Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, que levaram a Benilde de Régio a cena, em ruas lisboetas

Cena de Benilde ou a Virgem Mãe, de José Régio, no palco do Nacional, tendo como protagonista Maria Barroso com Augusto de Figueiredo
(Foto:  © CER))

Benilde ou a Virgem-Mãe,  obra de José Régio publicada em 1947 pela sucursal do Porto da Portugália, foi no final  desse mesmo ano foi levada à cena no Teatro D. Maria II, na Praça D. Pedro IV da Baixa pombalina, pela Companhia Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, tendo como protagonista Maria Barroso, numa encenação do casal Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, com interpretações também de Amélia, de Augusto Figueiredo e Erico Braga. José Régio assistiu aos ensaios finais e à estreia da peça no dia 25 de novembro.

Refira-se também que Maria Barroso, nascida em 2 de maio de 1925, foi homenageada pela Câmara Municipal de Lisboa na data que teria sido a do seu 92º aniversário,  também na Baixa pombalina, com a atribuição do seu nome à nova Escola Básica do Largo da Boa-Hora, no que outrora foi o Tribunal tristemente lembrado por condenar opositores do regime do Estado Novo.

A Companhia Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro tinha como empresários o casal de atores discípulos de Augusto Rosa que lhe davam nome, cujo relevante papel no teatro português conduziu ambos a serem topónimos lisboetas, na Freguesia de Benfica, ele através do Edital municipal de 9 de fevereiro de 1970 e ela, por Edital de 21 de agosto de 1990. José Régio trocou correspondência ora com Amélia ora com Robles, no período de agosto de 1943 a fevereiro de 1953, a propósito das suas peças e na defesa arraigada do teatro de autor.

Rua Amélia Rey Colaço, na Freguesia de Benfica

Amélia Rey Colaço foi consagrada na toponímia alfacinha logo no mês seguinte ao seu falecimento, pelo Edital municipal de 21/08/1990, na que era a Rua B, entre a Estrada de Benfica e a Rua Augusto Costa (Costinha), numa zona onde já se encontravam na toponímia outras figuras do teatro: Augusto Costa (Costinha), Aura Abranches, Lucília Simões e Maria Lalande.

Já em 1983, uma proposta aprovada pela Junta de Freguesia dos Prazeres solicitava à edilidade a atribuição de nome de Amélia Rey Colaço à Travessa do Olival naquela freguesia, mas a Comissão Municipal de Toponímia deu pareceu negativo por ir contra os critérios definidos de não alterar topónimos antigos e de a consagração na toponímia de Lisboa ser póstuma.

Amélia Smith LaFoucade Rey Colaço Robles Monteiro (Lisboa/02.03.1898 – 08.07.1990/Lisboa), filha do pianista e compositor Alexandre Rey Colaço, estreou-se no Teatro República (hoje, São Luiz) em 17 de novembro de 1917, na peça Marinela. Casou em 1920 com o também ator Felisberto Robles Monteiro, com quem  no ano seguinte também fundou a empresa teatral que a partir de 1929 teve a seu cargo o Teatro Nacional D. Maria II, até ao incêndio do teatro em 2 de dezembro de 1964. Amélia Rey Colaço despediu-se dos palcos em 1974, embora de 1978 a 1980 tenha dirigido a Companhia de Teatro Popular no São Luiz, nomeada pelo Secretário de Estado da Cultura de então, António Reis e tenha participado em Portalegre num espetáculo de homenagem a José Régio. No cinema, surgiu uma única vez, no filme Primo Basílio (1923) de George Pallu, onde aliás contracenou como o seu marido Robles Monteiro, assim como na televisão apenas integrou o elenco da série Gente Fina é Outra Coisa (1982).

Atriz, encenadora, empresária teatral e mãe da também atriz Mariana Rey Monteiro, tudo partilhado com Robles Monteiro, Amélia Rey Colaço foi agraciada com a Ordem de Instrução Pública (1933), Ordem Militar de Cristo (1967), Ordem de Santiago da Espada (1961 e 1978), o prémio da Crítica Lucinda Simões (1960), o primeiro Prémio Garrett de mérito e a Ordem das Artes e das Letras francesa (1971).

Da esquerda para a direita: Robles Monteiro, Amélia Rey Colaço e António Pinheiro no Primo Basílio (1923), de Georges Pallu
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

Robles Monteiro foi homenageado na toponímia de Lisboa quase doze anos após o seu falecimento, pelo Edital municipal de 09/02/1970, através da Rua Actor Robles Monteiro, na que era a Rua C à Rua da Venezuela ou Rua C à Rua 2 do Bairro de Santa Cruz, por sugestão do próprio Presidente da CML de então, França Borges, na proximidade  de um novo pólo toponímico de atores na cidade , no Bairro de Santa Cruz, em Benfica, com os nomes de Vasco Santana, Estêvão Amarante, Nascimento Fernandes e Alves da Cunha, criado no ano anterior, pelo Edital de 10 de abril de 1969.

Felisberto Manuel Teles Jordão Robles Monteiro (Castelo Branco/09.09.1890 – 28.11.1958/Lisboa), estreou-se no mesmo Teatro – hoje São Luiz – que Amélia Rey Colaço, pela mão de Augusto Rosa, mas quatro anos antes, em 1913, e aí desempenhou papéis de relevo em que foi muito aplaudido pelo público, tendo daí seguido para o Teatro Ginásio, na Rua Nova da Trindade. Em dezembro de 1920 casou com Amélia Rey Colaço com quem no ano seguinte criou a empresa Rey Colaço-Robles Monteiro, e onde se dedicou particularmente à encenação e à administração.

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A Rua João Villaret, daquele que declamou Régio

Régio com João Villaret e o poeta Alberto de Serpa em 1947
(Foto: © CER)

João Villaret tornou conhecida a poesia de José Régio ao declamá-la em recitais que enchiam plateias nos teatros do país, assim como  no seu programa semanal na RTP, sendo particularmente recordadas as suas interpretações dos poemas regianos Cântico Negro e Toada de Portalegre. Acresce que a sua ligação de amizade a Régio também se fez por via epistolar.

