A rua romana sob os claustros da Sé

No Largo da Sé e nas Cruzes da Sé assenta a Igreja de Santa Maria Maior ou Sé de Lisboa, do séc. XII, em cujo subsolo do claustro gótico se encontrou uma pequena via pedonal romana de 17 metros e meio, da Felicitas Iulia Olisipo do séc. I d.C., com vários patamares e degraus, ladeada por uma zona de lojas.

Este arruamento romano desenvolvia-se em amplos patamares e degraus, ladeada por tabernae (lojas) e sob ela corria uma cloaca (esgoto). Ligava o Teatro Romano à frente ribeirinha, na zona da Casa dos Bicos dos nossos dias, onde também se encontrou um conjunto de cetárias (tanques de uma unidade fabril) utilizadas na preparação do garum, um preparado de peixe destinado maioritariamente à exportação.

Na sequência de umas fortes chuvadas em 1990, ocorreu o aluimento da tampa de uma cisterna localizada no antigo jardim do claustro, na sequência do qual foram desenvolvidos trabalhos arqueológicos, em que se descobriu um sucessivo encadeamento de ocupações, que vão da Idade do Ferro, passando pela Olisipo romana, pela época medieval islâmica (os vestígios da antiga mesquita sobre os quais a Sé foi construída) até ao período em que o local serviu de cemitério cristão. Na sua própria construção, a Sé de Lisboa guarda muitas pedras reutilizadas de monumentos de época Romana, Visigótica e/ou Moçárabe.

De acordo com o artigo (1) de uma equipa de arqueólogos publicado em 2015, «As tabernae encontradas ao longo desta via, de orientação norte/sul e direcionada ao teatro, certamente seriam vocacionadas para os dias de representações cénicas. É neste mesmo contexto de proximidade com o teatro que devemos pensar a envolvente urbana mais próxima. Neste âmbito, as vias de acesso transformavam-se em áreas arquitetonicamente vocacionadas para materializar um trajeto de culto, de homenagem, implantadas para possibilitar a observação do que se dispusesse no seu percurso. Esta era uma via destinada a ver e a ser-se visto.» 

O mesmo artigo precisa a mentalidade da época, ao afirmar que «O trajeto, que culminaria na entrada no monumento cénico, alia a carga simbólica de participar num ato verdadeiramente público a um ritual de purificação que seria evidenciado pelo culto prestado ao Imperador e família, aos deuses e outras personalidades.», explicando ainda que «Templetes, inscrições votivas, estátuas de divindades e de autoridades imperiais estariam dispostas, comumente, ao longo das vias de maior trânsito. No mundo romano, os ludi eram muito mais do que um simples divertimento: representavam um aspeto essencial da identidade romana, um elemento cultural caracterizador do modus vivendi. Ir ao teatro tinha subjacente uma motivação religiosa. No mundo romano a conceção da religião formava um todo indissociável ao da captatio benevolentiae e ao da superstitio. As autoridades romanas perceberam, desde muito cedo, o poder da ligação entre religião e espetáculos tendo, por isso, começado a utilizá-la com habilidade, transformando-a num infalível meio de propaganda, presenciando–se, desde épocas recuadas, a laicização dos ludi os quais, rapidamente passaram a ser celebrados em quaisquer outras ocasiões de alguma relevância.»

(1) o artigo em causa é «Paisagem urbana de Olisipo: fatias da história de uma cidade» – Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 18 | 2015 | pp. 203–224, da autoria de Lídia Fernandes, Carlos Loureiro, Sandra Brazuna, Alexandre Sarrazola e Sara Prata

© CML | DPC | NT e CAL – Centro de Arqueologia de Lisboa | 2019

 

 

Escolas Gerais: a universidade no Pátio dos Quintalinhos

O entroncamento da Calçada de São Vicente com as Escolas Gerais
Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Sob o nome de Escolas Gerais, a Universidade de Lisboa funcionou no Pátio dos Quintalinhos, no Paço do Infante Dom Henrique, antes de ser transferida para Coimbra em 1537, tendo gerado no local os topónimos Escolas Gerais, Rua das Escolas Gerais e Escadinhas das Escolas Gerais.

O olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, na sua Lisboa de Lés a Lés explica que «Como decerto o leitor já viu, ao Bairro dos Escolares chamaríamos hoje Bairro Universitário, e as Escolas Gerais ou o Estudo Geral são a Universidade transferida definitivamente para Coimbra em tempo de El-Rei D. João III (1537). Também com certeza sabe o leitor que na Lisboa de hoje existem duas serventias públicas com nomes determinados pelo Estudo fundado por El-Rei D. Dinis: as Escolas Gerais, artéria inclassificada que pertenceu às antigas freguesias de Santa Marinha e de S. Vicente [hoje sob administração das freguesias de  Santa Maria Maior e São Vicente], que a compartilhavam, e a Rua das Escolas Gerais que pertenceu à antiga freguesia de S. Tomé, e durante algum tempo, pelo menos, também à do Salvador [hoje também na administração das freguesias de  Santa Maria Maior e São Vicente].»

A primeira universidade portuguesa foi estabelecida em Lisboa, entre 1288 e 1290, tendo D. Dinis promulgado a carta Scientiae thesaurus mirabili em que conferia vários privilégios aos estudantes do Estudo Geral de Lisboa. Localizar-se-ia então no Campo da Pedreira, uma zona no arrabalde ocidental da cidade, no espaço que hoje conhecemos entre a Rua Garrett e o Convento da Trindade. No século seguinte a Universidade foi transferida várias vezes de Lisboa para Coimbra e vice-versa. Em 1377 regressou por um longo período a Lisboa e em 1431, o Infante Dom Henrique concedeu-lhe várias casas no Pátio dos Quintalinhos, hoje com entrada pelo nº 3 da Rua das Escolas Gerais.

As Escadinhas das Escolas Gerais
Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior
(Foto: Ana Luísa Alvim| CML)

O topónimo primitivo do local será Escolas Gerais, arruamento que hoje une a Rua das Escolas Gerais à Calçada de São Vicente. Dele derivou o arruamento central do sítio, a Rua Direita das Escolas Gerais como aparece mencionada no Atlas de Lisboa de Filipe Folque em 1858 e que denominamos como Rua das Escolas Gerais, pelo menos desde que o Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859 incorporou a Rua de Marco Salgado na referida como Rua das Escolas Gerais. Esta última teve vários alargamentos a partir de uma proposta do vereador Joaquim José Alves, desde que em 1879 foi expropriada uma parte do terreno do Convento do Salvador para o seu alargamento, a que seguiram mais em 1881 e 1886.

As Escadinhas construídas para ligar a Rua Guilherme Braga à Rua das Escolas Gerais, dada a proximidade, tomaram também a denominação de Escadinhas das Escolas Gerais, e são pertença também das freguesias de  Santa Maria Maior e São Vicente, sendo o último topónimo gerado pela Universidade medieval naquele local.

Mencione-se ainda que Escolas Gerais foi também o topónimo da freguesia local até 1959, quando o Decreto-Lei n.º 42142, de 7 de fevereiro de 1959, remodelou as freguesias da Conceição e das Escolas Gerais: a Conceição ou Conceição Nova viu o seu território repartido pelas freguesias da Baixa de Lisboa, como Madalena, Mártires e São Nicolau e a freguesia das Escolas Gerais passou a designar-se São Vicente de Fora.

Os 3 topónimos com Escolas Gerais
Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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As Escadinhas da Rocha e a Escadaria José António Marques

A Escadaria José António Marques – Freguesia da Estrela
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A ligar a então Rua 24 de Julho (desde 1928 é a Avenida 24 de Julho) ao Jardim das Albertas (desde 1925 é o Jardim Nove de Abril) foi construída uma escadaria entre 1887 e 1892, vulgarmente conhecida por Escadinhas da Rocha ou Escadinhas da Rocha Conde de Óbidos.

Quase um século depois, em 1985, foi atribuído ao espaço o topónimo Escadaria José António Marques pelo Edital municipal de 21/02/1985, para homenagear o fundador da Cruz Vermelha Portuguesa (Lisboa/29.01.1822 – 08.11.1884/Lisboa) no centenário do seu falecimento, junto da sede a instituição no Jardim Nove de Abril, instalada desde 1919 no palácio do primeiro Conde de Óbidos, D. Vasco de Mascarenhas, construído no segundo quartel do séc. XVII.

A edilidade lisboeta no programa das condições para fornecimento de uma grade de ferro para a parte superior da escadaria, de acordo com o desenho de Augusto César dos Santos, em 5 de setembro de 1891, denomina-a escadaria à Rocha do Conde de Óbidos enquanto os postais de 1910 a designam como Escadas da Rocha de Conde d’Óbidos e os de 1920 apenas com Rocha de Conde d’Óbidos. A coincidência de ambos os topónimos radicarem no mesmo palacete faz com que ainda hoje ambos os topónimos sejam usados para este arruamento.

As Escadinhas da Rocha, em construção, em 1891 (Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

 

Fado do Campo Grande por Carlos do Carmo

Música: António Vitorino de Almeida
Letra: Ary dos Santos

A minha velha casa,
por mais que eu sofra e ande,
é sempre um golpe de asa,
varrendo um Campo Grande.
Aqui no meu pais,
por mais que a minha ausência doa,
é que eu sei que a raiz de mim
está em Lisboa.
A minha velha casa
resiste no meu corpo,
e arde como brasa
dum corpo nunca morto.
A minha velha casa
é o regresso à procura
das origens da ternura,
onde o meu ser perdura.

Amiga amante, amor distante.
Lisboa é perto, e não bastante.
Amor calado, amor avante,
que faz do tempo apenas um instante.
Amor dorido, amor magoado
e que me doí no fado.
Amor magoado, amor sentido,
mas jamais cansado.
Amor vivido meu amor amado.

