A Rua do compositor Rui Coelho na antiga Quinta da Torrinha

Freguesia de Santa Clara
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O compositor Rui Coelho, pioneiro da música portuguesa para bailado, é o topónimo da Rua D da Quinta da Torrinha à Ameixoeira, com a legenda «Maestro e Compositor/1889-1986», desde a publicação do Edital municipal de 1 de fevereiro de 1993.

Nos arruamentos da antiga Quinta da Torrinha, a edilidade consagrou pelo mesmo Edital mais 4 figuras ligadas ao mundo das artes e da música com a  Rua Brunilde Júdice (Rua C), a Rua Constança Capdeville (Rua B), a Rua Hugo Casaes (Rua Projetada à Rua Particular) e a Rua Jorge Croner de Vasconcelos (Rua E).

Rui Coelho na Ilustração Portuguesa de 20 de novembro de 1911

Ruy Coelho (Alcácer do Sal/03.03.1889 – 05.05.1986/Lisboa) fez carreira como compositor, maestro, autor de bailados e óperas, pianista de mérito, produtor de música coral e música para cinema, bem como de crítico musical. Filho do barqueiro Manoel Coelho e da empregada doméstica Adelaide Augusta Costa, teve 4 irmãos e começou os seus estudos musicais por volta dos 10 anos, na Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba, a tocar flautim e bombo, tendo então nesses anos trabalhado numa mercearia, na apanha da azeitona e como ajudante de seu pai.

Pessoas como os padres Francisco de Mattos Galamba e José Lopes Manso ajudaram-no a poder estudar no Conservatório Nacional de Lisboa. Até ao ano letivo de 1908/1909 frequentou os cursos de Flauta, de Piano, de Harmonia, de Contraponto e  de Composição, tendo sido aluno de Júlio Neuparth, António Eduardo da Costa Ferreira ou Tomás Borba. Em paralelo, era pianista num café-restaurante do Cais Sodré e vivia na Rua da Infância (é a Rua da Voz do Operário desde 1915), para além de ter criado amizade com Alexandre Rey Colaço, de quem foi aluno de piano, em aulas particulares e gratuitas. A primeira apresentação pública de composições suas ocorreu na festa do Conservatório de 25 de outubro de 1907 e a segunda, em que dirigiu peças de orquestra, em 1 de abril de 1908.

Graças ao empresário e violinista amador Jorge Yerosch, proprietário de um estabelecimento comercial em Lisboa, estudou em Berlim, de 1909 a 1913, sob a influência de E. Humperdinck, Max Bruch, A. Schoenberg, e nessa cidade ficou também amigo do barítono Francisco d’Andrade.  Dessa época ficou ainda a partitura de uma dança para orquestra, a  sonata de feição romântica Bouquet (que só estreará em Portugal em 1924, num serão da revista Contemporânea, a anteceder a conferência A Idade do Jazz-Band de António Ferro ) e cerca de 1910, Intermezzo,  Si je vous disais, um trio para violino, violoncelo e piano dedicado a Richard Strauss e vários Lieder, para além da partitura do bailado A princesa dos sapatos de ferro (1912) que estreou em 1918 no Teatro São Carlos, tal como o seu  Bailado do Encantamento, já que no regresso a Portugal se aproximou da geração da revista Orpheu, nomeadamente colaborando com Almada Negreiros e José Pacheco em diversos bailados.

Ruy Coelho produziu composições de timbre patriótico, com evocações historicistas e óperas cantadas em português – no que foi apoiado pelo tenor alentejano Tomás Alcaide -, sendo também o autor do hino da cidade de Lisboa ou do famoso fado de Coimbra O Beijo, musicando o poema de Afonso Lopes Vieira que a interpretação de António Menano popularizou. Destaque-se ainda a sua Sinfonia Camoniana nº 1 (1913), a ópera Serão da Infanta (1913) com libreto de Teófilo de Braga, a ópera D. João IV para as Comemorações dos Centenários de 1940 com libreto de João da Silva Tavares ou a oratória Fátima. A sua Ópera Belkiss foi galardoada com o 1º Prémio no Concurso Oficial de Espanha (1924). Realcem-se ainda as suas sinfonias Petite Symphonie n.º 1 (1927) e n.º 2 (1932), a Sinfonia Camoniana nº 5 por encomenda da cidade de S. Paulo, a Sinfonia d’Além-mar (1968), bem como a ópera-declamação-ballet-mímica Orfeu em Lisboa (1966) em três atos, a ópera sobre poema de Charles Oulmont La belle dame qui n’as pas peché (1970) e a Auto da Barca da Glória (1971).

Em 1934, fundou a Ação Nacional de Ópera, organização semi-oficial do regime, que serviu essencialmente para a divulgação da sua própria obra, se somarmos que entre 1947 e 1969, o Teatro São Carlos assistiu a 15 produções das suas óperas. Como maestro, dirigiu a Orquestra da Emissora de Berlim em 1939 e a Orquestra Filarmónica de Berlim, no Coliseu de Lisboa, em 1942, assim como em 1946 regeu a Orquestra da Rádio de Espanha, em Madrid e em 1949, a Orquestra Colonne, na Sala Gavean (Paris).

No cinema, refiram-se as banas sonoras que fez para Ala-Arriba! (1942) e Camões (1946), ambos de Leitão de Barros. Em 1948, começou a trabalhar no Gabinete de Estudos Musicais da Emissora Nacional, onde executou a sua 2ª Sinfonia Camoniana, bem como a 3ª em 1951. Em 1960, Ruy Coelho também dirigiu a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, nos Estúdios Valentim de Carvalho, em Paço d’Arcos.

Exibiu as suas obras por todo o país, levando a música erudita a locais tão improváveis na época como Amadora, Almada, Aveiro, Alcácer, Beja, Covilhã, Évora, Funchal, Santarém, e tantos outros, fazendo o mesmo em vários países europeus e sul-americanos, para além de ter levado em 1959, as primeiras companhias portuguesas de Ópera a Paris, e a Madrid, em 1961.

O seu nome integra também a toponímia da sua terra natal, da Charneca da Caparica e de Sesimbra.

Rui Coelho na Atlântida N.º 32, 1918

A artéria de Alfredo Guisado e Pedro de Menezes

Placa Tipo II - Freguesia de São Domingos de Benfica (Foto: Sérgio Dias)

Placa Tipo II – Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Sérgio Dias)

Alfredo Guisado que abandonou a revista Orpheu após a saída do nº2, desde 1977  que dá o seu nome ao que era o arruamento de ligação entre a Estrada de Benfica e a Rua Mariano Pina, na freguesia de São Domingos de Benfica, através da publicação do Edital de 10 de outubro.

A sugestão de topónimo partiu do Centro Escolar Republicano Almirante Reis que o queria a substituir o Largo da Graça, o que a edilidade recusou por alterar toponímia tradicional lisboeta, e criou-o no local onde ainda hoje vigora. A Câmara alfacinha voltou a homenagear este poeta em 22/01/2000, ao descerrar uma placa evocativa no nº 108 da Praça D. Pedro IV, onde se pode ler: « No 4º andar deste prédio, nasceu em 30 de Outubro de 1891, o poeta de Orpheu Alfredo Pedro Guisado».

Entrega da medalha de ouro da cidade à Sociedade Voz do Operário, representada pelo seu presidente, doutor Alfredo Guizado

Entrega da medalha de ouro da cidade à Sociedade Voz do Operário, pelo vice-presidente da CML, Luís Pastor de Macedo ao seu presidente,  Alfredo Guisado (Foto: Armando Serôdio, 1953, Arquivo Municipal de Lisboa)

Alfredo Pedro Guisado (Lisboa/30.10.1891 – 02.12.1975/Lisboa), era de ascendência galega e o seu pai era proprietário do Hotel e do Restaurante Irmãos Unidos, no nº 108 da Praça de Dom Pedro (só a partir de 26/03/1971 se passou a designar Praça D. Pedro IV), ponto de encontro do grupo Orpheu e, estabelecimento comercial afamado em Lisboa que encerrou em 1970.

Ficou como poeta ligado à revista Orpheu, onde publicou 13 sonetos, coligidos depois em 1918 no título Ânfora, sob o pseudónimo de Pedro de Menezes. Ainda sob o mesmo pseudónimo já publicara  os versos galegos Xente de Aldea (1912) e depois, Elogio da Paisagem (1915), As Treze Baladas das Mãos Frias (1916), Mais Alto (1917) e A Lenda do Rei Boneco (1920).

Como Alfredo Guisado estreou-se na literatura em 1913, com o livro de poemas Rimas da Noite e da Tristeza, seguido de Distância (1914). O seu último livro intitulou-se A Pastora e o Lobo (1974) e pelo meio são ainda de destacar  As Cinco Chagas de Cristo (1927) e Tempo de Orfeu 1915-1918 (1969). Usou o pseudónimo sendo modernista e, com o seu nome próprio foi também simbolista, decadentista e saudosista.

Licenciado em Direito desde o ano de 1921, Alfredo Guisado envolveu-se na política enquanto militante do Partido Republicano Português, tendo sido deputado, Presidente do Conselho Geral das Juntas de Freguesia de Lisboa, governador civil substituto de Lisboa (1922-1923) e vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1925).

Colaborou ainda em várias revistas e jornais, como a Alma Nova, a Atlântida, a Sudoeste e, o Diário de Lisboa e o República, onde foi até subdiretor e, como João Lobeira assinava a coluna «Papel Químico» e sátiras em verso ao Estado Novo.

Também se ligou ao movimento associativo tendo integrado a Associação dos Arqueólogos Portugueses e presidido à Sociedade Voz do Operário, para além de ter sido Presidente da Associação de Agricultores de Pias.

Freguesia de São Domingos de Benfica (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica

Freguesia de São Domingos de Benfica

 

 

A Rua do poeta-juiz Pessanha e a sua ligação à «Orpheu»

Contemporânea, maio de 1926

Contemporânea, maio de 1926

Camilo Pessanha, poeta simbolista foi convidado  por Fernando Pessoa, em 1915, para publicar poemas seus no nº 3 da Orpheu e, ambos, assim como Mário de Sá Carneiro,  estão perpetuados em ruas de Alvalade.

Pessoa sugere mesmo que «Entre os poemas que era empenho nosso inserir contam-se os seguintes: “Violoncelos”, “Tatuagens”, “O Estilita” (só conheço, deste, o segundo soneto), “Castelo de Óbidos”, “O Tambor”, “Nocturno”, “Passeio no Jardim”, “Ao longe os barcos de flores”, “O meu coração desce…”, “ Passou o Outono já”, “Floriram por engano as rosas bravas…”, “O Fonógrafo”.»

E pelo edital de 19 de julho de 1948, Camilo Pessanha passou a designar a Rua nº 16, do Sítio de Alvalade, e para além dos já referidos Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro o mesmo edital atribuiu a arruamentos próximos mais nomes de escritores dele conhecidos como Alberto de Oliveira e Eugénio de Castro, poetas com quem havia convivido em Coimbra e, Afonso Lopes Vieira que conhecera em Lisboa.

Às restantes artérias do bairro deu o Edital mais nomes de escritores: António Patrício, Antónia Pusich, Bernarda Ferreira de Lacerda, Branca de Gonta Colaço, Eduardo Vidal, Fausto Guedes Teixeira, Fernando Caldeira, Florbela Espanca, Guilherme de Azevedo, João Lúcio e Rosália de Castro.

Camilo de Almeida Pessanha (Coimbra/07.09.1867 – 01.03.1926/Macau) formado em Direito no ano de 1891, foi advogado e procurador Régio em Mirandela (1892), mas perante a recusa de Ana de Castro Osório em casar com ele por já estar comprometida, partiu para Macau em 1894 e aí foi professor no liceu local, conservador do Registo Predial e juiz.

O seu 1º poema será provavelmente «Lúbrica», de 1885, e o 1º publicado foi «Madrigal», no jornal republicano Gazeta de Coimbra, em 30 de abril de 1887. Camilo Pessanha foi um autor de livro único, Clepsidra (1920), que anuncia a nova corrente simbolista e, graças a Ana de Castro Osório, que o coligiu a partir de originais e recortes de jornais e o publicou na sua editora Lusitânia. Já antes, em 1916, na revista Centauro, dirigida por Luís de Montalvor (que será também o diretor do nº 1 da Orpheu), publicara um embrião desse volume. Também João de Castro Osório, filho de Ana de Castro Osório, ampliou a Clepsidra original, acrescentando-lhe poemas que foram sendo encontrados, em edições publicadas em 1945, 1954 e 1969 pela Ática.

Na imprensa da época de Pessanha também se encontra diversa colaboração da sua autoria, sobretudo poesia e contos, particularmente nas revistas Ave Azul, Atlântida e Contemporânea, bem como no jornal O Lusitano, publicado em Macau.

Camilo Pessanha foi louvado em portaria pela doação ao Estado de uma colecção de 100 peças de arte chinesa (1918), recebeu a comenda da Ordem de Santiago (1919) e, após a sua morte a Rua do Mastro, em Macau, passou a chamar-se Rua Camilo Pessanha.

Freguesia de Alvalade (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade

Freguesia de Alvalade

A Rua da Oliveira ao Carmo onde se imprimia a «Orpheu»

(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, sem autor, sem data)

(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, sem autor, sem data)

A Rua da Oliveira ao Carmo tem uma ligação umbilical com a revista Orpheu por ser nesta artéria que era impressa, na Tipografia do Comércio, e a partir dela via a luz do dia.

A Rua da Oliveira ao Carmo, hoje no território da freguesia de Santa Maria Maior, unindo o Largo do Carmo à Calçada do Duque, era no ano da Orpheu (1915) pertença da freguesia do Sacramento e, 56 anos antes,  o Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859, precisara que a Rua da Oliveira passava a denominar-se Rua da Oliveira do Carmo, no critério de não criar equívocos com outras Ruas da Oliveira na cidade. Em 1948, um parecer da Comissão Municipal de Toponímia, homologado pelo Presidente substituto, Luís Pastor de Macedo, em 18/06/1948, tornou a denominação da artéria em Rua da Oliveira ao Carmo.

Folha de rosto da Orpheu nº 1

Folha de rosto da Orpheu nº 1

Os dois números da Orpheu publicados em 1915 foram impressos na Tipografia do Comércio que se encontrava no nº 10 da Rua da Oliveira do Carmo. A redação estava sediada na Livraria Brasileira, no nº 190 da  Rua Áurea  (vulgarmente conhecida como Rua do Ouro) e o  diretor do 1º número, Luís de Montalvor, morava no nº 17 do Caminho do Forno do Tijolo (que desde a publicação do Edital de 17/10/1924  é a Rua Angelina Vidal).

O topónimo de reminiscências rurais «Oliveira» existe ainda hoje em mais 3 artérias lisboetas: nas Escadinhas da Oliveira, junto a esta Rua da Oliveira ao Carmo já que nasceu de um troço desta rua por Edital de 20/09/1920;  no Beco da Oliveira (na freguesia de Santa Maria Maior) e na Travessa da Oliveira à Lapa, para além do Largo da Oliveirinha (freguesias de Santo António e Misericórdia) e da Rua das Oliveirinhas (São Vicente).

Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior – Placa de Azulejo
(Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior

A Rua de Mário de Sá Carneiro da «Orpheu»

Mario_Sa_Carneiro

O poeta Mário de Sá Carneiro foi quem com Fernando Pessoa planeou o lançamento da revista Orpheu, com financiamento «involuntário» do seu pai e, logo no nº1, publicou poemas seus que viriam a constituir Indícios de Ouro e que deram logo brado.

Mário Sá Carneiro, que Pessoa apelidava de génio não só da arte mas da inovação nela, ficou perpetuado na Rua nº 18 do Sítio de Alvalade, pelo Edital de 19/07/1948, tal como Fernando Pessoa (Rua nº 11),  ou Camilo Pessanha (Rua nº 16) a quem foi pedido colaboração para o nº 3 da Orpheu. O mesmo Edital juntou ainda em Alvalade outros escritores com a Rua Afonso Lopes Vieira, a Rua Alberto de Oliveira, a Rua Antónia Pusich, a Rua António Patrício , a Rua Bernarda Ferreira de Lacerda, a Rua Branca de Gonta Colaço, a Rua Eduardo Vidal, a Rua Eugénio de Castro, a Rua Fausto Guedes Teixeira, a Rua Fernando Caldeira, a Rua Florbela Espanca, a Rua Guilherme de Azevedo, a Rua João Lúcio e a Rua Rosália de Castro.