João Villaret faleceu em 21 de janeiro de 1961 e em menos de dois meses, por Edital municipal de 4 de março de 1961, o seu nome passou a ser topónimo da Rua projetada à Avenida Sacadura Cabral ou Rua Projetada à Rua David de Sousa, também conhecida como Rua Actor Viana, correspondendo assim a Câmara Municipal às sugestões enunciadas pelos  jornais Diário PopularDiário Ilustrado e Diário da Manhã logo após o falecimento do ator alfacinha.

João Henrique Pereira Villaret (Lisboa/10.05.1913 – 21.01.1961/Lisboa) notabilizou-se como ator e declamador. Estudou no Liceu Passos Manuel e começou logo a fazer teatro amador, o que o conduziu a frequentar o Conservatório Nacional de Teatro onde se diplomou em julho de  1931 e, em outubro desse mesmo ano estreou-se no palco do Teatro D. Maria II, na companhia Amélia Rey-Colaço-Robles Monteiro, na peça Leonor Teles de Marcelino Mesquita. Depois, em 1946 ingressou nos Comediantes de Lisboa, companhia fundada dois anos antes por Ribeirinho e o seu irmão, António Lopes Ribeiro, onde desempenhou vários papéis principais. Em 1951, tornou-se o diretor artístico do Teatro Monumental. Em 1959, recebeu o Prémio Eduardo Brazão para a melhor interpretação masculina do ano e, no ano seguinte, fez o seu último espetáculo, a Ratoeira de Agatha Christie, em cuja ante-estreia foi galardoado com a Ordem de Santiago e Espada.

João Villaret escreveu ainda 5 revistas, uma opereta e uma peça em 3 atos. Também participou no cinema português, começando por  interpretar D. João VI no Bocage (1936) de Leitão de Barros, a que seguiram o mudo do Pai Tirano (1941), o bobo Martin de Inês de Castro (1945), o D. João III de Camões (1946), o Telmo Pais de Frei Luís de Sousa (1950), Cristóvão de Miranda de A Garça e a Serpente (1952), e  o Sebastião d’ O Primo Basílio (1959).

Na memória dos portugueses ficou o estilo inconfundível de recitação poética de João Villaret, que levava multidões a encherem salas para o ouvirem e a colarem os seus olhares aos ecrãs televisivos para assistir ao seu programa semanal na RTP – no período de 1958 a 1960-, tendo ficado muito populares A Procissão de António Lopes Ribeiro e o Fado Falado de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, estreado na revista Tá Bem Ou Não ‘Tá (1947). Na década de 50 do séc. XX, Villaret chegou a ter também um programa na televisão de São Paulo intitulado Poesia em sua casa e assim, ganhou os epítetos de Génio Dramático em Portugal e de Milagre Humano no Brasil.

Na sua correspondência publicada sabemos que além de se corresponder com José Régio, também o fazia com outros como Alfredo Cortez, António Botto, João Gaspar Simões, Miguel Torga e Palmira Bastos.

Programa de recital de Villaret de 1948, com dedicatória para Régio (Foto: © CER)

 

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A Rua de Ribeirinho, Rufino Filho do Pátio das Cantigas e realizador desse mesmo filme

Freguesia de Arroios
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Ribeirinho, o Rufino Filho do Pátio das Cantigas e realizador desse mesmo filme, assim como conhecido protagonista de filmes como O Pai TiranoA Menina da Rádio ou O Grande Elias dá nome a uma rua extraída de um troço do Regueirão dos Anjos desde 1986.

Dada a escassez de novas artérias na cidade de Lisboa dos anos 80, a Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) foi o topónimo dado ao troço superior do Regueirão dos Anjos, situado no prolongamento da Rua António Pedro, pelo Edital 24 de abril de 1986.

Animatógrafo, 19 de maio de 1941

De seu nome completo Francisco Carlos Lopes Ribeiro (Lisboa/21.09.1911 – 07.02.1984/Lisboa) foi um popular ator, encenador e cineasta que na memória dos portugueses se fixou como Ribeirinho, alcunha ganha por ser o irmão mais novo do cineasta António Lopes Ribeiro, tendo também dado o rosto e o corpo nos filmes deste:  o Barata Boateiro em A Revolução de Maio (1937), o Chico do Austin do Feitiço do Império (1939), o Chico caixeiro de O Pai Tirano (1941), o Jerónimo de A Vizinha do Lado (1945) e o Ernesto Ledesma de O Primo Basílio (1959). Foi ainda protagonista, argumentista e realizador do mais popular filme português: O Pátio das Cantigas, estreado em 16 de janeiro de 1942, no Cinema Éden, que começou a rodar nos estúdios da Tobis em 29 de setembro de 1941. Integrou ainda os elencos de filmes de outros cineastas como A Menina da Rádio (1944) e O Grande Elias (1950) de Arthur DuarteO Costa de África (1954) de João Mendes em que foi também argumentista, Aqui Há Fantasmas (1964) de Pedro Martins ou O Diabo Desceu à Vila (1978) de Teixeira da Fonseca.

Com o seu irmão fundou a companhia Os Comediantes de Lisboa (1944 – 1950) e também dirigiu o Teatro do Povo, em 1935, a convite de António Ferro, bem como o Teatro da Mocidade Portuguesa, o Teatro Universitário e o Teatro Nacional Popular (1957 – 1960), onde pela primeira vez em Portugal, em  1959, se levou à cena uma peça de Samuel Beckett: o À Espera de Godot. Em 1965, abriu o Teatro Villaret de Raul Solnado, com O Impostor Geral, a partir de O inspetor-geral de Gogol. Em 1977, integrou a Comissão Instaladora do Teatro Nacional de D. Maria II, cabendo-lhe a sua direção no período de 1978 a 1981, tendo aqui feito as suas últimas encenações como As Alegres Comadres de Windsor de Shakespeare ou A Bisbilhoteira de Eduardo Schwalbach. Colaborou ainda na televisão, nas peças Noite de Reis ou O Urso, bem como dirigindo com o seu irmão o documentário As Rodas de Lisboa (1951), comemorativo dos 50 anos da Carris de Lisboa.

Ribeirinho começara no teatro aos 6 anos, no verão de 1917,  na revista Tiros sem bala, apresentada em Lisboa no Grémio dos Despretensiosos, e aos 18 anos, em 3 de outubro de 1929, estreou-se profissionalmente na Companhia de Chaby Pinheiro, em A Maluquinha de Arroios, de André Brun. Foi ainda repórter da revista Cinegrafia (1929 e 1930), sediada na Rua Capelo, nº 5 – 3º; casado com a atriz Maria Lalande de quem teve uma filha (Maria Manuel Lalande Lopes Ribeiro) assim como depois com a atriz Lourdes Lima; e galardoado com os prémios Eduardo Brazão, Chaby Pinheiro e o grau de oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada.

Como Francisco Ribeirinho e/ou Ribeirinho o seu nome é também topónimo nos concelhos de Almada (na Costa de Caparica: Praceta, Rua e Travessa), Amadora (na Venda Nova), Cascais ( em Alcabideche e em São Domingos de Rana), Odivelas, Seixal (em Fernão Ferro), Oeiras (em Linda-a-Velha), Sintra (em Mem Martins, Rio de Mouro e na vila de Sintra) e Vila Franca de Xira (em A-dos-Bispos e em Vila Franca de Xira).

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Olavo d’Eça Leal, homem de cinema e teatro numa Rua de São Domingos de Benfica

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O multifacetado artista Olavo d’Eça Leal, por ter sido um homem de cinema, enquanto ator, assistente e realizador, cabe no nosso tema desde último mês de 2018- cineastas e cinéfilos- sendo a Rua Olavo D’ Eça Leal o topónimo de um troço da Rua D à Rua Lúcio de Azevedo, desde a publicação do Edital municipal de 10 de julho de 2001.

No cinema, Olavo d’Eça Leal foi assistente de montagem do primeiro filme sonoro português,  Severa  (1931), de Leitão de Barros, assim como assistente de realização de Revolução de Maio (1937), de António Lopes Ribeiro. Foi também ator de Sonho de Amor (1945) de Carlos Porfírio, bem como de Ladrão Precisa-se (1946) de Jorge Brum do Canto. Fez crítica de cinema nas revistas Kino e Imagem de António Lopes Ribeiro, assim como a locução do documentário Monumentos Nacionais (1942) de Lino António e ainda produziu e realizou o seu próprio documentário Vida e Morte dos Porcos (1957). O seu livro Iratan e Iracema – Os Meninos Mais Malcriados do Mundo foi adaptada ao cinema em 1987, no filme homónimo realizado pelo seu filho Paulo-Guilherme, que obteve o Troféu de Ouro 1988 do Festival de Cinema dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Refira-se também que Olavo foi desenhador no Atelier de desenhos animados, publicidade e fotografia de moda de André Vigneau.

De seu nome completo Olavo Correia Leite d’ Eça Leal (Lisboa/31.07.1908 – 17.09.1976/Grã-Bretanha), filho da dramaturga e poetisa Flávia Guimarães Correia Leite e do poeta Thomaz d’Aquino Pereira d’Eça e Albuquerque Leal, foi educado no Colégio Militar e na École Pascal, em Paris. Para além do cinema, seguindo a moda dos Anos Vinte do Século XX, mostrou-se um artista multifacetado: como escritor de poesia e de ficção, dramaturgo, jornalista, radialista, desenhador e professor de desenho, sendo que a sua obra está representada no Museu Gulbenkian.

Da sua obra editada, destaca-se a literatura infantil de Provérbios (1928), História de Portugal para meninos preguiçosos (1933) e Iratan e Iracema – Os Meninos Mais Malcriados do Mundo (1939), que foi Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho. Na ficção, publicou as novelas  Fim de Semana (1940),  o romance Processo Arquivado (1948) que foi galardoado com o Prémio Fialho de Almeida e o romance Conceituado Comerciante (1958) com ilustrações e capa do seu filho Paulo. Também escreveu diversas peças, das quais foram levadas à cena Noite de Natal ( no Teatro do Ginásio nos anos trinta), A Taça de Ouro ( no Teatro Nacional em 1953), O Amor, o Dinheiro e a Morte ( no Teatro da Trindade em 1960) e Noite de Paz (nos anos 60, na RTP). Olavo também colaborou, com textos e com desenhos, nas revistas AtlânticoContemporânea, Panorama, Seara Nova e Presença.

Quando esteve emigrado no Brasil, em 1933 e 1934, trabalhou a fazer cartazes publicitários, análises grafológicas e a ensinar desenho a crianças. Voltou a Portugal para concorrer a locutor na Emissora Nacional, e aí ficaram populares os seus Diálogos de Domingo, com Virgínia Vitorino, a partir dos quais  publicou Falar por Falar (1943), A Voz da Rádio (1944) e Nem Tudo Se Perde no Ar (1945). Na década de cinquenta ingressou no Rádio Clube Português, onde também teve sucesso.

Na sua vida pessoal, casou três vezes – com Luísa Ribeiro, Clara Amaral e Emília Pinto, tendo tido como filhos, entre outros, Paulo Guilherme Tomáz Dúlio Ribeiro d’ Eça Leal (1932), Olavo Oliveira Amaral d’Eça Leal e o arquiteto Tomás Olavo Pinto d’Eça Leal (1952).

O seu nome está também fixado numa artéria de Fernão Ferro, no concelho do Seixal.

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Jorge Brum do Canto de «Os Lobos da Serra»

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Jorge Brum do Canto, o realizador de Os Lobos da Serra, filmado em grande parte nas instalações da Tobis Portuguesa, está desde 1995 fixado na toponímia de uma Rua  da Freguesia da Ajuda.

A inscrição de Jorge Brum do Canto como topónimo lisboeta resultou da Moção de Pesar 5/CM/94, processo que terminou com a publicação do Edital municipal de 16 de janeiro de 1995, que colocou o nome do  cineasta na Rua 19 do Bairro do Caramão da Ajuda, a unir a Rua José Pinto Bastos à Rua Francisco de Sousa Tavares.

