Rua Eduardo Bairrada

Rua Eduardo Bairrada, topónimo atribuído por Edital 29 de Fevereiro de 1988 a um arruamento da freguesia da Ajuda

Eduardo Martins Bairrada (1930 – 1987), arquitecto da Câmara Municipal de Lisboa, ilustrador, e olisipógrafo. Membro do Grupo de Amigos do Museu de Marinha, do qual foi secretário da direcção. Membro da Academia de Marinha e da Academia Nacional de Belas Artes, onde ocupou a cadeira nº 14, que já fora de Gustavo de Matos Sequeira. Foi director do Gabinete de Estudos Olisiponenses, quando este serviço ganhou autonomia do Museu da Cidade (hoje Museu de Lisboa). Dividiu a sua actividade profissional entre os projectos de arquitectura, e a ilustração. Como arquitecto da Câmara colaborou com diversos artistas, especialmente com os irmãos Leopoldo e Domingos Soares Branco, no enquadramento de várias esculturas, como, por exemplo, no Monumento a Gago Coutinho e Sacadura Cabral, junto à Torre de Belém, o monumento ao professor Santos Andrea, na praça com o mesmo nome, e no monumento a Sá Carneiro, na antiga praça do Areeiro. Fez o projecto arquitectónico do Pátio Alfacinha, na Ajuda. Desenhou a Medalha de Mérito da Academia Nacional de Belas Artes e colaborou na ilustração do livro de Beatriz Berrini Eça de Queiroz. Palavra e imagem. Nos anos 80 publicou diversos estudos: Arquitecto Rosendo Carvalheira; um filho adoptivo de Alexandre Herculano (1981); A Academia de Belas Artes no cinquentenário da sua fundação (1983); Antecedentes da Academia Nacional de Belas Artes no prémio Valmor de arquitectura da cidade de Lisboa (1984); Prémios Valmor: 1902-1952 (publicado em 1988), entre outros.

Mas o seu grande contributo para o estudo e conhecimento do património de Lisboa, seria a sua obra Empedrados Artísticos: a arte da calçada-mosaico, patrocinada pela Câmara Municipal, e editada em 1985. Observador atento, Bairrada dedicou anos a recolher informação sobre a calçada portuguesa, procurando colmatar o que ele considerou ser uma falha nos estudos patrimoniais. A obra, que é ainda hoje uma referência para o conhecimento desta arte portuguesa, apresenta um levantamento feito à época de quase todos os empedrados artísticos da cidade, através das fotografias de Karin Monteiro e de Manuel Cabral, e de desenhos do próprio Bairrada. Na primeira parte do livro faz a história do uso da pedra no pavimento de ruas desde D. Manuel I até ao século XIX, destacando a importância do tenente general Eusébio Pinheiro Furtado que pela primeira vez a utilizou no Castelo de S. Jorge. Traça um estudo sobre a arte e técnica de calcetar e um panorama da evolução do calcetamento artístico nas praças e largos da cidade, bem com a sua divulgação para os passeios e entradas de residências e negócios, estudando as diferenças da utilização da pedra no espaço interior e no exterior. Refere-se também aos custos associados a esta arte e às resistências encontradas na sua utilização. Pormenoriza ainda as questões de linguagem associadas ao trabalho de calceteiro e as assinaturas utilizadas por estes profissionais para a identificação da sua obra. O levantamento, propriamente dito está organizado através de 15 itinerários por ele traçados, e pacientemente percorridos, como ele próprio afirmou, nos seus percursos diários entre a casa e o trabalho. Este inventário, como já referido, é feito através de fotografia e de alguns desenhos, acompanhados de uma pequena legenda. No final da obra Bairrada organizou os índices por motivos decorativos (que ele desenha), glossário, moradas e freguesias, permitindo uma rápida localização de cada exemplar.

Não estamos, portanto, na presença de um olisipógrafo “generalista”, isto é, a sua obra não é dedicada a uma história da cidade mas a um aspecto do seu património o qual até então não tinha merecido a devida atenção quer por parte dos investigadores, quer por parte do público. A acção de Eduardo Martins Bairrada na defesa da calçada portuguesa fez-se sentir ainda na sua insistência na criação de uma Escola de Calceteiros, a qual viria de facto a ser planeada em 1985 e criada em 1986. Apesar de ter estado alguns anos encerrada, a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, encontra-se ainda hoje em funcionamento formando novos profissionais desta arte, permitindo a sua preservação.

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A Rua Possidónio da Silva na Fonte Santa

Em 1965
(Foto: Artur João Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa)

Joaquim Possidónio Narciso da Silva, arquiteto e arqueólogo de quem o  olisipógrafo Júlio de Castilho foi biógrafo, ficou na memória das placas toponímicas de Lisboa desde o final do séc. XIX, logo no ano seguinte à sua morte (1897), na Rua da Fonte Santa, artéria onde em  1 julho de 1863 fundara o Albergue dos Inválidos do Trabalho e no mesmo ano em que com outros também fundara a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses.

Foi por via da deliberação camarária de 6 de maio de 1897 e consequente Edital municipal de 17 de maio a Rua Possidónio da Silva nasceu no ano seguinte ao falecimento do homenageado, substituindo o topónimo Rua da Fonte Santa, por neste arruamento estar sediada a instituição que fundara seis anos antes para acolher operários idosos ou inválidos, o Albergue dos Inválidos do Trabalho que em 1978 foi incorporado na associação Inválidos do Comércio.

Boletim da Associação Portuguesa de Arqueólogos, nº 2 de 1913

Joaquim Possidónio Narciso da Silva  (Lisboa/07.05.1806 –  23.03.1896/Lisboa) distinguiu-se ao longo da sua vida como um defensor da preservação do património cultural português, quer através dos artigos que publicava nos jornais quer como precursor do ensino e da investigação arqueológica na salvaguarda e valorização do património histórico-artístico e monumental português. Aliás, Possidónio da Silva foi pioneiro em Portugal na utilização da fotografia como forma de defesa do património. A partir de 1861 editou a Revista Pittoresca e Descriptiva de Portugal, que incluiu fotografias de 26 elementos do património arquitétónico português.

