Colégio dos Nobres

A Cerca do Colégio dos Nobres
(Foto: Armando Serôdio © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Colégio Real dos Nobres de Lisboa, instituído no reinado de D. José I por iniciativa do Marquês de Pombal, iniciou a sua atividade em 1766, embora os seus Estatutos tivessem sido aprovados cinco anos antes. Diversos acontecimentos contribuíram para a sua criação: o atentado contra o rei (1758), o processo dos Távoras que culminou com a sua execução pública em Belém em 1759, ano em que os jesuítas, que então dominavam o ensino, foram expulsos de Portugal.

Com capacidade para 100 alunos e um corpo docente essencialmente constituído por mestres estrangeiros, foi instalado num edifício pertencente à Companhia de Jesus, na Cotovia. No seu primeiro ano letivo abriu com 24 discípulos que tinham que ter entre 7 e 13 anos e, no mínimo, o foro de moço-fidalgo. Contrariando os princípios do ensino ministrado pelos jesuítas, o modelo pedagógico do Colégio refletia princípios de laicização do ensino, valorizando as Matemáticas e a Física Experimental e tendo no seu programa, para além das Ciências, as Humanidades e a atividade física, aproximando-se assim do ideário educativo da Europa das Luzes.

O funcionamento do Colégio dos Nobres, o seu sucesso formativo e a sua organização interna ficaram sempre aquém das expetativas, levando a que em 1771 a administração fosse transferida para a Real Mesa Censória. A partir do ano seguinte, prosseguia apenas com o ensino das Humanidades. Assim, uma vez abolido o ensino científico, o conjunto dos instrumentos científicos que integravam o Gabinete de Física do Colégio e que constituem atualmente um importante acervo do Museu de Física da Universidade de Coimbra, foi transferido para a Universidade de Coimbra, reformada nesse mesmo ano.

A derrota das forças absolutistas, lideradas por D. Miguel, pelos defensores do liberalismo aglutinados em torno de D. Pedro IV e a nova Constituição liberal de 1834, foram fatores determinantes para o encerramento do Colégio dos Nobres que não sobreviveu ao conflito ideológico que punha em confronto os interesses da nobreza tradicional com os da burguesia em ascensão.

O Colégio dos Nobres foi também um estabelecimento fixado como topónimo na memória de artérias próximas. A artéria no seguimento da Rua Direita da Fábrica das Sedas, desde o Palácio Soares (depois, Imprensa Nacional) até ao Príncipe Real foi a Rua Direita do Colégio dos Nobres (conforme planta da freguesia das Mercês da remodelação paroquial de 1770), depois Rua do Colégio dos Nobres e ainda mais tarde, Rua da Patriarcal Queimada até o Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859 unir as duas artérias sob a denominação única de Rua da Escola Politécnica. Também fronteiro ao Colégio dos Nobres nasceu o Beco Colégio dos Nobres que hoje é o arruamento situado entre os nºs 87 e 89 da Rua da Escola Politécnica. Das escassas fontes para conhecer a malha urbana imediatamente anterior ao terramoto nesta zona da Cotovia apenas podemos supor que este Beco resulte de um pátio ou saguão posterior à remodelação pombalina executada na área, desde a abertura da Rua Nova de São Mamede até junto do então Colégio dos Nobres. Só na planta de 1857 de Filipe Folque  surge já registado o Beco do Colégio dos Nobres, onde 20 anos mais tarde foi construída uma escadaria empedrada, conforme documentação municipal.

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Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal

Gravura de Sebastião José de Carvalho e Melo
(Foto: Alberto Carlos Lima © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º conde de Oeiras e 1.º marquês de Pombal, nascido a 13 de maio de 1699, dá nome a uma artéria de Lisboa desde o centenário do seu falecimento e, a data do seu nascimento chegou a ser sugerida para feriado municipal na reunião de Câmara de 22 de março de 1926, considerada a importância histórica do estadista para a cidade de Lisboa.

A Praça Marquês de Pombal – hoje na confluência da Avenida da Liberdade, Avenida Fontes Pereira de Melo (então, Rua Fontes), Parque Eduardo VII (na época, Parque da Avenida da Liberdade) e Rua Braamcamp (só denominada como tal em 1888) – , popularmente chamada Rotunda, foi dada pela deliberação de câmara de 6 de maio de 1882, ou seja, no centenário do seu falecimento e quase no 183º aniversário do seu nascimento.

Foi no mesmo ano da atribuição do topónimo em Lisboa que surgiu a ideia de erguer um monumento ao estadista e reedificador de Lisboa e o Parlamento até autorizou o Estado a ceder o bronze necessário. No entanto, a agitação política impediu a sua concretização pelo que a ideia só foi retomada em 1913 através da abertura de concurso público, em que foi escolhido o projeto assinado por Adães Bermudes, António Couto e Francisco Santos. A primeira pedra do monumento foi colocada duas vezes, uma em 15 de agosto de 1917 e outra, em 13 de maio de 1926 e só após mais uns quantos percalços, a estátua foi assente em 2 de dezembro de 1933 e inaugurada em 13 de maio de 1934, no 235º aniversário do Marquês.

Refira-se ainda que o alfacinha Sebastião José de Carvalho e Melo (Lisboa/13.05.1699 – 08.05.1782/Pombal) está presente em mais topónimos lisboetas, que derivam do seu apelido de família (Carvalho), em zonas da cidade onde ele e os seus irmãos detiveram propriedades: a Rua Nova do Carvalho e a Travessa do Carvalho, na zona pombalina do Cais Sodré – São Paulo reconstruída após o Terramoto de 1755, bem como o Alto do Carvalhão, a Rua do Arco do Carvalhão e a Rua do Meio ao Arco do Carvalhão.

Apesar de controverso pelas medidas que implantou e preconizou a nível político, económico, social e cultural, Marquês de Pombal é uma figura incontornável para o estudo do século XVIII, nomeadamente pela sua ligação ao despotismo iluminado. Ainda no reinado de D. João V, teve duas missões diplomáticas (Londres e Viena) entre 1738 e 1749. Porém, foi no reinado de D. José (1750-1777) e após o terramoto de 1755, que viria a tornar-se o homem forte do monarca.

O seu pragmatismo, capacidade de decisão e autoridade permitiram acionar uma resposta rápida e eficaz face à destruição de grande parte do centro de Lisboa. Manuel da Maia, engenheiro militar, dirigiu o plano de reconstrução da cidade que foi aprovado em 1758, delineado por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel, ambos, também, engenheiros militares.

O plano geral, claramente inovador, segue de perto referências e modelos filosóficos e racionalistas iluministas sustentados em regulamentos de construção e planificado com ruas alinhadas e hierarquizadas, afirmando o seu pioneirismo face a outros exemplos europeus.

Sebastião José de Carvalho e Melo, ministro plenipotenciário do rei D. José, ficará para sempre associado à história da baixa de Lisboa reconstruída no século XVIII, como um dos principais impulsionadores da sua modernidade.

A estátua do Marquês de Pombal sobre a Baixa Pombalina em 1953
(Foto: Kurt Pinto © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

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Do Beco do Conde de Sampaio à Travessa do Marquês de Sampaio

(Imagem: © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Edital do Governo Civil de Lisboa de 10 de outubro de 1871 mudou o nome do Beco do Conde de Sampaio para Travessa do Marquês de Sampaio, mudando não só a categoria do arruamento como o título do nobre que lhe dava nome e que falecera 30 anos antes.

A Travessa do Marquês de Sampaio, que se estende no espaço que medeia de  junto ao nº 34 da Rua da Boavista até junto ao nº 96 da Rua da Boavista, hoje na Freguesia da Misericórdia, perpetua o 2.º conde de Sampaio e desde 1834 também 1.º Marquês de Sampaio, que no local possuía residência.

O homenageado é  Manuel Maria Baltasar (ou Manuel António em outras fontes) de Sampaio Melo e Castro Moniz e Torres de Lusignano (Lisboa/06.01.1762-29.09.1841/Lisboa), o 2º Conde de Sampaio que  por decreto da rainha D. Maria II de 1 de dezembro de 1834 recebeu o  título de Marquês de Sampaio, também grafado como Marquês de São Paio. Era filho de António José de Sampaio Melo e Castro, genro do Marquês de Pombal por casamento com Teresa Xavier Violante Eva Judite de Daun. Este 2º Conde e 1º Marquês de Sampaio casou em 1783 com D. Joaquina Maria Rita José Estáquio de Melo (1765 – 1785) e em segundas núpcias, em 1787, com Maria Inês de Albuquerque Mendonça Furtado (1763 – 1815).

O 2.º Conde e 1.º Marquês de Sampaio, aluno do Colégio dos Nobres e militar, aos 45 anos ficou em Lisboa como membro do Conselho de Regência de 1807, para governar Portugal face à retirada da Corte para o Brasil. Aliás, com data de 4 de dezembro desse mesmo encontramos o registo do Aviso de Manuel António de Sampaio Melo e Castro Moniz e Torres de Lusignano, como secretário de Estado dos Negócios da Guerra, a informar que os governadores do reino determinaram que o Senado da Câmara de Lisboa suspendesse o acompanhamento da procissão proveniente da Sé de Lisboa. Mais tarde, foi vice-presidente da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino constituída na sequência da Revolução Liberal do Porto de 24 de agosto de 1820 e presidente da Secção de Convocação das Cortes da Junta Preparatória das Cortes. Após a eleição das Cortes foi escolhido para presidente do Conselho de Regência de 1821 pelas Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes para governar até à chegada a Portugal do rei D. João VI, cargo semelhante ao de Primeiro-Ministro nos nossos dias, que exerceu de 27 de janeiro a 5 de julho desse ano.

Participou na Belfastada de 1828 e foi obrigado a procurar asilo na emigração liberal em Inglaterra. Após a estabilização do regime liberal, foi eleito deputado, nomeado par do Reino e recebeu o título de Marquês.

Freguesia da Misericórdia

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Da Rua dos Galegos à Rua do Duque e da Travessa dos Burros à da Boa Morte

A Rua dos Galegos na planta de 1858 de Filipe Folque

O Edital do Governo Civil de Lisboa da segunda-feira dia 5 de agosto de 1867, alterou a denominação de dois topónimos em dois locais diferentes da cidade: a Rua dos Galegos tornou-se a Rua do Duque e a Travessa dos Burros passou a ser Travessa da Boa Morte.

Da Rua dos Galegos à Rua do Duque

A Rua do Duque, hoje integrada na Freguesia de Santa Maria Maior, foi a Rua da Condessa de Cantanhade, a Rua de D. João Coutinho, a Rua do Galegos e  desde 1867, a Rua do Duque. O olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, a este propósito refere que  «A Rua da Condessa de Cantanhede, freguesia do Sacramento, (…) é a actual Rua do Duque, depois de ter sido também designada Rua de D. João Coutinho e Rua dos Galegos: «Um fidalgo de primeira plano começa a aglomerar propriedades. É o Conde de Cantanhede, D. Pedro de Meneses, Alferes-mor de D. Manuel, senhor de Tancos e de Atalaia. Compra as casas que Rui de Sousa Cid adquirira a Leonardo Àlvares e, em breve o veremos adquirir outras propriedades próximas, na rua que ia do Postigo para o Carmo, e que veio a chamar-se mais tarde, pelo nome da sua terceira mulher, a Condessa de Cantanhede D. Guiomar. Foi assim que nasceu a rua, sucessivamente chamada de D. João Coutinho, dos Galegos, e do Duque». 

A título de exemplo para situar a época histórica de cada topónimo, recordamos que a Rua da Condessa de Cantanhede aparece num documento de 26 de novembro de 1596, como a morada do barbeiro Manuel Fernandes, enquanto fiador de Simão Lopes que tinha a obrigação de vender 500 carneiros no açougue. Em 1704, surge como Rua da Condessa ao Carmo, num plano de obras de uma casa. Em 13 de outubro de 1739 já deparamos com uma vistoria na Rua dos Galegos. De 1812 a 1848 aparece como Rua da Condessa em alguns documentos municipais,  mesmo se em 1836 e 1838 são apontadas demolições de prédios e de um pardieiro na Rua dos Galegos tal como em 1858, na planta de Filipe Folque, se regista a Rua dos Galegos.

Na data de 5 de agosto de 1867, para além de alterar a Rua dos Galegos para Rua do Duque, o Governo Civil de Lisboa também atribuiu o topónimo Calçada do Duque. Em ambos os casos, a homenagem é a um antigo proprietário local, o Duque de Cadaval.

A Travessa dos Burros na planta de 1856 de Filipe Folque

Da Travessa dos Burros à Travessa da Boa Morte

A Travessa dos Burros junto à Rua Direita da Boa Morte, está já assim registada em agosto de 1856 no levantamento cartográfico de Filipe Folque. Cerca de onze anos depois, em fevereiro de 1867, ainda deparamos com o topónimo Travessa dos Burros através do traçado de um prédio que José Bernardo Ferreira quis construir no n.º 7 e 8, nesta zona que ainda era amplamente rural. Nesse mesmo ano, em agosto, o Edital do Governo Civil de Lisboa de dia 5 alterou a denominação para Travessa da Boa Morte, por referência ao Convento da Congregação do Senhor da Boa Morte e Caridade, construído em 1736 e demolido em 1835.

Por último, o Edital municipal de 4 de dezembro de 1882 voltou a modificar o nome da Travessa da Boa Morte para Travessa do Possolo, tal como a Rua da Boa Morte ficou como Rua do Possolo, e esta denominação é a que ainda hoje se apresenta nesta artéria da Freguesia da Estrela.

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O aumento da Rua do Quelhas em 1863

A Rua do Quelhas no início do séc. XX
(Foto: Paulo Guedes, © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Edital do Governo Civil de Lisboa de 16 de janeiro de 1863 aumentou a extensão da Rua do Quelhas, com a parte da Travessa do Pasteleiro compreendida entre as esquinas do Caminho Novo e Rua do Machadinho e a extremidade superior que entesta com a Rua do Quelhas. Assim, a Rua do Quelhas e a Travessa do Pasteleiro, passaram a ser dois arruamentos no seguimento um do outro,  ambos referindo figuras daquela zona.

A sugestão ao Governador Civil de Lisboa, então o Marquês de Sabugosa, partiu de «alguns proprietarios de predios, e outros individuos residentes na travessa do Pasteleiro» e foi aceite considerando «a circumstancia de não achar-se ainda estabelecido o novo systema de numeração, tanto na rua, como na travessa referidas» e os pareceres favoráveis do Administrador do Bairro de Alcântara e da Câmara Municipal de Lisboa.

Quelhas era o nome pelo qual era conhecido D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, proprietário de uma quinta naquele lugar e na qual morava. De acordo com Norberto de Araújo, dele deriva o topónimo que foi dado ao Caminho Novo:  «Depois do terramoto é que começou a chamar-se-lhe Rua do Quelhas, o tal D. Francisco de Sousa que por aqui fôra grande senhor. Por essa época começou o verdadeiro povoamento lento e seguro deste sítio, a justificar a urbanização do começo do século passado[refere-se ao começo do séc. XIX]». Ainda segundo este olisipógrafo, o Caminho Novo fora obra do Machadinho – José Pinto Machado –  já que «Aquele Pinto Machado, que tinha o seu palácio na Rua do Machadinho- diminuitivo que nasceu do apelido do fidalgo -, foi quem fez rasgar, depois de 1758, uma serventia já desenhada desde 1680 – “Caminho Novo” – na quinta de D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, por alcunha o “Quelhas”, quinta na qual o fidalgo tinha sua casa, que bem pode ter sido aquela onde assentou o palácio dos Pinto Machados.»

Freguesia da Estrela

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A Emissora Nacional e a Rua do Quelhas

A Capital, 25 de abril de 1974, edição das 12 horas

Ocupada pelas 3h15 por uma Companhia da Carreira de Tiro da Serra da Carregueira, com cerca de 100 militares comandados pelos capitães Luís Pimentel e Frederico Morais, para servir como emissora de reserva do MFA e evitar que o regime a pudesse utilizar em seu favor.

No dia 25 de Abril de 1974, estava instalada no nº 2 da Rua do Quelhas a Emissora Nacional, a antena de rádio pública em Portugal, ali sediada desde a sua inauguração oficial no dia 4 de agosto de 1935, tendo a ocupação de Tóquio sido confirmada ao Posto de Comando do MFA às 3:15 horas. Às 8:30 foi lido pela primeira vez na Emissora Nacional, um comunicado do MFA.

Quelhas era o nome pelo qual era conhecido D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, proprietário de uma quinta naquele lugar e na qual morava, do qual, de acordo com Norberto de Araújo, deriva o topónimo que foi dado ao Caminho Novo após o terramoto de 1755. Segundo o olisipógrafo, «Depois do terramoto é que começou a chamar-se-lhe Rua do Quelhas, o tal D. Francisco de Sousa que por aqui fôra grande senhor. Por essa época começou o verdadeiro povoamento lento e seguro deste sítio, a justificar a urbanização do começo do século passado [refere-se ao séc. XIX]».

O Caminho Novo, ainda de acordo com Norberto de Araújo, fora obra do Machadinho – José Pinto Machado – na Quinta do Quelhas: «Aquele Pinto Machado, que tinha o seu palácio na Rua do Machadinho- diminuitivo que nasceu do apelido do fidalgo -, foi quem fez rasgar, depois de 1758, uma serventia já desenhada desde 1680 – “Caminho Novo” – na quinta de D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, por alcunha o “Quelhas”, quinta na qual o fidalgo tinha sua casa, que bem pode ter sido aquela onde assentou o palácio dos Pinto Machados.»

Na segunda metade do séc. XIX, um Edital do Governo Civil de Lisboa de 16 de janeiro de 1863, fez a Rua do Quelhas aumentar de tamanho já que uma parte da Travessa do Pasteleiro (a compreendida entre as esquinas do Caminho Novo e Rua do Machadinho e a extremidade superior que entesta com a Rua do Quelhas) foi incorporada na Rua do Quelhas.

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O Rádio Clube Português e a Rua Sampaio Pina

A Rua Sampaio e Pina no dia 25 de abril de 1974
(Foto: Ana Haterly, Arquivo Municipal de Lisboa)

Ocupado pelas 3H20 pelos oficiais major José da Costa Neves, major Delfim Campos Moura, major João Sacramento Gomes, capitão Artur Mendonça de Carvalho, capitão José Correia Pombinho, capitão José Santos Coelho, capitão Nuno dos Santos Ferreira e capitão Nuno dos Santos Silva, com o apoio de uma Companhia do Batalhão de Caçadores nº5.

Esta ação pretendia fazer do Rádio Clube Português a emissora do MFA, para emitir os seus comunicados. Às 04H26, o jornalista Joaquim Furtado leu o primeiro comunicado.

No nº 24 da Rua Sampaio e Pina estava sediado o Rádio Clube Português em 25 de abril de 1974. E às 3 horas da madrugada uma companhia do Batalhão de Caçadores nº 5 saiu do quartel – onde hoje encontramos a Universidade Nova de Lisboa – para garantir a segurança do local que se tornaria a emissora do MFA.

O topónimo Rua Sampaio e Pina foi atribuído pela Câmara Municipal presidida pelo Conde d’Ávila (António José de Ávila), através do Edital de 18 de dezembro de 1903, à via pública ainda então a ser construída entre a Rua Castilho e a Rua José da Silva Carvalho (que foi na maior parte substituída pela reformulação da Rua Castilho e artérias adjacentes em 1915 dando origem em 1920 a uma nova Rua Silva Carvalho noutro local de Lisboa). A edilidade homenageava assim Manuel Inácio de Sampaio de Pina Freire, que em 24 de julho de 1833 reconheceu D. Maria II como monarca legítima da Coroa portuguesa.

Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire (07.08.1778 – 1856), 1º Visconde de Lançada, prestou relevantes serviços aos liberais, com a maior dedicação e coragem no dia 24 de julho de 1833, tornando possível ao Marechal Duque de Terceira após vencer a batalha da Cova da Piedade – com tropas onde se incluía os Caçadores 2 e 3 – atravessar o Tejo com as suas tropas e encontrarem já içada no Castelo de S. Jorge a bandeira azul e branca dos Liberais. Esteve  presente nesse dia 24 de julho de 1833 no Auto de aclamação e reconhecimento do governo legítimo de D. Maria II e da Carta Constitucional, nos Paços do Concelho de Lisboa, conforme noticia a Gazeta de Lisboa de 26 de julho de 1833.

Filho de Inácio José de Sampaio e Pina Freire de Andrade e Angélica Inácia Pereira de Aguirre, foi um administrador colonial português, enquanto governador-geral da capitania do Ceará, de 19 de março de 1812 a 1820 – razão para no centro de Fortaleza (Brasil) existir uma Rua Governador Sampaio -, assim como governador-geral da capitania de Goiás, de 1820 a 1822, onde em 14 de agosto de 1821 sofreu uma fracassada tentativa de deposição.

Visconde de Lançada por Decreto de 10 de janeiro de 1849 de D. Maria II, foi também membro do Conselho de Sua Majestade, Tenente-General, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e Membro do Tribunal do Tesouro Público, agraciado como Comendador da Ordem de Cristo e Cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis.

Em Lisboa, segundo Júlio de Castilho, possuía o Palácio onde em 1880 se instalou o jornal O Século. Também conforme os arquivos municipais, detinha um prédio nos n.ºs 53 e 58 «no sítio das Janelas Verdes» em 1839, bem como na Rua do Olival nº 5, onde em 1836 foi intimidado pela Câmara Municipal de Lisboa a entulhar o fosso da sua casa no prazo de 24 horas que também lhe lavrou um auto sobre o estado da porta do n.º 5 A.

Na sua vida pessoal, Sampaio e Pina casou-se, em 1 de fevereiro de 1826, com Helena Teixeira Homem de Brederode, de quem teve dois filhos: Inácio Júlio de Sampaio Pina Freire e António de Sampaio Pina de Brederode, que casou com Maria Luísa Holstein, 3.ª duquesa de Palmela.

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A Rua Sampaio e Pina no dia 25 de abril de 1974
(Foto: Ana Haterly, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Quartel do Batalhão de Caçadores nº 5 e a Rua Marquês de Fronteira

Pelas 3h00,  saiu do quartel do Batalhão de Caçadores nº 5 uma força constituída por duas Companhias de Caçadores: uma para ocupar o Quartel-General do Governo Militar de Lisboa, e outra para garantir a segurança do Rádio Clube Português.

Estas ações envolveram cerca de 200 militares, comandados pelo major José Cardoso Fontão, capitão João Bicho Beatriz e tenente Mascarenhas. O capitão Carlos Joaquim Gaspar assumiu o comando da Unidade.

Na madrugada de 25 de abril de 1974, para ocupar o Quartel-General do Governo Militar de Lisboa e garantir a segurança do Rádio Clube Português, duas companhias deixaram o Quartel do Batalhão de Caçadores nº 5, a pé, pelo portão da Rua Marquês de Fronteira, topónimo que guarda a memória de um militar que fez toda a campanha das lutas liberais até ao seu fim em 24 de julho de 1833.

Desde 1910 que o Batalhão de Caçadores nº 5 estava instalado no edifício e quinta do antigo Colégio jesuíta da Imaculada Conceição de Jesus, vulgarmente conhecido como Colégio dos Jesuítas de Campolide e ali fundado em 1858 no que antes fora a Quinta da Torre de Estêvão Pinto e onde hoje encontramos a Universidade Nova de Lisboa.

O 7º marquês de Fronteira, D. José Trazimundo, foi perpetuado na toponímia lisboeta pelo Edital municipal de 3 de outubro de 1903 na então «Via pública situada entre a Avenida Duque de Ávila e a Rua D. Carlos de Mascarenhas.» D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto (Lisboa/04 ou 11.01.1802 – 19.02.1881/Lisboa), 8º conde da Torre, 5º marquês de Alorna e 7º marquês de Fronteira foi um militar que fez toda a campanha das lutas liberais, tendo-se reformado no posto de marechal-de-campo. Logo em 1820 foi ajudante  de campo do  general Sepúlveda, em cujo estado-maior se conservou até à queda do governo constitucional. Não tendo aderido à Vilafrancada acabou preso na Torre de Belém, após o que obteve licença para sair do reino e então percorreu parte da Europa com a sua mulher, apenas regressando depois de ser outorgada a Carta Constitucional, em 1826. Foi  ajudante de campo do general Conde de Vila Flor na Ilha Terceira, desembarcou no Mindelo (8 de julho de 1832) e participou na batalha de Ponte Ferreira e das Antas. Acompanhou o Duque de Terceira na expedição ao Algarve e Alentejo, e esteve na batalha de Cacilhas (23 de julho de 1833) e no desembarque em Lisboa (24 de julho de 1833).

D. José Trazimundo Foi também par do reino (a partir de 1826), deputado por Lisboa (1837), deputado por Bragança (1838), governador civil de Lisboa (com pequenas interrupções, de 12 de maio de 1846 a 1 de maio de 1851), mordomo-mor da Casa Real (1861),  mordomo-mor da casa da rainha D. Maria Pia (1862), tendo ainda publicado as suas Memórias do Marquês da Fronteira e Alorna.

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Júlio de Castilho duas vezes topónimo lisboeta: em Largo e em Jardim

Júlio de Castilho com o fotógrafo José Artur Leitão Bárcia
(Foto: José A. Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa)

No último dia desta semana, 8 de fevereiro de 2019, completam-se cem anos da morte do Mestre da Olisipografia Júlio de Castilho, o autor  de obras tão importantes e pioneiras como Lisboa antiga – Primeira parte: 0 Bairro Alto (1879) – que teve uma 2ª edição ampliada em 5 tomos-,  Lisboa antiga – Segunda parte: Bairros orientais (1884 – 1890) – em 7 tomos – ou A Ribeira de Lisboa, descrição histórica da margem do Tejo desde a Madre de Deus até Santos o Velho (1893), pelo que foi considerado o fundador dos estudos olisiponenses.

De acordo com Raquel Henriques da Silva, na sua palestra de abertura de «Uma casa em Lisboa – Homenagem a José Sarmento Matos» no passado dia 22 de janeiro – dia de São Vicente, o padroeiro de Lisboa – , Lisboa tem uma disciplina própria que mais nenhuma cidade tem que é a Olisipografia que Júlio de Castilho inventou. Por isso mesmo, recomendou a reedição anotada de toda a obra de Mestre Castilho.

Júlio de Castilho (Lisboa/30.04.1840- 08.02.1919/Lisboa), era filho do escritor António Feliciano de Castilho que nascera no Bairro Alto, e por isso ao investigar para escrever as memórias de seu pai acabou por escrever a sua primeira obra sobre a história da cidade de Lisboa, dedicada a esse Bairro. Também por essa condição de nascimento foi o 2º visconde de Castilho e viveu a maior parte da sua vida no Lumiar, vindo a ter o seu nome consagrado no Largo contíguo à artéria onde morava, já que residente do n.º 11 da Travessa do Prior ( hoje n.º 26 da Rua Pena Monteiro),  junto ao Largo da Duquesa, este último topónimo passou a ser o Largo Júlio de Castilho, por Edital municipal de 2 de março de 1925, com a legenda «Erudito Escritor e Historiador/1840 – 1919».

Logo no ano do seu falecimento, havia sido  homenageado com a colocação de uma lápide na sua casa no Lumiar, por iniciativa dos seus amigos José Artur Leitão Bárcia, Miguel Trancoso e António César Mena Júnior.

Largo da Duqueza, depois Largo Júlio de Castilho
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

E quatro anos após a atribuição do Largo com o seu nome, o fundador da Olisipografia, foi também homenageado com a criação do Jardim de Júlio de Castilho, onde a Comissão Administrativa da CML inaugurou  um busto do olisipógrafo, da autoria do escultor Costa Mota (sobrinho), no dia 25 de julho de 1929, integrado num miradouro sobre Alfama, conhecido como Miradouro de Santa Luzia, cerimónia a que compareceram outros olisipógrafos como Gustavo de Matos Sequeira ou o Engº Augusto Vieira da Silva, assim como o fotógrafo José  Artur Leitão Bárcia.

Em 1939, a Câmara Municipal de Lisboa lançou ainda o Prémio Júlio de Castilho e no ano seguinte (1940), no centenário do nascimento de Júlio de Castilho,  promoveu no Palácio Galveias uma Exposição ilustrativa da obra deste olisipógrafo.

Busto de Júlio de Castilho
(Foto: José A. Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa)

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A Rua da Bica da Guarda pessoal do Marquês de Pombal, dada em 1918

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Na presidência de José Carlos da Maia na edilidade lisboeta, nasceu numa artéria da Ajuda a Rua da Bica do Marquês sobre a Rua Alegre, com a publicação do Edital municipal de 8 de fevereiro de 1918, que assim fixou na toponímia lisboeta a proximidade de uma bica de água ao quartel da Companhia da Guarda do Marquês de Pombal.

Este arruamento era só denominado como Rua da Bica até o Edital municipal de 26 de setembro de 1916 preferir antes designá-la como Rua Alegre. Contudo, este nome não vingou porque passados menos de dois anos, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa, presidida por Carlos da Maia, voltou a mudar-lhe o nome, retomando a antiga denominação de Rua da Bica, através do Edital de 1918 acima referido, mas transformando esta artéria que une a Rua de Dom Vasco à  Calçada da Ajuda na memória mais explicativa de Rua da Bica do Marquês.

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Saliente-se que foi no quarteirão que termina com o prédio da antiga Farmácia Mendes Gomes que existiu o Pátio da Guarda, um conjunto de casebres dispostos em forma de U, que era o quartel da Companhia da Guarda do Marquês de Pombal, uma guarda de proteção pessoal do Conde de Oeiras (título de 1759) e Marquês de Pombal (título de 1769). Onde hoje são instalações da Junta de Freguesia da Ajuda – Calçada da Ajuda nº 236 – eram as antigas cavalarias da Companhia da Guarda do Marquês. O Pátio da Guarda também foi denominado Pátio do Bonfim, por nele ter vivido o Conde de Bonfim.