Alameda Padre Álvaro Proença

Alameda Padre Álvaro Proença, topónimo atribuído por Edital de 28 de Fevereiro de 1984 a um arruamento da freguesia de Benfica

Álvaro Proença (1912-1983). Padre, professor e escritor. Ordenou-se padre após o curso feito no Seminário de Santarém. Nos anos 40 do século XX, foi professor na Casa Pia de Lisboa e na Escola Industrial Afonso Domingues (Marvila). A sua carreira eclesiástica desenrolou-se na área de Lisboa tendo sido Capelão Naval, Capelão da Casa Pia de Lisboa, Reitor da Igreja da Madre de Deus e pároco de Santa Maria de Loures. Enquanto esteve à frente desta paróquia interessou-se pela história local, tendo publicado em 1940, Subsídios para a história do Concelho de Loures. No ano seguinte escreve Como o povo reza: etnografia, em 1940, Raínha Nossa: coro falado, e em 1949 A grande colheita: coro falado para a festa das colheitas. Por toda a década de 50 publicará várias pequenas obras dedicadas à catequese de jovens e à oração: A nossa oração, Compêndio de Religião e Moral, Nossa Mãe e nossa Vida, Nossa Fé e nossa Lei, A hora triunfal: coro falado e Missal da Juventude.

A partir de 1955 é nomeado pároco de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, lugar que manterá até à sua morte em 1983. Dedica-se à sua paróquia promovendo uma renovação da vida paroquial. Logo nesse ano funda o Boletim da Família Paroquial de modo a aproximar a igreja dos seus fiéis. Em 1958, lança o primeiro peditório para a construção dum Centro Paroquial e Social, a ser edificado no lado poente da Igreja, o que se veio a realizar, depois de apresentados vários projectos, em 1959, e terminada a segunda fase em 1964. O Centro destinava-se às actividades próprias da vida paroquial (cartório, casa paroquial, etc.), mas também, previa, desde o início, uma Creche, Jardim Infantil, Biblioteca, Salas de Aulas e Salão Paroquial. É durante o seu ministério que se iniciam os Cursos de Preparação para o Matrimónio, que se institui a Obra da Sagrada Família (para a promoção da oração em família), que se cria o Grupo de Recepção e Acolhimento, se formaliza o grupo de Leitores para a Eucaristia, e se cria o Apoio Pastoral que ainda hoje funcionam. A partir das emissões de televisão, em 1957, cria também um dos primeiros Cineclubes de Lisboa, que funcionava na paróquia.

Mas o seu interesse por Benfica levou-o igualmente, à semelhança do que já havia feito para Loures, a investigar a história desta freguesia. Em 1964 saiu a sua grande obra: Benfica através dos tempos. O Padre Álvaro Proença, ao longo de quase 600 páginas, procurou fazer a história da paróquia, da sua igreja, mas também do seu povo, usos e costumes, de aspectos da vida social, do património edificado da freguesia, das feiras e festas, entre outros temas. Benfica através dos tempos tornou-se, assim, uma obra fundamental para quem quer estudar esta zona e um excelente exemplo de como a olisipografia se pode dedicar a uma pormenorizada história de uma parte da cidade.

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Rua Jaime Lopes Dias

Jaime Lopes Dias em 1949 (ao centro)
(Foto: Firmino Marques da Costa, Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua Jaime Lopes Dias, topónimo atribuído por Edital de 3 de outubro de 1991 a um arruamento da freguesia do Lumiar

Jaime dos Santos Lopes Dias (1890-1977), funcionário público e da Câmara Municipal de Lisboa, jurista, jornalista e etnógrafo. Fez parte de dezenas de associações, nacionais e estrangeiras, entre as quais a Academia das Ciências de Lisboa, a Associação dos Arqueólogos Portugueses, o Instituto de Coimbra, a Sociedade de Geografia de Lisboa, Société de Etnologie Française, e Asociación de los Amigos del Arte (Argentina). Natural do Vale da Senhora da Póvoa, concelho de Penamacor, estudou em Castelo Branco e Coimbra, licenciando-se em Direito na Universidade desta cidade em 1912. Desde a licenciatura até 1936 desempenhou vários cargos em Penamacor, Idanha a Nova e Castelo Branco: oficial do Registo Civil, Administrador de Concelho, Vereador (em Idanha a Nova), Juiz, Secretário Geral do Governo Civil do Distrito de Castelo Branco. Em 1936 veio para Lisboa como adjunto do Director Geral da Administração Política e Civil do Ministério do Interior, ministério onde se manteve até 1938, ano em que foi nomeado Director dos Serviços Centrais e Culturais da Câmara Municipal de Lisboa.

