As Senhoras escondidas na Toponímia de Lisboa

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No ano passado uma moradora da Rua da Senhora da Glória, na Freguesia de São Vicente – a quem desde já pedimos desculpa por não conseguir localizar o nome -, sugeriu-nos que usássemos como tema mensal os topónimos de Lisboa que tenham «Senhoras de» como o do arruamento onde reside.

Assim faremos neste mês de março, juntando algumas «Senhoras escondidas» na composição do topónimo como acontece nas Escadinhas da Saúde ou no Largo da Anunciada, sendo que todas se referem a invocações de Nossa Senhora e como tal são hagiotopónimos, topónimos referentes ao nome de um santo ou de índole religiosa.

 

 

Da Praça das Colónias à do Ultramar e à das Novas Nações

Freguesia de Arroios (Foto: Ana Luísa Alvim)

Freguesia de Arroios
(Foto: Ana Luísa Alvim)

Em 1933, nasceu em junho no Bairro das Colónias a Praça das Colónias que em julho passou a ser Praça do Ultramar e que em 1975 com o processo de descolonização a decorrer se tornou a Praça das Novas Nações.

Uma das propostas do Movimento das Forças Armadas era o fim da Guerra Colonial , promessa que após a vitória em 25 de Abril de 1974 se cumpriu através da descolonização, em conformidade com o Programa dos Três «D» – Democratizar, Descolonizar e Desenvolver – e dessa nova mentalidade nasceu também em Lisboa a Praça das Novas Nações sobre a antiga Praça do Ultramar, na confluência da Rua da Ilha do Príncipe, Rua de Timor, Rua de Moçambique e Rua de Angola.

Recorde-se que a 8 de junho de 1974 uma Assembleia do MFA, na Manutenção Militar, decidiu o cessar-fogo imediato no Ultramar, que aliás foi uma reivindicação muita ouvida nas ruas após o 25 de Abril, e assim se definiu a urgência de avançar para a descolonização considerando até o atraso que já existia em relação a outras ex-colónias europeias cujo processo de descolonização se concluíra nos anos 60. No ano seguinte, por Edital municipal de 17 de fevereiro de 1975, a toponímia de Lisboa espelhou a nova realidade através do nascimento da Praça das Novas Nações, como forma de homenagear as 5 novas nações no continente africano –  Guiné (independência declarada unilateralmente em 24 de setembro de 1973 e reconhecida em 10 de setembro de 1974), Moçambique (25 de junho de 1975), Cabo Verde (5 de julho de 1975), São Tomé e Príncipe (12 de julho de 1975) e Angola (11 de novembro de 1975),  – e substituir a denominação Praça do Ultramar, cuja nomenclatura remetia para o Estado Novo e o domínio colonial.

A artéria havia nascido como Praça das Colónias, por edital municipal de 19/06/1933, e um mês depois passou a Praça do Ultramar. Pelo mesmo edital e no mesmo bairro – Bairro das Colónias – foram atribuídos também os seguintes topónimos, de acordo com a ordem do Edital: Rua de Angola, Rua de Moçambique, Rua da Guiné, Rua do Zaire, Rua da Ilha do Príncipe, Rua de Cabo Verde,  Rua da Ilha de São Tomé, Rua de Macau e Rua de Timor.

Freguesia de Arroios (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias)

 

 

 

 

 

Dez Heróis do Ultramar em Olivais Velho, Benfica e Alcântara

Freguesia dos Olivais - Olivais Velho (Planta: Sérgio Dias)

Os 5 topónimos de «Heróis do Ultramar» em Olivais Velho, na Freguesia dos Olivais 
(Planta: Sérgio Dias)

Dez anos após o início da Guerra Colonial, a edilidade lisboeta colocou através de um único Edital (22 de junho de 1971), de acordo com a legenda, dez «Heróis do Ultramar» em Olivais Velho, Benfica e Alcântara, «falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo», conforme se lê no despacho do Presidente da Câmara de então, Engº Santos e Castro.