Animatógrafo, 17 de fevereiro de 1942

Jorge Brum do Canto (Lisboa/10.02.1910 — 07.02.1994/Lisboa) desde muito novo mostrou-se um entusiasta do cinema e foi realizando um percurso por ele, tornando-se também um cineasta. Por ordem cronológica, nos anos vinte, estreou-se como ator no filme O Desconhecido de Rino Lupo, em 1925, quando contava 15 anos. Dois anos depois e até 1929,  foi crítico de cinema no jornal O Século com a página O Século Cinegráfico, enquanto frequentava o curso de Direito em Lisboa, que acabou por abandonar, mas mostrou logo em 1929 a sua primeira obra como realizador, A Dança dos Paroxismos, considerado um inovador exercício fílmico, ainda mudo, influenciado pelo vanguardismo francês.

Na década de trinta, colaborou em várias revistas de cinema – Cinéfilo, Kino e Imagem– e realizou alguns documentários como Fabricação de Mangueiras (1932), Uma Tarde em Alcácer, Sintra – Cenário de Filme Romântico, Abrantes –  Nada de Novo… em Óbidos (todos em 1933), ou Berlengas (1934), para além da sua curta-metragem A Hora H (1938) e o seu filme de maior sucesso, A Canção da Terra (1938). Foi também assistente de realização e autor da planificação de As Pupilas do Senhor Reitor (1935) de Leitão de Barros e de O Trevo de Quatro Folhas (1936) de Chianca de Garcia.

Nos anos 40, estreou 5 películas: João Ratão (1940), Lobos da Serra (1942), Fátima, Terra de Fé (1943), Um Homem às Direitas (1945), Ladrão, Precisa-se!… (1946). Nas décadas de  cinquenta e sessenta, fixou-se de 1953 a 1959 em Porto Santo e depois, realizou Chaimite (1953), Retalhos da Vida de um Médico (1962), Fado Corrido (1964) e Cruz de Ferro (1968). Em 1973 entra como ator nas peças teatrais da RTP, dirigidas por Artur Ramos, tal como em 1975, na série Angústia Para o Jantar, de Jaime Silva. Entre 1978 e 1984, ainda rodou o seu último filme: O Crime de Simão Bolandas.

Adepto da pesca desportiva e da culinária, foi ainda diretor gráfico e responsável da secção de pesca da revista Diana, bem como co-autor com sua mãe, Bertha Rosa Limpo, de O Livro de Pantagruel (1947).

Em 1982 foi realizada sobre ele a média metragem Jorge Brum do Canto, para a RTP, e em 1984, a Cinemateca editou um catálogo da sua obra. Para além de Lisboa, o seu nome faz parte também dos concelhos da Amadora, Oeiras (Carnaxide), Porto Santo, Seixal (Corroios) e Sintra (Mem Martins).

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Artur Duarte, de «O Leão da Estrela»

Freguesia de Marvila
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Artur Duarte, o realizador de O Leão da Estrela está desde 1984 como topónimo da Freguesia de  Marvila, tal como Chianca de Garcia, outro cineasta alfacinha, nas Rua L 2 e  Rua L 3 da Zona L de Chelas, pelo Edital municipal de 28 de fevereiro de 1984, tendo ambos os topónimos resultado de sugestão da Cinemateca Portuguesa que a edilidade lisboeta consagrou.

A Cinemateca Portuguesa sugeriu também o nome do pioneiro do cinema Paz dos Reis, mas este já estava homenageado numa artéria de Benfica desde há 3 anos, através da publicação do Edital de 4 de dezembro de 1981, por ocasião do centenário da morte do cineasta e por sugestão da Secretaria de Estado da Cultura.

Animatógrafo, 12 de junho de 1933

Arthur de Jesus Pinto Pacheco Duarte (Lisboa/17.10.1895 – 22.08.1982/Lisboa) foi primeiro ator de teatro e de cinema, ainda antes do sonoro, para se tornar também cineasta. Logo em 1934, foi ator mas também diretor de produção de António Lopes Ribeiro para a realização de Gado Bravo (junho a novembro de 1933), função que repetiu em O Feitiço do Império (abril de 1938 a junho de 1939), tal como em Rosa do Adro (1937) de Chianca de Garcia e em Bocage (1935-1936) e Varanda dos Rouxinóis (1938 – 1939) de Leitão de Barros. Como cineasta, realizou 6 filmes que foram de grande sucesso junto do público:  Os Fidalgos da Casa Mourisca (1938), O Costa do Castelo (1943), A Menina da Rádio (1944), O Leão da Estrela (1947), O Grande Elias (1950) e O Noivo das Caldas (1956). O primeiro filme que realizou foi a comédia O Castelo de Chocolate, em 1923. Também realizou Férias à Beira-Mar (1942), O Caminho da Vida (1943), mais cerca de dez películas em Espanha – como El Huésped Del Cuarto 13 – O Hóspede do Quarto Treze (1947) ou e Nubes de Verano – Parabéns, Senhor Vicente (1955)-, assim como em A Garça e a Serpente (1954), Dois Dias no Paraíso (1957), Encontro com a Vida (1960). No Brasil, também rodou o filme Em Legítima Defesa-Encontro com a Morte (1965). Aos 81 anos conseguiu ainda concretizar a Recompensa (1976). Também realizou curtas metragens, documentários e filmes publicitários.

Artur Duarte completou o curso de representação do Conservatório Nacional e ingressou na companhia Rosas & Brasão, em 1918, estreando-se na peça A Conspiradora, no então Teatro da República (hoje é o São Luiz). Pisou também os palcos do São Carlos, do Trindade e do D. Maria II, em Lisboa.

Como ator cinematográfico, começou em 1921, em A Morgadinha de Vale Flor, de Ernesto de Albuquerque, conseguindo ser o ator português mais internacional, tanto que na Alemanha, onde viveu de 1925 a 1930, participou em 57 filmes mas, ainda trabalhou em Paris, Madrid, Viena, Suíça e África do Sul.

Na sua vida particular, foi casado com a atriz Teresa Casal, que apareceu em vários dos seus filmes, como a Gabriela de Os Fidalgos da Casa Mourisca ou a Isabel de O Costa do Castelo.

Faleceu em Lisboa, no Instituto Português de Oncologia e o seu nome, para além de estar na toponímia desta sua terra natal, surge também nos concelhos de Almada (Charneca da Caparica), Oeiras (Carnaxide), Sintra (Mem Martins).

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Eugénio Salvador, o ator-dançarino e futebolista

Freguesia de Carnide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Eugénio Salvador, que trabalhou sobretudo em teatro de comédia,  foi também ator de cinema no período longo de 1930 a 1992, em cerca de uma vintena de filmes, e desde a publicação do Edital municipal de 7 de setembro de 1993 que é o topónimo da que era a Rua A do Bairro da Horta Nova, no troço compreendido entre o lote 11 e a Estrada do Paço do Lumiar.

Foto: Artur Bourdain de Macedo, Arquivo Municipal de Lisboa

Eugénio Salvador Marques da Silva (Lisboa/31.03.1908 – 01.01.1992/Lisboa), filho do cenógrafo e empresário teatral Luís Salvador Marques da Silva e de Eugénia Maria Dias,  formou-se em Arte de Representar no Conservatório de Lisboa,  e depois especializou-se em comédia, o género que nunca mais abandonou, para além de ser dançarino e coreógrafo. Fez a sua estreia profissional em 1928, no Teatro Maria Vitória, na peça O Grão de Bico,   construindo-se como uma figura importante do teatro de revista, conseguindo ser compère, ator, encenador, diretor de cena, bailarino, ensaiador coreográfico e artista de variedades. No teatro, somou mais de 100 peças na sua carreira, de 1949 a 1988.

Destaque-se que em 1951, para a inauguração do Teatro Monumental, com a opereta de Strauss As três valsas, Eugénio Salvador para além de ator foi o ensaiador coreográfico, nomeadamente de Laura Alves, assim como seis anos depois, foi o encenador da comédia musical João Valentão (1957), onde dirigiu Mariana Vilar. Passou também pela televisão em programas como A TV Através dos Tempos ou A Feira.

No cinema, Eugénio Salvador começou logo em 1930,  numa rábula com Chaby Pinheiro e Beatriz Costa no Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros, realizador com quem também trabalhou no Maria Papoila (1937). Depois, integrou os elencos de mais cerca de 20 longas-metragens, em que contracenou diversas vezes com Milú e António Silva. Esteve em Cais do Sodré (1946) de Alejandro Perla. Com Perdigão Queiroga,  fez Fado, História d’uma Cantadeira (1948), Sonhar É Fácil (1951), Madragoa (1952), Os Três da Vida Airada (1952) em que também coreografou, As Pupilas do Senhor Reitor (1961) e O Parque das Ilusões (1963). Foi ator de Sol e Touros (1949) de José Buchs, de Eram Duzentos Irmãos (1952) de Armando Vieira Pinto, Um Marido Solteiro (1952) de Fernando Garcia, O Comissário de Polícia (1953) de Constantino Esteves,  Vidas Sem Rumo (1956) de Manuel Guimarães, Aqui Há Fantasmas (1964) e Bonança & C.a (1969), ambos de Pedro Martins e por último, em Aqui D’El Rei! (1992) de António Pedro Vasconcelos. Refira-se que com Henrique Campos fez ainda Duas Causas (1953), A Maluquinha de Arroios (1970) e O Destino Marca a Hora (1970).

Refira-se ainda que Eugénio Salvador foi também um exímio dançarino, que ficou conhecido a partir da sua parelha Lina & Salvador, que por exemplo, se exibia nos intervalos das sessões de filmes duplos, no Cinema Éden. Casou com o seu par, Lina Duval, de quem teve um filho (António Manuel Salvador Marques). Mais tarde, foi casado com a atriz Odete Antunes.

Por último, diga-se que o futebol, também fez parte da vida de Eugénio Salvador, jogando a extremo-esquerdo desde a  inauguração do Campo das Amoreiras do Sport Lisboa e Benfica, em 13 de dezembro de 1925. Nesse  clube fez 43 jogos e marcou 20 golos, entre outubro de 1927 e junho de 1934.

Eugénio Salvador é também topónimo nos concelhos de Almada (uma Rua, uma Travessa e uma Praceta na Charneca de Caparica), Amadora (São Brás), Cascais (Parede), Montijo, Seixal (Arrentela), Odivelas (Pontinha) e Oeiras (Queijas).

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O encontro de pintores na Rua Mário Eloy nascida na Avenida Maria Helena Vieira da Silva

Freguesia do Lumiar

A Rua Mário Eloy nasce na Avenida Maria Helena Vieira da Silva assim produzindo um encontro de pintores na toponímia da  freguesia do Lumiar, desde 1997. Foi pelo Edital de 30 de outubro de 1997 que Mário Eloy passou a ser o topónimo do Impasse III à Avenida Maria Helena Vieira da Silva, ao mesmo tempo que o Impasse II passou a ter o nome do caricaturista Amarelhe.

Autorretrato de 1928

Mário Eloy (Lisboa/15.03.1900 – 09.09.1951/Sintra), de seu nome completo, Mário Elói de Jesus Pereira, foi um pintor autodidata, filho e neto de ourives e atores de teatro, da chamada «Segunda Geração» dos modernistas portugueses embora como pintor expressionista por influência alemã, estivesse de algum modo isolado no meio artístico lisboeta.

Eloy nasceu no mesmo ano dos segundos Jogos Olímpicos Modernos  e da Exposição Universal, ambos em Paris.  Contudo, o seu pai, António Augusto Pereira, assim como o seu avô materno, Elói Marcelino de Jesus, eram amadores de teatro, o que certamente contribuiu para que Mário Elói ingressasse na companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro, na qual se estreou em 23 de março de 1923, na peça Ribeirinha, no palco do Politeama, então sede da companhia, sendo certo que Mário Eloy dedicou a sua primeira exposição de pintura da seguinte forma: «Dedicada à memória de meu Pai, ao ilustre artista Augusto Pina, o grande amigo, a Amélia Rey Colaço, iluminada de Deus, e a Robles  Monteiro.»

