Bartolomeu de Gusmão

Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus inventos à Corte de D. João V
(Imagem de domínio público)

A Rua de São Bartolomeu passou pelo Edital municipal de 13 de dezembro de 1911 a denominar-se Rua Bartolomeu de Gusmão, com a legenda «Inventor dos Aeróstatos/1675 – 1724», em homenagem ao criador da Passarola Voadora, embora mais de 40 anos depois a legenda tenha passado a «Precursor da Aeronáutica/1685 – 1724» de acordo com o parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 24 de julho de 1958.

Este arruamento da antiga Freguesia de Santiago (hoje, Santa Maria Maior), com início na Rua do Milagre de Santo António e fim na Rua do Chão da Feira,  que segundo Norberto de Araújo  corresponde «sensivelmente à setecentista Rua Direita das Portas de Alfofa», veio com a vereação republicana a perpetuar Bartolomeu Lourenço de Gusmão (Brasil- Santos/1685 – 18.11.1724/Toledo -Espanha), filho do português Francisco Lourenço Rodrigues e da brasileira Maria Álvares, que  aos 24 anos inventou um aeróstato – um balão de ar aquecido capaz de voar – e mostrou as suas experiências  a D. João V e à sua corte, em 1709. Por tal feito foi cognominado pelos seus contemporâneos como Padre Voador e o seu invento ficou conhecido como Passarola Voadora. Durante a segunda metade do século XVIII difundiu-se a ideia de que o próprio Bartolomeu de Gusmão teria voado entre o Castelo de São Jorge e o Terreiro do Paço, num aeróstato por ele construído, mas que só se pode entender como uma lenda enquanto não se encontrarem documentos que registem esse acontecimento.

Este padre jesuíta estudou no Seminário de Belém, na Baía, com especial empenho em Matemática e Ciências Físicas e aí foi ordenado. Logo aos 15 anos, para resolver o problema de falta de água do Seminário concretizou o seu primeiro invento: uma máquina de elevar água até ao cume do monte onde se encontrava instalada a instituição. Também aí teve importância o reitor do Seminário e seu preceptor, Alexandre de Gusmão,  que aliás era um dos seus 11 irmãos e que se tornou um importante diplomata de D. João V, fazendo com que Bartolomeu em 1718 escolhesse «de Gusmão» como apelido  e o acrescentasse ao seu nome original.

O padre Bartolomeu viveu em Lisboa, de 1701 a 1705, alojado na casa do 3º Marquês de Fontes e regressou em 1708 para ficar até 1724, com algumas interrupções. Houve um interregno entre 1713 e 1715 quando residiu na Holanda, e talvez também em Inglaterra e França. Em 1710 inventou «vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água»; em 1721 foi a vez do «carvão de lama»  e em 1724, da «máquina para aumentar o rendimento dos moinhos hidráulicos». Para desenvolver este trabalho arrendou umas casas em Santa Apolónia, que eram do senhor de Pancas, onde construiu um moinho de vento e fazia observações astronómicas. Sabe-se também que vivia no Vale de Santo António, perto da Bica do Sapato.

Em 1720, Bartolomeu de Gusmão tornou-se bacharel, licenciado e doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra e foi nomeado académico da Academia Real de História, também com a incumbência de redigir a História Eclesiástica do Bispado do Porto. O rei D. João V colocou-o em Lisboa, na Secretaria de Estado, para decifrar mensagens interceptadas aos diplomatas estrangeiros, tanto mais que como poliglota que era, também executou traduções de francês, italiano, flamengo, inglês, grego, latim e hebraico. Em 1722, foi nomeado fidalgo-capelão da casa real.

No entanto, em setembro de 1724 fugiu de Portugal,  por ter sido acusado de bruxaria e judaísmo, fruto da denúncia do padre Luiz Gonzaga à Inquisição. Na viagem de fuga adoeceu e foi internado no Hospital da Misericórdia de Toledo, onde acabou por falecer, com 38 anos de idade, mas ao longo dos séculos seguintes foi recebendo inúmeras homenagens.

Em 1912, houve uma cerimónia de colocação de uma lápide, na esplanada do Castelo de São Jorge, a comemorar a primeira elevação do Aeróstato do Padre Bartolomeu de Gusmão, promovida pelo Aero Club de Portugal, onde estiveram presentes o Tenente Coronel Hermano de Oliveira e o Dr. Veloso Rebelo, encarregado dos negócios do Brasil. Setenta anos depois, o  Memorial do Convento (1982) de José Saramago, colocou Bartolomeu de Gusmão como uma das personagens centrais do romance. E sete anos mais tarde, em 25 de outubro de 1989, foi inaugurada na Alameda das Comunidades Portuguesas, via de acesso ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, uma estátua de pedra sua, da autoria do escultor Mestre Martins Correia, executada no início da década de setenta, quando já dava o seu nome a um Aeroporto da Força Aérea Brasileira. Na década de noventa do séc. XX, a Escola Básica do 2º ciclo sita na Rua da Bela Vista à Lapa nº 43 deixou de ser a Escola Paula Vicente para ter como Patrono Bartolomeu de Gusmão.

