Doutor Baptista de Sousa, o engenheiro humano numa rua de Benfica

Placa Tipo II (Foto: José Carlos Batista)

Placa Tipo II
(Foto: José Carlos Batista)

No próximo domingo, dia 2 de Março,  completa-se o 110º aniversário do coronel-médico alfacinha  José Baptista de Sousa que desde o Edital municipal de 31/03/1970 dá nome à Rua B à Travessa da Granja (Quinta do Portal Novo), na freguesia de Benfica.

O pedido resultou de uma sugestão de Eduardo Mimoso Serra, carta que a Comissão Municipal de Toponímia analisou na sua reunião de 20 de Março de 1970 e, pelo mesmo Edital foi também atribuído o nome do brigadeiro-médico Nicolau de Bettencourt ao troço da Estrada de Benfica compreendido entre o Largo de São Sebastião da Pedreira e o Largo conhecido vulgarmente por Praça de Espanha (este topónimo só foi oficializado por Edital de 29/01/1979).

José Baptista de Sousa (Lisboa/02.03.1904 – 03.12.1967/Lisboa), nascido na então Freguesia de Camões (depois Coração de Jesus e agora, Santo António), foi um Coronel Médico que em  em 1927 se formou Medicina, na Faculdade da Universidade de Lisboa, onde foi assistente da cadeira de Patologia Cirúrgica. De 1928 a 1929, frequentou com aproveitamento, no Hospital Militar Principal, o Curso Técnico de Oficiais Milicianos Médicos e a seguir concorreu ao Quadro Permanente de Oficiais Médicos, tendo sido promovido a alferes em 1929 e, chegando a major em 1953 e, passado à reserva em 1963, por motivos de saúde.

Serviu em várias unidades e estabelecimentos militares como a Guarda Nacional Republicana (1936 – 1942), os Hospitais Militar Regionais nº 2 e nº 3 e o Hospital Militar Principal de Lisboa (1951-1961), onde foi  Chefe da Clínica Cirúrgica. Foi também chefe dos Serviços de Cirurgia do Instituto Português de Oncologia. A partir de 1964 foi  Consultor de Cirurgia da Direcção do Serviço de Saúde Militar.

Em 17 de Janeiro de 1942, Baptista de Sousa foi é nomeado para integrar as Forças Expedicionárias a Cabo Verde, ficando em S. Vicente, de 22 de Fevereiro até 10 de Setembro de 1944, como director do Hospital Militar Principal de Cabo Verde, o médico-cirurgião dos militares mas também dos civis, o que lhe granjeou muitas simpatias locais. Apelidaram-no de “engenheiro humano” e na despedida a população ofereceu-lhe o iate Morabeza. Também demonstrou aí coragem cívica ao declarar nos atestados de óbito a fome, ao contrário das orientações oficiais.  De 1947 a 1950, esteve a prestar serviço na Escola Médico-Cirúrgica de Goa.

José Baptista de Sousa foi agraciado com o grau de oficial da Ordem de Avis e,  em Mindelo (S. Vicente) hospital recebeu o seu nome: Hospital Baptista de Sousa. Também inspirou as mornas Dr Baptista de Sousa de Béléza (Xavier Cruz) e, Engenheiro Humano do Maestro Jotamont  (Jorge Monteiro).

O pintor de rebanhos numa rua de Campo de Ourique

Freguesia de Campo de Ourique 123

Freguesia de Campo de Ourique

O pintor Tomás da Anunciação, que se destacou sobretudo pela pintura paisagista e de animais, está desde o ano seguinte à sua morte perpetuado numa rua de Campo de Ourique, até aí denominada Rua nº 3 dos terrenos da antiga parada de Campo de Ourique.

Foi através da deliberação camarária de 23/08/1880 e consequente Edital municipal de 30/08/1880, que também atribuiu  as denominações Rua Ferreira Borges (à Avenida de Campo de Ourique), Rua do Quatro de Infantaria (à Rua nº 1 ) e, Rua Francisco Metrass (à Rua nº 4), igualmente  um pintor, contemporâneo de Tomás da Anunciação.

