O autor da Toponímia Árabe de Portugal numa Rua da Quinta dos Apóstolos

Freguesia da Penha de França
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

David Lopes, o filólogo e historiador que publicou Toponímia Árabe de Portugal, desde 1949 que dá o seu nome a uma Rua do Bairro da Quinta dos Apóstolos.

Foi pelo Edital municipal de 13 de maio de 1949 que o seu nome foi atribuído à  Rua C do Bairro da Quinta dos Apóstolos à Rua Lopes, também conhecida como Rua C à Rua Lopes ou Rua C ao Alto do Varejão.

Pelas Atas da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia sabe-se que a Casa do Distrito de Porto solicitou que a um novo arruamento de Lisboa fosse dado o nome de Sousa Viterbo, tendo a referida Comissão, na sua reunião de 28 de abril de 1949, emitido parecer favorável, escolhendo para o efeito os arruamentos ainda sem denominação do Bairro da Quinta dos Apóstolos e assim fixando na toponímia lisboeta o arqueólogo, genealogista e presidente da Câmara Municipal de Lisboa Braamcamp Freire na Rua A, o solicitado historiógrafo Sousa Viterbo na Rua B, e os professores e filólogos Adolfo Coelho e David Lopes, nas Ruas D e C, respetivamente.

(Foto de António da Silva Fernandes Duarte, Arquivo Municipal de Lisboa)

De seu nome completo David de Melo Lopes (Sertã – Nesperal /07.04.1867 – 03.02.1942/Lisboa), distinguiu-se como professor, historiador, filólogo e arabista que em Portugal renovou a tradição destes estudos.

De 1889 a 1892 frequentou em Paris a Escola de Línguas Orientais e a Escola de Altos Estudos para nos anos seguintes, de 1892 a 1895, já em Lisboa, seguir o Curso Superior de Letras e no ano imediato, em 1896, começar a sua carreira oficial como professor de Francês, no Liceu de Lisboa . Passados cinco anos enveredou pela docência da cadeira de língua e literatura francesa do Curso Superior de Letras (que dez anos depois, após a implantação da República, se tornaria Faculdade de Letras). Em 1914 passou a ter a responsabilidade da cadeira de Língua Árabe, criada por decreto no ano anterior, situação que manteve até 1937, ano em que atingiu o limite de idade.

A par do ensino David Lopes deixou ainda vasta obra nos campos da filologia e da história com, entre outros, Textos em aljamia portuguesa (1897), História dos Portugueses no Malabar (1898), Toponímia Árabe de Portugal (1902), Os árabes na obra de Alexandre Herculano: notas marginais de língua e história portuguesa (1911), Anais de Arzila (1915), Bases da Ortografia que deve ser Adoptada no Dicionário da Academia (1916), «Cousas arábico-portuguesas» no Boletim da 2ª Classe da Academia das Ciências de Lisboa (1917), Rudimentos de gramática árabe: para uso dos alunos do curso de língua árabe da Faculdade de Letras de Lisboa (1919), História de Arzila (1925), «Alguns vocábulos arábico-portuguesas de natureza religiosa, étnica e lexicológica» na Revista da Universidade de Coimbra» (1930), A Expansão da Língua Portuguesa no Oriente, nos séculos XVI, XVII e XVIII (1936), «Notas filológicas sobre particularidades vocabulares do português das praças de África» no Boletim de Filologia (1941), sendo também de destacar as publicações póstumas Nomes árabes de terras de Portugal (1968) ou O cancioneiro Árabe de IBN Cuzmane: A sua importância histórica e filológica (1970).

David Lopes que foi também sócio efetivo da Academia das Ciências de Lisboa, académico titular fundador da Academia Portuguesa de História, sócio estrangeiro da Academia Árabe de Damasco e colaborar da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, deixou também trabalhos sobre numismática e epigrafia árabe publicados no Arqueólogo Português.

David Lopes é ainda topónimo de uma Travessa na Amora (Seixal), de uma Praça de São Brás (Amadora)  e na sua terra natal (Sertã) como Rua Professor Doutor David Lopes.

Freguesia da Penha de França
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Prof. Lindley Cintra numa rua de Carnide

Freguesia de Carnide
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Por sugestão da Assembleia Municipal de Lisboa, através da sua Moção de 10 de outubro de 1991, foi o nome do Prof. Prof. Lindley Cintra,  docente de Românica e Linguística, fixado na toponímia de Lisboa, pelo Edital camarário de 19/02/1992, na Rua A da Nova Urbanização do Bairro Padre Cruz, na freguesia de  Carnide, com a legenda «Filólogo e Investigador/1925 – 1991».

Pelo mesmo edital mais 3 professores catedráticos foram atribuídos nesta zona de Carnide, a saber, na Rua Prof. Pais da Silva, a Rua Prof. Arsénio Nunes e a Rua Prof. Almeida Lima. Este núcleo toponímico de professores universitários em Carnide conta ainda com a Rua Fernando Piteira Santos,  a Rua Prof. Francisco Pereira de Moura, a Rua Jorge Vieira, a Rua Profª Maria Leonor Buescu, a Rua Professor Sedas Nunes e a Rua Prof. Tiago de Oliveira.

Luís Filipe Lindley Cintra (Espariz – Tábua/05.03.1925 – 18.08.1991/Lisboa) foi um investigador, filólogo, linguista, historiador da cultura e professor universitário na Faculdade de Letras de Lisboa, docente de Românica e Linguística desde 195o até ao seu falecimento e catedrático desde 1962, tendo também aí criado o Departamento de Linguística Geral e Românica e reformado o Centro de Estudos Filológicos.

Como investigador, dedicou-se principalmente às origens da língua portuguesa – literatura medieval, linguística românica, dialetologia – e ao espaço da língua portuguesa, da sua geografia nos nossos dias, isto é, do espaço geográfico definido como produto da expansão extraeuropeia da língua nascida do latim vulgar do Noroeste peninsular. Lindley Cintra colaborou no Atlas Linguístico da Península Ibérica e dirigiu o Glossário Medieval, destacando-se da ainda na sua obra Alguns Estudos de Fonética com base no Atlas Linguístico da Península Ibérica (1958), A Linguagem dos Foros de Castelo Rodrigo (1959),  Áreas Lexicais no Território Português (1962), os três volumes de Crónica Geral de Espanha de 1344 (1951-1961), Estudos de Dialectologia Portuguesa (1983) e com Celso Cunha a a elaboração da Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984).

Refira-se ainda que em 1950 começou logo a colaborar no Centro de Estudos Filológicos do Instituto de Alta Cultura e, quatro anos depois, passou a dirigir o Boletim de Filologia, tal como a Revista Lusitana, para além de pertencer a diversas sociedades científicas. Foi agraciado com a Ordem da Liberdade (1983) e a  Ordem da Instrução Pública (1988).

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Cândido de Figueiredo do Novo Dicionário da Língua Portuguesa

Cândido de Figueiredo em 1925 (Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

Cândido de Figueiredo em 1925
(Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

Cândido de Figueiredo, o autor do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, que teve a sua primeira edição em 1899 e múltiplas reedições até à 25ª, enviou para Paul0 Plantier incluir no seu Cozinheiro dos Cozinheiros a receita de «Triunfos do tomate», e teve direito a ser nome de rua lisboeta cerca de sete anos após o seu falecimento.

Com a legenda «Filólogo e Escritor/1846 – 1925», Cândido de Figueiredo passou a topónimo de uma artéria da Freguesia de São Domingos de Benfica identificada como Rua B do projecto aprovado em sessão de 19/04/1928, no então «projectado bairro novo de Benfica», através da publicação do Edital municipal de 31 de março de 1932, acompanhado na Rua A pelo filólogo Gonçalves Viana e na Rua E pelo bibliógrafo Inocêncio Francisco da Silva ( estas Ruas A e E ainda em 1941  eram indicadas como a construir pelo que anos mais tarde este dois topónimos foram novamente atribuídos noutras artérias já executadas).

Freguesia de São Domingos de Benfica (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Sérgio Dias)

António Cândido de Figueiredo (Tondela- Lobão da Beira/19.09.1846 – 16.09.1925/Lisboa) foi um poeta, escritor e jornalista, que se distinguiu sobretudo como filólogo e lexicólogo, tendo sido o autor de um dos mais reputados dicionários da língua portuguesa, o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, publicado em 1899 e que alcançou 25 edições sendo a última em 1996. Também fez parte da comissão que em 1911 definiu as bases ortográficas da língua portuguesa, junto com Carolina Michaëlis  e Leite de Vasconcelos.

Concluído o curso de Teologia (1867) no Seminário de Viseu, Cândido de Figueiredo formou-se em Direito (1874) em Coimbra, e acabou por fixar residência em Lisboa em 1876, onde foi advogado e professor do Liceu Central de Lisboa (1882) e chegou a subdirector-geral do Ministério da Justiça. Para além da sua obra poética e em prosa, de que destacarmos a sua Lisboa no ano 3000, obra de crítica social e institucional (1892), também publicou regularmente em revistas e jornais, sobretudo crónicas para abordar o uso correto da língua portuguesa. Fundou e dirigiu o periódico A Capital e foi redator do diário Globo, do jornal humorístico A Paródia de Rafael Bordalo Pinheiro sob o pseudónimo «O Caturra», e do  Diário de Notícias  com o pseudónimo de «Cedef».

Também traduziu numerosas obras de filologia e linguística e foi um dos sócios fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1876, para além de na Academia das Ciências de Lisboa ter sido eleito sócio correspondente (1874), eleito sócio efetivo (1915) e presidente até à data do seu falecimento.

Enquanto político, Cândido de Figueiredo foi Presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal (1875), governador civil do Distrito de Vila Real (1892-1893), secretário particular de Bernardino Machado como Ministro das Obras Públicas (1893), para além de ter sido eleito vogal do Conselho Superior de Instrução Pública (1887) em representação do professorado de ensino livre e nomeado  membro da comissão encarregada de rever a nomenclatura geográfica portuguesa pelo Ministério de Reino (1890).

E finalmente, temos os «Triunfos do tomate», receita de um vizinho de Cândido de Figueiredo:

«Diz o prolóquio que não há boa cozinha sem tomates, e diz um vizinho meu, a flor dos gulosos, que onde mais triunfa aquele belo fruto é no doce. E exemplifica: deitem-se tomates, bem lisos e pouco maduros, num alguidar, um quilograma deles, pouco mais ou menos. Escaldem-se e pelem-se com água a ferver, cortem-se em gomos, tire-se-lhes a pevide e ponham-se os gomos a escorrer. 

Num tacho que tenha meio litro de água, deite-se um quilograma de açúcar e deixe-se ferver até ao ponto de espadana. Seguidamente, deitem-se no mesmo tacho os gomos do tomate, bem escorridos, e deixem-se chegar ao ponto de doce de conserva. Quando este manjar tenha arrefecido, deite-se em pires e sirva-se.

Os paladares mais finos e mais autorizados são unânimes em que é uma delícia aquele pitéu. É de comer e chorar por mais.

Em testemunho de verdade, Cândido de Figueiredo »

Freguesia de São Domingos de Benfica (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua que homenageia Jacinto Prado Coelho em Telheiras

Freguesia do Lumiar (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias)

O ensaísta Jacinto do Prado Coelho também escreveu sobre Vergílio Ferreira, nomeadamente no seu artigo «Vergílio Ferreira: um estilo de narrativa à beira do intemporal», inserido na coletânea Ao contrário de Penélope, publicada em 1976.

Enquanto topónimo lisboeta Jacinto do Prado Coelho foi fixado como Rua Prof. Prado Coelho, no próprio ano do seu falecimento, pelo Edital municipal  de 22/10/1984, no arruamento até aí denominado Rua 5 de Telheiras Norte, e com a legenda «Filólogo/1920 – 1984», dando assim cumprimento à proposta nº 119/84 aprovada por unanimidade na sessão de câmara de 21 de maio de 1984.

O alfacinha Jacinto Almeida do Prado Coelho (Lisboa/01.09.1920 – 19.05.1984/Lisboa), nascido na Freguesia de Santa Isabel,  foi um ensaísta e professor catedrático de Literatura Portuguesa Moderna da Faculdade de Letras de Lisboa, durante 40 anos, onde aliás se licenciara em Filologia Românica.  Foi ainda presidente do Centro de Estudos Filológicos entre 1954 e 1965. Da sua vasta obra, publicada desde os 15/16 anos, destaque-se A Educação do Sentimento Poético (1944), A Poesia de Teixeira de Pascoaes, Ensaio e Antologia (1945) , Introdução ao Estudo da Novela Camiliana (1946), Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa (1951), Situação de Fialho na Literatura Portuguesa (1959), Problemática da História Literária (1961), A Letra e o Leitor (1969), Originalidade da Literatura Portuguesa (1977)  e Camões e Pessoa, Poetas da Utopia (1984), para além de ter sido o responsável pela edição das obras completas de Camilo Castelo Branco e de Teixeira de Pascoaes.

Este intelectual e investigador internacionalmente reconhecido dirigiu também a publicação do Dicionário das Literaturas Portuguesa, Galega e Brasileira (1960) e a revista Colóquio/Letras entre 1975 e 1984, para além de ter sido  Presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores até ao seu encerramento em 1965, bem como da Academia das Ciências de Lisboa, em 1972.

Por último, refira-se que Jacinto Prado Coelho casou com a professora Dália dos Reis de Almeida, de quem teve um filho, o escritor e ensaísta Eduardo Prado Coelho.

Freguesia do Lumiar (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua do professor de Arqueologia Leite de Vasconcelos

Rua Leite de Vasconcelos

Freguesia de São Vicente (Foto: Sérgio Dias)

 

José Leite de Vasconcelos, médico que foi professor universitário de Arqueologia e o primeiro diretor do Museu Nacional de Arqueologia, chegou à toponímia de Lisboa oito anos após o seu falecimento, pelo Edital municipal de 13/05/1949, a dar nome à Rua B à Quinta do Ferro.

Pelo mesmo Edital foram dados mais 6 nomes de figuras que foram professores universitários, filólogos ou historiadores, a saber, a Rua José Maria Rodrigues e a Rua Agostinho de Campos na freguesia de Alcântara, assim como a Rua Braamcamp Freire, a Rua Adolfo Coelho, a Rua Sousa Viterbo e a Rua David Lopes no Bairro da Quinta dos Apóstolos, na  freguesia da Penha de França.

Ilustração Portuguesa, 1926

Ilustração Portuguesa, 1926

José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo (Ucanha/07.07.1858 – 17.05.1941/Lisboa), médico formado pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1886 com a dissertação de licenciatura «A Evolução da linguagem» preferiu antes dedicar-se a ser professor universitário, etnógrafo, arqueólogo, filólogo e museólogo.

Assegurou os seus estudos na Escola Médico-Cirúrgica do Porto a trabalhar num liceu e num colégio,  e foi no decorrer do curso que escreveu Tradições Populares Portuguesas e editou o opúsculo Portugal Pré-Histórico (1885). Finda a licenciatura exerceu durante seis meses as  funções de subdelegado de Saúde do Cadaval. Todavia, Leite de Vasconcelos acabou por fixar-se em Lisboa como conservador da Biblioteca Nacional de Lisboa durante 23 anos (a partir de 1888), professor do Liceu Central de Lisboa e mais tarde, da Faculdade de Letras (de 1911 a 1929), como docente de Filologia Clássica, área em que se havia doutorado em 1901, na Universidade de Paris, com a tese «Esquisse d’une dialectologie portugaise», para além de reger as cadeiras de Numismática, Epigrafia e Arqueologia.

Leite de Vasconcelos empenhou-se na criação de um museu dedicado ao conhecimento das origens e tradições do povo português, de que nasceu em 1893 o Museu Etnográfico Português (hoje Museu Nacional de Arqueologia). Inicialmente numa sala da Direção dos Trabalhos Geológicos, foi transferido em 1900 para uma ala do Mosteiro dos Jerónimos até ser inaugurado a 22 de abril de 1906. Quando se aposentou em 1929 o Museu Etnológico de que foi diretor passou a ter o seu nome Museu Etnológico do Doutor Leite de Vasconcelos e o homenageado dedicou-se então à publicação dos vários volumes da Etnografia Portuguesa.

Refira-se finalmente que Leite de Vasconcelos viveu em Lisboa, no nº 40 da Rua Dom Carlos de Mascarenhas, e nessa casa colocou a edilidade uma lápide dessa memória, no dia 7 de março de 1944.

Freguesia de São Vicente (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de São Vicente
(Planta: Sérgio Dias)

 

A Luciana a quem O’Neill prometeu uma rua em Lisboa

Freguesia de São Domingos de Benfica (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Sérgio Dias)

Alexandre O’Neill ao publicar em 1972 o seu volume de poemas Entre a Cortina e a Vidraça dedicou-o «a Luciana Stegagno Picchio com a promessa (lírica!) de ela ainda vir a ter uma rua com o seu nome, em Lisboa» o que acabou por se concretizar em 2014.

Após uma sugestão do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, determinou a edilidade lisboeta pelo Edital municipal de 30/04/2014 que o arruamento B à Rua José Maria Nicolau (Urbanização Benfica Stadium) ficasse com o nome desta filóloga italiana e nos arruamentos próximos fixou os escritores Natércia Freire (Arruamento D) e António Alçada Baptista (Arruamento A+C).

Luciana Picchio

Luciana Stegagno Picchio (Itália/1920 – 28.08.2008/Roma) foi uma professora da Universidade de Roma La Sapienza, filóloga especialista em Estudos Portugueses e Brasileiros, cuja obra de quase 500 títulos contribuiu para consagrar a cultura e a literatura portuguesa em Itália. Luciana Picchio promoveu vários encontros para difundir as literaturas em língua portuguesa e dedicou o seu trabalho docente, de investigação e edição, de tradução e difusão cultural à causa lusófona, sendo pioneira na contribuição para o desenvolvimento do conceito multicultural como elemento fundamental da cultura contemporânea.

Para além de ensaísta e crítica literária, Luciana Stegagno Picchio foi também uma cidadã de postura cívica empenhada na causa da liberdade e da democracia.

Freguesia de São Domingos de Benfica (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias)

 

A Rua Rui Barbosa, defensor da igualdade das nações

RUI BARBOSA

Neste arruamento do Bairro América está consagrado o político brasileiro que se destacou na luta abolicionista contra a escravatura e na defesa do principio da igualdade das nações nas instâncias internacionais.

A Rua Rui Barbosa nasceu de uma deliberação camarária de 25 de novembro de 1918, com mais 6 topónimos, todos referentes a figuras ligadas ao continente americano, num novo bairro que estava a ser construído na Quinta das Marcelinas e que a edilidade denominou como Bairro América, quando tinham passado 14 dias após a assinatura do armistício de Compiègne que pôs fim à  I Guerra Mundial e, no ano seguinte ao da entrada dos Estados Unidos da América no conflito. Aliás, a ata dessa sessão camarária ainda elucida que «Os Srs. Manuel José Martins Contreiras, Dr. João José da Silva e Fernão Boto Machado, proprietários da Quinta das Marcelinas, na Rua Vale de Santo António, 30, requereram a esta Câmara que lhes fosse dado ao Bairro que ali estão construindo, a denominação de Bairro da América, a exemplo do que já foi feito para os bairros da Bélgica e da Inglaterra e que os arruamentos tivessem as seguintes denominações: nº 1:Rua Franklin, nº2: Washington, nº3:Rui Barbosa, nº4:Bolívar, nº5:Dos Cortes Reais, nº6: de Fernando de Magalhães, nº7:de Álvaro Fagundes.»

O correspondente Edital municipal só foi publicado em 17 de 0utubro de 1924 e acrescente-se que os arruamentos Rua Bolivar e Rua Álvaro Fagundes nunca tiveram execução prática, embora, em 1971, o nome de Álvaro Fagundes tenha regressado para a toponímia lisboeta para dar nome à Rua C à Rua General Justiniano Padrel.

Freguesia de São Vicente - Placa de Azulejo (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Vicente – Placa de Azulejo
(Foto: Sérgio Dias)

Ruy Barbosa de Oliveira (Salvador/05.11.1849-01.03.1923/Petrópolis) foi um político brasileiro conhecido como Águia de Haia  que teve um importante papel na defesa do princípio da igualdade das nações enquanto delegado do Brasil na II Conferência da Paz, em Haia (1907). Enquanto jurista foi coautor da constituição da Primeira República do Brasil e primeiro Ministro da Fazenda (1889 a 1891), bem como deputado (1878 a 1881 e, 1882 a 1884) e senador ( de 1890 a 1921, sendo mesmo Vice-Presidente do Senado da República em 1907), para além de por duas vezes ter sido candidato à Presidência da República, sendo que ainda teve um papel decisivo na entrada do Brasil na I Guerra Mundial.

Ruy Barbosa foi ainda jornalista, advogado, diplomata, filólogo notável da língua portuguesa e membro fundador da Academia Brasileira de Letras de que foi presidente entre 1908 e 1919.

Freguesia de São Vicente

Freguesia de São Vicente                                                     (Planta: Sérgio Dias)

 

 

No centenário de José Pedro Machado a sua rua em Telheiras

Em 1963 (Foto: Biblioteca Nacional)

Em 1963 (Foto: Biblioteca Nacional)

Passa hoje o centenário de José Pedro Machado, o autor do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa e figura marcante da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, que desde a publicação do Edital municipal de  04/05/2011 dá o seu nome à Rua Nova à Estrada de Telheiras.

José Pedro Machado (Faro/08.11.1914-26.07.2005/Lisboa), professor, académico, filólogo, linguista, arabista e polígrafo era formado em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa e em Ciências Pedagógicas pela Universidade de Coimbra, tendo sido assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1942-43), professor do ensino técnico e profissional e diretor da Escola Industrial Afonso Domingues. Enquanto docente, produziu para o  ensino secundário o Dicionário do estudante: nomes comuns, onomástico, histórico e  geográfico, vocabulário camoniano (1952) e o Dicionário da língua portuguesa: vocabulário comum, História, Geografia, Artes, Ciências (1960).

Discípulo de David Lopes na Universidade de Lisboa, é tido como um dos maiores arabistas e dicionaristas da língua portuguesa, sendo o autor do relevante dicionário do idioma: o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (1956). Já a partir de 1948, se havia consagrado à edição revista, aumentada e atualizada do chamado Dicionário de Morais, que conheceu sucessivas edições e, em 1981 empenhou-se  no Grande dicionário da língua portuguesa. Enquanto arabista, José Pedro Machado interessou-se pela língua árabe a que associou  o conhecimento da história e da cultura da Hispânia árabe, antes e depois da Reconquista, bem como os elementos sobreviventes na cultura portuguesa medieval e renascentista e, durante 15 anos de trabalho, realizou a tradução do Alcorão (1979), com vasta erudição patente nas notas explicativas.

Mas o seu interesse pela língua portuguesa também o colocou do lado do grande público, analisando os problemas práticos decorrentes do uso quotidiano do português, através de consultórios da língua disseminados por jornais de Lisboa e da província.  E avesso às engenharias reformistas da língua por via administrativa José Pedro Machado teorizou e polemizou sobre a política da língua, nomeadamente no seu A propósito da ortografia portuguesa (1986). É de salientar que foi responsável pelo Inventário e Unificação da Terminologia Técnica Portuguesa, bem como membro da Comissão do Vocabulário, Dicionário e Gramática da Academia de Ciências de Lisboa (1938-1940).

E José Pedro Machado foi também historiador e estudioso de outras facetas da língua e da sua dinâmica, como a irrupção de neologismos impostos pela mudança tecnológica ou a irradiação proveniente dos novos polos de poder mundial e refira-se que foi um dos colaboradores do Dicionário de História de Portugal dirigido por Joel Serrão.

Também ao longo de 50 anos (1953-2005) nos deixou intensa colaboração no Boletim bibliográfico da Livraria Portugal, para juntar a uma bibliografia que ultrapassa a centena de livros,  e onde se inclui a fixação do Cancioneiro da Biblioteca Nacional (1949-1964), realizada em parceria com a sua esposa Elza Paxeco, a primeira mulher doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Saliente-se ainda a Biobibliografia de David Lopes (1967) e os Dispersos de D.Carolina Michaelis de Vasconcelos (1969-1972) , bem como estudos de natureza geográfica, historiográfica, camonianos, mas sobretudo toponímicos, dispersos por revistas culturais de índole local.

José Pedro Machado colaborou ainda para a RTP, com o Dr. Raul Machado, no programa Charlas Linguísticas e, foi membro de variadas academias científicas portuguesas e estrangeiras.

(Foto cedida pela sua filha, Rosa Machado)

(Foto cedida pela sua filha, Rosa Machado)

Freguesia do Lumiar (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida do poeta provençal

 

Le Petit Journal  de 25.12.1904

Le Petit Journal de 25.12.1904

Frédéric Mistral, poeta galardoado com o Prémio Nobel em 1904, foi reconhecido 26 anos depois pela cidade de Lisboa, através da atribuição do seu nome ao  arruamento projetado entre as Avenidas de Berna e de Elias Garcia, como Avenida Poeta Mistral (Provençal), conforme regista o Edital de 27/12/1930, a partir da proposta do General Vicente de Freitas, então Presidente da edilidade.

De seu nome completo Joseph Étienne Frédéric Mistral (Maillane/08.09.1830 – 25.03.1914/Maillane), ou Frederi Mistral ou Mistrau em provençal,  foi um escritor francês que se dedicou à poesia em língua provençal ( ou occitana) e liderou a moderna revivescência deste idioma no sul da França. A sua poesia épica foi fundamental para reabilitar o antigo idioma provençal e a cultura do País d’Oc.

O poeta Mistral estudara em Avinhão onde em 1845 conheceu o poeta Roumanille, autor do poema provençal «Li Margarideto», encontro que lhe inspirou   um poema em 4 cantos denominado «Li Meisson». Uniram-se e fundaram em 1854 o movimento do félibrige para promover a língua occitana, que contou também com a ajuda de Alphonse de Lamartine e que acolheu  todos os poetas provençais expulsos de Espanha por Isabel II. Publicavam também um órgão anual intitulado L’Armana Prouvençau. Em 1859, Mistral publicou a sua obra principal, o poema Mirèio, narrativa pastoral do amor de Vincent e de Mireia em 12 cantos e revelação do felibrismo, que teve em 1863 uma versão em ópera de Charles Gounod.

Frederi Mistral produziu ainda Calendal, NerteLis isclo d’or , Lis oulivado, O poema do Ródanoainda codificou a ortografia no Tesouro do Felibrige (1878-1886), um dicionário provençal-francês com os vários dialetos do idioma d’oc moderno. Defendeu as suas convicções federalistas também através do seu jornal L’aioli, fundado em 1891, mas não conseguiu que a língua provençal fosse ensinada na escola primária.

Quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1904, atribuído nesse ano também ao dramaturgo espanhol José Echegaray y Eizaguirre, criou o  Museu Arlaten , em Arles, dedicado ao modo de vida e história da Provença.

Em 1961 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

Avenida Poeta Mistral em 1961 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)