José Régio e Vergilio Ferreira em Avenidas lisboetas

Vergílio Ferreira (ao centro) com Régio e o irmão Júlio, em Portalegre
(Foto: © CER)

Ambos escritores, ambos ensaístas, ambos professores do ensino liceal, estão  José Régio e Vergílio Ferreira de igual modo consagrados em Lisboa em Avenidas, dois homens que esgrimiram argumentos numa recíproca admiração e longa amizade que os ligava.

Em 1965, ano em que Régio foi um dos duzentos subscritores de uma declaração de solidariedade com a Direção da Sociedade Portuguesa de Escritores e o Júri do Grande Prémio que o atribuiu a Luandino Vieira, Vergílio Ferreira declarou «Régio é hoje o maior de todos nós» e em 1969, redigiu o artigo Na morte de Régio, mais tarde inserido no Espaço do Invisível II (1991).

Freguesia de Marvila

Quinze anos mais novo que José Régio, Vergílio António Ferreira (Gouveia – Melo/28.01.1916 – 01.03.1996/Lisboa) nasceu às 15 horas de uma sexta-feira, filho de António Augusto Ferreira e Josefa Ferreira, que emigraram deixando-o ao cuidado das tias. Já a Avenida lisboeta que homenageia o autor de Aparição resultou da aprovação por unanimidade em sessão de Câmara, cinco dias após o seu falecimento, de uma proposta de atribuição do seu nome a uma artéria da cidade, o que se concretizou através do Edital municipal de 24 de setembro de 1996 na Rua M 3 do Bairro do Armador, na freguesia de Marvila.

Vergílio Ferreira defendeu que «Toda a biografia é uma rede de sinais que apontam o vazio do que jamais poderemos saber. Mas é nesse vazio que falta que está a razão do que chegou até nós» e assim narramos que o seu primeiro romance se intitulava O caminho fica longe (1939), a que se seguiram Onde Tudo Foi Morrendo (1944) e Vagão J (1946). Em 1949, foi a vez do romance Mudança que faz a passagem do neorrealismo para o existencialismo. E a partir daí construiu uma obra literária onde pontuam romances, contos, diarística e ensaios, a interrogar o mistério da existência, o destino da humanidade, o lugar do Homem no Mundo, o absurdo da vida e da morte, a solidão e os problemas da condição humana, de que se salientam Manhã Submersa (1954), Aparição(1959), Cântico Final (1960), Alegria Breve (1965) Nítido Nulo (1971), Signo Sinal (1979), Para Sempre (1983), Uma Esplanada sobre o Mar (1987), Até ao Fim (1987), Em Nome da Terra (1990) ou Na Tua Face (1993).

Algumas das suas obras serviram de argumento para filmes como o de Manuel Guimarães a partir de Cântico Final (1974) ou  o de António Macedo a partir do conto «Encontro» (1978), bem como também o fez  Lauro António com a Manhã Submersa (1979), com o conto «Mãe Genoveva» (1983) para uma série da RTP, e ainda com as curtas Prefácio a Vergílio Ferreira (1975) e Vergílio Ferreira Numa Manhã Submersa (1979).

Licenciado em Filologia Clássica desde 1940, Vergílio Ferreira foi também o ensaísta que publicou Sobre o Humorismo de Eça de Queirós (1943), Da Fenomenologia a Sartre (1963) ou os 5 volumes Espaço do Invisível (1965, 1976,1977, 1987, 1998), para além de ter sido professor de Português e de Latim do ensino secundário em Faro, Bragança, Évora, Gouveia e, finalmente, a partir de 1959, no alfacinha Liceu Camões, tendo desde então fixado residência nesta cidade, no Bairro de Alvalade, com a sua mulher Regina Kasprzykowsky, professora polaca que se encontrava refugiada em Portugal da Guerra, com quem casara em 1946.

Vergílio Ferreira foi galardoado com o Prémio Camilo Castelo Branco (1960) por Aparição, o Prémio da Casa da Imprensa (1965) por Alegria Breve, a comenda de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1979), o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus (1981), o Prémio PEN Clube (1983) por Para Sempre bem como do Município de Lisboa, o Prémio do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários pelo conjunto da sua obra (1985), o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1987) por Até ao Fim, o francês Prémio Femina (1990) por Manhã Submersa,  o Prémio Europália (1991) pelo conjunto da sua obra, o Prémio Camões (1992), o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1994) por Na Tua Face, para além de ter sido eleito para a Academia Brasileira de Letras (1984) e para a Academia de Ciências de Lisboa (1992) e dar o seu nome à Biblioteca de Gouveia e aos Prémios Literários da Câmara Municipal de Gouveia e da Universidade de Évora.

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José Régio e a candidatura de Norton de Matos à presidência da República

A Comissão Distrital de Portalegre da candidatura de Norton de Matos, vendo-se Régio no centro
(Foto: © CER)

Professor efetivo no Liceu Mouzinho da Silveira de Portalegre desde 1930 e como tal arriscando a expulsão da profissão docente, José Régio participou na Comissão Concelhia do MUD-Movimento de Unidade Democrática de Portalegre desde 1945 e em 1949 foi também membro da Comissão Distrital de Portalegre da campanha de Norton de Matos à Presidência da República, general que apenas foi topónimo de uma Avenida de Lisboa após o 25 de Abril, com a publicação edital de toponímia de Lisboa de 30 de dezembro de 1974, o primeiro de toponímia após a revolução.