Tomás José da Anunciação (Lisboa/26.10.1818 – 03.04.1879/Lisboa) nasceu na Ajuda e, iniciou a sua carreira como desenhador de estampas no Museu de História Natural do Palácio da Ajuda para, a partir dos 19 anos, frequentar a Real Academia de Belas-Artes de Lisboa, instalada no Convento de S. Francisco, onde a partir de 1852 se tornou professor da nova cadeira de Pintura de Paisagem, Animais e Produtos Naturais. Em 1857com o seu quadro Vista de Penha de França,assumiu as funções de professor catedrático e, a partir de 1878, tornou-se Diretor da Academia. Distinguiu-se como pintor paisagista e animalista, sendo de realçar na sua obra de mais de 500 quadros,  alguns títulos como O sendeiro (1856), Vitelo (1873), Perdidos do Rebanho, Ovelhas e Borregos e Rebanho Passando Um Riacho. Refira-se ainda que foram seus alunos José Malhoa e Silva Porto, tal como que deu aulas de pintura à Rainha D. Maria Pia.

Tomás da Anunciação foi ainda diretor da Galeria Real de Pintura da Ajuda e, fundador da Sociedade Promotora de Belas-Artes (1862-1881), tendo sido galardoado com a única medalha conferida a artistas na Exposição Industrial do Porto de 1865 e, com a de ouro, na Exposição Internacional de Madrid de 1871. E1884, a Academia das Belas Artes instituiu o Prémio Anunciação em sua homenagem. A sua obra está representada no Museu José Malhoa, na Casa-Museu dos Patudos em Alpiarça, no Museu Grão-Vasco em Viseu, no Solar do Monteiro-Mor do Juncal, no Museu Quinta das Cruzes na Madeira e, no Museu do Chiado/Museu Nacional de Arte Contemporânea em Lisboa.

tomás da anunciação

Retrato de Tomás da Anunciação, 1859, por Joaquim Pedro de Sousa

A rua do pioneiro da Física Atómica e Nuclear no seu 110º aniversário

manuel valadares

No dia do 110º aniversário do Prof. Manuel Valadares, um dos pioneiros portugueses na área da Física Atómica e Nuclear, recordamos que desde o Edital de 01/02/1991 é o seu nome que dá topónimo à Rua A da Urbanização da Quinta da Amoreira à Azinhaga da Cidade como Rua Professor Manuel Valadares, na Freguesia de Santa Clara

Este topónimo resultou de uma proposta do Arquitecto José Luiz da Costa Quintino, representante da Universidade de Lisboa na Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa, apresentada na reunião de 9 Novembro de 1990.

Manuel José Nogueira Valadares (Lisboa/26.02.1904 -31.10.1982/Paris) foi professor universitário, licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa, onde ficou como docente a partir de 1927, tendo também sido assistente do Instituto Português de Oncologia de 1929 a 1932. Em 1929-1930, com uma bolsa da Junta de Educação Nacional,  foi para o Instituto do Rádio de Genebra, onde trabalhou sob a direcção de E. Wassemer e, de seguida, de 1930 a 1933, realizou o seu doutoramento em Paris, sob a orientação de Marie Curie, com a tese intitulada «Contribution à la spectrographie par diffraction cristalline du rayonnement gamma». Nesta época também frequentou o Instituto Mainini, que desenvolvia investigação sobre obras de arte do Museu do Louvre e,  mais tarde aproveitará esses conhecimentos para fundar  um laboratório para investigação de obras de arte, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa,tendo também publicado alguns trabalhos sobre este domínio. 

Regressado a Portugal, Manuel Valadares orientou as suas investigações para os domínios da Física Nuclear e da Espectrometria dos Raios X.  No biénio de 1940–1941 esteve em Itália, onde desenvolveu pesquisas no Istituto di Volta, e no Laboratório di Física dell’Istituto di Sanita Pubblica e, na volta desempenhou um papel importante no início da investigação atómica e nuclear no Laboratório de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, bem como regeu a cadeira de Física F. Q. N. (Física, Química e Naturais) destinada a estudantes de medicina. 

Em Junho de 1947, juntamente com um grande número de destacados professores universitários e investigadores, foi demitido pelo governo de Salazar e, em Novembro desse mesmo ano foi para Paris, a convite de Irène Joliot-Curie, onde ocupou diversos cargos académicos. Trabalhou no  C.N.R.S. e foi também director do Centre de Spéctrométrie Nucléaire et de Spéctrométrie de Masse, em Orsav, até 1968. Destacam-se os seus trabalhos com Rosenblum, sobre espectrometria nuclear, que mereceram em 1966 o prémio La Caze, da Académie des Sciences de Paris. Colaborou ainda na orientação de teses de doutoramento de vários investigadores, em espectrometria de Raios X e em Física Nuclear. 

Manuel Valadares contribuiu também para a fundação da revista Gazeta de Física e , da Portugaliae Physica, juntamente com Cyrillo Soares, Aurélio Marques da Silva e Telles Antunes.

Em 1930 obteve o Prémio Artur Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa pelo seu trabalho «Análise, por espectrografia de Raios X, de transmutações naturais e provocadas»;  em 1978, foi eleito membro honorário da Sociedade Portuguesa de Física, e no ano seguinte, foi condecorado com Grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada; e, em 1981, foi-lhe atribuído o Grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa.

A Rua da Quinta da Fonte que foi da Pipa e do Anjo

Freguesia dos Olivais (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua da Quinta da Fonte foi a designação dada à   antiga Rua I do Bairro da Encarnação, pelo Edital de 15/03/1950, que atribuiu topónimos, sobretudo numéricos, aos bairros sociais da Lisboa de então – Bairro do Alto da Ajuda, Bairro do Alto da Serafina, Bairro da Calçada dos Mestres, Bairro de Caselas, Bairro da Encarnação e Bairro das Terras do Forno -, perpetuando o nome de uma Quinta da zona.

Na acta da reunião da Comissão Municipal de Toponímia de 19/12/1949 podemos ler a origem desta atribuição: “Passando, seguidamente, a ocupar-se da denominação das ruas dos bairros de casas económicas, foi de parecer que sejam dados os seguintes nomes às ruas do Bairro da Encarnação que ficaram por designar em reunião de 10 de Maio e 19 de Outubro, últimos: Praça do Norte, Praça das Casas Novas, Rua dos Lojistas, Rua da Portela, Rua da Quinta de Santa Maria, Rua da Quinta do Morgado, Rua da Quinta da Fonte, e ruas números: 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24, 26 e 28, e 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, 19, 21, 23, 25, 27 e 29, aos arruamentos situados, respectivamente, à direita e à esquerda da Alameda da Encarnação. Os arruamentos do Bairro da Encarnação ficaram assim totalmente designados por: Alameda da Encarnação, Rua dos Eucaliptos, Rua do Poço Coberto, Rua das Escolas, Rua do Mercado, Praça do Norte, Praça das Casas Novas, Rua dos Lojistas, Rua da Portela, Rua da Quinta de Santa Maria, Rua da Quinta do Morgado e Rua da Quinta da Fonte, ruas 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24, 26, 28, e 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, 19, 21, 23, 25, 27 e 29.” 

O Bairro da Encarnação, da autoria do Arqº Paulino Montez, concebido em 1940 e inaugurado em 1946, tem o formato de uma borboleta cujo corpo central é a Alameda da Encarnação e a sua denominação resulta de ali no lugar da Panasqueira ter existido uma ermida dedicada a Nª Sr.ª da Encarnação.

A Quinta da Fonte que dá origem ao topónimo foi,  em finais do séc. XVII, anexada à Quinta da Pipa e, mais tarde chamou-se Quinta da Fonte do Anjo. A Quinta da Pipa era do Padre Martim Esteves que, em 1384, ali instituiu um vínculo e, a partir do século XVII, algumas quintas dos Olivais que até então eram pertença dos religiosos passaram a ser propriedade da nobreza, que chegou para ali ter  as suas casas de campo como a Quinta do Pinheiro, Quinta de Cortes ou Morgado dos Marcos, entre outras. Dessa época apenas sobram as casas originais de duas quintas: a Quinta do Contador Mor e a Quinta da Fonte do Anjo.