Ao longo da vida, foi autor de centenas de títulos e colaborador em publicações periódicas como, por exemplo, o Diário de Notícias, O Século, Diário de Coimbra, Panorama, Terras Portuguesas. Fundou os jornais Povo de Idanha (1914) e A província (1921) e dirigiu o Boletim da Casa das Beiras, a Revista das beiras e a Revista Municipal da Câmara Municipal de Lisboa. Escreveu obras sobre matérias de Direito, nomeadamente a edição revista e anotada do Código de Direito Administrativo de 31 de Dezembro de 1936. Mas o seu grande interesse foi a etnografia, principalmente a da sua terra natal. Editou, em 11 volumes, Etnografia da Beira (1926-1971), ainda hoje obra de referência sobre os usos e costumes desta região portuguesa. Publicou ainda Pelourinhos e forcas no Distrito de Castelo Branco (1935), A Beira Baixa, seu folclore, sua história e suas riquezas (1936), Cortiças da Beira Baixa (1947), ou A Beira Baixa e o seu teatro popular na obra de Gil Vicente (1959), entre tantos outros. Manteve sempre a ligação às origens, desempenhando cargos na Santa Casa da Misericórdia de Idanha a Nova, batendo-se pela construção da barragem do rio Ponsul ou pela criação de uma linha férrea que servisse a vila. Legou a sua biblioteca à Câmara Municipal de Castelo Branco, o que se veio a concretizar já depois da sua morte. Presentemente a Biblioteca desta cidade tem o nome de Jaime Lopes Dias.

Fez parte da Associação dos Jardins-Escolas João de Deus, tendo sido presidente da Assembleia Geral e tendo colaborado com João de Deus Ramos na obra O Livro de Capa Verde: selecta para a gente moça (1948).

Quando passou a residir em Lisboa, Lopes Dias começou igualmente a escrever sobre aspectos da vida lisboeta, dentro da sua linha de investigador etnográfico. Trouxe a lume Festas e divertimentos da cidade de Lisboa: da Independência à Restauração (1940), Grades de Lisboa (1947), Uma tradição lisboeta que revive: os tronos a Santo António (1949), Natal Português (1957). Publicou ainda um útil estudo O brasão de armas da cidade de Lisboa (1943) três anos após a fixação desta insígnia pela Comissão de Heráldica da Associação de Arqueólogos Portugueses. Nesse mesmo ano publicou O Museu da Cidade de Lisboa e em 1953 Vinte e Cinco anos da vida de uma capital. Colaborou na obra Lisboa Oito séculos de História, com o capítulo “Lisboa de hoje. A cidade de amanhã”.

Foi membro da Comissão Municipal de Toponímia desde a sua criação em 1943, juntamente com Pastor de Macedo e Augusto Vieira da Silva, até 1960.

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Rua José Felicidade Alves

Rua José Felicidade Alves, topónimo atribuído por Edital de 14 de Julho de 2004 a um arruamento da freguesia de Campolide

José Felicidade Alves (1925-1998), sacerdote, escritor, olisipógrafo. Participou na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Foi sócio da Academia Nacional de Belas Artes, do Grupo Amigos de Lisboa e da Associação Portuguesa de Historiadores de Arte. Pertenceu à Comissão de Ética do Instituto Português de Oncologia. Foi ordenado sacerdote em 1948. A sua carreira eclesiástica iniciou-se nos Seminários de Almada e dos Olivais, como professor, mas em 1956 foi nomeado pároco de Santa Maria de Belém. Segundo alguns dos seus próprios testemunhos, foi aqui, através da vida paroquial e dos paroquianos, que contactou com a realidade. Em simultâneo, as eleições presidenciais às quais Humberto Delgado se candidatou, em 1958, despertaram nele uma consciência política, embora ainda pouco definida – “Foram as eleições de Humberto Delgado que me acordaram(…) dei-me conta que não estava com o regime embora não soubesse porquê”, como contou à jornalista Diana Andringa. Com o início da guerra colonial, começa também a questionar o papel da Igreja no acompanhamento dado aos militares e no ocultar das tragédias pessoais que iam ocorrendo, e que ele tanta vezes ouvia no confessionário. Viviam-se então os anos do Concílio Vaticano II (1962-1965), pelo qual a Igreja, através dos seus dignitários procurou a reaproximação aos princípios cristãos, ao mesmo tempo que alterava profundamente a liturgia, apelava à participação activa dos leigos na vida das comunidades e apelava à aplicação dos direitos do homem. Em 1965, o cardeal Cerejeira envia-o a Paris, por pouco tempo. Em 1967 as suas homílias começam a incomodar a hierarquia católica ao abordar temas como a reforma da Igreja e mais uma vez é enviado a Paris, agora para estudar Teologia Ecuménica em 1968. No entanto, nas férias da Páscoa desse ano, regressa Lisboa, apresentando uma comunicação ao Conselho Paroquial de Belém subdividida em duas partes Perspectivas actuais de transformação nas estruturas da Igreja, e Sentido da responsabilidade pessoal na vida pública do meu país onde tece considerações sobre uma muito necessária reforma do clero, da igreja e do seu ensinamento, ao mesmo tempo que defendia a abolição da censura, o direito à informação e discutia a guerra colonial. Esta comunicação veio a revelar-se um ponto de viragem na sua vida, pelas consequências que provocou. O cardeal Cerejeira, instaurou-lhe um processo cujo resultado foi o afastamento de Felicidade Alves da paróquia em Novembro de 1968, a suspensão e a excomunhão em 1970.

Afastado da vida clerical, mas não da fé cristã, Felicidade Alves impulsionou, com Teotónio Pereira e o padre Abílio Tavares Cardoso, a publicação dos Cadernos do GEDOC (Grupo de Estudos, Intercâmbio de Documentos, Informações e Experiências) inseridos no movimento dos católicos progressistas que questionavam a hierarquia da Igreja instituída e a manutenção da guerra. Acusado de incitar à violência e à luta armada, foi preso pela PIDE e levado a tribunal, sendo absolvido.

