Rua Eduardo Bairrada, topónimo atribuído por Edital 29 de Fevereiro de 1988 a um arruamento da freguesia da Ajuda
Eduardo Martins Bairrada (1930 – 1987), arquitecto da Câmara Municipal de Lisboa, ilustrador, e olisipógrafo. Membro do Grupo de Amigos do Museu de Marinha, do qual foi secretário da direcção. Membro da Academia de Marinha e da Academia Nacional de Belas Artes, onde ocupou a cadeira nº 14, que já fora de Gustavo de Matos Sequeira. Foi director do Gabinete de Estudos Olisiponenses, quando este serviço ganhou autonomia do Museu da Cidade (hoje Museu de Lisboa). Dividiu a sua actividade profissional entre os projectos de arquitectura, e a ilustração. Como arquitecto da Câmara colaborou com diversos artistas, especialmente com os irmãos Leopoldo e Domingos Soares Branco, no enquadramento de várias esculturas, como, por exemplo, no Monumento a Gago Coutinho e Sacadura Cabral, junto à Torre de Belém, o monumento ao professor Santos Andrea, na praça com o mesmo nome, e no monumento a Sá Carneiro, na antiga praça do Areeiro. Fez o projecto arquitectónico do Pátio Alfacinha, na Ajuda. Desenhou a Medalha de Mérito da Academia Nacional de Belas Artes e colaborou na ilustração do livro de Beatriz Berrini Eça de Queiroz. Palavra e imagem. Nos anos 80 publicou diversos estudos: Arquitecto Rosendo Carvalheira; um filho adoptivo de Alexandre Herculano (1981); A Academia de Belas Artes no cinquentenário da sua fundação (1983); Antecedentes da Academia Nacional de Belas Artes no prémio Valmor de arquitectura da cidade de Lisboa (1984); Prémios Valmor: 1902-1952 (publicado em 1988), entre outros.
Mas o seu grande contributo para o estudo e conhecimento do património de Lisboa, seria a sua obra Empedrados Artísticos: a arte da calçada-mosaico, patrocinada pela Câmara Municipal, e editada em 1985. Observador atento, Bairrada dedicou anos a recolher informação sobre a calçada portuguesa, procurando colmatar o que ele considerou ser uma falha nos estudos patrimoniais. A obra, que é ainda hoje uma referência para o conhecimento desta arte portuguesa, apresenta um levantamento feito à época de quase todos os empedrados artísticos da cidade, através das fotografias de Karin Monteiro e de Manuel Cabral, e de desenhos do próprio Bairrada. Na primeira parte do livro faz a história do uso da pedra no pavimento de ruas desde D. Manuel I até ao século XIX, destacando a importância do tenente general Eusébio Pinheiro Furtado que pela primeira vez a utilizou no Castelo de S. Jorge. Traça um estudo sobre a arte e técnica de calcetar e um panorama da evolução do calcetamento artístico nas praças e largos da cidade, bem com a sua divulgação para os passeios e entradas de residências e negócios, estudando as diferenças da utilização da pedra no espaço interior e no exterior. Refere-se também aos custos associados a esta arte e às resistências encontradas na sua utilização. Pormenoriza ainda as questões de linguagem associadas ao trabalho de calceteiro e as assinaturas utilizadas por estes profissionais para a identificação da sua obra. O levantamento, propriamente dito está organizado através de 15 itinerários por ele traçados, e pacientemente percorridos, como ele próprio afirmou, nos seus percursos diários entre a casa e o trabalho. Este inventário, como já referido, é feito através de fotografia e de alguns desenhos, acompanhados de uma pequena legenda. No final da obra Bairrada organizou os índices por motivos decorativos (que ele desenha), glossário, moradas e freguesias, permitindo uma rápida localização de cada exemplar.
Não estamos, portanto, na presença de um olisipógrafo “generalista”, isto é, a sua obra não é dedicada a uma história da cidade mas a um aspecto do seu património o qual até então não tinha merecido a devida atenção quer por parte dos investigadores, quer por parte do público. A acção de Eduardo Martins Bairrada na defesa da calçada portuguesa fez-se sentir ainda na sua insistência na criação de uma Escola de Calceteiros, a qual viria de facto a ser planeada em 1985 e criada em 1986. Apesar de ter estado alguns anos encerrada, a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, encontra-se ainda hoje em funcionamento formando novos profissionais desta arte, permitindo a sua preservação.
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