Este procedimento está justificado na Ata da reunião da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia de 16 de junho de 1971 da seguinte forma: «Despacho de Sua Excelência o Presidente, solicitando parecer sobre a consagração na toponímia de Lisboa, dos nomes dos seguintes militares falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo : major aviador Figueiredo Rodrigues, alferes Mota da Costa, Carvalho Pereira e Santos Sasso, furriel Galrão Nogueira, soldados Rosa Guimarães, Santos Pereira e Purificação Chaves e marinheiros Correia Gomes e Manuel Viana. Considerando justificar-se plenamente uma homenagem à memória de tão heróicos militares e, tendo em vista a circunstância de os soldados e marinheiros não terem patente, a Comissão emite parecer favorável à consagração dos seus nomes». 

Os seis topónimos fixados em Olivais Velho foram a Rua Alferes Mota da Costa/Herói de Ultramar/1937 – 1961, o Largo Américo Rosa Guimarães/Herói de Ultramar/1945 – 1967,  a Rua Furriel Galrão Nogueira/Herói de Ultramar/ 1941 – 1965, a Rua Alferes Carvalho Pereira/Herói de Ultramar/1941 – 1966, a Rua Alferes Santos Sasso/Herói do Ultramar/1941 – 1965 e a Rua Major Figueiredo Rodrigues/Herói de Ultramar/ 1939 – 1969.

Manuel Jorge Mota da Costa (Porto – freg. Cedofeita/14.05.1937 – 14.05.1961/Angola), alferes paraquedista da 1.ª Companhia de Caçadores Paraquedistas do Batalhão de Caçadores 21 em Angola onde chegou a 17 de abril de 1961 e onde faleceu  menos de um mês depois no Bungo, aos 24 anos, condecorado a título póstumo com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, ficou no Impasse 1 do Plano de Urbanização de Olivais Velho. O soldado Américo Rosa Guimarães (Oeiras/21.09.1945 -05.10.1967/Angola), condecorado postumamente com a Medalha de Cobre de Valor Militar com palma, também faleceu  em Angola, aos 22 anos, e foi fixado no  Impasse 2 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.

Os outros quatro militares fixados em Olivais Velho faleceram na Guiné. O Furriel Galrão Nogueira (1941 – 1965/Guiné), falecido aos 24 anos, foi perpetuado no Impasse B do Plano de Urbanização de Olivais Velho. Ao alferes miliciano de Infantaria José Alberto de Carvalho Pereira (Lisboa/13.02.1941 – 12.03.1966/Guiné), falecido aos 25 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe, coube-lhe o Impasse 3 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.  O também alferes miliciano de Infantaria Mário Henrique dos Santos Sasso (Lisboa – freg. de Stª Engrácia/14.12.1941 – 05.12.1965/Guiné), da Companhia de Caçadores n.º 728, condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe a 2 de julho de 1965 e falecido aos 23 anos, ficou no  Impasse 3′ do Plano de Urbanização de Olivais Velho. E por último, o major piloto aviador António de Figueiredo Rodrigues (Penalva do Castelo/01.01.1939 – 12.07.1969/Guiné) , falecido aos 30 anos,  foi colocado na Rua A do Plano de Urbanização de Olivais Velho.

Em Benfica, homenagearam-se 3 militares falecidos na Guiné nos anos de 1964 e 1965, com a Rua José dos Santos Pereira/Herói do Ultramar/ 1943 – 1964, a Rua José da Purificação Chaves/Herói do Ultramar/1942 – 1964 e a Rua Manuel Correia Gomes/ Herói do Ultramar/1936 – 1965.

O soldado José dos Santos Pereira (Torres Vedras – A-dos-Cunhados/19.09.1943 – 15.12.1964/Guiné) faleceu aos 21 anos e foi condecorado, a título póstumo, com a Medalha da Cruz de Guerra de 2ª classe,  tendo sido perpetuado na Rua C, à Estrada do Calhariz de Benfica (Quinta de Santa Teresinha). O soldado condutor Francisco José da Purificação Chaves (Loures/08.08.1942 – 24.01.1964/Guiné),  falecido aos 21 anos na Ilha do Como e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª Classe,  ficou no Impasse I à Estrada do Calhariz de Benfica. O marinheiro fuzileiro especial Manuel Correia Gomes (Vila Verde-Turiz/15.02.1936 – 14.03.1965/Guiné), falecido aos 29 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 2ª classe, foi fixado no arruamento de acesso entre a Estrada do Calhariz de Benfica e o arruamento paralelo ao caminho de ferro (Quinta de Santa Teresinha).

Também encontramos a Rua José dos Santos Pereira, em Maceira, no Concelho de Torres Vedras, de onde este soldado era natural, bem como a Rua Francisco José Purificação Chaves em Loures, concelho de nascimento do soldado.

Finalmente, em Alcântara ficou a Rua Manuel Maria Viana/Herói de Ultramar/1944 – 1968, na Rua A à Travessa da Galé, também conhecida por Rua A à Avenida da Índia. O marinheiro fuzileiro especial Manuel Maria Viana (Odemira – S. Teotónio/07.08.1944 – 16.08.1968/Angola), integrado no Destacamento n.º 2 de Fuzileiros Especiais faleceu aos 24 anos e foi condecorado a título póstumo com a Medalha de Cobre de Valor Militar, com palma. Em 1971 a Escola de Fuzileiros criou também o  Prémio Manuel Viana, em sua honra, a  ser atribuído anualmente ao aluno com melhor classificação nos cursos de aplicação do 1.º grau.

A maioria destes topónimos – oito –  são exclusivos de Lisboa e não se encontram na toponímia de mais nenhum local do país, excepto nos 2 casos mencionados de homenagem prestada na terra natal.

Freguesia de Benfica (Planta: Sérgio Dias)

Os 5 topónimos de «Heróis do Ultramar» na Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida dos Combatentes da Grande Guerra atribuída em 1971

Freguesias das Avenidas Novas, de São Domingos de Benfica e de Alvalade

Em 1938,  a Liga dos Combatentes solicitou à Câmara de Lisboa a atribuição da denominação de «Combatentes da Grande Guerra» a um largo, praça ou avenida da capital  mas a questão foi sendo protelada por falta de arruamento considerado condigno para o efeito e só pelo Edital municipal de 15 de março de 1971 foi atribuída a Avenida dos Combatentes, para englobar todos os combatentes incluindo os da Guerra Colonial que já decorria há 10 anos, na Avenida que era prolongamento da Avenida António Augusto de Aguiar e hoje percorre as Freguesias das Avenidas Novas, São Domingos de Benfica e Alvalade.

O processo municipal era o nº 18905/38, a que se juntou mais tarde o processo nº 17175/55, e foi analisado sucessivamente nas reuniões da Comissão Municipal de Toponímia de 11 de novembro de 1955, 4 de maio de 1956 e 21 de janeiro de 1958, com a resposta de se aguardar oportunidade de novas artérias. A Liga dos Combatentes voltou a insistir pelo ofício nº 4087 sugerindo para o efeito a Avenida do Aeroporto ou o troço da Avenida Almirante Reis, entre a Praça do Chile e a Praça do Areeiro, a que a Comissão na sua reunião de 15 de outubro de 1958 respondeu «que a alteração das nomenclaturas dos arruamentos referidos implicaria profundas despesas e transtornos aos proprietários e moradores dos prédios das mesmas vias públicas, além de que a Comissão, tem por norma recorrer, o menos possível a este sistema, pelo que mantém os seus anteriores pareceres, isto é, deverá aguardar-se que haja uma artéria condigna para atribuição da referida nomenclatura».

E em 1971, a Comissão Consultiva Municipal de Toponímia na sua reunião de 5 de março, finalmente escolheu a «avenida (em projecto) que constitui prolongamento da Avenida António Augusto de Aguiar, seja atribuído o topónimo: Avenida dos Combatentes», a que se deu existência pelo Edital municipal de 15 de março de 1971.

Refira-se que um pouco por todo o país, embora sem sabermos a data de atribuição e a que combatentes se destinava a homenagem, e mesmo que de forma não completamente exaustiva, encontramos muitas artérias – Avenidas, Ruas, Praças, Largos, Travessas, Becos e Rotundas –  com o topónimo «dos Combatentes» em Abrunheira (Sintra), Alcácer do Sal, Aldeia das Dez (Oliveira do Hospital), Alfândega da Fé, Alhandra, Almargem do Bispo, Almeida, Almeirim, Alverca do Ribatejo, Amares, Anadia, Azambuja, Barcelos, Braga, Bucelas,  Cabeceiras de Basto, Carrazeda de Ansiães, Cartaxo, Constância, Ermesinde, Espinho, Esposende, Forte da Casa, Fronteira, Lagoa, Loulé, Lourinhã, na Madeira, Maia,  Mangualde, Marco de Canavezes, Milharado (Mafra), Moita, Oliveira de Azeméis, Oliveira de Frades, Ourém, Ovar, Paços de Ferreira, Parede, Paredes, Pero Pinheiro, Ponte de Sor, Portimão, Póvoa de Varzim, Rio Maior, Rio de Mouro, Sacavém,  Salvaterra de Magos, São João da Talha, na ilha de São Miguel (Açores), Santa Maria da Feira, Santa Maria de Lamas, Santa Marta de Penaguião, Santarém, Santo Tirso, Sátão, Serra d’El-Rei (Peniche), Sesimbra, Setúbal, Terrugem (Sintra), Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Vialonga, Vila do Conde, Vila Franca de Xira, Vila Nova da Barquinha, Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Gaia,Vilar Formoso e Viseu.                                .

E algo semelhante se passa com o topónimo «Combatentes do Ultramar», que em Avenidas, Jardins, Largos,  Ruas e Travessas surge em Almargem do Bispo, Almoçageme, Amarante, Beja, Cadafaz (Góis), Cadaval, Cartaxo, Cascais, Cucujães (Oliveira de Azeméis), Esposende, Guardizela (Guimarães), Lordelo (Guimarães), Louredo (Santa Maria da Feira), Lousada, Loures, Mata de Lobos (Figueira de Castelo Rodrigo), Matosinhos, Monchique, Moreira de Cónegos, Muge (Salvaterra de Magos), Nazaré, Odivelas, Paços de Ferreira, Paredes, Parede, Pedrógão Grande, Penafiel, Penalva do Castelo,  Pero Pinheiro, Ponta Delgada, Ribeirão (Vila Nova de Famalicão), Rio Maior, Rio de Moinhos (Borba), São João da Caparica (Almada), São João da Madeira, Sintra, Tondela, Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Poiares e Vila Verde.

Freguesias das Avenidas Novas, de São Domingos de Benfica e de Alvalade (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas, de São Domingos de Benfica e de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias)

 

Seis cidades e vilas da Guiné, Cabo Verde, Índia e Timor na toponímia de Olivais Sul

Freguesia dos Olivais - Placa Tipo IV (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais – Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias)

Após a eclosão da guerra colonial, no decorrer das décadas de 60 e 70 do século XX, a edilidade lisboeta crismou os novos arruamentos dos Olivais com os nomes de militares mortos em combate (na Zona Norte) e também com os nomes de cidades e vilas que então pertenciam ao Império Português (na Zona Sul) e foi neste contexto que o edital municipal de 11 de julho de 1970 perpetuou na toponímia olivalense as guineenses cidades de Bafatá, Bissau e Bolama, bem como a cabo-verdiana Cidade da Praia, a indiana Cidade de Margão e a timorense Cidade de Dili, todas na célula D de Olivais Sul.

A Rua Cidade de Bafatá ficou no espaço das Ruas 1, 2, 3 e 4 da Célula D de Olivais Sul, a começar na Rua Cidade da Praia. Bafatá é uma cidade no centro da Guiné-Bissau, capital da Região de Bafatá e que ficou muito conhecida  por ser a terra natal de Amílcar Cabral. Em Portugal existe também uma Rua Bafatá na Cruz de Pau (Seixal).

A Rua Cidade de Bissau foi fixada na Rua D  da Célula D de Olivais Sul, a ligar a Avenida Marechal Gomes da Costa à Rua Cidade de Lourenço Marques. Bissau foi fundada em 1692 como vila, com fortificação militar e entreposto de tráfico de escravos dada a sua localização na costa atlântica e tornou-se a capital do país em 1836, bem como em 1915 e a partir de 9 de dezembro de 1941, sendo também a capital da Guiné-Bissau a partir de setembro de 1974. Existem Ruas de Bissau em Bragança, Guimarães, Valpaços, Ermesinde (Valongo), Vila Nova de Gaia, Marinha Grande, Prior Velho (Loures), Amadora, Cruz de Pau (Seixal), Quinta do Conde (Sesimbra), Santo André (Barreiro), uma Praceta de Bissau na Amora (Seixal) e Travessas de Bissau em Alcabideche e no Montijo.

Rua Cidade de Bolama colocada na Rua D2 com o Impasse DG e abrangendo os lotes 377 a 379, 382 a 387 e os lotes 389 a 393 da Célula D de Olivais Sul, tem início e fim na Rua Cidade de Bissau.  Bolama situa-se na ilha homónima e desde 1879 era a vila capital da antiga Guiné portuguesa, tendo sido  elevada à categoria de cidade em 1913, conservando-se como capital até 9 de dezembro de 1941. Existem no nosso país uma Avenida Cidade de Bolama na Aroeira, uma Rua Cidade de Bolama em Faro  e Ruas Bolama no Porto, Prior Velho e na Amora (Seixal).

A Rua Cidade da Praia ficou na Rua D1 com o Impasse DE e abrangendo os Lotes 342 a 345 e 355 a 373 da Célula D de Olivais Sul, ligando a Avenida Cidade de Lourenço Marques à Rua Vila de Catió.  Cidade desde 1858, a Praia começou a ser construída na segunda metade do séc. XVIII, junto da Praia de Santa Maria. É a capital de Cabo Verde desde 1770, por ordem do Marquês de Pombal, e também por ser a maior cidade do país. O topónimo repete-se em Bragança, Guimarães, Porto, Caldas da Rainha, Marinha Grande, Buarcos (Figueira da Foz), Prior Velho (Loures), Amadora, Alcabideche (Cascais), São Domingos de Rana (Cascais), Santo André (Barreiro), Montijo, Palmela, Amora (Seixal), Quinta do Conde (Sesimbra) e Faro.

A Rua Cidade de Margão foi fixada nas Ruas 5, 6, 7 e 8 da Célula D de Olivais Sul, com início na Rua Cidade da Praia. É a  segunda maior cidade do estado de Goa.

A Praça Cidade de Dili fixada no Impasse DB e incluindo os impasses DB’, DB”, DB”’ da Célula D de Olivais Sul, também começa na Rua Cidade da Praia. Em 10 de outubro de 1769 substituiu Lifau como capital de Timor português em meados do séc. XVII e até 11 de agosto de 1769, tendo sido elevada a cidade em janeiro de 1864.  É hoje a  capital de Timor Lorosae.  Este topónimo encontra-se também em Vila Real, Chaves, Bragança, Valpaços, Gondomar, Matosinhos, Valongo, Coimbra, Santarém, Prior Velho, Loures, Ericeira, Amadora, Alcabideche, Santo André (Barreiro), Montijo, Évora e Beja.

Freguesia dos Olivais (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias)

Quatro médicos militares na toponímia de Lisboa em 1970

Francisco Luís Gomes

Em 1970, nove anos após o início da Guerra Colonial, foram colocados na toponímia de Lisboa quatro médicos militares, com a característica comum de terem prestado serviço no Hospital Militar de Lisboa e/ou nos territórios que eram colónias na época: Francisco Luís Gomes, José Baptista de Sousa, Mário Moutinho e Nicolau de Bettencourt.

O primeiro caso ocorreu através do Edital  municipal de 14 de fevereiro e foi a  Avenida Dr. Francisco Luís Gomes (na freguesia dos Olivais), a que se seguiu no Edital de  dia 17  a Avenida Dr. Mário Moutinho (Belém), e que se completou no Edital de 31 de março com a Rua Dr. José Baptista de Sousa (Benfica) e a Rua Dr. Nicolau de Bettencourt (Avenidas Novas).

A Avenida Dr. Francisco Luís Gomes foi atribuída com a legenda «Médico e Escritor/1829 – 1869» no arruamento que começa na Avenida de Berlim (junto à Piscina), no topo das Avenidas Infante Dom Henrique e Dr. Alfredo Bensaúde, para homenagear o cidadão que nasceu em 1829 na Índia e se licenciou em Medicina pela Escola de Goa (1850), tendo sido Cirurgião-mor  do exército português na Índia a partir de 1860, e ainda o autor de A Economia Rural da Índia Portuguesa, entre outras obras. Este topónimo é único no país.

Mário Moutinho

Mário Moutinho

A Avenida Dr. Mário Moutinho, nasceu com a legenda «Oftalmologista/1877-1961», para perpetuar o médico que dirigiu o serviço de Oftalmologia do Hospital Militar Principal de Lisboa a partir de 1909, e que nove anos depois foi seu subdiretor e mais tarde, diretor. Também este é um topónimo exclusivo de Lisboa.

No último dia do mês de março foram atribuídas a Rua Dr. José Baptista de Sousa/ Coronel Médico/1904 – 1967 na  Rua B à Travessa da Granja na freguesia de Benfica, bem como a Rua Dr. Nicolau de Bettencourt/ Brigadeiro-Médico/1900 – 1965 no troço da Estrada de Benfica compreendido entre o Largo de São Sebastião da Pedreira e o Largo então  vulgarmente conhecido como Praça de Espanha,  e as legendas destes dois topónimos expressam claramente a componente militar destes homenageados, sendo neste sentido os dois primeiros na toponímia de Lisboa em que a referência militar se liga à medicina.

A escolha do coronel-médico alfacinha  José Baptista de Sousa foi sugerida por um cidadão de seu nome Eduardo Mimoso Serra e a atribuição do nome de Nicolau de Bettencourt resultou de um pedido dos C.T.T. para que houvesse topónimo que evitasse equívocos na distribuição de correio naquela artéria.

José Baptista de Sousa

José Baptista de Sousa

Baptista de Sousa integrou as Forças Expedicionárias a Cabo Verde, e permaneceu em S. Vicente de 22 de fevereiro de 1942 até 10 de setembro de 1944, como diretor do Hospital Militar Principal de Cabo Verde, trabalhando também para os civis, o que lhe granjeou muitas simpatias locais e o epíteto de engenheiro humano. Ao contrário das orientações oficiais declarou a fome como causa de morte em diversos atestados de óbito, demonstrando coragem cívica. De 1947 a 1950, prestou serviço na Escola Médico-Cirúrgica de Goa. De 1951 a 1961 foi  Chefe da Clínica Cirúrgica do Hospital Militar Principal de Lisboa e a partir de 1964, foi  Consultor de Cirurgia da Direção do Serviço de Saúde Militar. O Dr. José Baptista de Sousa foi agraciado com o grau de oficial da Ordem de Avis e, em Mindelo (S. Vicente) o hospital passou a denominar-se Hospital Baptista de Sousa. Este topónimo é único no país.

Nicolau José Martins de Bettencourt concluiu o curso de Medicina em 1924 e, dois anos depois, também o curso de Medicina Tropical. Na sua carreira destacou-se como instrutor dos cursos de oficiais milicianos e dos enfermeiros militares das Escolas Centrais de Defesa do Território bem como Inspetor da Instrução do Serviço de Saúde Militar (1960 e 1961); dirigiu o Hospital Militar de Belém (1945 a 1949), o Hospital Militar Principal (a partir de 1957), os Serviços de Saúde Militar (a partir de  1962) e o Serviço de Saúde da Legião Portuguesa. Durante a presidência do general França Borges na Câmara Municipal de Lisboa, foi também vereador, no mandato de 1960 a 1963.  O seu nome integra também a toponímia da Marinha Grande.

Antes da Guerra Colonial apenas dois médicos militares tinham integrado a toponímia de Lisboa, a saber, a Rua Dr. Mascarenhas de Melo com a legenda «1868 – 1950», por Edital municipal de 24/07/1957, para homenagear um diretor do Hospital Militar da Estrela, e pelo Edital de 19/09/1960 foi a Praça Dr. Teixeira de Aragão com a legenda «Escritor-numismata/1823-1903» que perpetuou o diretor do gabinete de numismática e arqueologia do rei D. Luís I.

Após o 25 de Abril foram dois os médicos militares que tiveram a honra de serem topónimos alfacinhas: a  Escadaria José António Marques, com a legenda «Fundador da Cruz Vermelha Portuguesa/1822 – 1884», por via do Edital de 11 de fevereiro de 1985; e a Rua Dr. Bastos Gonçalves, com a legenda «Brigadeiro – Médico/1898 – 1985», pelo Edital de 21 de fevereiro de 2001, em memória daquele que dirigiu a Revista Portuguesa de Medicina Militar.

Nicolau de Bettencourt

Nicolau de Bettencourt

A Rua Cidade de Negage para facilitar o trabalho dos CTT

Freguesia dos Olivais (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Cidade de Negage nasceu nos Olivais Sul por Edital municipal de 9 de fevereiro de 1971, para facilitar a distribuição de correio por parte dos CTT, a pedido destes.

A Rua Cidade do Negage, com início e fim na Rua Cidade de Carmona, era um troço desta designado por Impasse CK ou por Impasse C I L, com os prédios com números de Lotes 183 a 194. Assim, os C.T.T. – Correios e Telecomunicações de Portugal, com o intuito de ver o seu trabalho facilitado e sobretudo, evitar equívocos na distribuição de correio, solicitaram à Câmara pelo ofício nº 9898 de 3 de dezembro de 1970 que o troço passasse a ter designação própria, pretensão a que a Comissão Municipal de Toponímia deu parecer favorável, sugerindo para o efeito Rua Cidade de Negage, uma recente cidade, por ser uma cidade de Angola tal como as artérias circundantes.
A cidade de Negage é um dos 16 municípios da província do Uíge, no extremo norte de Angola mas localizado no quadrante sul da província do Uíge, a cerca de 37 Km da Vila General Carmona e depois de 1956, Cidade de Carmona (hoje Uíge), onde na década de 70 do séc. XX foi construída a Igreja de S. José Operário. Negage ou Ngage foi o nome duma sanzala que existia na zona, e a povoação foi fundada em 1925 como parte do Posto do Dimuca do Concelho de Ambaca. Tornou-se sede do Posto de Ngage ainda pertencendo ao Concelho de Ambaca mas em 1955 passou para o Concelho do Bembe do Distrito do Uíge. No ano seguinte criou-se o Concelho do Negage com sede em Negage, que em 1958 foi elevada à categoria de Vila e, 12 anos depois, em 26 de Junho de 1970 passou à categoria de Cidade.
Freguesia dos Olivais (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias)

Doze cidades de Angola na toponímia de Olivais Sul desde 1969

Freguesia dos Olivais - Placa Tipo IV (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais – Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias)

Pelo Edital de 10 de abril de 1969 a edilidade alfacinha colocou doze cidades de Angola na toponímia da Célula C de Olivais Sul, uma em Avenida, três em Praças e as restantes dez  em ruas.

As escolhidas ficaram assim nas placas toponímicas: Avenida Cidade de Luanda, Praça Cidade do Luso, Praça Cidade de Salazar, Praça Cidade de São Salvador, Rua Cidade de Benguela, Rua Cidade de Cabinda, Rua Cidade de Gabela, Rua Cidade de Lobito, Rua Cidade de Malanje, Rua Cidade de Nova Lisboa, Rua Cidade de Novo Redondo e Rua Cidade de Porto Alexandre.

Aliás, as atribuições toponímicas na cidade de Lisboa no decorrer da década de sessenta caracterizam-se justamente por referências à Guerra Colonial e à reafirmação do Império Colonial Português, com fixação do nome dos militares mortos em combate nos arruamentos de Olivais Norte  e das vilas e cidades das então colónias portuguesas nas artérias de Olivais Sul. Em 1967 foram 15 cidades e vilas de Moçambique na Célula B, a que se somaram em 1969 estas 12 denominações de Angola na Célula C, tendo sido acrescentadas em 1970 nomes da Guiné na Célula D e em 1971, foram mais 12 designações de vilas moçambicanas nos arruamentos da Célula E. Repare-se que tal procedimento na toponímia da cidade remonta ao início da década, já que na Ata da reunião da Comissão Municipal de Toponímia de 29 de novembro de 1963 se pode ler : «Despacho de Sua Excelência o Presidente, solicitando o parecer da Comissão acerca da oportunidade de se homenagear Angola através da denominação dos nomes das suas cidades, na toponímia de Lisboa; quais os novos arruamentos a que esses nomes poderiam ser atribuídos e, bem assim, se nessa homenagem se poderiam compreender as cidades de outras províncias ultramarinas. A Comissão, tendo em vista que a zona dos Olivais-Norte tem sido reservada para homenagear os nomes de militares mortos ao serviço da Pátria, é de parecer que a zona dos Olivais-Sul é o melhor local para a atribuição dos nomes de cidades ultramarinas.»

Pelo país, encontramos em Camarate, a Rua Cidade de Luanda, a Rua Cidade de São Salvador, a Rua Cidade de Benguela, a Rua Cidade de Lobito, a Rua Cidade de Cabinda e a Rua Cidade de Nova Lisboa, bem como a Rua Cidade de Luanda em Valpaços, Guimarães, Porto, Santo Tirso, Amadora, Odivelas, Famões, Pontinha, Alcabideche, Quinta do Conde e Corroios – somando também esta última a Rua Cidade de Benguela  e a Rua Cidade de Lobito -, ou a Rua Cidade de Porto Alexandre na Póvoa de Varzim e nas Caldas da Rainha, e ainda a Rua Cidade de Benguela em Manteigas, na Pontinha, Parede, Quinta do Conde (Sesimbra), Corroios, Barreiro e Setúbal.

Freguesia dos Olivais - Placa Tipo IV (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais – Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias)

Mais 12 vilas de Moçambique como topónimos de Olivais Sul, desde 1971

Freguesia dos Olivais - Placa Tipo IV (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais – Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias)

Pelo Edital de 26 de março de 1971, doze vilas de Moçambique passaram a ser topónimos da Célula E de Olivais Sul, a exemplo do que sucedia noutras células da recente urbanização de Olivais Sul : em 1967 foram 15 cidades e vilas de Moçambique na Célula B, a que se juntaram  em 1969 as denominações de Angola na Célula C, somando-se em 1970 os nomes da Guiné, Cabo Verde, Índia e Timor na Célula D, para finalmente se arribar a 1971 e acolher  mais estas designações de vilas moçambicanas nos arruamentos da Célula E.

Aliás, durante as décadas de 60 e 70 do século XX, foram os arruamentos dos Olivais Sul crismados com nomes de povoações da Angola, Guiné, Cabo Verde, Moçambique, Índia e Timor, enquanto nos Olivais Norte se fixaram os nomes dos mortos ao serviço da pátria em combate.

As povoações de Moçambique escolhidas para este Edital ficaram todas com a categoria de ruas e foram elas Chibuto, Dondo, Ibo, Macia, Manhiça, Manjacazé, Marracuene, Mocímboa da Praia, Montepuez, Vila Alferes Chamusca, Vila Fontes e Vila Sena.

Traço de nesta altura os presidentes das câmaras municipais serem nomeados pelo governo e a política deste exaltar a manutenção das colónias a todo o custo, também encontramos uma Rua do Dondo na Parede,  uma Rua de Macia em Leiria, uma Rua e uma Travessa de Marracuene no Porto ,bem como uma Rua de Marracuene em Santo António dos Olivais de Coimbra.

Freguesia dos Olivais - Placa Tipo IV (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais – Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias)