José Anastácio da Cunha

José Anastácio da Cunha (Lisboa, 11/05/1744-Lisboa, 01/01/1787), foi militar, matemático e poeta. Fez a sua formação académica em Lisboa, no Convento de Nossa Senhora das Necessidades que pertencia à Congregação do Oratório, onde, até aos 19 anos, aprendeu Gramática, Retórica e Lógica, desenvolvendo como autodidata o seu gosto pela Física e Matemática.

A sua nomeação como Tenente do Regimento de Artilharia do Porto (1764) levou-o a desenvolver outras áreas de interesse, dedicando-se ao estudo da História, das Línguas (latim, grego, inglês, francês e italiano) e das Belas Artes, o que em parte ficou a dever-se ao seu convívio com oficiais protestantes ingleses. Cruzando os seus conhecimentos com a atividade militar, em 1769, redigiu a Carta Fisico-Mathematica sobre a Theoria da Polvora em geral e a determinação do melhor comprimento das peças em particular (editada em 1838, no Porto), na qual eram identificados erros em trabalhos anteriores sobre artilharia.

No âmbito da reforma da Universidade empreendida pelo Marquês de Pombal, em 1773, Anastácio da Cunha foi nomeado professor de geometria da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, sendo-lhe concedido o título de doutor. Porém, cerca de cinco anos depois, com a subida ao trono de D. Maria I e com a alteração do contexto político que deu origem ao período conhecido como “Viradeira”, foi denunciado à Inquisição (1778), sendo acusado de ler autores que defendiam ideais iluministas (como Rousseau, Voltaire e Hobbes) e de exercer uma influência nefasta junto dos seus alunos através da apologia do racionalismo e da liberdade de consciência.

No final do processo, Anastácio da Cunha foi condenado a três anos de reclusão na Casa das Necessidades da Congregação do Oratório e a quatro anos de degredo em Évora, tendo sido afastado dos seus cargos universitários e confiscados os seus títulos e bens. Nos finais de 1780, foi aceite pela Inquisição o seu pedido de perdão. Porém, eram já muitas as dificuldades económicas, a par da sua perda de prestígio social. Neste difícil período da sua vida foi apoiado pelo Intendente Pina Manique que nomeou Anastácio da Cunha como professor de Matemática, na recém-criada Casa Pia (1781).

Anastácio da Cunha traduziu para português obras de autores como Voltaire, Pope, Rousseau e Holbach publicadas ainda durante a sua vida, mas as suas obras científicas e poéticas só foram editadas postumamente. Entre as primeiras, refiram-se: Principios mathematicos para instrucção dos alunos do Colegio de S. Lucas da Real Casa Pia do Castello de S. Jorge (terminada em 1786; publicada em 1790, em Lisboa), considerada a sua obra mais importante pela reformulação da Geometria de Euclides e que foi traduzida para francês (publicada em 1811, em Bordéus); e, Ensaio sobre os Principios de Mechanica que deu um contributo decisivo para o desenvolvimento das ciências físico-matemáticas (publicado em 1807, em Londres).

A sua obra poética, considerada como precursora do romantismo, só deu à estampa em 1839, por iniciativa de Inocêncio da Silva, com o título Composições poéticas do Doutor José Anastácio da Cunha, cujos exemplares foram depois apreendidos e apenas reeditados em 1930.

Foram necessários mais de dois séculos após a sua morte para que fosse reconhecida a importância e valor de José Anastácio da Cunha como matemático e como poeta que, partilhando os princípios da Europa das Luzes, defendia um ensino voltado para a experiência, aliando a teoria à prática e às demonstrações, aspetos que, entre os anteriormente referidos, o levariam a ser condenado pela Inquisição.

Em Lisboa, foram também necessários 202 anos após a sua morte, para que através do Edital municipal de 28 de dezembro de 1989 se tornasse o topónimo da Rua Dois do Bairro do Alto da Serafina, como Rua Anastácio da Cunha. No ano seguinte, num processo de remodelação da toponímia do Bairro da Serafina a pedido dos seus moradores, passou a Rua José Anastácio da Cunha, pelo Edital municipal de 14 de dezembro de 1990 e assim continua.

 

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José Régio e Vergilio Ferreira em Avenidas lisboetas

Vergílio Ferreira (ao centro) com Régio e o irmão Júlio, em Portalegre
(Foto: © CER)

Ambos escritores, ambos ensaístas, ambos professores do ensino liceal, estão  José Régio e Vergílio Ferreira de igual modo consagrados em Lisboa em Avenidas, dois homens que esgrimiram argumentos numa recíproca admiração e longa amizade que os ligava.

