A Rua de Alexandre Herculano em Alcântara

Alexandre Herculano na Revista Contemporanea de Portugal e Brazil, abril de 1859

A artéria que hoje identificamos como Rua Fradesso da Silveira foi no período de 18 de janeiro de 1878 a 31 de dezembro de 1888 a Rua de Alexandre Herculano.

Esta atribuição foi do Governo Civil de Lisboa «Atendendo ao pedido da Câmara Municipal do Concelho de Belém, em homenagem à memória do prestante cidadão que foi o primeiro presidente daquele município, para que seja denominado ‘Rua de Alexandre Herculano’ o prolongamento do novo atêrro marginal do Tejo, desde a ponte sôbre a Ribeira de Alcântara até ao Largo das Fontainhas», sendo assim definida a Rua de Alexandre Herculano  desde a ponte da Ribeira de Alcântara até ao Largo das Fontaínhas.

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (Lisboa/28.03.1810 – 13.09.1877/Vale de Lobos) que foi o primeiro Presidente da Câmara Municipal de Belém – em 1854 e 1855-, teve o seu nome atribuído pela 1ª vez como topónimo em Lisboa cerca de 4 meses após a sua morte, por Edital do Governo Civil de Lisboa de 18 de janeiro de 1878,  pertencendo então ao concelho de Belém. Contudo, 9 anos depois, o Edital municipal de 10 de janeiro de 1888, alterou o topónimo para Rua Fradesso da Silveira, e ainda hoje se mantêm assim na Freguesia de Alcântara. Assim, se evitou a confusão de duas ruas com o mesmo nome no concelho de Lisboa já que esta Rua de Alexandre Herculano desde 1885 pertencia ao concelho de Lisboa e uma deliberação da Câmara Municipal de Lisboa de 6 de maio de 1882 atribuíra o topónimo Rua Alexandre Herculano à artéria perpendicular à Avenida da Liberdade dirigida para o Largo do Rato, ao mesmo tempo que também instituía nesta zona a Rua Castilho, a Rua Barata Salgueiro, a Rua Mouzinho da Silveira, a Rua Passos Manuel (depois Rua Rosa Araújo pelo Edital de 19/04/1887) e a Praça do Marquês de Pombal.

Em 1954, a Rua Fradesso da Silveira que havia sido a Rua de Alexandre Herculano (Foto: Judah Benoliel © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

 

© CML | DPC | NT | 2019

 

José Rovisco Pais da Cervejaria Trindade e da Maternidade alfacinha

Freguesias do Areeiro e de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)

A Avenida Rovisco Pais, repartida pelas freguesias do Areeiro e de Arroios, perpetua em Lisboa o grande proprietário rural de Pegões, comerciante da Fábrica de Cerveja da Trindade e benemérito da Maternidade Alfredo da Costa e dos Hospitais Civis de Lisboa.
Esta atribuição toponímica  teve lugar no próprio ano da morte de Rovisco Pais, através do Edital municipal de 25 de outubro de 1932, fixando-o no prolongamento da Avenida Duque de Ávila, entre a Rua Visconde de Santarém e a Avenida Manuel da Maia.

O olisipógrafo Norberto de Araújo, nas suas Peregrinações em Lisboa,  dá-nos uma imagem do contexto urbanístico desta avenida na década do seu nascimento : «Ora agora nos embrenhamos, a nascente, na urbanização gloriosa da nova Lisboa da década de 30 dêste século. São dois bairros, um, na planta, em forma oval – o Bairro Social do Arco do Cego, circundado pelas Avenidas D. João I [a Avenida Marconi de hoje] e do México, e que tem por remate a Praça do México [a Praça de Londres de hoje]; outro, em ogiva, contornado pelas Avenidas Rovisco Pais e Dr. António José de Almeida, aquêle onde se ergue o Instituto Superior Técnico (…)».