Após a saída da vida religiosa passa a dirigir o Anuário Comercial, e depois ingressa na Editora Livros Horizonte. Dedica-se à escrita de temas teológicos Também nós queremos ser pessoas livres (1970), Não te admires que eu diga: é preciso nascer de novo! (1970), Jesus da Nazaré (1994). Enveredou pela Olisipografia a partir da década de 80 do século XX, iniciando em 1984 a publicação da obra de Francisco de Holanda (1517-1585), humanista e arquitecto português: Da Fábrica que falece à cidade de Lisboa, Do tirar polo natural, Da pintura antiga, Diálogos em Roma (todos de 1984). Obras para as quais redigiu as introduções, as notas e comentários trazendo para a luz da discussão este importante humanista. Em 1986 apresenta de sua autoria Introdução ao estudo da obra de Francisco de Holanda. No ano seguinte inicia um novo e importante conjunto de edições, traduzindo , anotando e comentando algumas das obras clássicas sobre Lisboa: Lisboa em 1551, de Cristóvão Rodrigues de Oliveira (1987); Descrição da cidade de Lisboa, de Damião de Góis (1988), A conquista de Lisboa aos mouros em 1147 (…), (1989), Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552, de João Brandão, e Do sítio de Lisboa: diálogos, de Luís Mendes de Vasconcelos (ambos de 1990). Estas edições enriquecidas com as suas investigações permitiram que toda uma nova geração a elas tivesse acesso e deu a conhecer ao grande público algumas das mais importantes fontes para o conhecimento da história da cidade. Entre 1989 e 1993, vieram a público os seus três volumes O Mosteiro dos Jerónimos: Descrição e evocação (I vol.), Das origens à actualidade (II vol. ) e Para um inventário do recheio de Santa Maria de Belém (III vol. ), naquele que é considerado um dos mais completos estudos sobre este mosteiro.

O seu arquivo, meticulosamente organizado, foi doado pela sua viúva, Elisete Alves, com quem se casara civilmente em 1970 (e canonicamente em 1998), à Fundação Mário Soares, e abarca um vasto conjunto documental sobre temas diversos. Foi a partir do seu espólio que foram postumamente publicados os títulos, Roteiro da Produção literária Portuguesa no século XVI, e em 2008, Monografia sobre São Vicente.

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Rua Maia Ataíde

Em 1994, o Engº Maia Ataíde (ao centro) a apresentar a sua comunicação às 1ªs Jornadas de Toponímia de Lisboa

 

Rua Maia Ataíde, topónimo atribuído por Edital de 30 de Janeiro de 2009 a um arruamento da freguesia de Benfica

Manuel José Maia Ataíde (1910-2003), engenheiro e olisipógrafo. Pertenceu ao Grupo Amigos de Lisboa, à Associação Portuguesa de Historiadores de Arte, à Associação Portuguesa de Museus e foi académico correspondente da Academia Nacional de Belas Artes. Estudou na escola dos CTT, onde seu pai era inspector e colaborador no Museu daquele organismo, e aí começou a trabalhar. Prosseguiu os estudos superiores no Instituto Superior Técnico, onde se licenciou em Engenharia Electrotécnica, trabalhando nos CTT e reformando-se em 1980, já como director das telecomunicações.

A partir dos anos 50 do século XX determinou aprofundar o seu interesse pela arte e a arquitectura da cidade, pelo que assistiu às aulas de Mário Tavares Chicó, na Faculdade de Letras de Lisboa. Com este professor viria a colaborar na organização de algumas exposições, nomeadamente no Brasil, na exposição Aspectos da Arquitectura Portuguesa de 1550 a 1950, e a aprofundar os estudos sobre os períodos maneirista e barroco. A partir deste primeiro contacto com o Brasil, desenvolveu estudos sobre as características do barroco português espalhadas pelo mundo de língua portuguesa.

Colaborou no Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, na Revista Municipal, no Olisipo: Boletim do Grupo Amigos de Lisboa. Durante a década de 60 do século XX, colaborou com a Câmara Municipal de Lisboa nas suas iniciativas de divulgação turística da cidade sendo o autor e coordenador de uma colecção de pequenos desdobráveis sobre alguns dos estilos arquitectónicos presentes na cidade, e de um dos livros da colecção Arte e Turismo, intitulado Monumentos de Lisboa, com edição em inglês, francês e alemão e que tiveram grande divulgação e êxito. Foi co-autor, juntamente com Ester de Lemos, de outro título desta colecção Arredores de Lisboa (1963).

Participou no grande inventário de património que a Junta Distrital de Lisboa promoveu desde os anos 60, tendo colaborado nos dois primeiros tomos da cidade de Lisboa e coordenando os restantes tomos, por eleição da equipa. Nesta obra, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, que pretendia fazer o levantamento e a história do património edificado no distrito, e que se veio a tornar numa obra de referência, assinou dezenas de entradas relativas a edifícios lisboetas. Na opinião de Irisalva Moita devem-se destacar, entre eles, os dedicados à Igreja e Convento de Benfica, à Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça, o da Igreja de Nossa Senhora da Pena, por exemplo. Em 1988, Maia Ataíde elabora o livro catálogo da exposição levada a cabo no Panteão Nacional João Antunes, arquitecto (1643-1712), que Vítor Serrão considera “ainda hoje a primeira referência obrigatória sobre o arquitecto de Santa Engrácia”. Em 1990, colabora com o Museu da Cidade (hoje Museu de Lisboa), na exposição e respectivo catálogo D. João V e o abastecimento de água a Lisboa, trazendo o seu contributo de engenheiro, aliado ao olhar do historiador de arte, num estudo pioneiro sobre a construção do Arco das Águas Livres.