Um braço é a tristeza,
o outro é a saudade,
e as minhas mãos abertas
são chão da liberdade.
A casa a que eu pertenço,
viagem para a minha infância,
é o espaço em que eu venço
e o tempo da distância.
E volto à velha casa,
porque a esperança resiste
a tudo quanto arrasa
um homem que for triste.
Lisboa não se cala,
e quando fala
é minha chama,
meu Castelo e minha Alfama,
minha pátria, minha cama.

Amiga amante, amor distante.
Lisboa é perto, e não bastante.
Amor calado, amor avante,
que faz do tempo apenas um instante.
Amor dorido, amor magoado
e que me doí no fado.
Amor magoado, amor sentido,
mas jamais cansado.
Amor vivido meu amor amado.

Ai, Lisboa, como eu quero,
é por ti que eu desespero.

O único Corredor de Lisboa

Freguesias da Estrela
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Corredor da Torrinha é o único Corredor na toponímia de Lisboa e será provavelmente um topónimo fixado na memória da cidade no decorrer do século XIX, antes de 1816.

Desde logo porque a sua localização, como prolongamento natural da Travessa José António Pereira e junto ao Beco da Galheta, assim o indica. O Cais de José António Pereira que será Travessa por Edital municipal de 8 de junho de 1889, deve o seu nome a esse comerciante de Lisboa e de São Tomé que no início do séc. XIX construíra no Aterro (onde hoje temos a Avenida 24 de Julho) um prédio que veio mais tarde, na 2ª metade do séc. XIX, a ser conhecido como  Palacete Pombal ou Palacete Burguês. Este palacete está nos nºs 37 a 39 da Rua das Janelas Verdes e nas suas traseiras e sob os seus terraços localizam-se o Corredor da Torrinha, o Beco da Galheta e a Travessa José António Pereira.

Freguesias da Estrela – Placa Tipo II
(Foto: Mário Marzagão)

Acresce que a Gazeta de Lisboa, de sexta-feira 9 de fevereiro de 1816, publica um aviso com data do dia anterior onde se pode ler já o topónimo: Sábado 10 do corrente, pelas 10 horas da manhã, no local de José António Pereira, Corredor da Torrinha, Armazém de Sacaria do Patacas, se há-de proceder a Leilão de duas a três mil sacas de diferentes qualidades, em Lotes.

E se andarmos ainda mais para trás, em 1856, vemos que a planta de Filipe Folque refere o arruamento como Torrinha, em cujo seguimento está o Beco do Cais de José António Pereira e o Beco da Galheta.

Freguesias da Estrela
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

A toponímia das ruas que não o são

O Poço do Borratém em 1951
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

A toponímia das ruas que o não são foi o título da  comunicação de Áppio Sottomayor às III Jornadas de Toponímia de Lisboa (1998), que agora recuperamos para agrupar os doze topónimos que permanecem sem uma das categorias referidas nos anteriores artigos deste mês. Assim acontece em doze casos: o Caracol da Graça e o já desaparecido Caracol da Penha, o Corredor da Torrinha, a Costa do Castelo, as Cruzes da Sé, o Cunhal das Bolas, as Escolas Gerais (que coexistem com a Rua das Escolas Gerais), o Paço da Rainha, o Poço do Borratém, a Rocha do Conde de Óbidos já também extinta, o Telheiro de São Vicente e a Triste Feia. Estes  topónimos são geralmente únicos, antigos e encontram-se nas freguesias seculares da cidade de Lisboa.

Começando pela freguesia de Santa Maria Maior, na confluência da Rua da Madalena, Rua dos Condes de Monsanto e Rua do Arco do Marquês de Alegrete, deparamos com o Poço do Borratém , um pleonasmo, já que de acordo com o arabista David Lopes significa Poço do «poço da figueira». A fixação deste topónimo deve ser pelo menos quinhentista já que Gil Vicente o menciona no seu Pranto de Maria Parda. Norberto de Araújo adianta que «O poço é antiquíssimo, e foi sempre do domínio público. Quando o Estado adquiriu as propriedades, êle continuou a ser respeitado na sua serventia. (…) No meado do século passado [séc. XIX] explorava a água uma companhia de aguadeiros, e, antes, em 1818, existia uma Irmandade de Santo André e das Almas que cobrava um tributo a quem aproveitava o líquido, fiado nas suas virtudes. O poço do Borratem, pertença da Câmara, desde 1849 que não traz encargos para quem bebe a “virtuosa” água.»

Cruzes da Sé – Freguesia de Santa Maria Maior – Placa Tipo I
(Foto: Mário Marzagão)

Ainda em Santa Maria Maior, estendendo-se do Largo da Sé à Rua de São João da Praça fica o arruamento denominado Cruzes da Sé, por se situar nas costas da Igreja de Santa Maria Maior, a Sé Catedral de Lisboa, classificada como Monumento Nacional desde 1910. A fixação deste topónimo na memória de Lisboa tem assim de ser posterior à edificação da Igreja de Santa Maria Maior, que pouco depois de 1147 começou a ser construída , assente sobre uma mesquita que, por sua vez, também terá sido erguida sobre um primitivo templo cristão visigodo. Em termos documentais, o topónimo Cruzes da Sé aparece referido num livro de óbitos de 1690.

Partilhado pelas freguesias de Santa Maria Maior e São Vicente temos o Caracol da Graça, artéria que em escadinhas estabelece a ligação da Rua dos Lagares à Calçada da Graça, ganhando o seu nome do ziguezague ou espiral que faz para galgar tão íngreme subida. Sabe-se da existência do Postigo do Caracol da Graça, aberto na Cerca Fernandina, até à sua destruição em 1700, que servia para se descer da Graça aos Lagares e Olarias.

Referimos aqui também o extinto Caracol da Penha,  que unia a Avenida dos Anjos (veio a ser a Avenida Almirante Reis) à Rua de Arroios e veio a ser transformado na Rua Marques da Silva ( freguesias de Arroios e Penha de França) pelo Edital municipal de 05/10/1891, em agradecimento ao proprietário da Quinta da Imagem, João Marques da Silva, que cedeu à Câmara gratuitamente terrenos para alargamento das ruas próximas.

Escolas Gerais – Freguesias de Santa Maria Maior e de São Vicente – Placa Tipo I
(Foto: Mário Marzagão)

Ainda nas freguesias de Santa Maria Maior e  São Vicente, deparamos com a Costa do Castelo, que  alastra da Rua do Milagre de Santo António até à Calçada de Santo André, que teve honras de título de filme português e deve o seu topónimo à proximidade ao Castelo de São Jorge, que aliás contorna numa grande extensão. De igual modo, encontramos as Escolas Gerais, arruamento que vai da Rua das Escolas Gerais à Calçada de São Vicente, sobre o qual o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo explica o seguinte:  «Como decerto o leitor já viu, ao Bairro dos Escolares chamaríamos hoje Bairro Universitário, e as Escolas Gerais ou o Estudo Geral são a Universidade transferida definitivamente para Coimbra em tempo de El-Rei D. João III (1537).  Também com certeza sabe o leitor que na Lisboa de hoje existem duas serventias públicas com nomes determinados pelo Estudo fundado por El-Rei D. Dinis: as Escolas Gerais, artéria inclassificada que pertenceu às antigas freguesias de Santa Marinha e de S. Vicente, que a compartilhavam, e a Rua das Escolas Gerais que pertenceu à antiga freguesia de S. Tomé, e durante algum tempo, pelo menos, também à do Salvador.»

Só da freguesia de São Vicente, junto ao Arco Grande de Cima, temos o Telheiro de São Vicente, que tal como a Calçada, o Largo, a Rua e a Travessa é um topónimo indubitavelmente ligado à Igreja que aí se situa e que Norberto de Araújo, revela do seguinte modo: «A Igreja de S. Vicente foi construída por D. Afonso Henriques, em obediência ao voto que fizera, e revelara ao Arcebispo de Braga, D. João Peculiar, quando do Cerco de Lisboa. A primeira pedra foi lançada em 21 de Novembro de 1147. (…) O primitivo Mosteiro de S. Vicente não tinha a mais leve semelhança com o actual, nem dele resta memória descritiva ou simples alçado” (…) A inauguração do novo Mosteiro e Igreja de São Vicente fêz-se a 28 de Agosto de 1629, sem que as obras estivessem concluídas, pois se prolongaram interiormente quase durante um século.»

Em Arroios, deparamos com o Paço da Rainha que remete para o Palácio da Bemposta e para a Rainha D. Catarina de Bragança (? – 1705) que ao enviuvar de Carlos II de Inglaterra regressou a Portugal (em 1693) e acabou por fazer casa no lugar do Campo da Bemposta, onde é certo já habitava em 1702. A partir daí ficou o local conhecido como Paço da Rainha e assim se manteve até o primeiro edital de toponímia após a implantação da República, de 5 de novembro de 1910, o tornar no Largo da Escola do Exército, por aí se situar esse estabelecimento de ensino. Contudo, cerca de 12 anos mais tarde, o edital de  17/10/1924 designou-o como Largo General Pereira de Eça, topónimo que assim permaneceu perto de 32 anos até o Edital de 23/03/1954 o renomear como Paço da Rainha.

Cunhal das Bolas – Freguesia da Misericórdia – Placa de azulejo
(Foto: Artur Matos)

Na freguesia da Misericórdia, encontramos uma pequena artéria  entre a Rua da Rosa e a Rua Luz Soriano que é o Cunhal das Bolas, por  derivar do quinhentista Palácio do Cunhal das Bolas.

Na freguesia da Estrela, temos o Corredor da Torrinha, ao qual se acede a partir do Beco da Galheta, que o liga à Avenida 24 de Julho, sendo esta artéria o prolongamento natural da Travessa José António Pereira.

Na mesma freguesia a Rocha do Conde de Óbidos, topónimo do século XVII, derivado da proximidade ao Palácio do Conde de Óbidos (actual sede da Cruz Vermelha Portuguesa). Contudo, no âmbito da reconversão paisagística desta zona, que envolveram o aterro entre a Praça de Dom Luís I e Alcântara, após longas negociações entre o Município e a Casa de Óbidos-Sabugal, em 1880, a CML mandou dinamitar a rocha e morro e no seu espaço foi construída uma escadaria dupla que liga a Avenida 24 de Julho ao Jardim 9 de Abril, que mais um século mais tarde foi designada como Escadaria José António Marques, em homenagem ao fundador da Cruz Vermelha Portuguesa.

Ainda na Estrela deparamos com a Triste Feia, artéria na confluência da Rua Maria Pia, Rua da Costa e Rua Prior do Crato, paralela à Rua da Costa e nas costas da estação de comboios de Alcântara-Terra. Após a remodelação paroquial de 1770 já a encontramos nas plantas e descrições das freguesias de Lisboa na «Nova Freguezia do Snr Jezus da Boa Morte» como «Rua da Triste Feya» e igualmente como «rua chamada a Triste-fea». No Atlas de Filipe Folque, a planta nº 39 de 1856 menciona a Triste Feia e a calçada da Triste Feia. E a partir desta data, tanto nos levantamentos de Francisco Goulard (1882) como de Silva Pinto e Alberto Correia de Sá (1910), surge sempre designada como Triste Feia.

Triste Feia em 1965 e nos dias de hoje
(Fotos: Augusto de Jesus Fernandes – Arquivo Municipal de Lisboa; José Carlos Batista)

As Cruzes de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Mário Marzagão, 2012)

Estendendo-se do Largo da Sé à Rua de São João da Praça fica o arruamento denominado Cruzes da Sé, por se situar nas costas da Igreja de Santa Maria Maior, a Sé Catedral de Lisboa, classificada como Monumento Nacional desde 1910.

A fixação deste topónimo na memória de Lisboa tem de ser posterior à edificação da Igreja de Santa Maria Maior. Esta começou a ser construída pouco depois de 1147, ou seja, após a tomada de Lisboa por Afonso Henriques, provavelmente assente sobre uma mesquita que, por sua vez, também terá sido erguida sobre um primitivo templo cristão visigodo.

O topónimo Cruzes da Sé aparece documentalmente referido num livro de óbitos de 1690. De acordo com o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, no decorrer do século XVIII, « Fugitivamente deu-se o nome de Largo da Caridade a uma parte das Cruzes da Sé, naturalmente a que ficava e fica diante da ermida [da Caridade].» Ainda segundo este olisipógrafo terá sido arruamento onde se fixaram tintureiros como aconteceu na Calçada do Carmo, Praça da Alegria e Travessa do Desterro.

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias)

A junção das Ruas Oriental e Ocidental do Campo Grande ocorreu há um século

Freguesias das Avenidas Novas, Alvalade e Lumiar (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas, Alvalade e Lumiar
(Foto: Sérgio Dias)

O Campo Grande, que hoje pertence às Freguesias das Avenidas Novas, Alvalade e Lumiar, tem este topónimo fixado desde há 100 anos, através da publicação do Edital municipal de 19 de janeiro, o 2º Edital de toponímia de 1916, que assim juntou as Ruas Oriental e Ocidental do Campo Grande num único topónimo.

Chamado anteriormente Campo de Alvalade, este sítio foi escolhido durante séculos para a edificação de solares nobres e algumas vezes destinado à concentração de tropas, como as que D. Sebastião levou para Alcácer Quibir. O arvoredo que transformou o Campo Grande num dos parques mais aprazíveis de Lisboa foi mandado plantar no reinado de D. Maria I.

O Campo Grande nas primeiras décadas do séc. XX (Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Campo Grande nas primeiras décadas do séc. XX
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

Nove anos depois da junção as Ruas Oriental e Ocidental do Campo Grande, voltaram a ser topónimos separados pelo Edital de 07/05/1925. A Rua Ocidental do Campo Grande, apesar de já não existir  formalmente, passou a denominar-se Avenida Sacadura Cabral. Nesse mesmo ano, à Rua Oriental foi dado nome de outro aviador através da Avenida Óscar Monteiro Torres (por deliberação camarária de 02/06/1925) e já uns meses antes (por deliberação camarária de 15/02/1925) a Rua do topo norte do Campo Grande tinha ficado com a denominação de Rua António Stromp. Só que no ano seguinte, na sessão da Câmara de 26/08/1926 (e edital de 14/09/1926)  foi resolvido manter no Campo Grande a sua antiga denominação de Campo Grande.

Passados mais nove anos, uma nova deliberação da Câmara de 16/05/1935, fez com que as antigas Ruas do Oriental e Ocidental do Campo Grande passassem a denominar-se como o mesmo topónimo do jardim do local: Campo 28 de Maio. Esta decisão foi reafirmada no edital de 02/10/1939 tornando público o despacho da Presidência segundo o qual foi rectificada a deliberação da Câmara de 16/05/1933 e o edital de 18/05/1935, que atribuiu a denominação de Campo 28 de Maio às antigas Ruas Oriental e Ocidental do Campo Grande, passando a referida denominação de Campo 28 de Maio a substituir a de Campo Grande, que compreendia as antigas Ruas Oriental e Ocidental, depois Avenida Óscar Monteiro Torres e Sacadura Cabral, o próprio parque e ainda a Rua António Stromp.

Já na década de quarenta do século XX, o Edital municipal de 23/12/1948, voltou a denominar como Campo Grande o então Campo 28 de Maio. Na década seguinte, a antiga Praça Mouzinho de Albuquerque também foi integrada no Campo Grande, por edital municipal de 23/03/1954. E nos anos 80 do século XX, após a morte de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, a edilidade chegou a equacionar dividir novamente o Campo Grande em duas artérias para os homenagear mas acabou por criar uma solução alternativa.

Freguesias das Avenidas Novas, Alvalade e Lumiar                                           (Planta: Sérgio Dias)

As Cruzes da Toponímia de Lisboa

Rua das Flores de Santa Cruz em 1907 quando era Rua das Flores do Castelo (Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua das Flores de Santa Cruz em 1907 quando era denominada como Rua das Flores do Castelo
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

Diz-se que cada um carrega a sua cruz mas Lisboa dos nossos dias carrega 25 na sua toponímia, sendo 2 cruzes simples, dois becos com as suas cruzes, uma calçada, uma estrada, um largo, um pátio e mais 6 ruas e 7 travessas com cruz,  uma rua com cruzeiro e a Rua do Crucifixo. O cristianismo espalhou vários tipos de cruzeiros e cruzes nas ruas, nas estradas ou nos caminhos, de materiais diversos, pedra ou madeira e foram abundantes na cidade de Lisboa, tendo desaparecido progressivamente com as várias modificações urbanísticas que a cidade sofreu ao longo dos tempos.

Já publicámos a Rua de Santa Cruz do Castelo e o Largo de Santa Cruz dos Castelo, mas não a Rua das Flores de Santa Cruz  que era a Rua das Flores do Castelo até o Edital do Governo Civil de 1 de setembro de 1859 a tornar Rua das Flores de Santa Cruz. Todos estes três topónimos recebem o nome da vizinhança à igreja de Santa Cruz da Alcáçova, depois chamada de Santa Cruz do Castelo, que já aparece mencionada num documento de 25 de maio de 1168 e que segundo o olisipógrafo Norberto de Araújo « Assentou neste lugar a mesquita moura, sagrada logo depois da Conquista, e onde entrou, em procissão e cortejo real, Afonso Henriques, na tarde de 25 de Outubro de 1147».

Cruzes da Sé (Foto: Mário Marzagão, 2012)

Cruzes da Sé
(Foto: Mário Marzagão, 2012)

Ainda na freguesia de Santa Maria Maior, um pouco mais abaixo encontramos as Cruzes da Sé,  a fazer a ligação do Largo da Sé com a Rua de São João da Praça e como tal nas costas da Sé. De acordo com Luís Pastor de Macedo,  já aparece referida num livro de óbitos de 1690 e no século XVIII, « Fugitivamente deu-se o nome de Largo da Caridade a uma parte das Cruzes da Sé, naturalmente a que ficava e fica diante da ermida. Hoje, e desde há muitíssimos anos, mas depois do advento do regime republicano, está nela instalada a Junta de Freguesia da Sé e S. João da Praça.»

Já em São Vicente está a Cruz de Santa Helena, entre o Largo do Outeirinho da Amendoeira e a Calçada de São Vicente, designação que deverá ser anterior ao Terramoto de 1755. Tal como o Beco de Santa Helena, a Cruz de Santa Helena referem-se a uma viúva beatificada como Santa Helena, a quem um oficial romano, de nome Constâncio Cloro, se uniu e assim  nasceu Constantino, o primeiro imperador cristão. Diz-se também que Santa Helena foi em peregrinação à Terra Santa e que encontrou a verdadeira Cruz do Salvador.

Em becos, temos o Beco da Cruz, que liga a Rua da Cruz dos Poiais à Rua da Paz, em resultado do Edital do Governo Civil de Lisboa de 01/09/1859 que transformou o Beco das Cabras em Beco da Cruz pela proximidade à Rua da Cruz dos Poiais e, para evitar a confusão com o outro Beco das Cabras existente em Lisboa, mencionado nas descrições paroquiais anteriores ao terramoto de 1755 na freguesia da Stª Marinha, o qual a partir do Edital de 17/10/1924 se passou a denominar Beco dos Lóios. Já entre a Rua da Regueira e a Rua do Castelo Picão encontramos o Beco das Cruzes , sabendo-se que este arruamento já ostentava este topónimo em 1770, por constar nas plantas e descrições das freguesias de Lisboa desse ano.

A Calçada da Cruz da Pedra na década de 40 do séc. XX (Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Calçada da Cruz da Pedra na década de 40 do séc. XX
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

E a ligar a Rua da Madre de Deus à Rua de Santa Apolónia, deparamos com a Calçada da Cruz da Pedra, que deve ter começado por ser Cruz de Pedra. Luís Pastor de Macedo, avança que «referindo-se ao dístico desta serventia pública diz Gomes de Brito: aliás Cruz de Pedra, memória das muitos cruzeiros que se levantavam por Lisboa, e nela existentes, averiguadamente, desde o século XV. Efectivamente, a mais antiga referência a esta rua, que até agora encontrámos, ao anunciar-nos o falecimento de Diogo Lopes Sequeira, sucedido em 28 de Janeiro de 1593, diz-nos que ele era morador á cruz de pedra da madre de Ds.(…). Em 1647 ainda se dizia que fulano morava em o caminho de chellas por cima da Cruz de Pedra, mas desde então e até aos nossos dias, a cruz deixou de ser de pedra e passou a ser da pedra. (…) Quanto à sua existência, propriamente como arruamento, não devia ser muito anterior ao citado ano de 1593.» E Norberto de Araújo acrescenta que «Foi este o caminho de Trânsito para se entrar em Lisboa; o traçado da linha primitiva dos caminhos-de-ferro limitou-se, afinal, a acompanhar esta estrada de conveniência. A muralha desta artéria, sobre o rio, foi construída entre 1769 e 1770, onde ficava o forte da Cruz da Pedra.»

Na zona de Caselas também terá havido uma Calçada da Cruz que hoje identificamos como Estrada da Cruz, entre a  Estrada de Caselas e a Rua Horta e Silva. Foi pelo Edital municipal de 16/01/1929 que a Estrada Velha de Caselas passou a denominar-se Estrada da Cruz. No entanto, em 1908, a Planta da Cidade de Júlio Silva Pinto e Alberto de Sá Correia menciona-a como Calçada da Cruz e em 1959, o Decreto-Lei nº 42 142 que regista a nova divisão administrativa da cidade de Lisboa, na delimitação da então novel Freguesia de São Francisco Xavier designa-a como Calçada da Cruz.

Um pouco mais à direita, no Bairro Social de Caselas deparamos com a Rua da Cruz a Caselas, entre a Rua da Igreja e a Rua Sam Levy (que nasceu do Edital municipal de 15/12/1997 num troço da Estrada de Caselas, compreendido entre a Avenida das Descobertas e a Rua da Cruz a Caselas) .

Em Benfica, apresenta-se o Largo da Cruz da Era  na confluência da Travessa do Açougue em Benfica, Largo Ernesto da Silva, Rua República da Bolívia e a Travessa da Cruz da Era que une a Estrada de Benfica ao Largo da Cruz da Era e que já aparece mencionada em 1908 na planta de Júlio Silva Pinto e Alberto de Sá Correia. Em ambos os casos a Era pode ser uma memória rural de «Hera» como aconteceu com a Rua e a Travessa da Hera, na freguesia da Misericórdia, cuja grafia foi em determinada altura modificada.

Pátios da toponímia oficial temos o Pátio da Cruz, na freguesia de Santa Maria Maior, junto ao nº 15 da Rua da Galé.

Passando às Ruas, apresenta-se na freguesia de Alcântara a Rua da Cruz a Alcântara, nascida entre a Rua do Alvito e a Rua de São Jerónimo (a partir de 21/06/1926 Rua Feliciano de Sousa), que era a Rua da Cruz até o Edital municipal de 08/06/1889 lhe acrescentar «a Alcântara».

Rua da Cruz dos Poiais entre 1898 e 1908 (Foto : Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua da Cruz dos Poiais entre 1898 e 1908
(Foto : Arquivo Municipal de Lisboa)

Existiam três ruas da Cruz em Lisboa, quando o Edital do Governo de Civil de Lisboa de 01/09/1859 as diferenciou como Rua da Cruz dos Poiais, Rua da Cruz da Carreira e Rua da Cruz de Santa Apolónia.

Rua da Cruz dos Poiais, está entre a Rua dos Poiais de São Bento e a Rua de São Marçal, na freguesia da Misericórdia. Segundo Norberto de Araújo a Rua da Cruz dos Poiais também se chamou Rua dos Cardeais. A Cruz  perpetuada é a Cruz da Esperança, erguida na confluência de quatro artérias – a Rua dos Poiais de São Bento, a Calçada da Estrela, a Rua da Paz (que já existia em 1602 com o nome de Travessa da Peixeira) e a Rua da Cruz dos Poiais -,  sendo uma das muitas cruzes demarcatórias que havia pela cidade, onde as vereações aguardavam as novas dos Reis de Portugal para a simbólica entrega das chaves da cidade.

Rua da Cruz da Carreira, na freguesia de Arroios, entre a Rua Gomes Freire e a Travessa de São Bernardino, é anterior ao  terramoto de 1755 segundo Norberto de Araújo que acrescenta «Tomemos de novo pela Rua da Cruz da Carreira – assim chamada em memória de uma cruz demarcatória, e ao mesmo tempo piedosa, que aqui existiu ainda no começo do século passado [o autor refere-se ao século XIX], como tantas em Lisboa -, e passemos por Gomes Freire (a saudosa Carreira dos Cavalos, campestre e arrabaldina) à Estefânia de hoje.»

Sobre a Rua da Cruz de Santa Apolónia, na freguesia de São Vicente, entre a Calçada dos Barbadinhos e a Rua do Vale de Santo António, esclarece Norberto de Araújo o seguinte «Pois estamos no alto da Calçada de Santa Apolónia; sai-nos, agora, à esquerda, a velha Rua da Cruz de Santa Apolónia, que leva à Rua do Mirante. Era esta artéria, que se continuava, directa, da Calçada da Cruz da Pedra, o caminho natural, por Santa Clara e Paraíso, para a Porta da Cruz, uma das importantes entradas de Lisboa, aberta na muralha de D. Fernando, o que já por mais de uma vez tenho assinalado.(…)»

O cruzeiro da Ajuda encontra-se no Museu do Carmo, mas no local permanece a Rua do Cruzeiro, nas freguesias da Ajuda e de Alcântara que antes da publicação do Edital municipal de 08/06/1889 era a Rua Direita do Cruzeiro, embora também se encontrem registos de que terá também sido denominado por Calçada do Cruzeiro, nomeadamente no Roteiro das Ruas de Lisboa de 1890.

O já mencionado Edital do Governo de Civil de Lisboa de 01/09/1859 também acrescentou a quatro Travessas da Cruz em Lisboa um indicador de localização, passando a designarem-se como Travessa da Cruz de Soure (Misericórdia), Travessa da Cruz do Torel (Santo António e Arroios), Travessa da Cruz do Desterro ( por união da Travessa da Cruz e da Travessa Nova da Bica do Desterro, em Arroios) e Travessa da Cruz aos Anjos (Arroios). Mais tarde, pelo Edital do Governo de Civil de Lisboa de 05/08/1867, também a Travessa de Santana, entre a  Travessa da Cruz do Desterro e a Travessa das Salgadeiras passou a ser a Travessa de Santana da Cruz (Arroios).

E por último, na freguesia da Estrela, junto à Travessa dos Brunos, existe a Travessa da Cruz da Rocha que terá sido o antigo Beco dos Brunos. De acordo com a informação municipal nº 121/2ª/O, a planta da cidade de 1910  identifica esta artéria como Beco dos Brunos.

Travessa da Cruz do Desterro em 1903 (Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Travessa da Cruz do Desterro em 1903
(Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Ruas com miradouros

Rua do Mirante em 1902 (Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua do Mirante em 1902
(Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Ao contrário dos ponteiros do relógio, vamos de oriente para ocidente ao encontro dos miradouros que ainda estão registados na toponímia oficial de Lisboa.

Na freguesia de São Vicente está a Rua do Mirante, a  ligar a Calçada dos Cesteiros à Rua Diogo do Couto, firmado na tradição popular de denominar os arruamentos pelas suas características. Nas proximidades ficam o Beco do Mirante , o Outeirinho do Mirante e a Rua de Entre Muros do Mirante. Em todos estes topónimos se destaca a particularidade de um sítio mais alto com boas vistas e no  processo municipal 32548/71  que se socorre de uma planta de 1878, ficamos a saber que o hoje Outeirinho do Mirante se denominava então Altinho do Mirante. Apenas a Rua de Entre Muros do Mirante tem Edital, do Governo Civil de Lisboa, datado de 05/08/1867  e para acrescentar «do Mirante» à já antiga Rua de Entre Muros.

Ainda em São Vicente, no vulgarmente conhecido como Miradouro da Graça está o topónimo Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, por se situar na proximidade da casa onde a poeta residiu.

Calçada do Mirante à Ajuda - Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Calçada do Mirante à Ajuda – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

A ocidente, temos ainda a Calçada do Mirante à Ajuda, situada num ponto alto da zona circundante do Palácio Nacional da Ajuda onde se pode encontrar o Jardim das Damas e a Sala da Física do Paço Velho, entre a Rua do Cruzeiro e a Calçada da Ajuda. Era a Rua do Mirante até o Edital de  26/09/1916 oficializar um conjunto de 55 topónimos que haviam sido herdados do  extinto Concelho de Belém, a pedido da Junta de Freguesia da Ajuda.

Finalmente, surge a Rua do Miradouro no Bairro Social de Caselas, uma das poucas com denominação própria atribuída pelo Edital municipal de 15/03/1950 neste Bairro. Para além da Rua do Miradouro,  Rua do Casal da Raposa, Rua do Gabarete, Rua do Gravato e Rua da Igreja, todas as outras artérias deste Bairro construído de 1944 a 1949 e inaugurado em 28 de abril de 1949 pelo Ministro do Interior, em comemoração do 21º aniversário da entrada de Salazar para o governo da nação, ficaram com denominação numérica.

Rua do Miradouro - Freguesia de Belém

Rua do Miradouro – Freguesia de Belém