José Rovisco Pais (Casa Branca/16.10.1862 – 1932/Lisboa) deixou a sua marca na capital  por ser o proprietário da conhecida Fábrica de Cerveja da Trindade. Manuel Moreira Garcia – um galego que criara em 1836 a Fábrica de Cerveja da Trindade e com abertura de balcões ao público em 1840- passou o comércio a seu filho Domingos Moreira Garcia, cuja morte levou alguns empregados a constituir uma sociedade para explorar o negócio, com o apoio de Rovisco Pais, que acabou por ficar com todo o negócio, pelo que em 1932 quando faleceu foi a Cervejaria posta em hasta pública.

Rovisco Pais entregou a  Augusto Monjardino um donativo de mil e quinhentos contos para se concluir a construção da Maternidade de Alfredo da Costa, assim como por disposição testamentária, legou 10 mil contos – o que era uma fortuna na época – para os Hospitais Civis de Lisboa fazerem assistência aos necessitados.A Avenida Rovisco Pais, repartida pelas freguesias do Areeiro e de Arroios, perpetua em Lisboa o grande proprietário rural de Pegões, comerciante da Fábrica de Cerveja da Trindade e benemérito da Maternidade Alfredo da Costa e dos Hospitais Civis de Lisboa.

Enquanto agricultor, era o proprietário da Herdade de Pegões (concelho do Montijo), um latifúndio de 7000 hectares, na qual tentou instalar um plano de colonização análogo ao que José Maria dos Santos criara na Herdade de Rio Frio, visando fixar a mão de obra assalariada, necessária às grandes explorações da zona. Pela sua doação aos Hospitais Civis de Lisboa, que incluía parte da sua Herdade, a Junta de Colonização Interna – criada em 1936 -, desenvolveu nela um plano de fixação de colonos semelhante ao modelo agrícola alemão,  com o fim de desenvolver um «bom e abundante viveiro de colonos, que no Império Colonial irão fixar a Raça e valorizar o território», como se pode ler no Diário das Sessões da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa de 29 de outubro de 1938. Em 1958, constituiu-se a Cooperativa Agrícola Santo Isidro Pegões, destinada a laborar na sua adega e à produção dos novos vinhedos, não sendo assim de estranhar que alguns dos vinhos produzidos tenham o nome de Rovisco e que  Santo Isidro de Pegões tenha uma Avenida Rovisco Pais.

Rovisco Pais foi ainda benemérito da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, bem como da construção da Leprosaria Nacional Rovisco Pais, na Tocha (Cantanhede), inaugurada em 1947 e que desde 1996 é o Centro de Medicina de Reabilitação, pelo que a Tocha tem também uma Avenida José Rovisco Pais.

José Rovisco Pais foi agraciado postumamente, em 17 de março de 1933, com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito.

Freguesias do Areeiro e de Arroios
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua do criador do Supremo Tribunal de Justiça, Mouzinho da Silveira

Freguesia de Santo António (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santo António
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Mouzinho da Silveira, atribuída por deliberação camarária de 6 de maio de 1882 no Bairro Barata Salgueiro, em homenagem ao jurisconsulto que fundou o Supremo Tribunal de Justiça, tem no seu nº 12 uma obra de Ventura Terra, de 1907: a casa do médico João Silvestre de Almeida (1865-1936), com vitrais Arte Nova e um mural de Veloso Salgado.

Pela mesma deliberação camarária foram também atribuídos na mesma área, por unanimidade, a Rua Barata Salgueiro, a Rua Alexandre Herculano, a Rua Castilho, a Rua Passos Manuel ( que em 1887 passou a designar-se Rua Rosa Araújo) e a Praça do Marquês de Pombal.

Mouzinho da Silveira 1925Mouzinho da Silveira 1994

De seu nome completo José Xavier Mouzinho da Silveira (Castelo de Vide/12.07.1780 – 04.04.1849/Lisboa) foi um político da revolução liberal e jurisconsulto que criou o Supremo Tribunal de Justiça. Como legislador conseguiu em 1832 algumas das mais profundas modificações nas áreas da fiscalidade e da justiça como a abolição do dízimo, a supressão da hereditariedade dos cargos públicos e de outros privilégios, a liberdade de ensino a casas particulares permitindo a criação de Academias e Grémios, sendo também sua a primeira reforma administrativa liberal.

Formado em Direito em 1802, foi juiz em Marvão, Setúbal e Portalegre e a partir de 1821, administrador das Alfândegas e foi na Vilafrancada Ministro da Fazenda (maio e junho de 1823) para no ano seguinte, durante a Abrilada ser preso se tornar um intransigente defensor da Carta Constitucional pelo que também se exilou em Paris em 1828. Participou na guerra civil de 1832-34, tendo sido ministro da Fazenda e da Justiça, durante a Regência dos Açores de D. Pedro IV,  de março a dezembro de 1832. Regressou ao Parlamento em 1834 e a dirigir as Alfândegas do Sul em 1835 mas voltou a exilar-se em 1836 após a Revolução de Setembro. Regressou em 1839 como deputado mas retirou-se da vida política a partir do ano seguinte para ser apenas um abastado proprietário rural.

Mouzinho da Silveira está homenageado na Sala dos Passos Perdidos da Assembleia da República numa pintura a óleo de Columbano, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa numa pintura a óleo de José Rodrigues (1866) e também o Museu Grão Vasco possui um retrato  de Mouzinho da autoria de Columbano.

Freguesia de Santo António (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Santo António
(Planta: Sérgio Dias)

Ventura Terra na Rua Alexandre Herculano

Freguesia de Santo António (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santo António
(Foto: Sérgio Dias)

Ventura Terra pode ser encontrado por três vezes na Rua Alexandre Herculano – um topónimo de 1882 – já que nesta artéria deparamos no nº25 com a obra de Ventura Terra que foi  o Prémio Valmor de 1911, no nº 57  com a própria casa do arquiteto e exemplo da Arte Nova também galardoada com o Prémio Valmor (1903) e ainda, com a terceira obra que é a Sinagoga de Lisboa (1904), também designada como Shaaré Tikvá ou Portas da Esperança.

Ali bem próximo, no nº  37 da Rua Duque Palmela, está outra vez o traço de Ventura Terra, no prédio do Comendador Emílio Liguori, de 1902.

Alexandre Herculano que foi o primeiro Presidente da Câmara Municipal de Belém (1854 e 1855) teve o seu nome atribuído pela 1ª vez em Lisboa cerca de 4 meses após a sua morte, por edital do Governo Civil de Lisboa de 18 de janeiro de 1878,  mas 9 anos depois, o Edital municipal de 10 de janeiro de 1888,  alterou o topónimo para Rua Fradesso da Silveira, e ainda hoje assim se mantêm na Freguesia de Alcântara, evitando assim duas ruas com o mesmo nome em Lisboa já que mais ou menos seis antes a deliberação camarária de 6 de maio de 1882 atribuíra o topónimo Rua Alexandre Herculano à artéria perpendicular à Avenida da Liberdade dirigida para o Largo do Rato, ao mesmo tempo que também instituía nesta zona a Rua Castilho, a Rua Barata Salgueiro, a Rua Mouzinho da Silveira, a Rua Passos Manuel (depois Rua Rosa Araújo pelo Edital de 19/04/1887) e a Praça do Marquês de Pombal.

Freguesia de Santo António (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Santo António
(Planta: Sérgio Dias)

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (Lisboa/28.03.1810 – 13.09.1877/Vale de Lobos) foi sobretudo um escritor e historiador, considerado o introdutor do Romantismo em Portugal como Almeida Garrett e um  renovador do estudo da História de Portugal, mas também um político que terminou a sua vida como agricultor e afamado produtor do azeite «Herculano», negócio que acabou por vender à Jerónimo Martins.

Alexandre Herculano nasceu no Pátio do Gil (memória de um António Rodrigues Gil) na Rua de São Bento, onde foi colocada uma lápide em 26 de abril de 1910 para o assinalar e aqui  também residiu o arquiteto Manuel Caetano de Sousa, irmão da avó materna de Herculano. Começou a estudar com os padres Oratorianos de S. Filipe Nery, no Convento das Necessidades, mas após a cegueira do seu pai em 1827 não conseguiu seguir para a universidade e em  1830 seguiu escolheu a Aula de Comércio, a que acrescentou um curso de Diplomática  e estudos de francês, italiano, inglês e alemão. Com a a Revolução Liberal interrompeu os estudos e pelo seu envolvimento na Revolta  de 21 de agosto de 1831 do 4 de Infantaria contra o governo miguelista foi mesmo obrigado a emigrar para Inglaterra. Depois juntou-se ao exército liberal de D. Pedro IV na Ilha Terceira, onde conheceu Garrett, desembarcou no Mindelo e participou no cerco do Porto. Ajudou a organizar a Biblioteca Pública do Porto e voltou a Lisboa para dirigir a revista Panorama, de que foi também redator principal de 1837 a 1839 e depois, a partir de 1842. Alexandre Herculano foi agraciado como cavaleiro da ordem da Torre e Espada em 1839 e a partir desse ano passou a dirigir as bibliotecas reais das Necessidades e da Ajuda, nomeado pelo rei D. Fernando. Em paralelo, para somar ao seu romance O Pároco de Aldeia (1825) e à poesia de A Harpa do Crente (1837), foi publicando algumas das sua obras de que destacamos os 2 volumes de Lendas e Narrativas (entre 1839 e 1844), a peça Os Infantes em Ceuta (1842), o romance histórico Eurico, o Presbítero (1842), a sua História de Portugal (1846 – 1853) que introduz em Portugal  a historiografia científica, O Monge de Cister (1848) e História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-1859).  A Academia das Ciências de Lisboa nomeou-o sócio efetivo em 1852 e encarregou-o da recolha dos Portugaliae Monumenta Historica  (documentos valiosos dispersos pelos cartórios conventuais do país), investigação a que se dedicou em 1853 e 1854 e cuja publicação decorreu de 1856 a 1873.

Alexandre Herculano foi ainda preceptor do futuro rei D. Pedro V, deputado por um dos círculos do Porto em 1840, bem como vereador e depois Presidente da Câmara Municipal de Belém (1854 e 1855), após o que foi um dos fundadores do Partido Progressista Histórico, em 1856. Conhecido pela sua posição anticlerical Herculano participou na redação do primeiro Código Civil português (1860-1865) e chegou a propor a introdução do casamento civil a par do religioso.

Em 1867 casou com D. Mariana Meira e retirou-se para a sua quinta de Vale de Lobos (Azoia de Baixo – Santarém) dedicando-se quase exclusivamente à agricultura e, já que 21 dos seus 40 hectares de terra eram olival, produziu o azeite «Herculano» que ganhou medalhas de cobre, prata e ouro em Exposições Internacionais, e cujos direitos de comercialização vendeu em 1876 à Jerónimo Martins.

Freguesia de Santo António (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santo António
(Foto: Sérgio Dias)

A produção de azeite na toponímia de Lisboa

Rua da Oliveirinha - Freguesia de São Vicente - Placa Tipo I (Foto: Lena Aguiar )Santa Marinha

Rua da Oliveirinha – Freguesia de São Vicente – Placa Tipo I
(Foto: Lena Aguiar )

A produção de azeite gerou múltiplos topónimos na cidade de Lisboa, deixando transparecer as memórias rurais no tecido urbano que foi crescendo ao longo dos séculos.

Desde logo, referimos a Rua Alexandre Herculano atribuída por deliberação da Câmara de Lisboa de 06/05/1882, para homenagear o escritor, historiador, responsável pela Real Biblioteca da Ajuda e Presidente da Câmara Municipal de Belém (em 1852) que no final da vida se tornou agricultor na Quinta de Vale de Lobos, sendo também produtor de azeite já que 21 dos seus 40 hectares de terra eram olival. O Azeite Herculano ganhou mesmo uma medalha de cobre (1867) na Exposição Universal de Paris a que somou já medalhas de ouro e prata em 1873, para três anos mais tarde vender os direitos de comercialização à Jerónimo Martins.

@ Azeite_Herculano

Se passarmos aos lagares temos na zona mais antiga da cidade, na Freguesia de Santa Maria Maior, a Rua dos Lagares e a Travessa dos Lagares (Edital de 12/11/1897).

Com o topónimo Olival subsistem ainda nos dias de hoje um Beco e uma Rua do Olival, mais uma Travessa do Olival a Santos (Edital do Governo Civil de Lisboa de 07/11/1874), todos na Freguesia da Estrela. Na Freguesia  do Beato encontramos uma Calçada, um Largo e uma Travessa do Olival ao Beato. E ainda encontramos uma Travessa do Olival à Graça na Freguesia de São Vicente e um Cais do Olival (Edital de 16/09/2009) no Parque das Nações.

Na Freguesia que tem Olivais como topónimo, regista-se a Calçadinha dos Olivais e o que foi o Rossio dos Olivais, tornado Praça Viscondessa dos Olivais, desde a publicação do Edital municipal de 22/07/1892. Mas na vizinha Freguesia do Parque das Nações temos um novo Rossio dos Olivais, oficializado pela edilidade lisboeta em 16/09/2009.

Com Oliveiras como topónimo temos uma Rotunda das Oliveiras no Parque das Nações (Edital municipal de  06/05/2015). No singular, deparamos com o Beco da Oliveira e a Rua da Oliveira ao Carmo (ambas geradas pelo Edital do Governo Civil de 01/09/1859),  e as Escadinhas da Oliveira (Edital municipal de 29/09/1920), todas na Freguesia de Santa Maria Maior, a que acresce a Rua da Oliveira de São Lázaro (Arroios) e a Travessa da Oliveira à Estrela (Estrela). E com diminutivo registamos o Largo da Oliveirinha, repartido pelas Freguesias de Santo António e da Misericórdia, mais a Rua da Oliveirinha na Freguesia de São Vicente.

Beco do Olival - Freguesia da Estrela (Foto: Sérgio Dias)

Beco do Olival – Freguesia da Estrela
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Passos Manuel da Assírio &Alvim

Freguesia de Arroios (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)

«Eras assim, Fernando Assis Pacheco, homem que uma vez vi passar na Passos Manuel com uma daquelas camisas de cores africanas, berrantes para uma Lisboa de casacos cinza» referiu Nuno Costa Santos e podemos imaginar que o escritor e jornalista ia ou vinha do nº 67 dessa artéria, morada da Editora Assírio & Alvim que lhe publicou A Musa IrregularMemórias de um CraqueRespiração Assistida, Trabalhos e Paixões de Benito PradaWalt ou O Frio e o Quente.

Passos Manuel foi o nome pelo qual ficou conhecido o político Manuel da Silva Passos, considerado o principal obreiro da Revolução de Setembro,  e que a si mesmo se definia como um«democrata incorrigível e adepto intransigente da soberania popular», e ganhou o estatuto de topónimo de uma rua de Lisboa 22 anos após o seu falecimento, por Edital do então Presidente da Câmara, José Gregório da Rosa Araújo.

Por esse mesmo Edital municipal de 04/03/1884 foram ainda atribuídos na mesma zona os topónimos Rua Angra do Heroísmo, Rua Mindelo,  Rua José Estêvão e Rua Rebelo da Silva, todos com o denominador comum de evocarem figuras ou acontecimentos marcantes do Liberalismo.

Ilustração Portuguesa, 04.07.1904

Ilustração Portuguesa, 04.07.1904

Manuel da Silva Passos (Matosinhos – Bouças/05.01.1801 – 16.01.1862/Santarém) foi um político Setembrista, da ala esquerda do Liberalismo, que se distinguiu como deputado, eminente orador e ministro entre 1836 e 1842, nas pastas do Reino, da Fazenda e da Justiça, salientando-se sobretudo a intensa obra feita na área da educação, ao promover reformas e abrir novos estabelecimentos de ensino, não sendo assim de estranhar que ainda hoje o seu nome esteja perpetuado num antigo Liceu alfacinha.

Como Ministro do Reino, ao tempo responsável pelas políticas educativas, criou em 1836 a Casa Pia de Évora, o Conservatório Geral de Arte Dramática, a Academia de Belas Artes, o Conservatório das Artes e Ofícios de Lisboa e, no ano seguinte, o Conservatório Portuense de Artes e Ofícios e a Academia Politécnica do Porto. A 17 de novembro de 1836 também publicou um decreto criando liceus em todas as capitais de distrito, lançando assim as bases do moderno sistema de ensino. Nesse mesmo ano ainda reorganizou as Escolas Médico-Cirúrgica de Lisboa e do Porto, assim como estabeleceu a primeira faculdade de Direito portuguesa, pela fusão das anteriores faculdades de Cânones e de Leis da Universidade de Coimbra.

Ainda no ano de 1836, em 31 de dezembro,  fez publicar um novo Código Administrativo, que contou com a colaboração do seu irmão, José da Silva Passos, com quem sempre contou para a fundação de jornais, como O Amigo do Povo e o Revolução de Setembro.

Passos Manuel era desde 1822 formado em Leis por Coimbra, tal como o seu irmão mais velho José da Silva Passos e, exerceu como advogado na cidade do Porto, nomeadamente na Relação e Casa do Porto e, foi na década de vinte do séc. XIX  que numa loja de Coimbra se iniciou na Maçonaria, sob o nome simbólico de Howard, tendo mais tarde sido Grão-Mestre do Norte (1834 – 1850).

Emigrado durante o Miguelismo na Corunha, em Plymouth e na Bélgica, integrou-se em 1832 como oficial no Batalhão de Voluntários de Leça, com participação intensa na política durante o cerco do Porto. Em 1834 foi eleito deputado pelo Douro no lado saldanhista, passando a representar nas Cortes a esquerda mais radical do Vintismo e, quando em 9 de setembro de 1836  a Guarda Nacional pegou em armas para ocupar a capital, proclamando a Constituição de 1822 estava desencadeada a Revolução de Setembro que Passos Manuel defendia.

A partir de julho de 1837 dedicou-se à lavoura e a constituir família, no Ribatejo, como o próprio referiu num discurso nas Cortes em 18 de outubro de 1844, de que  «não há melhor antídoto para as paixões políticas do que o casamento e a gordura», apesar de depois ainda ter sido depois deputado pelo Porto (1838), por Nova Goa (1842) e por Santarém (1851), bem como senador (1841) e nomeado Par do Reino por carta régia de 1861, cargo esse que já não chegou a ocupar por razões de saúde.

Freguesia de Arroios

Freguesia de Arroios                                                                           (Planta: Sérgio Dias)

A Rua do pintor de Almodôvar, Severo Portela

Freguesia de Marvila (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Severo Portela partilha o mesmo Edital de atribuição que o Largo Luís Dourdil, datado de 26/12/2001, na mesma freguesia de Marvila. Dourdil ficou no arruamento com entrada pela Rua Dinah Silveira de Queiroz (Zona L de Chelas) e a  Severo Portela coube a Rua B – B’ da Zona L de Chelas.