Tendo participado em escavações, desde 1850 que se interessara pelos monumentos megalíticos em Portugal e escavou duas antas em Tomar. Depois, em 1858, D. Pedro V encarregou-o de fazer o primeiro levantamento dos monumentos nacionais. Em 1863 fundou a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses, a que também presidiu até 1866 e novamente de 1871 até ao seu falecimento. É desta associação que vai nascer em 1866 um museu arqueológico, instalado nas ruínas do Convento do Carmo. Possidónio da Silva deu um curso gratuito de Arqueologia na sede da Associação e em 1878 publicou Noções Elementares de Archeologia, uma síntese dos métodos de escavação estratigráfica e setorial. Recorde-se que foi desta associação, da secção de Arqueologia Olissiponense, que nasceu o Museu da Cidade de Lisboa, instalado pela primeira vez na sede associativa em 1922.

Filho de Reinaldo José da Silva e de Maria Luísa Narcisa da Silva, Possidónio passou a sua juventude no Rio de Janeiro, para onde  partira bebé com a família por causa da invasão napoleónica de 1807, já que o seu pai era Mestre Geral dos Paços Reais. Regressou em 1821 e estudou com Domingos Sequeira, Maurício Sendim e Germano de Magalhães, seguindo aos dezoitos anos para Paris para estudar Arquitetura e cinco anos mais tarde, para Roma. Em 1831 regressou a Paris e trabalhou no Palais Royal e no Palácio das Tulherias. Dois anos depois regressou a Portugal e publicou O que foi e é a architectura, e o que aprendem os architectos fora de Portugal. A seguir, tornou-se o arquiteto da Casa Real, tendo adaptado o Palácio de São Bento para Parlamento (1833-1834) pelo que foi condecorado com o Colar da Torre e Espada. Foi também autor dos projetos não concretizados  do Palácio da Ajuda (1834) e de uns balneários públicos no Passeio Público (1835). Traçou também a remodelação do Palácio das Necessidades (1844-1846), do Palácio do Alfeite (antes de 1857), bem como do Teatro de São Carlos e do Palácio do Manteigueiro – na esquina da Rua da Horta Seca com a Rua da Emenda-, tendo ainda delineado muitos estabelecimentos comerciais da Baixa lisboeta dessa época e ainda, um bairro novo na quinta do Calvário.

Em 1882, o escultor francês Anatole Vasselot fez um busto de bronze de Possidónio da Silva mas este nunca permitiu a divulgação da sua imagem em nenhum meio até à sua morte e assim, este busto apenas foi  inaugurado em 5 de julho de 1968, colocado sobre um pedestal de pedra na Praceta da Rua Possidónio da Silva. Em 1916, passou também a ser o topónimo de uma Travessa próxima da Rua Possidónio da Silva e o seu nome faz também parte da toponímia dos concelhos de Mem Martins e do Seixal (em Fernão Ferro). Júlio de Castilho coligiu e organizou cronologicamente a  Correspondência artística e científica, nacional e estrangeira com J. Possidónio da Silva, documentação que encadernou e legou à Torre do Tombo em 8 de julho de 1915. O filho de Possidónio, Ernesto da Silva (1868 – 1913) também é topónimo de uma Rua e de um Largo lisboetas, na freguesia de Benfica.

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Freguesias da Estrela e de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do arquiteto Adães Bermudes, vereador da CML em 1918 e 1919

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O arquiteto portuense Adães Bermudes, foi também vereador da Câmara Municipal de Lisboa em 1918 e 1919, tendo sido perpetuado como topónimo de uma rua de Marvila em 1978, com mais onze arquitetos.

Republicano assumido e membro da Maçonaria, Adães Bermudes foi vereador da Comissão Administrativa da CML de 15 de março de 1918 a 21 de  fevereiro de 1919, a que sucedeu à presidida pelo também republicano José Carlos da Maia, que saiu para ser ministro da Marinha de Sidónio Pais em março de 1918 e fez com que pedisse a exoneração dos vereadores republicanos Matias Ferreira de Mira, Raul de Almeida Carmo, António Ferreira e António do Couto Abreu, tendo sido então designados em 15 de março de 1918, para os mesmos cargos, o presidente da Sociedade de Ciências Médicas Zeferino Falcão para Presidente da edilidade, o tenente-coronel de engenharia José Tavares de Araújo e Castro, o advogado Carlos Barbosa e Adães Bermudes, a quem coube o Pelouro da Arquitetura e a 4ª Repartição. Nesta Comissão Administrativa serviu como presidente de 10 de maio  até 4 de julho de 1918, a partir do que será presidente  José Tavares de Araújo e Castro, bem como nos impedimentos deste, tendo assim assinado como vogal-presidente os Editais que permitiram à Companhia de Carris de Ferro de Lisboa aumentar os preços das tarifas das carreiras durante os dias da semana excepto ao domingo, durante 3 meses, bem como aumentar a lotação em 50%, assim como o que determinou iguais condições para a  Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa (23 de maio de 1918); o dos termos da cobrança dos impostos municipais a partir de 15 de julho para os relativos ao 2º semestre de 1918,  (1 de junho de 1918); a atribuição da Rua da Paz e outras desanexações e integrações toponímias na Ajuda ( 11 de novembro de 1918).

O Occidente, 20 de maio de 1913

Arnaldo Redondo Adães Bermudes (Santo Ildefonso – Porto/29.09.1863 – 18.02.1947/Paiões- Rio de Mouro) foi um arquiteto formado pela Academia Portuense de Belas Artes (entre 1880 e 1886), Escola de Belas-Artes de Lisboa e pela École des Beaux-Arts de Paris. Destacou-se como um expoente do movimento da Arte Nova e criou em 1898 um modelo de escola que foi difundido em todo o país e identificado como Escola Adães Bermudes. Traçou o Bairro de casas económicas do Arco do Cego, em 1897,  de acordo com o conceito cidade-jardim. Como arquiteto já antes lhe dedicámos um artigo mas sintetizamos agora que a sua obra em Lisboa soma um edifício Arte Nova concebido em 1908 para a Avenida Almirante Reis (na época, era a Avenida Dona Amélia) que foi distinguido com o Prémio Valmor; o restauro do Mosteiro dos Jerónimos, do Museu Nacional de Arte Antiga e do Museu Nacional de Belas Artes; o mausoléu dos benfeitores da Santa Casa da Misericórdia  no Cemitério do Alto de São João (1908); o Instituto Superior de Agronomia (1910); a Escola Normal Primária de Lisboa (1913), em Benfica;  e o Monumento ao Marquês de Pombal (1914), em equipa com Francisco Santos e António do Couto.

O Edital de 10 de agosto de 1978, proposto pela primeira Comissão Municipal de Toponímia que integrou um arquiteto – o  arqº Frederico George -, procurou criar pela toponímia um «bairro de arquitetos», até aí quase ausentes da toponímia lisboeta. A Adães Bermudes coube a  a Rua 14 da Zona N 2 de Chelas e os outros onze escolhidos foram Adelino Nunes (ruas 2 e 3), Álvaro Machado (arruamento de ligação entre a via envolvente e a rua 6), Cassiano Branco (ruas 4 e 5), Domingos Parente (rua 13), José Luís Monteiro (ruas 11B e 12), Keil do Amaral (ruas 1, 6 e 7), Luís Cristino da Silva (via comercial), Miguel Nogueira Júnior(rua 11), Norte Júnior (ruas 8 e 11A), Pardal Monteiro (via envolvente) e Pedro José Pezerat (rua 10).

Adães Bermudes foi pai do arquiteto Jorge Bermudes, irmão mais velho de Félix Bermudes e assim, também tio de Cesina Bermudes.

Está também presente na toponímia de Rio de Mouro (no concelho de Sintra), localidade onde faleceu e foi sepultado.

Freguesia de Marvila
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A Rua do Arquitecto-chefe da Exposição do Mundo Português e d’ A Canção de Lisboa, Cottinelli Telmo

Freguesia dos Olivais
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Arquiteto-Chefe da Exposição do Mundo Português de 1940 e também realizador do filme A Canção de Lisboa tem o seu nome perpetuado desde o ano de 1971 numa Praça dos Olivais.

Os impasses A1 e A1 – 1 do Plano de Urbanização da Quinta do Morgado passaram a constituir um único arruamento com a denominação de Praça Cottinelli Telmo, pelo Edital municipal de 14 de agosto de 1971, a cerca de um mês de se completarem 23 anos do falecimento deste arquiteto-cineasta. Refira-se ainda que 5 meses antes, o Edital municipal de 15 de março de 1971 colocara em praças próximas os nomes dos também  arquitetos Carlos Ramos e Faria da Costa.

Cottinelli Telmo ficou conhecido por ser o realizador de A Canção de Lisboa, rodada em 1933 nos estúdios da Tóbis Portuguesa, na Quinta das Conchas, no Lumiar, contando com um elenco composto por Beatriz Costa, António Silva,  Manoel de Oliveira (o cineasta), Teresa Gomes ou Vasco Santana.  Este filme estreou no Teatro São Luiz, no dia 7 de novembro de 1933  e tornou-se um modelo para o humor do cinema português das décadas de 30 e 40 do século XX. Diga-se que ainda no decorrer do seu curso de arquitetura, já Cottinelli Telmo havia colaborado  com a Lusitânia-Film, em 1918, na produção dos filmes Malmequer e Mal de Espanha, ambos de Leitão de Barros, e mais tarde, em 1932, em parceria com A.P. Richard, construiu o estúdio da Tóbis Portuguesa.

Animatógrafo, 8 de maio de 1933

O homenageado nesta Praça dos Olivais, de seu nome completo José Ângelo Cottinelli Telmo (Lisboa/13.11.1897 – 18.09.1948/Cascais), formado em Arquitetura pela Escola de Belas Artes de Lisboa no ano de 1920, assinou entre outras obras, o Pavilhão de Honra da Exposição do Rio de Janeiro (com Carlos Ramos e Luís da Cunha em 1922) e o Pavilhão Português da Exposição de Sevilha (1929), a Estação Fluvial do Sul e Sueste (1929-1931), a Standard Eléctrica (1945-1948), o Liceu D. João de Castro (1939), o projeto de construção do Jazigo Roque Gameiro no Cemitério dos Prazeres (1936) e, em 1940, foi o Arquiteto-chefe da Exposição do Mundo Português, tendo delineado o plano da Praça do Império, a sua Fonte Monumental, o Monumento dos Descobrimentos e a Porta da Fundação.

Cottinelli Telmo trabalhara para os Caminhos-de-Ferro (entre 1923 e 1943) e por isso, fora da cidade de Lisboa, foi o responsável pelos edifício de passageiros de Tomar (1932-34) e do Carregado (1933), da Colónia de Férias da CP na Praia das Maçãs (1943) e do Sanatório Ferroviário das Penhas da Saúde (1945). Por solicitação do  ministro Duarte Pacheco, integrou a Comissão das Construções Prisionais e foi assim autor das Cadeias de Alijó, Castelo Branco e Alcoentre (1937-1944), para além de outras obras como o Liceu de Lamego (1931), a Cidade Universitária de Coimbra (1943-1948) e o Plano de urbanização de Fátima. Ainda nesta área  refira-se que dirigiu a revista Arquitectos, no período de 1938 a 1942, e mais tarde, presidiu  ao Sindicato dos Arquitetos (1945-1948), onde foi responsável pela organização do I Congresso da classe, no ano de 1947.

Embora menos conhecido por essas facetas, Cottinelli Telmo foi também bailarino, autor de banda desenhada  – foi o criador do Pirilau, um dos primeiros heróis infantis portugueses, publicado no ABC – , fotógrafo (em campanhas pelo país com Mário Novais) e ainda, ilustrador em jornais e revistas nacionais.

A título póstumo, Cottineli Telmo foi agraciado em 1961 com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e o seu nome integra também a toponímia dos concelhos do Amadora, Cascais (Parede), Seixal (Fernão Ferro) e Sintra (Mem Martins).

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do arquiteto da Casa da Moeda, Jorge Segurado

A Casa da Moeda traçada por Jorge Segurado em 1933
(Foto: Paulo Guedes, 1941, Arquivo Municipal de Lisboa)

Jorge Segurado que nos anos trinta do séc. XX traçou a nova Casa da Moeda, para a Avenida António José de Almeida, está fixado numa artéria do Lumiar desde a publicação do Edital nº 91/2009,  de 25 de setembro de 2009, numa das novas artérias da Quinta dos Alcoutins que acolheram um novo núcleo toponímico lisboeta de arquitetos, com os nomes de Daciano Costa, Formosinho Sanchez, Maurício de Vasconcelos e Jorge Segurado, sendo este último que passou a ser o topónimo da Ruas F, H1, H2, H3 e H4 à Quinta dos Alcoutins.

A Casa da Moeda foi traçada em 1933 pelo Arq.º Jorge Segurado, com Artur Varela, mas só foi inaugurada em 1941, substituindo então a antiga Casa da Moeda na Rua de São Paulo que aí permanecia desde 1720.

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jorge de Almeida Segurado (Lisboa/15.10.1898 – 09.11.1990), filho do Engº João Emílio Segurado, frequentou o Liceu Pedro Nunes, o  Curso Preparatório da Escola de Belas-Artes de Lisboa (1913) onde ficou marcado por José Luís Monteiro e pelo academismo neoclássico, assim como o Curso Especial de Arquitetura (1918) que concluiu em 1924, trabalhando paralelamente no atelier de Tertuliano de Lacerda Marques.

Discípulo confesso de Raúl Lino, Jorge Segurado começou nos anos vinte na Art Déco   para evoluir na década seguinte para a primeira linguagem modernista da arquitetura portuguesa, integrado no Grupo dos Cinco ( Carlos Ramos, Cassiano BrancoCristino da Silva, Pardal Monteiro e Jorge Segurado) e participando no Salão dos Independentes de 1930. Contudo, no final da década trinta mudou para o gosto oficial do Estado Novo (conhecido como o Português Suave), embora mais tarde tenha regressado ao modernismo e aos desenvolvimentos recentes da arquitetura internacional dos anos 50 e 60 do séc. XX.

Do risco de Jorge Segurado, salientamos para Lisboa as seguintes obras:

  • 1926 – Caixa de Previdência da Companhia Carris, na Avenida 24 de Julho nº 58 (traçado sobre a construção de 1879);
  • 1930 – Loja da Alfaiataria Marques & Cª na Rua Garrett nº 66;
  • 1931 – Loja Carrasco na Rua Nova do Almada nº 83;
  • 1932 – Loja do jornal O Século na Praça Dom Pedro IV nº23 e Liceu D. Filipa de Lencastre, no Bairro do Arco do Cego, com António Varela;
  • 1933 – Mais lojas modernistas como a Galeria UP na Rua Serpa Pinto nº 28 ou a Farmácia Azevedo & Filhos na Praça Dom Pedro IV nº 31, assim como a Casa da Moeda, na Avenida António José de Almeida, com António Varela;
  • 1935 – Colégio de Santa Doroteia, na Avenida Marechal Craveiro Lopes nº 1;
  • 1940 – Núcleo das Aldeias Portuguesas da Exposição do Mundo Português;
  • 1941 – Casa Portuguesa de Reynaldo dos Santos, na Avenida António Augusto de Aguiar nº 142;
  • 1943 – Casa Portuguesa de Terra Viana, na Avenida António José de Almeida;
  • 1944 – Estúdios da Tóbis Portuguesa, na Alameda das Linhas de Torres nº 144 e átrio interior do Solar do Vinho do Porto, na Rua de São Pedro de Alcântara nº 45;
  • 1945 – Casa da Suíça na Avenida da Liberdade, nº 158, com Max Kopp e Hunaiger;
  • 1947 – A sua própria moradia na Rua de São Francisco Xavier nº 8, que foi Prémio Valmor 1947;
  • anos 50 – edifícios de ampliação de instalações na Faculdade de Ciências, na Rua da Escola Politécnica, com António Varela;
  • 1959 – Blocos Amarelos para o Montepio Geral, na Avenida do Brasil nºs 112 a 132, com os seus filhos.

Fora de Lisboa, destacamos:

  • 1929 – Liceu Masculino de Coimbra (hoje, Escola Secundária José Falcão), com Adelino Nunes e Carlos Ramos;
  • 1936 – Casa-clínica do Dr. Indiveri Collucci em Paço de Arcos;
  • 1939 – pavilhões de Portugal nas Feiras Internacionais de Nova Iorque e S. Francisco;
  • 1943 – um prédio na Rua Visconde Coriscada, no centro da Covilhã;
  • 1946 – Estalagem de Viriato em Viseu;
  • 1949 a 1951 – cerca de 50 postos de abastecimento para a SACOR;
  • 1951 – Capela de São Gabriel em Vendas Novas;
  • 1952 – Agência da Caixa Geral de Depósitos nas Caldas da Rainha;
  • 1953- 1967 – Estação Agronómica Nacional, em Oeiras;
  • 1960 – Pousada do Infante D. Henrique, em Sagres.

Em paralelo, Jorge Segurado também se dedicou  à investigação da  história da arte e da arquitetura portuguesa, produziu e expôs desenho e pintura na Galeria Diário de Notícias (1983) e foi agraciado como Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1941) e Comendador da Ordem Militar de Cristo (1948).

Segurado é apelido de outros arquitetos da sua família. São eles José de Almeida Segurado (1913-1988),   José Maria Segurado (1923-2011) e  João Carlos Segurado, que são o seu irmão e os seus filhos.

Em Sesimbra, também existe uma Rua Jorge Segurado.

Rua Jorge Segurado – Freguesia do Lumiar
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A Rua do arquiteto Custódio José Vieira junto a Dom João V

Freguesia de Campo de Ourique
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Quase 20 anos depois de outros dois responsáveis das obras do Aqueduto das Águas Livres, Manuel da Maia e Carlos Mardel, que ficaram em Avenida e em Rua pelo Edital camarário de 25 de novembro de 1929, chegou também Custódio Vieira à toponímia de Lisboa, numa Rua que liga a Rua Dom João V à Rua Gorgel do Amaral.

Foi pelo Edital municipal de 18 de junho de 1948 que a Rua Custódio Vieira deu nome à Rua B à Rua das Amoreiras, o mesmo que colocou também a Rua Dom João V na Rua A à Rua das Amoreiras, a Rua Gorgel do Amaral na Rua D à Rua das Amoreiras e a Praça das Águas Livres na Praça no extremo oriental da Rua D à Rua das Amoreiras.

Os arcos do Aqueduto sobre o Vale de Alcântara, cerca de 1912
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

Custódio José Vieira (cerca de 1690 –1744) foi o sargento-mor e arquiteto do Real Aqueduto das Águas Livres responsável pela obra desde o Monte das Três Cruzes às arcadas dos Vale de Alcântara – de 1736 a 1744 -, que sucedeu ao brigadeiro Manuel da Maia ( mentor da construção desde a Mãe de Água Velha à ribeira de Alcântara, de 1732 a 1736) e que por seu turno, foi sucedido pelo  capitão de engenharia Carlos Mardel (o responsável pela obra da Mãe de Água das Amoreiras e dos principais chafarizes emissários, de 1745 a 1763).  Alvará Régio de Dom João V de 12 de maio de 1731 ditou o início do projeto do Real Aqueduto das Águas Livres que foi concretizado por estes três responsáveis pela obra e por Cláudio Gorgel do Amaral, o Procurador da Cidade de Lisboa, obstinado em resolver o problema do abastecimento de água à cidade, tendo para este efeito lançado sobre a população lisboeta o imposto real de água que incidia sobre o vinho, a carne, o sal e a palha.

Custódio Vieira optou por terminar o Aqueduto na encosta de Campolide com três arcos de volta perfeita e não em ogiva por serem de execução mais fácil, tal como escolheu que as pedras salientes usadas como apoio para os andaimes de construção ficassem, com um propósito estético. Na sua parte mais monumental, o Aqueduto possui 35 arcos, sobre o Vale de Alcântara, 21 de volta perfeita e 14 em ogiva, da autoria de Custódio Vieira, entre eles o maior arco em pedra de vão do mundo, com 65 m de altura e 32 m de abertura. Em 1745, após a morte de Custódio Vieira, Ludovice criticou-lhe a estética e Gorgel do Amaral o despesismo,  mas dez anos depois, após o  terramoto, ficou provado que a quantidade de ferro que utilizara para o fortalecimento da estrutura do arco o fez resistir ao abalo, apesar de se encontrar numa falha sísmica.

Para além de responsável da obra deste Aqueduto das Águas Livres que abasteceu Lisboa até 1967, Custódio Vieira foi também arquiteto das Ordens militares de Santiago e S. Bento de Avis, construiu o Palácio de Vendas Novas e participou na edificação do Convento de Mafra.

Freguesia de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Honorato José Correia, arquiteto do Aqueduto e da igreja de São Julião, numa Rua do Alto da Serafina

Freguesia de Campolide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Na proximidade do Aqueduto que ajudou a construir está Honorato José Correia, perpetuado numa Rua  do Bairro do Alto da Serafina, na freguesia de Campolide, a ligar a Rua Reinaldo Manuel dos Santos à Rua João da Mota e Silva.

Começou por ser a Rua 13 do Bairro do Alto da Serafina pelo Edital de 15 de março de 1950, que sobretudo colocou denominações numéricas nos Bairros Sociais lisboetas ( Alto da Ajuda, Terras do Forno, Calçada dos Mestres e da Encarnação). Depois, de acordo com registos municipais terá sido algures e por tempo incerto a Rua Martim de Mendonça. Em 1989, o Edital de 28 de dezembro de 1989, no que a Comissão Municipal de Toponímia entendera ser uma recuperação de toponímia antiga da cidade que recordasse profissões tradicionais, passou a denominar-se Rua dos Boleeiros. Os moradores consideraram tal toponímia «atentatória da dignidade das pessoas que habitam o Bairro» e no ano seguinte, a nova Comissão de Toponímia considerou que os topónimos atribuídos não tinham qualquer relação histórica com o Bairro do Alto da Serafina e solicitou à Junta de Freguesia de Campolide a elaboração de um plano toponímico para o Bairro, o qual após algumas alterações de pormenor foi aprovado na Reunião de Câmara de 05/12/1990 e pelo consequente Edital de 14/12/1990 revogou a anterior toponímia e assim, este arruamento passou a ter a designação de Rua Honorato José Correia, com a legenda «Arquitecto das Águas Livres/1754 – 1827».

A Igreja de São Julião em 1961
(Foto: Mário Costa, Arquivo Municipal de Lisboa)

Honorato José Correia de Macedo e Sá (Lisboa/22.12.1754 – 1827/Lisboa) que viria a ser um dos arquitetos do Aqueduto das Águas Livres começou a aprender Desenho em 1763, aos 9 anos, na Casa do Risco do Arsenal do Exército, com Manuel Ferreira, João de Figueiredo e seu pai.  Em 1772 entrou como aprendiz de canteiro para a oficina de João Ferreira Cangalhas, mestre geral de obras públicas e 5 anos depois passou a ajudante de Francisco António Ferreira Cangalhas.

Do seu trabalho sabe-se que  elaborou o levantamento da planta geral da cidade de Lisboa (1785); traçou vários chafarizes como o Chafariz das Laranjeiras (1791) com Cangalhas, o Chafariz na Rua do Arco a São Mamede (1808), o chafariz da Junqueira ou da Cordoaria (1821) ou o Chafariz do Intendente (1823) com Henrique Guilherme de Oliveira; assim como trabalhou em templos, como a reconstrução da Capela de N.ª Sr.ª do Monte (1796),  o retábulo da capela-mor de Santa Engrácia (1819)  e a reedificação da Igreja de São Julião (1824),  no Largo de São Julião, com materiais oriundos do Convento de S. Francisco.

Freguesia de Campolide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Praça do arquiteto do Cine-Teatro Tivoli

Freguesia de Marvila
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Entre a Rua Luís Cristino da Silva e a Rua Keil do Amaral fica a Praça dedicada ao arquiteto que traçou o cinema Tivoli para a Avenida da Liberdade, a Praça  Raúl Lino, acolhida em Marvila desde  a publicação do Edital municipal de 20 de agosto de 1985.

Raúl Lino da Silva (Lisboa/21.11.1879-13.07.1974/Lisboa) foi estudar para a Grã-Bretanha desde os  10 anos de idade, por orientação de seu pai,  tendo seguido depois para Hannover, na Alemanha, a partir de 1893, onde trabalhou no atelier do historiador e arquiteto Albrecht Haupt (1852-1932). Regressado a Portugal em 1897, Raúl Lino desenhou numerosas obras ao longo da sua vida, cerca de 700, de que que se salientam as seguintes para Lisboa:

  • o modelo de Jardim-Escola João de Deus (1909) e o edifício  da Avenida Álvares Cabral, 69 (1918);
  • os arranjos das instalações dos animais no Jardim Zoológico de Lisboa (1912), na Quinta das Laranjeiras;
  • a loja Gardénia (1917) no nº 54 da Rua Garrett;
  • o Cine-Teatro Tivoli (1918 – 1924) que desde 2015 é  Monumento de Interesse Público;
  • a moradia na Rua Castilho nº 64 a 66, que foi Prémio Valmor  em 1930 (já demolida);
  • as alterações ao antigo Picadeiro Régio/Museu dos Coches (1940) e o Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português (1940).

A moradia na Rua Castilho nº 64 a 66 que foi Prémio Valmor  em 1930
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

Fora da capital refira-se a sua autoria  na casa Montsalvat para o pianista Alexandre Rey Colaço (1901), no Monte Estoril; no Solar dos Patudos para José Relvas (1904); na Casa da Quinta da Comenda no Outão (1909); o Sanatório de Sousa Martins  (1907) na Guarda; na Casa do Cipreste (1907-1913), em Sintra, para si próprio; na Pérgola em Penacova (1918); na Casa de Santa Maria (1918) em Cascais; na Casa dos Penedos (1920) em Sintra;  no Cine-Teatro Curvo Semedo (1923) em Montemor-o-Novo; na Casa do Soar de Cima (1925) em Viseu; na Quinta das Romeiras em Câmara de Lobos (1933); ou nos Paços do Concelho de Setúbal (1938).

Raúl Lino foi ainda autor de numerosos textos teóricos sobre  arquitetura, como A Nossa Casa (1918), A casa portuguesa (1929), Casas portuguesas (1933) e L´évolution de l´ architecture domestique au Portugal (1937), neles revelando a sua principal preocupação de criar uma arquitetura integrada na paisagem, assente na  ideia de que só o conhecimento do terreno sobrevaloriza os valores tradicionais da pura arquitetura portuguesa, procurando assim conciliar a arquitetura erudita com a tradição popular.

Raúl Lino foi agraciado com o Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura de 1930, o Prémio José de Figueiredo  de 1948 e a Comenda da Ordem Militar de Cristo (1941). Também integrou o júri do prémio Valmor em 1931, que premiou o edifício da Rua Infantaria 16, da autoria dos arquitetos Miguel Jacobethy Rosa e António Reis Camelo.

Para além do seu traço de arquiteto, Raúl Lino também desempenhou cargos como  Chefe da Repartição de Estudos e Obras em Monumentos da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (entre 1936 e 1949),  Superintendente Artístico dos Palácios Nacionais a partir de 1938 e ainda, Diretor dos Monumentos Nacionais a partir de 1949.

Raúl Lino foi ainda membro fundador da Academia Nacional de Belas Artes em 1932 e seu presidente a partir de 1967. Refira-se também que a produção artística de Raúl Lino inclui o design de mobiliário, painéis, azulejos e porcelanas; a cenografia (sobretudo no São Carlos e com Almada Negreiros) e a programação cultural, principalmente para o cinema Tivoli onde exibiu, entre outros, filmes de Fritz Lang e de Chaplin, para além de colaborar em publicações como a Atlantida, Homens Livres, Ilustração ou a Revista Municipal de Lisboa.

Na vida pessoal, escolheu viver numa casa na Avenida António Augusto de Aguiar e teve duas filhas: Isolda Lino Norton de Matos e Maria Cristina Lino Pimentel . O seu espólio foi doado pela família, em 1989, à Fundação Calouste Gulbenkian.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O arqº Carlos Ramos numa Praça dos Olivais

Freguesia dos Olivais
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A Praça Carlos Ramos, nos Olivais, homenageia o arquiteto Carlos João Chambers Ramos que procurou na sua obra um compromisso entre o modernismo e a tradição e no ano de 1922 traçou a Agência Havas da Rua Áurea e foi pai do também arquiteto Carlos Manuel Ventura Ramos.

Este topónimo foi atribuído pelo Edital de 15 de março de 1971 no Impasse A 2.1.2 da Quinta do Morgado, nascendo assim a  Praça Carlos Ramos. Esse mesmo Edital atribuiu denominações a outros arruamentos da Quinta do Morgado, entre as quais se incluiu a Praça Faria da Costa, que perpetua outro arquiteto no espaço que era antes o Impasse A 3.1 da Quinta do Morgado.

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Carlos João Chambers de Oliveira Ramos (Porto/15.01.1897 – 01.07.1969) foi um arquiteto que decidiu sê-lo depois de ter conhecido e convivido com Miguel Ventura Terra, sendo depois com Cassiano Branco, Cottinelli Telmo, Cristino da Silva, Jorge Segurado e Pardal Monteiro um dos pioneiros do movimento moderno na arquitetura portuguesa. O Arqº Carlos Ramos foi também urbanista e professor universitário.

Da sua obra arquitetónica para Lisboa, destacamos:

  • 1922 – Edifício da Agência Havas na Rua Áurea, 234-242, inaugurada em 1931;
  • 1927  – Habitação no Largo do Figueiredo, 1;
  • 1927-1933 – Pavilhão do Rádio do Instituto Português de Oncologia, na Rua Prof. Lima Basto;
  • 1929 – Projeto do Liceu Feminino D. Filipa de Lencastre que não chegou a ser construído;
  • 1931 – Instituto Navarro de Paiva, na Rua de São Domingos de Benfica, 16;
  • 1932-1934 – Edifício da Assistência aos Tuberculosos na Rua Domingos Sequeira, 24;
  • 1933 – Alterações no Hospital Júlio de Matos (traçado por Leonel Gaia), na Avenida do Brasil;
  • 1940 – Pavilhão da Colonização para a  Exposição do Mundo Português, para além do Espelho de Água ( lago artificial de recreio) em resultado de um plano coordenado por Cottineli Telmo, com Pardal Monteiro, Cristino da Silva e Reis Camelo;
  • 1943 – Edíficio da Praça Duque de Saldanha, 32 que foi demolido com o Monumental em 1984;
  • 1946 – Moradia no Restelo que foi Prémio Municipal em 1946;
  • 1950 – Traçado da Praça do Marquês de Pombal, tendo em 25 de novembro de 1957 firmado contrato com a edilidade lisboeta para a elaboração do estudo de conjunto da Praça Marquês de Pombal e a urbanização de remodelação do quarteirão definido pelo mesma praça, Rua Braamcamp, Rua Castilho e Rua Joaquim António Augusto de Aguiar.

Fora de Lisboa, o Arqº Carlos Chambers Ramos delineou em 1925 o Bairro Económico de Olhão; traçou inúmeros postos fronteiriços, como a Fronteira de Galegos em Marvão (1938); projetou o Liceu Júlio Henriques em Coimbra (1930) e o Liceu de Viseu(1931) com Adelino Nunes e Jorge Segurado ; planeou vários tribunais como o de Évora, Sabugal ou Mirandela (1959-1960), bem como  equipamentos hospitalares, como a Leprosaria Nacional Rovisco Pais na Tocha (1947), o que fazem deste arquiteto uma figura importante na edificação da imagem do Estado Novo conduzida por Duarte Pacheco e pelo Ministério das Obras Públicas.

Paralelamente, o Arqº Carlos Ramos viveu empenhado em fazer pedagogia do ensino de arquitetura. Em 1933 concorreu ao lugar de professor da 4ª cadeira de arquitetura na Escola de Belas Artes de Lisboa, juntamente com Paulino Montez, Cassiano Branco e Cristino da Silva, tendo sido este último a consegui-lo e reagiu transformando o seu atelier lisboeta, no Largo de Santos, numa escola prática para as novas gerações de arquitetos, que nos anos trinta e quarenta do séc. XX aí encontraram um contraponto ao ensino academizante, tendo por lá passado Adelino Nunes, Dário Vieira, Francisco Keil do Amaral, Nuno Teotónio Pereira ou Raul Tojal, entre muitos outros. Em 1940, Carlos Ramos vai substituir Marques da Silva na 4ª cadeira de arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto e aí exercerá docência até 1952, com excepção dos anos de 1946 a 1948 em que foi professor da ESBAL. Tanto no Porto como em Lisboa, conseguiu introduzir uma série de inovações no ensino:

  • prática de provas de arquitetura serem antecedidas por duas lições;
  • confronto dos alunos com programas contemporâneos de arquitetura hospitalar,  aquartelamentos, habitação coletiva ou planos urbanísticos, promovendo o contacto direto com a prática profissional;
  • defesa da formação como um ato contínuo e ininterrupto.

Em 1952, Carlos Ramos assumiu a direção da ESBAP e assim continuou durante 15 anos, formando no Porto alguns dos  mais importantes arquitetos como Mário Bonito, João Andresen, Arnaldo Araújo, Octávio Lixa Filgueiras, Alexandre Alves Costa, Sérgio Fernandez, Fernando Távora, Manuel Mendes, Alcino Soutinho e Álvaro Siza Vieira.

Refira-se ainda, para evitar equívocos, que Carlos João Chambers de Oliveira Ramos (referido mais vezes como Carlos C. Ramos) foi pai do também arquiteto Carlos Manuel Ventura de Oliveira Ramos (mencionado como Carlos M. Ramos), nascido em 22 de agosto de 1922, que  também foi seu colaborador em alguns projetos.

A Agência Havas na Rua Áurea, traçada por Carlos C. Ramos
(Foto: Kurt Pinto, anos 40 do séc. XX, Arquivo Municipal de Lisboa)

 

A Rua Rodrigo Franco, arquiteto do Aqueduto e do Santuário do Senhor Jesus da Pedra de Óbidos

Freguesia de Campolide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Rodrigo Franco, capitão e arquiteto do século XVIII, um dos envolvidos na execução do Aqueduto das Águas Livres, na fiscalização das obras reais e autor da Igreja do Senhor Jesus da Pedra em Óbidos, está desde a passagem de 1989 para 1990 na Rua 6 do Bairro do Alto da Serafina, na freguesia de Campolide.

As artérias do Bairro do Alto da Serafina começaram por ter um denominação numérica fixada pelo Edital municipal de 15 de março de 1950, a exemplo de outros bairros sociais de Lisboa. Passados 39 anos, o Edital de 28 de dezembro de 1989, no que se considerou ser uma recuperação da toponímia antiga da cidade, tornou a Rua 6 em Rua Rodrigo Franco, com a legenda «Mestre do Aqueduto – Século XVIII». Contudo, a população residente do Bairro contestou a maioria dos topónimos pelo que estes foram alvo de novas designações, com mediação da Junta de Freguesia de Campolide entre os moradores e a Câmara, processo do qual nasceu o Edital municipal de 14 de dezembro de 1990, sendo a Rua Rodrigo Franca um dos poucos topónimos que se manteve, embora com a alteração da legenda para «Arquitecto do Aqueduto – Século XVIII».

Para além da sua participação no Aqueduto das Águas Livres,  pouco se conhece da obra de Rodrigo Franco, para além de ter sido medidor das Obras Reais, nomeado em 13 de agosto de 1745 até ao seu falecimento em novembro de 1763, assim como o autor do Santuário do Senhor da Pedra, construído entre 1740 e 1747,  nos arredores do burgo medieval de Óbidos, como convinha à sua condição de santuário de peregrinação. Insere-se este templo no ciclo de grandes obras mecenáticas de D. Tomás de Almeida, o Cardeal Patriarca de Lisboa e do rei D. João V,  sobressaindo no templo as influências do Convento de Mafra e da igreja lisboeta de Santa Engrácia.

Rodrigo Franco terá trabalhado nos estaleiros do Convento de Mafra, com Ludovice, assim como terá conhecido arquitetos italianos ou italianizantes. No Aqueduto das Águas Livres terá começado como ajudante de Custódio Vieira mas dirigiu toda a obra  entre os anos de 1744 e 1745, sucedendo-lhe nessa tarefa  Carlos Mardel. Pode ter estado envolvido também no traçado do Palácio da Mitra ou Quinta do Arcebispo e de igrejas do Patriarcado.

Da sua obra enquanto «arquiteto e medidores de todas as obras reais» – como surge referido em diversos documentos -, nomeado em 1745, tal como os sargentos-mor José Sanchez da Silva e Carlos Mardel e os ajudantes Eugénio dos Santos, Elias Sebastião Pope e Manuel da Costa Negreiros , verificou e certificou inúmeras obras das quais destacamos as da arca da água do Rato (outubro a novembro de 1750); obras para descobrir água em Vila Chã (julho de 1751);  as obras na arca da água junto ao Mosteiro de Campolide (setembro a outubro de 1751); as obras numa fonte em São Pedro de Alcântara (junho a julho de 1752), a parede do chafariz (outubro de 1752) e os corredores e vãos subterrâneos para introduzir os canos de repuxo do chafariz (abril e novembro de 1753 mais junho de 1754 e março e abril de 1756); obras de um lanço do aqueduto para os bairros da Esperança e da ribeira de Alcântara, bem como no «lanço do aqueduto feito desde a porta do carro dos padres de S. Roque, em frente das portas da Igreja do Loreto e Encarnação» (dezembro de 1756); um lanço do aqueduto no bairro da Esperança, na Rua dos Prazeres e no chafariz do Largo da Esperança (1758); a obra no aqueduto principal na limpeza do mesmo até São Brás,  nos desentulhos provocados pelas cheias do rio em 28 de outubro de 1758 desde a Água Livre até ao Rato e os consertos no aqueduto principal das ruínas provocadas pelo terramoto de 1 de novembro de 1755 para além do conserto dos canos do Rato até à Quinta do Marquês da Fronteira, mais «vários locais dos aquedutos, na descida para S. Bento, adro da igreja, rua Direita do Poço dos Negros, na cerca das freiras da Esperança, rua dos Ferreiros, rua da Boavista, cais do Tojo e fonte de S. Brás» (maio e junho de 1760); a obra para o transporte da água para o novo chafariz no bairro da rua Formosa [hoje, Rua de O Século] (1761 -1762) e da construção desse chafariz (abril de 1763); a obra do arco triunfal da  Rua de São Bento e condução de águas ao bairro da Esperança (abril de 1762).

Sobre a vida pessoal do capitão arquiteto Rodrigo Franco, seguimos o investigador Miguel Portela, que afirma que o mesmo foi batizado em 16 de novembro de 1709 na Igreja de São José em Lisboa, filho de António João Gaspar e Inácia Catarina e faleceu com cerca de 54 anos, em 31 de dezembro de 1763. Casou 3 vezes e teve 3 filhos. Casou com Luísa Maria da Encarnação em 18 de junho de 1732, com quem viveu 22 anos já que esta faleceu em 18 de outubro de 1754. Voltou a casar em 7 de abril de 1755, com Laureana Jacinta Franca, em Santo Antão do Tojal, com quem teve  3 filhos (Ana, Maria e Miguel), tendo esta falecido uns cinco anos depois, em 11 de outubro de 1760. No ano seguinte, em 11 de abril de 1761, o arquiteto avançou para o seu 3º casamento,  com Josefa Maria Teresa.

Freguesia de Campolide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)