A extensa Avenida Norton de Matos passa por cinco freguesias – São Domingos de Benfica, Alvalade, Benfica, Carnide e Lumiar- e veio tomar o lugar de um topónimo então considerado ofensivo: a  Avenida Marechal Carmona. Esse mesmo Edital  nº 161/1974, de 30 de dezembro de 1974, operou mais quatro alterações toponímicas na cidade: a Avenida Vinte e Oito de Maio passou a ser a Avenida das Forças Armadas,  a Calçada de Santos tornou-se a Calçada Ribeiro dos Santos, a Rua General Sinel de Cordes ficou Rua Alves Redol, e a Estrada de Malpique converteu-se na Rua Dr. João Soares.  Após o 25 de Abril de 1974, a Câmara Municipal de Lisboa então gerida por uma Comissão Administrativa presidida pelo Eng.º Caldeira Rodrigues, mudou na toponímia da capital 5 topónimos, de acordo com o parecer da Comissão Municipal de Toponímia emitido na sua primeira reunião (em 15 de novembro de 1974), em que defendeu a «Necessidade de eliminação dos nomes afrontosos para a população, pela sua última ligação ao antigo regime».

José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos (Ponte de Lima/23.03.1867 – 03.01.1955/Ponte de Lima) foi um militar e político que  se candidatou às eleições presidenciais de 1949 reivindicando a liberdade de propaganda e uma melhor fiscalização dos votos, exigências que o regime de Salazar se recusou a satisfazer mas que lhe granjearam vastos apoios populares e da oposição ao Estado Novo.

Norton de Matos havia começado a sua carreira na administração colonial na Índia (1898) e, em missão diplomática, viajou por Macau e pela China, coincidindo o seu regresso a Portugal com a proclamação da República em 1910, novo regime que se dispôs a servir tendo então sido Chefe do Estado-Maior da 5ª divisão militar (1911) e Governador-Geral de Angola (1912-1915). Foi chamado ao Governo como Ministro das Colónias e da Guerra (1915) e nesta função criou o Corpo Expedicionário Português. Exilou-se em Londres no sidonismo.  Em 1919, foi Delegado de Portugal na Conferência da Paz, promovido a General por distinção e ainda, nomeado Alto Comissário da República em Angola, época em que fundou a cidade de Huambo e em 1920 recebeu no território os naturais da Póvoa do Varzim que não se quiseram naturalizar brasileiros para continuar na indústria piscatória.

Norton de Matos exerceu ainda funções de Embaixador de Portugal em Londres (1924-1926), cargo de que foi afastado aquando da instauração da Ditadura Militar. Em 1929 foi eleito Grão-Mestre da Maçonaria Portuguesa (até 1935) e deixou como obra publicada diversos títulos como A Província de Angola (1926), Memórias e Trabalhos da Minha Vida (1943-1946), Ensaio sobre Paiva Couceiro (1948) e A Nação Una (1953).

Norton de Matos com Bernardim Machado em 1917
(Foto: © Arquivo Municipal de Lisboa)

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A criação da Avenida Miguel Torga, que com Régio esteve na «Presença»

Freguesia de Campolide

Alunos da mesma Universidade de Coimbra, Régio e Torga foram elementos participativos da revista Presença, fundada nessa cidade em 1927 pelo primeiro, sendo ambos os poetas também topónimos de Avenidas lisboetas.

Em torno da Presença desenvolveu-se a segunda geração do Modernismo português, com a pretensão de prosseguir os ideais modernistas iniciados pela revista Orpheu, sem compromisso com correntes políticas ou religiosas e por uma arte livre e original. Aliás, se pegarmos em poemas emblemáticos de Pessoa, Régio e Miguel Torga –  «Lisbon Revisited» de Álvaro de Campos, «Cântico Negro» de José Régio  e «Livro de Horas» de Miguel Torga – podemos notar o tema comum do olhar relativo sobre a existência, da poesia que opõe a consciência individual à submissão coletiva, da reflexão sobre a condição humana quer pela negação dos sistemas predeterminados quer pela constatação da liberdade de escolha.

A Avenida Miguel Torga, com a legenda «Escritor/1907 – 1995», pelo Edital municipal de 19 de junho de 1995, consagrou no próprio ano do falecimento do escritor, na toponímia de Lisboa e na Freguesia de Campolide, Adolfo Correia da Rocha que escolheu Miguel Torga como pseudónimo, no ano de 1934, em homenagem a Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno a que uniu torga, uma planta da montanha que sobrevive com as usas raízes cravadas na rocha.

Adolfo Coelho da Rocha (São Martinho da Anta, Sabrosa, Trás-os-Montes/12.08.1907 – 17.01.1995/Coimbra), filho de Francisco Correia da Rocha e Maria da Conceição de Barros, que se fixou em Coimbra com consultório médico mas que ficou mais na memória dos portugueses pelos livros que escreveu, estudou na Faculdade de Medicina de Coimbra a partir de 1928, o mesmo ano em que publicou o seu primeiro livro, de poesia, Ansiedade. No ano seguinte, começou a colaborar na Presença, com o poema «Altitudes» mas em 1930 rompeu com a revista modernista e assumiu uma posição independente.  Em 1932, com Branquinho da Fonseca, funda a revista Sinal, e com Albano Nogueira, o periódico Manifesto, em 1936.