Estudou no Liceu Passos Manuel e  decidiu frequentar a Escola de Belas Artes, de 1912 a 1913, para rapidamente escolher antes ser pintor autodidata, como Almada Negreiros, por exemplo. De igual modo, teve uma breve passagem no atelier de cenografia de Augusto Pina e por isso, em 1925, pintou o pano de boca do Tivoli, de inspiração algo futurista.

A pintura de Eloy exprimia lirismos, angústias e visões e a sua vida foi cheia de rápidas fugas e paixões. Aos 19 anos fugiu de um emprego bancário que o pai lhe arranjara numa viagem aventurosa para Madrid. Em 1924, expôs pela primeira vez na Sala da Ilustração Portuguesa, em Lisboa, com Alberto Cardoso, acusando já uma tendência expressionista e continuou em janeiro de 1925, no Salão de Outono da Sociedade Nacional de Belas Artes. Em 1925, partiu para Paris e dali para Berlim (1927), fazendo uma exposição em cada uma destas cidades, embora em Berlim tenha estudado pintura,  casado com Theodora Laura Severin e tido um filho em 1929, de seu nome Mário António Horslt Elói de Jesus Pereira e que viria também a ser pintor. De Berlim, enviou trabalhos para  expor em Lisboa no Sindicato dos Profissionais da Imprensa (1928) e nos Salões de Independentes de 1930 e 1931, assim como no último ano voltou a expor em Berlim, na Galeria Flechtheim. Regressou sozinho a Portugal em 1932, reatou as tertúlias nos cafés e a antiga relação com Beatriz Costa e expôs no Salão de Inverno da Sociedade Nacional de Belas Artes, com um dos raríssimos nus da pintura nacional dessa época. Esteve ausente do país quase ao mesmo tempo que Almada Negreiros e a sua estadia na Alemanha conduziu-o para um desenho linear, alargando o leque da pintura portuguesa às influências expressionistas alemãs. Em 1934, expôs individualmente na UP- Galeria do Chiado, propriedade de António Pedro e de Tom -, e no ano seguinte, na I Exposição Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional, onde obteve o prémio Sousa Cardoso, com o quadro Lisboa, encomendado por António Ferro. Em 1936 preferiu juntar-se aos «Artistas Independentes», mas regressou ao salão oficioso nos anos de 1938 e 1939.

Alheio a encomendas, Mário Eloy passou a retratar apenas artistas e intelectuais seus companheiros. Retratou entre outros, José Pacheko para o 1º número da revista Contemporânea (1925), o pintor Paulo Ferreira (1934), o bailarino Francis (1930), João Gaspar Simões de forma caricaturada,  bem como o pintor Altberg com a sua mulher (1932). Também pintou figuras anónimas numa realidade simples e expressiva como em O Desemprego (1935),  Amor (1935), O Livro Azul ou Bailarico no Bairro (1936). As seus últimas quatro telas – O Poeta e o Anjo (1938), Da Minha Janela também conhecido como No Cemitério (1938), A Fuga (1938) e um outro inacabado, conhecido como No camarote (1945)-, são composições de figuras angustiadas e de expressões de lirismo. Gaspar Simões considerou mesmo em 1938 que ele foi o primeiro a «fazer entrar o sonho nas artes plásticas nacionais».

Em 1951, ano da última Exposição de Arte Moderna promovida pelo SNI- Secretariado Nacional de Informação e da I Bienal de S. Paulo e dos seus 51 anos, morreu louco – portador da doença ou coreia de Huntington – no Telhal (em Sintra), onde estava internado desde 1945. Sete anos depois, em 1958, o SNI fez-lhe uma exposição retrospetiva organizada pelo pintor Paulo Ferreira, com catálogo prefaciado pelo Arqtº Jorge Segurado. Em 1978 foi a vez da Fundação Calouste Gulbenkian fazer uma mostra semelhante em Londres e em 1996, o Museu do Chiado fez o mesmo.

A sua obra está representada no Museu do Chiado, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian , na Fundação da Casa de Serralves e na Casa de Portugal em Paris. O seu nome está presente também na toponímia da Charneca de Caparica, de Cascais, de Santo António dos Cavaleiros, de Algés, de Fernão Ferro e de Rio de Mouro.

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Fernando Gusmão, encenador do Teatro Moderno de Lisboa, no Bairro teatral do Vale da Ameixoeira

Freguesia de Santa Clara
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Fernando Gusmão, o ator e encenador alfacinha, fundador e encenador do Teatro Moderno de Lisboa em 1961 , dá nome à Rua 6A do Vale da Ameixoeira desde abril de 2004, sendo assim também o primeiro topónimo de um Bairro cujos arruamentos têm topónimos relacionados com o meio teatral.

Foi pelo Edital municipal nº 20/2004 de 19 de abril de 2004 que foi fixada a Rua Fernando Gusmão na Rua 6A que hoje une a Rua Artur Ramos à Rua António Vilar. No mesmo dia, pelo Edital nº 21/2004, o Vale da Ameixoeira recebeu na sua Rua 3 a Rua Fernanda Alves.  Quase três meses depois, mais artérias do Vale da Ameixoeira foram preenchidas com nomes de atores: António Vilar (Rua 4 A), Arnaldo Assis Pacheco (Rua 1 A à Estrada da Circunvalação), José Viana (Rua 1 B), Raul de Carvalho (Rua 4 B) e Varela Silva (Rua 2A). E cinco anos mais tarde, pelo Edital de 16 de setembro de 2009, nasceu na Rua 6B a Avenida Glicínia Quartin, a primeira vez que uma  Avenida lisboeta recebeu o topónimo de um ator.

Fernando Morais Ferreri Gusmão (Lisboa/06.02.1919 – 17.02.2002/Casa do Artista – Lisboa) foi um ator e encenador que participou na construção desse marco no teatro português que foi o Teatro Moderno de Lisboa, fundado em 1961 por uma sociedade de atores que o unia a Armando Caldas, Armando Cortez, Carmen Dolores e Rogério Paulo. Foi nesta Companhia que se estreou como encenador de Humilhados e Ofendidos  a partir do original de Dostoievski (1961), Os Três Chapéus Altos de Miguel Mihura e Render dos Heróis de José Cardoso Pires (1965), a última da sociedade teatral, retirada de cena pela censura teatral. De 1961 a 1965 o Teatro Moderno de Lisboa funcionou no Cinema Império, no  inovador horário das 18: 30 horas e 11:00 horas de domingo, em sessões que transbordavam de público. Entre tantos outros, neste palco representaram Armando Cortez,  Armando Caldas, Cármen Dolores, Clara Joana, Fernanda Alves,  o próprio Fernando Gusmão, Morais e Castro, Rogério Paulo, Rui de Carvalho ou  Rui Mendes. Lauro António, no seu blogue, considera mesmo que « Desde “O Tinteiro” até ao “Render dos Heróis” foi uma actividade magnífica, desenvolvida por uma sociedade de actores que pretendia acima de tudo rumar contra o marasmo, abrir horizontes, rasgar janelas.» 

Fernando Gusmão viveu em Cabo Verde dos 5 aos 19 anos mas regressou em 1938 e dez anos depois, iniciou-se no teatro como amador, no Grupo Os Companheiros do Pátio das Comédias, onde interpretou O Casamento de Nicolau Gogol,  Continuação da Comédia de João Pedro de Andrade (que em 1957 também  interpretaria para a televisão numa realização de Artur Ramos) ou a Escola de Maridos de Molière. Nos anos 50, profissionalizou-se ao ingressar na Companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, no Teatro Nacional D. Maria II, representando Curva Perigosa, de Priestley, A Senhora das Brancas Mãos de Alejandro Casona ou A Comédia da Morte e da Vida, de Henrique Galvão.

Nesta década de cinquenta Fernando Gusmão ainda se destacou no Rei Lear de Shakespeare e em O Príncipe Disfarçado de Marivaux, tendo trabalhado  na Companhia Alves da Cunha no Teatro Gymnasio (1951); no Teatro do Povo, com Francisco Ribeiro, no Alfageme de Santarém de Almeida Garrett; no Teatro Avenida, em Joana D’ Arc de Jean Anouilh e João Gabriel Bockman de Ibsen (1955); no Teatro Nacional Popular,  sediado no Teatro da Trindade, de 1957 a 1959, interpretando sucessivamente Noite de Reis de Shakespeare, Um Dia de Vida de Costa Ferreira, Doze Homens Fechados de Reginald Rose, Diário de Anne Frank de Goodrich e Hackett, Pássaros de Asas Cortadas de Luiz Francisco Rebello ou À Espera de Godot de Samuel Beckett.  Também se estreou no teatro de revista, em Aqui é Portugal, numa temporada no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, em 1955.

A partir dos anos sessenta a sua faceta de encenador começou a mostrar-se, no Teatro Moderno de Lisboa. Também dirigiu o Grupo Cénico de Direito (1965 e 1966); encenou O Tempo e a Ira de John Osborne  e A Renúncia de Unamuno no Teatro Experimental do Porto-TEP, assim como  A Voz Humana de Jean Cocteau, interpretado por Maria Barroso, tudo em 1967;   dirigiu o  Grupo 4 (1968), o Teatro dos Estudantes Universitários de Moçambique (1970) e a A Excepção e a Regra de Bertolt Brecht no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra- TEUC.

Após o 25 de Abril, foi presidente do Sindicato de Atores  e membro fundador do Grupo de Teatro Proposta, ao lado de Augusto Sobral, Manuel Coelho,  Luís Alberto e Victor Esteves (1975); ministrou um curso de formação para atores na Guiné-Bissau (1978); encenou Corpo-Delito para o Grupo 4, já renomeado Novo Grupo, no  Teatro Aberto (1979); passou a encenar o Grupo de Campolide (1981) e regressou ao TEP, bem como ao TEUC para encenar O Sonho de Enrique Buenaventura (1990), na mesma década em que publicou o livro autobiográfico A Fala da Memória (1993).

Fernando Gusmão também trabalhou para rádio e televisão, para além do cinema, onde figurou algumas longas-metragens como Saltimbancos de Manuel de Guimarães (1952),  O Mal Amado de Fernando Matos Silva (1974) ou Os Demónios de Alcácer Quibir de José Fonseca e Costa (1977).

Morou no nº 12 da Rua das Taipas, no prédio onde Sá Nogueira teve atelier e em Almada (Sobreda), dá também nome a uma rua, próxima das Ruas Luzia Martins e Armando Cortez.

Freguesia de Santa Clara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Ângela Pinto à volta do Mercado de Arroios

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Ângela Pinto é a rua que encontramos a toda a volta do Mercado de Arroios, desde a publicação do Edital municipal de 12 de março de 1932, assim perpetuando a memória da protagonista da Severa e do Hamlet na toponímia da cidade de Lisboa.

O projeto urbanístico aprovado em sessão de Câmara de 7 de abril de 1928 determinou o futuro da zona contida entre a Praça do Chile e a Alameda Dom Afonso Henriques, tendo a Rua Ângela Pinto sido o topónimo dado à «Circular, em volta do mercado», conforme  regista o Edital, que acolheria obras a partir de 1939 para a construção de um mercado novo, do risco do Arqº Luís Benavente, que foi oficialmente inaugurado em 28 de fevereiro de 1942.

Já o Edital de 12 de março de 1932 consagrou também na mesma zona o empresário teatral Eduardo Brazão (Rua 8), bem como os atores Ferreira da Silva (na antiga Rua nº 7A), Joaquim Costa (Rua Particular), José Ricardo (Rua 7), Lucinda Simões (Rua nº 8A) e Rosa Damasceno (Rua nº 6),  para além de uma Avenida Rey Colaço (Rua 23) que nunca foi executada e foi este conjunto de topónimos que fez com que o sítio ficasse conhecido como Bairro dos Atores.

