A Rua de Alexandre Herculano em Alcântara

Alexandre Herculano na Revista Contemporanea de Portugal e Brazil, abril de 1859

A artéria que hoje identificamos como Rua Fradesso da Silveira foi no período de 18 de janeiro de 1878 a 31 de dezembro de 1888 a Rua de Alexandre Herculano.

Esta atribuição foi do Governo Civil de Lisboa «Atendendo ao pedido da Câmara Municipal do Concelho de Belém, em homenagem à memória do prestante cidadão que foi o primeiro presidente daquele município, para que seja denominado ‘Rua de Alexandre Herculano’ o prolongamento do novo atêrro marginal do Tejo, desde a ponte sôbre a Ribeira de Alcântara até ao Largo das Fontainhas», sendo assim definida a Rua de Alexandre Herculano  desde a ponte da Ribeira de Alcântara até ao Largo das Fontaínhas.

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (Lisboa/28.03.1810 – 13.09.1877/Vale de Lobos) que foi o primeiro Presidente da Câmara Municipal de Belém – em 1854 e 1855-, teve o seu nome atribuído pela 1ª vez como topónimo em Lisboa cerca de 4 meses após a sua morte, por Edital do Governo Civil de Lisboa de 18 de janeiro de 1878,  pertencendo então ao concelho de Belém. Contudo, 9 anos depois, o Edital municipal de 10 de janeiro de 1888, alterou o topónimo para Rua Fradesso da Silveira, e ainda hoje se mantêm assim na Freguesia de Alcântara. Assim, se evitou a confusão de duas ruas com o mesmo nome no concelho de Lisboa já que esta Rua de Alexandre Herculano desde 1885 pertencia ao concelho de Lisboa e uma deliberação da Câmara Municipal de Lisboa de 6 de maio de 1882 atribuíra o topónimo Rua Alexandre Herculano à artéria perpendicular à Avenida da Liberdade dirigida para o Largo do Rato, ao mesmo tempo que também instituía nesta zona a Rua Castilho, a Rua Barata Salgueiro, a Rua Mouzinho da Silveira, a Rua Passos Manuel (depois Rua Rosa Araújo pelo Edital de 19/04/1887) e a Praça do Marquês de Pombal.

Em 1954, a Rua Fradesso da Silveira que havia sido a Rua de Alexandre Herculano (Foto: Judah Benoliel © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

 

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A Rua Prof. Pais da Silva e o Arraial do Bairro Padre Cruz

Freguesia de Carnide

O lisboeta historiador de arte e pioneiro na defesa do Património Cultural, Jorge Henrique Pais da Silva, recebe na sua rua alfacinha um Arraial popular, no decorrer deste mês de junho, no largo que se abre junto ao Auditório Natália Correia,  promovido pela Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas do Bairro Padre Cruz.

A Rua Prof. Pais da Silva, que se estende da Rua Professor Almeida Lima até à Estrada da Circunvalação, resultou da sugestão da Profª Maria Calado, que na época era a representante da Universidade Técnica de Lisboa na Comissão Municipal de Toponímia e foi concretizada na Rua C da Nova Urbanização do Bairro Padre Cruz através do Edital municipal de 19 de Fevereiro de 1992. O mesmo Edital colocou nos outros novos arruamentos do Bairro mais 3 professores catedráticos, a saber,  na Rua A o filólogo Prof. Lindley Cintra , na Rua D o catedrático de Medicina Legal Prof. Arsénio Nunes  e na Rua F, o Prof. Almeida Lima, fundador da prática da neurocirurgia em Portugal.

Jorge Henrique Pais da Silva (Lisboa/08.07.1929 – 23.09.1977/Lisboa), historiador de Arte e professor universitário que delineou o 1.º Congresso Internacional de Defesa do Património Cultural e Natural – realizado em Alcobaça em 1978 – que potenciou um  boom de associações de defesa do património em Portugal, assim como traçou grande parte do organigrama do que seria o futuro Instituto Português do Património Cultural, começou a sua carreira como professor liceal (1956-1958). Depois foi docente da Escola Superior de Belas Artes do Porto (1959-1966), da Faculdade de Letras do Porto (1965-1966) e da Faculdade de Letras de Lisboa (1966-1967), tendo ainda dirigido a ESBAP em 1970. Realizou ainda cursos de expansão universitária no Museu Nacional de Arte Antiga e na Fundação Calouste Gulbenkian, onde foi também diretor-adjunto do Serviço de Belas-Artes.

