom Carlos I.

Ainda herança da Expo 98 existe também o Passeio dos Jacarandás, que liga a Rua de Moscavide ao Passeio dos Fenícios, assim integrando também os primeiros 102 topónimos oficializados pelo Edital municipal de 16 de setembro de 2009, a que se juntaram mais 60 oficializados pelo Edital municipal de 06/05/2015.

A realização da Expo 98, subordinada ao tema “Os oceanos: um património para o futuro”, implantou para o evento uma toponímia ligada aos oceanos, aos Descobrimentos Portugueses, aos aventureiros marítimos da literatura e banda desenhada mundial, a figuras de relevo para Portugal, a escritores portugueses ou obras de sua autoria e ainda alguns ligados à botânica, como este Jardim dos Jacarandás.

O topónimo Jacarandás também surge em Portugal numa Rua de Brejos de Azeitão e noutra em Albufeira.

O sítio do Ferragial em três artérias lisboetas

Rua do Ferragial – Freguesias de Santa Maria Maior e da Misericórdia
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O quinhentista sítio do Ferragial, denominação que evoca uma planta de pasto, permaneceu no casco velha da cidade em três topónimos: a Calçada, a Rua e a Travessa, todos com a administração repartida pelas freguesias de Santa Maria Maior e Misericórdia.

Hoje, a Calçada do Ferragial liga o Largo do Corpo Santo à Rua Vítor Cordon, a Rua do Ferragial vai da Calçada do Ferragial até à Rua do Alecrim – ainda em 1908 na planta de Silva Pinto e Correia de Sá é mencionada como Rua do Ferragial de Baixo- , e a Travessa do Ferragial une a Calçada do Ferragial à Rua Vítor Cordon, sendo esta última aquela que não foi fixada naturalmente na memória da cidade mas atribuída por Edital do Governo Civil de Lisboa de 7 de novembro de 1874 ao Beco da Linheira, a partir de uma proposta do vereador Francisco Margiochi aprovada na edilidade lisboeta em 17 de agosto de 1874.

Ferragial provém do latim farrago e serve para designar o campo onde se cultivam cereais que ceifados verdes e antes de espigar servem de pasto para animais.

De acordo com Luís Pastor de Macedo, « Já no “Sumário” encontramos, em 1551, na freguesia dos Mártires as ruas de Cima e do Ferregial. O “Itinerario lisbonense” descrimina bem: Ferregial de Baixo, a primeira à direita, subindo pela rua do Alecrim e termina na Calçada do Ferregial; Ferregial de Cima, a última à direita, entrando na rua de S. Francisco da Cidade, da parte do Chiado e termina ao tesouro velho

Nas suas Peregrinações em Lisboa, o olisipógrafo Norberto de Araújo descreve o sítio da seguinte forma: «Já te disse que a Rua do Ferregial quinhentista corria do lado norte de Vítor Cordon de hoje; para perpectuar o nome nas aproximações topográficas ficaram na reedificação do sítio a Rua do Ferregial de Cima, que assim se chamou até 1890 a Rua Vítor Cordon, a incaracterística Rua do Ferregial de Baixo, que é esta que conduz ao Alecrim, a Calçada do Ferregial, que liga Vítor Cordon, num ângulo recto, à Calçada. (…) Correu por aqui ao fundo, em linha que não tenho possibilidade de situar por palavras e referências, o lanço sul da muralha da Cêrca nova de D. Fernando, que desde o Postigo do Duque de Bragança, sensivelmente na extrema sul da actual Rua António Maria Cardoso (esplanada) obliquava, com seus arcos (ou postigos) das Fontaínhas, do Corpo Santo e dos Cobertos, para tomar o caminho paralelo à rua do Arco dos Cobertos (Rua do Arsenal) e seguir por aí fora, sempre paralela ao mar».

Ainda segundo Luís Pastor de Macedo, a Travessa do Ferragial também terá sido chamada Calçadinha do Arroz.