A sua vasta obra, de mais de cinquenta livros ao longo de seis décadas, inclui títulos de que se destacam na poesia como Rampa (1930), Abismo (1931), O Outro Livro de Job (1936), Cântico do Homem (1950),  Orfeu Rebelde (1958), Poemas Ibéricos (1965),e na ficção Pão Ázimo (1931), as colectâneas Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), Novos Contos da Montanha (1944), o romance Vindima (1945), a  série de 5 volumes do romance autobiográfico A Criação do Mundo –  começada em 1937 – e os 16 volumes do seu Diário, cujo primeiro foi publicado em 1941, para além do teatro de Terra Firme (1941) e Mar (que acabou por refundir numa peça só) ou Sinfonia (1947) e O Paraíso (1949). Por isto, Miguel Torga foi agraciado, entre outros galardões, com o Prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Camões (1989) , o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e várias vezes foi o indicado para Prémio Nobel da Literatura.

Em 1917, com dez anos, no Porto, servia de porteiro e moço de recados numa casa apalaçada mas foi despedido um ano passado por constante insubmissão e foi então enviado para o Seminário de Lamego, onde estudou português, latim, geografia e história. Em 1920, com treze anos, emigrou para o Brasil para trabalhar na fazenda do tio, em Minas Gerais, mas passados quatro anos o tio coloca-o a estudar no Ginásio Leopoldinense, onde se distingue. Depois, o  o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal e a concluir os estudos liceais para vir a ser doutor em Coimbra, o que concretizou em 1933.

Como médico começou por exercer a profissão em terras transmontanas, em São Martinho da Anta, logo em 1933, para no ano seguinte se mudar para Vila Nova do concelho de Miranda do Corvo. Depois, já como otorrinolaringologista, vai estabelecer-se em Leiria, de 1939 a 1942, antes de se fixar em definitivo em Coimbra, com consultório no Largo da Portagem.

Na sua vida pessoal, casou-se com Andrée Crabbé em 27 de julho de 1940, que conhecera na casa de Vitorino Nemésio de Coimbra, de quem teve uma filha em 1955, Clara Rocha. Era  avesso à agitação e manteve-se sempre distante de movimentos políticos e literários, embora em 1979 tenha surgido a apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República.

O último poema de Torga publicado na Presença – Remendo – no nº 23, de dezembro de 1929                                                  (Imagem: © CER)

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Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro na tese de licenciatura de Régio e na toponímia de Lisboa

A Avenida Fernando Pessoa na Freguesia do Parque das Nações

José Régio licenciou-se em Filologia Românica,  na Faculdade de Letras de Coimbra, em 1925, com a tese intitulada As correntes e as individualidades na Moderna Poesia Portuguesa, o primeiro trabalho que faz a apologia dos poetas da revista Orpheu, sobretudo dos seus fundadores, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro que também se encontram na memória das ruas lisboetas, sendo a tese  regiana inovadora a ponto de nela apresentar Fernando Pessoa como nome cimeiro da poesia contemporânea, quando este autor ainda não possuía nenhuma edição em livro mas apenas poemas publicados em publicações periódicas.

Tanto Fernando Pessoa como Mário de Sá Carneiro passaram a ser nome de rua em Alvalade pelo mesmo Edital municipal de 19 de julho de 1948, junto com mais escritores nas restantes artérias do Bairro. Pessoa passou a ser também topónimo de uma Avenida do Parque das Nações no ano de 2009.

As Ruas Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro na Freguesia de Alvalade

Mário de Sá Carneiro planeou com Fernando Pessoa o lançamento da Orpheu, com financiamento «involuntário» do seu pai, como ele próprio dizia e, esta revista foi a base para o nascimento do primeiro grupo modernista português. Os poemas de Mário Sá Carneiro no nº 1 da Orpheu deram logo brado e viriam a constituir a obra Indícios de Ouro. Mário de Sá Carneiro (Lisboa/19.05.1890 – 26.04.1916/Paris), nascido no 1º andar do nº 93/95 da Rua da Conceição, foi um poeta e contista que apesar de matriculado em Direito – em Coimbra e em Paris, na Sorbonne-, sempre preferiu a literatura. Conheceu Fernando Pessoa em 1912 e nesse mesmo ano publicou pela 1ª vez , a peça Amizade (em colaboração com Tomás Cabreira Júnior, seu colega do Liceu Camões), bem como as novelas Princípio. Entre 1913 e 1914 vinha de Paris a Lisboa com uma certa regularidade e deu ainda a lume Memórias de Paris (1913),  A Confissão de Lúcio (1914), o volume de poesia Dispersão (1914) e  as novelas Céu em Fogo (1915).  Nas cartas que escreveu  de Paris a Pessoa manifestou uma crescente angústia e, em 1915, informou-o de que o seu pai já não dispunha do dinheiro de outrora e já não poderia «involuntariamente» financiar o nº 3 da Orpheu. Depois, a menos de um mês de completar 26 anos, suicidou-se com veneno, num hotel parisiense de Montmartre.

A Rua nº 11 do Sítio de Alvalade foi a primeira a receber o nome do poeta Fernando Pessoa mas como na realização da Expo 98 o nome de Fernando Pessoas também designou uma Avenida do evento, mais tarde, pelo Edital de 2 de setembro de 2009, a Câmara Municipal de Lisboa oficializou esta e mais outros 102 arruamentos do Parque das Nações cujos topónimos tinham a mesma génese.