Pelo mesmo Edital foram também atribuídos arruamentos aos pintores Artur Bual  (largo formado pelas Ruas Q5A e Q5B da Zona L de Chelas), Eduarda Lapa (Rua G da Zona L de Chelas) e Mário Botas ( Rua Z da Zona L de Chelas).

SeveroPortela

Severo Portela Júnior (Coimbra/10.09.1898 – 08.07.1995/Lisboa) logo no liceu foi aconselhado a matricular-se na Escola de Belas Artes de Lisboa e, aí cursou escultura e foi discípulo de Simões de Almeida (Sobrinho). Mas com apenas 22 anos, foi viver para Almodôvar, por ser a terra da pintora Maria José Carrilho Marreiros, que se tornou a sua esposa e, dedicou-se à pintura. Em 1933, foi ainda bolseiro da Junta de Educação Nacional para aperfeiçoamento de técnicas de pintura em Espanha, França e Itália.

Na obra de Severo Portela o  Alentejo é uma constante  sendo ícones disso as suas telas Motivos de Cozinha Alentejana, As Bruxas de Almodôvar, Os de Almodôvar, A Ceifeira Bonita, Ceifeiro, Mestre Xico e Abegãos .

Em Lisboa tem obra exposta na capela baptismal da Igreja de S. João de Brito e no altar-mor da Igreja do Santo Condestável, um painel alusivo ao Código Civil no Palácio da Justiça, um painel sobre o comércio do Oriente e a Casa dos Vinte e Quatro na União das Associações de Comerciantes do Distrito de Lisboa, um mural alusivo à Rainha na Escola D. Luísa de Gusmão, um painel alegórico à Escola de Sagres no Museu da Marinha e uma tapeçaria alusiva a D. Fuas Roupinho no Palácio de Belém. Nesta cidade tinha também um atelier onde pintava em frente ao Tejo.

Este pintor realizou ainda diversos trabalhos por todo o país entre os quais se destacam painéis no Palácio de Justiça do Porto e no Palácio de Justiça da Covilhã, um mural referente a Moisés e à Lei no Tribunal de Bragança, uma tapeçaria no Tribunal de Almada, bem como a decoração da sala de audiências do Tribunais de Beja, Viseu, Golegã e Setúbal; um mural na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, um fresco na Faculdade de Medicina de Coimbra, painéis no Liceu de Bragança, na Escola Secundária D. Manuel I (Beja) e na Escola Técnica de Moura, a Nau Catrineta do refeitório da Escola Náutica Infante D. Henrique (Paço de Arcos); a decoração do Grémio da Lavoura de Beja e os painéis do Foral da Câmara Municipal de Beja; bem como a decoração da Capela Baptismal da Igreja Matriz de Almodôvar, os frescos da Igreja de Santo Isidro de Pegões, a  Ceia de Emaúz e o retrato do Bispo D. José na Sé Catedral de Beja.

A sua obra está representada no Museu Municipal Severo Portela em Almodôvar, criado em 1983, com parte do espólio do pintor, no Museu da Cidade (Lisboa), no Museu de Arte Contemporânea/Museu do Chiado de Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves (Lisboa), no Museu Rainha D. Leonor (Beja), no Museu José Malhoa (Caldas da Rainha), no Museu do Caramulo, no Museu Soares dos Reis (Porto) e,  no Museu Grão Vasco (Viseu).

Em paralelo com a sua carreira artística, Severo Portela  foi um proprietário agrícola que desempenhou o cargo de Presidente do Grémio da Lavoura de Almodôvar e que foi Procurador à Câmara Corporativa por designação do Conselho Corporativo, na qualidade de artista plástico  e, deputado na XI Legislatura, de 25 de novembro de 1969 a 28 de abril de 1973.

Freguesia de Marvila

Freguesia de Marvila