Rua, Calçada e Travessa do Ferragial – Freguesias de Santa Maria Maior e da Misericórdia
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Brotero do jardim Botânico da Ajuda, várias vezes na toponímia de Lisboa

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Félix de Avelar Brotero, médico que preferiu dedicar-se à botânica e assim dirigiu o Jardim Botânico da Ajuda, começou por ter Rua em Lisboa na freguesia de Alcântara no final do séc. XIX e em 1916, também passou a dar nome a uma artéria da Ajuda e depois, foi também o nome do Jardim do Alto de Santo Amaro em Alcântara.

Por deliberação camarária de 8 de julho de 1892 passou a existir em Alcântara,  na Rua 6 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro, a Rua Avelar Brotero. Já no séc. XX, o Edital municipal de 26 de setembro de 1916, alterou o topónimo Rua da Paz para Rua Brotero, considerando a localização desta entre o Largo da Paz e o Jardim Botânico que Brotero dirigira. Nos anos 80 do séc. XX, perante a manifesta escassez de novos arruamentos na cidade, a edilidade alterou pelo Edital de 7 de setembro de 1987 a Rua Avelar Brotero para Rua Pedro Calmon, passando a existir apenas uma rua dedica a Brotero em Lisboa, a da Ajuda, à qual em 1992 foi aditada a legenda «Félix de Avelar Brotero / Médico e Botânico/1744 – 1828», a partir da sugestão de um munícipe para se identificar  convenientemente o antropónimo.

Ainda em Alcântara, no início do séc. XX, o Jardim do Alto de Santo Amaro, sito na Rua Filinto Elísio- que antes de 8 de julho de 1892 era a Rua 2 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro-, foi denominado Jardim Avelar Brotero mas tal resolução nunca tornou oficial o topónimo do Jardim. A CML aumentou o número de bancos deste espaço verde nos anos 50, a pedido dos moradores da zona e a última remodelação do Jardim aconteceu no ano passado.

Freguesia da Ajuda – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Nascido Félix da Silva de Avelar (Loures – Santo Antão do Tojal/25.11.1744 – 04.08.1828/Lisboa), pela forte amizade que o ligava a Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento) e pelo ardor com que se dedicava à ciência tornou-se suspeito para o Santo Ofício e para fugir à polícia de Pina Manique, emigrou para Paris em 1778, com Filinto Elísio. Durante os 12 anos de permanência em Paris, fez os principais estudos de história natural e doutorou-se na Escola de Medicina de Reims, assim como adotou o apelido de Brotero, que significa amante dos mortais (pela junção do grego brothos com eros). Publicou o Compêndio Botânico em 1788, em Paris.

Regressou a Lisboa no ano de 1790, tendo sido logo nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, em 1791 e que manteve até 1807, acumulando com a direção do Jardim Botânico da Universidade e publicou Flora Lusitanica (1804). As invasões francesas alcançaram Coimbra em 1807 e Brotero veio refugiar-se em Lisboa e só lá voltou para ser jubiliado, o que sucedeu por Carta Régia de 27 de abril e Decreto de 16 de agosto de 1811. Passou então a dirigir o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, reabilitando o Jardim Botânico e elaborando o seu catálogo. Da sua investigação, resultaram também as suas obras Phytographia Lusitaniae selectior – em 2 tomos- 1816 e 1827 – e a História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos (1827).

Em 1821, Félix Avelar Brotero foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura, tendo participado  na discussão da lei dos cereais, onde exortou os agricultores a cultivarem centeio e trigo, para que fosse possível produzir pão para toda a população e a um preço acessível à bolsa de todos mas 4 meses depois pediu dispensa, pela idade avançada (77 anos) e foi-lhe concedida. Faleceu aos 83 anos de idade na sua casa, na Calçada do Galvão, em Alcolena, em Belém.

Brotero foi homenageado com a atribuição do seu nome a várias plantas, como é o caso da Brotera ovata e da Brotera trinervata e está também na toponímia de Coimbra, do seu concelho natal – em Loures, Santo António dos Cavaleiros e Santo Antão do Tojal-, da Amadora, do Barreiro, Carnaxide, Custóias, Mafra, Matosinhos, Montijo, Odivelas (em Ramada e em Caneças), do Porto, Santa Maria da Feira, Seixal e Setúbal.

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)