Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)
«Eras assim, Fernando Assis Pacheco, homem que uma vez vi passar na Passos Manuel com uma daquelas camisas de cores africanas, berrantes para uma Lisboa de casacos cinza» referiu Nuno Costa Santos e podemos imaginar que o escritor e jornalista ia ou vinha do nº 67 dessa artéria, morada da Editora Assírio & Alvim que lhe publicou A Musa Irregular, Memórias de um Craque, Respiração Assistida, Trabalhos e Paixões de Benito Prada e Walt ou O Frio e o Quente.
Passos Manuel foi o nome pelo qual ficou conhecido o político Manuel da Silva Passos, considerado o principal obreiro da Revolução de Setembro, e que a si mesmo se definia como um«democrata incorrigível e adepto intransigente da soberania popular», e ganhou o estatuto de topónimo de uma rua de Lisboa 22 anos após o seu falecimento, por Edital do então Presidente da Câmara, José Gregório da Rosa Araújo.
Por esse mesmo Edital municipal de 04/03/1884 foram ainda atribuídos na mesma zona os topónimos Rua Angra do Heroísmo, Rua Mindelo, Rua José Estêvão e Rua Rebelo da Silva, todos com o denominador comum de evocarem figuras ou acontecimentos marcantes do Liberalismo.
Ilustração Portuguesa, 04.07.1904
Manuel da Silva Passos (Matosinhos – Bouças/05.01.1801 – 16.01.1862/Santarém) foi um político Setembrista, da ala esquerda do Liberalismo, que se distinguiu como deputado, eminente orador e ministro entre 1836 e 1842, nas pastas do Reino, da Fazenda e da Justiça, salientando-se sobretudo a intensa obra feita na área da educação, ao promover reformas e abrir novos estabelecimentos de ensino, não sendo assim de estranhar que ainda hoje o seu nome esteja perpetuado num antigo Liceu alfacinha.
Como Ministro do Reino, ao tempo responsável pelas políticas educativas, criou em 1836 a Casa Pia de Évora, o Conservatório Geral de Arte Dramática, a Academia de Belas Artes, o Conservatório das Artes e Ofícios de Lisboa e, no ano seguinte, o Conservatório Portuense de Artes e Ofícios e a Academia Politécnica do Porto. A 17 de novembro de 1836 também publicou um decreto criando liceus em todas as capitais de distrito, lançando assim as bases do moderno sistema de ensino. Nesse mesmo ano ainda reorganizou as Escolas Médico-Cirúrgica de Lisboa e do Porto, assim como estabeleceu a primeira faculdade de Direito portuguesa, pela fusão das anteriores faculdades de Cânones e de Leis da Universidade de Coimbra.
Ainda no ano de 1836, em 31 de dezembro, fez publicar um novo Código Administrativo, que contou com a colaboração do seu irmão, José da Silva Passos, com quem sempre contou para a fundação de jornais, como O Amigo do Povo e o Revolução de Setembro.
Passos Manuel era desde 1822 formado em Leis por Coimbra, tal como o seu irmão mais velho José da Silva Passos e, exerceu como advogado na cidade do Porto, nomeadamente na Relação e Casa do Porto e, foi na década de vinte do séc. XIX que numa loja de Coimbra se iniciou na Maçonaria, sob o nome simbólico de Howard, tendo mais tarde sido Grão-Mestre do Norte (1834 – 1850).
Emigrado durante o Miguelismo na Corunha, em Plymouth e na Bélgica, integrou-se em 1832 como oficial no Batalhão de Voluntários de Leça, com participação intensa na política durante o cerco do Porto. Em 1834 foi eleito deputado pelo Douro no lado saldanhista, passando a representar nas Cortes a esquerda mais radical do Vintismo e, quando em 9 de setembro de 1836 a Guarda Nacional pegou em armas para ocupar a capital, proclamando a Constituição de 1822 estava desencadeada a Revolução de Setembro que Passos Manuel defendia.
A partir de julho de 1837 dedicou-se à lavoura e a constituir família, no Ribatejo, como o próprio referiu num discurso nas Cortes em 18 de outubro de 1844, de que «não há melhor antídoto para as paixões políticas do que o casamento e a gordura», apesar de depois ainda ter sido depois deputado pelo Porto (1838), por Nova Goa (1842) e por Santarém (1851), bem como senador (1841) e nomeado Par do Reino por carta régia de 1861, cargo esse que já não chegou a ocupar por razões de saúde.
Freguesia de Arroios (Planta: Sérgio Dias)