Jardim Botânico

O Jardim Botânico da Ajuda na planta de Silva Pinto de 1908
(Foto: © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Jardim Botânico da Ajuda foi o primeiro de Lisboa, nascido no ano de 1768, e ficou registado na memória toponímica lisboeta 148 anos depois, na Rua do Jardim Botânico, que faz a ligação da Calçada da Ajuda à Calçada do Galvão, pelo Edital municipal de 26 de setembro de 1916 que oficializou 56 artérias da Ajuda.

O Jardim Botânico da Ajuda foi fundado em 1768, de acordo com o desenho do botânico italiano Domingos Vandelli (1735-1816), chamado de Pádua pelo rei D. José I, por influência de Miguel Franzini, mestre dos príncipes e com o intuito de servir para a educação destes. O espaço escolhido foram os terrenos arborizados que haviam sido da Quinta do Conde da Ponte e que D. José I em boa hora adquiriu para cultura de frutas e hortaliças necessárias ao palácio real, instalado na Ajuda após o terramoto de 1 de novembro de 1755. No Jardim se procurou estudar e colecionar o máximo de espécies do mundo vegetal, tendo tido 5000 espécies dispostas segundo o sistema sexual proposto por Lineu, que fora mestre de Vandelli.

Em 1765, Domingos Vandelli ficou com o encargo de delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botânico da Ajuda enquanto o ministro da Marinha, Francisco Xavier de Carvalho, irmão do Marquês de Pombal, as devia fiscalizar. Domingos Vandelli dirigiu o então denominado Real Jardim Botânico da Ajuda de 1768 a 1774 e o 2º diretor foi o botânico Félix de Avelar Brotero, de 1811 a 1828, altura em que por ordem de D. João VI o Jardim foi aberto ao público às quintas-feiras. Por decreto de 27 de agosto de 1836,o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda foi confiado à administração da Academia das Ciências de Lisboa mas passados dois anos, a partir de 1838-1839 o Jardim Botânico da Ajuda passou para a tutela da Escola Politécnica e a ser usado pelos seus alunos. Em 1874, o Jardim foi entregue à administração da Casa Real, altura em que decaiu progressivamente.

Já no século XX, em 1910, o Jardim Botânico da Ajuda passou a integrar o património nacional e em 1918 foi entregue ao Instituto Superior de Agronomia permitindo assim que em 1934, sob a direção do Prof. André Navarro, o Prof. Caldeira Cabral estabelecesse o traçado dos canteiros do tabuleiro superior, que se tinha perdido completamente. Entre 1993 e 1997, com o apoio do Prémio de Conservação do Património Europeu e do Fundo de Turismo, sob a orientação da Profª. Cristina Castel-Branco, foi restaurado o Jardim, com a recuperação da coleção botânica, do sistema de rega e a instalação do Jardim dos Aromas.

O outro Jardim Botânico de Lisboa pertence ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC) e data de 1878. Foi por iniciativa do Conde de Ficalho que em 1873 se iniciaram os trabalhos deste novo jardim que esteve aberto ao público desde 1878 e está classificado como Monumento Nacional desde 2010, integrando todo o património artístico (esculturas) e edificado que nele se encontra: Observatório Astronómico da Escola Politécnica, Edifício dos Herbários, Estufas, Palmário e ainda, a antiga estufa em madeira.

Por definição, um jardim botânico é o local onde se colecionam plantas e onde estas são cultivadas e identificadas, sendo ao longo do tempo utilizados com diversas finalidades. Assim, os que surgiram na Europa no séc. XVI, então denominados «hortus medicus» (jardins de plantas medicinais), tinham como finalidade o fornecimento de plantas às boticas e serviam de apoio ao estudo da medicina. Já nos séculos seguintes, passaram sobretudo a ser utilizados como locais de plantação e estudo de novas espécies vegetais exóticas trazidas para o continente europeu.

O Jardim Botânico da Ajuda não foi exceção, acolhendo plantas e sementes vindas de outros jardins, mas sobretudo oriundas dos territórios portugueses na América, África e Ásia e das ilhas atlânticas, viabilizando a observação direta, a análise e interpretação da natureza, imperativo filosófico e científico que decorreu dos novos postulados do Iluminismo. Este espaço, ornamentado com esculturas e artes decorativas, construído na proximidade da Real Barraca, desde o seu início que foi pensado e criado em torno de várias premissas que se mantiveram até à atualidade: ser um espaço lúdico e de lazer; e, ser um espaço de aprendizagem e de produção de conhecimento.

O jardim Botânico da Ajuda em 1973
(Foto: Artur Pastor © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

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