 

Freguesia dos Olivais (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua do Capitão Afonso Pala no seu 152º aniversário

Freguesia da Estrela (Foto: José Carlos Batista)

Freguesia da Estrela
(Foto: José Carlos Batista)

Passa hoje o 152º aniversário de  José Afonso Pala, oficial republicano e das guerras africanas no período da I Guerra Mundial, que desde 1923 dá nome à antiga Rua das Cavalariças do Infante.

Este topónimo resultou de uma proposta do Vereador Almeida Santos apresentada na Sessão de Câmara de 20 de Dezembro de 1922 e aprovada em 29 de Dezembro de 1922, com o consequente Edital de 23 de Janeiro de 1923, sendo-lhe conferiu a legenda «Saudoso Republicano morto em África em 1915 em defesa da Pátria».

José Afonso Pala  (Almeida/24.02.1862 – 1915/Angola)  foi uns dos jovens oficiais do regimento de Artilharia 1 que estando na Rotunda em 4 de Outubro de 1910 a abandonaram tão convencidos estavam da derrota como o Almirante Cândido dos Reis. Republicano desde 1881, Afonso Pala já havia participado na revolta de 31 de Janeiro de 1891quando ainda frequentava a Escola do Exército e, foi um dos principais oficiais do plano revolucionário do exército para a implantação da República logo a partir da reunião de 14 de Julho de 1910.

Afonso Pala pertenceu ao grupo de pessoas de prestígio, nomeadas pelo governo logo a 15 de Outubro de 1910, para elaborar um projecto de bandeira nacional, junto com o pintor Columbano, o jornalista João Chagas, o escritor Abel Botelho e o primeiro-tenente da Marinha António Ladislau Parreira, que no dia 1 de Dezembro foi apresentado. E em 28 de Maio de 1911, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte, pelo círculo de Lisboa, na companhia de Afonso Costa, Anselmo Braamcamp Freire, António José de Almeida, Ladislau Piçarra, Luz de Almeida e Magalhães Lima.

Já como Major ofereceu-se para combater na guerra em África e, no sul de Angola, em resultado de uma bala alemã que o atingiu veio a falecer aos 53 anos.

 

capitão afonso pala placa tipo II

O filósofo José Marinho numa rua de Benfica

Placa Tipo II (Foto: José Carlos Batista)

Placa Tipo II
(Foto: José Carlos Batista)

No primeiro dia deste mês completou-se o 110º aniversário do filósofo José Marinho que desde o Edital de 04/12/1981 dá nome à Rua C à Avenida do Uruguai, em Benfica, na sequência do parecer favorável da Comissão Municipal de Toponímia à proposta de o homenagear  aprovada em reunião de Câmara de 13 de Abril de 1981.

José Carlos de Araújo Marinho (Porto/01.02.1904 – 05.08.1975/Lisboa) foi um dos grandes pensadores de Portugal que defendeu que a independência política de Portugal dependia fundamentalmente da independência da Cultura Portuguesa. Licenciado em Filologia Românica pela Universidade do Porto, com a tese Ensaio sobre Teixeira de Pascoaesfrequentou também algumas cadeiras de Filosofia onde foi aluno de Leonardo Coimbra e, colega de Álvaro Ribeiro, Delfim Santos, Agostinho da Silva ou Adolfo Casais Monteiro. Participou nas tertúlias dos cafés do Porto, em torno de Leonardo Coimbra, Hernâni Cidade ou  Luís Cardim, partilhando o ideário da chamada Renascença Portuguesa. 

Em 1925,  tornou-se professor de liceu, de Português, Francês e Filosofia, primeiro no Porto, depois em Faro e finalmente, em Viseu. Em 1928 foi para Coimbra, para frequentar a Escola Normal Superior, a fim de se tornar efectivo nos quadros dos professores de liceu. No ano de 1930, a 30 de Julho, após ter realizado o estágio pedagógico no Liceu Pedro Nunes em Lisboa, é aprovado no Exame de Estado com a tese «Teoria e Metodologia do ensino do Português e do Francês», com 19 valores. Em 1932 termina Aforismos sobre o Que Mais Importa, que havia começado no ano de 1924 e, em 1936, é afastado do ensino por questões de ordem política e, é preso no Aljube.

Em 1940 passa a viver em Lisboa, trabalhando como tradutor e colaborando em jornais e revistas, ao mesmo tempo que dá lições particulares a estudantes liceais. Volta a estar perto de Álvaro Ribeiro, e a animar com ele tertúlias filosóficas nos cafés da cidade, criando o grupo de Filosofia Portuguesa que incluía nomes como Afonso Botelho, António Quadros, Dalila Pereira da Costa ou Orlando Vitorino.  Nesta altura concluiu a obra sobre Leonardo Coimbra que havia começado em 1932, mas que apenas publicará em 1945 sob o título O Pensamento Filosófico de Leonardo CoimbraEntre 1947 e 1954 escreveu, por sugestão de Hernâni Cidade, Nova Interpretação do Sebastianismo e, no ano de 1961 publicou uma das suas maiores obras, sob o título Teoria do Ser e da Verdade, procurando evidenciar os pressupostos ontológicos da Filosofia enquanto processo de libertação espiritual. Em 1963, Delfim Santos convidou-o para integrar o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian e, aí permaneceu até à sua morte. Em 1964,  deu à estampa Elementos para uma Antropologia Situada e, em 1972 apresentou Filosofia, Ensinoou Iniciação?. Em 1976 foi ainda editada, a título póstumo, a sua Verdade, Condição e Destino no Pensamento Português Contemporâneo.

Freguesia de Benfica (Foto: José Carlos Batista)

Freguesia de Benfica
(Foto: José Carlos Batista)

Um conjurado da Restauração de 1640 numa Rua de Moscavide

Selo de 1927

João Pinto Ribeiro num selo de 1927,
da série dedicada à Independência de Portugal

João Pinto Ribeiro, um dos conjurados da revolta  de 1 de Dezembro de 1640, para a Restauração da independência nacional,  dá o seu nome a uma rua de Lisboa desde a publicação do Edital de 05/06/1972, no que era  um troço da Estrada da Circunvalação, vulgarmente designado por avenida de ligação Moscavide-Beirolas.

Placa Tipo IV

Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias)

Com esta atribuição procurou a Câmara homenagear o jurisconsulto e patriota alfacinha João Pinto Ribeiro (cerca de 1590/Lisboa – Agosto de 1649/Lisboa) que se formou em Cânones na Universidade de Coimbra em 1615 e foi depois juiz de fora de Pinhel (1621) e de Ponte de Lima(1627). Em 1627, passou a ter o cargo de procurador do duque de Bragança em Lisboa e, em 1639 era o agente de negócios e administrador dos bens da casa ducal de Bragança e, assim, foi um dos conjurados da revolta de 1 de Dezembro de 1640, assegurando a ligação entre o Duque de Bragança e os fidalgos conjurados.

Pinto Ribeiro foi ainda membro do Conselho do Rei, contador-mor dos Contos do Reino (1641) e guarda-mor da Torre do Tombo (1644). Publicou ainda várias obras como Discurso sobre os Fidalgos e Soldados Portugueses Não Militarem em Conquistas Alheias Desta Coroa (1632), Usurpação – Retenção e Restauração de Portugal (1642), Preferência das Letras às Armas (1645), Desengano ao Parecer Enganoso Que se Deu a El-Rei de Castela D. Filipe IV contra Portugal (1645) e os folhetos A acção de aclamar el‑rei D. João IV foi mais gloriosa e digna de honra, fama e remuneração que a dos que a seguiram aclamando (1644) e  À santidade do monarca eclesiástico Inocêncio X, expõe Portugal, as causas do seu sentimento e das suas esperanças (1646).

Refira-se que ainda que esta artéria foi ampliada por edital de 30/11/2011, ao ser nela incluído o Impasse “A” ao Casal dos Machados.

Freguesia do Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Palmira do Bairro da família Andrade

Freguesia de Arroios

Freguesia de Arroios

A Palmira desta Rua seria uma familiar de Manuel Gonçalves Pereira d’Andrade, que mandou construir o Bairro Andrade no final do século XIX e, por isso ganhou o direito de ter o seu nome numa rua desse Bairro.

A Rua Palmira foi um topónimo atribuído por deliberação camarária de 10 de Novembro de 1892. Essa mesma deliberação camarária atribuiu ainda no Bairro Andrade os seguintes topónimos: Rua Andrade, Rua Antónia Andrade, Rua Maria e Rua Maria Andrade.

Das Actas das sessões da Comissão Municipal no ano de 1892, pode ainda ler-se o seguinte sobre o deliberado no dia 10 de Novembro de 1892:
« De Manuel Gonçalves Pereira d’Andrade, proprietário do ‘Bairro Andrade’, cujas ruas estão na posse da Câmara, pedindo que n’ellas sejam conservados os nomes que indica. Deferido, com a alteração de Rua Antónia Andrade em vez de Rua Maria Antónia». E é deste documento que se pode inferir que a Rua Palmira recolhe a sua denominação do proprietário do Bairro Andrade sendo, provavelmente de familiares – quiçá mulher e filhas – do proprietário do Bairro Andrade.

Refira-se ainda que a Rua Palmira do Bairro Andrade tem a sua extremidade final junto à rua do Forno do Tijolo e nesta parte os seus edifícios foram edificados já no contexto da urbanização do Bairro das Colónias e, que os os prédios com os números de polícia 33 e 35, datam de 1936 e, são da autoria de Cassiano Branco.

(Foto: João H. Goulart, 1970, Arquivo Municipal de Lisboa)

(Foto: João H. Goulart, 1970, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Rua do Barão que presidiu o último governo setembrista

Freguesias da Penha de França e  do Areeiro

Freguesias da Penha de França e do Areeiro
(Foto: Sérgio Dias)

Cinquenta e um anos após o falecimento do primeiro e único barão da Ribeira de Sabrosa e, primeiro-ministro do último governo inteiramente setembrista foi  o seu nome atribuído por Edital de 30/11/1892 na artéria até aí denominada Azinhaga do Alto do Pina e, assim nasceu a Rua Barão de Sabrosa.

De seu nome completo Rodrigo Pinto Pizarro Pimentel de Almeida Carvalhais (Vilar de Maçada-Alijó/30.03.1788 — 08.04.1841/Vilar de Maçada – Alijó), foi oficial do exército e político.

Militar desde os 15 anos, desempenhou funções no Brasil e aí colaborou na Revolta Liberal do Maranhão de 1821-1822 e, como ajudante de Saldanha na Secretaria de Estado da Guerra foi portador do ultimatum a D. Isabel Maria, forçando ao juramento da Carta em 1826. Em 22 de Junho de 1834, D. Pedro IV prendeu-o e sendo deputado eleito pelo Porto nesse ano, não chegou a tomar assento porque as Cortes anularam a respectiva eleição. No ano seguinte, a  rainha D. Maria II concedeu-lhe o baronato por decreto de 22 de Setembro de 1835. Tornou-se membro fundador da Sociedade Patriótica Lisbonense em 9 de Março de 1836 e, foi designado administrador geral de Bragança, voltou a ser eleito deputado por Vila Real e, em 1839, foi Presidente do Conselho de Ministros de 18 de Abril  até 26 de Novembro, do último governo inteiramente setembrista e o X da Monarquia Constitucional, acumulando com as pastas  da guerra, dos negócios estrangeiros e da marinha. Foi ainda eleito senador em 1838 e em 1840. 

O Barão de Sabrosa era também membro do Conservatório de Lisboa e da Academia de Belas Artes, tendo mesmo Garrett dedicado-lhe um livro intitulado Elogio histórico do sócio barão da Ribeira de Sabrosa.

Placa Tipo II

Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

O Jardim da fadista que gostava de ser quem era

Placa Tipo IV (Foto: Artur Matos)

Placa Tipo IV
(Foto: Artur Matos)

Sete dias após o falecimento  de Amália deliberou a Câmara que o seu nome designasse uma via de Lisboa, o que se concretizou com o Edital de 18/04/2000 que atribuiu o topónimo Jardim Amália Rodrigues ao Jardim do Alto do Parque Eduardo VII,  um espaço de 5,7 ha da autoria do arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, que é parte integrante do Corredor Verde, que une o Parque Eduardo VII a Monsanto. 

Freguesia das Avenidas Novas  (Foto: Artur Matos)

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Artur Matos)

Amália da Piedade Rebordão Rodrigues (Lisboa/23.07.1920 – 06.10.1999/Lisboa) por muitos considerada a maior voz portuguesa, por interpretar de um modo único e invulgar o fado, nasceu na Rua de Martim Vaz da antiga Freguesia da Pena, quando os seus pais visitavam os seus avós maternos e, dadas as dúvidas sobre o dia exato a artista adotou o dia 1 de julho como data de aniversário durante toda a sua vida. Aos seis anos mudou-se com os avós para Alcântara, bairro onde viveria até aos 19 anos. 

Estreou-se como profissional em 1939 no Retiro da Severa e, rapidamente se tornou cabeça de cartaz  a cantar no Café Luso, com um cachet de valor nunca antes pago a um fadista. Antes, usara Amália Rebordão como nome artístico mas por  sugestão de Filipe Pinto, diretor artístico do Solar da Alegria, mudou para Amália Rodrigues. E ao longo da sua carreira, Amália também se destacou pela singularidade de reinventar a  postura da fadista, à frente e não atrás dos guitarristas, a que juntou um estilo de vestidos e xailes negros. 

O seu êxito como fadista também a levou ao teatro, de 1940 a 1947,  onde foi a voz de fados e canções de sucesso, tendo começado no palco do Teatro Maria Vitória. Amália Rodrigues  passou também pelo cinema, a partir do  filme Capas Negras (estreado no cinema Condes a 16 de maio de 1947), a que se seguiram Fado – História de Uma Cantadeira (1947), Sol e Toiros (1949), Vendaval Maravilhoso (1949), Os Amantes do Tejo (1955), April in Portugal (1955), Sangue Toureiro (1958), Fado Corrido (1964), As Ilhas Encantadas (1965), Via Macao (1965) e  também em curtas-metragens de Augusto Fraga.

Entre os seus inúmeros êxitos musicais podem destacar-se  Ai, Mouraria Barco negro, Casa portuguesaEstranha forma de vida, O fado do ciúmeFoi Deus, Gostava de ser quem era, Povo que lavas no rio ou Vou dar de beber à dor.  Muitos dos fados que interpretou tiveram letra de poetas portugueses contemporâneos, como Alexandre O’Neill, Ary dos Santos, David Mourão-Ferreira, José Afonso, José Régio, Manuel Alegre, Pedro Homem de Mello, Sidónio Muralha, Vasco de Lima Couto. Ela própria escreveu as letras de alguns dos seus temas como é o caso de Gostava de ser quem era e, estes poemas foram editados pela Cotovia, em 1997, com o título Versos. A diferença dos fados de Amália também resultaram da parceria com as composições de Alain Oulman, de 1962 até 1975, muitas vezes referidas como as “óperas” de Amália, onde também cantou poesia dos trovadores galaico-portugueses, do Cancioneiro de Garcia de Resende e de Camões.

Amália foi também considerada a maior embaixatriz de Portugal no mundo, por ter levado o nome de Portugal ao resto do mundo, dada a sua permanente e constante exibição pelos cinco continentes, ao longo da sua carreira. Data de  1943 a sua primeira vez no estrangeiro, em Madrid, a que se seguiram Brasil, Paris, Londres, Berlim, Roma, Dublin, Moscovo, Nova Iorque, entre muitas outras cidades e países. 

A fadista foi galardoada com a Ordem de Santiago de Espada (Cavaleiro em 1958, Oficial em 1970 e  Grã-Cruz em 1990), a Grande Medalha de Prata da Cidade de Paris (1959), a Ordem do Infante D. Henrique (1980), a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa (1980), o Grau de Comendador da Ordem das Artes e Letras (1985), a Medalha de Ouro da Cidade do Porto (1986), a Legião de Honra francesa (1991),  uma homenagem pública num espetáculo na Expo’98 e, a 8 de julho de 2001, o seu corpo foi trasladado do Cemitério dos Prazeres para a Sala da Língua Portuguesa no Panteão Nacional.

amaliazinha adaptada