A Rua da Carreirinha e do Lagar das Olarias na Rua dos Lagares

Freguesia de São Vicente e de Santa Maria Maior - Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Vicente e de Santa Maria Maior – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

Sobre a Rua dos Lagares que hoje vemos a ligar a Calçada de Santo André ao Largo das Olarias, defende o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo que «Esta rua é a antiga Carreirinha, a rua do Lagar das Olarias dos meados do século XVI, e a actual rua dos Lagares.»

Na sua Lisboa de Lés a Lés, Luís Pastor de Macedo considera que uma azinhaga existente em 1510 perto do lagar de Pero Lopes do Carvalhal «tem todas as possibilidades de ser a antecessora da citada rua. Na área da freguesia dos Anjos, pelo menos, a não serem os lagares de El-Rei, que constítuiam, desde séculos, um sítio acima de Arroios, e o lagar de D. Brás (1629), que era o mesmo que o do Silveira (1675), situado junto à quinta de Joana Teixeira, que não sabemos onde era, só encontramos lagares no sítio onde depois correu a rua que deles tirou o nome, do que inferimos que os lagares, no sítio das Olarias, teriam estado sempre naquele mesmo local e que portanto a azinhaga que em 1510 corria nas proximidades dum lagar que existia naquele sítio, deveria ter sido a artéria que depois de ter tido outro nome, se chamou e chama Rua dos Lagares. Por outro lado sabe-se que o lagar de Pero Lopes do Carvalhal foi de facto um dos lagares que deram o nome à rua, conforme nos comunica um documento visto pelo rev.dº padre António Lourenço Farinha que , sobre o bairro das Olarias, publicou uma valiosa monografia.»

Ainda segundo Pastor de Macedo « Com respeito à Carreirinha, forma por que foi designada primitivamente a rua de que nos ocupamos ela reaparece em 1738, continuando depois a ser usada durante algumas dezenas de anos» e, observa que «no século XVIII o nome de Carreirinha é aplicado ao mesmo tempo que se aplica os de rua da Graça, rua Nova da Graça, rua da Graça atrás dos Lagares e rua detrás dos Lagares, circunstância que pode levar a supor-se que a serventia estivesse talvez dividida em duas denominações , pelo menos», para concluir que «Esta rua é a antiga Carreirinha, a rua do Lagar das Olarias dos meados do século XVI, e a actual rua dos Lagares.»

Freguesia de São Vicente e de Santa Maria Maior  (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Vicente e de Santa Maria Maior
(Foto: Sérgio Dias)

Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior

Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior

A Rua do Maestro da banda da GNR

maestro antónio taborda

A Rua Maestro António Taborda homenageia aquele que durante 10 anos, de 1901 a 1911, dirigiu a Banda de Música da Guarda Nacional Republicana.

O topónimo foi atribuído mediante a deliberação camarária de 2 de junho de 1925 e consequente Edital de dia 8 seguinte, na artéria então referida como Rua nº 2 do Bairro da Lapa. Pelo mesmo Edital foram também dadas neste «novo bairro da Lapa» a Rua Joaquim Casimiro/Compositor Musical/1806 – 1862 e a Rua Santos Pinto/Escritor musical/1815 – 1860.

António Gonçalves da Cunha Taborda (27.05.1857 – 1911) foi um militar que a partir de 11 de março de 1881 foi mestre da banda de Infantaria 13 e, depois, a partir de 21 de abril de 1901 e até ao seu falecimento dirigiu a banda da Guarda Municipal de Lisboa, criada em 1838, por decreto de D. Maria II, que com a implantação da República se passou a chamar Banda de Música da Guarda Nacional Republicana.

O Maestro António Taborda foi um dos compositores de música teatral e para Banda Filarmónica da época sendo de destacar a sua Dinah : peça lyrica em 3 actos (1897), para um poema de Arthur Jorge da Costa Carvalho , bem como a sua composição para piano Miragem : Valse (Lente) de 1903.

Foi ainda distinguido em vida com a medalha de prata de comportamento exemplar e os hábitos da Ordem de Santiago e da Ordem de Cristo.

Freguesia da Estrela (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia da Estrela
(Foto: Sérgio Dias)

Tito Morais, um dos fundadores do PS, numa Rua do Alto do Lumiar

Tito de Morais, um dos fundadores do Partido Socialista e Presidente da Assembleia da República de 1983 a 1985, foi inscrito na toponímia lisboeta na Rua F do Alto do Lumiar, pelo Edital de 07/05/2001.

Pelo  mesmo edital foram também consagrados nesta zona do Alto do Lumiar  mais quatro outros políticos: Luís Sá (na Rua Interior da Malha 20.3), Melo Antunes (Rua 5), Octávio Pato (Rua 5-A) e Vasco da Gama Fernandes (Rua C).

Manuel Alfredo Tito de Morais (Lisboa/28.06.1910 – 14.12.1999) preencheu a sua vida em prol da liberdade e da democracia, sendo um dos fundadores da ASP -Ação Socialista Portuguesa,   com Mário Soares e Ramos Costa,  em Genebra, bem como da sua transformação em Partido Socialista, em 19 de abril de 1963.

Já antes Tito de Morais fundara o movimento Resistência Republicana e Socialista e tinha integrado a Comissão Central do MUD -Movimento de Unidade Democrática (1945) – com com Mário de Azevedo Gomes, Bento de Jesus Caraça, Barbosa de Magalhães e Maria Isabel Aboim Inglês- e da campanha do General Norton de Matos e nessa qualidade foi preso em 1947. Voltou a ser preso em 1961 após a eclosão da guerra colonial, quando trabalhava em Luanda  e, depois transferido para Lisboa com residência fixa.

Considerava que começara como revolucionário aos 16 anos, quando numa greve estudantil no Liceu Camões foi agredido por um soldado da GNR. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica pela Universidade de Gand (Bélgica) e depois trabalhou na Marconi, na General Electric Portuguesa e, no Instituto Pasteur, de onde foi despedido por motivos políticos o que o forçou a trabalhar em Angola,  na Lusa Dana em Luanda (1952). Entre 1961 e 1963 trabalhou na COSIPA no Brasil e, depois, até 1966, foi para a Argélia onde participou na fundação da Rádio Voz da Liberdade de Argel, cuja emissão organizava. Em 1967 fundou e dirigiu o jornal Portugal Socialista.

Após o 25 de Abril de 1974 foi o primeiro Secretário Nacional do Partido Socialista até ao primeiro congresso na legalidade, deputado à Assembleia da República em diversos mandatos e Presidente da Assembleia da República entre 1983 e 1985, ocasião em que promoveu a recolha do património cultural do Parlamento disperso e a criação do Museu da Assembleia da República. Desempenhou ainda os cargos de Secretário de Estado do Emprego no VI Governo Provisório e Secretário de Estado da População e Emprego no 1º Governo Constitucional. Foi ainda Vice-Presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa de 1979 a 1980, membro da Comissão Política da Candidatura de Mário Soares à Presidência da República e,  Presidente do Partido Socialista, no período entre 1986 e 1988.

Foi galardoado como Grande Oficial da Ordem de Mérito da República Italiana, com a Grã-Cruz da Ordem de Danebrog da Dinamarca, da Ordem de Mérito da Áustria, da Ordem da Coroa da Bélgica, do Luxemburgo, e em Portugal,  com a Grã Cruz da Ordem Militar de Cristo e da Ordem da Liberdade.

(Foto: Rui Mendes)

Freguesia de Santa Clara                                                                                                                     (Foto: Rui Mendes)

Freguesia de Santa Clara

Freguesia de Santa Clara

A Rua da Prata que foi Bela da Rainha

Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: José Pascoal)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: José Pascoal)

A Rua da Prata nasceu em 1910 como topónimo da Baixa pombalina, por via da publicação do Edital camarário de 5 de novembro, o 1º relativo a toponímia após a implantação da República em Portugal, substituindo a Rua Bela da Rainha que havia sido atribuída em 1760 , pela Portaria de 5 de novembro, a 1ª sobre toponímia.

Este mesmo Edital  de 5 de novembro de 1910 atribuiu mais nove topónimos significativos dos valores republicanos. Substituiu a Rua Bela da Rainha por Rua da Prata, a Rua Nova da Princesa por Rua dos Fanqueiros e, a Rua de El-Rei por Rua do Comércio. Consagrou também a implantação da República com a Avenida Cinco de Outubro (antes Avenida António Maria de Avelar) e a Avenida da República (antes Avenida Ressano Garcia), assim como fixou os heróis republicanos Almirante Reis e Miguel Bombarda em Avenidas, tal como o jornalista e autarca lisboeta Elias Garcia. E ainda substituiu a  Rua Mota Veiga por Rua de Ponta Delgada e a Praça D. Fernando por Praça Afonso de Albuquerque.

Pela primeira regulamentação toponímica, o decreto régio de 5 de novembro de 1760, foi  estabelecida a denominação dos arruamentos localizados entre a Praça do Comércio e o Rossio, ao mesmo tempo que regularizava a distribuição dos ofícios e ramos do comércio. E na então Rua Bela da Rainha deviam ser arruados os ourives da prata e nas lojas que sobejassem os livreiros que antes viviam na sua vizinhança.

Freguesia de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior

A Rua Cidade de Bolama nos Olivais Sul

Freguesia dos Olivais - Placa Tipo IV (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais – Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias)

Nas décadas de 60 e 70 do século XX, após a eclosão da guerra colonial, a edilidade lisboeta crismou os então novos arruamentos dos Olivais com nomes de militares mortos em combate assim como com os nomes de cidades e vilas que então pertenciam ao Império Português.

Neste contexto,  a Rua D2 com o Impasse DG, abrangendo os lotes 377 a 379, 382 a 387 e os lotes 389 a 393 passou a designar-se por Rua Cidade de Bolama e o mesmo edital de 11 de julho de 1970 perpetuou ainda nesta zona de Olivais Sul duas outras cidades da Guiné – Rua Cidade de Bissau e Rua Cidade de Bafatá –, e ainda, a Rua Cidade da Praia (de Cabo Verde), a Rua Cidade de Margão (Índia) e a Praça Cidade de Dili ( em Timor).

Antes, pelo Edital de 04/07/1967 , haviam sido colocadas na toponímia as seguintes povoações  moçambicanas: Baixo Limpopo, Bilene, Chinde, Cidade da Beira, Cidade de Inhambane, Cidade de João Belo, Cidade de Lourenço Marques,  Cidade de Nampula, Cidade de Porto Amélia, Cidade de Quelimane, Cidade de Tete, Cidade de Vila Cabral, Manica, Matola e a Vila Pery. De igual forma, o Edital de 10/04/1969 inseriu povoações de Angola: Rua Cidade de Benguela, Rua Cidade de Cabinda, Praça Cidade de Carmona, Rua Cidade de Gabela, Rua Cidade de Lobito, Avenida Cidade de Luanda, Rua Cidade do Luso, Rua Cidade de Malange, Rua Cidade de Moçamedes, Rua Cidade de Nova Lisboa, Rua Cidade de Novo Redondo, Rua Cidade de Porto Alexandre,  Praça Cidade de Salazar e Rua Cidade de São Salvador.

Mais tarde, o Edital de 09/02/1971, para corresponder a um pedido dos CTT para melhor destrinçar artérias ainda inseriu a Cidade de Negage, sendo escolhida esta cidade de Angola para manter a temática das artérias circundantes.

Edital de 11.07.1971

Edital de 11.07.1970


Rua Cidade de Bolama

A seiscentista Rua das Farinhas

Freguesia de santa Maria Maior - Placas Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de santa Maria Maior – Placas Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua das Farinhas, que hoje une o Beco das Farinhas ao Largo da Rosa, no território da atual freguesia de Santa Maria Maior (antes do Decreto 90/XII de 2012 era da freguesia São Cristóvão e São Lourenço), terá sido um topónimo fixado na Lisboa seiscentista.

Esta hipótese assenta no facto de já Cristóvão de Oliveira ao descrevera Lisboa de 1551 no seu Sumário, já apresentar a Rua das Farinhas na freguesia de São Lourenço bem como o Beco das Farinhas na contígua freguesia de Santa Justa. E parece descortinar-se a continuidade do topónimo por se encontrar nas descrições paroquiais anteriores ao Terramoto de 1755, a mesma Rua das Farinhas na freguesia de S. Lourenço bem como o Beco das Farinhas em Santa Justa.

O Beco foi oficializado por Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859 e, não obstante este mesmo Edital assinalar que a denominação anterior deste arruamento era Beco do Forno, não encontramos nessa localização nenhuma referência a tal Beco do Forno.  De qualquer forma, toda esta toponímia local parece indiciar a existência da atividade de panificação e/ou moageira no local.

Existem ainda as Escadinhas da Rua das Farinhas, que nascem na Rua das Farinhas.

Entre 1898 e 1908 (Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua das Farinhas entre 1898 e 1908
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

Freguesia de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior

Neste Natal, São Nicolau numa Rua da Baixa pombalina

Em 1916 (Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

Em 1916
(Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

A antiga Igreja de São Nicolau do século XIII cedeu o seu nome à artéria onde foi erguida, primeiro como Travessa de São Nicolau na Baixa pombalina e na última década do século XIX  transformou-se em Rua de São Nicolau, unindo a Rua dos Fanqueiros à Rua Nova do Almada.

O primeiro diploma  de toponímia, o decreto de D. José I de 5 de Novembro de 1760 que fixou denominações às ruas da Baixa lisboeta, entre a Praça do Comércio e a Praça do Rossio, na sequência da reconstrução desta zona lisboeta após o terramoto de 1755, denominou este arruamento como Travessa de São Nicolau. Porém, a deliberação camarária de 05/11/1892 e o consequente Edital municipal de 12/11/1892 passaram a designá-la como Rua de São Nicolau, tal como passou de Travessas a Ruas as congéneres de Santa Justa, da Assunção e da Vitória.

A Igreja de S. Nicolau havia sido erguida nesta rua entre 1209 e 1229 e, no mesmo século foi reconstruída, em 1280, por iniciativa do bispo D. Mateus. Após o Terramoto,  foi construída quase toda de novo, com obras entre 1780 e 1850.

Finalmente, refira-se que nos nºs 44 a 48 deste arruamento esteve sediada a Confeitaria Rosa Araújo, fundada por Manuel José da Silva Araújo e depois herdada por seu filho José Gregório da Rosa Araújo, que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Freguesia de Santa Maria Maior - Placa Tipo II (Foto: José Pascoal)

Freguesia de Santa Maria Maior – Placa Tipo III
(Foto: José Pascoal)

Freguesia de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior

Rua do Carmo

Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua do Carmo nasceu do Edital municipal de 8 de junho de 1889, como novo nome da Rua Nova do Carmo, então pertença das freguesias da Conceição e do Sacramento.

Norberto de Araújo, nas suas Peregrinações em Lisboa, refere que a Rua do Carmo deve o seu nome à proximidade ao Convento de Nossa Senhora do Carmo, precisando que « (…)Rua do Carmo que principiou por se chamar Rua Nova do Carmo, artéria rasgada depois do Terramoto de 1755 na encosta conventual, e que não corresponde a qualquer serventia antes existente.»

Por seu turno,  Luís Pastor de Macedo na sua Lisboa de Lés a Lés, defende que esta artéria também teria sido a Calçada do Rubim, que viu mencionada no Almanaque de Lisboa de 1800 e acrescenta «Podemos dizer onde era: nos limites das freguesias do Sacramento e da Conceição Nova; e podemos dizer que nome tem hoje: Rua do Carmo.»

Placa Tipo III  (Foto: Sérgio Dias)

Placa Tipo III
(Foto: Sérgio Dias)

 

Freguesia de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior

A Rua Direita da Lapa

Prédio da Rua da Lapa onde viveu o Engº Vieira da Silva  (Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, Firmino Marques da Costa, c. 1952)

Prédio da Rua da Lapa onde viveu o Engº Vieira da Silva
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, Firmino Marques da Costa, c. 1952)

A antiga Rua Direita da Lapa viu no final do séc. XIX (Edital municipal de 22/08/1881) ser-lhe retirada a palavra Direita, indicadora de artéria central de um sítio para ficar apenas Rua da Lapa.

Este mesmo Edital de Rosa Araújo alegava a «conveniencia de simplificar a denominação das ruas» e assim foi retirada a palavra Direita a mais 10 artérias que assim passaram a ser Rua dos Anjos, Rua de Arroios, Rua da Costa, Rua das Janelas Verdes, Rua das Necessidades, Rua do Rato (hoje, Largo do Rato), Rua do Sacramento a Alcântara, Rua de Santo Estêvão, Rua de São Francisco de Paula e Rua de Santos-o-Velho.

Norberto Araújo explica a origem do topónimo da seguinte forma: «No século XVI o lado poente do actual bairro, que cai sôbre a Pampulha, era de campos matizados de casas e arvoredos, onde aqui e ali afloravam pedreiras. Uma lapa, numa dessas rochas deu origem à “Lapa da Moura”, designação oral, e documentada, que precedeu a de “Cova da Moura” ainda existente. A “lapa” – à Pampulha, sítio mais antigo – subiu para Norte e Nascente até ao Mocambo e, deslocando a designação, firmou a Lapa de Setecentos. Foi o Terramoto que fêz êste Bairro em definição urbanista, e que explica o seu crescimento; (…)». E ainda lhe disntingue dois contornos: «Em verdade existem duas Lapas: a popular e a aristocrática. De uma parte dêste sítio vàdio (…) entrou a desenhar-se um burgo abastado, senhor de si, atracção dos ingleses, do negócio, da burguesia, do dinheiro, da nobreza escorraçada do Oriente da cidade, afastada que foi, ou reduzida a um expressão episódica, a população marítima que subia das margens do rio, pela vereda de Santos: eis a Lapa da distinção, no semblante e nos costumes, a tal ponto criadora de um tipo seu que hoje se costuma dizer de uma pessoa ou de uma família que blasona “tom” – “É muito bairro da Lapa”. Outra parte, a cair para Sul e Nascente, encostada àquela, comum nos limites convencionais do aglomerado, manteve-se agarrada ao seu facies popular; constituíu família, aproveitou do trabalho dos engenheiros pombalinos; trabalha no mar, nas oficinas, nos escritórios; transpira agitação, não chegando ao tumulto da Madragoa, mas é desenvolta, sabe cantar e tem as portas abertas: eis a Lapa popular, que ainda assim, na urbanização, não conseguiu formar uma “póvoa” exclusivamente sua, pois se corta de artérias dessimilhantes que podiam pertencer à Lapa aristocrática.»

Freguesia da Estrela

Freguesia da Estrela