As suas pesquisas e investigação centraram-se no  Renascimento, e sobretudo do Maneirismo, em especial no campo da Arquitetura, dentro do país e no estrangeiro, mormente em Itália. Em paralelo, pugnou pela modernização da investigação em Portugal no domínio da História da Arte, em concorrência com a comunidade científica internacional. Do conjunto da sua obra publicada salientamos Notas sobre a arquitectura dos Jesuítas no espaço português (1961), Em torno da arquitectura setecentista portuguesa : Barroco e Rococó (1974), Estudos sobre o Maneirismo (1983), O Pretérito Presente – Para Uma Teoria da Preservação do Património Histórico- Artístico (1984) e os dois volumes de Páginas de História da Arte (1986). Refira-se ainda o Dicionário de Termos de Arte e Arquitectura, editado em 2004,  obra sua que permaneceu inacabada devido à sua morte prematura mas que foi organizada e completada pela Profª Maria Margarida Calado para publicação.

O Prof. Pais da Silva foi académico efetivo da Academia Nacional de Belas Artes, na Cadeira nº 5, sucedendo ao Arqtº Carlos João Chambers Ramos em 9 de dezembro de 1970.

Freguesia de Carnide

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Rua Maia Ataíde

Em 1994, o Engº Maia Ataíde (ao centro) a apresentar a sua comunicação às 1ªs Jornadas de Toponímia de Lisboa

 

Rua Maia Ataíde, topónimo atribuído por Edital de 30 de Janeiro de 2009 a um arruamento da freguesia de Benfica

Manuel José Maia Ataíde (1910-2003), engenheiro e olisipógrafo. Pertenceu ao Grupo Amigos de Lisboa, à Associação Portuguesa de Historiadores de Arte, à Associação Portuguesa de Museus e foi académico correspondente da Academia Nacional de Belas Artes. Estudou na escola dos CTT, onde seu pai era inspector e colaborador no Museu daquele organismo, e aí começou a trabalhar. Prosseguiu os estudos superiores no Instituto Superior Técnico, onde se licenciou em Engenharia Electrotécnica, trabalhando nos CTT e reformando-se em 1980, já como director das telecomunicações.

A partir dos anos 50 do século XX determinou aprofundar o seu interesse pela arte e a arquitectura da cidade, pelo que assistiu às aulas de Mário Tavares Chicó, na Faculdade de Letras de Lisboa. Com este professor viria a colaborar na organização de algumas exposições, nomeadamente no Brasil, na exposição Aspectos da Arquitectura Portuguesa de 1550 a 1950, e a aprofundar os estudos sobre os períodos maneirista e barroco. A partir deste primeiro contacto com o Brasil, desenvolveu estudos sobre as características do barroco português espalhadas pelo mundo de língua portuguesa.

Colaborou no Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, na Revista Municipal, no Olisipo: Boletim do Grupo Amigos de Lisboa. Durante a década de 60 do século XX, colaborou com a Câmara Municipal de Lisboa nas suas iniciativas de divulgação turística da cidade sendo o autor e coordenador de uma colecção de pequenos desdobráveis sobre alguns dos estilos arquitectónicos presentes na cidade, e de um dos livros da colecção Arte e Turismo, intitulado Monumentos de Lisboa, com edição em inglês, francês e alemão e que tiveram grande divulgação e êxito. Foi co-autor, juntamente com Ester de Lemos, de outro título desta colecção Arredores de Lisboa (1963).

Participou no grande inventário de património que a Junta Distrital de Lisboa promoveu desde os anos 60, tendo colaborado nos dois primeiros tomos da cidade de Lisboa e coordenando os restantes tomos, por eleição da equipa. Nesta obra, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, que pretendia fazer o levantamento e a história do património edificado no distrito, e que se veio a tornar numa obra de referência, assinou dezenas de entradas relativas a edifícios lisboetas. Na opinião de Irisalva Moita devem-se destacar, entre eles, os dedicados à Igreja e Convento de Benfica, à Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça, o da Igreja de Nossa Senhora da Pena, por exemplo. Em 1988, Maia Ataíde elabora o livro catálogo da exposição levada a cabo no Panteão Nacional João Antunes, arquitecto (1643-1712), que Vítor Serrão considera “ainda hoje a primeira referência obrigatória sobre o arquitecto de Santa Engrácia”. Em 1990, colabora com o Museu da Cidade (hoje Museu de Lisboa), na exposição e respectivo catálogo D. João V e o abastecimento de água a Lisboa, trazendo o seu contributo de engenheiro, aliado ao olhar do historiador de arte, num estudo pioneiro sobre a construção do Arco das Águas Livres.