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa/13.06.1888 – 30.11.1935/Lisboa), nascido no 4º andar direito do nº 4 do Largo de São Carlos, pode ser biografado brevemente como o poeta português dos heterónimos – Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e o semi-heterónimo Bernardo Soares – , que em vida foi galardoado com o Prémio Antero de Quental pela Mensagem (1934), o seu único livro publicado em vida. De 1903 a 1909, Pessoa escrevera poemas em inglês e em dezembro de 1904, publicou um ensaio literário sobre Macauly na revista da Durban High School. Em 1912, começou a colaborar com as revistas  A Águia e a Renascença Portuguesa, sendo nesta última que em 1913 publicou o seu primeiro poema em língua portuguesa, «Pauis», o qual marca o início do modernismo nas letras portuguesas. E depois, para além da revista Orpheu, também colaborou nas revistas Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922-1926) e Atena (1924-1925). Fernando Pessoa deixou  inédita a maioria da sua obra literária, que tem vindo a ser editada paulatinamente desde 1942, uma vez que deixou de espólio mais de 25 mil folhas com texto, à guarda da Biblioteca Nacional de Portugal.

A Rua Fernando Pessoa em 1955
(Foto: Claudino Madeira, Arquivo Municipal de Lisboa)

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A polémica de José Régio e Álvaro Cunhal na Seara Nova e três topónimos lisboetas

Freguesia do Lumiar

José Régio e  Álvaro Cunhal, ambos guardados na memória de avenidas topónimos lisboetas, foram os protagonistas de uma famosa polémica ocorrida em 1939 nas páginas da  Seara Nova, revista que é também nome de rua alfacinha.

Nas páginas dos nºs. 608, 609, 611, 615 e 619 da revista Seara Nova,  entre abril e junho de 1939, foram trocados argumentos entre Álvaro Cunhal e José Régio, constituindo-se como a polémica da visão neorrealista versus a visão presencista, entre intervenção social na arte e subjetivismo, em que o estava em causa era fundamentalmente a relação da arte com a vida. Todos os artigos discorrem numa perspetiva de são espírito de polémica e de respeito mútuo. Se o neorrealismo mostrava as questões sociais ou outras que marcavam o tempo a acontecer, o presencismo defendia a arte como um fim em si mesmo, uma revelação íntima do seu autor.

José Régio, então com 38 anos, publicou Cartas Intemporais do nosso Tempo, tendo as três primeiras o subtítulo comum de A um Moço Camarada, sobre Qualquer Possível Influência do Romance Brasileiro na Literatura Portuguesa, dirigindo-se assim ao então jovem Álvaro Cunhal, com 25 anos. José Régio defendia a autonomia da obra de arte contra o que chamava a sua instrumentalização ideológica feita por alguns jovens seareiros, com  uma visão algo neorromântica da criação artística muito centrada na individualidade do criador, no isolamento do poeta na sua torre de marfim, como então se dizia.

Álvaro Cunhal intitulou a sua primeira réplica como Numa encruzilhada dos homens – alusão ao título  de Régio Numa encruzilhada de Deus, acabado de publicar-, defendendo um compromisso social da arte e da literatura. A passagem dos anos trinta para os quarenta mostrara o fascismo alemão na guerra que incendiará a Europa, a Espanha saída duma guerra civil onde o fascismo de Franco impôs a lei da morte, a Itália de Mussolini, o aumento da repressão em Portugal. Contudo, Cunhal ressalvou a importância do movimento da Presença na sua rotura com o passado academizante e contra a mediocridade existente na literatura portuguesa de então.

A Avenida Álvaro Cunhal foi atribuída por Edital municipal de 6 de outubro de 2005, na que era a Avenida Avenida 1 do Plano de Urbanização no Alto do Lumiar, na Freguesia do Lumiar, na sequência da moção de pesar dos Vereadores do PCP aprovada na reunião de Câmara de 22 de junho de 2005, para homenagear Álvaro Barreirinhas Cunhal (Coimbra/10.11.1913 – 13.06.2005/Lisboa), político que foi Secretário-Geral do Partido Comunista Português mas que teve também uma intervenção cultural no seu tempo, quer como romancista sob o pseudónimo de Manuel Tiago, quer como desenhador, para além de toda a sua reflexão teórica sobre as artes plásticas, a estética e a criação cultural.

Dez anos depois, em 2015, foi a vez da atribuição da Rua Seara Nova, através do Edital municipal de 25 de novembro de 2015. Esta revista fundada em Lisboa, em 1921, por figuras do então denominado Grupo da Biblioteca Nacional, como Raúl ProençaJaime CortesãoAquilino Ribeiro, Câmara Reis, António Tomás Conceição Silva, Faria de Vasconcelos e outros, teve o seu 1º número saído para a rua no dia 15 de outubro de 1921, com capa do pintor Tomás Leal da Câmara. A partir dessa data atravessou  todo o século XX influenciando gerações sucessivas.

Freguesia de Santo António

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A Avenida da Liberdade do «Diário de Notícias» que premiou Régio em 1961

Em 1940
(Foto: Estúdio Mário Novais, Arquivo Municipal de Lisboa)

Desde 1940 na Avenida da Liberdade, num edifício traçado para o efeito por Pardal Monteiro, o jornal Diário de Notícias, fundado em 1864 no Bairro Alto, na então Rua dos Calafates que vinte e um anos depois passou a ser a Rua Diário de Notícias, atribuiu em 1961 a José Régio  o seu Prémio anual, no valor de 30 mil escudos (seriam hoje cerca de 150 euros).

A decisão do Prémio Anual DN 1961 agraciar José Régio foi tomada por maioria de um júri presidido pelo Dr. Augusto de Castro (diretor do jornal), em conjunto com o Prof. Jacinto do Prado Coelho em representação do Ministério da Educação, o Dr. Ramiro Valadão em representação do SNI – Secretariado Nacional de Informação, Alves Redol pela Sociedade Portuguesa de Escritores, Luís de Oliveira Guimarães pela Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, Martinho Simões pelo Sindicato dos Jornalistas e ainda, António Quadros, o Prof. Delfim Santos, Luís Forjaz Trigueiros e Luís Teixeira.

A Avenida da Liberdade que hoje integra administrativamente o territórios das freguesia de Santa Maria Maior e de Santo António nasceu por iniciativa municipal e do sonho do então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, José Gregório Rosa Araújo,  de querer para a sua cidade natal  um arruamento semelhante a um  boulevard parisiense, pelo que também ele está homenageado perto dela com a Rua Rosa Araújo.

Aberta e rasgada através de expropriações e demolições, a Avenida da Liberdade marca a primeira fase do plano de extensão de Lisboa:  o crescimento urbano para norte, delineado no último quartel do XIX. O seu traçado foi aprovado entre 1877 e 1879 pela Câmara Municipal de Lisboa, retomando propostas urbanísticas anteriores que conceberam a Avenida como prolongamento do Passeio Público, limitada na futura Rotunda do Marquês de Pombal. A Avenida da Liberdade foi  também o topónimo que tomou o lugar do Passeio Público e das Ruas Oriental e Ocidental do Passeio por deliberação camarária de 18 de agosto de 1879.

Com 90 metros de largura e 1273 de comprimento, a Avenida da Liberdade foi inaugurada em 1886, no mesmo ano em que as ruas Barata Salgueiro Castilho foram calcetadas e iluminadas e, no dia 25 de maio desse ano foi o palco de um grande desfile com Infantaria e Cavalaria, para o então futuro rei D. Carlos mostrar à sua noiva no dia do casamento.

(Imagem: © CERcarregue na imagem se quiser ver em tamanho maior)

 

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A lisboeta Avenida José Régio de não sei por onde vou

Capa do primeiro livro de José Régio, publicado em 1926
(Imagem: © CER)

José Régio, o escritor vilacondense que a maioria reconhece como autor do poema «Cântico Negro», inserido em Poemas de Deus e do Diabo, edição com que em 1926 se iniciou na literatura, esteve desde 1971 para ser topónimo de Lisboa mas tal só se concretizou em 1997 com a Avenida José Régio atribuída no arruamento projectado entre a Avenida Dom Rodrigo da Cunha e a Avenida Dr. Arlindo Vicente, pelo Edital municipal de 7 de agosto de 1997.

Antes de se completarem dois anos da morte de José Régio, a Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa na sua reunião de 5 de março de 1971, ao escolher topónimos para a Quinta do Morgado foi de parecer que a Rua A, incluindo o Impasse A 5, se denominasse Rua José Régio e levasse como legenda «Poeta/1901 – 1969». Todavia, cerca de quinze dias passados, na reunião seguinte da Comissão de Toponímia – em 19 de março de 1971- , o arruamento designado passou a servir para concretizar a Rua Vice-Almirante Augusto de Castro Guedes dado que o então Presidente da CML,  Engº Santos e Castro, solicitou  «indicação de arruamentos condignos para perpetuar os nomes de José Régio e Doutor João de Barros», tendo a Comissão considerado «a dificuldade de encontrar arruamentos condignos» e sugerido a Rua O da Malha I de Chelas para executar uma Avenida José Régio.

Contudo, só na reunião da Comissão de Toponímia de 9 de maio de 1997 voltamos a encontrar José Régio como prioritário na lista dos nomes em carteira, recebendo parecer favorável na reunião de 20 de junho de 1997 da Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa, nascendo assim pelo Edital municipal de 7 de agosto de 1997 a Avenida José Régio, com a legenda «Escritor/1901 – 1969», que mereceu cerimónia de inauguração em 12 de setembro desse mesmo ano, mês de aniversário de nascimento do homenageado.

Freguesias de Alvalade e de Marvila

José Régio foi o pseudónimo escolhido por José Maria dos Reis Pereira, nascido em Vila do Conde a 17 de setembro de 1901, cidade onde também veio a falecer em 22 de dezembro de 1969.

Em Vila do Conde, viveu a infância e adolescência e após concluir o 3.º ciclo do curso liceal no Porto, seguiu para a Faculdade de Letras de Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica, em 1925, com a tese intitulada As correntes e as individualidades na Moderna Poesia Portuguesa, o primeiro trabalho que faz a apologia dos poetas da revista Orpheu. Será também em Coimbra que em março de 1927, vai fundar com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca a revista Presença, que durou treze anos e foi considerada o órgão do Segundo Modernismo. Já antes, nessa mesma década de vinte, colaborara nas revistas portuenses Crisálida e A Nossa Revista, assim como nas coimbrãs Bizâncio e Tríptico.

E no ano seguinte à conclusão da licenciatura, em 1926, publicou o seu primeiro livro: Poemas de Deus e do Diabo, com capa do seu irmão Júlio. Mas além da criação literária nas vertentes da poesia, ficção, dramaturgia, ensaio e memórias, ainda organizou antologias, somando mais de trinta obras publicadas, e manteve colaboração em jornais e revistas como crítico e polemista, nomeadamente na Seara Nova.

Em paralelo com a sua vida literária, Régio fez também uma carreira docente, em que após uma experiência como professor provisório no Liceu Alexandre Herculano do Porto, foi nomeado professor efetivo no Liceu Mouzinho da Silveira de Portalegre, onde permaneceu desde 1930 até se reformar, em 1962.

Como cidadão, também se envolveu politicamente sempre que considerou que as situações da vida nacional o justificavam, mostrando-se firme e frontal nos seus ideais socialistas. E para além do seu gosto pelo desenho, também frequentava tertúlias de cafés e mantinha intensa comunicação com os meios literários por via epistolar, sendo ainda de destacar a sua vertente de colecionador de peças antigas de arte sacra e popular, que acumulou nas suas casas de Portalegre e de Vila do Conde, hoje transformadas em casas-museu.

Para além de Lisboa, José Régio é também o topónimo de Avenidas em Vila do Conde e Massamá-Queluz. Em Ruas aparece por todo o país com quatro em Vila do Conde, duas em Portalegre ( Ponte de Sor e Foros de Arão) e na Trofa, para além de Abrantes, Águas Santas, Alcabideche, Alcochete, Alhos Vedros, Amadora, Amora, Arrifana, Azeitão, Beja, Braga, Bragança, Carcavelos, Charneca da Caparica, Coimbra, Corroios, Entroncamento, Ermesinde, Évora, Esposende, Fafe, Famões, Fernão Ferro, Fiães, Guimarães, Maia, Mangualde, Marvão, Mem Martins, Moita, Monte Abraão-Queluz, Montemor-o-Novo, Odivelas, Oeiras, Oliveira do Hospital, Palmela, Pinhal Novo, Póvoa de Santa Iria, Póvoa de Varzim, Quinta do Anjo, Ramada-Odivelas, Rio Tinto, Santo Antão do Tojal, Santo António dos Cavaleiros, São Domingos de Rana, São João da Madeira, Seixal , Unhos, Valbom-Gondomar, Vialonga, Vila Chã de Ourique e Vila Nova de Famalicão. Pracetas surgem em Alverca do Ribatejo, Baixa da Banheira, Bobadela, Borba, Carcavelos, Carnaxide, Damaia-Amadora, Massamá-Queluz, Odivelas, Porto, Rio de Mouro, Setúbal e Vila Nova de Gaia. Travessas aparecem em Vila do Conde, Albufeira, Carcavelos, Gandra e Trofa. Existem ainda com o nome de Régio Praças em Vila do Conde, Matosinhos e Ovar, um Impasse em Agualva-Cacém, um Largo na Parede e uma Via em Vila do Conde.

Manuscrito de Régio. A 1ª página de «Cântico Negro»
(Imagem: © CER)

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A Avenida Ribeira das Naus acolhe a Festa da Diversidade nas Festas de Lisboa’19

A construção da Avenida da Ribeira das Naus, cerca de 1953
(Foto: Judah Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

No próximo sábado, dia 29 de junho, a partir das 16 horas, no âmbito das Festas de Lisboa’19, a Avenida da Ribeira das Naus vai acolher a Festa da Diversidade que neste 2019 celebra os seus 20 anos, e se estende para o domingo.

Organizada  pela associação SOS Racismo a Festa da Diversidade procura trazer para o espaço público o trabalho de muitas associações e artistas da periferia ou sem a visibilidade que merecem, procurando ultrapassar qualquer tipo de discriminação, de preconceito, de racismo, xenofobia, homofobia e machismo, pelo que vai receber o final da Marcha LGBT, ao mesmo tempo que neste espaço público lisboeta acolhe vários saberes, sabores e sons do mundo, com dignidade, respeito e igualdade, contribuindo para o diálogo intercultural.

A Avenida da Ribeira das Naus, tal como a paralela Rua do Arsenal, partilham a mesma origem: o Arsenal da Marinha, descendente das tercenas de D. Manuel I. Foi sobre a doca seca do Arsenal da Marinha, atulhada em 1939, que se construiu a Avenida da Ribeira das Naus, topónimo que foi atribuído pelo Edital municipal de 22 de junho de 1948 e no final desse mesmo ano, em 29 de dezembro, a edilidade lisboeta colocou nesta Avenida uma lápide onde se podia ler «Neste local construíram-se as naus que descobriram novas terras e novos mares e levaram a todo o mundo o nome de Portugal».

A Ribeira de Lisboa era a zona marginal do Tejo, entre a Praça do Município e a Igreja da Conceição Velha, até com D. Manuel I ser o local das tercenas onde se construíam os navios necessários, a ponto de o rei  ter mandado construir o seu Paço mesmo ao lado para melhor verificar esses trabalhos. O terramoto de 1755 destruiu esse importante complexo naval mas a sua reconstrução iniciou-se logo em 1759, sob o traçado de Eugénio dos Santos.  Por isso o local foi conhecido como Ribeira das Naus, nome extensivo ao Arsenal da Ribeira das Naus (depois  Arsenal Real da Marinha e a partir de 1910, apenas Arsenal da Marinha). Em 1936, o Arsenal começou a ser transferido para as instalações navais do Alfeite e terminou a sua laboração em 1939, altura em que se começou a construir a Avenida da Ribeira das Naus.

Refira-se que no mesmo ano de 1948, pelo Edital municipal de 29 de Abril, cerca de dois meses antes do que consagrou a Avenida da Ribeira da Naus, foram atribuídos em Belém, onde em 1940 havia decorrido a Exposição do Mundo Português, mais topónimos evocativos do antigo Império Português, a saber, a Praça do Império, a Avenida da Índia, as Praças de Goa, de Damão e de Dio, a Rua Soldados da Índia, assim como topónimos que recordavam  figuras ligadas à Expansão Portuguesa, como navegadores – Avenida Dom Vasco da Gama, Rua Dom Cristóvão da Gama, Rua Dom Jerónimo Osório, Rua Fernão Mendes Pinto -, representantes das autoridades de Portugal – Rua Dom Lourenço de Almeida, Rua Tristão da Cunha – , historiadores da época – Rua Damião de Góis, Rua Fernão Lopes de Castanheda -, bem como cientistas – Rua Duarte Pacheco Pereira – e missionários – Rua São Francisco Xavier – e o próprio rei dessa época do Império Português com a Praça Dom Manuel I.

Freguesia de Santa Maria Maior e Misericórdia

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A Avenida sonhada por Rosa Araújo e as Marchas Populares criadas por Leitão de Barros

Freguesias de Santo António e de Santa Maria Maior

A Avenida da Liberdade, o sonho de Rosa Araújo dotar Lisboa com um boulevard parisiense, concretizado no último quartel do séc. XIX, veio a ser palco do desfile das Marchas Populares a partir de 1934, evento criado por Leitão Barros  dois anos antes no Parque Mayer.

José Gregório Rosa Araújo (Lisboa/1840-1893/Lisboa), enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa defendia a abertura na cidade de uma grande Avenida ao estilo parisiense e concretizou esse sonho entre 1879 e 1886, destruindo o famoso Passeio Público, elegante jardim fechado, tomando o topónimo Avenida da Liberdade o lugar do Passeio Público e das Ruas Oriental e Ocidental do Passeio, por deliberação camarária de 18 de agosto de 1879. Na Câmara a escolha desta opção foi renhida mas as obras de demolição começaram no dia 24 de julho de 1879 e nos últimos dias de 1882 as grades do Passeio Público começaram a ser arrancadas. O traçado desta Avenida da Liberdade, aprovado entre 1877 e 1879 pela Câmara Municipal de Lisboa, retomou propostas urbanísticas anteriores que conceberam a Avenida como prolongamento do Passeio Público, mas com limite na futura Rotunda do Marquês de Pombal.

Com 90 metros de largura e 1273 de comprimento, a Avenida da Liberdade foi inaugurada em 1886, no mesmo ano em que as ruas Barata Salgueiro e Castilho foram calcetadas e iluminadas e, no dia 25 de maio desse ano foi ela o palco de um grande desfile com Infantaria e Cavalaria que o futuro rei D. Carlos quis mostrar à sua noiva no dia do casamento.

No princípio do séc. XX, este novo boulevard que herdara algumas árvores e estatuária do Passeio Público, era já palco de passeios de domingo da burguesia lisboeta e a área escolhida para edifícios de prestigiados arquitetos. Em 1922, instalou-se o Hotel Tivoli, traçado por Norte Júnior e, dois anos depois foi a vez do Cinema Tivoli, de Raúl Lino. Em 1 de julho de 1936, inaugurou-se o Hotel Vitória, da autoria de Cassiano Branco, o arquiteto do Éden Teatro. Quatro anos mais tarde, em 24 de setembro de 1940, foi o jornal Diário de Notícias que se mudou das suas instalações do Bairro Alto para o alto da Avenida da Liberdade, sob um traçado do Arqº Pardal Monteiro.

Em 1932

Em 1932, Leitão de Barros, o «pai das marchas populares», criou esse novo evento em forma de concurso e publicitou-o no jornal que dirigia, o Notícias Ilustrado. Nesse ano, apenas os núcleos bairristas ( ou ranchos, como então eram designados) do Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique desfilaram no Capitólio, no Parque Mayer. Campo de Ourique, com os seus trajes minhotos, foi o vencedor desta 1ª edição. A Marcha do Alto do Pina obteve o  prémio da categoria Pitoresco e a Marcha do Bairro Alto ganhou o prémio Alegria. As Marchas Populares foram a resposta de Leitão de Barros ao desafio de Campos Figueira de Gouveia ( diretor do Parque Mayer), de garantir  um espetáculo capaz de mobilizar a atenção dos lisboetas.

Em 1934, assim como no ano seguinte, o olisipógrafo e então vereador Luís Pastor de Macedo era o responsável pelas Festas da Cidade na autarquia lisboeta e participaram então 12  bairros e 800 marchantes, cada um com a sua marcha inspirada num costume local ou característica do seu bairro. Ao desfile das Marchas Populares desde a Praça do Comércio até ao Parque Eduardo VII, já assistiram 300 mil pessoas. No ano seguinte, em 1935, já estava criada uma Comissão Executiva das Festas de Lisboa e pela primeira vez  todas as marchas cantaram uma composição comum – a Grande Marcha de Lisboa -, sendo a primeira Lá Vai Lisboa, de Raúl Ferrão e Norberto de Araújo, tendo-se sagrado vencedora a Marcha de Benfica, para além da Madragoa ter apresentado uma Marcha Infantil.

Depois, a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial, acabaram por forçar a algum interregno, à excepção apenas de 1940 – com a celebração dos Centenários da Independência- assim como de  1947, com a comemoração do 8.º Centenário da Conquista de Lisboa aos Mouros. As Marchas Populares regressaram em 1950 e o olisipógrafo e jornalista Norberto de Araújo voltou a participar na organização das mesmas assinando a letra da Grande Marcha desse ano, interpretada por Amália Rodrigues, A Noite de Santo António, com música de Raúl Ferrão. O evento começou também a ter a assistência de altos dirigentes do Estado e a ser apadrinhado por vedetas da rádio e do teatro, para cada marcha. Em 1952, o percurso do desfile passa a ser o que temos hoje:  da Praça Marquês de Pombal à Praça dos Restauradores. Voltou a instabilidade na realização do evento e o desfile da Marchas só ocorreu sem interrupções de 1963 a 1970, sendo nesse último ano que a  a televisão começou a transmitir o evento. São também deste período o aparecimento dos carros alegóricos (1965) e das «mascotes» – crianças que acompanham a marcha vestidas como os marchantes – (1969), assim como a primeira vez da Marcha Infantil da Voz do Operário (1966) que depois só voltou a partir de 1990. As Marchas Populares tornaram-se  uma iniciativa em declínio na década de setenta e  após o 25 de Abril até se interromperam para voltarem depois em 1979, para novas intermitências até voltarem de forma regular a partir de 1988.

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As Ruas do Arraial do Centieirense

Freguesia do Parque das Nações

A Rua da Centieira e a Avenida de Pádua vão ser o palco do Arraial Popular promovido pelo Grupo Recreativo Centieirense e a Junta de Freguesia do Parque das Nações, no local em que ambas as artérias se encontram.

O Grupo Recreativo Centieirense está sediada na Rua da Centieira nº 88 e foi constituído enquanto associação recreativa em 9 de outubro de 1975.

Freguesia do Parque das Nações

A Rua da Centieira é um topónimo que deve derivar da Quinta da Centieira que ali existiu, tal como havia uma Estrada da Centieira junto a esta quinta e à Quinta Ché, conforme surge na planta topográfica de Lisboa de Silva Pinto, de 1907. A Rua da Centieira é a parte da Estrada da Centieira que sobreviveu enquanto arruamento.

Nessa planta de 1907 podemos ver que outros topónimos desta zona eram a Estrada do Patacão, a Rua do Vale Formoso de Cima, a Quinta dos Paios -que era propriedade de Henrique Bastos-, a Quinta do Brincão, a Quinta do Desterro, a Quinta Nova, a Rua Direita dos Olivais, a Azinhaga do Casal das Rolas, a Rua do Vale Formoso de Baixo, o Casal das Rolas, a Azinhaga dos Manicotes, a Quinta dos Manicotes, a Quinta dos Ingleses e a Quinta do Vale Formoso de Baixo, delineando assim o carácter rural do local.

Por diversas escrituras municipais sabemos também que entre 1906 e 1917 se procedeu ao alargamento da Centieira fosse ela ainda Estrada ou já designada Rua, tendo cedido terrenos para esse efeito Henrique Bastos. Em 1932, para alargamento da Rua da Centieira, também cederam terrenos à Câmara José Lopes Júnior – da sua Quinta Ché – e Albino Marques e sua mulher. E depois, nos anos cinquenta, percebemos a industrialização do arruamento com venda de terreno à UTIC – União de Transportadores para Importação e Comércio (1953) e à SACOR – Sociedade Anónima de Combustíveis e Óleos Refinados (1958) que estava na zona de Cabo Ruivo desde 1940, ao mesmo tempo que a edilidade – em 1956 – comprava prédios e o Pátio Joaquim Pereira a Joaquim Pereira Junior  e a Maria das Dores Pereira.

Segundo José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, centieira é topónimo de diversos locais em Portugal e deriva de uma ave denominada centieiro, que é também nome de uma localidade no Bombarral.

Já a Avenida de Pádua foi atribuída pelo Edital  municipal de 10 de novembro de 1966 no arruamento de acesso ao Cemitério dos Olivais, também conhecido como Rua E, mas desconhecem-se as razões dessa escolha. A única Ata da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia que menciona o assunto é a de 7 de novembro de 1966, na qual apenas se expressa o seguinte : « Processos números 13184/65, 13852/65, 14032/65 e 14052/65, originados por requerimentos de Sociedade Lorilleux-Lefranc [ empresa produtora de tintas para processos gráficos, vernizes e secantes, sediada no lote 67 desse arruamento]e outros, solicitando que seja atribuída denominação definitiva ao arruamento de acesso ao Cemitério dos Olivais. A Comissão foi de parecer que à referida artéria seja atribuído o nome de Avenida de Pádua.»

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