António Lopes Ribeiro do «Pai Tirano» numa Rua do Lumiar

António Lopes Ribeiro no centro da foto com todo o elenco e técnicos no 1º dia de filmagens de O Pai Tirano (Foto: Animatógrafo, 14 de julho de 1941)

António Lopes Ribeiro, o realizador de  filmes humorísticos como O Pai Tirano ou A Vizinha do Lado e, irmão mais velho de Francisco Ribeiro (conhecido como Ribeirinho), desde a publicação do Edital municipal de 31 de maio de 2000 que dá o seu nome à Rua A da Urbanização do Parque das Conchas, no Lumiar, nas proximidades do local onde se sediou a sua produtora, que ficava fronteira aos estúdios da Tobis Portuguesa.

Este topónimo surgiu em resultado de uma sugestão inserta na moção de pesar apresentada em 1995 pelo então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Jorge Sampaio, e aprovada por unanimidade. Refira-se que nesta mesma freguesia a toponímia consagrou igualmente a Tobis Portuguesa (06/01/1993), bem como os cineastas Manuel Costa e Silva ( 31/05/2000) e Manuel Guimarães (10/04/2007).

Freguesia do Lumiar
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Pioneiro do cinema sonoro português, o alfacinha António Filipe Lopes Ribeiro (Lisboa/16.04.1908 – 14.04.1995/Lisboa) estreou-se  aos vinte anos de idade, em 1928, com o documentário Bailando ao Sol, alicerçado no que aprendera nas visitas que fizera aos estúdios alemães e russos, no final do período mudo. Sobre a cidade Lisboa fixou-nos na retina muitas curtas metragens, como Exposição do Mundo Português (1941), Cortejo Histórico de Lisboa (1947), Lisboa de Hoje e de Amanhã (1948), Lisboa vista pelas suas crianças (1958) e as longas-metragens que ao longo de gerações se mantiveram populares como O Pai Tirano (1941) ou A Vizinha do Lado (1945).

Da sua extensa filmografia contam-se ainda inúmeros documentários encomendados por organismos estatais e pela Câmara Municipal de Lisboa e outros filmes de carácter mais dramático como Gado Bravo (1934), A Revolução de Maio (1937), Amor de Perdição (1943),  Frei Luís de Sousa (1950) e O Primo Basílio (1959). Lopes Ribeiro foi também produtor de filmes, como de Aniki-Bobó de Manoel de Oliveira, de O Pátio das Cantigas do seu irmão Ribeirinho, ambos em 1942,  e também de Camões (1946), de Leitão de Barros.

António Lopes Ribeiro desempenhou ainda funções de presidente do Sindicato dos Profissionais de Cinema (1938 a 1943 e em 1957); de diretor de jornais de atualidades como o Jornal Português e Imagens de Portugal; de fundador do Senhor Doutor (1932) e das revistas Imagem (1928), Kino (1930) e Animatógrafo (1933); para além de crítico cinematográfico, sob o pseudónimo de «Retardador», onde se destaca a sua 1ª publicada no Sempre Fixe, a sua página no Diário de Lisboa a partir de 1927 e que foi a primeira num jornal diário, para além de ter representado Portugal no IV Congresso da Crítica, em 1937, em Paris. Refira-se ainda que realizou muitas traduções e da sua própria lavra publicou as coletâneas de poemas O Livro de Aventuras (1939) e O Livro das Histórias (1940), bem como as compilações de crónicas Esta Pressa de Agora (1963) e Anticoisas e Telecoisas (1971).

Homem também ligado ao teatro, Lopes Ribeiro fundou as companhias Os Comediantes  de Lisboa (1944) e Teatro do Povo (1952), sendo de realçar que foi quem apresentou na Lisboa de 1959 as primeiras peças de Ionesco. Na Rádio, foi Diretor de Música Mecânica da Emissora Nacional (de 1935 a 1937) e exibiu um programa semanal dedicado ao jazz. Na televisão, António Lopes Ribeiro foi o rosto do programa Museu do Cinema que de 1957 a 1974 passou semanalmente na RTP, acompanhado ao piano por António Melo, e que regressou em 1982. Era também ele o autor do poema A Procissão declamado e popularizado na RTP por João Villaret. E ainda de 1959 até aos inícios da década de 70 era responsável pela tradução e legendagem de filmes estrangeiros. Finalmente, em 1984 e 1985 integrou o elenco de Chuva na Areia, a 2ª telenovela portuguesa.

António Lopes Ribeiro recebeu o Prémio Paz dos Reis pelo documentário A Inauguração do Estádio Nacional (1944), o Grande Prémio do Secretariado Nacional de Informação por A Vizinha do Lado (1945), a Ordem de Santiago e Espada (1940) e a Ordem de Mérito Civil de Espanha. O seu nome está também presente na toponímia dos concelhos de Amadora, Oeiras (Queijas), Portimão, Seixal (Corroios) e Sintra (Rio de Mouro).

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Eugénio Salvador, o ator-dançarino e futebolista

Freguesia de Carnide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Eugénio Salvador, que trabalhou sobretudo em teatro de comédia,  foi também ator de cinema no período longo de 1930 a 1992, em cerca de uma vintena de filmes, e desde a publicação do Edital municipal de 7 de setembro de 1993 que é o topónimo da que era a Rua A do Bairro da Horta Nova, no troço compreendido entre o lote 11 e a Estrada do Paço do Lumiar.

Foto: Artur Bourdain de Macedo, Arquivo Municipal de Lisboa

Eugénio Salvador Marques da Silva (Lisboa/31.03.1908 – 01.01.1992/Lisboa), filho do cenógrafo e empresário teatral Luís Salvador Marques da Silva e de Eugénia Maria Dias,  formou-se em Arte de Representar no Conservatório de Lisboa,  e depois especializou-se em comédia, o género que nunca mais abandonou, para além de ser dançarino e coreógrafo. Fez a sua estreia profissional em 1928, no Teatro Maria Vitória, na peça O Grão de Bico,   construindo-se como uma figura importante do teatro de revista, conseguindo ser compère, ator, encenador, diretor de cena, bailarino, ensaiador coreográfico e artista de variedades. No teatro, somou mais de 100 peças na sua carreira, de 1949 a 1988.

Destaque-se que em 1951, para a inauguração do Teatro Monumental, com a opereta de Strauss As três valsas, Eugénio Salvador para além de ator foi o ensaiador coreográfico, nomeadamente de Laura Alves, assim como seis anos depois, foi o encenador da comédia musical João Valentão (1957), onde dirigiu Mariana Vilar. Passou também pela televisão em programas como A TV Através dos Tempos ou A Feira.

No cinema, Eugénio Salvador começou logo em 1930,  numa rábula com Chaby Pinheiro e Beatriz Costa no Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros, realizador com quem também trabalhou no Maria Papoila (1937). Depois, integrou os elencos de mais cerca de 20 longas-metragens, em que contracenou diversas vezes com Milú e António Silva. Esteve em Cais do Sodré (1946) de Alejandro Perla. Com Perdigão Queiroga,  fez Fado, História d’uma Cantadeira (1948), Sonhar É Fácil (1951), Madragoa (1952), Os Três da Vida Airada (1952) em que também coreografou, As Pupilas do Senhor Reitor (1961) e O Parque das Ilusões (1963). Foi ator de Sol e Touros (1949) de José Buchs, de Eram Duzentos Irmãos (1952) de Armando Vieira Pinto, Um Marido Solteiro (1952) de Fernando Garcia, O Comissário de Polícia (1953) de Constantino Esteves,  Vidas Sem Rumo (1956) de Manuel Guimarães, Aqui Há Fantasmas (1964) e Bonança & C.a (1969), ambos de Pedro Martins e por último, em Aqui D’El Rei! (1992) de António Pedro Vasconcelos. Refira-se que com Henrique Campos fez ainda Duas Causas (1953), A Maluquinha de Arroios (1970) e O Destino Marca a Hora (1970).

Refira-se ainda que Eugénio Salvador foi também um exímio dançarino, que ficou conhecido a partir da sua parelha Lina & Salvador, que por exemplo, se exibia nos intervalos das sessões de filmes duplos, no Cinema Éden. Casou com o seu par, Lina Duval, de quem teve um filho (António Manuel Salvador Marques). Mais tarde, foi casado com a atriz Odete Antunes.

Por último, diga-se que o futebol, também fez parte da vida de Eugénio Salvador, jogando a extremo-esquerdo desde a  inauguração do Campo das Amoreiras do Sport Lisboa e Benfica, em 13 de dezembro de 1925. Nesse  clube fez 43 jogos e marcou 20 golos, entre outubro de 1927 e junho de 1934.

Eugénio Salvador é também topónimo nos concelhos de Almada (uma Rua, uma Travessa e uma Praceta na Charneca de Caparica), Amadora (São Brás), Cascais (Parede), Montijo, Seixal (Arrentela), Odivelas (Pontinha) e Oeiras (Queijas).

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Avenida Carlos Pinhão, entre Beato e Marvila

Freguesia de Marvila, Areeiro e Beato
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O jornalista desportivo, cronista de Lisboa e escritor, Carlos Pinhão nasceu no Beato e em criança circulou por essa freguesia e pela vizinha Marvila, pelo que depois da autarquia lisboeta ter decidido dar o seu nome a uma artéria lisboeta na reunião de câmara de 20 de janeiro de 1993, a Junta de Freguesia de Marvila propôs que fosse atribuído a uma das novas artérias em construção naquela Freguesia e, assim o  Edital municipal de 12 de abril de 1995 atribuiu à a Via Central de Chelas-Olaias o topónimo Avenida Carlos Pinhão.

A Bola, 16 de junho de 1993

Carlos Alberto da Silva Pinhão (Lisboa/04.05.1925 – 15.01.1993/Lisboa) nasceu na freguesia do Beato e chegou a frequentar o curso de Direito na Universidade de Lisboa até ao terceiro ano, mas abandonou quando corria o ano de 1944, para aceitar um lugar no jornal desportivo Os Sports, que viria a dar origem ao Mundo Desportivo. Onze anos depois, em 1955, tornou-se redator de A Bola e permaneceu na «Bíblia dos jornais portugueses» até morrer, mostrando a sua mestria na arte de escrever bem como um sorriso cúmplice com os leitores na sua prosa clara. Ficou célebre a sua rubrica «A duas colunas» e foi considerado o responsável pela introdução da crónica e do conto no jornalismo desportivo. Na notícia da morte de Carlos Pinhão, Vítor Serpa, diretor d’A Bola afirmou que «os textos do Pinhão eram peças notáveis de diálogos permanentes com o leitor».

Pinhão também colaborou com outros títulos nacionais como o Diário Popular, Século Ilustrado e Público, bem como na imprensa regional, para além de ter sido correspondente dos  jornais Marca (Espanha), France Soir (França) e Les Sports (Bélgica).

Carlos Pinhão foi também cronista, poeta e prosador, escolhendo o desporto e a cidade de Lisboa como os seus temas principais. Começou por publicar títulos com humor como Entrevistas sem Entrevistado – com prefácio de Raul Solnado -, O Meu Barbeiro (1968) ou Londres sem Tamisa Ou O Homem Que Dormia No Chão (1969). Na temática desportiva, publicou Os Magriços, (1966), Futebol de A a Z (1976), O Lançamento do Díscolo – Realidade e Alienação em Desporto (1980), assim como Carlos Lopes (1992) e Humberto Coelho: narrativa (1993), com desenhos de João Fazenda.

O seu primeiro livro publicado para crianças foi Bichos de Abril (1977), que teve êxito imediato. Depois deu a lume, entre muitos, Gaivotas Com Óculos (1979), O Professor do Pijama Azul (1981), uma alegoria divertida contra o racismo intitulada Era uma vez um Coelho Francês (1981), A Onda Grande e Boa (1982), O Coelho Atleta e a sua Escola de Desporto (1983), O Senhor que não Sabia Contar Histórias  e Vovô Bicho(ambos em 1984), Lua Não, Muito Obrigado (1986) ou Sete Setas (1987), somando mais de uma dezena de livros para crianças. O último foi Abril Futebol Clube (1991). Postumamente, em 1994, saiu ainda João Campeão. Carlos Pinhão havia sonhado em criar uma coleção para o desporto intitulada «Agora Que Sou Crescido» mas faleceu antes de a concretizar.

Refira-se que a também jornalista desportiva Leonor Pinhão é sua filha.

Carlos Pinhão foi agraciado com o Prémio Júlio César Machado pelas suas crónicas no Público sobre Lisboa e a título póstumo, com a Medalha de Mérito Desportivo do Ministério da Educação ( 2 de fevereiro de 1993), o Grau de Comendador da Ordem de Mérito  (9 de junho de 1993) e a Medalha de Ouro do Concelho de Oeiras (1 de junho de 1994). Pinhão foi também um dos a quem José do Carmo Francisco dedicou Os Guarda-Redes Morrem ao Domingo (2002) e o seu nome integra ainda a toponímia da Amadora, Azeitão (Setúbal),  Beja, Corroios (Seixal), Évora, Mem Martins e Queluz (ambos em Sintra), Samora Correia (Benavente), Vialonga (Vila Franca de Xira).

A Rua Gervásio Lobato do humor de «Lisboa em Camisa»

Freguesia de Campo de Ourique
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A memória do alfacinha autor de Lisboa em Camisa, célebre na cidade-capital oitocentista pelo riso que provocava, está desde 1932 numa artéria de  Campo de Ourique através da Rua Gervásio Lobato, que liga a Estrada dos Prazeres à Rua Freitas Gazul, vizinha do lado do arruamento de outro nome do humor em palco que é a Rua André Brun, ambos topónimos saídos do mesmo Edital municipal de 12 de março  de 1932, cabendo a Gervásio a Rua Particular nº 1 aos Prazeres  e a André a Rua Particular nº 2 aos Prazeres.

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De seu nome completo Gervásio Jorge Gonçalves Lobato (Lisboa/23.04.1850 – 26.05.1895) ficou muito conhecido no seu tempo, pelas plateias do Teatro Ginásio e pelo acontecimento que foi para a comédia oitocentista o seu Lisboa em Camisa, publicado  primeiro em folhetim de jornal – no jornal O Progresso (de 11 de novembro de 1880 a 1 de março de 1881) e depois, no jornal O Fígaro (de 5 de fevereiro a 28 de maio de 1882)- e só depois em livro, publicado em 1882 pela Empreza Litteraria de Lisboa, no qual fazia humor com os  ridículos e manias da pequena e média burguesia lisboeta do fim do século que circulava pelas ruas do Chiado e da Baixa.

Contudo, Gervásio Lobato também trabalhou com afinco como funcionário público, jornalista e professor de Declamação na Escola Dramática do Conservatório de Lisboa. Gervásio Lobato concluíra o Curso Superior de Letras e a cadeira de Direito Internacional na Escola Naval com o intuito de seguir a carreira diplomática mas a sua vocação era o jornalismo e permaneceu em Lisboa, tanto mais que  aos 15 anos já havia fundado com alguns condiscípulos um jornal literário, A Voz Académica. Garantia a base do seu sustento como segundo oficial da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino mas com Pinheiro Chagas fundou o Diário da Manhã – antes era A Discussão e foi depois Correio da Manhã-, onde se distinguiu como folhetinista, género muito em voga na época, tendo sido A Comédia de Lisboa o título do primeiro que publicou, em 1878, ainda com o pseudónimo Gilberto.

Ao longo da vida colaborou em inúmeros periódicos  como Braz TizanaCorreio da NoiteDiário IlustradoDiário de NotíciasGazeta de Portugal, Gazeta Literária, A Illustração PortuguesaRecreioRibaltas e GambiarrasO Século, A Semana de Lisboa, para além de ter dirigido a revista O Occidente, ou fundado com Teixeira de Vasconcelos e outros o Jornal da Noite, assim como O Contemporâneo com Salvador Marques e Sousa Bastos.

Como escritor,  Gervásio Lobato construiu-se como aquele que nas suas obras retratava a vida na capital portuguesa nessa época, destacando-se Lisboa em Camisa, que o realizador Herlander Peyroteo adaptou para uma série de televisão, com 15 episódios, em 1960. A sua fama cresceu por ser o dramaturgo de comédias que agradavam ao público do Teatro do Ginásio- o nascido  Theatro do Gymnasio, em 1846, na Rua Nova da Trindade-, no qual iam surgindo ano após ano, interpretadas por grandes valores como o ator Vale. Também foi um grande êxito O Comissário de Polícia em exibição em 1890, oferecendo o Teatro Ginásio ao público um cartaz da peça da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro e que foi adaptada ao cinema pela Invicta Films (em 1914) e por Constantino Esteves (em 1953). Foi até na representação de O Festim de Baltasar (1892), com fins caritativos, no São Carlos, que Gervásio Lobato foi agraciado pelo Rei com o oficialato da Ordem de Santiago.

A sua primeira comédia foi o O Rapto de um Noivo, em 1 acto, feita com Maximiliano de Azevedo, que subiu à cena no Teatro Dona Maria II. Seguiram-se em 1873, já para o Ginásio, Debaixo da Máscara e também No Campo. Depois, foram inúmeras peças originais suas, adaptações ou traduções que encheram os palcos portugueses do último quartel do séc. XIX, contabilizando Luiz Francisco Rebello 25 peças originais e 115 traduções e imitações, em pouco mais de 20 anos, como Sua Excelência (1884) ou As Noivas do Eneias (1892), para além de operetas como Cocó , Ranheta e Facada. Também publicou novelas e romances de que salientamos A Primeira Confessada (1881), Os Invisíveis de Lisboa (1886-1887) que teve êxito também no Brasil, Os Mistérios do Porto (1890-1891) ou O Grande Circo (1893).

Na sua vida particular, casou com Maria das Dores Pereira d’Eça Albuquerque, de quem teve filhas e residiu durante muitos anos na Travessa do Convento das Bernardas, na Madragoa, assim como na Travessa do Pombal, que em 29/12/1880 passou a ser a Rua da Imprensa Nacional. Faleceu aos 45 anos, na sua casa na Rua das Amoreiras, nº 102.

Gervásio Lobato está também presente na toponímia dos concelhos de Almada (Charneca da Caparica), Seixal (Arrentela)e Sintra (Massamá).

Freguesia de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do pintor de Lisboa, Carlos Botelho

Freguesia do Beato
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Carlos Botelho fez de Lisboa a protagonista central das suas telas  e no próprio ano em que faleceu a edilidade lisboeta colocou-o como topónimo de uma Rua da freguesia do Beato, que era identificada como arruamento D do Plano de Reconversão Urbana da Curraleira-Embrechados, através do Edital municipal de 16 de novembro de 1982. A artéria foi aumentada em 2008,  com a incorporação da Rua 8 à Rua Carlos Botelho, através do Edital municipal de 3 de julho.

Carlos Botelho em 1968
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, Casa Fotográfica Garcia Nunes)

Carlos António Teixeira Basto Nunes Botelho (Lisboa/18.09.1894 – 18.08.1982/Lisboa) foi um artista multifacetado que trabalhou em cerâmica, banda desenhada, pintura, ilustração, caricatura. Filho único de pais músicos, Carlos Botelho aprendeu a tocar violino. Estudou no Liceu Pedro Nunes onde em 1918 fez a sua primeira exposição individual e no ano seguinte inscreveu-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, que abandonou cerca de um ano depois, avançando como autodidata tal como Bernardo Marques ou Mário Eloy, outros nomes da sua geração.

Em 1924 empregou-se numa fábrica de cerâmica mas alguns êxitos em concursos de cartazes, levou-o em 1926 a dedicar-se exclusivamente à banda desenhada, à caricatura e à ilustração. Entre 1926 e 1929 produziu com regularidade pranchas de banda desenhada para o semanário infantil ABC-zinho. Também a partir de 1928 e durante 22 anos fez a página humorística Ecos da Semana, no semanário Sempre Fixe.

Em 1929 Botelho partiu para Paris, para frequentar as Academias Livres Grande Chaumière e Colarossi e a partir daí optou pela pintura, sendo desse ano o seu primeiro quadro de Lisboa: Uma vista do Zimbório da Basílica da Estrela. Nos anos 30, passou a integrar a equipa de decoradores do Secretariado de Propaganda Nacional, com Bernardo Marques, José Rocha, Tom e Fred Kradolfer, trabalhando na participação portuguesa em grandes mostras internacionais, como Paris, Lyon, Nova Iorque e São Francisco.  O ano de 1930 foi também aquele em que instalou o seu atelier na Costa do Castelo, na casa a que a sua mulher – Beatriz Santos Botelho com quem casara em 1922 e de quem teve dois filhos – tinha direito pela função de professora do ensino primário, e onde viveu até 1949. Em 1933 foi assistente de realização de Cottinelli Telmo no filme A Canção de Lisboa e cinco anos depois, em 1938 foi galardoado com o Prémio Sousa-Cardoso na Exposição de Arte Moderna do SNI pelo retrato de Músico Carlos Botelho (ou Meu Pai) e no seguinte  o 1º Prémio na Exposição Internacional de Arte Contemporânea de S. Francisco, o que lhe permitiu construir a casa-atelier no Buzano (Parede) onde se instalará em 1949.

Em 1940 também esteve na equipa de decoradores da Exposição do Mundo Português e recebeu o Prémio Columbano, para além de  conceber cenários e figurinos para a Companhia de bailados portugueses Verde Gaio, sendo a partir desta década que a paisagem urbana passou a ter um lugar central na sua obra, com Lisboa como tema primordial, que na década de 50 comportará experiências abstratizantes e será quase o seu único tema nas décadas seguintes.

Em 1955 voltou a residir em Lisboa, no então novo bairro do Areeiro e recebeu uma Menção de Honra por ocasião da III Bienal de S. Paulo, repetindo o prémio de 1951, a que somou em 1961, o 1º Prémio de Pintura na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.

A obra de Carlos Botelho está representado em inúmeras colecções públicas e privadas, como no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian ou no Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Câmara Municipal de Lisboa instituiu um prémio com o seu nome para a melhor pintura sobre a cidade de Lisboa.

Carlos Botelho é ainda topónimo de uma Avenida na Brandoa, de um Largo em Linda-a-Velha, de Pracetas em Cascais, Corroios e São João da Talha, bem como de Ruas na Charneca da Caparica,  em Famões, na Parede, em Rio de Mouro e em São Domingos de Rana.

Freguesia do Beato
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Diogo de Macedo das Tágides da Fonte Monumental da Alameda, numa Rua do Rego

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Diogo de Macedo, o autor do grupo escultórico do Tejo e das Tágides da Fonte Monumental da Alameda Dom Afonso Henriques, ficou consagrado numa Rua do Bairro do Rego desde 1965, zona em cuja toponímia já se encontravam diversos artistas plásticos.

Na reunião da Comissão de Arte e Arqueologia municipal de 31 de outubro de 1962 foi sugerido pelo Sr. Acúrsio Pereira a atribuição do nome do escultor Diogo de Macedo, falecido três anos antes, a uma artéria da capital, oportunidade que se concretizou quando um requerimento da Domus Nostra – Residência de Estudantes solicitou denominação para o arruamento projetado à Rua Jorge Afonso, que pelo Edital municipal de 11 de março de 1965 passou a ser a Rua Diogo de Macedo, definida entre e Avenida Álvaro Pais e a Praça Nuno Gonçalves.

Freguesia das Avenidas Novas – Placa Tipo IV
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Diogo Cândido de Macedo (Vila Nova de Gaia- Mafamude/22.11.1889 – 19.02.1959/Lisboa), o autor do conjunto das Tágides da Fonte Monumental da Alameda Dom Afonso Henriques, nasceu no Largo de São Sebastião, em Mafamude, e faleceu na sua casa em Lisboa, no n º 110 da Avenida António Augusto de Aguiar.

Na sua juventude, frequentava a oficina do vizinho Fernandes Caldas, mestre santeiro e imaginário, com quem aprendeu os rudimentos do desenho e modelação. Em 1902 ingressou no curso de Escultura da Academia Portuense de Belas Artes que concluiu em 1911, sendo  aluno de Desenho de José Brito e Marques de Oliveira e de António Teixeira Lopes, em Escultura. Nesse mesmo ano de 1911 partiu para Paris, onde frequentou as Academias de Montparnasse, sendo influenciado pelos escultores Bourdelle e Rodin. Em 1913 participou no Salão dos Artistas Franceses, esculpiu o busto de bronze de Camilo Castelo Branco, fez a sua primeira exposição individual, no Porto, e conseguiu o 3º prémio com a maqueta para um monumento a Camões, apresentada em Paris.

Regressou a Portugal em 1914, sendo de destacar a sua participação na I Exposição de Humoristas e Modernistas  no Porto – com desenhos assinados sob o pseudónimo de Maria Clara-, a sua Menção Honrosa de Escultura na 12ª Exposição da SNBA (ambas em 1915) e na Exposição dos Fantasistas (1916), também no Porto. Casou-se em 1919 e no ano seguinte voltou a fixar-se em Paris, fase de que se salienta o grupo escultórico L’Adieu ou Le pardon (1920).

Em 1926, estabeleceu-se definitivamente em Lisboa e publicou a sua primeira obra, 14, Cité Falguière, as suas memórias parisienses. Produziu os bustos de Sarah Afonso (1927), António Botto (1928), Antero de Quental  (1929) e Mário Eloy (1932) e em 1929, conseguiu a 2ª Medalha em Escultura na Exposição anual da SNBA. Entre estas décadas de 20 e de 30 editou as suas primeiras obras, colaborou em jornais e revistas, como no Ocidente. E de 1939 a 1940 executou o conjunto Tejo e quatro Tágides para a Fonte Monumental da Alameda Dom Afonso Henriques, bem como as esculturas do pórtico do Museu Nacional de Arte Antiga.

A sua cuja obra está representada no Museu do Chiado- Museu Nacional de Arte Contemporânea, Soares dos Reis (Porto), Casa-Museu Camilo Castelo Branco (S. Miguel de Seide), Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian,  Museu do Abade de Baçal (Bragança), Museu Grão Vasco (Viseu), Museu João de Deus, Museu José Malhoa (Caldas da Rainha), Museu Nacional João de Castilho (Tomar), Museu Santos Rocha (Figueira da Foz).

Em 1941, após enviuvar renunciou à escultura e passou a dedicar-se à escrita de biografias de artistas, estudos e  prefácios de catálogos de exposições de que se salientam as monografias sobre Columbano (1952), Domingos Sequeira (1956), Mário Eloy e Machado de Castro (1958). Deixou inúmeros artigos em publicações como o Boletim da Academia Nacional de Belas-ArtesContemporâneaMocidade Portuguesa Feminina, Mundo Gráfico, Mundo Literário, OcidentePanorama ou The Connoisseur. Diogo de Macedo esteve também ligado à Academia Nacional de Belas Artes, primeiro como  vogal (1938) e depois como secretário (1948).

A  partir de 1945 e até ao final da vida, dirigiu o Museu Nacional de Arte Contemporânea (hoje Museu do Chiado), onde iniciou a prática de o abrir diariamente ao público, com entrada independente pela Rua Serpa Pinto, a que somou um programa de exposições temporárias e pequenas monografias editadas pelo museu sobre artistas representativos da sua coleção.

Em 1946 voltou a casar,  com Eva Botelho Arruda, e dois anos depois foi incumbido pelo Ministério das Colónias de dirigir e acompanhar uma exposição itinerante de Artes por Angola e Moçambique. Em 1949, promoveu também uma Semana Cultural Portuguesa em Santiago de Compostela. Nos anos cinquenta foi convidado a organizar os processos de classificação dos imóveis de interesse público e voltou a a apresentar obras suas na Bienal de Veneza (1950) ou no Pavilhão Português da Exposição Internacional de Bruxelas (1958).

Em sua homenagem,  a Escola Secundária de Olival, em Vila Nova de Gaia, passou a designar-se Escola Secundária Diogo de Macedo (em 1995) e ficou também perpetuado na toponímia do Porto, de Mafamude e de Santa Marinha (Vila Nova de Gaia), da Arrentela (Seixal) e de Sesimbra.

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O azulejador e caricaturista Jorge Colaço numa Rua de Alvalade

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jorge Colaço, da azulejaria azul e branca e das caricaturas do Thalassa, cujo 150º aniversário este ano se completa, desde 1957 dá nome à Rua de Alvalade que era o troço da Estrada das Amoreiras a norte da Avenida do Brasil até à projetada Segunda Circular.

Jorge Colaço foi inscrito na toponímia de Lisboa pelo Edital  municipal de 17 de maio de 1957, cerca de nove anos depois da sua mulher, Branca de Gonta Colaço, que era também  um topónimo do Bairro de Alvalade desde a publicação do Edital municipal de 22 de julho de 1948 .  A sugestão para homenagear Jorge Colaço surgiu do seu filho, Tomás Ribeiro Colaço, em carta datada de 29/11/1956 dirigida ao Presidente da edilidade lisboeta.

«Ilustração Portuguesa» de 20 de dezembro de 1905

Jorge Daniel Rey Colaço (Tânger/26.02.1868 – 23.08.1942/Caxias),  notabilizou-se sobretudo como azulejador e caricaturista, bem como enquanto Presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, no período de 1906 a 1910, por ter sido, em grande parte,  o obreiro da construção da sede.

Nascido em Tânger, no Consulado de Portugal , por ser filho do escritor e diplomata José Daniel Colaço ( 1.º barão de Colaço e Macnamara) e de Virgínia Maria Clara Vitória Raimunda Rey Colaço, sendo assim também primo de Amélia Rey Colaço ( mais nova 30 anos). Estudou arte em Lisboa, Madrid e Paris, onde foi discípulo de Ferdinand Cormon, após o que trabalhou para a Fábrica de Louça de Sacavém até 1923, fazendo ressurgir o azulejo artístico em Portugal. A partir de 1924 e até à data da sua morte passou a colaborar com a Fábrica de Cerâmica Lusitânia,  de Coimbra. Inovador nos processos foi dos primeiros a usar a  técnica da serigrafia nos azulejos mas, distinguiu-se ainda mais pela transposição para o azulejo de efeitos aguarelados ou semelhantes aos da pintura a óleo graças a uma segunda cozedura. A azulejaria de Jorge Colaço foi preferencialmente em azul e branco e tradicionalista, com painéis historiados de azulejaria e exaltação da  vida rural.

Das muitas centenas de painéis de azulejos seus espalhados pelo país e até pelo mundo, cuja inventariação ainda está a ser completada, destacamos em Lisboa, os da Casa do Alentejo no Palácio Alverca (1918), do Pavilhão dos Desportos- Pavilhão Carlos Lopes (1922), da Academia Militar no palácio da Bemposta, da  pastelaria A Merendinha na Rua dos Condes de Monsanto, na sede da Cruz Vermelha Portuguesa no Palácio dos Condes de Óbidos e do desaparecido Mercado da Fruta do Cais do Sodré. No resto do país salientamos os painéis das muitas estações e apeadeiros de caminho de ferro que são da sua autoria, como os da Estação de São Bento (1903) no Porto  ou os da Estação de Beja (1940), os do Aquário Vasco da Gama (1898) no Dafundo, da decoração do Palace-Hotel do Buçaco (1907), do revestimento exterior da Igreja dos Congregados (1929) no Porto, da Casa Baeta em Olhão (1930), bem como a nível internacional o seu tríptico no Palácio de Windsor (Inglaterra), o painel na Sociedade das Nações em Genebra (Suíça), na Maternidade de Buenos Aires (Argentina) e em diversas residências no Brasil, Cuba e Uruguai.

Jorge Colaço usou também o seu exímio traço de  desenhador na caricatura e foi galardoado com a 1ª medalha em caricatura da Sociedade Nacional de Belas Artes e a medalha de honra na Exposição Portuguesa no Rio de Janeiro (1908). Em 1913, com Alfredo Lamas, Chrispim ( E. Severim de Azevedo) e João Martins,  fundou o semanário humorístico O Thalassa, com sede na Rua da Alegria nº 26 e dirigiu-o na totalidade a partir de 13 de fevereiro de 1914 e até ao seu 100º e último número de 14 de maio de 1915. Também aqui privilegiava a caricatura política, nitidamente influenciado por Bordalo Pinheiro. Colaborou ainda com os jornais Branco e Negro (1896 – 1898) , O Branco e Negro (1899) e a revista Ilustração Portuguesa, a partir de 1903.

Freguesia de Alvalade
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Fernando Assis Pacheco em Campo de Ourique

capa da brochura

Fernando Assis Pacheco celebraria hoje o seu 79º aniversário e, Lisboa continua a guardar a memória deste jornalista e escritor, numa rua de Campo de Ourique, desde que o Edital de 9 de fevereiro de 1999 atribuiu o seu nome à Rua Particular à Rua Saraiva de Carvalho.

Freguesia de Campo de Ourique (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Campo de Ourique
(Foto: Sérgio Dias)

Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco (Coimbra/01.02.1937 – 30.11.1995/Lisboa) foi um jornalista, escritor, crítico literário, tradutor e apaixonado da arte de viver que residiu mais de trinta anos na Travessa do Patrocínio.

Como jornalista, Assis era capaz de arrancar histórias ao quotidiano e transformá-las em crónicas brilhantes, tendo deixado a sua marca inconfundível na imprensa escrita em títulos como o Diário de Lisboa, o República, o JL-Jornal de Letras, o Artes e Ideias, o Musicalíssimo, a revista Visão, bem como no Se7e onde também foi diretor-adjunto  e, n’ O Jornal onde acumulou com as funções de Chefe de Redação e de critico literário.

A sua primeira obra Cuidar dos Vivos (1963), um conjunto de poemas de protesto político e cívico, publicada com o patrocínio paterno, já comportava o que serão os seus temas na poesia e na ficção: a experiência da Guerra Colonial e a realidade social e política. Na sua obra somou a poesia de Câu Kiên: Um Resumo  (1972) reeditado em 1976 como Catalabanza Quilolo e Volta, Memórias do Contencioso (1976, com edição definitiva em 1980), Siquer este refúgio (1978), Enquanto o autor fuma um caricoço, seguido de Os Sons que passam (1978), A Profissão Dominante (1982), Variações em Sousa e Nausicaah! (ambos em 1984), A Bela do Bairro e outros poemas (1986), a antologia  Musa Irregular  (1991) ou a ficção de Walt  (1978) bem como Os Trabalhos e Paixões de Benito Prada (1993), assim como as edições publicadas postumamente como a poesia de Respiração Assistida (2003), as crónicas de futebol publicadas no jornal Record em 1972 com o título de Memórias de um Craque  (2005) e o recente Bronco Angel, o cow-boy analfabeto (2015), fascículos originalmente escritos semanalmente para o Bisnau sob o pseudónimo de William Faulkingway.

Fernando Assis Pacheco,  filho de José V. M. Assis Pacheco e Maria da Conceição Mendes de Assis Pacheco, casou em 4 de fevereiro de 1963 com Maria do Rosário Pinto de Ruela Ramos, a sua Rosarinho, de quem teve 6 filhos: Rita, Ana, Rosa, Catarina, Bárbara e João.

Licenciado em Filologia Germânica, Assis Pacheco também traduziu obras de Pablo Neruda e de Gabriel García Marquez e foi colaborador da RTP. Nasceu e viveu a juventude em Coimbra tendo sido ator do TEUC e CITAC bem como redator da revista Vértice. Entre 1961 e 1963 cumpriu o serviço militar em Portugal mas nos dois anos seguintes foi destacado para a guerra colonial, em Angola. Conhecido pelo seu sentido de humor e bonomia ficou também popular por via da televisão, como participante do concurso A Visita da Cornélia. Amante de livros e da vida, como ele próprio referiu «contava não esticar o pernil antes de 1999, mas tropeçou sem querer» em 1995, aos 58 anos, à porta da Livraria Buchholz.

Freguesia de Campo de Ourique (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua Guilherme de Azevedo ou de João Rialto

Freguesia de Alvalade (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Foto: Sérgio Dias)

Ramalho Ortigão e Guilherme de Azevedo foram ambos colaboradores do jornal de humor político António Maria (1879 – 1898), dirigido por Rafael Bordalo Pinheiro, sendo aí João Rialto o pseudónimo de Guilherme de Azevedo e João Ribaixo o de Ramalho.

Rua Guilherme de Azevedo foi o topónimo escolhido para a Rua nº 17, fixado pelo Edital 19/07/1948, que nestes primeiros arruamentos do Bairro de Alvalade juntou ainda a Avenida da Igreja (arruamento que divide os grupos um e dois), a Rua Afonso Lopes Vieira (Rua nº 1), a Rua Branca de Gonta Colaço (Rua nº 2), a Rua Fernando Caldeira (Rua nº 3), a Rua Rosália de Castro (Rua nº 4), a Rua Alberto de Oliveira (Rua nº 5), a Rua João Lúcio (Rua nº 6), a Rua António Pusich (Rua nº 7), a Rua Fausto Guedes Teixeira (Rua nº 8), a Rua Eugénio de Castro (Rua nº 9), a Rua Violante do Céu (Rua nº 10), a Rua Fernando Pessoa (Rua nº 11), a Rua Luís Augusto Palmeirim (Rua nº 12), a Rua António Patrício (Rua nº 13), a Rua Bernarda Ferreira de Lacerda (Rua nº 14), a Rua Eduardo Vidal (Rua nº 15), a Rua Camilo Pessanha (Rua nº 16), a Rua Mário de Sá Carneiro (Rua nº 18) e a Rua Florbela Espanca (Rua nº 19).

O homenageado é Guilherme Avelino de Azevedo (Santarém/30.11.1839 – 06.04.1882/Paris), jornalista e escritor que se fixou em Lisboa em 1874 e iniciou uma cooperação com Rafael Bordalo Pinheiro tendo participado nos jornais A Lanterna Mágica (1875), O Pimpão (1876), O António Maria (1879) e o Álbum das Glórias (1880). Já antes, em 1871,  fundara em Santarém O Alfageme, onde com escândalo do país da época defendeu as ideias da Comuna de Paris. Em Lisboa, trabalhou para os jornais Diário da Manhã, Primeiro de Janeiro, O Panorama,  Jornal de Domingo, Comércio de Lisboa, A Revolução de Setembro, bem como para as revistas A Mulher, República das Letras,  Ribaltas e Gambiarras , assim como para a imprensa brasileira, tendo sido aliás nomeado pela carioca Gazeta de Notícias como seu correspondente em Paris, a partir de 1880.

Guilherme de Azevedo usou vários pseudónimos e a ferocidade do seu humor valeu-lhe a alcunha de «Diabo Coxo», em que se aludia também à sua debilidade física. Ligado à Geração de 70 foi um autor de realismo satírico e um dos representantes da poesia revolucionária introduzida em Portugal por Antero de Quental.  Publicou os primeiros versos no Almanaque de Lembranças de 1864, sob o pseudónimo de G. Chaves, a que seguiram três colectâneas: Aparições (1867), Radiações da Noite (1871) e Alma Nova (1874). Na Gazeta do Dia, em parceria com Guerra Junqueiro, manteve as crónicas humorísticas intituladas «Ziguezagues». Ainda com Junqueiro, em 1879, redigiu a sátira teatral Viagem à roda da Parvónia, que seria pateada e proibida, mas que Ramalho Ortigão considerou uma «fiel pintura dos costumes constitucionais» da época.

No ano do centenário do seu nascimento, a edilidade lisboeta promoveu uma Exposição comemorativa  no Museu Rafael Bordalo Pinheiro.

Freguesia de Alvalade (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua Pinheiro Chagas

Ilustração Portuguesa,18.04.1904

Ilustração Portuguesa,18.04.1904

A ligação de Pinheiro Chagas a Ramalho Ortigão, para além do duelo que opôs Ramalho a Quental na sequência do prefácio de Castilho à 1ª obra de Pinheiro Chagas, radica também no caso de  ambos terem sido os representantes de Portugal, em 1893, à Exposição Histórica Europeia de Madrid, por ocasião das festas comemorativas do centenário de Cristóvão Colombo.

Foi nove anos depois disso e sete anos após o falecimento de Pinheiro Chagas que este passou a dar nome à via pública entre a Rua Fontes Pereira de Melo e a Rua Marquês de Sá da Bandeira, através do Edital de 29/11/1902.

Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (Lisboa/13.11.1842-08.04.1895/Lisboa) foi sobretudo um jornalista e político que também foi também escritor. Destinado pelo major seu pai à carreira militar, o que dava azo a Eça de Queirós apodá-lo como «brigadeiro Chagas», começou no jornal A Revolução de Setembro, então dirigido por Rodrigues Sampaio e cedo fez estilo mesclando o jornalismo noticioso com a intervenção política. Foi diretor literário do Jornal do domingo e colaborou com O Panorama, Arquivo Pitoresco, Revista Contemporânea de Portugal e Brasil, Gazeta Literária do Porto, O Ocidente, A Ilustração Portuguesa, A semana de Lisboa e Branco e Negro.

A partir de 1871, após colaborar no jornal A Discussão, órgão do Partido Constituinte, iniciou-se na política sendo nesse mesmo ano deputado pela Covilhã. Em 1875, passou a ser o diretor do jornal e no ano seguinte mudou-lhe o título para Diário da Manhã. Pinheiro Chagas foi ainda mais vezes deputado, pela Covilhã (1874, 1878), por Arganil (1880, 1881), pelas Caldas da Rainha (1884) e por Viana do Castelo (1887, 1889, 1890). Retomou a sua carreira militar em 1883 – interrompida em 1866- ao ser chamado para Ministro da Marinha e Ultramar, numa fase decisiva da partilha de África pelas potências europeias. Em paralelo, e à imagem das sociedades de exploração britânicas, Pinheiro Chagas também se associou a um grupo de intelectuais e políticos para fundar a Sociedade de Geografia de Lisboa com o intuito de promover um conjunto de viagens de exploração em África e daí resultou o mapa cor-de-rosa e as viagens de, entre outros, Capelo, Ivens e Serpa Pinto.

Enquanto escritor, começou na poesia com Anjo do Lar (1863), seguida de Poema da Mocidade (1865), com um prefácio de Castilho que fez eclodir a Questão Coimbrã e até um duelo, numa polémica literária que opôs o grupo de Pinheiro Chagas, Brito Aranha, Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão à Geração de Teófilo BragaAntero de Quental e Eça de Queirós.

Da sua ficção, destaquem-se Tristezas à Beira-Mar (1866), A Flor Seca (1866), A Corte de D. João V (1873), O terramoto de Lisboa (1874) e A Mantilha de Beatriz (1878) e, na dramaturgia A Morgadinha de Valflor (1869), Deputado de Venhanós (1869), A Judia (1869), À Volta do Teatro (1868) e Quem Desdenha (1875). Também se interessou pela História e produziu trabalhos de pouco rigor e falta de erudição como Portugueses Ilustres (1869),  os seus 8 volumes da História de Portugal (1869-1874), História Alegre de Portugal (1880) e Migalhas da História de Portugal (1893).

Para além de Par do Reino, Pinheiro Chagas foi ainda nomeado presidente da Junta do Crédito Público, em agosto de 1893, cargo que ocupou até falecer.

Freguesia das Avenidas Novas (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Sérgio Dias)