Integrou o Grupo Amigos de Lisboa desde 1969, e veio a ser seu Vice-Presidente e Presidente da Junta Directiva. Representou o Grupo na Comissão Municipal de Toponímia, e participou nas I Jornadas de Toponímia organizadas pela Câmara Municipal de Lisboa, em 1994 com a comunicação Engenheiros e Arquitectos na Toponímia de Lisboa.

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Rua Manuel Ferreira de Andrade

Rua Manuel Ferreira de Andrade, topónimo atribuído por Edital de 5 de Janeiro de 1971 a um arruamento da freguesia de São Domingos de Benfica

Manuel Ferreira de Andrade (1910-1970), funcionário municipal, olisipógrafo. Colaborou na Revista Municipal, em Olisipo: Boletim do Grupo Amigos de Lisboa, no Diário da Manhã, em A Acção, no Diário Popular e no O Século Ilustrado, entre outras publicações periódicas. Foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Associação de Arqueólogos Portugueses e do Grupo Amigos de Lisboa. Integrou os quadros da Câmara Municipal de Lisboa, ocupando o cargo de secretário da Presidência. Nas Comemorações do VIII Centenário da Tomada de Lisboa aos Mouros (1947), fez parte da Comissão Executiva, sendo da sua responsabilidade as cerimónias inaugurais. Foi autor de roteiros e guias turísticos sobre a cidade de Lisboa, e de uma monografia sobre Cascais Cascais Vila da Corte (1968).

A sua primeira obra dedicada a Lisboa foi publicada em 1944 e teve prefácio de Luís Pastor de Macedo que se congratulava: “(…) esta obra (…) traz-nos com ela própria a certeza de que o grupo dos olisipógrafos conta desde hoje com mais um aderente (…) traz a esperança de que a obra (…) iniciada pelo saudoso Mestre Castilho, não deixará de ter (…) os seus continuadores(…)”. Referimo-nos a A Freguesia de S. Cristóvão: subsídios para a história das suas ruas, palácios e igreja paroquial (1944-1945), editada pela Câmara Municipal. Ferreira de Andrade assume-se como discípulo de Castilho, mas procura a continuação da sua obra, escolhendo como temas de investigação as freguesias da zona mais antiga de Lisboa que não tinham sido alvo da atenção do Mestre. Assim, para além desta obra, em 1948, publica A Freguesia de Santiago, em cujo proémio traça o plano para um conjunto de obras que incluiriam as freguesias das Escolas Gerais, do Castelo, Santo Estêvão, São Miguel e Graça. Destes, publicou em 1954 A freguesia de Santa Cruz da Alcáçova de Lisboa mas as restantes freguesias não chegaram a ter a sua atenção pois o autor foi publicando outros livros: Relação das Casas foreiras à igreja de São Cristóvão (1944), O Senado da Câmara e a Guerra Civil: 1820-1834 (1945), Do Convento de Nossa Senhora de Jesus (1946), Três Touradas no Terreiro do Paço em 1777 (1947), Palácios Reais de Lisboa (1949), Homens do Porto que escreveram sobre Lisboa (1950), Lisboa das Sete Colinas (1957), O Senado da Câmara e os seus presidentes (1961), Lisboa, capital do Tejo (1959) e Lisboa e os seus serviços de incêndios (1969). Em simultâneo manteve uma colaboração assídua no Olisipo, assinando artigos de variada temática olisiponense. Colaborou com Jaime Lopes Dias na obra Vinte e Cinco Anos na vida de uma capital (1953) redigindo o capítulo “Das Descobertas à Lisboa da Restauração”.

Outra colaboração que manteve ao longo da vida foi com Luís Pastor de Macedo, com quem partilhou a ideia da criação de um grande dicionário de Lisboa, que incluía personalidades, estabelecimentos comerciais, industriais e científicos, instituições, monumentos, enfim, tudo o que existisse na cidade. Para o efeito, redigiu alguns dos verbetes que se encontram integrados nos ficheiros e foi o fiel depositário dos mesmos de modo a que se pudesse dar início à publicação. De facto, em Agosto de 1970, sob o seu nome, saía o primeiro fascículo deste Dicionário, único publicado. Em Outubro, falecia Ferreira de Andrade. A edição ficou suspensa. Só em 1994, por outros autores e editores, e , em moldes muito diferentes, sairia o Dicionário da História de Lisboa, sob a direcção de Francisco Santana e de Eduardo Sucena.

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Rua Alberto MacBride

Olisipo nº 62, abril de 1953

 

Rua Alberto MacBride, topónimo atribuído por Edital de 20 de Janeiro de 1998 a um arruamento da freguesia dos Olivais

Alberto Mac-Bride Fernandes (1886-1953), médico, escritor, coleccionador e olisipógrafo. Formou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1909) começando a sua carreira hospitalar com o pediatra Salazar de Sousa, no Hospital de São José, mas optou por seguir cirurgia, desenvolvendo uma notável carreira como cirurgião hospitalar ao longo dos 40 anos em que permaneceu neste Hospital, chegando a Director do Banco e Director do Serviço de Cirurgia dos Hospitais Civis de Lisboa. Durante a I Grande Guerra Mundial, serviu como cirurgião militar em diversos hospitais da frente de batalha. Ao mesmo tempo, sempre que pode, participa em diversos encontros médicos em França, com outros colegas de diversas nacionalidades, aprofundando a sua formação. No entanto, o seu interesse pela Medicina era bem mais vasto do que uma única especialidade. Debruçou-se sobre a organização hospitalar, apresentando ao Governo várias propostas nesse sentido, e reformando os serviços hospitalares de S. José incluindo os de Laboratório, de Enfermagem e os Serviços de Apoio (por exemplo, as cozinhas e as farmácias hospitalares). Pugnou pela reabertura do Regime de Internato Médico que permitia aos estudantes de Medicina um contacto mais directo com a prática hospitalar. Propôs uma profunda alteração na rede hospitalar da cidade, com o encerramento dos Hospitais de Arroios e Desterro, e sugerindo a criação de 3 grandes hospitais (Norte, Ocidental e Oriental), numa antevisão daquilo a que hoje a cidade assiste. E dedicou-se à história da Medicina, quer como investigador, quer fazendo conferências, quer ainda como coleccionador de objetos ligados ao passado da Medicina (pintura, utensílios, livros). A partir desta sua colecção, um ano após a sua morte, foi realizada uma exposição no Hospital de Santa Marta, sobre História da Medicina. O êxito da exposição levou a que fosse criado o Museu de História dos Hospitais Civis de Lisboa – Dr. Alberto Mac-Bride, o qual funcionou entre 1957 e os anos 70 do século XX, procurando corresponder ao seu desejo de criar um museu dedicado à história da Medicina, ideia à qual se dedicara desde 1911. Dirigiu a Associação dos Médicos Portugueses, antecessora da Ordem dos Médicos e presidiu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. Foi autor de largas dezenas de artigos médicos em publicações periódicas da especialidade e redactor e secretário da Medicina Contemporânea.

Para além da sua actividade médica Alberto Mac-Bride foi sócio fundador da Associação dos Arqueólogos Portugueses, quando esta instituição se reestruturou em 1911. Participou na fundação da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, em 1923, organismo criado para dar apoio aos militares vítimas da guerra e suas famílias, da qual chegou a ser presidente. Fez parte do Grupo Pró-Évora (fundado em 1919), onde incentivou a criação de um curso para cicerones. Em 1938, foi sócio fundador do Grupo Amigos de Lisboa. Em 1938, em conjunto com Gustavo de Matos Sequeira assinou um relatório sobre a reabilitação do Castelo de S. Jorge. Na década de 30 veio a público referir-se ao estado da higiene em Lisboa, procurando fazer um levantamento das condições das habitações particulares (escuras, sem esgotos centrais e sem água canalizada) e das infraestruturas municipais (deficiente rede de esgotos, ausência de jardins e balneários públicos). Mas a sua iniciativa mais interessante terá sido o inovador Bosque de Lisboa. O seu interesse pela qualidade de vida da cidade de Lisboa leva-o a estudar e a apresentar, em conjunto com seu irmão Eugénio (também ele médico), e com o General Vicente de Freitas (que viria a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1928 a 1933), em 1925, uma proposta para a criação de um grande parque arbóreo na cidade. O projecto incluía ainda novas e amplas vias de comunicação, áreas de lazer, e procurava estruturar os novos bairros a serem desenvolvidos. Estender-se-ia desde a Serra de Monsanto, à época, sem arborização, até Benfica, Carnide, Telheiras e Campo Grande, e seria servido por uma ampla rede de vias de forma a permitir que o lisboeta pudesse dele usufruir. A ideia deste parque, tendo em vista melhores condições sanitárias, será retomada numa dimensão menor com a gestão de Duarte Pacheco e a florestação de Monsanto, dotando a cidade de um pulmão verde.

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Rua Dr. Eduardo Neves

Olisipo nº 136, janeiro-dezembro de 1973

Rua Dr. Eduardo Neves, topónimo atribuído por Edital de 28 de Agosto de 1973 a um arruamento da freguesia das Avenidas Novas

Eduardo Augusto da Silva Neves (1895-1973), médico, coleccionador, numismata e olisipógrafo. Colaborou no Olisipo: boletim do Grupo Amigos de Lisboa, no Jornal da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, na Feira da Ladra: Revista Mensal Ilustrada, entre outras publicações. Licenciou-se em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1920. Durante o curso foi Presidente da Associação de Estudantes de Medicina, e seu representante na Assembleia Geral da Universidade. Durante a sua presidência da associação, criou uma biblioteca para os estudantes e promoveu diversas iniciativas sociais cujos lucros revertiam para instituições de assistência. Fez os Cursos das Especialidades de Medicina Legal e de Higiene Pública. No início da sua carreira foi assistente do Professor Azevedo Neves na cadeira de Medicina Legal, mas a sua carreira clínica desenvolveu-se na assistência médica na Santa Casa da Misericórdia, na Associação dos Empregados do Comércio e no Albergue dos Inválidos do Trabalho. Pertenceu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, do qual foi tesoureiro.

