As Escadas de Nossa Senhora do Monte de São Gens desde 1876

As Escadas do Monte em 2011
(Foto: Luís Pavão © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

As Escadas do Monte nasceram em 1876 como topónimo atribuído pelo  Governo Civil de Lisboa em Edital de 11 de janeiro e como via para fazer a ligação da Rua Damasceno Monteiro à Rua das Olarias.

O topónimo Escadas do Monte deriva da Ermida de Nossa Senhora do Monte e de São Gens, fundada no Monte de São Gens logo em 1147, ano da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques. Em 1893, no nº 6 destas Escadas do Monte foi erguida uma vila operária para servir a crescente população que vinha trabalhar para a capital. Desta Ermida de Nossa Senhora do Monte e de São Gens geraram-se mais 6 topónimos que ainda hoje encontramos nas proximidades: o Beco do Monte, a Calçada do Monte, o Largo do Monte, a Rua da Senhora do Monte, a Travessa do Monte e a Travessa das Terras do Monte.

No ponto mais alto do Bairro da Graça, a Ermida de Nossa Senhora do Monte e de São Gens que encontramos no Largo do Monte, evoca aquele que foi o 1º bispo de Lisboa e que neste local teria sido martirizado no ano de 284. A cadeira de pedra de S. Gens foi colocada na Ermida em consideração às suas virtudes milagrosas no aumento da fertilidade e numa boa hora no parto. Cerca de um século depois, em 1243, foi construído um segundo ermitério dos frades Agostinhos Calçados para o qual foi deslocada a cadeira, assim como o obelisco foi para o Largo do Monte. A Ermida e o ermitério sofreram com o Terramoto de 1755 e a igreja foi reedificada com traçado de Honorato José Correia, mantendo a cadeira no interior. Em 1815, os Agostinhos plantaram árvores no Largo do Monte que duraram até ao ciclone de Lisboa de 1941. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o Estado vendeu toda a propriedade (a ermida e a quinta) a Clemente José Monteiro, cuja viúva, Henriqueta de Mendonça casou em segundas núpcias com Damasceno Monteiro, o qual criou em 1857 uma nova Irmandade de Nossa Senhora do Monte e São Gens, tendo no ano seguinte os devotos lisboetas  oferecido uma imagem de Nossa Senhora do Monte para o altar-mor. O herdeiro, Higino de Mendonça, parcelou e urbanizou esta zona no início do séc. XX.

Freguesia de São Vicente e de Arroios

© CML | DPC | NT | 2019

Lisboa das Escadinhas, Escadas e Escadaria

A Escadaria José António Marques quando era vulgarmente conhecida por Escadinhas da Rocha, em 1965
(Foto: Armando Serôdio, Arquivo Municipal de Lisboa)

Lisboa, com as suas colinas, tem escadas que auxiliam as subidas e as descidas e isso também se espelha na sua toponomenclatura, através de 34 Escadinhas, umas Escadas repartidas por Arroios e São Vicente e ainda, uma Escadaria na freguesia da Estrela.

A Escadaria, construída entre 1880 e 1882, era vulgarmente conhecida por Escadinhas da Rocha, dando acesso a partir da Rua 24 de Julho (desde 1928 é a Avenida 24 de Julho) ao Jardim das Albertas (desde 1925 é o Jardim 9 de Abril), até o Edital municipal de 21/02/1985 a tornar a Escadaria José António Marques, para homenagear o fundador da Cruz Vermelha Portuguesa conforme está na legenda, um lisboeta de nascimento (Lisboa/29.01.1822 – 08.11.1884/Lisboa) que foi cirurgião do Exército e em 11 de fevereiro de 1865 fundou a Comissão Provisória para Socorros e Feridos e Doentes em Tempo de Guerra, sendo o seu primeiro Secretário Geral, influenciado pela participação em representação de Portugal, na Conferência Internacional de Genebra, em que Portugal foi um dos doze países que assinou a I Convenção de Genebra de 22 de agosto de 1864, destinada a melhorar a sorte dos militares feridos em campanha.

A unir a Rua Damasceno Monteiro à Rua das Olarias encontramos as Escadas do Monte, ainda atribuídas por do Edital do Governo Civil de Lisboa, em 11 de janeiro de 1876, que se caracteriza segundo Norberto de Araújo assim: « A empinada Calçada do Monte, defronte do Largo, é, como estás vendo, a resultante de um caminho ou vereda que nos séculos velhos dividia a Cerca do Convento da Graça da encosta poente do Monte de S. Gens».

Escadinhas do Alto do Restelo – Freguesia de Belém

Já Escadinhas são 34 e qualquer que seja a sua época de construção, do início de Lisboa até ao nosso séc. XXI, têm a característica comum de terem recebido, informalmente da população ou do município lisboeta, denominações relativas ao local onde estão implantadas.