Para além disto, Bartolomeu de Gusmão teve honras de retrato em selos de Portugal, Brasil, Paraguai e Vaticano, assim como o seu nome passou a topónimo em inúmeras artérias portuguesas como em Chaves, Damaia, Fernão Ferro, Murtosa, Oeiras, Ovar, Parede, Rio de Mouro e Tires, assim como no Brasil, em Anápolis, Aparecida, Baía, Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Mangueira, Minas Gerais, Pernambuco, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Salvador, Santa Catarina, Santos e São Paulo, entre outras.

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A Avenida Brasília da Torre de Belém

nas Freguesias de Alcântara e de Santa Maria de Belém – nas futuras Freguesias de Alcântara e de Belém

Freguesias de Alcântara e de Belém                                                           (Foto: José Carlos Batista)

Cerca de três meses depois da inauguração em 21 de abril de 1960 da cidade de Brasília como capital do Brasil,  Lisboa perpetuou-a numa Avenida alfacinha próxima da linha do Tejo, através do Edital municipal de 20 de julho de 1960,  que era a via pública a sul do caminho-de-ferro, paralela à Avenida da Índia, entre a passagem de nível de Alcântara-Mar e a Avenida da Torre de Belém aberta em 1945.

Este topónimo nasceu de um pedido do Almirante Sarmento Rodrigues – Ministro do Ultramar de Salazar, de 1950 a 1955 – ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que era então António Vitorino França Borges, para se fixar em Lisboa a nova capital brasileira que iria suceder ao Rio de Janeiro (1763 a 1960), que por sua vez já sucedera a Salvador (1549 a 1763).

Em 1956, Juscelino Kubitschek – o Presidente do Brasil de 1956 a 1961 – convidou o arquiteto brasileiro das formas curvas, Oscar Niyemer, para projetar os edifícios públicos da nova capital brasileira, que ficaram concluídos antes de 1960, enquanto o plano da cidade, em forma de borboleta, foi ganho pelo  arquiteto Lúcio Costa.

Brasília é Património Histórico e Cultural da Humanidade desde 1987 e em 2008 foi Capital Ibero-Americana da Cultura.

Freguesias de Alcântara e de Belém         
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

#EuropeForCulture

A Rua dedicada a Gilberto Freyre do luso-tropicalismo

Freguesia de Marvila (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias)

Por proposta do Sr. Appio Sottomayor e do Prof. Esteves Pereira, enquanto membros da Comissão Municipal de Toponímia, foi atribuído o nome de Gilberto Freyre em Lisboa, o que se concretizou pelo Edital municipal de 26/12/2001 na Rua M4 da Zona M de Chelas, em Marvila, sendo também atribuída a Rua Jorge Amado nas proximidades, fazendo com que no presente a Rua Gilberto Freyre una a Rua Jorge Amado à Avenida Vergilio Ferreira.

Gilberto Freyre (Brasil-Recife/15.04.1900 – 18.01.1987/Recife-Brasil) foi um sociólogo brasileiro que se distinguiu pela criação do conceito de luso-tropicalismo: uma natural e inata capacidade de adaptação dos portugueses aos trópicos teria permitido uma miscigenação cultural de índios, negros e lusos sendo essa a característica da colonização portuguesa.  Politicamente, esta tese teve grandes repercussões no Brasil por valorizar o papel importante dos índios e negros na formação da sociedade brasileira.

A sua obra mais conhecida é Casa Grande & Senzala (1933), onde traçou um quadro da fusão de raças e das heranças culturais com base luso-africana e o modo como esta fusão contribuiu para a identidade brasileira, pelo que recebeu elogios de Roland Barthes e Fernand Braudel.

Foi na sequência de uma visita a Cabo Verde, Guiné, São Tomé, Angola, Moçambique e Goa,  a convite do governo português, que Gilberto Freyre lançou o conceito de tropicalismo e luso-tropicalismo expresso nas suas obras O mundo que o português criou (1940),  O luso e o trópico (1961), Arte, ciência e trópico (1962), Homem, cultura e trópico (1962), A Amazónia brasileira e uma possível lusotropicologia (1964), para além de em 1966 ter iniciado um Seminário de Tropicologia que dirigiu até à sua morte.

Refira-se ainda que Gilberto Freyre se exilou em Portugal de 1930 a 1933, acompanhando o governador de Pernambuco, de quem era secretário particular, na fuga provocada pela Revolução de Outubro de 1930, que colocou Getúlio Vargas no poder.

Freguesia de Marvila (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua do político liberal Rodrigo da Fonseca

A Rua Rodrigo da Fonseca em data entre 1898 e 1908                                                                                  (Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Na antiga Azinhaga do Vale de Pereiro está desde 1884 fixado o político liberal Rodrigo da Fonseca, pela deliberação camarária de  28 de fevereiro e consequente Edital de 4 de março, na artéria que hoje se estende da Rua do Salitre à Rua Marquês de Fronteira.

Rodrigo da Fonseca Magalhães (Condeixa-a-Nova/24.07.1787-11.05.1858/Lisboa), ainda quando estudante em Coimbra, abraçou a carreira militar alistando-se no  Batalhão Académico sob o comando do lente de Matemática Tristão de Oliveira, para combater as invasões francesas de 1807. Dez anos depois, em 1817, sendo tenente e estando implicado na conspiração de Gomes Freire, abandonou o exército e refugiou-se no Brasil onde foi secretário do seu antigo comandante Luís do Rego Barreto e a partir de 1821, da Junta Governativa organizada após a Revolução Liberal do Porto. Ainda nesse ano de 1821, fundou o primeiro jornal político de Pernambuco, o Aurora Pernambucana.