Foi um coleccionador apaixonado de medalhas tema que sempre procurava desenvolver nas inúmeras conferências que proferiu, mesmo nas que não eram específicas sobre a numismática. Foi sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses, na sua secção de Numismática. Igualmente se dedicou ao coleccionismo e estudo de ex-libris, pertencendo à Academia Portuguesa de Ex-Libris, fundada em 1955. A sua colecção, que incluía ainda peças de arte, estava reunida na quinta da Eira, em Ferreira do Zêzere, e por diversas vezes a disponibilizou para exposições.

Em 1936 integra o Grupo Amigos de Lisboa como sócio fundador, participando activamente na vida desta instituição, sendo o seu primeiro Tesoureiro. Desempenhou os cargos de Vogal, de Secretário Geral, dirigiu a Secção de Movimento Cultural e de Propaganda e à data da sua morte era Presidente da Junta Directiva do Grupo. No vigésimo ano do Grupo lançou a campanha 20 Anos-20 Sócios-20 Escudos, que se destinava a recolher fundos para a renovação da Biblioteca e Arquivo do GAL, iniciativa a que aderiram dezenas de associados, enriquecendo o seu fundo sempre disponível para o público em geral. Foi no âmbito dos Amigos de Lisboa, que Eduardo Neves se revelou olisipógrafo, proferindo conferências, conduzindo visitas e colaborando no Boletim Olisipo desde o número 2 e até ao final da vida, assinando dezenas de artigos. Editou através do GAL diversas monografias, entre as quais se salientam, Igreja de Nossa Senhora da Penha de França: apontamentos para uma monografia (1938), A Faculdade de Medicina de Lisboa: apontamentos sobre o edifício e o local (1939), Lisboa nos Ex-libris (1943), Do sítio do Intendente (1950), Lisboa na Índia e luso-indianos em Lisboa (1954), Um arcebispo-primaz natural de Lisboa (1956) e Uma recordação sebástica no Sítio da Luz: uma pedra-de-armas, um testamento e um poema (1958).

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Rua Eduardo Bairrada

Rua Eduardo Bairrada, topónimo atribuído por Edital 29 de Fevereiro de 1988 a um arruamento da freguesia da Ajuda

Eduardo Martins Bairrada (1930 – 1987), arquitecto da Câmara Municipal de Lisboa, ilustrador, e olisipógrafo. Membro do Grupo de Amigos do Museu de Marinha, do qual foi secretário da direcção. Membro da Academia de Marinha e da Academia Nacional de Belas Artes, onde ocupou a cadeira nº 14, que já fora de Gustavo de Matos Sequeira. Foi director do Gabinete de Estudos Olisiponenses, quando este serviço ganhou autonomia do Museu da Cidade (hoje Museu de Lisboa). Dividiu a sua actividade profissional entre os projectos de arquitectura, e a ilustração. Como arquitecto da Câmara colaborou com diversos artistas, especialmente com os irmãos Leopoldo e Domingos Soares Branco, no enquadramento de várias esculturas, como, por exemplo, no Monumento a Gago Coutinho e Sacadura Cabral, junto à Torre de Belém, o monumento ao professor Santos Andrea, na praça com o mesmo nome, e no monumento a Sá Carneiro, na antiga praça do Areeiro. Fez o projecto arquitectónico do Pátio Alfacinha, na Ajuda. Desenhou a Medalha de Mérito da Academia Nacional de Belas Artes e colaborou na ilustração do livro de Beatriz Berrini Eça de Queiroz. Palavra e imagem. Nos anos 80 publicou diversos estudos: Arquitecto Rosendo Carvalheira; um filho adoptivo de Alexandre Herculano (1981); A Academia de Belas Artes no cinquentenário da sua fundação (1983); Antecedentes da Academia Nacional de Belas Artes no prémio Valmor de arquitectura da cidade de Lisboa (1984); Prémios Valmor: 1902-1952 (publicado em 1988), entre outros.

Mas o seu grande contributo para o estudo e conhecimento do património de Lisboa, seria a sua obra Empedrados Artísticos: a arte da calçada-mosaico, patrocinada pela Câmara Municipal, e editada em 1985. Observador atento, Bairrada dedicou anos a recolher informação sobre a calçada portuguesa, procurando colmatar o que ele considerou ser uma falha nos estudos patrimoniais. A obra, que é ainda hoje uma referência para o conhecimento desta arte portuguesa, apresenta um levantamento feito à época de quase todos os empedrados artísticos da cidade, através das fotografias de Karin Monteiro e de Manuel Cabral, e de desenhos do próprio Bairrada. Na primeira parte do livro faz a história do uso da pedra no pavimento de ruas desde D. Manuel I até ao século XIX, destacando a importância do tenente general Eusébio Pinheiro Furtado que pela primeira vez a utilizou no Castelo de S. Jorge. Traça um estudo sobre a arte e técnica de calcetar e um panorama da evolução do calcetamento artístico nas praças e largos da cidade, bem com a sua divulgação para os passeios e entradas de residências e negócios, estudando as diferenças da utilização da pedra no espaço interior e no exterior. Refere-se também aos custos associados a esta arte e às resistências encontradas na sua utilização. Pormenoriza ainda as questões de linguagem associadas ao trabalho de calceteiro e as assinaturas utilizadas por estes profissionais para a identificação da sua obra. O levantamento, propriamente dito está organizado através de 15 itinerários por ele traçados, e pacientemente percorridos, como ele próprio afirmou, nos seus percursos diários entre a casa e o trabalho. Este inventário, como já referido, é feito através de fotografia e de alguns desenhos, acompanhados de uma pequena legenda. No final da obra Bairrada organizou os índices por motivos decorativos (que ele desenha), glossário, moradas e freguesias, permitindo uma rápida localização de cada exemplar.

Não estamos, portanto, na presença de um olisipógrafo “generalista”, isto é, a sua obra não é dedicada a uma história da cidade mas a um aspecto do seu património o qual até então não tinha merecido a devida atenção quer por parte dos investigadores, quer por parte do público. A acção de Eduardo Martins Bairrada na defesa da calçada portuguesa fez-se sentir ainda na sua insistência na criação de uma Escola de Calceteiros, a qual viria de facto a ser planeada em 1985 e criada em 1986. Apesar de ter estado alguns anos encerrada, a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, encontra-se ainda hoje em funcionamento formando novos profissionais desta arte, permitindo a sua preservação.

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Rua Amigos de Lisboa

Rua Amigos de Lisboa, topónimo atribuído por Edital de 20 de Março de 1995 a um arruamento da freguesia de Marvila

Grupo Amigos de Lisboa, instituição cultural sem fins lucrativos e considerada de utilidade pública. A ideia da criação de um organismo que reunisse cidadãos para a defesa do património lisboeta, foi vagamente apresentada na imprensa dos anos 20 do século passado, mas sem produzir resultados. Em 1935, por mão de Norberto Araújo em artigos no Diário de Lisboa, a ideia começou a tomar forma entre vários dos olisipógrafos mais conhecidos. Assim, em Fevereiro de 1936 é criada a Comissão Organizadora e em Abril desse mesmo ano reúne-se a primeira assembleia geral para apresentação e aprovação dos estatutos. Nessa assembleia, Augusto Vieira da Silva é eleito presidente da Junta Directiva e Luís Pastor de Macedo secretário-geral. Os estatutos são aprovados pelo Governo Civil de Lisboa, a 22 de Julho de 1936. Do grupo de sócios fundadores, para além dos já referidos, saliente-se ainda Alberto Mac-Bride, Álvaro Maia, Eduardo Neves, Eugénio Mac-Bride, Gustavo de Matos Sequeira, João Pinto de Carvalho (Tinop), José M. S. Pereira Coelho, Leitão de Barros, Levy Marques da Costa, Mário de Sampaio Ribeiro, Norberto de Araújo, Rocha Martins e Almada Negreiros autor do emblema do Grupo. O Grupo rege-se pela defesa “do património artístico, monumental e documental olisiponense”, pela contribuição “para o estudo e solução dos problemas do urbanismo e expansão de Lisboa” e pela colaboração dando o “seu parecer, quando solicitado, a instituições oficiais e particulares que se ocupem da administração, da defesa e do progresso da cidade” (Artº 3 dos Estatutos). As suas actividades desde o início, vieram demonstrar a intenção de cumprir os objectivos. Em 1938 o GAL apresenta à Câmara Municipal e publica A urbanização de Lisboa sugerindo a criação de um Plano Geral de Melhoramentos da cidade chamando a atenção para o rápido desenvolvimento da urbe e a consequente necessidade de um novo plano pensado para os seguintes 50 anos. Nesse mesmo ano, o Grupo dá início à publicação do Boletim Olisipo, que se mantém até à actualidade, e cuja primeira série se encontra disponível para consulta na Hemeroteca Digital. Desde o começo da sua actividade que os Amigos de Lisboa estabeleceram um programa de conferências e visitas que tiveram grande adesão da população, muito particularmente as visitas a monumentos, museus, instituições e percursos de rua, numa época em que eram então novidade. Outra das inovações foram as conferências ao ar livre, as quais, para além dos sócios, atraíam numerosos cidadãos. Em 1948, o Grupo promoveu o inquérito sobre A Cor de Lisboa a diversos artistas e escritores a fim de debater a coloração dos prédios da cidade e que se viria a tornar num dos primeiros estudos cromáticos sobre a cidade. Em 2012, voltou o Grupo ao assunto, organizando um colóquio nos Paços do Concelho intitulado As Cores de Lisboa.

Para além destas actividades, o GAL esteve presente com um pavilhão na antiga Feira Popular, e na Feira do Livro, divulgando as suas publicações. De facto até aos anos 90 do século XX o Grupo Amigos de Lisboa editou centenas de títulos, para além do Boletim, a maior parte dos quais da autoria de sócios. Igualmente o Grupo tem vindo a advogar e a promover a colocação de lápides evocativas em edifícios da cidade prestando homenagem a diversas personalidades e instituições.

Nos nossos dias, o Grupo mantém uma actividade intensa, organizando conferências, visitas, e passeios de rua aos Sábados, e um grande colóquio anual reunindo especialistas em diversos temas para debate público, e editando as respectivas Actas. Os colóquios têm vindo a ser organizados quer por iniciativa do Grupo, quer em parceria com outras instituições como a autarquia, a Fundação das Casa de Fronteira e Alorna, e a Sociedade de Geografia de Lisboa, entre outras. Todas as actividades, excluindo as que decorrem da organização associativa (assembleias gerais e eleições, por exemplo), são publicitadas e abertas ao público em geral. É o organizador do Concurso das Quadras Populares de Santo António, em parceria com a autarquia, o qual tem grande receptividade da parte do público (em 2018 foram recebidas cerca de 500 quadras). É membro da Comissão Municipal de Toponímia.

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A Rua Possidónio da Silva na Fonte Santa

Em 1965
(Foto: Artur João Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa)

Joaquim Possidónio Narciso da Silva, arquiteto e arqueólogo de quem o  olisipógrafo Júlio de Castilho foi biógrafo, ficou na memória das placas toponímicas de Lisboa desde o final do séc. XIX, logo no ano seguinte à sua morte (1897), na Rua da Fonte Santa, artéria onde em  1 julho de 1863 fundara o Albergue dos Inválidos do Trabalho e no mesmo ano em que com outros também fundara a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses.

Foi por via da deliberação camarária de 6 de maio de 1897 e consequente Edital municipal de 17 de maio a Rua Possidónio da Silva nasceu no ano seguinte ao falecimento do homenageado, substituindo o topónimo Rua da Fonte Santa, por neste arruamento estar sediada a instituição que fundara seis anos antes para acolher operários idosos ou inválidos, o Albergue dos Inválidos do Trabalho que em 1978 foi incorporado na associação Inválidos do Comércio.

Boletim da Associação Portuguesa de Arqueólogos, nº 2 de 1913

Joaquim Possidónio Narciso da Silva  (Lisboa/07.05.1806 –  23.03.1896/Lisboa) distinguiu-se ao longo da sua vida como um defensor da preservação do património cultural português, quer através dos artigos que publicava nos jornais quer como precursor do ensino e da investigação arqueológica na salvaguarda e valorização do património histórico-artístico e monumental português. Aliás, Possidónio da Silva foi pioneiro em Portugal na utilização da fotografia como forma de defesa do património. A partir de 1861 editou a Revista Pittoresca e Descriptiva de Portugal, que incluiu fotografias de 26 elementos do património arquitétónico português.

Tendo participado em escavações, desde 1850 que se interessara pelos monumentos megalíticos em Portugal e escavou duas antas em Tomar. Depois, em 1858, D. Pedro V encarregou-o de fazer o primeiro levantamento dos monumentos nacionais. Em 1863 fundou a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses, a que também presidiu até 1866 e novamente de 1871 até ao seu falecimento. É desta associação que vai nascer em 1866 um museu arqueológico, instalado nas ruínas do Convento do Carmo. Possidónio da Silva deu um curso gratuito de Arqueologia na sede da Associação e em 1878 publicou Noções Elementares de Archeologia, uma síntese dos métodos de escavação estratigráfica e setorial. Recorde-se que foi desta associação, da secção de Arqueologia Olissiponense, que nasceu o Museu da Cidade de Lisboa, instalado pela primeira vez na sede associativa em 1922.

Filho de Reinaldo José da Silva e de Maria Luísa Narcisa da Silva, Possidónio passou a sua juventude no Rio de Janeiro, para onde  partira bebé com a família por causa da invasão napoleónica de 1807, já que o seu pai era Mestre Geral dos Paços Reais. Regressou em 1821 e estudou com Domingos Sequeira, Maurício Sendim e Germano de Magalhães, seguindo aos dezoitos anos para Paris para estudar Arquitetura e cinco anos mais tarde, para Roma. Em 1831 regressou a Paris e trabalhou no Palais Royal e no Palácio das Tulherias. Dois anos depois regressou a Portugal e publicou O que foi e é a architectura, e o que aprendem os architectos fora de Portugal. A seguir, tornou-se o arquiteto da Casa Real, tendo adaptado o Palácio de São Bento para Parlamento (1833-1834) pelo que foi condecorado com o Colar da Torre e Espada. Foi também autor dos projetos não concretizados  do Palácio da Ajuda (1834) e de uns balneários públicos no Passeio Público (1835). Traçou também a remodelação do Palácio das Necessidades (1844-1846), do Palácio do Alfeite (antes de 1857), bem como do Teatro de São Carlos e do Palácio do Manteigueiro – na esquina da Rua da Horta Seca com a Rua da Emenda-, tendo ainda delineado muitos estabelecimentos comerciais da Baixa lisboeta dessa época e ainda, um bairro novo na quinta do Calvário.

Em 1882, o escultor francês Anatole Vasselot fez um busto de bronze de Possidónio da Silva mas este nunca permitiu a divulgação da sua imagem em nenhum meio até à sua morte e assim, este busto apenas foi  inaugurado em 5 de julho de 1968, colocado sobre um pedestal de pedra na Praceta da Rua Possidónio da Silva. Em 1916, passou também a ser o topónimo de uma Travessa próxima da Rua Possidónio da Silva e o seu nome faz também parte da toponímia dos concelhos de Mem Martins e do Seixal (em Fernão Ferro). Júlio de Castilho coligiu e organizou cronologicamente a  Correspondência artística e científica, nacional e estrangeira com J. Possidónio da Silva, documentação que encadernou e legou à Torre do Tombo em 8 de julho de 1915. O filho de Possidónio, Ernesto da Silva (1868 – 1913) também é topónimo de uma Rua e de um Largo lisboetas, na freguesia de Benfica.

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Freguesias da Estrela e de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)