Em  Belém,  na Urbanização da Encosta do Restelo estão as Escadinhas do Alto do Restelo, firmadas pelo Edital municipal de 30/07/1999.

Na Ajuda, encontramos as Escadinhas do Mirador do antigo Alto das Pulgas, fixadas pelo Edital municipal de   17/11/1917.

Escadinhas da Saúde – Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Ana Luísa Alvim)

Em Alcântara, por via da Ermida de Santo Amaro edificada em 1549 temos as Escadinhas de Santo Amaro e as Escadinhas do Quebra Costas a avisar do perigo que as mesmas representam.

Em Campolide, no Bairro da Liberdade , estão as Escadinhas da Liberdade, fixadas pelo Edital municipal de 12/04/1995.

Em Campo de Ourique, encontramos as Escadinhas dos Terramotos relativas à Ermida do Senhor Jesus dos Terramotos, situada na Rua Arco do Carvalhão.

Na freguesia da Estrela temos as Escadinhas da Praia fluvial da Madragoa.

Na freguesia da Misericórdia deparamos com as Escadinhas de São João Nepomuceno  a denunciarem a proximidade ao Convento do mesmo santo.

Escadinhas do Carmo – Freguesia de Santa Maria Maior

Em Santa Maria Maior concentram-se 16 Escadinhas. Relativas à proximidade a Ermidas ou Igrejas surgem as Escadinhas de Santo Estêvão próximas da Igreja de Santo Estêvão, as Escadinhas de São Crispim da Ermida de São Crispim, as Escadinhas de São Cristóvão da Igreja de São Cristóvão, as Escadinhas dos Remédios da Ermida de Nossa Senhora dos Remédio (Edital municipal de 24/12/1879), as Escadinhas da Saúde próximas da Ermida da Senhora da Saúde (Edital de 17/05/1906), as Escadinhas de São Miguel, resultado das remodelações de Alfama nos anos 60 do séc. XX e próximas da Igreja da mesma invocação (Edital de 25/01/1963), e também através da recuperação do Chiado após o incêndio de 1988, da autoria do Arqº Siza Vieira, nasceram as  Escadinhas do Santo Espírito da Pedreira pegando no nome do convento dessa Irmandade que ali existiu antes de passar a Armazéns do Chiado (Edital de 12/04/1995), bem como as  Escadinhas do Carmo que permitem a circulação pelos Terraços do Carmo (Edital de 06/06/2016). Com toponímia relativa a moradores locais encontramos as Escadinhas do Marquês de Ponte de Lima (Edital de 01/11/1905) e as Escadinhas de João de Deus (Edital de 08/11/1917). E por último, existem aquelas que guardam a memória do sítio: as Escadinhas Costa do Castelo, as Escadinhas da Rua das Farinhas, as Escadinhas do Terreiro do Trigo, as Escadinhas das Portas do Mar que até ao séc. XVIII eram conhecidas como Escada de Pedra,  as Escadinhas da Oliveira da Rua da Oliveira, ao Carmo (Edital de 29/09/1920) e as Escadinhas da Achada (Edital de 02/05/1940).

Santa Maria Maior ainda partilha com  Arroios as Escadinhas da Barroca, por referência ao Palácio da Barroca já citado em 1755, bem como as Escadinhas das Olarias que vieram susbtituir o antigo Beco dos Empenhadores por Edital municipal de  04/12/1883.

A freguesia de Arroios detém em exclusivo as Escadinhas da Porta do Carro  de abastecimentos do Hospital de S. José e partilha com  São Vicente as Escadinhas Damasceno Monteiro, junto à Rua Damasceno Monteiro (Edital de  21/03/1914).

São Vicente tem 3: as Escadinhas de São Tomé da Igreja de São Tomé do Penedo, as Escadinhas do Bairro América (Edital de 28/12/1932) e as Escadinhas das Comendadeiras de Santos da Quinta das Comendadeiras de Santos (Edital de 10/04/2007). Partilha ainda com  Santa Maria Maior as Escadinhas das Escolas Gerais e as Escadinhas do Arco de Dona Rosa que ali morou numa casa com capela.

Por último, a freguesia do Beato apresenta as Escadinhas de Dom Gastão junto à Calçada de Dom Gastão.

Escadinhas do Santo Espírito da Pedreira – Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Sérgio Dias)

A Senhora do Monte de S. Gens em 7 artérias

A Ermida de Nossa Senhora do Monte, no Largo do Monte (Foto: Artur Pastor, anos 80 do séc. XX, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Ermida de Nossa Senhora do Monte, no Largo do Monte
(Foto: Artur Pastor, anos 80 do séc. XX, Arquivo Municipal de Lisboa)

No ponto mais alto do Bairro da Graça, a Ermida de Nossa Senhora do Monte e de S. Gens foi fundada no próprio ano da tomada de Lisboa aos mouros, em 1147, e dela derivaram os 5 topónimos que ainda hoje encontramos: o Beco do Monte, a Calçada do Monte, as Escadas do Monte, o Largo do Monte, a Rua da Senhora do Monte, a Travessa do Monte e a Travessa das Terras do Monte.

Norberto de Araújo precisa que «O Bairro do Monte, urbanizado, data de 1902, embora anteriormente existisse na sua Calçada, no seu alto de S. Gens, e num ou noutro arruamento impreciso. (…) Data desta época o Bairro (novo) do Monte, definindo-se, em plano de urbanização, as Ruas de S. Gens e da Senhora do Monte, esta já existente antes, como natural descida do alto de S. Gens à Rua da Graça. (…)».  Desta urbanização de 1902, encontramos a escritura de concessão  de licença municipal a Higino de Magalhães Mendonça para construir a Rua da Senhora do Monte, datada de 21 de junho de 1901, bem como a escritura de entrega de rua a 21 de novembro de 1903. Este Higino de Mendonça era pintor e  herdeiro de Damasceno Monteiro (por ser sobrinho da esposa dele), pelo que assim separou a ermida das restantes propriedades e no local procedeu ao parcelamento e à urbanização do Bairro do Monte, bem como à construção do seu palacete na Rua da Senhora do Monte, que nos anos 60 foi substituído por dois prédios mais modernos.

Em 1903, o Edital municipal de 18 de dezembro atribuíu o  topónimo Rua da Senhora do Monte, à via entre a Rua da Graça e a Calçada do Monte e, por este mesmo edital foi  deu  também nas proximidades a Rua de S. Gens, tanto mais que desde o ano anterior a Ermida tinha tido obras e passara para a Coroa com o título de Real Ermida de Nossa Senhora e S. Gens.

Aliás, a Ermida de Nossa Senhora do Monte que encontramos no Largo do Monte, foi erigida no Monte de S. Gens e também consagrada a este padroeiro dos atores cómicos, que terá sido o 1º bispo de Lisboa e martirizado em 284 no sopé do monte, nas Olarias, segundo a tradição. A cadeira de pedra de S. Gens foi colocada na Ermida em consideração às suas virtudes milagrosas no aumento da fertilidade e numa boa hora no parto. Em 1243 foi construído um segundo ermitério dos frades Agostinhos Calçados para o qual foi deslocada a cadeira, bem como o obelisco para o Largo do Monte.  A Ermida e o ermitério sofreram com o Terramoto de 1755 e a igreja foi reedificada com risco de Honorato José Correia, mantendo a cadeira no interior. Em 1815, os Agostinhos plantaram árvores no Largo do Monte que duraram até ao ciclone de Lisboa de 1941. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o Estado vendeu toda a propriedade (ermida e quinta) a Clemente José Monteiro, cuja viúva, Henriqueta de Mendonça  casou em segundas núpcias com Damasceno Monteiro, o qual criou em 1857 uma nova Irmandade de Nossa Senhora do Monte e S. Gens, tendo no ano seguinte os devotos lisboetas  oferecido uma imagem de Nossa Senhora do Monte para o altar-mor. O herdeiro, Higino de Mendonça, parcelou e urbanizou a zona no início do séc. XX, como acima referimos.

A Calçada do Monte será a mais antiga já que, como frisa Norberto de Araújo, «A empinada Calçada do Monte, defronte do Largo, é, como estás vendo, a resultante de um caminho ou vereda que nos séculos velhos dividia a Cerca do Convento da Graça da encosta poente do Monte de S. Gens.» Por seu turno,  o Largo do Monte está ao cimo da Calçada do Monte, razão para o Edital municipal de 17/10/1924 ter integrado no Largo do Monte o prédio nº 1 da Calçada do Monte.

Já as Escadas do Monte, partilhadas pelas freguesias de São Vicente  e de Arroios, ligam a Rua Damasceno Monteiro à Rua das Olarias, desde a publicação do Edital do Governo Civil de 11 de janeiro de 1876. Em 1893, no nº 6 foi erguida uma vila operária.

Por último, a Travessa do Monte, liga o Largo da Graça à Calçada do Monte e já aparece num prospeto do prédio que Nuno António de Jesus pretendia construir na Travessa de Nossa Senhora do Monte, n.º 17 a 19, em 28 de junho de 1860.

Freguesia de São Vicente (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de São Vicente
(Planta: Sérgio Dias)