A Avenida de Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável

Freguesia de Marvila (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias)

Nuno Álvares Pereira, apoiante do Mestre de Avis e participante na conquista de Ceuta,  deu nome à Avenida Vinte e Quatro de Julho por 2 meses do ano de 1932 mas acabou por fixar-se na toponímia de Lisboa numa Avenida de Marvila, como Santo Condestável, no ano de 1984.

O Edital municipal de 11 de abril de 1932 transformou a Avenida Vinte e Quatro de Julho em Avenida de Nuno Álvares, mas a modificação gerou tal polémica nos jornais que logo em junho voltou a denominar-se Avenida Vinte e Quatro de Julho.

Edital de 11.04.1932

Edital de 11.04.1932

Em 1970 o nome de Nuno Álvares Pereira regressou como hipótese de topónimo já que pela Ata da reunião da Comissão Municipal de Toponímia de 21 de outubro de 1970  sabemos que foi analisado um «Despacho de Sua Excelência o Presidente da Câmara [então o Engº Santos e Castro], solicitando parecer sobre a consagração na toponímia citadina, dos nomes de Paulo Dias de Novais, Diogo Cão, André Vidal de Negreiros, Duarte Lopes, Rui de Sousa, Oliveira Cadornega, Luís Lopes de Sequeira, Santo Condestável, Engenheiro Ferreira Dias, Aquilino Ribeiro, Manuel Teixeira Gomes, Palmira Bastos, Professor Lobo de Carvalho e Engenheiro Rodrigues de Carvalho», nomes com cuja consagração a Comissão concordou. Todavia, a falta de execução deste parecer positivo fez o assunto retornar às reuniões da Comissão de Toponímia em 18 de fevereiro de 1982 e 19 de abril de 1983, tendo sido concluído que « A Comissão é de parecer que deverá aguardar-se melhor oportunidade, em virtude de neste momento nenhum arruamento existir que possa servir condignamente para o fim em vista.» E assim, só em 16 de outubro de 1984 veio a ser possível à Comissão de Toponímia sugerir um arruamento para concretizar a atribuição do topónimo: «Despacho do Exmº Presidente da Câmara [Engº Kruz Abecasis], solicitando parecer para atribuição a uma artéria de Lisboa, de topónimo Avenida do Santo Condestável ou Avenida Nun’Álvares Pereira. Parecer : A Comissão propõe, para o efeito, a nova artéria em construção na zona de Chelas, designada provisoriamente por “Avenida Principal de Chelas” que, partindo da Avenida Marechal Gomes da Costa, segue para Sul e que, assim, passará a denominar-se Avenida do Santo Condestável», o que foi tornado público pelo Edital de 22 de outubro de 1984.

Nuno Álvares Pereira (24.06.1360-01.04.1431/Lisboa), foi o estratega militar do Mestre de Avis que viria a ser D. João I e já assim o acompanhou na conquista de Ceuta. Considerado um génio militar pelo seu desempenho nas guerras durante a crise de 1383-1385, sobretudo pela dos Atoleiros e por Aljubarrota, ficou consagrado como patrono da infantaria portuguesa.

Nuno Álvares Pereira fez ainda construir às suas próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de S. Maria da Vitória na Batalha e, em 1423, decidiu entrar no convento carmelita por ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria, e aí permaneceu até à morte. Foi beatificado como Beato Nuno de Santa Maria em 23 de janeiro de 1918 e canonizado como São Nuno em 26 de abril de 2009, sendo a sua festa a 6 de novembro.

Freguesia de Marvila

Freguesia de Marvila

A Rua Dom Duarte

Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Sérgio Dias)

Das remodelações urbanísticas operadas pelo desmantelamento do Mercado da Figueira nasceu a Rua Dom Duarte, pelo Edital municipal de 28 de agosto de 1950, passam agora 65 anos.

Da ata da reunião da Comissão Municipal de Toponímia de 3 de novembro de 1949 ficamos a saber que «Começando por visitar o local onde esteve instalado o mercado da Praça da Figueira, para se pronunciar acerca da toponímia do referido local e das ruas circunvizinhas, a Comissão, depois de várias trocas de impressões, resolveu dar o seu acordo às sugestões do Excelentíssimo Vice-Presidente da Câmara [Luís Pastor de Macedo], na reunião anterior. Assim, emitiu o parecer de que o largo onde existiu o mercado da Praça da Figueira, passe a denominar-se Praça da Figueira; que as ruas da Betesga e do Amparo sejam limitadas pela Praça da Figueira e a Praça de Dom Pedro; que o restante troço da Rua do Amparo, compreendido entre a Praça da Figueira e a Rua do Arco do Marquês do Alegrete se denomine Rua João das Regras; que a Rua dos Fanqueiros e dos Correeiros terminem na Praça da Figueira, passando o troço (…) da Rua dos Fanqueiros, compreendido entre a Praça da Figueira e a Rua da Palma, a denominar-se: Rua de Dom Duarte.»

D. Duarte (Viseu/31.10.1391 – 13.09.1438/Tomar), filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, foi o 11º rei de Portugal e o segundo da segunda dinastia, tendo ascendido ao trono com a morte de seu pai em 1433, embora desde 1412 estivesse formalmente associado à governação. Foi cognominado o Eloquente pelo seu interesse pela cultura e pelas obras que escreveu como o Leal Conselheiro e o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela. Com o apoio dos seus irmãos, Infantes D. FernandoD. Henrique, e a oposição dos irmãos D. Pedro e D. João, continuou as conquistas em Marrocos iniciadas em Ceuta onde o próprio participara, mas que saldaram pelo desastre militar de Tânger e a consequente morte do Infante D. Fernando no cativeiro. No seu curto reinado, de apenas cinco anos, convocou as Cortes por 5 vezes, alcançou-se a passagem do cabo Bojador por Gil Eanes, e ainda promulgou a Lei Mental, uma medida de centralização para defender o património da coroa.

Edital de 00/00/1950

Edital de 28/08/1950

A Avenida Infante Santo

Freguesia da Estrela (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia da Estrela
(Foto: Sérgio Dias)

D. Fernando, que ficou conhecido como o Infante Santo, tal como o seu pai, e seus irmãos D. Duarte e Infante D. Henrique, participou na conquista de Ceuta e desde 1949 que dá nome a uma Avenida lisboeta.

Conforme o Edital de 13 de maio de 1949 «o  arruamento em construção, que ligará a Avenida 24 de Julho à Estrela, compreende parte da Rua Tenente Valadim,  desde o término da curva do prédio do Estado (Instituto Maternal); parte da Travessa dos Brunos prédios nºs 22 e 24 e, ainda, a Rua da Torre da Pólvora» passou a ser a Avenida Infante Santo.

Infante Santo foi o nome pelo qual ficou conhecido D. Fernando (Santarém/29.09.1402 – 05.06.1433/Fez), 8º filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, o mais novo dos membros da Ínclita Geraçãoque faleceu em cativeiro após a tentativa da conquista de Tânger. Foi pelo seu sacrifício em nome dos interesses nacionais que ganhou o epíteto de Infante Santo.

Aos 34 anos, D. Fernando seguiu na armada que abalou do porto de Lisboa em 22 de agosto de 1437, comandada pelo seu irmão Infante D. Henrique, para conquistar Tânger. Os portugueses foram obrigados a render-se, para evitar a chacina total dos portugueses, estabeleceu-se uma rendição pela qual as forças portuguesas se retiram, deixando o infante prisioneiro como penhor da devolução de Ceuta. Faleceu ao fim de 6 anos de cativeiro e os seus restos mortais voltaram a Portugal no tempo de D. Afonso V, tendo estado depositados no convento do Salvador, em Lisboa, de onde foi transferido para o convento da Batalha, ficando na capela de D. João I, seu pai. O seu culto religioso foi aprovado em 1470 e incluído no rol dos beatos portugueses.

Edital de 00/000/1940

Edital de 13/05/1949

A maior Avenida de Lisboa

Freguesia de Santa Maria Maior, Penha de França, São Vicente, Beato, Marvila, Olivais e Parque das Nações (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior, Penha de França, São Vicente, Beato, Marvila, Olivais e Parque das Nações
(Foto: Sérgio Dias)

Passando por 7 das 24 freguesias de Lisboa – Santa Maria Maior, São Vicente, Penha de França, Beato, Marvila, Olivais e Parque das Nações- e com 12 km de comprimento a  Avenida Infante Dom Henrique é o maior arruamento de Lisboa, com topónimo nascido pelo Edital municipal de 24 de julho de 1948 na via pública projetada entre a Praça do Comércio e a então Praça de Moscavide (que é a Praça José Queirós desde 1973).

De acordo com uma informação municipal de 29/05/1952, a Rua João Evangelista desapareceu com a construção da Avenida Infante Dom Henrique,  e segundo outra, de 1953, o arruamento também foi conhecido por Avenida Marginal Oriental. Refira-se ainda que devido a alterações urbanísticas aquando da construção da Expo 98, o troço vulgarmente conhecido por Rua do Mar, também foi incluído na Avenida Infante Dom Henrique.

Este Infante, 5º filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre, já havia tido lugar na toponímia de Lisboa, dado que no ano de 1882 a Rua de São Tomé se passou a denominar Rua do Infante D. Henrique.  Foi a Comissão Municipal Consultiva de Toponímia que nas suas reuniões entre novembro de 1944 e de junho de 1948, sugeriu a transferência do topónimo  para o arruamento compreendido entre a Praça do Comércio e a Praça de Moscavide, bem como o retorno da Rua de São Tomé à sua localização inicial.

O Infante D. Henrique (Porto/04.03.1394 – 13.11.1460/Vila do Bispo) participou com seu pai e os seus irmãos Duarte e Fernando na conquista de Ceuta. Aliás, pela sua predisposição para a as artes da guerra, o seu pai responsabilizou-o pela organização da frota concentrada no Porto, com gente do Norte e das Beiras, para a expedição a Ceuta, onde aliás, após a conquista ele e o seus irmãos Duarte e Fernando foram armados cavaleiros. Em setembro desse mesmo ano de 1415 o Infante D. Henrique ficou como Duque de Viseu e Senhor da Covilhã, e no ano seguinte foi nomeado Grão-Mestre da Ordem de Cristo, encarregue de administrar o dinheiro para a defesa de Ceuta. Participou também noutras expedições ao norte de África, como Tânger (1437) em que o seu irmão Fernando ficou cativo, bem como na na conquista de Alcácer Ceguer (1458). O Infante empreendia de acordo com um espírito de cruzada mas também promoveu navegações pelo Atlântico, sonhando em conquistar as Canárias, de que resultaram a chegada a Porto Santo (1419), Madeira (1420) e Açores (1427), com o ganho do exclusivo da pesca do atum. Procurava também que os marinheiros ao seu serviço ultrapassassem o Cabo Bojador e defendia na corte que se fosse atacar Granada dominada pelo Islão. Em 1443, D. Henrique recebeu a bula que confiava o espiritual das terras recém-descobertas à Ordem de Cristo, e obteve para si próprio o exclusivo da navegação a Sul do Bojador, a título hereditário. Nos últimos anos da vida de D. Henrique, Pedro Sintra prolongou o descobrimento da costa africana desde a região guineense do Rio Geba até à Serra Leoa, que constitui o termo dos descobrimentos henriquinos. Como referiu o historiador Luís de Albuquerque, «D. Henrique não navegou muito, é certo, mas fez navegar muito os outros…»

Dom Henrique foi também  nomeado protetor da Universidade de Lisboa, em 1431, onde introduziu o estudo da Matemática e da Astronomia, razão para o seu primeiro topónimo em Lisboa ter sido junto aos Estudos Gerais.

Edital de 24/07/1948

Edital de 24/07/1948

Os 600 anos da Conquista de Ceuta pela toponímia alfacinha

Freguesias de Alcântara, Campolide, Campo de Ourique, Estrela (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias de Alcântara, Campolide, Campo de Ourique, Estrela
(Foto: Sérgio Dias)

A conquista da cidade marroquina de Ceuta pelos portugueses, ocorreu nos dias 21 e 22 de agosto de 1415, isto é, há 600 anos, pelo que a tornamos tema deste mês de Agosto.

Os próximos artigos deste mês serão também relacionados com figuras que encontramos na toponímia alfacinha e que participaram na conquista de Ceuta, a saber, o Infante D. Henrique, o Infante Santo (D. Fernando), D. Duarte e Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável.

O monarca da época, D. João I, e pai dos três primeiros homenageados referidos não se encontra na toponímia de Lisboa desde 1948. Por Edital municipal de 31/03/1932 a Avenida nº 21 do projecto aprovado em sessão de 07/04/1928 passou a denominar-se Avenida Dom João I mas, dezasseis anos depois, pelo Edital de 29/07/1948, passou a ser a Avenida Marconi.

Passa também este ano o centenário da atribuição deste topónimo que nasceu como Avenida da Conquista de Ceuta, por deliberação camarária de 4 de março de 1915, por ocasião do 500º aniversário da conquista de Ceuta. E 56 anos depois, pelo Edital de 05/01/1971, a edilidade encurtou o nome para Avenida de Ceuta, artéria que hoje se estende por 4 freguesias: Alcântara, Campolide, Campo de Ourique e Estrela.

A conquista da cidade marroquina de Ceuta, em 21 e 22 de agosto de 1415, por uma expedição comandada pelo próprio rei D. João I, é considerada como momento fundador da Expansão Portuguesa.

Com um exército de cerca de 20 mil cavaleiros e soldados portugueses, ingleses, galegos e biscainhos, incluindo a fina flor da aristocracia portuguesa como os infantes Duarte (o herdeiro do trono), Pedro e Henrique, e o Condestável Nuno Álvares Pereira, zarpou a expedição do porto de Lisboa para o Algarve no dia 25 de julho, apenas atrasada pela morte da Rainha D. Filipa, e de lá largaram nos primeiros dias de Agosto.

Ceuta foi a primeira possessão portuguesa em África, com o principal interesse económico de controlar as rotas marítimas que cruzavam o estreito e as pescas junto à costa atlântica de Marrocos, vantajosa também como oportunidade para combater o corso muçulmano. Acresce que o próprio saque de uma cidade portuária tão rica como Ceuta era apelativo, para além de reforçar a posição política e diplomática do Reino de Portugal perante a Santa Sé, pelo sucesso obtido na guerra aos muçulmanos.

Freguesias deste e do outro e mas aquele

Freguesias de Alcântara, Campolide, Campo de Ourique, Estrela