Regressou a Portugal em 1822 com o general Luís do Rego Barreto de quem já era então genro, mas após o triunfo da Vilafrancada foram ambos deportados para a Figueira da Foz. Em 1824, Rodrigo da Fonseca obteve licença para morar em Viana do Castelo mas  em 1828, após se recusar a aderir à causa da monarquia absoluta de D. Miguel teve de se refugiar em Inglaterra, tendo embarcado com o seu amigo Silva Carvalho. Em Londres apresentou-se a Pedro de Sousa Holstein, futuro Duque de Palmela, que liderava a emigração constitucional portuguesa, sendo colocado na secretaria da embaixada, encarregue de dirigir os jornais liberais Aurora e Paquete de Portugal. 

Voltou de vez ao nosso país após o desembarque de D. Pedro IV no Mindelo, sendo então diretor-geral do Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça e administrador da Imprensa Nacional. Foi também deputado pelo Minho (1934); fundador com António Pereira dos Reis e redator do Revista; Ministro dos Negócios do Reino do Duque de Saldanha (1835)  período em que criou por decreto o Instituto de Ciências Físicas e Matemáticas em Lisboa mas revogado após protestos da Universidade de Coimbra e queda do governo, repetindo a pasta no governo do 1º Conde de Bonfim (1839) embora tenha contribuído para a sua queda defendeu no parlamento que não podia governar sem a liberdade da imprensa, voltando à pasta em 1851-1856 outra vez com o Marechal Saldanha; Ministro dos Negócios Estrangeiros (1841) no governo de Joaquim António de Aguiar; Conselheiro de Estado (1842); e ainda Par do Reino (1847).

Tendo fixado a sua residência em Lisboa na Rua dos Navegantes, onde veio a falecer, Rodrigo da Fonseca foi ainda sócio emérito da Academia Real das Ciências de Lisboa, sócio do Conservatório Real de Lisboa e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Recusou títulos nobiliárquicos mas mesmo assim foi galardoado como fidalgo cavaleiro da Casa Real (2 de agosto de 1835), com a grã-cruz da Ordem de Cristo, o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, a Cruz n.º 4 das Campanhas da  Guerra Peninsular e a medalha britânica de 7 ações.

Freguesias de Santo António, Avenidas Novas e Campolide (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias de Santo António, Avenidas Novas e Campolide
(Planta: Sérgio Dias)

 

 

Cecília e Dinah, duas escritoras brasileiras na toponímia de Lisboa

Rua Cecília Meireles – Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Sérgio Dias)

Cecília Meireles em 1964 e Dinah Silveira de Queiroz em 1984, são duas escritoras brasileiras que a partir dessas datas ficaram inscritas na toponímia de Lisboa, em São Domingos de Benfica e em Marvila.

A Rua Cecília Meireles nasceu do Edital de 28/12/1964 nas Ruas A e B à Travessa de São Domingos de Benfica, pouco mais de um mês após o seu falecimento, e a Rua Dinah Silveira de Queiroz foi através do Edital de 28/02/1984, na Rua L1 da Zona L de Chelas, quase 2 anos após a sua morte, em resultado de uma moção aprovada por unanimidade na reunião de Câmara de 11 de julho de 1983.

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro/07.11.1901 – 09.11.1964/Rio de Janeiro), neta de açorianos, foi uma professora, cronista e poetisa brasileira que iniciou a sua carreira literária com a publicação do livro de poesia Espectro (1919). A sua vasta produção literária de poesia, teatro, romance e ensaio, conta com títulos como por exemplo, Nunca mais… e Poema dos Poemas (1923); Baladas para El-Rei (1925); o ensaio O Espírito Vitorioso (1929); publica em Lisboa uma apologia do Simbolismo, a Saudação à menina de Portugal (1930), assim como o ensaio Batuque, Samba e Macumba (1935) com ilustrações de sua autoria; Viagem ( 1939) que lhe valeu o Prémio de Poesia Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras; Olhinhos de Gato, publicado em capítulos na revista Ocidente (1939-1940); uma biografia de Rui Barbosa para crianças Rui — Pequena História de uma Grande Vida (1949); Romanceiro da Inconfidência (1953) que foi adaptado para filme por Joaquim Pedro de Andrade com o título Os inconfidentes (1972); os ensaios Panorama Folclórico de Açores (1955), A Bíblia na Literatura Brasileira (1957) , Ou Isto ou Aquilo (1964) ou Solombra (1964) que foi Prémio Jabuti de Poesia.

Paralelamente, enquanto professora do magistério primário desde 1917, em escolas oficiais do antigo Distrito Federal do Rio de Janeiro, espelhou a sua vertente de pedagoga em crónicas sobre educação, como a página diária no Diário de Notícias em 1930 e 1931, ensaios sobre educação e obras para crianças. Em 1934, organizou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, no Bairro de Botafogo, no Centro Infantil que dirigia. Aposentou-se em 1951 como diretora de escola, trabalhando a partir de então como produtora e redatora de programas culturais, na Rádio Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.

