As Cruzes de Santa Maria Maior

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Mário Marzagão, 2012)

Estendendo-se do Largo da Sé à Rua de São João da Praça fica o arruamento denominado Cruzes da Sé, por se situar nas costas da Igreja de Santa Maria Maior, a Sé Catedral de Lisboa, classificada como Monumento Nacional desde 1910.

A fixação deste topónimo na memória de Lisboa tem de ser posterior à edificação da Igreja de Santa Maria Maior. Esta começou a ser construída pouco depois de 1147, ou seja, após a tomada de Lisboa por Afonso Henriques, provavelmente assente sobre uma mesquita que, por sua vez, também terá sido erguida sobre um primitivo templo cristão visigodo.

O topónimo Cruzes da Sé aparece documentalmente referido num livro de óbitos de 1690. De acordo com o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, no decorrer do século XVIII, « Fugitivamente deu-se o nome de Largo da Caridade a uma parte das Cruzes da Sé, naturalmente a que ficava e fica diante da ermida [da Caridade].» Ainda segundo este olisipógrafo terá sido arruamento onde se fixaram tintureiros como aconteceu na Calçada do Carmo, Praça da Alegria e Travessa do Desterro.

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias)

A Senhora do Monte do Carmo entre a Penha de França e a Procissão

Freguesia de Santo António
(Foto: Sérgio Dias)

A Travessa do Monte do Carmo,  paralela à Rua da Escola Politécnica, liga hoje a Rua Cecílio de Sousa [ antiga Rua da Procissão do Corpo de Deus] à Calçada Engenheiro Miguel Pais [antes Calçada de João do Rio, e ainda antes Rua e primitivamente, Calçada da Penha de França], na freguesia de Santo António.

O topónimo pode estar relacionado com uma Ermida ou com um hospício, já que o cura Joachim Ribeiro de Carvalho, na sua memória da paróquia das Mercês, datada de 26 de abril de 1758, regista que «Ha mais nesta parochia, e na rua Fermosa della [é a que hoje conhecemos como Rua de O Século] huma Ermida de Nossa Senhora do Monte do Carmo, anexa desta parochia que he de Manoel de Sampayo e Pina, cavaleiro professo na ordem de Christo, (…) e no altar mor em hum nicho se venera a imagem da May Santissima do Monte do Carmo e lhe fas a sua festa todos os annos em o seu dia e teve esta Ermida seu principio no ano de mil e sete centos e trinta e dous (…) Há mais nesta freguezia quatro hospicios (…); outro dos Religiozos de Nossa Senhora do Monte do Carmo, de Pernambuco; outro dos Religiozos de Santo Antonio do Ryo de Janeiro;(…)».

Na planta de Lisboa após a remodelação paroquial de 1770, na freguesia de «N. Sª das Merces» surge este arruamento como Rua dos Nobres, já nessa época como hoje, paralela à Rua Direita do Colégio dos Nobres [hoje, Rua da Escola Politécnica]. Mais de 40 anos depois, na planta do Duque de Wellington de 1812, a artéria já aparece referida como Senhora do Carmo, indo da Rua da Penha de França à Rua da Procissão, com indicação tracejada de que poderia continuar, assim como em novembro de 1857 a planta de Filipe Folque a designa como Travessa da Senhora do Carmo.

A partir da década de sessenta do séc. XIX, encontramos o arruamento sempre com o topónimo de Travessa do Monte do Carmo: em 1864 no prospeto do prédio que Henry Ramel pretendia aumentar no n.º 65 da rua do Monte Olivete e a fazer esquina para a Travessa do Monte do Carmo; no levantamento topográfico de Francisco Goullard de 1882; bem como na Planta Topográfica de Lisboa de 1911, de Júlio Silva Pinto e Alberto Sá Correia. A primeira Comissão Municipal de Toponímia, criada em 1943, procedeu à confirmação ou alteração dos topónimos existentes na cidade, tendo na sua reunião de 11 de dezembro de 1945 confirmado o topónimo Travessa do Monte do Carmo.

Freguesia de Santo António
(Planta: Sérgio Dias)

De Santo Antoninho e da Vitória à misteriosa Senhora da Piedade

Travessa da Piedade – Freguesia da Misericórdia
(Foto: Sérgio Dias)

A Senhora da Piedade tomou conta de duas artérias lisboetas quando a Travessa de Santo Antoninho passou a Rua Nova da Piedade assim como a Travessa da Vitória, que lhe estava próxima, foi transformada em Travessa da Piedade, embora se desconheça se tais acontecimentos se devem a uma ermida local ou a um registo de azulejos representando Nossa Senhora da Piedade, já que após o Terramoto de 1755 se tornaram comuns em Lisboa os registos de azulejos representando em conjunto Nossa Senhora da Piedade, Santo António e São Marçal e a Rua de São Marçal é uma artéria vizinha cuja denominação data pelo menos de 1769.

Outra hipótese que se pode formular para a origem do topónimo radica na proximidade à antiga Patriarcal, onde existia uma Irmandade da Senhora da Piedade desde  1716, conforme a memória do cura André de Oliveira sobre a paróquia da Patriarcal, em 7 de abril de 1758: «Consta mais da Irmandade da Senhora da Piedade, que instituhio o Padre Bernardo Pinto dos Santos no anno de mil, e sete centos, e dezaseis com hum grande numero de Irmãos.»

Sobre a Rua Nova da Piedade, que liga a Praça das Flores à Rua de São Bento, afirma Luís Pastor de Macedo que «O vulgo, durante algum tempo, designou-a por travessa de Santo Antoninho, conforme se vê num anúncio publicado em 1831 na “Gazeta de Lisboa”». Mas em 1857, no Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, de Filipe Folque,  já surge como Rua Nova da Piedade, tendo sido os passeios laterais do arruamento construídos em 1877.

Rua Nova da Piedade – Freguesia da Misericórdia
(Foto: Sérgio Dias)

Ainda segundo o olisipógrafo Pastor de Macedo, «Houve nesta rua dois moradores que não podemos deixar de mencionar: o insigne pianista e compositor João Domingos Bomtempo e o jornalista e escritor Silva Pinto, o dedicado amigo do infeliz poeta Cesário Verde».

Já a Travessa da Piedade era a Travessa da Vitória até o Governo Civil de Lisboa determinar a alteração do nome, pelo seu Edital de 1 de setembro de 1859, seguindo a sua filosofia bem manifesta nesse documento de designar as travessas com o mesmo topónimo que a rua mais próxima.

Esta artéria que liga a Travessa da Palmeira à Rua Nova da Piedade foi em parte macadamizada em março de 1875. Cinco anos depois, os moradores da Travessa da Piedade e imediações fizeram um requerimento à edilidade a pedir para a calçada ser substituída por macadame na Travessa da Piedade, desde a Rua de São Marçal até à esquina da Travessa da Palmeira, devido ao transtorno que a referida calçada causava aos condutores de gado. E doze anos depois a artéria sofreu novas obras no pavimento, seguindo um plano delineado pelos funcionários municipais Ressano Garcia e Augusto César dos Santos.

Freguesia da Misericórdia
(Planta: Sérgio Dias)

Os Remédios da Senhora da Ermida do Espírito Santo

Escadinhas dos Remédios, nos anos 40 do séc. XX
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Capela de Nossa Senhora dos Remédios, com o seu portal manuelino, edificada no séc. XVI e profundamente alterada no séc. XVIII deu origem a três topónimos nas freguesias de Santa Maria Maior e São Vicente: as Escadinhas dos Remédios, a Rua dos Remédios e a Travessa dos Remédios.

A Ermida de Nossa Senhora dos Remédios chamava-se do Espírito Santo mas Norberto de Araújo esclarece como se passou de um orago a outro ao relatar que «Nesta Ermida do Espírito Santo havia um poço, onde certo dia apareceu uma imagem de Nossa Senhora, a qual apesar de ser tirada da água, vinha enxuta em sua pintura e tecido. Milagre foi! E acorriam os pescadores e famílias a implorar à Virgem remédio a seus males, e Nossa Senhora os curava. Daí a receber a imagem a invocação de Nossa Senhora dos Remédios foi um salto.»

A Rua dos Remédios, ainda segundo Norberto de Araújo, foi até 1859 a Rua das Portas da Cruz, aludindo a uma das mais importantes portas naturais de Lisboa que ali existia, que se integrou na Cerca de D. Fernando, embora pelo menos no seu troço inicial fosse  no séc. XVIII denominada como Calçada dos Remédios.

Já as Escadinhas dos Remédios, pertença apenas da Freguesia de Santa Maria Maior, ligam o Beco da Lapa à Rua dos Remédios, desde a publicação do Edital municipal de 24/12/1879.

E finalmente, a Travessa dos Remédios que se abre junto ao nº 171 da Rua dos Remédios e não tem saída, foi o resultado de nova categoria dada pelo Edital de 13/12/1882 ao Beco dos Remédios, que ainda antes disso era conhecido como Beco do Frois.

Freguesias de Santa Maria Maior e São Vicente
(Planta: Sérgio Dias)

 

A Rua de Nossa Senhora dos Remédios das Janelas Verdes

Convento de Nossa Senhora dos Remédios, na Rua das Janelas Verdes, antes de 1895
(Foto: Francesco Rocchini, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Rua dos Remédios à Lapa, que liga a Rua da Lapa à Rua Garcia de Orta, nasceu na antiga Rua de Nossa Senhora dos Remédios, pela proximidade ao Convento do nº 118 da artéria que conhecemos como Rua das Janela Verdes.

Recuando do presente para o passado temos que foi o Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859 que denominou Rua dos Remédios da Lapa a até aí designada Rua dos Remédios, para evitar equívocos com a Rua dos Remédios em Santo Estevão. Já no século XX, o parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 14/02/1949 homologado pelo Vice-Presidente da CML tornou-a Rua dos Remédios à Lapa.

Antes desta data, de acordo com   Luís Pastor de Macedo, a artéria « Aparece em 1759 sob o nome de rua de Nossa Senhora dos Remédios, nome que depois se simplificou para rua dos Remédios.» Seguindo Gomes de Brito, o olisipógrafo adianta também que o nome desta artéria foi dado «em homenagem a Nossa Senhora dos Remédios, padroeira do convento de carmelitas descalços, fundado em 1582 na rua larga que vai de Santos para Alcântara (actual rua das Janelas Verdes)», também conhecido como Convento dos Marianos, que corresponde ao ano de morte da fundadora da Ordem, Teresa de Jesus. No entanto, o Convento dos Marianos dos Religiosos Carmelitas Descalços com a invocação de Nossa Senhora dos Remédios na sua igreja, sob o traçado de Filippo Terzi, apenas ficou concluído em 1606 e a igreja em 1613.

O movimento reformador da Ordem do Carmo foi iniciado em Espanha, em 1562, por Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, mas  em 1580 separaram-se definitivamente os Calçados dos Descalços. A nova Ordem dos Carmelitas Descalços, também conhecidos como  Frades Marianos, veio rapidamente estabelecer-se em Portugal, logo no ano de 1581, com o apoio régio de Filipe II de Espanha e I de Portugal.

O Convento dos Marianos serviu de Hospital Militar em 1856 e 1857 aquando da epidemia de febre amarela, e sucessivamente foi fábrica de velas, Igreja Presbiteriana e Igreja Evangélica Lusitânia. E na antiga cerca do Convento, no nº 2 da Rua dos Remédios à Lapa, instalou-se no primeiro quartel do séc. XX uma fábrica de pregos, acompanhando a crescente industrialização da zona nessa época.

Freguesia da Estrela
(Planta: Sérgio Dias)

 

O Dia Mundial do Teatro pelas ruas de Lisboa

Topónimos de teatro no Chiado – Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias)

Na próxima 2ª feira comemora-se o Dia Mundial do Teatro e porque não aproveitar o fim de semana para passear pelas ruas de Lisboa que estão ligadas a essa arte?…

Vamos primeiro para o Chiado, para o núcleo mais antigo, onde encontramos o Largo de São Carlos fixado após 1793, a Rua Garrett (Edital de 14/06/1880) e a Travessa dos Teatros (Edital de 18/12/1893) que regista a proximidade ao Teatro de São Carlos e ao Teatro São Luiz. E recentemente, desde a publicação do Edital de 10/11/2016, que encontramos a abrir-se para a Rua Garrett o Largo de um outro dramaturgo, Luiz Francisco Rebello. Ainda no séc. XIX, foi colocada na freguesia de Alcântara  a Rua Gil Vicente (Edital de 08/07/1892), dedicada ao pai do teatro português.

No período republicano, fixaram-se três atores da mesma família através da  Rua João Anastácio Rosa (Edital de 18/11/1913) nas freguesias de Campo de Ourique e da Estrela, da Rua Augusto Rosa (17/03/1924) em Santa Maria Maior, e da Rua Actor João Rosa (27/01/1926) no Areeiro. Pelo Edital de 30 de maio de 1914, foi a vez do conhecido ator Santos Pitorra com a sua Rua José Carlos dos Santos, em Alvalade. Dez anos depois, o Edital de 17 de outubro, colocou junto ao Teatro Nacional D. Maria II, a Praça Dom João da Câmara, conhecido dramaturgo que mereceu a legenda «Figura Gloriosa do Teatro Português/1852 – 1908». Finalmente, em 18 de junho de 1926, um Edital municipal atribuiu em Benfica a Travessa Miguel Verdial , um ator que teve participação empenhada no 31 de janeiro de 1891.

Bairro dos Atores – Freguesias de Arroios e Areeiro
(Planta: Sérgio Dias)

Em 12 de março de 1932, começou-se a construir em termos toponímicos o que se veio a chamar Bairro dos Atores, com a Rua Actor Vale, Rua Ângela Pinto, Rua Eduardo Brazão, Rua Ferreira da Silva, Rua Joaquim Costa, Rua José Ricardo, Rua Lucinda Simões, Rua Rosa Damasceno, e a Avenida Rey Colaço que nunca chegou a ser executada. A 31 de março, somaram-se no local mais 5 topónimos: a Rua Actor Isidoro, a Rua Actriz Virgínia, a Rua Lucinda do Carmo, a Rua Actor Epifânio e a Rua Rui Chianca que também não chegou a ser aberta. Mais tarde, já pelo Edital de 21 de dezembro de 1960, numa rua antes particular ficou a Rua Actor António Cardoso.  Ainda na década de trinta, por Edital de 17 de abril de 1934, ficou nas Avenidas Novas a Rua Chaby Pinheiro, um ator nascido em Lisboa.

Bairro dos Atores- Freguesia do Areeiro
(Planta: Sérgio Dias)

Nos anos sessenta, voltam a ingressar na toponímia da cidade nomes de teatro. Em 4 de março de 1961, foi a vez de ser atribuída junto à Avenida de Roma a Rua João Villaret. Em 10 de novembro de 1966, o Bairro do Charquinho, em Benfica acolheu a Rua Actriz Adelina Abranches e Rua Actriz Maria Matos, a que se juntou mais tarde, pelo Edital de 04/02/1993, a Rua Elvira Velez. Ainda em Benfica, no Bairro de Santa Cruz, foram colocados pelo Edital de 10 de abril de 1969 quatro atores: a Rua Actor Alves da Cunha, a Rua Actor Estêvão Amarante, a Rua Actor Nascimento Fernandes e a Rua Actor Vasco Santana, aos quais se juntou a Rua Actor Robles Monteiro, através do Edital de 09/02/1970.

Atrizes no Bairro do Charquinho- Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias)

Na década de 70, logo pelo Edital de  10/11/1970, ficou perpetuada Palmira Bastos na freguesia de Marvila. No ano seguinte, nasceram a Rua Actor Epifânio no Lumiar e a Rua Actor Augusto de Melo no Beato, ambos pelo Edital de 26 de março de 1971. Ainda no Lumiar, juntou-se a 22 de junho de 1971 a Rua Actor António Silva e a 25 de outubro desse mesmo ano foi a vez da Rua Teresa Gomes, em São Domingos de Benfica, freguesia que também vai alojar no ano seguinte (Edital de 05/06/1972), numa Rua, o cenógrafo Augusto Pina.

Em 1978, foi a vez do Bairro das Pedralvas, em Benfica,  acolher a Rua Augusto Costa (Costinha), a Rua Aura Abranches, a Rua Lucília Simões e a Rua Maria Lalande, através do Edital de 31 de janeiro. Neste núcleo acrescentou-se a Rua Amélia Rey Colaço , pelo Edital de 21/08/1990. Ainda através do Edital de 31 de janeiro de 1978 mas em Carnide, foi a vez de inscrever numa rua a declamadora e escritora Manuela Porto. Na Penha de França, pelo edital de 14 de maio de 1979, acomodou-se a Rua Emília Eduarda, uma atriz que foi também a primeira mulher portuguesa a escrever uma peça de revista.

Nos anos 80, Benfica recebeu a Rua Paulo Renato (Edital de 11/11/1983), Arroios a  Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) pelo Edital de 24 de abril de 1986 e as Avenidas Novas recolheram a Rua Ivone Silva e a Rua Laura Alves (ambas pelo Edital de 29/02/1988 ).

Na década de noventa, Helena Félix tomou lugar numa artéria de Alvalade através do Edital de 18/05/1992. Três anos depois, Carnide acolheu o fundador do Teatro de Carnide no Jardim Bento Martins  (Edital de 17 de fevereiro de 1995), dois dramaturgos na Rua Prista Monteiro e Rua Virgílio Martinho (Edital de 30 de setembro de 1997) e ainda, dois atores – Rua Álvaro Benamor e Rua José Gamboa – pelo Edital de 20 de Setembro de 1999. Em 16 de janeiro de 1995 foi colocada a Rua Irene Isidro no Bairro do Caramão da Ajuda. Já a freguesia de Benfica ganhou a Rua Barroso Lopes, pelo Edital de 20 de março de 1995, a mesma data em que um outro Edital faz nascer o Bairro dos Autores Teatrais no Bairro do Alfenim, em Marvila, com  o Largo Álvaro de Andrade, a Rua Bento Mântua, a Rua Ernesto Rodrigues, a Rua Lino Ferreira, a Rua Sousa Bastos, a Rua Vitoriano Braga e a Rua Xavier de Magalhães.  Já desde o Edital de 31 de agosto de 1993 que na Freguesia de Marvila estava a Rua Félix Bermudes, escritor teatral, sobretudo de comédias. Ainda nos anos 90, no Bairro do Oriente – hoje parte integrante da freguesia do Parque das Nações-, com uma inauguração oficial no dia 7 de maio de 1999, fixaram-se atores com a Rua Carlos Daniel e a Rua Mário Viegas, um desenhador e cenógrafo com a Rua Fernando Bento, e dois nomes que musicaram revistas com a Rua Jaime Mendes e a Rua Carlos Paião, bem como a Rua Palhaço Luciano, representante da mais teatral arte circense.

Já no nosso século, a considerada mãe do teatro independente, Luzia Maria Martins, deu o seu nome a um Largo de São Domingos de Benfica, pelo Edital de 26 de junho de 2001. No final desse ano, pelo Edital de 26 de dezembro foi a vez de Carnide acolher a atriz Mariana Vilar numa Rua. E em 2003, através do Edital de 20 de novembro, o arruamento entre a Rua Ramalho Ortigão e Avenida Calouste Gulbenkian, em frente ao novo Teatro Aberto, passou a ser a Rua Armando Cortez.

Nomes de teatro na Ameixoeira – Freguesia de Santa Clara
(Planta: Sérgio Dias)

O último núcleo de topónimos de teatro a ser formado localiza-se na Ameixoeira, na Freguesia de Santa Clara. O Edital de 1 de fevereiro de 1993, colocou aqui a primeira atriz com a Rua Brunilde Júdice e a Rua Constança Capdeville , uma compositora precursora de obras para teatro musical em Portugal. Em 2004, juntaram-se no Vale da Ameixoeira, a Rua Fernanda Alves e a Rua Fernando Gusmão, através do Edital de 19 de abril, a que o Edital de 14 de julho veio adicionar a Rua Arnaldo Assis Pacheco, a Rua António Vilar, a Rua José Viana, a Rua Raul de Carvalho e a Rua Varela Silva. Finalmente, pelo Edital de 16 de setembro de 2009 foram ainda acrescentadas a Rua Artur Ramos e a Avenida Glicínia Quartin.

Nomes de teatro no Vale da Ameixoeira – Freguesia de Santa Clara
(Planta: Sérgio Dias)

 

A Rua de Nossa Senhora do Amparo de Benfica

Freguesia de Benfica
(Foto: Sérgio Dias)

Pelo menos desde o séc. XIV que a invocação de Nossa Senhora do Amparo se regista em Benfica, tendo-se tornado topónimo lisboeta a pedido da Junta de Freguesia da Benfica, através do Edital municipal de 8 de fevereiro de 2001.

Esta artéria que une a Avenida Grão Vasco à Rua Olivério Serpa fixa na memória da cidade o orago da Igreja paroquial de Benfica que é Nossa Senhora do Amparo. Um templo mais antigo (podem ter existido dois ou três, contando com o que hoje vemos), existia pelo menos desde o século XIV, com a mesma invocação de Nossa Senhora do Amparo, no sítio do Tojal, pois em 1391 foi então doado ao mosteiro lisboeta do Salvador, pelo bispo do Porto, D. João Esteves. Em 1586 foi instituída a Irmandade de Nossa Senhora do Amparo. Em 1620, um documento mostra-nos que a paróquia  de Nossa Senhora do Amparo estava instalada numa ermida ou numa igreja, situada no local onde se ergueu o templo atual, construído entre 1750 e 1809, sobre o chamado Adro da Igreja, que ainda existia em 1863.

Segundo um outro documento conservado no arquivo paroquial, foi a 10 de dezembro de 1809 que se iniciaram as cerimónias da sagração da Comunidade Paroquial de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, as quais se prolongaram até à festa da Padroeira, no dia 18 de dezembro. Contudo, as obras continuaram, sendo que entre 1811 e 1813 procedeu-se ao arranjo do guarda-vento e em 1840, ergueu-se a torre do lado nascente e nela se montou um relógio em 1923.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias)

A Senhora da Arrábida de azulejos

Registo de azulejos com a Senhora da Arrábida, na Rua da Arrábida
(Foto: Eduardo Portugal, 1945, Arquivo Municipal de Lisboa)

Na freguesia de Campo de Ourique estão sediadas uma Rua e uma Travessa da Arrábida cujo topónimo parece derivar de um registo de azulejos de Nossa Senhora da Arrábida existente na Rua da Arrábida.

Segundo Norberto de Araújo, a Rua da Arrábida é do século XVIII e deve o seu nome ao painel de azulejos que representa a Nossa Senhora da Arrábida, incrustado na frontaria do prédio que ostenta o número 71.

Na descrição paroquial da Freguesia de Santa Isabel, redigida após o Terramoto sobre as existências anteriores à catástrofe, a Rua da Arrábida já é mencionada. Ao certo sabe-se que a Freguesia foi criada em 14 de maio de 1741, e que «Esta freguezia fica no suburbio da cidade de Lisboa, a cujo Patriarchado pertence», conforme se pode ler nas memórias paroquiais de  26 de março de 1758 escritas pelo Reitor  da Paróquia, Felisberto Leitão de Carvalho.

Nesta artéria que liga a Rua Dom Dinis à Rua Silva Carvalho, morou no nº 7 o escultor Delfim Maya (1886 – 1978); no nº 38 abriu em 1949 a já extinta Aveirense – Fábrica de Salsicharia Fina e Conservas de Carne; foi construído em 1892 o palacete do visconde de Semelhe nos nºs 40-42; e esteve durante alguns anos e até 18 de agosto de 1956, no nº 70, a segunda sede da Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo.

Já a Travessa da Arrábida foi constituída por um troço da Rua da Arrábida (prédios com os nºs 9 e 11)  e um troço da Rua de São Joaquim ( prédio com os nºs 2 – 2A e 2B), conforme deliberação camarária de 23 de agosto de 1922,  publicitada pelo Edital de  17/10/1924, por referência à Rua da Arrábida onde se inicia.

Freguesia de Campo de Ourique (Planta: Sérgio Dias)

A Senhora da Boa-Hora no Bairro Alto

A Travessa da Boa-Hora, entre 1898 e 1908
(Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

A seiscentista Travessa da Boa-Hora no Bairro Alto deve o seu nome à Ermida de Nossa Senhora da Conceição e da Boa Hora,  fundada no séc. XVI, na esquina desta artéria com a Rua da Rosa e que foi destruída pelo Terramoto de 1755.

Freguesia da Misericórdia
(Foto: Mário Marzagão)

Luís Pastor de Macedo aponta que este arruamento seiscentista do Bairro Alto de São Roque, seria  «Nos meados do século XVI, esta (com mais probabilidades) ou a Travessa da Água da Flor seria a ‘traveça q vay da portaria de san roq pª a rua datalaia’. Em 1649 aparece pela primeira vez a Travessa da Boa-Hora e o Sítio de Nossa Senhora da Boa-Hora (…) Depois, até hoje, a travessa manteve sempre o mesmo nome».

A Travessa da Boa-Hora liga a Rua de São Pedro de Alcântara à Rua da Rosa e, segundo Norberto de Araújo, deriva da «Ermida de N. Senhora da Conceição e da Boa Hora que existiu à esquina da Rua da Rosa; o seu local perdeu-se».  Destruída pelo Terramoto de 1755, era o seu espaço ocupado na segunda metade do século XVIII por uma residência senhorial. No século XIX , foi morada da família Sousa Azevedo, viscondes de Algés, para depois, dos finais da centúria até 1910, ficar arrendado à Marcenaria Primeiro de Dezembro que produzia  mobiliário Arte Nova. Em 1912. tornou-se uma Escola Primária pública: as números 12 e 21 para o sexo masculino e para o sexo feminino. A Câmara Municipal de Lisboa adquiriu o edifício e desde 2005 passou a ser a Escola Padre Abel Varzim.

Sobre esta Travessa da Boa-Hora sabe-se também que aqui faleceu na sua residência o municipalista Henriques Nogueira em 23 de janeiro de 1858; que em 1886 a Câmara Municipal procedeu à reparação do pavimento desta Travessa, bem como que  no nº 3 existiu a casa de pasto O Tacão, onde no final do séc. XIX e início do séc. XX os atores Telmo e Cardoso do Ginásio vinham cear depois do espetáculo.

Freguesia da Misericórdia
(Planta: Sérgio Dias)

A Senhora da Boa-Hora da Baixa para a Ajuda

O Largo da Boa-Hora à Ajuda em 1943
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Calçada da Boa-Hora, o Largo  e a Travessa da Boa-Hora à Ajuda são três topónimos que resultam da deslocação dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho do seu Convento no Largo da Boa Hora, junto à Rua Nova do Almada, na Baixa lisboeta, para o lugar do Espargal, em Belém, após o  terramoto de 1755.

A Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho estabeleceu-se em Portugal em 1663, com a proteção da rainha D. Luísa de Gusmão, e uma das suas comunidades estava instalada em Lisboa, desde 1677, no Convento da Boa Hora, que havia sido fundado em 1633 por D. Luís de Castro do Rio para os padres dominicanos irlandeses e foi mais tarde aproveitado para ser quartel do 1º Batalhão dos Voluntários do Comércio (1834) e Tribunal da Boa Hora (1843). O terramoto de 1 de novembro de 1755 deixou o convento em ruínas e logo em 1756 passaram os frades para um novo Convento da Boa Hora em Belém, no lugar do Espargal , cuja igreja foi dedicada a Nª Srª da Boa Hora e Stª Rita em 7 de abril de 1766. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, a igreja do Convento da Boa Hora, no actual Largo da Boa-Hora à Ajuda, acolheu logo no ano seguinte a paróquia de Nª Srª da Ajuda.

O Palácio Ega, no nº 30 da Calçada da Boa-Hora
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Calçada da Boa-Hora, encontra-se hoje repartida pelas freguesias de Alcântara , Belém , Ajuda, delimitada entre a Rua da Junqueira e o Largo da Boa-Hora, conforme Edital municipal de 26 de setembro de 1916, que oficializou topónimos herdados do extinto concelho de Belém. Já também na alçada da edilidade lisboeta foram em 1887-1888 construídos canos de esgoto para esta Calçada.  Refira-se ainda que no nº 30 desta Calçada encontramos o Palácio da Ega que dá sede ao Arquivo Histórico Ultramarino desde 1931.

Ao Largo e à Travessa da Boa-Hora foi acrescentada a expressão «à Ajuda», para evitar equívocos com o Largo da Boa-Hora (Freguesia de Santa Maria Maior) e a Travessa da Boa-Hora (Freguesia da Misericórdia), através do Edital municipal de 8 de junho de 1889.

O Largo da Boa-Hora à Ajuda é o espaço na confluência da Travessa do Moinho de Vento, Rua do Machado, Travessa da Boa-Hora à Ajuda e Calçada da Boa-Hora. Em 1883, a Administração dos Correios e Telégrafos solicitou autorização ao presidente da Câmara de Belém para lá colocar um marco postal.  A partir de desde 1890 passou a funcionar nas antigas dependências do Convento, neste largo, o Hospital Militar de Belém, que se especializou em doenças infecto-contagiosas.

Já a Travessa da Boa-Hora à Ajuda une o Largo da Boa-Hora à Ajuda à Calçada da Ajuda. Segundo Luís Pastor de Macedo, esta artéria foi designada no séc. XVIII «por Travessa da Abegoaria, e algum tempo depois por Travessa do Teixeira, nome que lhe foi dado pelo tenente José Teixeira, mais tarde sargento-mor, e que foi proprietário da abegoaria que dera à travessa o nome anterior. Depois foi ainda a Rua das Piteiras, porque o povo, coerente, via que parte da serventia era marginada por piteiras.»

O Largo, a Travessa da Boa-Hora à Ajuda e a Calçada da Boa-Hora
(Planta: Sérgio Dias)