Inauguram hoje três ruas de São Domingos de Benfica

Capinha Tripla

São hoje inauguradas, às 15:30 horas, as Ruas António Alçada Baptista, Luciana Stegagno Picchio e Natércia Freire na freguesia de São Domingos de Benfica.

Na ocasião,  usarão da palavra a Vereadora da Cultura e Presidente da Comissão Municipal de Toponímia, Catarina Vaz Pinto; o Presidente da Junta de São Domingos de Benfica, António Cardoso Alves; e em representação dos homenageados, Guilherme d’ Oliveira Martins, Henrique Chaves e Isabel Corte-Real.

 

[consultar o mapa de localização]

A Rua do Seminário e da Escola Vergílio Ferreira

Freguesia de Carnide (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Carnide
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua do Seminário acolhe desde 1983 a Escola Secundária de Vergílio Ferreira, no espaço que foi a Quinta dos Inglesinhos, de frades católicos irlandeses.

Este arruamento que liga o Largo da Luz à Rua Fernando Namora recebeu a denominação de Rua do Seminário por deliberação camarária de 02/11/1882 da Câmara Municipal de Belém, naquela que era antes a Rua dos Galegos.

Recorde-se que em 1840 Carnide pertencia à freguesia de Belém, pelo que  aquando da fundação do Concelho de Belém em 1852, passou a integrá-lo. Após a extinção do Concelho de Belém em 1885, Carnide foi ainda pelo curto espaço de um ano parte do Concelho dos Olivais, após o que transitou para o Concelho de Lisboa, em 1886.

Este topónimo Rua do Seminário regista uma memória do ano de 1855 em que uma comunidade de frades católicos irlandeses comprou neste local uma quinta para residência de veraneio, que ficou conhecida como a Quinta dos Inglesinhos.

De 1825 a 1832 esteve sediado nesta artéria o Instituto de Surdos Mudos e Cegos e, de 1913 a 1918, a sede paroquial de Carnide esteve instalada provisoriamente na capela dos padres inglesinhos, até transitar para a Igreja da Luz.

 

Freguesia de Carnide (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida da capital republicana Berna

Avenida de Berna em 1998 (Foto: Paulo Catrica, Arquivo Municipal de Lisboa)

Avenida de Berna em 1998
(Foto: Paulo Catrica, Arquivo Municipal de Lisboa)

A revista Colóquio Letras, editada pela Fundação Calouste Gulbenkian e sediada na Avenida de Berna, publicou a partir de 1971 e até 1994 diversos artigos de Vergílio Ferreira, sobre Kafka, Cesário Verde, A Rosa do Adro, Jacinto do Prado Coelho, e em setembro de 1975, até o ensaio «O Livro, o Filme, o Tempo», construindo assim a ligação do escritor a esta artéria que começou por ter categoria de rua.

Este arruamento das Avenidas Novas começou por ser a Rua Martinho Guimarães, dada pelo Edital municipal de 20/08/1897. Contudo, treze depois, com a  implantação da República em Portugal, o primeiro Edital municipal após o 5 de outubro de 1910, com data de 5 de novembro de 1910, passou a denominar esta artéria como Rua de Berne.

Na época, Berna era capital da Suíça desde 1848 (pela constituição federal desse ano) e, como tal, a capital de um país que junto com a França e Portugal eram as únicas Repúblicas na Europa daquele tempo. Refira-se ainda que no ano seguinte, por Edital de 7 de agosto, esta Rua de Berne viu a sua categoria mudada para Avenida.

Este primeiro Edital de toponímia da edilidade lisboeta após a implantação da República no país procurou fixar na memória da cidade esse acontecimento, quer através da Avenida da República e da Avenida Cinco de Outubro, quer através dos nomes dos chefes militar e civil republicanos – Cândido dos Reis e Miguel Bombarda -, também em Avenidas. É também logo neste primeiro edital que são dados mais 2 topónimos que perpetuam referências a países estrangeiros republicanos, a saber, a Praça do Brasil e a Avenida dos Estados Unidos da América.

Finalmente, refira-se que o historiador Lúcio de Azevedo viveu e faleceu no n.º 9 da Avenida de Berna.

 

1º Edital de Toponímia após a implantação da República em Portugal

1º Edital de Toponímia após a implantação da República em Portugal

A Rua Varela Silva e o desejo de «Aparição»

Freguesia de Santa Clara (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Clara
(Foto: Sérgio Dias)

Durante a rodagem de Cântico Final, de Manuel Guimarães, nos anos de 1974 e 1975, Varela Silva conheceu Vergílio Ferreira e em 1978 quis adaptar para o cinema Aparição, outra obra do escritor, mas nunca se concretizou tal desejo.

Segundo Lauro António, várias obras de Vergílio Ferreira foram desejadas para passarem ao cinema. Em 1973, Quirino Simões quis adaptar Alegria Breve; em 1978, Varela Silva pretendeu filmar Aparição; e em 1988, o realizador alemão Wolf Gaudlitz e o próprio Lauro António, desejaram o mesmo para Até ao Fim, tendo sido Gaudlitz que ganhou o direito de adaptação embora não o tenha levado a cabo.

Varela Silva entrou para a toponímia de Lisboa a partir de uma sugestão da APOIARTE – Associação de Apoio aos Artistas, e pelo Edital municipal de 14/07/2004 ficou na artéria identificada como Rua 2A do Vale da Ameixoeira. O mesmo  Edital consagrou na mesma freguesia mais 4 atores: António Vilar, Arnaldo Assis Pacheco, José Viana e Raul de Carvalho.

rua varela_silva

Alberto Varela Silva (Lisboa/15.09.1929 – 15.12.1995/Lisboa), nascido no bairro da Madragoa, começou a recitar poesias em sociedades de cultura e recreio e acabou por ingressar no grupo de teatro amador da Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul onde descobriu Pirandelo, Tchekov e Alves Redol e foi mesmo nesse palco que se estreou na peça O Falar Verdade a Mentir, de Almeida Garrett, mantendo em paralelo diversos ofícios para conseguir estar no teatro.

Em 1953,  a convite da companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, em O Regente de Marcelino Mesquita, no papel de Conde de Ourém. Um ano mais tarde, profissionalizou-se nesta companhia e, em mais de quarenta anos de carreira, participou em cerca de 200 peças- como Um Eléctrico Chamado Desejo, Felizmente Há Luar  ou Passa Por Mim no Rossio – onde representou todos os géneros, da farsa à tragédia, da comédia à revista e também se dedicou à encenação, em mais de 20 peças, como A Sapateira Prodigiosa (1960), Estranha Forma de Amar (1976) ou O Fidalgo Aprendiz (1988).

No cinema, escreveu o argumento de Pão, Amor e… Totobola! (1964) de Henrique Campos e integrou o elenco de 8 filmes, entre os quais A Ribeira da Saudade (1963) de João Mendes, Benilde ou a Virgem Mãe (1975) de Manoel de Oliveira, Cântico Final (1975) de Manuel Guimarães, O Diabo Desceu à Vila (1979) de Teixeira da Fonseca ou Aqui d’El Rei! (1992) de António Pedro Vasconcelos. Para a televisão escreveu, dirigiu, realizou e interpretou vários programas, como telenovelas portuguesas, onde participou logo na primeira – Vila Faia – em 1982. É de salientar ainda que na RTP foi jurado do concurso Retrato de Família e que escreveu a série Histórias simples de gente cá do bairro, sobre lisboetas comuns.

Também escreveu o livro de contos Histórias Que Não Me Pediram (1956), a comédia em três atos Amanhã Há Récita (1955), bem como as peças Ponto de vista (1961), Um Príncipe do Meu Bairro (1966) ou a revista O pato das cantigas (1978), com Nicolau Breyner.

Freguesia de Santa Clara (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Clara
(Planta: Sérgio Dias)

Alçada Baptista, Luciana Picchio e Natércia Freire na Toponímia de Lisboa

Capinha Tripla

Alçada Baptista, Luciana Picchio e Natércia Freire dão nome a três ruas da freguesia de São Domingos de Benfica, na Urbanização Benfica Stadium, que serão inauguradas na próxima sexta feira, dia 29 de janeiro, às 15:30 horas, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, bem como da Vereadora da Cultura e Presidente da Comissão Municipal de Toponímia, Catarina Vaz Pinto.

0 Urbanização Benfica Stadium - planta geral

A Estrela na Travessa do Salitre

A Travessa do Salitre em 1961 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Travessa do Salitre, morada do Parque Mayer, em 1961
(Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

«A Estrela», um conto de Vergílio Ferreira, inspirou um musical infantil levado a palco pela companhia II Acto, com João Frizza, Marco Mercier e FF, que em 2012 foi exibido no Teatro Maria Vitória, no Parque Mayer, com entrada pela  Travessa do Salitre.

A Travessa do Salitre nasceu pelo edital municipal de 28/05/1897 como nova denominação da antiga Travessa das Vacas que havia sido alargada em 1895. O olisipógrafo Norberto de Araújo resumiu a história  toponímica desta artéria assim: «Vamos passar da Alegria para o Salitre através da Travessa deste nome, e que foi logo a seguir ao Terramoto a Travessa das Vacas [assim surge referida nas plantas e descrições paroquiais após a remodelação paroquial de 1770] , e que no principio desse século [ XVIII] se chamava Travessa da Cotovia e antes, no século XVI, Travessa do Monturo.» O topónimo deriva, tal como a Rua do Salitre, das nitreiras da Horta dos frades Cartuxos ou Brunos, que existiram no fim da Calçada do Salitre.

Neste arruamento existiu o Teatro do Salitre, de 27 de novembro de 1782 até 1857, reabrindo em 1858 como Teatro Variedades mas acabando por ser demolido em 1879. Teve também esta artéria uma praça de touros, construída entre 1777 e 1780, e que na segunda década de oitocentos revertia uma parte das suas receitas para a Casa Pia de Lisboa e que apenas terminou quando em 3 de julho de 1831 se inaugurou a Praça de Touros do Campo de Santana e assim passou a circo de cavalinhos e de diversos espectáculos, sendo abandonada de 1865 a 1875 e demolida em 1880.

Freguesia de Santo António (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Santo António
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua que homenageia Jacinto Prado Coelho em Telheiras

Freguesia do Lumiar (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias)

O ensaísta Jacinto do Prado Coelho também escreveu sobre Vergílio Ferreira, nomeadamente no seu artigo «Vergílio Ferreira: um estilo de narrativa à beira do intemporal», inserido na coletânea Ao contrário de Penélope, publicada em 1976.

Enquanto topónimo lisboeta Jacinto do Prado Coelho foi fixado como Rua Prof. Prado Coelho, no próprio ano do seu falecimento, pelo Edital municipal  de 22/10/1984, no arruamento até aí denominado Rua 5 de Telheiras Norte, e com a legenda «Filólogo/1920 – 1984», dando assim cumprimento à proposta nº 119/84 aprovada por unanimidade na sessão de câmara de 21 de maio de 1984.

O alfacinha Jacinto Almeida do Prado Coelho (Lisboa/01.09.1920 – 19.05.1984/Lisboa), nascido na Freguesia de Santa Isabel,  foi um ensaísta e professor catedrático de Literatura Portuguesa Moderna da Faculdade de Letras de Lisboa, durante 40 anos, onde aliás se licenciara em Filologia Românica.  Foi ainda presidente do Centro de Estudos Filológicos entre 1954 e 1965. Da sua vasta obra, publicada desde os 15/16 anos, destaque-se A Educação do Sentimento Poético (1944), A Poesia de Teixeira de Pascoaes, Ensaio e Antologia (1945) , Introdução ao Estudo da Novela Camiliana (1946), Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa (1951), Situação de Fialho na Literatura Portuguesa (1959), Problemática da História Literária (1961), A Letra e o Leitor (1969), Originalidade da Literatura Portuguesa (1977)  e Camões e Pessoa, Poetas da Utopia (1984), para além de ter sido o responsável pela edição das obras completas de Camilo Castelo Branco e de Teixeira de Pascoaes.

Este intelectual e investigador internacionalmente reconhecido dirigiu também a publicação do Dicionário das Literaturas Portuguesa, Galega e Brasileira (1960) e a revista Colóquio/Letras entre 1975 e 1984, para além de ter sido  Presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores até ao seu encerramento em 1965, bem como da Academia das Ciências de Lisboa, em 1972.

Por último, refira-se que Jacinto Prado Coelho casou com a professora Dália dos Reis de Almeida, de quem teve um filho, o escritor e ensaísta Eduardo Prado Coelho.

Freguesia do Lumiar (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua de Dona Filipa de Vilhena da Restauração de 1640

Freguesias das Avenidas Novas e do Areeiro (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas e do Areeiro
(Foto: Sérgio Dias)

Virgílio Ferreira publicou em 1981 um conjunto de entrevistas sob o título Um escritor apresenta-se, 456 páginas numa edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda, organismo que desde a década de 40 do séc. XX se encontra sediada na Rua de Dona Filipa de Vilhena nº 12.

Esta artéria que hoje liga a Avenida Duque d’ Ávila à Avenida Visconde de Valmor teve o seu topónimo atribuído pelo Edital municipal de 18/07/1933, dado à via pública do prolongamento da Rua de Dona Estefânia entre a Avenida Duque d’Ávila e o Largo Dr. Afonso Pena (desde 23/12/1948 voltou a ser Campo Pequeno), tendo a edilidade pelo mesmo edital homenageado várias personalidades como Dom Afonso III, o Conde de Monsaraz, o Visconde de Juromenha, Frei Fortunato de São Boaventura, Guerra Junqueiro, António José de Almeida e atribuídos topónimos aos arruamentos do Bairro Social do Arco do Cego.

Dona Filipa de Vilhena armando os seus filhos cavaleiros numa aguarela de Roque Gameiro

Filipa de Vilhena armando cavaleiros os seus dois filhos (1801), aguarela de Roque Gameiro

Dona Filipa de Vilhena (Lisboa/c. 1585 – 01.04.1651/Lisboa), foi uma fidalga do século XVII, Marquesa de Atouguia, filha de D. Jerónimo Coutinho, que se casou com o 5º Conde de Atouguia, Dom Luís de Ataíde, que faleceu antes de 1640. Aos seus filhos Jerónimo de Ataíde e Francisco Coutinho armou-os ela própria cavaleiros, no dia da Restauração Nacional de 1 de dezembro de 1640 e mandou-os combater pela independência de Portugal. A nova rainha, D. Luísa de Gusmão, chamou-a ao paço e deu-lhe o cargo de camareira-mor e de aia do príncipe D. Afonso, que viria a ser o futuro rei D. Afonso VI.

O episódio de Filipa de Vilhena com os seus filhos em 1 de dezembro de 1640, foi popularizada por um aguarela de Roque Gameiro e uma tela a óleo de Vieira Portuense, ambos em 1801, bem como pela peça D. Filipa de Vilhena de Almeida Garrett, que foi representada pela primeira vez em Lisboa, no Teatro do Salitre, a 30 de maio de 1840, mas publicada apenas em 1846.

Freguesias das Avenidas Novas e do Areeiro (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas e do Areeiro
(Planta: Sérgio Dias)

Vergílio Ferreira e Jorge de Sena

Freguesia de Santa Clara (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Clara
(Foto: Sérgio Dias)

Durante vários anos Vergílio Ferreira e Jorge de Sena mantiveram correspondência. Mécia de Sena organizou-a e foi publicada em 1987, com uma introdução de Vergílio Ferreira.

Nove antes, no próprio ano do seu falecimento, Jorge de  Sena deu nome a uma artéria da Freguesia de Santa Clara, a Rua A da Quinta de Santa Clara à Ameixoeira, enquanto na Rua B era colocado Vitorino Nemésio, através do Edital municipal de 20 de novembro de 1978.

Freguesia de Santa Clara - Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Clara – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

Jorge Cândido Alves Rodrigues Telles Grilo Raposo de Abreu de Sena (Lisboa/02.11.1919 – 04.06.1978/Santa Barbara – E.U.A.), foi um escritor e professor universitário, ensaísta e historiador da cultura, considerado  uma das figuras centrais da cultura  portuguesa do século XX.

Era Cadete da Escola Naval quando em março de 1938 foi demitido da Marinha por motivos políticos, tema que ele abordará em Sinais de fogo. Licenciado em Engenharia Civil em 1944, pela Universidade do Porto, foi trabalhar para a Junta Autónoma de Estradas, de 1948 a 1959. Ainda nesse ano de 1959 fixou-se no Brasil, receando as perseguições políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado, a 11 de março desse ano, em que esteve envolvido. Nesse país exerceu como engenheiro e professor de engenharia  em algumas universidades, acabando por se doutorar em Letras, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (São Paulo) em 1964. A partir daqui fez uma reconversão profissional e dedicou-se ao ensino da literatura, passando logo em 1965, com Mécia de Sena e os nove filhos de ambos, para os Estados Unidos da América, por temor do golpe militar ocorrido no Brasil no ano anterior. Ensinou na Universidade de Wisconsin e depois, na de Santa Barbara (1970). Em Wisconsin tornou-se professor catedrático em 1967 e, em Santa Barbara, foi diretor do Departamento de Espanhol e Português e do Programa de Literatura Comparada. Foi ainda membro da Hispanic Society of America, da Modern Languages Association of America e da Renaissance Society of America.

Jorge de Sena estreou-se literariamente em 1942  com Perseguição mas a sua obra multifacetada compreende mais de vinte coletâneas de poesia, uma tragédia em verso, uma dezena de peças em um ato, mais de 30 contos, uma novela e um romance, cerca de 40 volumes dedicados à crítica e ao ensaio – com destaque para os estudos sobre Camões e Pessoa-, à história e à teoria literária e cultural -com trabalhos pioneiros sobre o Maneirismo-, ao teatro, ao cinema e às artes plásticas, sem esquecer que traduziu duas antologias gerais de poesia, da Antiguidade Clássica aos Modernismos do século XX, autores de ficção como Faulkner, Hemingway, Graham Greene, teatro de Eugene O’Neill) e ensaios de Chestov. Podem destacar-se da sua obra títulos como As evidências (1955), Metamorfoses (1963), Peregrinatio ad loca infecta (1969), O Indesejado (1951), Novas andanças do demónio (1966), Os Grão-Capitães (1976), O físico prodigioso(1977) e Sinais de fogo (1979).

Jorge de Sena foi ainda conferencista; crítico de teatro e de literatura em diversos jornais e revistas; comentador de cinema nas «Terças-feiras Clássicas» do Jardim Universitário de Belas-Artes no cinema Tivoli; diretor de publicações como os Cadernos de Poesia e coordenador editorial da revista Mundo Literário; consultor literário na Livros do Brasil e na Editora Agir (do Rio de Janeiro); cofundador do grupo de teatro Os Companheiros do Páteo das Comédias, em 1948, e colaborador, nesse mesmo ano, de António Pedro, no programa de teatro radiofónico Romance Policial, no Rádio Clube Português.

Freguesia de Santa Clara (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Clara
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida Casal Ribeiro Em Nome da Terra

Freguesia de Arroios (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)

Para escrever o seu romance Em Nome da Terra, cuja 1ª edição saiu em 1990, Vergílio Ferreira fotografou intensamente a Praça Duque de Saldanha e a Avenida Casal Ribeiro, para que a memória não traísse nenhum pormenor dos arruamentos que escolhera para cenário desse livro.

A Avenida Casal Ribeiro nasceu 88 anos antes, por via do Edital municipal de 29/11/1902, para ser o topónimo da via pública que existia entre a Praça Duque de Saldanha e o Largo de Dona Estefânia. Entre setembro de 1900 e agosto de 1906 encontramos diversos documentos municipais relacionados com a execução da «Avenida do Conde de Casal Ribeiro», nomeadamente que foram expropriados e trocados terrenos para o efeito, como Espinhaço de Cão e Terra do Alto.

Refira-se ainda que o Largo do Ministro, entre a Rua Direita da Ameixoeira e a Estrada da Ameixoeira, perpetua o mesmo homenageado por causa da Quinta e Palacete do Conde de Casal Ribeiro neste local e assim ficou denominado no século XIX.

O homenageado é José Maria do Casal Ribeiro (Lisboa/18.04.1825 – 14.06.1896/Madrid), conde de Casal Ribeiro por decreto régio de 28 de maio de 1870, que  foi um político do rotativismo português  dos finais do séc. XIX e como tal foi deputado, para além de ter desempenhado os cargos de Ministro da Fazenda (de 16 de março de 1859 a 20 de julho de 1860), dos Negócios Estrangeiras (de 24 de abril a 4 de junho de 1860 e  de maio de 1866 a 4 de janeiro de 1868), e ainda das Obras Públicas, Negócios e Indústria (de 9 de maio a 6 de junho de 1866), de Conselheiro de Estado bem como de embaixador em Paris e Madrid.

Freguesia de Arroios (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias)