No Largo da Atafona, situado entre o Largo do Chão do Loureiro e o Beco da Atafona, foi descoberta uma atafona que comprova a origem do topónimo neste local.
Numa palestra organizada pela CAL- Centro de Arqueologia de Lisboa, no passado dia 17 de setembro de 2019, inserida no Programa Arqueologia do Bairro, os arqueólogos da Cota 80-86.Lda. apresentaram um conjunto de intervenções realizadas no âmbito do Projeto de instalação de ecopontos subterrâneos na cidade de Lisboa, entre as quais a do Largo da Atafona no primeiro semestre de 2018, onde foi encontrada no subsolo uma estrutura «composta por pedras de médio e grande calibre, trabalhadas de modo a formarem um encaixe semicircular, e um canal no meio. Estão sobre um outro elemento pétreo de formato quadrangular que apresenta um encaixe sensivelmente a meio, mas não perfeitamente alinhado com o encaixe circular das pedras superiores. De fronte deste elemento, outros mais irregulares, mas nitidamente fora de sítio, ou remexidos, provavelmente devido à construção do alicerce» e que «apresenta uma dimensão de 70cm x 60cm (preservados) e 50cm em altura».
Em termos de datação, considerando «Os materiais recolhidos nas argamassas da estrutura, assim como do enchimento do interface apontam para uma construção para o Século XIII ou XIV, e a sequência estratigráfica, nomeadamente a sua relação com o Silo 14 parecem confirmar essa cronologia», enquanto que sobre a sua função «considerou-se as características da sua construção, dimensões e os encaixes detectados, e parece tratar-se de uma atafona manual».
Foi assim possível confirmar a tese de que o topónimo provinha da existência de uma atafona no local. Atafona é uma palavra de origem árabe que significa moinho impulsionado por homens ou por bestas e não por vento nem água. A descoberta neste arruamento deste engenho manual do séc. XIV, valida a hipótese de que este topónimo guardaria a memória da presença da atafona no local.
Por permitirem a feitura da farinha para um bem essencial – o pão – as atafonas tiveram em Lisboa, logo em 1469, direito a uma postura em que os almotacés da cidade de Lisboa ordenavam que nenhum atafoneiro ou senhorio de atafona aumentasse o alqueire de trigo mais que três reais, sob pena de pagamento de coima, estabelecida em várias quantias conforme a reincidência do aumento, sendo o acórdão da sentença feito pelos juízes em conjunto com os vereadores e o procurador da cidade. Esta postura foi apregoada por Pedro Lopes, porteiro do concelho. Em 1543, outra postura municipal determinava que o preço de nenhuma pedra de atafona – que designam danosa – fosse vendida por mais de 1000 réis cada (com 3 palmos), ou 700 réis se de dois palmos ou 500 réis se de um palmo, referindo coimas em dinheiro e dias no tronco. No séc. XVII, com data de 10 de novembro de 1651, encontramos um registo municipal de autorização para João de Oliveira e José Antunes, mandarem vir da vila de Sesimbra e seu termo para a cidade de Lisboa todas as pedras de atafona para vender, por um período de seis anos.
Hoje, nas proximidades deste Largo da Atafona existe o Beco da Atafona, cujos prédios com os nºs 18 A, 10, 18, 16, 14, 20, 22 foram dele desanexados para constituir o largo, por deliberação camarária de 12 de agosto e consequente Edital de 14 de agosto de 1915. O Beco surge já registado no Sumário de 1551 de Cristóvão Rodrigues de Oliveira, como «beco datafana» na freguesia de Santa Justa, tal como por Filipe Folque o faz em 1858 na sua cartografia de Lisboa.
Na Lisboa dos nossos dias, para além deste dois topónimos no singular – Beco e Largo da Atafona – existe também no substantivo plural de atafona no Beco das Atafonas, em Alfama, bem como na Travessa das Atafonas junto à Rua das Janelas Verdes.
© CML | DPC | NT e CAL – Centro de Arqueologia de Lisboa | 2019