Jardim do Marquês de Marialva ou do Campo Pequeno

Lápide do Jardim Marquês de Marialva, nos anos 50 do séc. XX (Foto: Fernando Martinez Pozal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Em pleno Campo Pequeno encontramos o Jardim do Marquês de Marialva que ali nasceu no início do século XX.

Aquando da construção da Avenida Ressano Garcia (depois, Avenida da República), entre 1897 e 1903, foi organizado este Jardim, em quatro espaços equilibrados, a rodear a praça de touros que ali fora inaugurada em 1892. Com muitas árvores frondosas tornou-se frequentado nos dias de verão, assim como espaço de reunião dos aficionados para discutir as touradas, antes e depois das corridas. Mais tarde, por volta dos anos quarenta, foi acrescido de um parque infantil.

O Marquês de Marialva neste Jardim celebrado é o 4º, de seu nome completo Pedro José de Alcântara de Menezes Noronha Coutinho (09.11.1713-22.02.1799), filho de Diogo de Noronha e Joaquina Maria de Menezes ( 3ª marquesa de Marialva), conhecido como estribeiro-mor da Coudelaria Real de Alter do Chão, assim nomeado por D. José I, e nessa condição criador do sistema de equitação que ficou conhecido como arte de Marialva, em atenção ao seu nome nobiliárquico.

Na segunda metade do século XVIII foi considerado o melhor cavaleiro de Portugal do seu tempo, tendo tido um papel decisivo no aperfeiçoamento da Picaria Real e da arte equestre portuguesa, sendo conhecido pela chamada arte de Marialva de que foi  sucessora a Escola Portuguesa de Arte Equestre. Foi mesmo retratado demonstrando exercícios da alta escola no tratado de cavalaria do séc. XVIII, a  Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavallaria (1790), da autoria de Manuel Carlos de Andrade (1755-1817).

D. João V fundara em 1748   a Coudelaria de Alter, para o Alter-Real ( sub-raça do cavalo Lusitano), um apuramento ordenado pelo próprio rei. Na segunda metade do séc. XVIII, D. José I ampliou a iniciativa de seu pai, estruturou a Coudelaria e deu-lhe o primeiro regime coudélico, para assim iniciar o período áureo da Coudelaria e do Alter-Real, sob orientação de D. Pedro de Alcântara e Menezes.

Este 4º Marquês de Marialva foi marido de Eugénia de Assis Mascarenhas, com quem teve seis filhos.

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Da rural Calçada do Salitre à Rua do Salitre

Em 1812, Rua do Salitre, na planta do Duque de Wellington
(Arquivo Municipal de Lisboa)

Até ao séc. XIX a Calçada do Salitre ainda guardava muito do seu passado rural, logo a começar pelo seu topónimo derivado das nitreiras das hortas dos frades Cartuxos e será após a construção da Avenida da Liberdade que, gradualmente, passará a ter antes a categoria de Rua.

A Rua do Salitre que hoje vemos a ligar a Avenida da Liberdade ao Largo do Rato é segundo Norberto de Araújo, um arruamento da Lisboa do séc. XVII e  não anterior a 1665. Este topónimo nasceu das nitreiras ou salitrais que os frades de São Bruno – conhecidos como Cartuxos ou Brunos- tinham nas suas hortas, nos terrenos que detinham nesta  artéria, já que salitre é o nome vulgar do nitrato de potássio, um adubo. O Salitre ganhou ao  topónimo anterior, do séc. XVI, que era Horta da Palmeira. Ainda de acordo com o olisipógrafo «No século XVI estes sítios por aqui, acima de Valverde, eram dos Ataídes, Condes da Castanheira, em prazos que se prolongavam do Sul (…); uma dessas terras era chamada Horta da Palmeira, terreno que um Ataíde, D. Jorge, que foi bispo de Viseu e capelão-mór do Cardeal D. Henrique doou, antes de morrer (1611), aos frades brunos ou cartuxos do Convento de Laveiras, para neste sítio fazerem um hospício.»

Após o terramoto de 1755, o Cartulário pombalino indica Rua do Salitre, a propósito da abertura da que virá a ser a Travessa de São Mamede (desde 1945 é a Rua Nova de São Mamede), para se fazer a ligação da primeira à  Rua Nova da Cotovia (Rua da Escola Politécnica).

Calçada do Salitre em 1857, na planta de Filipe Folque
(Arquivo Municipal de Lisboa)

E no século seguinte, a memória rural da zona era ainda muito presente na toponímia próxima da Rua do Salitre, como na Azinhaga do Vale do Pereiro que ainda surge na planta de 1857 de Filipe Folque – que indica ainda Calçada do Salitre -, bem como na Travessa das Vacas que só em 28 de maio de 1897 passou a ser a Travessa do Salitre. E neste século XIX, em diversos documentos municipais como plantas, requerimentos ou licenças para construção ou obras em prédios esta artéria tanto é assinalada quer como Calçada quer como Rua, mesmo que na 2ª metade do século seja mais usado Rua, sendo exemplo maior dessa dupla grafia um processo de expropriação de 1881- para a abertura da Avenida da Liberdade- em que a planta do local de Ressano Garcia refere Calçada e no texto do Presidente José Gregório Rosa Araújo se menciona Rua.

Freguesia de Santo António
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

 

 

 

Rua da Pedreira do Fernandinho

Freguesia de Campolide – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua da Pedreira do Fernandinho perpetua no local a memória de um proprietário local do final do séc. XIX, conhecido como Fernandinho, que ali teve uma grande quinta e uma pedreira.

Foi em 1986 que a Secção de Escrivania da CML informou a edilidade da necessidade de dar nomenclatura própria aos arruamentos da Quinta da Bela-Flor, à Cascalheira, o que se concretizou pelo publicação do Edital municipal de 8 de julho de 1986, ficando a Rua A como Rua da Bela-Flor e a Rua C como Rua da Pedreira do Fernandinho.

Freguesia de Campolide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Se corrermos as várias plantas disponíveis no Arquivo Municipal, percebemos que o espaço hoje ocupado pela Rua da Pedreira do Fernandinho era campo até na planta de Silva Pinto, de 1911, ser mencionada a Quinta do Fernandinho. Depois da construção da linha-férrea de Alcântara a Campolide (1886) e do túnel do Rossio ou da Rabicha (1890) aumentou o desenvolvimento urbano de Campolide e em 1889, a condessa do Paço do Lumiar vendeu, em lotes, as antigas terras dos Braamcamps, ao preço de 6 a 25 tostões o metro quadrado, o que permitiu a construção do chamado Bairro Novo de Campolide mas também que um tal António Fernandes dos Reis, conhecido como o Fernandinho, fosse quem mais terreno comprou –  2600 m2-, em toda a zona mais próxima de Alcântara, e que assim deu o seu nome à sua Quinta, bem como à pedreira  que ele deve ter explorado ou os seus herdeiros. Esta pedreira terá funcionado até metade do século XX,  já que o Santana Futebol Clube – fundado em 1920 – teve o seu segundo campo de futebol no espaço desta pedreira no decorrer dos anos 50 e depois foi soterrado.

A alcunha do proprietário terá passado para a toponímia de sítios próximos como o  Alto do Fernandinho (junto à Rua Vítor Bastos) que surge em processos de obras de 1893 e 1912 requeridos por Gertrudes Rosa Fernandes  e Fernando Manuel Fernandes;  o Casal do Fernandinho (na Calçada da Quintinha) que está registado em documento de 1925 e as Terras do Fernandinho, que surgem em 1951, para fornecer a localização da barraca 24-B à Rua do Garcia.

Freguesia de Campolide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: António Marques, 1998, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações é uma herança toponímica da Expo 98, que pelo Edital municipal de 16 de setembro de 2009 se viu acrescido de «ao Parque das Nações», para evitar equívocos com a Rua Garcia de Orta que desde 1911 existe na freguesia da Estrela (antes, Santos-o-Velho).

Estátua de Garcia de Orta, da autoria de Martins Correia, no IHMT desde 1958
(Foto: 1969, António da Silva Fernandes Duarte, Arquivo Municipal de Lisboa)

Junto ao Passeio das Tágides, o Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações evoca o médico e naturalista que nasceu em Castelo de Vide por volta do ano de 1500 e morreu em Goa em 1568, filho de pais de ascendência judaica, que estudou Artes, Filosofia e Medicina nas Universidades de Salamanca e Alcalá. Regressado a Portugal em 1525, foi médico de D. João III e obteve a cátedra de Filosofia Natural da Universidade de Lisboa em 1530. Todavia, por temer a Inquisição, partiu para a Índia em 1534 e aí se dedicou ao estudo de plantas raras desconhecidas na Europa, publicando em Goa em 1563, o Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia e Frutas nela Achadas, com a particularidade de nele incluir a primeira poesia impressa de Camões.

Este jardim integra 5 talhões com floras representativas de 5 locais diferentes: o de África, com vegetação representativa do deserto de Moçâmedes ( Angola) e da ilha de Inhaca (Moçambique); o da Macaronésia, com flora da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde; o de S. Tomé e do Brasil, com uma estrutura que ajuda a reproduzir o ambiente das plantas tropicais; o de Goa, baseado nos registos de Garcia de Orta; e o de Coloane que representa a vegetação da China meridional.

Cerca de doze anos após a morte de Garcia de Orta, em 1580, como era uso fazer-se aos judeus que tinham escapado com vida às malhas da Inquisição, foram desenterrados os seus ossos e queimados. Por outro lado, foi criado em Castelo de Vide, o Centro de Estudos Luso-Hebraicos Garcia d’ Orta (1988), o seu nome foi dado ao Hospital de Almada (1991), é o nome de uma Escola no Porto e é também topónimo um pouco por todo o país, como acontece em Abrantes, Albufeira, Almada, Amadora, Baixa da Banheira, Braga, Cabanas de Tavira, Caneças, Casal de Cambra, Corroios, Elvas, Ermesinde, Estoril, Lagos, Linda-a-Velha, Montijo, Odivelas, Oeiras, Portimão, Porto, Quinta do Conde (Sesimbra), Rio de Mouro, Rio Tinto, Seixal, Senhora da Hora (Matosinhos), Vale da Amoreira (Moita), Valongo, Vila do Conde ou Vila Nova de Gaia.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Jardim com o busto de Júlio de Castilho

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Rui Mendes)

Com um miradouro sobre Alfama, a partir do Largo de Santa Luzia, encontramos o Jardim que desde o dia 25 de julho de 1929 se inaugurou com um busto do olisipógrafo Júlio de Castilho, da autoria do escultor Costa Mota (sobrinho).

Falecido dez anos antes, no dia 8 de fevereiro de 1919, o olisipógrafo Júlio de Castilho, havia sido já consagrado na toponímia de Lisboa por via do Edital municipal de 2 de março de 1925, com o Largo Júlio de Castilho, o largo mais próximo da rua onde morara no Lumiar, acrescido da legenda «Erudito Escritor e Historiador/1840 – 1919».

A inauguração em 25 de julho de 1929
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Quatro anos mais tarde, em 25 de julho de 1929, a Comissão Administrativa da CML inaugurou o busto de Júlio de Castilho neste pequeno jardim também conhecido por Jardim de Santa Luzia, pela proximidade à Igreja de São Brás ou de Santa Luzia, erguida sobre a muralha da antiga cerca. O miradouro resultou de uma iniciativa de Quirino da Fonseca, para fornecer à cidade uma panorâmica geral de Alfama e do Rio Tejo, sendo que o assunto esteve alguns anos em discussão. Raul Proença no seu Guia de Portugal afirma no seu 1º volume, publicado pela primeira vez em 1924,  afirma que «Pela parte detrás da igreja existe, suportado pela muralha que desce a calçada de S. João da Praça, contornando-a, um troço de terreno, hoje inculto» e defende que «Como o templo não tem nenhum valor, poder-se-ia arrasar todo esse terreno e transformá-lo num jardim público, o que não só ofereceria aos habitantes uma janela aberta sobre o Tejo como também teria a vantagem de evitar o futuro desaparecimento do mais importante trecho de muralha goda que Lisboa possui.» Mais tarde, o espaço somou um painel de azulejos representando A Tomada do Castelo de São Jorge aos Mouros por Dom Afonso Henriques e outro painel com a a antiga Praça do Comércio (da autoria de António Quaresma e produzidos na Fábrica Viúva Lamego)  e ainda um outro, com uma vista de Lisboa com barcos no Tejo (desenho de Martins Barata e pintado em 1939 por Victoria Pereira).

Júlio de Castilho (Lisboa/30.04.1840- 08.02.1919/Lisboa), 2.º visconde de Castilho por ser filho primogénito de António Feliciano de Castilho (também perpetuado em Lisboa na Rua Castilho), é considerado um percursor dos estudos olisiponenses, tendo acumulado ao logo da vida uma importante coleção pessoal de documentos sobre o tema, que se encontra depositada na Biblioteca Nacional.

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua das Pedras Negras ou do templo da deusa Cibele

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A Rua das Pedras Negras terá tido pedras dessa cor, impressionantes ao ponto de ficarem guardadas na memória do local ou essas pedras negras serão uma referência à Lisboa Romana que teria aqui um templo da deusa Cibele?…

A Rua das Pedras Negras dos dias de hoje liga a Rua Augusto Rosa à Rua Madalena mas, de acordo com Norberto de Araújo, teria sido um arruamento mais encaracolado antes do Terramoto que «há cêrca de duzentos anos [mais ou menos 1744] começando num ângulo, exactamente na vértice das Travessas do Almada e das Pedras Negras, e descrevendo uma larga curva » ao qual «Os arquitectos de Pombal, e os que se lhes seguiram, arrazaram, terraplanaram e abriram um xadrez regular, que é aquele que estamos passeando. Esta actual Rua das Pedras Negras não corresponde de maneira alguma à do século XVII.»

Norberto de Araújo defende ainda que «A designação é antiquíssima, pois aparece já em 1299; não se lhe conhece a origem ou fundamento, e tudo quanto se disser – e já disse – não vai além da fantasia.»

Todavia, a Drª Salete Salvado, na sua comunicação às  4ªs Jornadas de Toponímia de Lisboa -«Alfama e Rua das Pedras Negras – Reflexões sobre um Topónimo»- defende que este topónimo perpetua na memória de Lisboa o  culto da deusa bétilo da Olisipo Romana :

« No panorama da toponímia antiga de Lisboa, Pedras Negras é aquilo que eu, por graça, chamo “um topónimo absoluto”. Quer isto dizer que é único em Lisboa, e se manteve sempre no mesmo lugar da cidade, apesar da passagem do tempo e do reordenamento espacial. Esse é também o único local da cidade onde foram inequivocamente encontrados monumentos epigráficos dedicados a Cibele, juntamente com restos arquitectónicos de notável grandeza. Esse é também um local onde o “quarteirão” anterior ao Terramoto descreve um rectângulo cujos dois lados maiores e um lado menor apresentam uma silhueta estranhamente regular, estando o seu eixo maior orientado a Ocidente, como se subjacente se encontrasse uma sólida estrutura, compatível com a de um templo.» acrescentando que « Como o derrube do templo é antigo (séc. IV D.C.) e está inevitavelmente ligado à consagração do Cristianismo como religião oficial do Estado romano e à construção da muralha tardo-romana que defendeu a cidade, é perfeitamente natural a relativa dispersão dos seus materiais (…) Embora desconheça o seu paradeiro, não tenho qualquer dúvida de que existiram e foram encontradas, num momento que não consigo determinar, mas que terá a ver com a retoma da utilização do espaço , muito depois da construção da muralha defensiva tardo-romana, pedras negras, em número ou forma tão extraordinárias que fixaram a utilização deste nome como referência determinante do local e elemento orientador» para assim poder concluir que « (…) Descartadas as infundamentadas teorias da origem do topónimo incluindo a da existência de uma floramento basáltico ou da modificação da cor do calcário da bancada de Lisboa naquele preciso local, parece-me poder avançar com a hipótese de trabalho que atrás desenvolvi, esperando apenas que escavações arqueológicas, dignas desse nome, a realizar no local possam trazer uma nova luz sobre este assunto. Até lá reflictamos na espantosa coincidência do topónimo corresponder ao local de culto oficial da deusa bétilo, pedra negra, a quem chamamos Cibele.»

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua da Quinta das Conchas

Freguesia do Lumiar
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A Rua da Quinta das Conchas, no Lumiar,  é um topónimo que deriva da proximidade à Quinta do mesmo nome, sendo que esta, por seu turno, é uma denominação que advém de vestígios aí encontrados, provavelmente fósseis calcários do Miocénico lisboeta ( ou seja, entre cerca de 20 a 7 milhões de anos atrás), como sucedeu no Alto das Conchas, em Marvila.

Esta artéria inicialmente designada por Rua F à Quinta das Conchas passou a ser a Rua David Mourão-Ferreira por Edital municipal de 18 de novembro de 2003. Todavia, ao pretender-se que o nome do escritor designasse um arruamento de maior extensão passou este homenageado a deter uma Avenida também na freguesia do Lumiar e a Rua passou a denominar-se Rua da Quinta das Conchas, tudo conforme o Edital nº 56/2005 de 22 de julho de 2005.

A Quinta das Conchas – que hoje é um Parque – nasceu como uma estrutura agrícola concebida e desenvolvida em meados do século XVI por Afonso de Torres, sabendo-se que já em 1520 era um morgadio deste rico negociante de origem espanhola. Ao longo do tempo teve vários proprietários, dos quais se destacou no final do séc. XIX Francisco Mantero – que dá nome a uma Rua dos Olivais tal como seu filho, Mantero Belard, dá a uma Rua de Santa Clara -, após se ter tornado um dos grandes exploradores das roças de café de São Tomé na qual restaurou e ampliou a casa da Quinta dos Lilases, dando-lhe um carácter de mansão colonial e, em 1897, comprou a parte rústica da Quinta das Conchas, não sendo assim de estranhar que tenha mandado fazer um grande lago artificial,  com duas pequenas ilhas nas quais plantou palmeiras, em homenagem às ilhas de São Tomé e Príncipe.

Contudo, no século XX, a área desta Quinta foi mais utilizada pela então muito recente indústria cinematográfica, uma vez que  em 1920 foi nela fundada  a Caldevilla Film, que produziu por exemplo, Os Faroleiros e As Pupilas do Senhor Reitor e doze anos depois, em 1932, foi a vez da Tobis Portuguesa adquirir parte da Quinta para aí edificar os seus estúdios. Em 1966, os descendentes de Francisco Mantero transferiram para a Câmara Municipal de Lisboa a gestão da Quinta que recebeu obras de requalificação em 2005 que mereceram o Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura desse ano.

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do Parque Silva Porto

Freguesia de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Parque Silva Porto, conhecido como Mata de Benfica, foi a razão para nascer a Rua do Parque, no Bairro de Casas Económicas de Santa Cruz de Benfica, em 1957.

A Rua do Parque era a Rua A do plano de urbanização do Bairro de Casas Económicas de Santa Cruz de Benfica,  e foi atribuída pelo Edital municipal de 5 de agosto de 1957. Este topónimo resultou da proximidade ao Parque Silva Porto e por ser um arruamento principal do Bairro como se pode ler na Ata da Comissão Municipal de Toponímia de 22 de fevereiro de 1957: «(…) a Comissão emitiu o parecer de que em virtude do bairro se encontrar dividido em dois grupos, separados pelo Parque Silva Porto, que as ruas transversais do grupo à direita daquele Parque, sejam designados com números ímpares, a exemplo do que se tem feito para outros bairros de casas económicas; e que às quatro artérias principais, ou sejam as ruas um, e A, junto ao Parque, e ruas sete, e A, junto à Estrada Militar, se atribuam, respectivamente, os nomes de Rua das Garridas, Rua do Parque, Rua da Casquilha, e Rua da Várzea.»

Conhecido vulgarmente por Mata de Benfica, este espaço verde lisboeta foi inaugurado no dia 23 de julho de 1911, mas só em 1918 adquiriu a designação Parque Silva Porto, em homenagem ao pintor António Carvalho da Silva (Porto/1850-1893/Lisboa), que adoptara o apelido Porto como demonstração de amor à sua cidade natal. Neste Parque foi colocado um busto seu, da autoria de Costa Mota (Sobrinho), a que foi acrescentada uma palma em bronze em 1950, por ocasião do centenário do nascimento do artista, por iniciativa da Sociedade Nacional de Belas Artes.

Nos dias de hoje esta Rua do Parque liga a Rua das Garridas à Alameda Padre Álvaro Proença.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Pulido Garcia: dos jardins de Lisboa para o jardim com o seu nome

Freguesia de Belém
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Com a legenda «Responsável pelos Jardins de Lisboa/1904 – 1983», foi o engº agrónomo Pulido Garcia fixado como topónimo de um pequeno jardim  em Belém, situado junto à Avenida Ilha da Madeira,  no ano de 1985, dois anos após o falecimento do funcionário da autarquia, através do Edital municipal de 20 de agosto de 1985.

O Jardim Pulido Garcia homenageia José da Orta Cano Pulido Garcia (Serpa/21.11.1904 – 02.03.1983/Serpa), natural da freguesia de Salvador, no concelho de Serpa, filho de Domingos Pulido Garcia e de Mariana da Consolação Orta Cano Garcia.

Formado como engenheiro silvicultor e agrónomo foi trabalhar como funcionário da C.M.L., destacando-se na chefia da Repartição de Arborização e Jardinagem, em que foi o responsável pela instalação da maior parte dos espaços verdes da cidade, como o Parque Florestal de Monsanto ou o  Jardim do Castelo de São Jorge, este último com plano do engº agrónomo e arqº paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, em 1959.

Curiosamente, na sua terra natal – Serpa – existe também um Jardim com o seu nome, o Jardim Municipal Eng.º Pulido Garcia, o qual em  1975 teve uma grade  remodelação justamente estruturada por Pulido Garcia que se reformara em Lisboa e voltara para Serpa.

Freguesia de Belém
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Jardim dos Jacarandás da Expo 98

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Jardim dos Jacarandás nasceu com a Expo 98 e desde a publicação do Edital municipal de 16 de setembro de 2009 que este espaço verde de 2.500 metros quadrados que vai da Alameda dos Oceanos à Rua de Moscavide é parte integrante da freguesia lisboeta do Parque das Nações.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Jardim dos Jacarandás caracteriza-se por ser uma zona arborizada que com situações de desníveis, tradicionais em Lisboa, resolvidas com plantações e muros. Por outro lado, guarda na memória o nome popular de várias espécies de árvores dos géneros Jacarandá-da-Bahia, Jacarandá-do-pará, Jacandará-africano, sendo o Jacarandá-mimoso o mais comum e que em Lisboa é possível encontrar, por exemplo, no Parque Eduardo VII, no Largo do Carmo ou ainda nas Avenidas 5 de Outubro ou Dom Carlos I.

Ainda herança da Expo 98 existe também o Passeio dos Jacarandás, que liga a Rua de Moscavide ao Passeio dos Fenícios, assim integrando também os primeiros 102 topónimos oficializados pelo Edital municipal de 16 de setembro de 2009, a que se juntaram mais 60 oficializados pelo Edital municipal de 06/05/2015.

A realização da Expo 98, subordinada ao tema “Os oceanos: um património para o futuro”, implantou para o evento uma toponímia ligada aos oceanos, aos Descobrimentos Portugueses, aos aventureiros marítimos da literatura e banda desenhada mundial, a figuras de relevo para Portugal, a escritores portugueses ou obras de sua autoria e ainda alguns ligados à botânica, como este Jardim dos Jacarandás.

O topónimo Jacarandás também surge em Portugal numa Rua de Brejos de Azeitão e noutra em Albufeira.