Em 1965, ano em que Régio foi um dos duzentos subscritores de uma declaração de solidariedade com a Direção da Sociedade Portuguesa de Escritores e o Júri do Grande Prémio que o atribuiu a Luandino Vieira, Vergílio Ferreira declarou «Régio é hoje o maior de todos nós» e em 1969, redigiu o artigo Na morte de Régio, mais tarde inserido no Espaço do Invisível II (1991).

Freguesia de Marvila

Quinze anos mais novo que José Régio, Vergílio António Ferreira (Gouveia – Melo/28.01.1916 – 01.03.1996/Lisboa) nasceu às 15 horas de uma sexta-feira, filho de António Augusto Ferreira e Josefa Ferreira, que emigraram deixando-o ao cuidado das tias. Já a Avenida lisboeta que homenageia o autor de Aparição resultou da aprovação por unanimidade em sessão de Câmara, cinco dias após o seu falecimento, de uma proposta de atribuição do seu nome a uma artéria da cidade, o que se concretizou através do Edital municipal de 24 de setembro de 1996 na Rua M 3 do Bairro do Armador, na freguesia de Marvila.

Vergílio Ferreira defendeu que «Toda a biografia é uma rede de sinais que apontam o vazio do que jamais poderemos saber. Mas é nesse vazio que falta que está a razão do que chegou até nós» e assim narramos que o seu primeiro romance se intitulava O caminho fica longe (1939), a que se seguiram Onde Tudo Foi Morrendo (1944) e Vagão J (1946). Em 1949, foi a vez do romance Mudança que faz a passagem do neorrealismo para o existencialismo. E a partir daí construiu uma obra literária onde pontuam romances, contos, diarística e ensaios, a interrogar o mistério da existência, o destino da humanidade, o lugar do Homem no Mundo, o absurdo da vida e da morte, a solidão e os problemas da condição humana, de que se salientam Manhã Submersa (1954), Aparição(1959), Cântico Final (1960), Alegria Breve (1965) Nítido Nulo (1971), Signo Sinal (1979), Para Sempre (1983), Uma Esplanada sobre o Mar (1987), Até ao Fim (1987), Em Nome da Terra (1990) ou Na Tua Face (1993).

Algumas das suas obras serviram de argumento para filmes como o de Manuel Guimarães a partir de Cântico Final (1974) ou  o de António Macedo a partir do conto «Encontro» (1978), bem como também o fez  Lauro António com a Manhã Submersa (1979), com o conto «Mãe Genoveva» (1983) para uma série da RTP, e ainda com as curtas Prefácio a Vergílio Ferreira (1975) e Vergílio Ferreira Numa Manhã Submersa (1979).

Licenciado em Filologia Clássica desde 1940, Vergílio Ferreira foi também o ensaísta que publicou Sobre o Humorismo de Eça de Queirós (1943), Da Fenomenologia a Sartre (1963) ou os 5 volumes Espaço do Invisível (1965, 1976,1977, 1987, 1998), para além de ter sido professor de Português e de Latim do ensino secundário em Faro, Bragança, Évora, Gouveia e, finalmente, a partir de 1959, no alfacinha Liceu Camões, tendo desde então fixado residência nesta cidade, no Bairro de Alvalade, com a sua mulher Regina Kasprzykowsky, professora polaca que se encontrava refugiada em Portugal da Guerra, com quem casara em 1946.

Vergílio Ferreira foi galardoado com o Prémio Camilo Castelo Branco (1960) por Aparição, o Prémio da Casa da Imprensa (1965) por Alegria Breve, a comenda de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1979), o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus (1981), o Prémio PEN Clube (1983) por Para Sempre bem como do Município de Lisboa, o Prémio do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários pelo conjunto da sua obra (1985), o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1987) por Até ao Fim, o francês Prémio Femina (1990) por Manhã Submersa,  o Prémio Europália (1991) pelo conjunto da sua obra, o Prémio Camões (1992), o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1994) por Na Tua Face, para além de ter sido eleito para a Academia Brasileira de Letras (1984) e para a Academia de Ciências de Lisboa (1992) e dar o seu nome à Biblioteca de Gouveia e aos Prémios Literários da Câmara Municipal de Gouveia e da Universidade de Évora.

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Régio, «As Encruzilhadas de Deus» e a Alameda António Sérgio

Publicado em 1936
(Imagem: © CER)

José Régio publicou em 1936 As Encruzilhadas de Deus, com capa e desenhos do seu irmão Júlio, nas Edições Presença – Atlântida de Coimbra e enviou esta obra a António Sérgio que lhe retribuiu com o seu parecer, em carta datada de 21 de setembro de 1936, escrita na Pensão Colaço de Alcoentre, sendo sabido que os dois escritores se corresponderam entre 1933 e 1958.

Desde a estreia de Régio em 1926 com Poemas de Deus e do Diabo, que o poeta vilacondense terá delineado manter a temática religiosa e foi assim reunindo os poemas que produzia neste âmbito, para intitular «Novos Poemas de Deus e do Diabo» mas de que acabou por resultar cerca de dez anos o novo título de 1936, por muitos considerado uma obra-prima com a sua poesia torrencial, reflexiva, lírica e dramática. Também em 1926, de  23 a 26 de abril, realizaram-se na Lusa Atenas sessões de divulgação da Seara Nova, dinamizadas por António Sérgio, a que  José Régio assistiu tendo depois colaborado na revista até 1940, ano em que António Sérgio e Mário de Azevedo Gomes abandonaram a da revista embora António Sérgio tenha regressado em 1947 e Régio em 1949, no n° 1116, de 28 de maio de 1949. Nesse ano de 1949, José Régio escreveu o artigo «O recurso ao medo», anunciado pelo jornal República de 16 de Janeiro, acabando por ser publicado num pequeno volume de 64 páginas dos Serviços Centrais da Candidatura de Norton de Matos, com o título genérico de «Depoimento contra Depoimento», numa clara alusão ao discurso «O meu Depoimento», de Salazar, de 7 de janeiro de 1949, no Palácio da Bolsa do Porto.

(Foto: © CER)

António Sérgio, cujo cinquentenário da morte passa este ano, deu nome à Alameda António Sérgio na Freguesia de Santa Clara, onze anos após o seu falecimento, artéria que liga a Rua Jorge de Sena à Rua Vitorino Nemésio, atribuída através da publicação do Edital municipal de 23 de abril de 1980, na via identificada urbanisticamente como Impasse 1 e 2 da Quinta de Santa Clara à Ameixoeira.

António Sérgio de Sousa Júnior (Índia – Damão/03.09.1883 – 12.02.1969/Lisboa) foi um importante pensador do século XX, que em Portugal lançou a ideia do Cooperativismo, mas cuja vasta obra abarca também a teoria do conhecimento e a filosofia política, a pedagogia e a filosofia da educação, assim como a filosofia da história. Radicado em Lisboa desde 1893,  estudou no Colégio Militar, na Escola Politécnica e na Escola Naval, tendo sido oficial da Marinha Portuguesa até 1910.

A partir da implantação da República em 1910, António Sérgio dedicou-se ao mundo editorial, como colaborador da revista Águia (1910), onde conheceu Teixeira de Pascoais e Fernando Pessoa, para no ano seguinte ser o diretor da revista Serões. Em 1918-1919 ( durante o consulado sidonista), fundou e dirigiu a revista Pela Grei, para a qual convocou diversos especialistas para apresentar um programa de Fomento Nacional; a partir de 1923, colabora na revista Seara Nova, como membro da direção  com Raúl Proença e Jaime Cortesão, sendo assim convidado para ministro da Instrução no governo de Álvaro de Castro, onde se manteve apenas dois meses, tempo que lhe foi suficiente para criar o ensino para deficientes, o cinema educativo e o Instituto Português para o Estudo do Cancro (decreto de 29/12/1923).

Integrou também o grupo da Biblioteca Nacional a partir do qual  lançará em 1924 a revista Lusitânia (1924), sendo  mais tarde o diretor da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Depois, residiu na Travessa do Moinho de Vento, no Bairro da Lapa, de 1926 a 1969,  numa habitação traçada pelo Arqt.º Raúl Lino, com excepção do exílio parisiense de 1926 a 1933.

Por outro lado, António Sérgio para além de teórico de pedagogia foi também professor, quer ao ministrar lições particulares na residência de alunos durante o exílio parisiense – após a subida ao poder de António Oliveira Salazar e, de onde passou para Madrid, até ter sido abrangido por uma amnistia- quer em Portugal, como docente de português no Liceu  Pedro Nunes e da Universidade de Santiago de Compostela, em 1932.

Da sua vasta obra destaquem-se Notas sobre os Sonetos e as Tendências Gerais da Filosofia de Antero de Quental (1909), Educação Cívica (1915), Bosquejo da História de Portugal (1923), O Desejado (1924), O Seiscentismo (1926), História de Portugal (1926), Cartesianismo Ideal e Cartesianismo Real (1937), Introdução Actual ao Problema Cooperativista (1937), Antero de Quental e António Vieira (1948), Antologia Sociológica (1956), oito volumes de Ensaios (1920-1958) e Democracia (edição póstuma em 1974).

A título póstumo foi agraciado com a Ordem da Liberdade (Grande Oficial em 30 de junho de 1980) e a Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (Grande Oficial em 3 de agosto de 1983) e nessa mesma década, a sua casa da Lapa, passou a servir a Biblioteca do INSCOOP e a Biblioteca António Sérgio, para além do seu nome ser o de um Prémio Cooperação e Solidariedade que a CASES criou em 2012 para distinguir pessoas singulares ou coletivas na Economia Social.

Na sua vida pessoal, António Sérgio casado com Luísa Epifâneo da Silva que chegou a assinar escritos pedagógicos como Luísa Sérgio.

Carta de António Sérgio a José Régio (Foto: © CER)
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José Régio e Mário Dionísio, dois intelectuais multifacetados como topónimos de Lisboa

Poema de Mário Dionísio na Presença nº53 e 54, 1938
((Imagem: © CER))

José Régio e Mário Dionísio, ambos professores de carreira e intelectuais multifacetados empenhados na literatura, nas artes plásticas, na crítica e ensaio, também partilham a homenagem de darem nome a artérias de Lisboa, o primeiro desde 7 de agosto de 1997 e o segundo, desde 1 de agosto de 2005.

José Régio, o teorizador da Presença que logo no nº 1, na primeira página, publicou Literatura Viva, texto que pode ser visto como manifesto programático da publicação, aceitou a colaboração do jovem Mário Dionísio, quinze anos mais novo,  durante a década de trinta até este se afastar, em conjunto com João José Cochofel, Fernando Namora e Carlos de Oliveira.  E no espólio de Mário Dionísio, encontram-se originais manuscritos ou dactilografados de vários autores, sendo Régio um deles, o que nos recorda a ideia de 1937 nunca concretizada, por falta de sala, de organizar o I Certame de Arte Moderna, pelo que  pediu para uma brochura de inéditos a colaboração dos poetas contemporâneos José Régio, Edmundo de Bettencourt, Fausto José, Francisco Bugalho, José Gomes Ferreira, João Falco/Irene Lisboa e Vitorino Nemésio. Tanto Régio como Dionísio também publicaram nas páginas de Cadernos da Poesia, a revista literária de Tomás Kim, José Blanc de Portugal e Ruy Cinatti nas décadas de quarenta e cinquenta.

A Rua Mário Dionísio nasceu do Edital municipal de 1 de agosto de 2005, na Rua A do PER 8, na Freguesia do Lumiar, doze anos após o falecimento de Mário Dionísio de Assis Monteiro (Lisboa/16.07.1916-17.11.1993/Lisboa), nascido que fora no nº 2 da Rua Andrade  e licenciado em Filologia Românica em 1939, pela Universidade de Lisboa, que se mostrou um intelectual multifacetado como escritor, ensaísta, pintor, crítico de arte e tradutor, para além de ter sido professor do Ensino Secundário durante praticamente quarenta anos, no Colégio Moderno e no Liceu Camões, assim como a partir de 1978 e até 1987 foi docente de Técnicas de Expressão do Português na Faculdade de Letras de Lisboa.

Mário Dionísio foi autor de uma obra literária autónoma, com ensaio, poesia, conto e romance, onde se podem salientar Poemas (1941), As Solicitações e Emboscadas (1945), O Riso Dissonante (1950), Memória dum Pintor Desconhecido (1965), os poemas em francês Le Feu qui dort (1967), Terceira Idade (1982), o seu único romance Não há morte nem princípio (1969),os seus contos O Dia Cinzento (1944), Monólogo a Duas Vozes (1986) , a sua Autobiografia (1987) e o seu último livro, de contos,A morte é para os outros (1988).

Ao longo da sua vida foi um dos principais promotores e teorizadores do neorrealismo português, sendo assinalável a sua regular colaboração em jornais e revistas literárias para além da Presença, como Altitude, A Capital, Diário de LisboaO DiaboGazeta MusicalLiberdadeRepúblicaRevista de PortugalSeara Nova, O Tempo e o Modo ou Vértice. Foi ainda diretor de programas da RTP de dezembro 1975 a março de 1976.

Pintor desde 1941, usou os pseudónimos de Leandro Gil e José Alfredo Chaves, expondo em mostras coletivas desde a década de quarenta mas só em 1989 realizou a sua primeira exposição individual de pintura. Publicou também A Paleta e o Mundo,  obra editada em fascículos a partir de 1956 ( e até 1962) com orientação gráfica de Maria Keil que lhe valeu o Grande Prémio de Ensaio da Sociedade Portuguesa de Escritores (1963). Refira-se ainda que na sua obra pictórica pintou retratos dos seus contemporâneos, como Joaquim Namorado (1952),  Carlos de Oliveira e João José Cochofel (1988) ou José Gomes Ferreira (1989). Obteve também o troféu «Pintor do Ano» da Antena 1, em 1989.

Como cidadão, casou em 1940  com a sua antiga colega de curso Maria Letícia Clemente da Silva, de quem terá uma única filha, a escritora Eduarda Dionísio. Também se mostrou empenhadamente antirregime desde o início dos anos 30 do século passado, integrando o Movimento de Unidade Democrática (MUD), onde ficará responsável por estabelecer a ligação entre a sua Comissão de Escritores, Jornalistas e Artistas e o Partido Comunista Português, para onde entrará em 1945 e ficará até 1952. Na década de 60 frequentava ainda a tertúlia do Café Bocage, na Avenida da República, onde se encontrava com Augusto Abelaira, José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira, João José Cochofel,  e outros.

Mário Dionísio foi galardoado com o Prémio do Centro Português da Associação Internacional de Críticos, ex-aequo com Alexandre O’Neill, em 1982 e, nove anos depois, em 1991, o Museu do Neo-Realismo organizou em Vila Franca de Xira e em Lisboa, exposições e colóquios sobre os seus 50 Anos de Vida Literária e Artística. Finalmente, em setembro de 2008, familiares, amigos, ex-alunos, ex-assistentes, conhecedores e estudiosos da sua obra fundaram em Lisboa, na Rua da Achada, a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, que abriu ao público um ano depois.

Rua Mário Dionísio na Freguesia do Lumiar

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A lisboeta Avenida José Régio de não sei por onde vou

Capa do primeiro livro de José Régio, publicado em 1926
(Imagem: © CER)

José Régio, o escritor vilacondense que a maioria reconhece como autor do poema «Cântico Negro», inserido em Poemas de Deus e do Diabo, edição com que em 1926 se iniciou na literatura, esteve desde 1971 para ser topónimo de Lisboa mas tal só se concretizou em 1997 com a Avenida José Régio atribuída no arruamento projectado entre a Avenida Dom Rodrigo da Cunha e a Avenida Dr. Arlindo Vicente, pelo Edital municipal de 7 de agosto de 1997.

Antes de se completarem dois anos da morte de José Régio, a Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa na sua reunião de 5 de março de 1971, ao escolher topónimos para a Quinta do Morgado foi de parecer que a Rua A, incluindo o Impasse A 5, se denominasse Rua José Régio e levasse como legenda «Poeta/1901 – 1969». Todavia, cerca de quinze dias passados, na reunião seguinte da Comissão de Toponímia – em 19 de março de 1971- , o arruamento designado passou a servir para concretizar a Rua Vice-Almirante Augusto de Castro Guedes dado que o então Presidente da CML,  Engº Santos e Castro, solicitou  «indicação de arruamentos condignos para perpetuar os nomes de José Régio e Doutor João de Barros», tendo a Comissão considerado «a dificuldade de encontrar arruamentos condignos» e sugerido a Rua O da Malha I de Chelas para executar uma Avenida José Régio.

Contudo, só na reunião da Comissão de Toponímia de 9 de maio de 1997 voltamos a encontrar José Régio como prioritário na lista dos nomes em carteira, recebendo parecer favorável na reunião de 20 de junho de 1997 da Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa, nascendo assim pelo Edital municipal de 7 de agosto de 1997 a Avenida José Régio, com a legenda «Escritor/1901 – 1969», que mereceu cerimónia de inauguração em 12 de setembro desse mesmo ano, mês de aniversário de nascimento do homenageado.

Freguesias de Alvalade e de Marvila

José Régio foi o pseudónimo escolhido por José Maria dos Reis Pereira, nascido em Vila do Conde a 17 de setembro de 1901, cidade onde também veio a falecer em 22 de dezembro de 1969.

Em Vila do Conde, viveu a infância e adolescência e após concluir o 3.º ciclo do curso liceal no Porto, seguiu para a Faculdade de Letras de Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica, em 1925, com a tese intitulada As correntes e as individualidades na Moderna Poesia Portuguesa, o primeiro trabalho que faz a apologia dos poetas da revista Orpheu. Será também em Coimbra que em março de 1927, vai fundar com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca a revista Presença, que durou treze anos e foi considerada o órgão do Segundo Modernismo. Já antes, nessa mesma década de vinte, colaborara nas revistas portuenses Crisálida e A Nossa Revista, assim como nas coimbrãs Bizâncio e Tríptico.

E no ano seguinte à conclusão da licenciatura, em 1926, publicou o seu primeiro livro: Poemas de Deus e do Diabo, com capa do seu irmão Júlio. Mas além da criação literária nas vertentes da poesia, ficção, dramaturgia, ensaio e memórias, ainda organizou antologias, somando mais de trinta obras publicadas, e manteve colaboração em jornais e revistas como crítico e polemista, nomeadamente na Seara Nova.

Em paralelo com a sua vida literária, Régio fez também uma carreira docente, em que após uma experiência como professor provisório no Liceu Alexandre Herculano do Porto, foi nomeado professor efetivo no Liceu Mouzinho da Silveira de Portalegre, onde permaneceu desde 1930 até se reformar, em 1962.

Como cidadão, também se envolveu politicamente sempre que considerou que as situações da vida nacional o justificavam, mostrando-se firme e frontal nos seus ideais socialistas. E para além do seu gosto pelo desenho, também frequentava tertúlias de cafés e mantinha intensa comunicação com os meios literários por via epistolar, sendo ainda de destacar a sua vertente de colecionador de peças antigas de arte sacra e popular, que acumulou nas suas casas de Portalegre e de Vila do Conde, hoje transformadas em casas-museu.

Para além de Lisboa, José Régio é também o topónimo de Avenidas em Vila do Conde e Massamá-Queluz. Em Ruas aparece por todo o país com quatro em Vila do Conde, duas em Portalegre ( Ponte de Sor e Foros de Arão) e na Trofa, para além de Abrantes, Águas Santas, Alcabideche, Alcochete, Alhos Vedros, Amadora, Amora, Arrifana, Azeitão, Beja, Braga, Bragança, Carcavelos, Charneca da Caparica, Coimbra, Corroios, Entroncamento, Ermesinde, Évora, Esposende, Fafe, Famões, Fernão Ferro, Fiães, Guimarães, Maia, Mangualde, Marvão, Mem Martins, Moita, Monte Abraão-Queluz, Montemor-o-Novo, Odivelas, Oeiras, Oliveira do Hospital, Palmela, Pinhal Novo, Póvoa de Santa Iria, Póvoa de Varzim, Quinta do Anjo, Ramada-Odivelas, Rio Tinto, Santo Antão do Tojal, Santo António dos Cavaleiros, São Domingos de Rana, São João da Madeira, Seixal , Unhos, Valbom-Gondomar, Vialonga, Vila Chã de Ourique e Vila Nova de Famalicão. Pracetas surgem em Alverca do Ribatejo, Baixa da Banheira, Bobadela, Borba, Carcavelos, Carnaxide, Damaia-Amadora, Massamá-Queluz, Odivelas, Porto, Rio de Mouro, Setúbal e Vila Nova de Gaia. Travessas aparecem em Vila do Conde, Albufeira, Carcavelos, Gandra e Trofa. Existem ainda com o nome de Régio Praças em Vila do Conde, Matosinhos e Ovar, um Impasse em Agualva-Cacém, um Largo na Parede e uma Via em Vila do Conde.

Manuscrito de Régio. A 1ª página de «Cântico Negro»
(Imagem: © CER)

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A Lisboa de José Régio

Em 22 de dezembro deste ano cumpre-se o 50º aniversário da morte de José Régio (1901-1969), escritor vilacondense nascido a 17 de setembro e figura incontornável da  revista Presença que cultivou a poesia, o romance e o teatro, para além de se dedicar ao desenho e cuja história de vida também se liga a  Portalegre onde foi professor durante largos anos, sendo também possível descobrir o seu percurso pelas ruas de Lisboa.

É esse roteiro das ruas alfacinhas ligadas a José Régio, quer como escritor quer como cidadão, que neste mês de julho será o nosso tema, com o apoio imprescindível do CERCentro de Estudos Regianos, particularmente, da sua presidente, Isabel Cadete Novais.

 

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A Rua Prof. Pais da Silva e o Arraial do Bairro Padre Cruz

Freguesia de Carnide

O lisboeta historiador de arte e pioneiro na defesa do Património Cultural, Jorge Henrique Pais da Silva, recebe na sua rua alfacinha um Arraial popular, no decorrer deste mês de junho, no largo que se abre junto ao Auditório Natália Correia,  promovido pela Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas do Bairro Padre Cruz.

A Rua Prof. Pais da Silva, que se estende da Rua Professor Almeida Lima até à Estrada da Circunvalação, resultou da sugestão da Profª Maria Calado, que na época era a representante da Universidade Técnica de Lisboa na Comissão Municipal de Toponímia e foi concretizada na Rua C da Nova Urbanização do Bairro Padre Cruz através do Edital municipal de 19 de Fevereiro de 1992. O mesmo Edital colocou nos outros novos arruamentos do Bairro mais 3 professores catedráticos, a saber,  na Rua A o filólogo Prof. Lindley Cintra , na Rua D o catedrático de Medicina Legal Prof. Arsénio Nunes  e na Rua F, o Prof. Almeida Lima, fundador da prática da neurocirurgia em Portugal.

Jorge Henrique Pais da Silva (Lisboa/08.07.1929 – 23.09.1977/Lisboa), historiador de Arte e professor universitário que delineou o 1.º Congresso Internacional de Defesa do Património Cultural e Natural – realizado em Alcobaça em 1978 – que potenciou um  boom de associações de defesa do património em Portugal, assim como traçou grande parte do organigrama do que seria o futuro Instituto Português do Património Cultural, começou a sua carreira como professor liceal (1956-1958). Depois foi docente da Escola Superior de Belas Artes do Porto (1959-1966), da Faculdade de Letras do Porto (1965-1966) e da Faculdade de Letras de Lisboa (1966-1967), tendo ainda dirigido a ESBAP em 1970. Realizou ainda cursos de expansão universitária no Museu Nacional de Arte Antiga e na Fundação Calouste Gulbenkian, onde foi também diretor-adjunto do Serviço de Belas-Artes.

As suas pesquisas e investigação centraram-se no  Renascimento, e sobretudo do Maneirismo, em especial no campo da Arquitetura, dentro do país e no estrangeiro, mormente em Itália. Em paralelo, pugnou pela modernização da investigação em Portugal no domínio da História da Arte, em concorrência com a comunidade científica internacional. Do conjunto da sua obra publicada salientamos Notas sobre a arquitectura dos Jesuítas no espaço português (1961), Em torno da arquitectura setecentista portuguesa : Barroco e Rococó (1974), Estudos sobre o Maneirismo (1983), O Pretérito Presente – Para Uma Teoria da Preservação do Património Histórico- Artístico (1984) e os dois volumes de Páginas de História da Arte (1986). Refira-se ainda o Dicionário de Termos de Arte e Arquitectura, editado em 2004,  obra sua que permaneceu inacabada devido à sua morte prematura mas que foi organizada e completada pela Profª Maria Margarida Calado para publicação.

O Prof. Pais da Silva foi académico efetivo da Academia Nacional de Belas Artes, na Cadeira nº 5, sucedendo ao Arqtº Carlos João Chambers Ramos em 9 de dezembro de 1970.

Freguesia de Carnide

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RAF e Helena Vaz da Silva no MURO’19

A Rua Helena Vaz da Silva

No talude da Rua Helena Vaz da Silva vai estar presente RAF  com uma intervenção artística com 450 metros de extensão, no âmbito da realização do MURO’19 – Festival de Arte Urbana de Lisboa.

Rui Ferreira é o nome civil de RAF, criador das Produções Artísticas da RAF ART Lda., também tatuador e fundador da MU Workspace Creative Cowork, na Alta de Lisboa. Estudou na Escola Secundária Artística António Arroio e já em 2013 colaborou com a Galeria de Arte Urbana | GAU, ao participar no «Rostos do Muro Azul», na Rua das Murtas.

Área da intervenção artística de RAF para o MURO’19

Helena Vaz da Silva, mulher de cultura e jornalista do Centro Nacional de Cultura e do Instituto Português de Cinema, é topónimo de Rua do Alto do Lumiar desde a publicação do Edital municipal de 20 de novembro de 2003, numa artéria que parte da confluência da Avenida Álvaro Cunhal, Rua Arnaldo Ferreira, Rua General Vasco Gonçalves e Avenida Eugénio de Andrade para chegar à Avenida David Mourão-Ferreira.

Helena Maria da Costa de Sousa Macedo Gentil (Lisboa/03.07.1939 – 12.08.2002/Lisboa), nascida alfacinha no nº7 C do Largo Dr. António de Sousa Macedo, estudou em colégios católicos e quando terminou o ensino secundário ficou a ensinar Moral e Francês no Colégio das Oblatas, tendo também aos 17 anos conseguido o seu primeiro emprego como correspondente de línguas na Agência de Publicidade Manuel Martins da Hora, onde outrora trabalhara Fernando Pessoa. Em 1959, casou com Alberto Vaz da Silva, de quem teve quatro filhos (Francisco, Salvador, Tomás e Helena) e esta decisão pessoal vai marcar a sua carreira profissional futura já que o  seu círculo de amigos próximos passou a incluir Alçada Baptista, Nuno Bragança, João Bénard da Costa, Pedro Tamen, bem como José Escada, Luís Sousa Costa e Mateus Cardoso Peres. Concretizaram juntos em 1963 a revista católica de oposição ao regime salazarista, O Tempo e Modo, dirigida por Alçada Baptista, editada por Pedro Tamen, com chefia de redação de João Bénard da Costa e tendo como principais redatores Nuno Bragança e Alberto Vaz da Silva.

Em 1965, Helena Vaz da Silva assumiu a responsabilidade da edição portuguesa da revista Concilium, para difundir o espírito de Vaticano II, a partir da qual também se organizaram debates e seminários. E três anos depois, em 1968, foi para Paris fazer a sua formação de jornalista. Regressou a Portugal em 1972, para retomar o trabalho na O Tempo e o Modo, onde organizou dois números especiais, um sobre Deus e outro sobre o casamento, tendo este último sido apreendido pela Censura após a publicação. Ainda em 1972 dirigiu a empresa turística algarvia da Quinta da Balaia. Em 1973 ingressa no semanário Expresso, onde até 1976 assumiu a coordenação da «Revista», para além do trabalho de reportagens, crónicas e entrevistas. Depois foi trabalhar para a Direção de Programas Sociais e Políticos da RTP, a que regressou em 1993, para o Conselho de Opinião da RTP. Esteve na Agência ANOP (1977), onde trabalhou como grande repórter e chefe da secção de cultura e educação, para além de se ter associado à revista Raiz e Utopia, fundada em 1977 por António José Saraiva, passando em 1978 a ser a proprietária e diretora da mesma.

De 1979 até à sua morte presidiu ao Centro Nacional de Cultura, sendo muito recordada pelos lisboetas pela criação dos Passeios de Domingo, iniciativa de itinerários culturais pioneira em Portugal. Em 1980 foi nomeada Vice-Presidente do organismo de apoio à criação cinematográfica, o Instituto Português de Cinema.

Do vasto currículo de Helena Vaz da Silva refira-se que foi tradutora, nomeadamente de Yourcenar e deixou obra publicada como Júlio Pomar com Helena Vaz da Silva (1979), Portugal – o último descobrimento (1987); fez crónicas para a Antena 1, TSF, Comercial e Rádio Renascença; integrou a Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses (1987) e a Comissão Nacional da UNESCO (de 1989 a 1994); foi deputada no Parlamento Europeu, como independente eleita nas listas do PSD (1994-1999); presidiu à Comissão Cidadão e Justiça (1990); foi membro do Conselho de Orientação para os Itinerários Culturais do Conselho da Europa, do Conselho Estratégico de Lisboa (1992), da Comissão para o Futuro da Televisão em Portugal (1996), do Conselho Geral do Movimento Europeu e ainda, presidiu ao Grupo de Trabalho sobre Serviço Público de Televisão, a partir de 5 de junho de 2002.

A intervenção de RAF na Rua Helena Vaz da Silva
(Foto: Bruno Cunha| DPC| 2019)

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Publicação municipal do Largo Frederico Valsassina

A publicação municipal de toponímia referente ao Largo Frederico Valsassina, hoje distribuída no decorrer da inauguração oficial deste arruamento, na Freguesia de Marvila, já está online.

É só carregar na capa abaixo e poderá ler.

Caso queira conhecer publicações anteriores poderá ir às Publicações Digitais do site da CML e escolher o separador Toponímia.

Ou no topo do nosso blogue carregar em 3 – As nossas Edições.

 

Na próxima terça-feira, dia 23 de abril, inauguração do Largo Frederico Valsassina

Largo Frederico Valsassina – Freguesia de Marvila

Na próxima terça-feira, dia 23 de abril, às 10: 30 horas, será inaugurado o Largo Frederico Valsassina, junto à entrada principal do Colégio Valsassina, com a presença de Fernando Medina, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,  bem como de familiares do homenageado.

Conforme a Vereadora Catarina Vaz Pinto refere na nota introdutória da brochura sobre Frederico Lúcio de Valsassina Heitor (Lisboa/17.07.1930 – 07.05.2010/Lisboa), a edilidade «orgulha-se de homenagear Frederico Valsassina Heitor pelo seu projeto educativo de base humanista, justamente no ano em que se comemoram os 120 anos da criação do Colégio Valsassina e passados setenta anos sobre a aquisição da Quinta das Teresinhas, sede do respetivo estabelecimento de ensino. O Largo Frederico Valsassina é o reconhecimento do seu legado como educador e docente, pedagogo peculiar e humanista com reflexo na cidade de Lisboa e no país.»