A rua do ourives Luís Pinto Moitinho

Freguesia de Arroios (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)

O ourives de prata Luís Pinto Moitinho dá nome a uma rua alfacinha desde 1906, justamente na zona onde ele fundou o Asilo-Oficina de Santo António.

Foi por deliberação camarária de 8 de fevereiro de 1906 que a Rua nº 3 que ligava a Avenida Dona Amélia (hoje, Avenida Almirante Reis) com a Rua Palmira,  passou a homenagear o fundador do Asilo-Oficina de Santo António, Luís Pedro Moitinho, 5 meses após o falecimento deste.

Luís Pastor de Macedo fez a biografia deste ourives da seguinte forma: «Luís Pinto Moitinho, nascido na freguesia de Santo Estêvão de Lisboa em 26 de Janeiro de 1837 e falecido em 17 de Setembro de 1905. Foi aprendiz em casa de Isidoro da Silva Cardoso, a que faz esquina da rua da Prata para a Rua da Conceição e que para aquela rua tem os nºs 67 e 69, onde permaneceu de 1849 a 1854, fazendo em seguida uma viagem até à terras prometedoras do Brasil que segundo parece não se lhe mostraram muito acolhedoras. Regressando, casou com a filha do seu antigo patrão e mestre, D. Maria da Glória Cardoso, e foi, por morte de seu sogro, o sucessor na administração da casa [trata-se da Ourivesaria Moitinho], fundada em 1790 e portanto uma das mais antigas de Lisboa. Foi um dos fundadores da Associação de Socorros Mútuos dos Ourives e Artes Anexas e o principal fundador do Asilo-Oficina Santo António de Lisboa, uma das instituições mais prestantes e simpáticas que existem na cidade». Refira-se ainda que Luís Pedro Moitinho viveu no 1º e 2º andar do prédio da Ourivesaria Moitinho, no nº 71 da Rua da Prata.

O Asilo – Oficina de Santo António, criado em 1892, destinava-se a crianças desamparadas do sexo feminino. De acordo com Costa Goodolphim (Asilo-Oficina Santo António de Lisboa, 1905), o objetivo do benfeitor foi « criar um Asilo no qual se ensinem às crianças diversas indústrias, que se podem denominar caseiras, que as albergadas depois possam praticar em seus lares, livrando-as dos labores das fábricas, onde a vida se estiola e mata». As primeiras instalações foram no Largo do Conde de Pombeiro, depois no Paço da Rainha, e finalmente, em 1895, no Bairro Andrade. A aprendizagem destas crianças centrava-se sobretudo em ofícios com trabalhos de cartonagem,  malha de lã, obras de passamanteria e cirgueria, luvaria, alfaiataria, ourivesaria, brunido de prata, fabricação de pequenos objetos decorativos e trabalhos de cinzel, cujas vendas revertiam para a manutenção do Asilo.

Freguesia de Arroios

Freguesia de Arroios

A Travessa das Linheiras em Belém

Freguesia de Belém (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Belém
(Foto: Sérgio Dias)

Esta Travessa das Linheiras que vai da Rua Vieira Portuense à Rua de Belém recebe a denominação por ali ter havido comércio de linha, cordame e cabos.

Mas terá tido denominações anteriores, de acordo com Luís Pastor Macedo: « O nome mais antigo que se sabe ter tido esta travessa é o de Manuel Faria:’ No ano da graça de 1692 já morava em Belém, na 2ª travessa sobre a parte do mar o sr. Manuel de Faria (…) E, pelo menos até 1733, embora a travessa fosse designada ora como segunda, ora como primeira, continuou morando e (vê-se pelos róis das desobrigas) morando sempre na mesma casa. (…) Não sei quem fosse nem de que vivesse este sujeito. (…) Em 1756, morto já Manuel de Faria, encontro o arruamento designado por travessa das Brásias e o padre João Baptista de Castro na quinta parte do seu Mapa de Portugal publicada em 1758, diz que ele era conhecido por ambos os vocativos. Quem fossem as senhoras Brásias que deram origem ao novo apelido é que não sei dizer, a menos que se trata das três filhas da senhora Brásia Antunes, viúva de Manuel da Costa, que moravam por ali algures. (…) Outro nome que esta serventia parece ter tido, foi o de travessa de Tomás Caetano denominação que memorava a estada ali de Tomás Caetano Antunes, casado com D. Joana Joaquina de Faria, que, segundo hipótese aceitável, seria filha do já nosso conhecido Manuel de Faria.»

Freguesia de Belém

Freguesia de Belém

Rua José Domingos Barreiros e os vinhos do Poço do Bispo

Freguesia de Marvila Placa Tipo II

Freguesia de Marvila
Placa Tipo II

José Domingos Barreiro que no Poço do Bispo fundou uma empresa de vinhos tem o seu nome fixado numa artéria desta zona, como José Domingos Barreiros, provavelmente a partir das décadas anteriores à de quarenta do século XX.

Este arruamento já aparece assim mencionado no Guia das Ruas de Lisboa de 1941 da Tipografia Gonçalves, bem como na listagem de arruamentos da Lisboa efectuada por levantamento da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia conforme se refere na acta da sua reunião de 22 de janeiro de 1945.

Este topónimo só poderá ter sido fixado na memória da cidade em ano posterior a 1896 já que foi nesse ano que José Domingos Barreiro fundou no Poço do Bispo a sua firma comercial de vinhos, por grosso e para exportação, e depois se tornou um conhecido armazenista de vinhos da zona oriental da cidade.

O negócio de vinhos  foi continuado pelo seu filho Acácio Domingos Barreiro, que virá também a ser um dos primeiros administradores do Banco Português do Atlântico e, que terá também direito a uma rua em Lisboa –  a Rua Acácio Barreiro, também na Freguesia de Marvila-, oficializada em 23/04/1980, no arruamento vulgarmente designado por Rua Acácio Barreiros, situado entre a Rua do Açúcar e a zona na época sob a jurisdição do Porto de Lisboa.

Freguesia de Marvila (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila

Freguesia de Marvila

A Rua dos Lojistas do Bairro da Encarnação

Freguesia dos Olivais (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

Esta Rua dos Lojistas no Bairro da Encarnação, atribuída por  Edital de 15/03/1950 à Rua N,  é uma das doze deste bairro que fugiu à regra de ter toponímia numérica como era uso nos bairros sociais.

No quinhentista sítio da Panasqueira – cuja memória ainda se mantinha em 1939 numa azinhaga da Panasqueira – foi inaugurado em 1946 o Bairro da Encarnação, da autoria do arquiteto Paulino Montez, o qual procurou reproduzir neste bairro social um pretenso modelo de aldeia portuguesa mas em forma de borboleta que poderia ser admirada por vista aérea.

Para as ruas do Bairro cujo contrato para terraplanagem e abertura adjudicado à Societé Coloniale de Constructions data de 30 de julho de 1941 aventaram-se várias hipóteses toponímicas com nomes de aviadores, de cidades, de designações de profissões mas vingou a tradicional denominação numérica aplicada aos bairros de casas económicas. Apenas esta Rua dos Lojistas que em planta era designado por Rua N foi um dos doze arruamentos deste Bairro a ser exceção, tal como a Alameda da Encarnação, a Praça das Casas Novas, a Praça do Norte, a Rua das Escolas, a Rua do Mercado, a Rua da Portela, a Rua dos Eucaliptos, a Rua do Poço Coberto, a Rua da Quinta da Fonte, a Rua da Quinta do Morgado e a Rua da Quinta de Santa Maria, irmanando todos estes topónimos num mesmo espírito de referência geográfica rural e aldeã.

 

Freguesia dos Olivais

Freguesia dos Olivais

O Beco dos surradores de Alfama

Freguesia de Santa Maria Maior - Placa Tipo I (Foto: Artur Matos)

Freguesia de Santa Maria Maior – Placa Tipo I
(Foto: Artur Matos)

Este Beco do Surra, que hoje encontramos a ligar a Rua do Museu da Artilharia à Rua dos Remédios, já aparece mencionado na  Corografia Portugueza, E Descripçam Topografica Do Famoso Reyno De Portugal de Carvalho da Costa de 1712, bem como nas descrições paroquiais da Lisboa pouco antes do terramoto de 1755, na freguesia de «São Estêvão de Alfama».

No entanto, supomos que o topónimo seja mais antigo por em Alfama ter sido comum a atividade dos surradores, aproveitando as águas abundantes da zona, sendo conhecido que a a exploração das águas de Alfama se manteve durante todo o período histórico moderno sob a forma de alcaçarias para tratamento de couros e lãs ou de banhos termais.

Assim sendo parece viável a hipótese de este Beco do Surra ter sido originado por neste arruamento existirem artífices da arte de curtir peles. Vieira da Silva, em A Cerca Fernandina de Lisboa (1949), defende que a origem seja de uma alcunha afirmando «Desconhecemos quem foi o personagem cuja pitoresca alcunha deu nome ao beco».

Freguesia de Santa Maria Maior  (Foto: Artur Matos)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Artur Matos)

Freguesia de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior

Travessa dos Algarves

Freguesia de Belém (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Belém
(Foto: Sérgio Dias)

A Travessa dos Algarves guarda na cidade a memória dos algarvios que vieram para Lisboa para serem tripulantes de embarcações e se abrigavam nas casas da malta que para esse efeito existiam nesta artéria.

Esta artéria de Belém, que se abre junto à Rua da Junqueira, passou de Beco a Travessa por deliberação camarária de 23 de setembro de 1880, sendo o topónimo alfacinha mais antigo que se conhece para referir os tripulantes algarvios empregados nos escaleres e nas galeotas reais, que nesse arruamento se abrigavam nas casas da malta que aí existiam.

Freguesia de Belém

Freguesia de Belém

 

Trova da Rua de Adriano

Adriano

Adriano Correia de Oliveira, intérprete emblemático da canção de protesto e da Trova do Vento que Passa, bem como das campanhas de Dinamização Cultural do MFA após o 25 de Abril, deu nome a uma artéria de Lisboa vinte e sete anos anos após o seu falecimento.

A Rua Adriano Correia de Oliveira, com a legenda «Músico/1942 – 1982», nasceu com o Edital municipal de 24/09/2009, na Rua C Projectada à Avenida das Forças Armadas, no loteamento da EPUL na Freguesia das Avenidas Novas, a partir de uma proposta aprovada na reunião de Câmara de 15 de outubro de 2007, fundamentada no «contributo de Adriano Correia de Oliveira para a cultura portuguesa e o seu empenhamento na construção de um Portugal democrático.»

Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira (Porto/09.04.1942 – 16.10.1982/Avintes) estudou Direito em Coimbra e, para além de intérprete do fado da cidade dos estudantes, foi também em conjunto com José Afonso, António Portugal, António Goês, Durval Moreirinha e José Niza, entre outros, membro de uma nova vaga de intérpretes e criadores musicais que procuraram aliar a tradição musical popular e a poesia portuguesa ao movimento de contestação estudantil ao regime fascista vigente, dando origem à canção de protesto, que conheceu um extraordinário desenvolvimento nos últimos anos da década de 60 do século XX. Foi através deles que a música desempenhou um papel fundamental no movimento estudantil, em particular nos Dias do Estudante de 1960/61 e na Crise Académica desencadeada pela sua proibição em 1962.

Trova do Tempo que Passa, a emblemática música  de Adriano (com letra de Manuel Alegre e música de António Portugal), publicada em disco em 1963, foi estreada numa festa de acolhimento aos caloiros na Faculdade de Medicina de Lisboa (no Hospital de Santa Maria), em que também participaram José Afonso, Rui Pato, António Portugal e Manuel Alegre. Conta-se que a sala estava repleta e Adriano teve que repetir a música 6 vezes, e que os estudantes saíram para a rua a cantá-la em coro.

Militante do PCP desde 1960, já antes do 25 de Abril Adriano Correia de Oliveira levava a sua música a coletividades e associações populares, atuando em salas um pouco por todo o país, embora tenha ficado para a história sobretudo a sua participação no histórico espetáculo do Coliseu dos Recreios, na companhia de José Afonso e outros, em 29 de março de 1974, onde se cantou a Grândola Vila Morena em coro.

Após o 25 de Abril de 1974 Adriano empenhou-se na educação cultural e política das populações, tendo integrado as campanhas de Dinamização Cultural do MFA, cantado em comícios de várias organizações e associações, e participado na criação do CAC – Colectivo de Acção Cultural (1974) e da Cooperativa Cantar Abril (1979).

Dos temas emblemáticos de Adriano recordem-se Fala do Homem Nascido (a partir de poema de António Gedeão), Cantar de Emigração (poema de Rosalia de Castro), Menina dos Olhos Tristes (poema de Reinaldo Ferreira), Tejo que levas as águas (poema de Manuel da Fonseca).

A título póstumo, Adriano Correia de Oliveira foi feito Comendador da Ordem da Liberdade (24 de setembro de 1983) e Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (24 de abril de 1994), bem como mereceu  a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa, e o seu nome foi dado à Escola do 1º Ciclo nº 181, na Rua Cidade Vila Cabral, na Freguesia dos Olivais.

Freguesia das Avenidas Novas

Freguesia das Avenidas Novas

 

 

A Praça das Novas Nações e o fim da Guerra Colonial

Freguesia de Arroios (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)

Uma das propostas do MFA – Movimento das Forças Armadas era o fim da Guerra Colonial , promessa que após a vitória em 25 de Abril de 1974 se cumpriu através da descolonização, em conformidade com o Programa dos Três «D» – Democratizar, Descolonizar e Desenvolver – e, de todo esse processo nasceu também em Lisboa a Praça das Novas Nações.

A 8 de junho de 1974 uma Assembleia do MFA, reunida na Manutenção Militar, decidiu o cessar-fogo imediato no Ultramar, reivindicação aliás muita ouvida nas ruas após o 25 de Abril, e assim se definiu a urgência de avançar para  a descolonização e, já com atraso relativamente a outras ex-colónias europeias.

No ano seguinte, por Edital municipal de 17/02/1975, a toponímia de Lisboa espelhou a nova realidade através do nascimento da Praça das Novas Nações, como forma de homenagear as 5 novas nações nascidas no continente africano, que veio substituir a denominação Praça do Ultramar cuja nomenclatura remetia para as antigas Colónias.

A artéria havia nascido como Praça das Colónias, por deliberação camarária de 15/06/1933 e edital de 19/06/1933, e um mês depois passou a Praça do Ultramar.

Refira-se que ainda que na década de oitenta do século XX foram também homenageados na toponímia de Lisboa Amílcar Cabral e Agostinho Neto, figuras da luta pela independência no decorrer da Guerra Colonial e fundadores do PAIGC (Guiné-Bissau e Cabo Verde) e do MPLA (Angola), pelo Edital municipal de 22/04/1983, a partir de uma proposta dos vereadores da A.P.U. (Aliança Povo Unido).

Freguesia de Arroios (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias)

O 25 de Abril na Toponímia de Lisboa

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O 25 de Abril, data marcante da história portuguesa que devolveu a liberdade ao país, ocorrida há 41 anos, também se fixou em muitas esquinas de Lisboa, através dos topónimos que o evocam, bem como das personalidades que por causa dele se tornaram figuras marcantes na cidade e no país e ainda, aquelas que só após ele puderam ter nome numa artéria alfacinha.

Os topónimos que guardam a memória do 25 de Abril de 1974 numa ligação imediata são, por ordem cronológica, a Avenida das Forças Armadas (Edital de 30-12-1974), a Rua dos Cravos de Abril (Edital de 16-01-1995) e a Praça 25 de Abril (Edital de 22-04-1999), atribuída por ocasião do aniversário do 25º aniversário do 25 de Abril. Depois, temos duas figuras que estiveram directamente envolvidas na concretização do 25 de Abril, através da Rua Salgueiro Maia (Edital de 07-10-1992) e da Rua Melo Antunes (Edital de 07-05-2001), a perpetuar aquele que esteve no palco dos acontecimentos no Largo do Carmo e o estratega do ideário do MFA.

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Lisboa guarda ainda a memória dos dois primeiros Presidentes da República após o 25 de Abril na Avenida Marechal António de Spínola e na Avenida Marechal Francisco da Costa Gomes (ambos pelo Edital de 23-04-2004), bem como do 1º Presidente da Assembleia da República após o 25 de Abril de 1974 na Rua Vasco da Gama Fernandes (Edital de 07-05-2001). Acrescem ainda os primeiros-ministros de governos provisórios através da Rua Prof. Adelino da Palma Carlos (Edital de 20-09-1993), da Rua General Vasco Gonçalves (Edital de 06-10-2005) e da Rua Maria de Lourdes Pintasilgo (Edital 03-07-2008), para além do ministro da Justiça e das Finanças Francisco Salgado Zenha, perpetuado numa Avenida de Marvila (16-01-1995) e de Francisco Pereira de Moura,  ministro sem pasta e dos Assuntos Sociais, numa Rua de Carnide.

Uma das ideias fundamentais do Programa do MFA era o fim da guerra colonial e o estabelecimento de relações cordiais com os novos países que daí decorreram, o que ficou logo patente no 2º edital de Toponímia da Câmara de Lisboa após o 25 de Abril, com a atribuição da denominação Praça das Novas Nações (Edital de 17-02-1975) para substituir a anterior Praça do Ultramar.

Temos ainda um conjunto de topónimos de figuras que só puderam ter nome de rua após o 25 de Abril, por serem personas non gratas no Estado Novo.

Comecemos por aqueles que foram mortos pela PIDE ou morreram no Campo do Tarrafal: Calçada Ribeiro Santos (Edital de 30-12-1974), Rua José Dias Coelho (Edital de 17-02-1975), Praça Marechal Humberto Delgado (Edital de 02-02-1979), Rua Mário Castelhano (Edital de 19-06-1979) e Rua Bento Gonçalves (Edital de 24-09-1996).

A estes se somam os candidatos da Oposição a eleições presidenciais General Norton de Matos (Avenida dada pelo Edital de 30-12-1974) e  Dr. Arlindo Vicente (Avenida dada pelo Edital de 07-05-1992), bem como aqueles que participaram em movimentos e manifestações concretas de oposição ao Estado Novo:  Rua Dr. João Soares (Edital de 30-12-1974), Rua Capitão Henrique Galvão (Edital de 14-08-1975),  Rua José Magro (Edital de 06-05-1980), Rua Emídio Santana (09-12-1988), Rua Fernando Piteira Santos (Edital de 26-01-1993), Rua Pires Jorge e Rua Manuel Rodrigues da Silva (ambos pelo Edital de 24-09-1996), Praceta Adolfo Ayala (Edital de 16-06-1999), Rua Octávio Pato (Edital de 07-05-2001), Rua Eduardo Covas (Edital de 18-05-2001), Rua Carlos Aboim Inglez (Edital de 15-12-2003), Avenida Álvaro Cunhal (Edital de 06-10-2005) e Rua Francisco Lyon de Castro (Edital de 16-09-2009).

E temos ainda, em Ruas, os casos dos escritores neorrealistas Alves Redol (Edital de 30-12-1974) e Soeiro Pereira Gomes (Edital de 10-10-1977),  e daqueles que foram impedidos de exercer as suas carreiras, como docentes ou médicos em instituições do Estado, fixados em Lisboa como Largo Maria Isabel Aboim Inglês (Edital de 24-03-1975), Rua Prof. Bento de Jesus Caraça e Rua Prof. Pulido Valente (ambos pelo Edital de 27-02-1978), Praceta Prof. António José Saraiva (Edital 31-08-1993), Rua Abílio Mendes (Edital de 16-09-2009) e Rua Cesina Adães Bermudes (Edital de 24-09-2009),  para além da Rua evocativa do Padre Abel Varzim (Edital de 27-02-1978) que foi afastado da Acção Católica e vigiado pela PIDE.

E finalmente, a toponímia alfacinha comporta ainda mais 6 topónimos que estão ligados ao 25 de Abril de 1974:  Raul Rego (Rua dada pelo Edital de 15-12-2003) que na época dirigia o República e às 9:30 horas desse dia enviou para imprimir a edição do jornal com o rodapé «Este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura»; Sophia de Mello Breyner Andresen (Miradouro dado pelo Edital de 13-11-2008) autora de um poema sobre esse dia – «Esta é a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e livre/Onde emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo» – que foi depois gravado numa placa do Quartel do Carmo; Maria Helena Vieira da Silva (Avenida dada pelo Edital de 15-09-1992) autora do cartaz «A poesia está na rua»; e ainda, os cantores de intervenção José Afonso (Edital de 09-12-1988) e Adriano Correia de Oliveira (Edital de 24-09-2009) em Ruas.

O 1º Edital de toponímia de Lisboa após o 25 de Abril

O 1º Edital de toponímia de Lisboa após o 25 de Abril

A rua do tanoeiro de 1383

Freguesia de Marvila - Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Afonso Annes Penedo, situada nas traseiras da Fábrica dos Fósforos, foi um topónimo atribuído pela Deliberação Camarária de 18 de março de 1909.

Afonso Annes Penedo, tanoeiro de profissão que viveu no séc. XIV, distinguiu-se pelo apoio dado ao Mestre de Aviz aquando da revolução de 1383 e da crise sucessória de 1383-1385, conforme as crónicas de Fernão Lopes.

Fez parte da junta que se reuniu por ordem do Mestre de Aviz, futuro D. João I, na Casa da Câmara, em Lisboa, em 1383, como representante dos populares e, foi a sua intervenção decidida que convenceu os representantes da burguesia, arredios no dia anterior à assembleia popular de São Domingos, onde o povo jurara sacrificar vidas e haveres no apoio à causa do Mestre, dizendo «Que estais vós outros assim cuidando e que não outorgais o que outorgaram quantos aqui estão? E como ! Ainda vós duvidais de tomar o Mestre por regedor destes reinos, e que tome carrego de defender esta cidade e nós outros todos ? Parece que irão sois vós outros verdadeiros portugueses. Digo-vos que quanto por essa guisa buscai-nos vos todos cedo em poder dos castelãos.»

Também quando por ordem do Rei foi restabelecida a Casa dos Vinte e Quatro, foi Afonso Annes de Penedo o presidente desta, como recompensa do apoio das corporações à sua causa, para além de ter sido eleito o primeiro juiz do povo.

A Casa dos Vinte e Quatro agregava doze ofícios que no Dia de São Tomé (21 de Dezembro) elegiam dois homens bons, de mais de 40 anos, para representarem cada um dos mesteres. As corporações destes ofícios também integravam cargos de juiz de paz e procuradores de mesteres que se encarregavam de levar até à presença real as petições do povo, assinadas pelos 24 membros do organismo.

Freguesia de Marvila  (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila

Freguesia de Marvila