Integrou o Grupo Amigos de Lisboa desde 1969, e veio a ser seu Vice-Presidente e Presidente da Junta Directiva. Representou o Grupo na Comissão Municipal de Toponímia, e participou nas I Jornadas de Toponímia organizadas pela Câmara Municipal de Lisboa, em 1994 com a comunicação Engenheiros e Arquitectos na Toponímia de Lisboa.

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Rua Irisalva Moita

Rua Irisalva Moita, topónimo atribuído a um arruamento da freguesia do Lumiar por Edital de 17 de Março de 2017

Irisalva Constância da Nóbrega Neves Moita (1924-2009), olisipógrafa, arqueóloga, funcionária da Câmara Municipal de Lisboa. Licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dedicou-se à Arqueologia, e à Museologia. Começou a sua actividade profissional como bolseira do Instituto de Alta Cultura (de 1951 a 1974), onde procedeu a trabalhos arqueológicos e históricos pioneiros sobre a cultura dolménica e, posteriormente, em 1959, sobre a cultura castreja, em território nacional, tendo em vista o levantamento das respectivas cartas arqueológicas. Em simultâneo frequenta o estágio para Conservadores Adjuntos de Museus, Palácios e Monumentos Nacionais, que conclui em 1955 defendendo a dissertação a “Ante-projecto para a Secção de Arqueologia do futuro Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos”. Em 1954, ocupou brevemente o lugar de Conservadora dos Museus Municipais da Câmara Municipal de Lisboa, ao qual regressa em 1958 e onde permanecerá até à sua reforma em 1994, tendo passado em 1971, ao cargo de Conservadora Chefe. Foi membro de várias instituições culturais, entre as quais, da Associação Portuguesa de Museologia, do Centro Nacional de Cultura, da Academia Nacional de Belas Artes e do Grupo Amigos de Lisboa, do qual foi vice-presidente em 1990. Colaborou na obra Monumentos e edifícios notáveis do distrito de Lisboa, editada pela Junta Distrital de Lisboa, com dezenas de entradas e, entre outros, na Revista Municipal; em Olisipo: Boletim do Grupo Amigos de Lisboa, Revista de Portugal, Revista Ocidente, e Arqueólogo Português.

O seu grande contributo para um aprofundado conhecimento de Lisboa está ligado ao carácter inovador das suas escavações em solo urbano. Em 1959 conduz uma prospecção de terreno e sondagens arqueológicas, em Vila Pouca, na Serra de Monsanto, concluindo que se tratava de um povoado neolítico. No ano seguinte com o início dos trabalhos para a abertura da estação de Metro no Rossio, Irisalva Moita é nomeada responsável pela recolha e identificação dos vestígios do Hospital Real de Todos-os-Santos, naquela que é considerada a sua primeira grande intervenção em solo urbano. Em 1961, o mesmo ocorre na Praça da Figueira, sendo Irisalva a responsável pelo trabalho no cemitério luso-romano posto a descoberto. É ainda por insistência sua que a autarquia decide suspender os trabalhos em 1962, permitindo que uma outra equipa tivesse tempo para aprofundar a investigação arqueológica. Anos mais tarde, entre 1965 e 1967, Irisalva Moita voltaria a terreno urbano, para dar continuidade às escavações do Teatro Romano, na Rua de S. Mamede. Na impossibilidade de poder proceder à conclusão da escavação (uma vez que as ruínas se estendiam sob propriedades privadas que o município não conseguiu adquirir) Irisalva Moita protegeu a área escavada deixando-a preservada de modo a que mais tarde se pudesse a ela retornar. O que de facto aconteceu a partir do início do século XXI. Esta é aliás uma das suas mais conhecidas facetas: a constante devoção à defesa da preservação do património histórica de Lisboa quer como cidadã, quer como membro de diversas Comissões, entre as quais a Municipal de Arte e Arqueologia, a de Preservação do Património Arquitectónico, Artístico e Urbanístico, a de Defesa do Património Cultural e Ambiental ou a de Estética Citadina.

Para além da Arqueologia, Irisalva Moita desenvolveu uma notável actividade como museóloga, sendo da sua autoria o programa para o Museu da Cidade (actual Museu de Lisboa) no Palácio Pimenta, adquirido pela Câmara em 1962 mas que só abriria ao público em 1979. Já em 1958 apresentara um plano para o Museu Etnológico Dr. Leite de Vasconcelos, e em 1970, numa conferência no Museu de Arte Antiga, apresenta Fundamentos dum museu de Lisboa, defendendo ao longo da vida a criação e reestruturação de museus regionais e locais. Representou os museus na dependência das autarquias no grupo Museus da UNESCO, foi vogal da Comissão Organizadora do Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural, e representante dos Museus Municipais no Conselho Consultivo do Instituto Português do Património Cultural. Enquanto dirigiu os Museus Municipais de Lisboa, planeou, organizou e coordenou dezenas de exposições e os respectivos catálogos dos quais devemos salientar O Povo de Lisboa (1979), Lisboa e o Marquês de Pombal (1982), Lisboa Quinhentista. A imagem e a vida na cidade (1983) e D. João V e o Abastecimento de Água a Lisboa (1990). Em 1994, coordenou a edição de O livro de Lisboa para o qual redige dois capítulos (“Das origens pré-históricas ao domínio romano” e “Lisboa no século XVI”), o qual viria a ser a sua última grande obra, mas que veio colmatar uma enorme lacuna na bibliografia olisiponense, até então ainda muito dependente dos primeiros olisipógrafos. Ao reunir num único volume, a colaboração de diversos especialistas, e alternando textos gerais com textos que apresentam casos específicos para cada época, mais uma vez Irisalva Moita deu o seu pioneiro contributo para a renovação dos Estudos Olisiponenses.

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Rua Prof. Mário Chicó

Rua Prof. Mário Chicó, topónimo atribuído a um arruamento da freguesia do Lumiar por Edital de 27 de Fevereiro de 1978

Mário de Sousa Tavares Chicó (1905-1966), historiador de Arte, conservador de museu e professor universitário. O seu apelido Chicó foi por ele adoptado em homenagem ao seu avô adoptivo, Manuel Rodrigues Chicó, natural de Goa, engenheiro agrónomo que trabalhou nas propriedades agrícolas da Casa Cadaval, em Évora. Terá sido também por influência deste avô que Mário Chicó, após o Liceu, se decidiu a frequentar a Escola Agrícola de Coimbra, curso que viria a abandonar e a trocar pelo de Direito, na mesma Universidade, até finalmente, ingressar e completar o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa (1935). Entre 1937 e 1939 foi bolseiro do Instituto de Alta Cultura, o que lhe permitiu frequentar o Instituto de Arte e Arqueologia da Universidade de Paris, e de estudar Arqueologia Medieval. A sua obra escrita revela bem o interesse por este período tendo publicado Remarques sur le choeur de l´église Sainte Marie de la Victoire Batalha (1940), A arquitectura da Idade Média em Portugal (1944), A catedral de Évora na Idade Média (1946), A arquitectura gótica em Portugal (1954), entre outros. Em 1942 colaborou na História da Arte em Portugal com diversos outros historiadores e em 1959 planeou e dirigiu um inovador Dicionário da Pintura Universal em colaboração com José-Augusto França e Artur Nobre Gusmão. Concorreu ao lugar de director do Museu Regional de Évora, que venceu em 1943, aqui permanecendo até à sua morte. A partir de 1946, ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa como professor da cadeira de Estética e História da Arte, tendo sido convidado a leccionar em várias universidades europeias e brasileiras. Em 1951 concretiza um outro projecto de investigação, obtendo o apoio da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais, viajando até à Índia para estudar a arquitectura de influência portuguesa naquela parte do Mundo. Foi o primeiro presidente da mesa da assembleia geral da Associação Portuguesa de Museologia, e pertenceu à Academia Nacional de Belas Artes.

O seu contributo para o conhecimento da história de Lisboa prende-se sobretudo com a sua carreira de Conservador de Museu, curso que fez em 1940 após o seu regresso do estrangeiro. É a Mário Chicó que a Câmara Municipal de Lisboa recorre para o projecto de criação de um museu municipal. A ideia de criar um espaço museológico dedicado à história da cidade fora lançada em 1909, e muito tenuemente executada em 1922, numa sala da Associação dos Arqueólogos Portugueses. O projecto de um museu de Lisboa, arrancou definitivamente por proposta do vereador Pereira Coelho, de 1935, destinando-se-lhe o Palácio da Mitra, adquirido pela autarquia em 1930. A adaptação do Palácio a Museu Municipal foi entregue a Mário Chicó, conservador dos Museus Municipais, o qual, consciente que seria uma morada provisória (como aliás tinha sido afirmado pela própria Câmara na proposta que apresentou à Junta Nacional de Educação, organismo da tutela), e das dificuldades em expor todas as espécies, optou por um circuito expositivo de acordo com a tipologia das peças (pinturas, gravuras, cerâmica, etc.) em detrimento de uma exposição cronológica, ao mesmo tempo que procurava valorizar o próprio edifício. No entanto, Mário Tavares Chicó deixou delineado um outro projecto para um futuro museu municipal que se pretendia edificar de raiz. Neste projecto, o museu deveria ter as seguintes secções: História e Geografia Locais, Arqueologia, Artes Plásticas, Estampas e Desenhos, Artes Decorativas, Etnografia, Medalhas, Sala de Exposições Temporárias, Biblioteca Olisiponense, Arquivo Municipal e Arquivo Fotográfico.

É de facto, Mário Tavares Chicó o primeiro a propor a criação de um núcleo arquivístico dedicado exclusivamente à fotografia, destinado a preservar a colecção inicial de fotografias que a Câmara possui, datadas de 1898-1908, e que constituem o seu núcleo antigo, bem como as fotografias que eram então tiradas, fosse para efeitos de propaganda da cidade, fosse para efeitos de recolha de imagens do património lisboeta. Desde o início da sua carreira de historiador de Arte Chicó utilizara a fotografia para documentar os seus trabalhos, valorizara a importância da fotografia para o estudo do património e deu destaque aos fotógrafos que com ele colaboraram como co-autores. Apesar desta sua proposta inicial, o Arquivo Fotográfico só abriria ao público, na década de 60 do século XX.

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Júlio de Castilho duas vezes topónimo lisboeta: em Largo e em Jardim

Júlio de Castilho com o fotógrafo José Artur Leitão Bárcia
(Foto: José A. Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa)

No último dia desta semana, 8 de fevereiro de 2019, completam-se cem anos da morte do Mestre da Olisipografia Júlio de Castilho, o autor  de obras tão importantes e pioneiras como Lisboa antiga – Primeira parte: 0 Bairro Alto (1879) – que teve uma 2ª edição ampliada em 5 tomos-,  Lisboa antiga – Segunda parte: Bairros orientais (1884 – 1890) – em 7 tomos – ou A Ribeira de Lisboa, descrição histórica da margem do Tejo desde a Madre de Deus até Santos o Velho (1893), pelo que foi considerado o fundador dos estudos olisiponenses.

De acordo com Raquel Henriques da Silva, na sua palestra de abertura de «Uma casa em Lisboa – Homenagem a José Sarmento Matos» no passado dia 22 de janeiro – dia de São Vicente, o padroeiro de Lisboa – , Lisboa tem uma disciplina própria que mais nenhuma cidade tem que é a Olisipografia que Júlio de Castilho inventou. Por isso mesmo, recomendou a reedição anotada de toda a obra de Mestre Castilho.

Júlio de Castilho (Lisboa/30.04.1840- 08.02.1919/Lisboa), era filho do escritor António Feliciano de Castilho que nascera no Bairro Alto, e por isso ao investigar para escrever as memórias de seu pai acabou por escrever a sua primeira obra sobre a história da cidade de Lisboa, dedicada a esse Bairro. Também por essa condição de nascimento foi o 2º visconde de Castilho e viveu a maior parte da sua vida no Lumiar, vindo a ter o seu nome consagrado no Largo contíguo à artéria onde morava, já que residente do n.º 11 da Travessa do Prior ( hoje n.º 26 da Rua Pena Monteiro),  junto ao Largo da Duquesa, este último topónimo passou a ser o Largo Júlio de Castilho, por Edital municipal de 2 de março de 1925, com a legenda «Erudito Escritor e Historiador/1840 – 1919».

Logo no ano do seu falecimento, havia sido  homenageado com a colocação de uma lápide na sua casa no Lumiar, por iniciativa dos seus amigos José Artur Leitão Bárcia, Miguel Trancoso e António César Mena Júnior.

Largo da Duqueza, depois Largo Júlio de Castilho
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

E quatro anos após a atribuição do Largo com o seu nome, o fundador da Olisipografia, foi também homenageado com a criação do Jardim de Júlio de Castilho, onde a Comissão Administrativa da CML inaugurou  um busto do olisipógrafo, da autoria do escultor Costa Mota (sobrinho), no dia 25 de julho de 1929, integrado num miradouro sobre Alfama, conhecido como Miradouro de Santa Luzia, cerimónia a que compareceram outros olisipógrafos como Gustavo de Matos Sequeira ou o Engº Augusto Vieira da Silva, assim como o fotógrafo José  Artur Leitão Bárcia.

