A Praça do arquiteto cineasta

Atlântida, N.º 32, s/d, 1918

Atlântida, N.º 32, 1918

O Arquitecto-chefe da Exposição do Mundo Português e realizador do filme A Canção de Lisboa tem o seu nome perpetuado numa Praça dos Olivais desde o ano de 1971.

Os impasses A1 e A1 – 1 do Plano de Urbanização da Quinta do Morgado passaram a constituir um único arruamento com a denominação de Praça Cottinelli Telmo, pelo edital municipal de 14 de agosto de 1971. Refira-se ainda que 5 meses antes o edital de 15 de março de 1971 colocara em praças próximas os nomes dos arquitetos Carlos Ramos e Faria da Costa.

O homenageado, de seu nome completo José Ângelo Cottinelli Telmo (Lisboa/13.11.1897 – 18.09.1948/Cascais), formado em Arquitectura pela Escola de Belas Artes de Lisboa no ano de 1920, assinou entre outras obras, o Pavilhão de Honra da Exposição do Rio de Janeiro (com Carlos Ramos e Luís da Cunha em 1922) e o Pavilhão português da Exposição de Sevilha (1929), foi o autor da Estação Fluvial do Sul e Sueste (1929-1931), da Standard Eléctrica (1945-1948), do Liceu D. João de Castro, do projeto de construção do Jazigo Roque Gameiro no Cemitério dos Prazeres (1936) e, em 1940, foi o Arquitecto-chefe da Exposição do Mundo Português, tendo delineado o plano da Praça do Império, a sua Fonte Monumental, o Monumento dos Descobrimentos e a Porta da Fundação.

Cottinelli Telmo trabalhara para os Caminhos-de-Ferro (entre 1923 e 1943) e por isso também fora de Lisboa foi o responsável pelos edifício de passageiros de Tomar (1932-34) e do Carregado (1933), da Colónia de Férias da CP na Praia das Maçãs (1943) e do Sanatório Ferroviário das Penhas da Saúde (1945). Por solicitação do  ministro Duarte Pacheco integrou a Comissão das Construções Prisionais, e foi autor das cadeias de Alijó, Castelo Branco e Alcoentre (1937-1944), para além de outras obras como o liceu de Lamego (1931), a cidade universitária de Coimbra (1943-1948) e o Plano de urbanização de Fátima. Ainda nesta área  refira-se que dirigiu a revista Arquitectos, no período de 1938 a 1942, e presidiu depois ao Sindicato dos Arquitectos (1945-1948), onde foi responsável pela organização do I Congresso da classe em 1947.

Cottinelli Telmo ficou também conhecido por ser o realizador de A Canção de Lisboa, rodada em 1933 nos estúdios da Tóbis, no Lumiar, e contando com  Manoel de Oliveira (o cineasta), Vasco Santana, António Silva, Beatriz Costa ou Teresa Gomes como atores. Este filme estreou no dia 7 de novembro de 1933 no Teatro São Luís e tornou-se um modelo do humor cinematográfico português das décadas de 30 e 40 do século XX, para além de ter sido o primeiro filme sonoro inteiramente produzido em Portugal, nos laboratórios da Lisboa Filme e com o equipamento da Tóbis.

Acresce que ainda no decorrer do seu curso de arquitetura, já Cottinelli Telmo havia colaborado  com a Lusitânia-Film, em 1918, na produção dos filmes Malmequer e Mal de Espanha, ambos de Leitão de Barros, e mais tarde, em 1932, em parceria com A.P. Richard, construiu o estúdio da Tóbis em Lisboa.

Embora menos conhecido por essas facetas Cottinelli Telmo foi ainda bailarino, autor de banda desenhada publicada no ABC (foi o criador do Pirilau, um dos primeiros heróis infantis portugueses), fotógrafo (em campanhas pelo país com Mário Novais) e ilustrador em jornais e revistas nacionais.

A título póstumo, Cottineli Telmo foi agraciado em 1961 com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa.

Freguesia dos Olivais (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais

Freguesia dos Olivais