O compositor Rui Coelho, pioneiro da música portuguesa para bailado, é o topónimo da Rua D da Quinta da Torrinha à Ameixoeira, com a legenda «Maestro e Compositor/1889-1986», desde a publicação do Edital municipal de 1 de fevereiro de 1993.
Nos arruamentos da antiga Quinta da Torrinha, a edilidade consagrou pelo mesmo Edital mais 4 figuras ligadas ao mundo das artes e da música com a Rua Brunilde Júdice (Rua C), a Rua Constança Capdeville (Rua B), a Rua Hugo Casaes (Rua Projetada à Rua Particular) e a Rua Jorge Croner de Vasconcelos (Rua E).
Ruy Coelho (Alcácer do Sal/03.03.1889 – 05.05.1986/Lisboa) fez carreira como compositor, maestro, autor de bailados e óperas, pianista de mérito, produtor de música coral e música para cinema, bem como de crítico musical. Filho do barqueiro Manoel Coelho e da empregada doméstica Adelaide Augusta Costa, teve 4 irmãos e começou os seus estudos musicais por volta dos 10 anos, na Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba, a tocar flautim e bombo, tendo então nesses anos trabalhado numa mercearia, na apanha da azeitona e como ajudante de seu pai.
Pessoas como os padres Francisco de Mattos Galamba e José Lopes Manso ajudaram-no a poder estudar no Conservatório Nacional de Lisboa. Até ao ano letivo de 1908/1909 frequentou os cursos de Flauta, de Piano, de Harmonia, de Contraponto e de Composição, tendo sido aluno de Júlio Neuparth, António Eduardo da Costa Ferreira ou Tomás Borba. Em paralelo, era pianista num café-restaurante do Cais Sodré e vivia na Rua da Infância (é a Rua da Voz do Operário desde 1915), para além de ter criado amizade com Alexandre Rey Colaço, de quem foi aluno de piano, em aulas particulares e gratuitas. A primeira apresentação pública de composições suas ocorreu na festa do Conservatório de 25 de outubro de 1907 e a segunda, em que dirigiu peças de orquestra, em 1 de abril de 1908.
Graças ao empresário e violinista amador Jorge Yerosch, proprietário de um estabelecimento comercial em Lisboa, estudou em Berlim, de 1909 a 1913, sob a influência de E. Humperdinck, Max Bruch, A. Schoenberg, e nessa cidade ficou também amigo do barítono Francisco d’Andrade. Dessa época ficou ainda a partitura de uma dança para orquestra, a sonata de feição romântica Bouquet (que só estreará em Portugal em 1924, num serão da revista Contemporânea, a anteceder a conferência A Idade do Jazz-Band de António Ferro ) e cerca de 1910, Intermezzo, Si je vous disais, um trio para violino, violoncelo e piano dedicado a Richard Strauss e vários Lieder, para além da partitura do bailado A princesa dos sapatos de ferro (1912) que estreou em 1918 no Teatro São Carlos, tal como o seu Bailado do Encantamento, já que no regresso a Portugal se aproximou da geração da revista Orpheu, nomeadamente colaborando com Almada Negreiros e José Pacheco em diversos bailados.
Ruy Coelho produziu composições de timbre patriótico, com evocações historicistas e óperas cantadas em português – no que foi apoiado pelo tenor alentejano Tomás Alcaide -, sendo também o autor do hino da cidade de Lisboa ou do famoso fado de Coimbra O Beijo, musicando o poema de Afonso Lopes Vieira que a interpretação de António Menano popularizou. Destaque-se ainda a sua Sinfonia Camoniana nº 1 (1913), a ópera Serão da Infanta (1913) com libreto de Teófilo de Braga, a ópera D. João IV para as Comemorações dos Centenários de 1940 com libreto de João da Silva Tavares ou a oratória Fátima. A sua Ópera Belkiss foi galardoada com o 1º Prémio no Concurso Oficial de Espanha (1924). Realcem-se ainda as suas sinfonias Petite Symphonie n.º 1 (1927) e n.º 2 (1932), a Sinfonia Camoniana nº 5 por encomenda da cidade de S. Paulo, a Sinfonia d’Além-mar (1968), bem como a ópera-declamação-ballet-mímica Orfeu em Lisboa (1966) em três atos, a ópera sobre poema de Charles Oulmont La belle dame qui n’as pas peché (1970) e a Auto da Barca da Glória (1971).
Em 1934, fundou a Ação Nacional de Ópera, organização semi-oficial do regime, que serviu essencialmente para a divulgação da sua própria obra, se somarmos que entre 1947 e 1969, o Teatro São Carlos assistiu a 15 produções das suas óperas. Como maestro, dirigiu a Orquestra da Emissora de Berlim em 1939 e a Orquestra Filarmónica de Berlim, no Coliseu de Lisboa, em 1942, assim como em 1946 regeu a Orquestra da Rádio de Espanha, em Madrid e em 1949, a Orquestra Colonne, na Sala Gavean (Paris).
No cinema, refiram-se as banas sonoras que fez para Ala-Arriba! (1942) e Camões (1946), ambos de Leitão de Barros. Em 1948, começou a trabalhar no Gabinete de Estudos Musicais da Emissora Nacional, onde executou a sua 2ª Sinfonia Camoniana, bem como a 3ª em 1951. Em 1960, Ruy Coelho também dirigiu a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, nos Estúdios Valentim de Carvalho, em Paço d’Arcos.
Exibiu as suas obras por todo o país, levando a música erudita a locais tão improváveis na época como Amadora, Almada, Aveiro, Alcácer, Beja, Covilhã, Évora, Funchal, Santarém, e tantos outros, fazendo o mesmo em vários países europeus e sul-americanos, para além de ter levado em 1959, as primeiras companhias portuguesas de Ópera a Paris, e a Madrid, em 1961.
O seu nome integra também a toponímia da sua terra natal, da Charneca da Caparica e de Sesimbra.