Ângela Rita Clara de Almeida Pinto (Lisboa/15.11.1869 – 09.03.1925/Lisboa) foi uma atriz que teve como os pontos altos da sua carreira uma magistral interpretação da Severa, na peça homónima de Júlio Dantas, estreada no  Teatro D. Amélia (depois, São Luiz) em 25 de janeiro de 1901, desempenho onde cantava fado, bem como o seu papel em travesti protagonizando Hamlet, em 1910, representação em que usou uns sapatos pretos feitos especialmente com mais 3 centímetros de sola. Ângela Pinto era muito acarinhada pelo público que enchia as plateias dos teatros para a ver.

Nascida no nº 30 da Rua do Arco da Graça, filha de Júlia de Almeida Pinto e de João de Almeida Pinto – músico por vezes contratado pelo São Carlos, jornalista e um dos proprietários de O Contemporâneo, publicação dedicada a assuntos de teatro -, desde a infância privava com redatores do jornal paterno como Gervásio Lobato, Sousa Bastos, Salvador Marques ou Pedro Vidoeira. Ângela frequentou o Colégio da D. Carolina junto à Calçada do Duque e depois um outro na Rua de Betesga, que era pertença de Alberto Bramão, um ensaiador teatral, tendo aprendido a falar bem francês.

Começou por subir à cena em 1885, aos 15 ou 16 anos, numa barraca de feira em Setúbal, na zarzuela em 1 ato Simão, Simões & C.ª. Depois, foi para os Teatros do Porto iniciar a sua carreira profissional e por volta dos  20 anos voltou a Lisboa, onde se estreou no Teatro da Rua dos Condes, no dia 29 de outubro de 1889, na opereta Lobos do Mar, uma tradução do original de  Ramos Carion.  Em 24 de maio de 1890 passa para o  Teatro do Príncipe Real (depois, Apolo) e a 29 de outubro voltou ao Porto, ao Teatro D. Fernando, a convite da Companhia Afonso Taveira & José Ricardo. Aí criou Ravolet, em travesti, na opereta A Bela Perfumista de Offenbach e a 4 de setembro de 1892 regressou ao Teatro da Rua dos Condes para criar a Manuela do Solar dos Barrigas, uma ópera cómica de Gervásio Lobato e D. João da Câmara. Em 1898, fazia parte da Companhia Taveira, então no Teatro da Trindade mas que depois passou ao Teatro do Príncipe Real do Porto, onde nesse mesmo ano protagonizou Ali…à Preta! para, em 1900, estar no alfacinha Teatro do Ginásio, em A Bisbilhoteira de Eduardo Schwalbach e depois no Teatro D. Amélia a protagonizar Lagartixa. Em 1903 passou a integrar o D. Maria II, onde fez a Madalena de Vilhena do Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett, ou no ano seguinte, a Mariana do  Amor de Perdição  de Camilo, adaptado por D. João da Câmara, a Gonerill do Rei Lear, numa adaptação de Júlio Dantas e A Mártir, de Adolph d’Ennery, numa tradução de Guiomar Torresão. Ficaram também na memória o seu Compère da revista Corações à Larga (1915) a imitar a figura de Afonso Costa, para além de ter contracenado com Joaquim Costa em Castelos no Ar (1916) de Eduardo Schwalbach. Em 1919, integrou a Companhia do Teatro da Trindade, dirigida por Augusto Pina, para A Exilada(1919) e depois esteve no Teatro de São Carlos. Na sua longa carreira, Ângela tanto interpretou revista como comédia ou drama, tendo pisado os palcos da época no Porto, em Lisboa e no Brasil, em diversas digressões.

Por fim, em 1922, Ângela Pinto ainda entra no cinema, interpretando a criada Juliana na rodagem do filme mudo de O Primo Basílio, de Georges Pallu e da Invicta Film do Porto, estreado no ano seguinte no Condes em Lisboa e no Jardim Passos Manuel do Porto.

Na sua vida pessoal, foi conhecida como muito bondosa e caritativa, bem  como uma das grandes boémias de Lisboa, que amou livremente quem achou por bem, depois de em novinha a terem casado com um homem bastante mais velho de quem fugiu logo no dia do casamento. Fazia banquetes no Restaurante Tavares e ceias no Botequim Magrinho. Sabe-se que manteve um relacionamento com D. Luís do Rego e que viveu os seus  últimos dias com um amigo, no nº 3 da Rua da Emenda, assim como teria 2 netos  referidos numa notícia de 1938 sobre uma homenagem que lhe foi prestada no Retiro da Severa.

Aos 54 anos, Ângela Pinto ficou paralisada de um lado do corpo, em pleno palco do  Teatro Politeama, o que a impediu de trabalhar a partir daí e ainda nesse ano de 1923, foi homenageada pelos seus colegas a 19 de novembro, no Teatro de São Carlos, onde recebeu também as insígnias de Oficial da Ordem de Santiago e a receita desse espetáculo no valor de 32.173$64, que foi depositado na Casa Bancária Pinto & Sotto Mayor, para render juros e lhe permitir levantar uma pensão mensal. Os seus colegas atores também reclamaram ao Parlamento em maio de 1923 que lhe fosse concedida uma pensão mensal vitalícia que acabou fixada em 700 escudos. Faleceu na casa da Rua da Emenda, de onde saiu na carreta dos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique, de que Ângela Pinto era sócia honorária, para a Igreja das Chagas, de onde seguiu o funeral para o Cemitério dos Prazeres, para o jazigo 1500 da Rua 11, pertença da Associação dos Socorros Mútuos Montepio dos Actores Portugueses.

O Teatro Águia de Ouro do Porto também a agraciou com a colocação de uma lápide alusiva, o S.N.I. criou o Prémio Ângela Pinto para os Concursos de Arte Dramática e a 29 de janeiro de 1938, foi-lhe prestada ainda uma homenagem no Retiro da Severa, para além de o seu nome estar fixado também em Ruas da Charneca de Caparica, de Fernão Ferro e de Setúbal.

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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