A Rua do Presidente da CML em 1918, José Carlos da Maia

Freguesia de Campo de Ourique
(Foto: José Carlos Batista)

José Carlos da Maia foi Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa,  de 14 de janeiro até 1 de março de 1918,  já que foi nomeado ministro da Marinha de Sidónio Pais a 9 de março, e tendo sido um dos assassinados na Noite Sangrenta de 19 de outubro de 1921 foi  fixado na memória de Lisboa mais de dez anos depois, em Campo de Ourique, através da Rua Carlos da Maia, por via do Edital municipal de 12 de março de 1932.

Conforme o procedimento da época, Carlos da Maia foi nomeado Presidente da Comissão Administrativa da CML pelo Governador Civil de Lisboa, por indicação do Ministro do Interior, então Machado Santos. Ficou responsável pelos Pelouros da Secretaria e Bibliotecas. De acordo com a sua proposta, os outros vogais desse executivo ficaram com as seguintes competências: Álvaro Valadas, professor da Escola Comercial Ferreira Borges, com o pelouro das Águas; o Arqº António do Couto Abreu com o pelouro da Arquitetura; o farmacêutico António Ferreira com os  Jardins e Cemitérios; o professor e advogado António Lino Neto com as Subsistências; o comerciante António Maria Abrantes com a Limpeza e Regas; o industrial Franklin Lamas com a Viação; o Engº Frederico Santos Taveira com os Incêndios; João Pereira da Rosa com o Pelouro da Iluminação; o médico e antigo deputado José da Costa Júnior com os Matadouros; o médico Matias Ferreira de Mira com o Pelouro da Instrução; o comerciante e proprietário Santos Rebelo com o Pelouro das Ruas; o advogado Raul de Almeida Carmo com o Contencioso; o antigo operário Sebastião Eugénio com os Mercados e Lavadouros e o «comercialista» Vladimiro Contreiras com o Pelouro da Contabilidade.

Nesses quase de dois meses, foi proposta de José Carlos Maia a receção nos Paços do Concelho ao Presidente da República – Sidónio Pais – no seu regresso à capital em 18 de janeiro de 1918, com dispensa de ponto para o pessoal ir assistir à chegada na Estação do Rossio; a constituição de uma Comissão para dar pareceres sobre a higiene e estética da capital e uma outra,  também composta por  vereadores, para auditar os serviços da CML e dar pareceres de melhoria.

Na presidência de Carlos da Maia e com o seu voto favorável, entre outras deliberações, os Vogais da Comissão Administrativa passaram a não ser beneficiados pela distribuição dos 100 passes que a Carris tinha acordado com a edilidade; o indeferimento do aumento das tarifas da Carris em 40%; o encerramento das janelas dos carros eléctricos de 1 de novembro a 1 de março; a manutenção do  preço da carne de carneiro nos talhos municipais; o cultivo dos terrenos incultos do Parque Eduardo VII com forragens para o gado do Serviço de Jardins e Edificações, bem como a substituição nos jardins municipais das flores da estação por hortaliças e legumes; a municipalização do pescado para o embaratecer; conclusão urgente da ampliação e modificação do Mercado da 24 de Julho; que o mau tempo não impedisse os operários de receber o seu salário, mesmo que não pudessem trabalhar, tal como acontecia com o encarregado e o apontador; a averiguação do ensino nas associações que diziam ser escolas; a inauguração de um curso noturno para adultos na Escola Central nº 14 do Largo do Leão; a transferência de um professor da escola nº 24 para a nova escola nº 84 ao Rego e outro, da escola nº 2 para a nº 76;  reparação da estação de incêndios de Xabregas e o aumento do nº de bombeiros auxiliares para serviço nos teatros; abertura do novo lavadouro do Alto do Pina e autorização para a autarquia  contrair um empréstimo de 500 contos.

José Carlos da Maia (Olhão/16.03.1878 – 19.10.1921/Lisboa), filho de um Oficial da Marinha, Carlos Augusto da Maia e de Maria da Encarnação Cruz, morava em Lisboa desde bebé, e foi também ele um Oficial da Marinha de Guerra que se destacou enquanto político republicano. Desde novo participou em todas as conspirações contra o regime monárquico com Machado Santos e Cândido dos Reis, tendo participado empenhadamente na implantação da República.

Depois, foi deputado à Assembleia Constituinte de 1911, Governador de Macau de 1914 a 1916, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Ministro da Marinha de Sidónio Pais de 9 de março a 7 de setembro de 1918, Capitão de Porto de Portimão e Ministro das Colónias de José Relvas, de 26 de janeiro a 21 de março de 1919.

Em 1921, quando se encontrava afastado da política ativa, foi assassinado na revolta conhecida como Noite Sangrenta, em 19 de outubro de 1921, tal como o  presidente do Ministério António Granjo e Machado Santos, entre outros.

José Carlos da Maia foi agraciado com a Comenda da Ordem Militar de Avis (11 de março de 1919) e postumamente, com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada (11 de Novembro de 1927). A sua  viúva, Berta da Maia, esforçou-se por encontrar os responsáveis pelo assassinato do seu marido quando ele contava 43 anos, tendo sido colocada no mesmo jazigo que fora erigido em 1924 no Cemitério dos Prazeres. Como José Carlos da Maia ou Carlos da Maia, o seu nome integra também a toponímia dos concelhos de Almada (em Porto Brandão e Vale de Cavala), Cascais (na Parede e em São Domingos de Rana), Lagoa, Odemira, Olhão, Portimão, Porto e Setúbal.

Freguesia de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

A Rua do Engenheiro primeiro presidente da CML após o 25 de Abril

Freguesia de Alvalade
(Foto: Sérgio Dias)

O Engº Caldeira Rodrigues foi o presidente da 1ª Comissão Administrativa da CML após o 25 de Abril de 1974, que assinou os primeiros 5 Editais de Toponímia e desde 2007 o seu nome está na memória das esquinas de Lisboa, numa rua da freguesia de Alvalade.

A Rua Engº. Caldeira Rodrigues foi atribuída pelo Edital municipal de 23/04/2007 ao arruamento identificado como Rua 2.2 à Rua António Albino Machado, com a legenda «Autarca/1925 – 2004», ligando a Rua António Albino Machado à Rua Joaquim Rocha Cabral. Recorde-se que António Albino Machado foi o fundador e 1º presidente da Cooperativa de Habitações Económicas 25 de Abril  e Joaquim Rocha Cabral foi um engenheiro que presidiu à Junta de Freguesia do Campo Grande durante dois mandatos consecutivos (1994-97 e 1998-2001).

O Engº Caldeira Rodrigues numa Conferência de Imprensa dada em dezembro de 1974, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Lisboa
(Foto: Armando Serôdio, Arquivo Municipal de Lisboa)

Joaquim Ângelo Caldeira Rodrigues (Torres Vedras/06.12.1925 – 29.12.2004/Lisboa), foi nomeado Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa e exerceu essas funções de 2 de setembro de 1974 a 19 de novembro de 1975 , sucedendo ao Delegado da  Junta de Salvação Nacional, João António Lopes da Conceição. Caldeira Rodrigues levou a cabo uma importante reconversão do município, no quadro de uma dinâmica de participação popular, tendo sido determinante a sua intervenção no aliviar de tensões e na resposta imediata a carências básicas da população, como a habitação. Em matéria de toponímia assinou 5 editais que colocaram em Lisboa os nomes de Alves Redol, Avenida dos Bombeiros, Capitão Henrique Galvão, Castro Soromenho, Dr. João Soares, Avenida das Forças Armadas, General Norton de Matos, José Dias Coelho, Julião Quintinha, Luís de Freitas Branco, Maria Isabel Aboim Inglês, Praça das Novas Nações, Rua da República da Bolívia e Calçada Ribeiro dos Santos.

Na época, o Engº Caldeira Rodrigues integrava  a direção do MDP/CDE mas já antes, durante mais de 30 anos, tinha sido um resistente político  que sofreu mesmo a prisão por duas vezes, em 1947 e em 1951. Foi dirigente da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, onde se licenciou em Engenharia em 1950 mas também se tornou ativista do MUNAF ( (Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista) e do MUD Juvenil (Movimento de Unidade Democrática), cuja comissão central integrou em 1947, com Mário Soares, Octávio Pato, Salgado Zenha, António Abreu, Fernanda Silva e outros. Em 1950 também aderiu ao Movimento para a Paz, liderado por Maria Lamas e Manuel Valadares.

Enquanto engenheiro, Caldeira Rodrigues desenvolveu uma carreira como especialista de Planeamento e Estruturas Hidráulicas na Hidrotécnica Portuguesa e na Companhia de Águas de Lisboa, para além de ter sido um dos sócios-fundadores da COBA – Consultores para Obras, Barragens e Planeamento, S.A., bem como dirigente da Associação Portuguesa de Projetistas e Consultores, entre 1989 e 1993.

O nome de Joaquim Caldeira Rodrigues está também perpetuado numa rua da sua terra natal e refira-se que Maria João Rodrigues, catedrática do ISCTE que desempenhou as funções de Ministra do Emprego no primeiro Governo de António Guterres, é sua filha.

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua do Presidente da CML, Portugal Durão, no Bairro da Bélgica

Freguesia das Avenidas Novas (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Sérgio Dias)

Albano Augusto Portugal Durão,  o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1923 a 1925, passou a ser o topónimo das Ruas C e G do Bairro da Bélgica, com a legenda «Insigne Colonial/1871 – 1925», desde a publicação do Edital de 30 de junho de 1926.

A Comissão de Melhoramentos do Bairro da Bélgica sugeriu à autarquia lisboeta em 10 de maio de 1926  que fossem atribuídos nos arruamentos do seu Bairro topónimos alusivos à Bélgica, seguindo o exemplo do sucedido dez anos antes no Bairro de Inglaterra, em 1916. E assim, o Edital municipal de 30/06/1926 aí fixou os belgas Cardeal Mercier (arcebispo primaz da Bélgica que em 1915 publicou uma Carta Pastoral incitando ao patriotismo) – na Rua E do Bairro do Bélgica –  e General Leman (heróico defensor de Liège) – na Rua D – , colocando nas restantes artérias Tomás Cabreira (republicano que foi ministro das Finanças em 1914), o então último Presidente da CML  (Albano Augusto Portugal Durão que presidiu à edilidade de 1923 a 1925) e ainda, a Rua Costa Goodolfim e a Rua Visconde de Menezes, que neste local nunca passaram do papel.

Cerca de 6 anos mais tarde, pelo Edital camarário de 12/03/1932, foi dado à Rua A o nome Rua Dr. Álvaro de Castro, em homenagem àquele que comandara o Corpo Expedicionário Português a partir de 1916 e se demitira aquando da vitória de Sidónio Pais.

Rua Portugal Durão Albano

Albano Augusto Portugal Durão (Sertã/22.03.1871 – 13.11.1925/Lisboa) assentou praça na Marinha  em 1887 e em 1918, já era capitão-tenente. No decurso da sua vida militar, participou em campanhas em terras de África, como  o reconhecimento dos territórios de Milange, Namulia e Lomue, bem como desempenhou cargos civis de relevo, como o de administrador dos Transportes Marítimos do Estado e da Companhia da Zambézia, para além de diretor de Minas em Tete (Moçambique), e ainda, como membro do Conselho Fiscal do Banco Industrial Português.

Republicano membro do Partido Democrático, iniciou-se na política como ministro da Agricultura de Bernardino Machado, em 1921, sendo exonerado a seu pedido em 19 de maio. No ano seguinte foi eleito deputado por Lisboa, funções que exerceu até 1925, e sendo também Ministro de António Maria da Silva nos seus 2º e 3º governos, na pasta das Finanças ( de 6 de fevereiro a 26 de agosto de 1922, por ter pedido a demissão ) e depois, na dos Negócios Estrangeiros, entre 1 de julho e 1 de agosto de 1925. Portugal Durão foi também Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, no período de 5 de abril de 1923 até à sua morte em 13 de novembro de 1925.

Ainda no âmbito da participação de Portugal na I Guerra Mundial, Portugal Durão foi vogal da Comissão Executiva da Conferência da Paz e foi agraciado com a comenda da ordem Militar de Avis (1919).

Freguesia das Avenidas Novas (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua Braamcaamp Freire, Presidente da CML quando Ventura Terra foi vereador

Anselmo Braamcamp Freire em 1911 (Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

Anselmo Braamcamp Freire em 1911
(Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

Ventura Terra foi vereador da primeira gestão republicana na CML,  no período de 1908 a 1913, tendo assim conhecido de perto Anselmo Braamcaamp Freire que era Vice-presidente até 1910 e foi depois eleito Presidente.

No entanto, só mais de 20 anos após o falecimento de Braamcaamp Freire é que este teve honras de topónimo lisboeta, pelo Edital de 13 de maio de 1949, fixado no arruamento identificado como Rua A do Bairro da Quinta dos Apóstolos à Rua Lopes. Pelo mesmo Edital municipal foram também atribuídos os nomes de Sousa Viterbo na  Rua B, de David Lopes na Rua C  e de Adolfo Coelho na Rua D.

Foi neste período em que o Arqº Miguel  Ventura Terra foi também vereador  na Câmara Municipal de Lisboa que elaborou planos na área do urbanismo, nomeadamente para a zona ribeirinha da capital – com a fim da linha férrea em Santos para que a zona até ao Cais do Sodré passasse a ser zona de lazer – e Rua do Arsenal com arcadas nos prédios (1908), bem como para o Parque Eduardo VII tendo até em 13 de outubro de 1910 proposto «que seja dado o nome de Esplanada dos Heróis da Revolução ao espaço que no meu projecto de Parque Eduardo VII fica compreendido entre o limite norte da Praça do Marquês de Pombal, as ruas Fontes Pereira de Melo e António Joaquim Aguiar e o Palácio de exposições e festas onde começa o parque propriamente dito» e que até foi aprovado mas que não chegou a ser concretizado.  A 9 de março do ano seguinte propôs ainda a atribuição dos nomes de Eugénio dos Santos, Nuno Santos e Silva Porto a ruas importantes de Lisboa. Foi ainda Ventura Terra que solicitou a António Teixeira Lopes a execução de um busto em mármore de Anselmo Braamcamp Freire, pago pelos 11 vereadores, que em 1911 ficou colocado nos Paços do Concelho de Lisboa.

Freguesia de Penha de França (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Penha de França
(Foto: Sérgio Dias)

Anselmo Braamcamp Freire, nascido na então Freguesia de São José (Lisboa/01.02.1849 – 23.12.1929/Lisboa) foi um homem de cultura invulgar, arqueólogo e genealogista, escritor e historiador, que depois de 1875 voltou a morar em Lisboa, na Rua do Salitre, para publicar, a partir de 1903, o Arquivo Histórico Português,  que por uma minuciosa pesquisa na Torre do Tombo e outros arquivos trouxe a lume documentos inéditos da história do país. Como político, foi o 1º Presidente da Câmara Municipal de Loures (de 1887 a 1889 e também de 1893 a 1895); aderiu em 1907 ao Partido Republicano e assim foi vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1908 a 1910 e depois eleito Presidente em 1911, função que desempenhou até 1913. Paralelamente, foi deputado republicano à Câmara Constituinte de 1911 e foi o 1º Presidente do Senado da República.  É ainda no ano de 1911, a 21 de agosto, que enquanto Presidente da Assembleia Braamcamp Freire promulgou a 1ª Constituição da República.

Braamcamp Freire precursor de genealogia científica em Portugal, foi sócio efetivo da da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Academia das Ciências de Lisboa, tendo desta última sido Presidente em 1918, para além de vasta obra publicada de que salientamos O Conde de Vila Franca e a Inquisição (1899), As sepulturas do Espinheiro (1901), Em volta de uma carta de Garcia de Resende (1905),  Amarrado ao pelourinho (1907), Livro dos bens de D. João de Portel: cartulario do século XIII (1910), Um aventureiro na empresa de Ceuta (1913), Gil Vicente, poeta e ourives (1914), Maria Brandoa, a do Crisfal (1916), Vida e Obra de Gil Vicente, Trovador e Mestre da Balança (1918), Notícias da feitoria de Flandres: precedidas dos Brandões poetas do Cancioneiro (1920), A censura e o Cancioneiro Geral ou Brasões da Sala de Sintra (ambos em 1921).

Braamcamp Freire legou à cidade de Santarém a sua vasta biblioteca, as suas múltiplas obras de arte e a casa onde viveu, que é  hoje a Biblioteca Municipal de Santarém.

Freguesia de Penha de França (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Penha de França
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida do republicano Elias Garcia

Prédio traçado por Ventura Terra no nº 62 da Avenida Elias Garcia com a Avenida da República cerca de 1906 (Foto: Alberto Carlos Lima, Arquivo Municipal de Lisboa)

Prédio traçado por Ventura Terra no nº 62 da Avenida Elias Garcia com a Avenida da República 
(Foto: Alberto Carlos Lima, cerca de 1906, Arquivo Municipal de Lisboa)

Ventura Terra traçou em 1902 três prédios de rendimento para o republicano Joaquim dos Santos Lima,  na esquina da Avenida José Luciano nº 62 (a partir de 5 de novembro de 1910 passou a ser a Avenida Elias Garcia ) com a Avenida Ressano Garcia nº 46 (Avenida da República também desde 05/11/1910).

O republicano José Elias Garcia que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1878 passou a dar nome à Avenida José Luciano pelo Edital municipal de 5 de novembro de 1910, o primeiro de toponímia após a proclamação da República, que incluiu mais 9 topónimos destacando-se os que homenagearam a implantação da República – Avenida da República e Avenida Cinco de Outubro– e figuras republicanas, como o Almirante Cândido dos Reis e Miguel Bombarda.

Elias_Garcia José

José Elias Garcia (Almada-Cacilhas/31.12.1830 –  21.06.1891/Lisboa) foi um político republicano que foi deputado, vereador da edilidade alfacinha com o pelouro de instrução pública (entre 1873-1875 e 1878-1881) em que estabeleceu as escolas centrais, o ensino da ginástica, do desenho de ornato,do canto coral das escolas e as bibliotecas populares, bem como foi até o 25º Presidente da Câmara Municipal de Lisboa ( de 2 de janeiro a 18 de agosto de 1878).

Coronel de engenharia foi ainda professor de Mecânica Aplicada na Escola do Exército (a partir de 1857), bem como jornalista, tendo fundado diversos jornais republicanos como O Trabalho (1854), O Futuro (1858-1862), A Política Liberal (1862), e sido o redator principal do Jornal de Lisboa (1865) e do Democracia (1873), para além de ter presidido à Assembleia dos Jornalistas e Escritores Portugueses. Também colaborou na revista de pedagogia Froebel, dirigida por Feio Terenas.

Elias Garcia, a partir do célebre grupo do Pátio do Salema (Clube dos Lunáticos), fundou em 1868 o Partido Reformista, de onde veio a resultar o Centro Republicano Democrático Português (1876) e o Partido Republicano e nessa qualidade foi deputado, eleito pela primeira vez em 1870 por Lisboa, sendo depois também eleito pelo Partido Republicano em 1882-1884, 1884-1887 e 1887-1889 e 1890.  Entre 1883 e 1891 presidiu ao Diretório do Partido Republicano.

Desde 1853 Irmão Péricles na Maçonaria Portuguesa, foi o 1.º e único Grão-Mestre  da Federação Maçónica (1863 a 1869),  Grão-Mestre interino do Grande Oriente Lusitano Unido (1884 a 1886), Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido (1887 a 1889) e o seu túmulo no Cemitério do Alto de São João, construído em 1893-94 pelo Grande Oriente Lusitano em terreno cedido pela CML, ostenta um obelisco encimado por uma estrela de cinco raios.

Freguesia das Avenidas Novas (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias)

A Travessa do Carvalho irmão do Marquês de Pombal e o associativismo de Ventura Terra

Os Banhos de São Paulo na Travessa do Carvalho em 1951 (Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Os Banhos de São Paulo na Travessa do Carvalho em 1951
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Em 1902, Ventura Terra formou com Adães Bermudes, Aragão Machado, Rosendo Carvalho e António Dias da Silva a Sociedade dos Arquitetos Portugueses, com  sede na Rua Vitor Cordon, 14 – 1º, de que hoje é herdeira a Ordem dos Arquitetos instalada na Travessa do Carvalho, topónimo de 1895 referente a Paulo de Carvalho e Mendonça, irmão do Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo.

Freguesia da Misericórdia - Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia da Misericórdia – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

Após o terramoto de 1755, a zona de São Paulo recebeu uma profunda reforma urbana por iniciativa do primeiro Marquês de Pombal e responsável político pela reconstrução de Lisboa. Assim, esta Travessa do Carvalho que até ao Edital municipal de 28/11/1895 fora o Beco do Carvalho, tal como a próxima Rua Nova do Carvalho evocam o irmão do Marquês enquanto em Campolide, o Alto do Carvalhão e a Rua do Arco do Carvalhão evocam o  próprio Marquês de Pombal por terem sido terras suas desde a Cruz das Almas até à ribeira de Alcântara.

O Bairro dos Remolares na antiga freguesia de São Paulo foi uma dos que ganhou uma malha urbana pombalina após o terramoto. O plano urbanístico de Pombal resolveu a forte inclinação da vertente da Rua do Alecrim, prolongando-a numa espécie de ponte em dois grandes arcos sobre a Rua de São Paulo e a Rua Nova do Carvalho e, este plano mereceu especial atenção do Marquês de Pombal (1699-1782) que dele encarregou o seu irmão Paulo de Carvalho e Mendonça (1702-1770), que foi Monsenhor da Patriarcal de Lisboa, Inquisidor-mor e Presidente do Senado da Câmara (1764 a 1770), a par da administração de outras obras de primeira importância para a cidade, como os Paços do Concelho, o Depósito Público e o Cais da Ribeira. Nesta política tanto o marquês como o seu irmão e, ainda outros familiares, como o Morgado de Oliveira, construíram a expensas suas grandes edifícios na zona de São Paulo, sendo conhecido um projeto para casas do Marquês de Pombal na Rua de São Paulo, cujo desenho a tinta da china é assinado pelo próprio ministro.

Já Ventura Terra se liga a esta Travessa do Carvalho por ter sido fundador e  o primeiro presidente da Sociedade dos Arquitetos Portugueses onde nasceu o Anuário da Sociedade dos Arquitectos Portugueses (1905-1919), impresso na Typographia do Commercio, e cuja herdeira é hoje a Ordem dos Arquitetos, que ocupa o antigo edifício dos Banhos de São Paulo, construído entre 1850 e 1868 e já classificado como imóvel de interesse público, na Travessa do Carvalho.

Freguesia da Misericórdia (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia da Misericórdia
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua Nova que Rui Fernandes Almada mandou abrir

Placa Tipo III (Foto: Artur Matos)

Placa Tipo III
(Foto: Artur Matos)

A Rua Nova do Almada foi uma artéria mandada abrir por Rui Fernandes de Almada,  que era então o presidente do Senado da Câmara de Lisboa e, em honra do qual a Câmara excepcionalmente decidiu  denominá-la Rua Nova do Almada, em 1665.

Foi esta artéria remodelada após o terramoto de 1755 e o topónimo teve direito a carta de lei em 17 de Junho de 1787O nome “Rua Nova” também resultou da necessidade de desambiguação com a Rua do Almada na freguesia de São Paulo.

Rui Fernandes de Almada, nascido cerca de 1600,  foi um fidalgo que exerceu os cargos de presidente do Senado Municipal e de provedor da Casa da Índia, tendo neste último a  suceder-lhe o seu filho Cristóvão de Almada, tendo sido também Governador e capitão geral de Mazagão..

A abertura da Rua Nova do Almada foi notícia na época, como se pode ler no Mercúrio Português de Maio de 1665: «e porque o cuidado da guerra [da Restauração] não embaraça o do Governo político, em 13 deste mês se começou, em Lisboa, a abrir uma formosa Rua, de 30 a 35 palmos de largura, que começa na Rua da Calcetaria e sai ao Espírito Santo, muito convenientemente para formosura e serventia do Bairro Baixo para o Alto da cidade e sobe tão invisível, e sensivelmente, que quase parece que tudo fica plano. Por esta razão, há muitos anos que era desejada e se intentou. Nunca se conseguiu porque era necessário comprar, e derrubar muitas casas que, naquele lugar, faziam vários becos estreitos, conforme a fábrica antiga das cidades. Pode-se conseguir, com a resolução que tomou Rui Fernandes de Almada, que entrou a ser presidente do Senado da Câmara, e por memória, ao autor da obra tão útil, quis o Senado que a Rua ficasse com o seu nome e se chama a rua Nova do Almada”.

Esta artéria foi morada da Igreja da Conceição Nova até aos anos 50 do século XX, quando foi demolida para dar lugar ao edifício da  Caixa Geral de Depósitos, assim como dos estabelecimentos comerciais Eduardo Martins, Valentim de Carvalho, Casa Batalha e Pastelaria Ferrari, desaparecidos sob o efeito do incêndio de 25 de Agosto de 1988.

Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: Artur Matos)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Artur Matos)

No 145º aniversário do General Vicente de Freitas a sua praça lisboeta

Freguesia de São Domingos de Benfica (Foto: José Carlos Batista)

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: José Carlos Batista)

Neste ano em que passa o centenário da I Guerra Mundial recordamos mais um topónimo alfacinha relacionado com esse acontecimento: a Praça General Vicente de Freitas,  desde a publicação do Edital 29/07/1959, naquela que era a Praceta da Travessa São Domingos de Benfica, para homenagear o militar e político que foi Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa.

José Vicente de Freitas (Calheta/22.01.1869 – 06.09.1952/Lisboa) que hoje completaria o seu 145º aniversário, participou no Corpo Expedicionário Português como segundo-comandante de brigada e assim se bateu na Flandres, em 1917. Nas suas funções militares destaque-se também que coordenou trabalhos de cartografia, entre os quais a realização da Planta de Lisboa com todos os melhoramentos feitos e projectados na cidade, cerca de 1910.

De formação republicana, este oficial  iniciou a sua participação política como governador civil do Funchal em 1915 e, como deputado pela Madeira em 1918. Depois, integrou o grupo republicano apoiante do 28 de Maio, com António Osório, João Tamagnini Barbosa, Pestana Lopes e Ferreira Martins e foi Ministro do Interior (26 de Agosto de 1927) e presidente do Conselho de Ministros (de 18 de Abril de 1928 a 8 de Julho de 1929), acumulando com a pasta do Interior. Foi ainda ministro das Finanças interino (de 18 a 26 de Abril de 1928), sendo substituído, formalmente a seu convite, por António de Oliveira Salazar.

Presidiu à comissão administrativa da Câmara Municipal de Lisboa, entre Julho de 1926 e 1933, ano em que foi destituído por Salazar. Ainda como presidente da Câmara de Municipal de Lisboa, com o tenente-coronel Pestana de Vasconcelos que dirigia o jornal O Portugal, criou uma União Nacional Republicana, inspirada no modelo espanhol da União Patriótica de Primo de Rivera e, tentou também, com os oficiais mais jovens que tinham participado no golpe do 28 de Maio de 1926, criar a Liga Nacional 28 de Maio. Mas em 1933, José Vicente de Freitas publicou n’O Século de 12 de Fevereiro uma proposta alternativa  à de Oliveira Salazar, defendendo um ordenamento constitucional que concluísse o movimento militar e defendesse a República e a democracia, condenando vivamente o regime de partido único que se preparava.

O General Vicente de Freitas seguiu a sua carreira militar como comandante da Academia Militar (1935–1939), autor de manuais escolares de Desenho para o ensino secundário e organizador de cursos para a escola de cabos e sargentos do Exército. Já antes,  a partir de 1895, havia sido professor na Escola Nacional de Lisboa,  instituição que dirigiu depois de 1917.

0 General Jose Vicente de Freitas