Em 1939, a Câmara Municipal de Lisboa lançou ainda o Prémio Júlio de Castilho e no ano seguinte (1940), no centenário do nascimento de Júlio de Castilho,  promoveu no Palácio Galveias uma Exposição ilustrativa da obra deste olisipógrafo.

Busto de Júlio de Castilho
(Foto: José A. Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa)

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No centenário da morte de Júlio de Castilho – fundador da Olisipografia-, os seus seguidores na Toponímia de Lisboa

 

Júlio de Castilho faleceu no dia 8 de fevereiro de 1919 e este centenário do fundador da Olisipografia é o mote para neste segundo mês do ano de 2019 apresentarmos artigos sobre os antropónimos de olisipógrafos na toponímia da cidade de Lisboa, ou seja, artigos sobre os nomes das ruas que guardam na memória de Lisboa aqueles que se empenharam em fazer a história desta cidade.

 

Inauguração do busto de Júlio de Castilho de 25 de julho de 1929: o 3º é Gustavo de Matos Sequeira, o 5º é Augusto Vieira da Silva e o 8º é o fotógrafo José Artur Leitão Bárcia  (Foto: Ferreira da Cunha, Arquivo Municipal de Lisboa)

Na inauguração do busto de Júlio de Castilho no Jardim também como o seu nome, no dia 25 de julho de 1929, vários olisipógrafos compareceram à cerimónia, demonstrando a sua afeição para com aquele que muitas vezes foi chamado Mestre Júlio de Castilho, quatro após o Edital de municipal de 2 de março de 1925, que atribuíra o Largo Júlio de Castilho no largo contíguo ao arruamento onde o olisipógrafo viveu e veio a falecer.

Em 1939, vinte passados do falecimento de Júlio de Castilho, a Câmara Municipal de Lisboa também instituiu  o Prémio Júlio de Castilho, para distinguir obras de olisipografia, ou como se redige nos Anais da Câmara Municipal de Lisboa desse ano, « elaborou-se e foi aprovado o regulamento do concurso para a concessão do prémio Júlio de Castilho a atribuir à melhor obra impressa em língua portuguesa de carácter arqueológico, histórico, literário ou artístico sôbre o passado ou o presente de Lisboa, publicada ou a publicar nos anos de 1939 e 1940.» O primeiro galardoado foi Norberto de Araújo pelas suas Peregrinações em Lisboa.

São estes olisipógrafos, estes homens e algumas poucas mulheres, que vão aparecer nos nossos artigos deste mês de fevereiro que desta feita terão a colaboração do Grupo de Estudos Olisiponenses, para permitir uma nova abordagem. Os artigos sobre olisipógrafos anteriormente publicados por nós foram:

  1. Largo Júlio de Castilho
  2. Jardim de Júlio de Castilho
  3. Rua Norberto de Araújo
  4. Rua Gustavo de Matos Sequeira
  5. Rua Engenheiro Vieira da Silva
  6. Rua Luís Pastor de Macedo
  7. Rua Gomes de Brito
  8. Rua Julieta Ferrão
  9.  Rua Irisalva Moita
  10. Alameda Padre Álvaro Proença
  11. Praça Rocha Martins
  12. Rua Alberto MacBride
  13. Rua Alfredo Mesquita
  14. Rua Amigos de Lisboa
  15. Rua Dr. Eduardo Neves
  16. Rua Eduardo Bairrada
  17. Rua Gomes de Brito
  18. Rua Jaime Lopes Dias
  19. Rua José da Felicidade Alves
  20. Rua Maia Ataíde
  21. Rua Manuel Ferreira da Silva
  22. Rua Mário Gomes Páscoa
  23. Rua Prof. Mário Chicó

 

Vários olisipógrafos em 1947 (da esquerda para a direita): Norberto de Araújo, Luís Pastor de Macedo, Gustavo de Matos Sequeira, Augusto Vieira da Silva e Luís Teixeira
(Foto: Ferreira da Cunha, Arquivo Municipal de Lisboa)

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O Jardim com o busto de Júlio de Castilho

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Rui Mendes)

Com um miradouro sobre Alfama, a partir do Largo de Santa Luzia, encontramos o Jardim que desde o dia 25 de julho de 1929 se inaugurou com um busto do olisipógrafo Júlio de Castilho, da autoria do escultor Costa Mota (sobrinho).

Falecido dez anos antes, no dia 8 de fevereiro de 1919, o olisipógrafo Júlio de Castilho, havia sido já consagrado na toponímia de Lisboa por via do Edital municipal de 2 de março de 1925, com o Largo Júlio de Castilho, o largo mais próximo da rua onde morara no Lumiar, acrescido da legenda «Erudito Escritor e Historiador/1840 – 1919».

A inauguração em 25 de julho de 1929
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Quatro anos mais tarde, em 25 de julho de 1929, a Comissão Administrativa da CML inaugurou o busto de Júlio de Castilho neste pequeno jardim também conhecido por Jardim de Santa Luzia, pela proximidade à Igreja de São Brás ou de Santa Luzia, erguida sobre a muralha da antiga cerca. O miradouro resultou de uma iniciativa de Quirino da Fonseca, para fornecer à cidade uma panorâmica geral de Alfama e do Rio Tejo, sendo que o assunto esteve alguns anos em discussão. Raul Proença no seu Guia de Portugal afirma no seu 1º volume, publicado pela primeira vez em 1924,  afirma que «Pela parte detrás da igreja existe, suportado pela muralha que desce a calçada de S. João da Praça, contornando-a, um troço de terreno, hoje inculto» e defende que «Como o templo não tem nenhum valor, poder-se-ia arrasar todo esse terreno e transformá-lo num jardim público, o que não só ofereceria aos habitantes uma janela aberta sobre o Tejo como também teria a vantagem de evitar o futuro desaparecimento do mais importante trecho de muralha goda que Lisboa possui.» Mais tarde, o espaço somou um painel de azulejos representando A Tomada do Castelo de São Jorge aos Mouros por Dom Afonso Henriques e outro painel com a a antiga Praça do Comércio (da autoria de António Quaresma e produzidos na Fábrica Viúva Lamego)  e ainda um outro, com uma vista de Lisboa com barcos no Tejo (desenho de Martins Barata e pintado em 1939 por Victoria Pereira).

Júlio de Castilho (Lisboa/30.04.1840- 08.02.1919/Lisboa), 2.º visconde de Castilho por ser filho primogénito de António Feliciano de Castilho (também perpetuado em Lisboa na Rua Castilho), é considerado um percursor dos estudos olisiponenses, tendo acumulado ao logo da vida uma importante coleção pessoal de documentos sobre o tema, que se encontra depositada na Biblioteca Nacional.

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jardim Ferreira de Mira, o médico do Instituto Rocha Cabral

Freguesia de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Médico fisiologista da Faculdade de Medicina de Lisboa e historiador da medicina portuguesa, que a partir de 1922 fundou e dirigiu o Instituto Rocha Cabral, Ferreira de Mira dá o seu nome a um jardim lisboeta de Benfica, próximo do Hospital da Luz, 63 anos após o seu falecimento, através da deliberação camarária de 26 de outubro de 2016 e consequente Edital de 10 de novembro, a partir da sugestão do Prof. José Pedro Sousa Dias enquanto membro da Comissão Municipal de Toponímia em representação da Universidade de Lisboa.

Em 1926 na Ilustração Portuguesa

Mathias Boleto Ferreira de Mira (Montijo – Canha/21.02.1875 – 07.03.1953/Lisboa), formado na  Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1898 e discípulo de Mark Athias, foi um médico e professor universitário que também fundou e dirigiu o Instituto Bento da Rocha Cabral a partir de 1922. Começou por exercer medicina no Hospital da Misericórdia da vila de Canha, mas veio viver para Lisboa em 1910 e dois anos depois era já  professor de Fisiologia, na então nova Faculdade de Medicina de Lisboa, a que mais tarde somou a regência da cadeira de Química.

Como investigador científico, Ferreira de Mira teve a oportunidade de fundar e dirigir a partir de 1922 um Instituto de Investigação na área das Ciências Biológicas, com o nome de um transmontano que no Brasil ficou multimilionário –  Bento da Rocha Cabral (1847-1921)- e que  no seu testamento deixou as verbas necessárias para o efeito com a indicação de quem o devia dirigir. O Instituto de Investigação Científica de Bento da Rocha Cabral ficou instalado na casa adquirida e reconstruída em 1902 pelo benemérito e que até aí lhe servira de morada em Lisboa, no nº 14 da Calçada Bento Rocha Cabral – assim denominada desde 1924 já que antes era a Calçada da Fábrica da Louça – e começou a realizar investigação a partir de 1925 com quatro investigadores: o próprio Matias Boleto Ferreira de Mira, o seu filho Manuel Ferreira de Mira (falecido em 1929), Luís Simões Raposo – na toponímia da freguesia do Lumiar desde 25/10/1989- e Fausto Lopo de Carvalho- na toponímia da freguesia de Marvila desde  04/11/1970-, que na década seguinte conseguiu dominar a tuberculose em Portugal. Foi este Instituto que acolheu as primeiras investigações com animais que permitiram a Egas Moniz a descoberta da angiografia e o desenvolvimento da angiopneumografia em conjunto com Almeida Lima e Lopo de Carvalho. Também aqui trabalho como investigadora a  primeira portuguesa doutorada em ciências biológicas, a fitopatologista Matilde Bensaúde.

Matias Ferreira de Mira foi também um membro dirigente da Sociedade Portuguesa de Biologia e, sobretudo nos jornais e revistas Luta de Brito Camacho, Diário de Notícias e Seara Nova, escreveu dezenas de artigos de vulgarização científica, na área da biologia e de outras ciências, assim como redigiu livros didáticos como Lições de Químico-Fisiologia elementar, Exercícios de Química Fisiológica (com Mark Athias) ou Manual de Química Fisiológica. Também deu dezenas de conferências sobre temas científicos e foi o autor da  História da Medicina Portuguesa (1947) e de biografias como a de Brito Camacho (1942), com Aquilino Ribeiro.

Ferreira de Mira foi também um cidadão empenhado na política tendo sido vereador da Câmara Municipal de Lisboa, com o pelouro da Instrução Primária, a partir de 1912, assim como foi  deputado da Primeira República, de 1922 a 1925, por Santarém, eleito com António Tavares Ferreira, Ginestal Machado e João Teixeira de Queiroz Vaz Guedes.

Matias Ferreira de Mira está também presente na toponímia da Charneca da Caparica.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Maia Ataíde, engenheiro de formação e olisipógrafo por paixão

Freguesia de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Eng.º Manuel Ataíde foi um olisipógrafo da história de arte que está fixado numa artéria de Benfica, junto à Rua Perez Fernandez, desde a publicação do Edital municipal de 30 de janeiro de 2009, com a legenda «Olisipógrafo/ 1910 – 2003».

O seu nome foi sugerido pelo Grupo Amigos de Lisboa, em conjunto com o do Engº Brazão Farinha, tendo a Rua Maia Ataíde ficado na Rua G à Rua Perez Fernandez e a Rua Brazão Farinha, também nas proximidades, sido fixada na Rua E à Rua Vasco Botelho do Amaral/Travessa Sargento Abílio.

Manuel José Maia Athayde (10.04.1910 – 12.10.2003) depois de formado engenheiro pelo Instituto Superior Técnico, foi matriculado na escola especial dos CTT pelo seu pai – José Francisco de Paula Ataíde – que fora inspector dos Correios e esse foi o seu local de trabalho até 1980, tendo mesmo sido Diretor Geral de Telecomunicações e o responsável pela implementação no nosso país do telex (rede telegráfica automática).

Por paixão, tornou-se olisipógrafo e historiador de arte. Nos finais da década de 50  tornou-se aluno de Mário Chicó na Faculdade de Letras de Lisboa, com quem mais tarde colaborou  como investigador do património de Lisboa. Maia Ataíde  coordenou a edição regular dos diversos tomos de Monumentos e Edifícios Notáveis no Distrito de Lisboa (1962) com António Manuel Gonçalves; com M. Micaela Soares assinou Monumentos de Lisboa e com Esther de Lemos Arredores de Lisboa, ambos editados pela Câmara Municipal de Lisboa em 1963;  e ainda nos deixou entre outras obras, Ronda dos Velhos Monumentos (1963), A Igreja e a Casa do Capítulo do Convento de S. Domingos em Lisboa (1970), A igreja de Nossa Senhora do Loreto (1986) com José Meco e  A Igreja de Nossa Senhora da Pena (1988).

Sócio do Grupo Amigos de Lisboa desde 17 de maio de 1969, com inúmeros artigos no seu boletim Olisipo, chegou a ser vice-presidente (1982 a 1988) e Presidente da sua Junta Directiva (1991 a 1994), período em que representou o GAL na Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa. Durante a sua presidência realizou-se no Palácio Fronteira o Simpósio Lisboa em Discussão, cujas comunicações originaram a II série do Olisipo.

Foi ainda membro da Academia Nacional de Belas-Artes, sócio da Associação Portuguesa de Historiadores de Arte e da Associação Portuguesa de Museus, cujo Conselho Consultivo integrou.

Freguesia de Benfica                                            (Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)