Foi ainda docente de Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária, na Universidade do Distrito Federal (hoje UFRJ), de 1935 a 1938, assim como de Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas em 1940. Proferiu ainda conferências na Europa, Estados Unidos, África e Ásia sobre Literatura, Educação e Folclore e colaborou também, de 1936 a 1938, no jornal A Manhã e na revista Observador Econômico. 

Cecília Meireles recebeu as distinções de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova Deli (1953) e Oficial da Ordem de Mérito do Chile (1952), para além do Prémio de Tradução/Teatro da Associação Paulista de Críticos de Arte (1962), do Prémio Jabuti de Tradução de Obra Literária da Câmara Brasileira do Livro (1963),  do Prémio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra (1965),  e da sua efígie ser posta na nota de cem cruzados do  Banco Central do Brasil (1989).

O seu nome foi dado à Escola Municipal de Primeiro Grau do Bairro de Cangaíba em São Paulo (1963), à Escola Municipal de Educação Infantil, no Jardim Nove de Julho em São Paulo (1974), à Biblioteca de Valparaiso no Chile (1964), ao grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa no Rio de Janeiro (1965), à Biblioteca Infanto-Juvenil no Bairro Alto da Lapa de São Paulo (1991), assim como foi consagrada em artérias de Ponta Delgada, do Porto, Curitiba, Itajaí, Ilha Comprida, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo, Xinguara do Pará, entre outras.

Na sua vida pessoal, casou-se em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, mas 5 anos após o suicídio deste casou-se com o professor e engenheiro agrónomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.

Dinah Silveira de Queiroz (São Paulo/09.11.1911 – 27.11.1982/Rio de Janeiro) foi uma escritora brasileira que abarcou diversos géneros, desde o romance, contos e crónicas, à literatura infantil. Escreveu Pecado (1937); a novela Sereia Verde (1938); Floradas na Serra (1939) que recebeu o Prémio Antônio de Alcântara Machado da Academia Paulista de Letras e foi transposto para o cinema em 1955; os romance Margarida La Roque (1950) e A Muralha (1954); a peça bíblica O oitavo dia (1956); os contos Eles herdarão a terra (1960); Os invasores (1964); A Princesa dos Escravos (1965); Verão do Infiéis (1965) distinguido com o prémio de ficção da Prefeitura do Distrito Federal; Comba Malina (1969); O Livro dos Transportes (1969) dedicado ao público infantil e Memorial de Cristo (1974-1977). Foi laureada em 1954, com o Prémio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra, pela Academia Brasileira de Letras.

Na sua vida pessoal casou-se em 1929 com o desembargador Narcélio de Queiroz, tendo enviuvado e em 1962, foi nomeada Adido Cultural da Embaixada do Brasil em Madrid, casando novamente nesse mesmo ano com o embaixador Dario Castro Alves (1927-2010), com quem residiu em Lisboa durante largos anos, e nesta cidade escreveu o seu último livro Guida, caríssima Guida (1981).

Dinah Silveira de Queiroz ainda escreveu artigos e crónicas para a Rádio Nacional, a Rádio Ministério da Educação e Jornal do Commercio no Brasil, para além de um programa semanal na Rádio do Vaticano.

Foi a 2ª mulher membro da Academia Brasileira de Letras (1980), para além de ter integrado a Academia Paulista de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa, e ter sido distinguida com o seu nome em artérias do Balneário Camboriú, Campinas, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, entre outras.

Rua Dinah Silveira de Queiroz - Freguesia de Marvila (Foto: Sérgio Dias)

Rua Dinah Silveira de Queiroz – Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias)

Mem de Sá, 3º governador do Brasil, numa Rua de Alvalade

Freguesia de Alvalade                                                                                                                 (Foto: Sérgio Dias)

Mem de Sá, governador do Brasil de 1556 a 1572, está desde a publicação do Edital de 29 de janeiro de 1979 fixado numa Rua de Alvalade, com a legenda «Governador do Brasil/Século XVI».

Por solicitação da Secção de Escrivania da CML para atribuição de topónimos aos arruamentos ainda sem nomenclatura própria, a Comissão Municipal de Toponímia deu parecer favorável a que a Rua 4.2 do Novo Bairro das Fonsecas (junto à Avenida General Norton de Matos) passasse a designar-se Rua Mem de Sá, o que se concretizou pelo Edital municipal de 29/01/1979, que também colocou na Rua 4.3 do Novo Bairro das Fonsecas, a Rua Dom Luís da Cunha, em homenagem a este diplomata do séc. XVII-XVIII.

mem-de-sa-caraMem de Sá (Coimbra/c. 1504 – 02.03.1572/Baía- Brasil), meio-irmão do poeta Sá de Miranda (1481 – 1558) por parte do pai, Gonçalo Mendes de Sá, cónego da Sé de Coimbra, formou-se em Leis pela Universidade de Salamanca (1526) e  em 1532 tornou-se juiz desembargador da Casa dos Agravos da Suplicação. Foi nomeado como 3º Governador-geral do Brasil em 23 de julho de 1556 e distinguiu-se por transferir a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro dos morros de Cara de Cão e do Pão de Açúcar onde o seu sobrinho Estácio de Sá a fundara, para junto do morro do Castelo, em 1 de março de 1567, por motivos de defesa. Mem de Sá também reorganizou a administração, incentivou a produção açucareira e o comércio, avançando com a penetração nos sertões e a pacificação dos índios, quer com o apoio aos Jesuítas para a sua política de aldeamentos quer por guerra contra os índios revoltosos, para além de ter organizado 2 expedições para expulsar os franceses (1567). Também estimulou o tráfico de escravos africanos para o Brasil ao mesmo tempo que decretava leis que protegiam da escravidão os indígenas já catequizados e combateu a antropofagia.