Freguesia de Alvalade (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Foto: Sérgio Dias)

Mário de Sá Carneiro (Lisboa/19.05.1890 – 26.04.1916/Paris) foi um poeta e contista, que com Fernando Pessoa lançou a Orpheu, publicação a partir da qual nasceu o primeiro grupo modernista português. Matriculou-se em Direito, em Coimbra e na Sorbonne, mas preferiu a literatura. Conheceu Fernando Pessoa em 1912 e foi também nesse ano que pela 1ª vez publicou, a peça Amizade (em colaboração com Tomás Cabreira Junior, seu colega do Liceu Camões), bem como as novelas Princípio. Entre 1913 e 1914 vinha de Paris a Lisboa com uma certa regularidade e deu a lume Memórias de Paris (1913),  A Confissão de Lúcio (1914), o volume de poesia Dispersão (1914) e,  as novelas Céu em Fogo (1915).  Nas cartas que escreveu a Pessoa de Paris mostrou uma crescente angústia e, em 1915, informou-o de que o seu pai já não dispunha do dinheiro de outrora e não poderia «involuntariamente» financiar o nº 3 da Orpheu. Depois, a menos de um mês de completar 26 anos, suicidou-se com veneno num Hotel do bairro de Montmartre.

Em vida também deixou diversa colaboração editadas em revistas como a RenascençaAlma Nova e Contemporânea.

Postumamente, foram ainda editadas as suas obras Indícios de Ouro (poemas editados em 1937 pela revista Presença) e Cartas a Fernando Pessoa (1958 -1959),  Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Luís de Montalvor, Cândia Ramos, Alfredo Guisado e José Pacheco (1977), Correspondência Inédita de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa (1980).

Edital de 19.07.1949

Edital de 19.07.1949

Freguesia de Alvalade

Freguesia de Alvalade

A «Orpheu» na Toponímia de Lisboa, no centenário da revista

nº 1 capa de Pacheko

O nº 1 (janeiro-fevereiro-março de 1915) com capa de Pacheko

Passa este ano o centenário da Orpheu, uma revista trimestral de literatura editada em Lisboa,  dada a lume a 21 de março de 1915, em resultado do plano de Fernando Pessoa  e Mário de Sá Carneiro, e que apesar da escassez de números publicados – apenas 2, já que o 3º foi cancelado por falta de financiamento – teve um papel fundamental na afirmação do modernismo português e o seu vanguardismo inspirou movimentos literários subsequentes de renovação da literatura portuguesa, sendo mesmo considerada o marco inicial do Modernismo em Portugal.

Dessa Geração d’Orpheu que colaborou na feitura da revista, a toponímia de Lisboa fixou Fernando Pessoa – numa Rua e numa Avenida-, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros  (no nº 1 e previsto para o nº 3 com a sua A Cena do Ódio),  Alfredo Guisado, Camilo Pessanha e  Amadeu de Sousa Cardoso (todos os três previstos por Fernando Pessoa para surgirem no nº3).

Os nomes que não ficaram perpetuados na cidade foram José Pacheko (arquiteto e responsável gráfico da Orpheu que desenhou a 1ª capa), António Ferro (editor dos 2 números e que foi nome de rua em Lisboa desde 14/06/1967 até 28/07/1975, altura em que passou a denominar-se Rua Luís de Freitas Branco), Armando Côrtes Rodrigues (nº1), Ângelo de Lima (poeta marginal, internado em Rilhafoles desde 1900, integrou o nº 2), Eduardo Guimarães (poemas no nº 2), Luís de Montalvor (diretor para Portugal e poema na nº 2), Raul Leal (novela na nº2), Ronald de Carvalho (diretor para o Brasil), Santa-Rita Pintor (artista plástico futurista publicado no nº 2), Violante de Cysneiros (pseudónimo de Armando Cortes-Rodrigues cujos poemas apareceram no nº2),  e Albino de Meneses, Augusto Ferreira Gomes, C. Pacheco (outro heterónimo de Pessoa), Carlos Parreira, Castelo de Morais e D. Tomás de Almeida (todos previstos para o nº3).

Outros arruamentos alfacinhas ligados à  Orpheu são a Rua da Oliveira ao Carmo, em cujo nº 10 se estabelecia a Tipografia do Comércio que imprimia a revista, a Rua Áurea onde a redação estava sediada, na Livraria Brasileira, no nº 190, mesmo que mencionada na publicação pela denominação vulgar de Rua do Ouro e, ainda a morada do diretor do 1º número que era o nº 17 do Caminho do Forno do Tijolo (desde a publicação do Edital de 17/10/1924 que é a Rua Angelina Vidal).

A Orpheu, destinada a Portugal e Brasil, introduziu em Portugal o movimento modernista, associando importantes nomes das letras e das artes e conforme carta de Fernando Pessoa  para Armando Cortes-Rodrigues «Somos o assunto do dia em Lisboa; sem exagero lho digo (…) O escândalo maior tem sido causado pelo “16” do Sá-Carneiro e a “Ode Triunfal”. Até o André Brun nos dedicou um número das “Migalhas”».

Em julho de 1915, Alfredo Guisado e António Ferro anunciaram publicamente o seu afastamento da revista por divergências políticas com Fernando Pessoa, aliás, Álvaro de Campos. Mário de Sá-Carneiro também partiu para Paris de onde em 13 de setembro seguinte escreveu a Pessoa para informar que o seu pai não podia continuar o mecenato involuntário da revista e assim se esfumou o 3º número da revista.

Recorde-se que a Portugal Futurista, publicada em Novembro de 1917 e dirigida por Carlos Filipe Porfírio, continuou a tradição vanguardista e provocadora de Orpheu, com trabalhos dos seus colaboradores, designadamente Álvaro de Campos, Almada Negreiros, Amadeu de Sousa Cardoso, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Raul Leal e Santa-Rita Pintor.  A importância da Orpheu começou a ser reconhecida pela segunda geração modernista nas páginas da revista Presença, publicada de 1927 a 1940, em Coimbra. Em 1984, foi publicado o terceiro número da Orpheu, , que devia ter saído em Outubro de 1917, compilado por Arnaldo Saraiva.

O nº 2 (abril-maio-junho de 1915)

O nº 2 (abril-maio-junho de 1915)

Artérias de Fernando Pessoa no Dia do Autor Português

Freguesia do Campo Grande - futura freguesia de Alvalade

Rua Fernando Pessoa na Freguesia de Alvalade         (Foto: José Carlos Batista)

Hoje celebra-se o Dia do Autor Português e assim, evocamos Fernando Pessoa que em Lisboa tem duas artérias com o seu nome: a Rua Fernando Pessoa e a Avenida Fernando Pessoa.

A Rua nº 11 do Sítio de Alvalade foi a primeira a receber o nome do poeta, por Edital de 19 de julho de 1948, a que mais tarde, por parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 15/05/1970, se juntou a legenda «Poeta/1888 – 1935». Pelo mesmo edital de 1948, foram dados topónimos de outros escritores às ruas do Sítio de Alvalade, a saber: Rua Afonso Lopes Vieira, Rua Alberto de Oliveira, Rua Antónia Pusich, Rua António Patrício, Rua Bernarda Ferreira de Lacerda, Rua Branca de Gonta Colaço, Rua Camilo Pessanha, Rua Eduardo Vidal, Rua Eugénio de Castro, Rua Fausto Guedes Teixeira, Rua Fernando Caldeira, Rua Florbela Espanca, Rua Guilherme de Azevedo, Rua João Lúcio, Rua Mário de Sá Carneiro e Rua Rosália de Castro.

Acontece que com realização da Expo 98 o nome de Fernando Pessoas também designou uma das artérias do evento: uma Avenida. Depois desse ano, este e os restantes 102 arruamentos do Parque das Nações no concelho de Lisboa não possuíam denominação oficial e, qualquer alteração destes topónimos implicaria a modificação de toda a documentação oficial dos residentes, com grandes incómodos para estes, pelo que a Câmara Municipal de Lisboa optou por oficializar todos estes topónimos, pelo Edital de 02/09/2009.

E de forma breve podemos biografar Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa/13.06.1888 – 30.11.1935/Lisboa) como o poeta português dos heterónimos – Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares – , que em vida foi galardoado com o Prémio Antero de Quental pela Mensagem (1934) e deixou a maioria da sua obra literária inédita. De 1903 a 1909 escreveu poemas em inglês e, em Dezembro de 1904, publicou um ensaio literário sobre Macauly na revista da Durban High School. Em 1912 começou a colaborar com as revistas  A Águia e Renascença Portuguesa, sendo nesta última que em 1913 publicou o seu primeiro poema em Português «Pauis» o qual marca o início do modernismo nas letras portuguesas. Em 1915, com Luís Montalvor e Mário de Sá Carneiro lançou a revista Orpheu e o modernismo. Colaborou ainda nas revistas Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922-1926) e Atena (1924-1925).

Avenida Fernando Pessoa na Freguesia de Santa Maria dos Olivais - futura freguesia do Parque das Nações

Avenida Fernando Pessoa na Freguesia do Parque das Nações    (Foto: Sérgio Dias)

Amadeo, Amadeu

na Freguesia de Alcântara

Freguesia de Alcântara                                                                (Foto: José Carlos Batista)

Setenta anos após a sua morte, Amadeu de Sousa Cardoso foi fixado pela edilidade alfacinha no arruamento que liga a Rua dos Lusíadas à Rua João de Barros, através do Edital de 29/02/1988, naquela que era a Rua Bocage desde a deliberação camarária de 08/07/1892 e ainda antes, Ruas nºs 7 e 8 do Bairro do Casal do Rolão.

Conforme se pode ler na acta da reunião da Comissão de Toponímia de 17 de fevereiro de 1988, o Vereador Vítor Reis sugeriu o nome de Amadeu de Sousa Cardoso para identificar um arruamento citadino, e a Comissão de Toponímia então presidida  pelo Vereador Comandante Pinto Machado «Atendendo a que existem em Lisboa dois arruamentos ambos evocando a memória do poeta Bocage [a Avenida Barbosa du Bocage e a Rua Bocage], e que não se justifica essa duplicação toponímica»,  foi de parecer que a Rua Bocage em Alcântara se passasse a denominar Rua Amadeu de Sousa Cardoso.

"Canção Popular - a Russa e o Figaro" (óleo sobre madeira), cerca de 1916

Canção Popular – a Russa e o Figaro (óleo sobre madeira), cerca de 1916

Amadeo de Souza-Cardoso, pela grafia moderna Amadeu de Sousa Cardoso (Amarante-Manhufe/14.11.1887 – 25.10.1918/Espinho), foi um desenhador, caricaturista e pintor e da primeira geração de modernistas portugueses. Aos 18 anos, matriculou-se na Academia de Belas – Artes de Lisboa e manifestou a sua arte no desenho, sobretudo como caricaturista. No ano seguinte mudou-se para Paris, para estudar arquitectura, residindo no Bairro de Montparnasse ao longo de 8 anos, mas acabou para voltar à caricatura, publicando n’ O Primeiro de Janeiro (1907) e na Ilustração Popular (1908-1909). Em 1910 fez uma estadia de alguns meses em Bruxelas e, em 1911, expôs trabalhos no Salon des Indépendants de Paris, e também com Modigliani, no ateliê do pintor português perto do Quai d’Orsay, aproximando-se cada vez mais das vanguardas e de artistas como Brancusi, Archipenko, Juan Gris, Robert e Sonia Delaunay. Em 1912, publicou o álbum XX Dessins e expôs no Salon des Indépendants e no Salon d’Automne. Em 1913 tomou parte, com 8 trabalhos, no Armory Show (nos E.U.A.) e, no ano seguinte, encontrou-se em Barcelona com Gaudi. Regressou a Portugal e instalou-se em Manhufe, desenvolvendo com Almada Negreiros e Santa-Rita diversos projectos como a publicação de trabalhos na revista Portugal Futurista.

Em 1918 contraiu uma doença de pele que lhe afectou o rosto e as mãos impedindo-o de trabalhar e, trocou Manhufe por Espinho, na tentativa vã de escapar à epidemia de Gripe Espanhola à qual acabou por sucumbir. A sua morte antes de completar 31 anos de idade ditou o fim abrupto de uma obra pictórica em plena maturidade e, de uma carreira internacional promissora, conduzindo a que o seu nome só alguns anos após a sua morte ganhasse em Portugal a importância e o reconhecimento que possuía no Estrangeiro. Em 1935, foi criado o “Prémio Amadeo de Souza- Cardoso” para o Salão anual de Arte Moderna e em, 1957 José Augusto-França publicou a primeira monografia sobre ele, tendo depois em 1968 a Fundação Calouste Gulbenkian adquirido as sua 5 primeiras obras de Amadeo.

Placa Tipo II

Placa Tipo II                                                            (Foto: José Carlos Batista)

A Rua Almada Negreiros em Lisboa, Pim!

Placa Tipo IV

Placa Tipo IV

No próximo domingo, dia 7, comemora-se o 120º aniversário do nascimento de Almada Negreiros, artista multifacetado e autor do conhecido «Manifesto Anti-Dantas e por extenso», que deu o seu nome a uma rua dos Olivais praticamente um mês após o seu falecimento.

Almada faleceu a 15 de junho de 1970, no Hospital de S. Luís dos Franceses, mesmo ao cimo da Rua Luz Soriano, no Bairro Alto, no mesmo quarto onde morrera o seu amigo Fernando Pessoa e, o Edital municipal de 11/07/1970 colocou o seu nome na artéria referenciada como  Rua E 2 da Célula E dos Olivais Sul, incluindo os Impasse EJ, 3D, 3D1, EU e EV e abrangendo os lotes 454 a 462, 470a 474, 487a 494 e 504 a 506.

José Sobral de Almada Negreiros (S. Tomé e Príncipe – Roça da Saudade/07.04.1893 – 15.06.1970/Lisboa), foi um vulto cimeiro da vida cultural portuguesa durante quase meio século, sobretudo como escritor, artista plástico e, elemento do modernismo artístico onde emerge a imagem do artista total.

Essencialmente autodidata, publica os primeiros desenhos e caricaturas em 1911 e, no ano imediato, redige e ilustra de forma integral o jornal manuscrito A Paródia, para em 1913 voltar a participar na Exposição dos Humoristas Portugueses, preparar o primeiro projeto de bailado (O sonho da rosa), desenhar o primeiro cartaz (Boxe) e, em 1914 diretor artístico no semanário monárquico Papagaio Real, para além de ter sido um dos fundadores da revista Orpheu em 1915, veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa e,  publicou o «Manifesto Anti-Dantas e por extenso»,  por ocasião da estreia da peça de teatro Soror Mariana Alcoforado de Júlio Dantas, reagindo às críticas negativas deste à Orpheu, , numa «estética do soco» cara a Marinetti. Ainda nesse ano escreve a novela A engomadeira (publicada em 1917) e o poema A cena do Ódio (publicado parcialmente em 1923).

Almada fez caricatura, pintura a óleo, tapeçaria, gravura, pintura mural, mosaico, azulejo e vitral graças ao que ainda hoje o podemos encontrar um pouco por toda a cidade de Lisboa. Em 1917, publica a novela K4 O Quadrado Azul, realiza a conferência Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX, uma diatribe escandalosa contra a situação mental e social do país” e, colabora no único número de Portugal Futurista, revista apreendida pela polícia pela inclusão da novela do próprio Almada «Saltimbancos», considerada obscena por mencionar cavalos a cobrir éguas.

De 1920 para a frente Almada colabora em diversos jornais e revistas, do Diário de Lisboa ao Sempre Fixe, publicando desenhos humorísticos, textos e ilustrações, realiza capas de livros e revistas, publica Invenção do Dia Claro (1921), escreve o romance Nome de Guerra (em 1925 e publicado em 1938), produz quadros para A Brasileira do Chiado (1925) e para o Bristol Club (1926). Escreve a peça Deseja-se Mulher dedicada à sua futura mulher Sarah Afonso, cria o cartaz político Votai a Nova Constituição (1933), colabora com Pardal Monteiro com os vitrais para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1934) e a decoração do edifício do Diário de Notícias, concebe um selo com a frase de Salazar «Tudo pela Nação» (1935), executa as pinturas murais da Gare Marítima de Alcântara (1945-1947) e da Rocha do Conde de Óbidos (1946- 1948), pinta o Retrato de Fernando Pessoa (1954), realiza painéis decorativos para a Cidade Universitária (1957 – 1961) e o painel de pedra geométrico para o átrio do edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian (1968-1969), fazendo a sua derradeira intervenção pública no programa televisivo Zip-Zip, em julho de 1969.

Na freguesia de Santa Mª dos Olivais - futura freguesia dos Olivais

Na freguesia de Santa Mª dos Olivais – futura freguesia dos Olivais