Mem de Sá governou até ao ano da sua morte, 1572. D. Luís de Vasconcelos foi enviado em 1570 para ser seu sucessor,  mas foi morto na viagem no decorrer de um ataque de corsários franceses e quem lhe sucedeu foi Salvador Correia de Sá.

Para além de Lisboa, Mem de Sá tem artérias homónimas nas cidades brasileiras de Belo Horizonte, Camoina Grande, Criciúma, Cuiabá, Eunapolis, Manaus, Maringá, Mogi Guaçu, Niterói, Osasco, São Miguel do Oeste, São Paulo, Vitória da Conquista e uma Avenida no Rio de Janeiro.

Freguesia de Alvalade (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias)

 

 

 

Os três bandeirantes da toponímia de Lisboa em Belém

Freguesia de Belém (Planta: Sérgio Dias)

Em 1976, na zona de Belém, pelo Edital municipal de 30 de dezembro,  foram atribuídos 3 topónimos todos referentes a bandeirantes que exploraram os limites do território brasileiro, todos com a legenda «Bandeirante/Século XVII»:  a Rua António Raposo Tavares, a  Rua Luís Pedroso de Barros e a Rua Luís Castanho de Almeida.

Bandeirantes eram os indivíduos que no Brasil, a partir do séc. XVI, integravam as bandeiras – expedições destinadas a explorar o território brasileiro e da América do sul na época colonial, em busca de riquezas minerais ou indígenas para escravizar -, também conhecidos como bandeiristas ou sertanistas e que permitiram a expansão territorial do Brasil além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Como esta ocupação estava muito ligada a São Paulo, no Brasil o termo bandeirante é também sinónimo de paulista e ainda, de pioneiro.

Pelo mesmo Edital de 1976 a edilidade decidiu atribuir nestes arruamentos da zona do Restelo construídos pela EPUL,  nomes de  navegadores que se distinguiram no século XV como foi o caso do navegador e mercador italiano Alvisse Cadamosto e dos navegadores portugueses Diogo de Teive, Diogo de Silves, Gonçalo de Sintra, Pedro de Sintra, João Dias,  Vicente Dias e ainda, do missionário na Ásia, Padre Bento de Góis.

Rua António Raposo Tavares - Freguesia de Belém (Foto: Sérgio Dias)

Rua António Raposo Tavares – Freguesia de Belém
(Foto: Sérgio Dias)

António Raposo Tavares (Portugal – São Miguel do Pinheiro/c. 1598 – 1658/S. Paulo – Brasil) , que ficou na Rua R 8 da Zona do Restelo, entre a Rua Álvaro Esteves e a Rua Gonçalo Velho Cabral, foi aos 20 anos para o Brasil, com o seu pai Fernão Vieira Tavares, que governava a Capitania de São Vicente, em São Paulo. Após a morte de seu pai, em 1622, Raposo Tavares participou em bandeiras para capturar índios, na tentativa de escravizá-los. Em 1630, expulsou os jesuítas espanhóis de Guaíra para ampliar a demarcação territorial portuguesa. De volta a São Paulo, em 1633, foi nomeado juiz ordinário da Capitania de São Vicente, mas desistiu do cargo, partindo noutra expedição em 1638, no decorrer da qual expulsou os jesuítas espanhóis da cidade de Tapes. De 1639 a 1642, integrou  as bandeiras paulistas, a pedido de Salvador Correia de Sá, para expulsar os holandeses do estado da Baía e Pernambuco. A sua última jornada como bandeirante começou em  1648, rumo à Amazónia, em busca de prata no território espanhol e regressou em 1651, falecendo 7 anos depois.

Rua Luís Pedroso de Barros - Freguesia de Belém (Foto: Sérgio Dias)

Rua Luís Pedroso de Barros – Freguesia de Belém
(Foto: Sérgio Dias)

Luís Pedroso de Barros (Brasil – S. Paulo/ c. 1608 – c. 1662/Peru), foi fixado na Rua R 9 da Zona do Restelo, entre a Rua Álvaro Esteves e a Rua Gonçalo Velho Cabral, e era também ele um bandeirante, irmão de um bandeirante famoso, Valentim Pedroso de Barros. Em 1639 participou com o seu irmão na expedição para expulsar os holandeses da Baía e Pernambuco, sob o comando de António Raposo Tavares, levando muitos índios da sua propriedade. Em 1656 partiu na bandeira ao sertão dos índios serranos, na Bolívia de hoje e, segundo Pedro Taques, terá falecido em 1662 nos desertos  do Peru. Foi casado com a irmã da sua cunhada, ambas da Baía e ambas a saberem ler e escrever.

Luís Castanho de Almeida (Brasil – S. Paulo/c. 1620 – 1672/Matto Grosso dos Goyazes- Brasil), que deu nome à Rua T 2 da Zona do Restelo, entre a Avenida da Ilha da Madeira e a Rua Gonçalo Velho Cabral, foi um especialista em capturar índios que faleceu de uma flechada numa revolta, quando no sertão de Guanicuns ia para capturar índios. Segundo Pedro Taques «era um valente sertanista que tinha penetrado várias vezes o sertão a conquistar bárbaros gentios, e fez última entrada em 1671, levando somente dois filhos legítimos e dois bastardos, com um corpo de Carijós, chamados naqueles tempos administrados, os quais, não acomodando-se com a vida penosa de fomes e outras necessidades, se uniram todos para matarem a seu administrador Luiz Castanho e aos filhos».

Rua Luís Castanho de Almeida - Freguesia de Belém (Foto: Sérgio Dias)

Rua Luís Castanho de Almeida – Freguesia de Belém
(Foto: Sérgio Dias)

 

 

Ferreira de Castro, emigrante no Brasil e autor de «A Selva», numa rua de Marvila

Freguesia de Marvila (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias)

Ferreira de Castro, o autor de A Selva – fruto da sua experiência como emigrante no Brasil-, desde a publicação do Edital municipal de 28 de fevereiro de 1984 é o topónimo de uma rua de Marvila, identificada até então como Rua E da Zona N 1 de Chelas.

O mesmo Edital colocou numa rua da mesma freguesia, mas na Zona L de Chelas,  a escritora brasileira Dinah Silveira de Queiroz. Cinco anos depois,  junto à Rua Ferreira de Castro nasceu a Rua como o nome da poetisa Luísa Neto Jorge e em 1997, paralela, surgiu a Avenida José Régio.

Ilustração, 1 de novembro de 1933

Ilustração, 1 de novembro de 1933

José Maria Ferreira de Castro (Oliveira de Azeméis- Ossela/24.05.1898 – 29.06.1974/Porto) foi um escritor e jornalista que retratou na sua obra a vida dos emigrantes no Brasil, nomeadamente no romance Os Emigrantes (1926), e em A Selva (1930), no qual narra a vida nos seringais da Amazónia inspirando-se na sua própria experiência de trabalho. A Selva, romance focado no drama dos trabalhadores dos seringais na Amazónia, com muito de reportagem e objetividade quase fotográfica, foi traduzida para dezenas de línguas e tornar-se-ia num dos romances portugueses mais lidos desde sempre, sendo em 1973 um dos dez romances mais lidos em todo o mundo segundo a UNESCO. A edição de A Selva no Brasil, em 1935, foi prefaciada por Afrânio Peixoto  e, em 2002, numa produção luso-hispano-brasileira, a obra foi adaptada ao cinema por Leonel Vieira.

Ferreira de Castro foi considerado precursor do neorrealismo, pela sua inovadora obra marcada pelo sofrimento e pobreza causados pela morte prematura do pai em 1906, assim como pela sua dura experiência de emigração no Brasil desde os 12 anos (1910). Viveu durante quatro anos como caixeiro, no seringal Paraíso, em plena selva amazónica e depois teve de  recorrer a trabalhos como colar cartazes em Belém ou ser embarcadiço em navios entre Belém e a Guiana Francesa.

Escreveu o seu primeiro romance Criminoso por ambição (1916) no seringal e publicou-o em fascículos no Brasil. Do conjunto das suas 31 obras refiram-se ainda a peça A Alma Lusitana (1916), O Êxito Fácil (1923), Sangue Negro (1923),  A Metamorfose (1924), A Epopeia do Trabalho (1926), O voo nas Trevas (1927), Terra Fria (1934) – que foi Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciênciastambém adaptada a filme de António Campos em 1992-  A Tempestade (1940), A Lã e a Neve (1947), O Instinto Supremo (1968) , Os Fragmentos (1974) e os dois volumes de  As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-1963), que receberam em 1965 Prémio Catenacci da Academia de Belas Artes de Paris. Duas das suas obras, que terminou em 1936- O Intervalo e a peça Sim, uma Dúvida Basta, feita para o Teatro Nacional e censurada  por despacho governamental – só foram publicadas em 1974 e 1994.

No jornalismo, colaborou logo em 1916 no Jornal do Novos (em Belém). Fundou e dirigiu com outro emigrante, João Pinto Monteiro, em 1917, o semanário Portugal , destinado à comunidade lusa de Belém do Pará e dois anos depois, também O Luso, com a intenção de promover a aproximação luso-brasileira para além de A Hora, «revista panfleto de arte, actualidades e questões sociais» (1922), a revista Civilização (1928) com Campos Monteiro, para além de ter colaborado nas revistas O domingo ilustrado e Ilustração (1934), o jornal O Diabo (1935) e ainda, co-dirigido com António Ferro, a «Página Portuguesa» da Gaceta Literaria. Tornou-se colaborador do jornal Imprensa Livre (1921), revista A. B. C. dirigida por Rocha Martins (1922), «Suplemento Literário» do diário A Batalha e da revista Renovação (1925),  ambos da Confederação Geral do Trabalho anarco-sindicalista, do jornal O Século (1927) e do jornal carioca A Noite (1938). Assinou crónicas vibrantes, como o dia em que se deixou prender no Limoeiro para testemunhar a vida dos reclusos nas cadeias portuguesas ou a sua entrevista exclusiva em 1930, em Dublin, com Eamon de Valera, líder do Sinn Fein , ao serviço do jornal de João Pereira da Rosa.

Em 1926 foi eleito presidente do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa. Em 1945, denunciou os efeitos nefastos da censura sobre os escritores portugueses numa entrevista ao Diário de Lisboa, integrou a Comissão Consultiva e a Comissão de Escritores Jornalistas e Artistas do Movimento da Unidade Democrática (MUD) e em 1949, apoiou vivamente a candidatura de Norton de Matos à presidência da República. Em 1962, foi eleito por unanimidade presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores, da qual era o sócio nº 2 e Aquilino o nº 1. em 1974 acolheu o 25 de Abril com grande emoção e participou logo no primeiro 1º de Maio.

Em 1959  visitou o Brasil a convite da União Brasileira de Escritores e tornou-se cidadão honorário do Rio de Janeiro com entrega da chave da cidade. Em 1966, nos 50 anos da sua vida literária foi inaugurado um monumento à sua obra numa praça de Oliveira de Azeméis. Recebeu o prémio Águia de Ouro Internacional no Festival do Livro de Nice em 1970 e no ano seguinte, a Academia do Mundo Latino atribui-lhe o Prémio da Latinidade e o seu nome foi dado a um troço da Rodovia Transamazónica, no Brasil. De outras homenagens que recebeu, refiram-se ainda uma biblioteca e uma escola secundária com o seu nome em Oliveira de Azeméis e em Ossela, a Casa-Museu Ferreira de Castro na Rua Escritor José Maria Ferreira de Castro, para além de ter um busto seu no espaço público de Manaus e de dar nome a um Prémio Literário e a um Museu  da Câmara Municipal de Sintra.

Dá ainda o seu nome a artérias de Águas Santas, Almada, Amadora, Barreiro, Bragança, Casal de Cambra, Coimbra, Corroios, Fafe, Mafra, Mem Martins, Miratejo, Ovar, Paio Pires, Pinhal Novo, Porto, Póvoa de Santa Iria, Rio de Mouro, Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Sassoeiros, Sintra, Trofa, Viana do Castelo, bem como no Brasil, em Manaus, Ourinhos, Porto Novo, São Paulo e Teresópolis.

Freguesia de Marvila (Planta: Sérgio Dias)

A Rua do Padre António Vieira, defensor da abolição da escravatura

Freguesias das Avenidas Novas e de Campolide (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas e de Campolide
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Padre António Vieira nasceu da deliberação camarária de 21 de outubro de 1909 para homenagear o padre jesuíta que se distinguiu como missionário e pregador, diplomata e político, que a memória popular recorda como o autor do Sermão de Santo António aos Peixes (1654) e da defesa da abolição da escravatura.

Este topónimo foi fixado em 1909 na Rua D entre a Rua José da Silva Carvalho [hoje, Rua de Artilharia Um] e a Rua Castilho, sendo que tal como a Rua Francisco Manuel de Melo, foram artérias que começaram a ser abertas em 1910.

Padre António Vieira pintado por António Nunes Junior no Saão Nobre dos Paços do Concelho de Lisboa (Foto: Francisco Leite Pinto, anos 80 do séc. XX, Arquivo Municipal de Lisboa)

Padre António Vieira pintado por António Nunes Junior no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Lisboa
(Foto: Francisco Leite Pinto, anos 80 do séc. XX, Arquivo Municipal de Lisboa)

António Vieira (Lisboa/06.02.1608-18.07.1697/Baía) nasceu na Rua dos Cónegos também conhecida como Rua do Leão, na então freguesia da Sé, como primogénito de quatro filhos da lisboeta Maria de Azevedo e de Cristóvão Vieira Ravasco, de origens alentejanas mas cuja mãe era filha de uma mulata. A partir de 1614 foi viver para o Brasil já que o seu pai conseguiu lá trabalho como escrivão no Tribunal da Relação da Baía. Estudou no colégio jesuíta da Baía e ingressou na Companhia de Jesus como noviço em 1623, recebendo ordens em 1634 e iniciando nessa altura o seu trabalho como pregador, de oratória barroca de acordo com Margarida Vieira Mendes. A partir do final de 1626 ou início do ano seguinte, começou a exercer como professor de Retórica em Olinda e em 1638, foi nomeado Lente de Teologia do Colégio Jesuíta de Salvador.

Em 1641 regressou a Lisboa com o governador, para apresentar ao rei D. João IV a adesão à causa da Restauração. Para além de confessor da rainha D. Luísa de Gusmão, o rei nomeou-o pregador régio e encarregou-o então de várias missões diplomáticas nos Países Baixos (1646) e em França (1647), após o que regressou novamente ao Brasil e se empenhou na missionação junto dos índios, de 1653 a 1661, gerindo a Missão no Maranhão e no Grão-Pará. O Padre António Vieira defendeu incansavelmente os direitos dos povos indígenas, combatendo a sua exploração e escravização, o que lhe valeu 0 nome de Paiaçu, o termo tupi para Grande Pai, tendo ficado célebre o seu Sermão da Primeira Dominga de Quaresma, em 1653, no qual tentou convencer os senhores de engenho a libertarem os seus escravos indígenas.

Deixou uma obra que exprime as suas opiniões políticas em  cerca de 200 Sermões publicados em 16 tomos ( de 1679 a 1699), Esperanças de Portugal – Quinto Império do Mundo, Clavis Prophetarum, História do Futuro e 3 tomos de Cartas. Defendeu os judeus e a abolição da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos, assim como a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição. Aliás, após a morte de D. João IV foi condenado pela Inquisição de professar opiniões heréticas, pelos seus manuscritos Esperanças de Portugal,  Clavis Prophetarum História do Futuro, num processo que durou de 21 de julho de 1663 a 1667 sob desterro em Coimbra, e do qual só foi absolvido com a subida ao trono de D. Pedro II, em 1668.

A partir de 1669 e durante seis anos passou a desenvolver trabalho de diplomata em Roma, tendo conseguido que por determinação papal fosse suspensa a Inquisição, entre 1675 e 1681, em Portugal e no império. Em 1681 regressou definitivamente à Baía, e foi visitador-geral das missões do Brasil para além de se dedicar à edição das suas obras, nomeadamente das suas cerca de 700 cartas, tendo aí morrido aos 89 anos de idade.

Em Lisboa, este grande orador também deu nome em 1959 ao Liceu Padre António Vieira, da autoria do arqº Rui Jervis Athouguia. Na toponímia surge, entre outros locais, no Algueirão, em Almada, na Amadora, Braga, Chaves, Coimbra, Fiães, Gondomar, Guarda, Odivelas, Porto, Porto Salvo, Póvoa de Santo Adrião, Rio de Mouro, Santo António dos Cavaleiros, e no Brasil, em Esteio, Parnaíba, Porto Alegre, Salvador, Santa Catarina, São Bernardo e São Paulo.

Freguesias das Avenidas Novas e de Campolide (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas e de Campolide
(Planta: Sérgio Dias)

 

 

A Rua dedicada ao Alferes Malheiro, do 31 de janeiro de 1891 para capitão do exército brasileiro

Freguesia de Alvalade                                                                                             (Foto: Sérgio Dias)

Após desempenhar um papel importante na insurreição de 31 de janeiro de 1891 o Alferes Malheiro teve de fugir para o Brasil, onde foi reconhecido como capitão honorário do exército brasileiro, teve na toponímia de Lisboa a consagração em dois locais distintos.

Primeiro, por Edital municipal de 8 de junho de 1925, cerca de 6 meses após o seu falecimento, deu nome à Avenida do Parque ao Campo Grande, como Avenida Alferes Malheiro e a legenda «Precursor do regime Republicano». Assim se manteve até o Edital de 23 de dezembro de 1948 transformar esta artéria em Avenida do Brasil e o Alferes  Malheiro ficar num limbo durante quase 23 anos para voltar à toponímia como Rua, pelo Edital municipal de 9 de agosto de 1971, no arruamento de ligação entre a Avenida do Brasil e o prolongamento da Rua Marquês do Soveral, tendo como legenda apenas os anos de nascimento e morte.

Refira-se que na zona do Campo Grande havia sido fundado a 7 de dezembro de 1908 o Centro Escolar Republicano Alferes Malheiro, cuja  primeira sede foi na Rua Oriental do Campo Grande, nº 111, passando depois para a Rua Ocidental, nº 225, onde esteve durante 18 anos, para em 1930 mudar novamente, desta feita para o Campo Grande nº 290.

alferes-malheiroAugusto Rodolfo da Costa Malheiro (Porto/19.01.1869-09.12.1924/Lisboa), foi um oficial do Exército português desde 1886, que incorporado no Batalhão de Caçadores 9, teve um papel importante na insurreição de 31 de janeiro de 1891, no Porto, o primeiro movimento para implantação da República em Portugal. Gorada a revolta fugiu para Espanha e daí partiu de Vigo para o Brasil, tendo sido julgado como desertor por um Tribunal Militar. Instalou-se em Minas Gerais onde frequentou o curso de Engenharia e após o concluir envolveu-se na revolução brasileira surgindo na chefia dos alunos da Escola Militar com a intenção de pôr termo à acção dos revoltosos sob o comando de Saldanha da Gama. Foi ferido em combate e, fruto do reconhecimento do Governo brasileiro pelos serviços prestados tornou-se capitão honorário do exército brasileiro. A sua reintegração no Exército Português foi decretada após a Proclamação da República, e dela teve conhecimento o Alferes Malheiro a 22 de novembro de 1910, na cidade da Baía, de onde escreveu uma carta de agradecimento ao então Ministro da Guerra, o General Correia Barreto, e ao Governo Provisório Republicano.

Regressado a Portugal, ocupou o posto de capitão no Regimento de Infantaria 16. Insistiu em acompanhar o batalhão expedicionário a Angola como voluntário, durante a Primeira Guerra Mundial e no pós-guerra,  comandou  em 1919 a Coluna Negra, destinada a combater a Monarquia do Norte,  em Monsanto e no Norte do País.

Deixou parte dos seus bens para o Centro Escolar Eleitoral Republicano Alferes Malheiro, que em 1910 tinha já uma Escola Primária, para ambos os sexos. Em 11 de novembro de 1987, este Centro foi agraciado com a Comenda da Ordem da Liberdade, Grau Membro Honorário, pelo então Presidente da República, Dr. Mário Soares.

Para além de Lisboa, o Alferes Malheiro também está consagrado na toponímia do Porto, com uma Rua do Alferes Malheiro, em Beja, com uma Travessa e na Charneca da Caparica como Rua Augusto da Costa Malheiro.

Freguesia de Alvalade (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias)