A Rua do pintor de Lisboa, Carlos Botelho

Freguesia do Beato
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Carlos Botelho fez de Lisboa a protagonista central das suas telas  e no próprio ano em que faleceu a edilidade lisboeta colocou-o como topónimo de uma Rua da freguesia do Beato, que era identificada como arruamento D do Plano de Reconversão Urbana da Curraleira-Embrechados, através do Edital municipal de 16 de novembro de 1982. A artéria foi aumentada em 2008,  com a incorporação da Rua 8 à Rua Carlos Botelho, através do Edital municipal de 3 de julho.

Carlos Botelho em 1968
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, Casa Fotográfica Garcia Nunes)

Carlos António Teixeira Basto Nunes Botelho (Lisboa/18.09.1894 – 18.08.1982/Lisboa) foi um artista multifacetado que trabalhou em cerâmica, banda desenhada, pintura, ilustração, caricatura. Filho único de pais músicos, Carlos Botelho aprendeu a tocar violino. Estudou no Liceu Pedro Nunes onde em 1918 fez a sua primeira exposição individual e no ano seguinte inscreveu-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, que abandonou cerca de um ano depois, avançando como autodidata tal como Bernardo Marques ou Mário Eloy, outros nomes da sua geração.

Em 1924 empregou-se numa fábrica de cerâmica mas alguns êxitos em concursos de cartazes, levou-o em 1926 a dedicar-se exclusivamente à banda desenhada, à caricatura e à ilustração. Entre 1926 e 1929 produziu com regularidade pranchas de banda desenhada para o semanário infantil ABC-zinho. Também a partir de 1928 e durante 22 anos fez a página humorística Ecos da Semana, no semanário Sempre Fixe.

Em 1929 Botelho partiu para Paris, para frequentar as Academias Livres Grande Chaumière e Colarossi e a partir daí optou pela pintura, sendo desse ano o seu primeiro quadro de Lisboa: Uma vista do Zimbório da Basílica da Estrela. Nos anos 30, passou a integrar a equipa de decoradores do Secretariado de Propaganda Nacional, com Bernardo Marques, José Rocha, Tom e Fred Kradolfer, trabalhando na participação portuguesa em grandes mostras internacionais, como Paris, Lyon, Nova Iorque e São Francisco.  O ano de 1930 foi também aquele em que instalou o seu atelier na Costa do Castelo, na casa a que a sua mulher – Beatriz Santos Botelho com quem casara em 1922 e de quem teve dois filhos – tinha direito pela função de professora do ensino primário, e onde viveu até 1949. Em 1933 foi assistente de realização de Cottinelli Telmo no filme A Canção de Lisboa e cinco anos depois, em 1938 foi galardoado com o Prémio Sousa-Cardoso na Exposição de Arte Moderna do SNI pelo retrato de Músico Carlos Botelho (ou Meu Pai) e no seguinte  o 1º Prémio na Exposição Internacional de Arte Contemporânea de S. Francisco, o que lhe permitiu construir a casa-atelier no Buzano (Parede) onde se instalará em 1949.

Em 1940 também esteve na equipa de decoradores da Exposição do Mundo Português e recebeu o Prémio Columbano, para além de  conceber cenários e figurinos para a Companhia de bailados portugueses Verde Gaio, sendo a partir desta década que a paisagem urbana passou a ter um lugar central na sua obra, com Lisboa como tema primordial, que na década de 50 comportará experiências abstratizantes e será quase o seu único tema nas décadas seguintes.

Em 1955 voltou a residir em Lisboa, no então novo bairro do Areeiro e recebeu uma Menção de Honra por ocasião da III Bienal de S. Paulo, repetindo o prémio de 1951, a que somou em 1961, o 1º Prémio de Pintura na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.

A obra de Carlos Botelho está representado em inúmeras colecções públicas e privadas, como no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian ou no Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Câmara Municipal de Lisboa instituiu um prémio com o seu nome para a melhor pintura sobre a cidade de Lisboa.

Carlos Botelho é ainda topónimo de uma Avenida na Brandoa, de um Largo em Linda-a-Velha, de Pracetas em Cascais, Corroios e São João da Talha, bem como de Ruas na Charneca da Caparica,  em Famões, na Parede, em Rio de Mouro e em São Domingos de Rana.

Freguesia do Beato
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua da ilustradora e pintora Raquel Roque Gameiro

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A ilustradora Raquel Roque Gameiro foi homenageada no 2º Impasse à Rua Padre Francisco Álvares, uma artéria paralela ao 1º Impasse à Rua Padre Francisco Álvares, onde ficou o seu cunhado Leitão de Barros, na freguesia de São Domingos de Benfica, ambos pela publicação do Edital municipal de 4 de novembro de 1970, por sugestão do próprio Presidente da edilidade de então, Engº Santos e Castro.

Ilustração Portuguesa, 27 de novembro de 1911

Raquel Roque Gameiro Ottolini (Lisboa/15.08.1889 – 01.10.1970/Lisboa) foi uma pintora e ilustradora, filha primogénita e discípula do mestre aguarelista Alfredo Roque Gameiro, com Maria da Assunção de Carvalho Forte. Viveu a infância e juventude na Amadora, na Venteira, na hoje Casa Roque Gameiro, como o seu irmão Manuel e as suas irmãs Helena e Maria Emília (conhecida por Màmia) e foi a autora de um cartaz sedutor, para a firma de vinho do Porto Ramos Pinto, em que Pã espreme uvas para uma ninfa.

Estreou-se na ilustração em 1903, na literatura infantil dos Contos para Crianças de Ana de Castro Osório, bem como nas aguarelas para as exposições da Sociedade Nacional de Belas Artes a partir de 1909 e até 1937. Em ambos os casos, Raquel usava cores vivas, figuras de pescadores e camponeses, tipos e costumes de saloios dos arredores de Lisboa ou interiores rústicos e pobres mas airosos com chitas de ramagens. Em 1917, desenhou O Livro do Bébé, com versos de Delfim Guimarães, onde os pais podiam registar os momentos mais marcantes da vida do filho, desde o nascimento até a primeira comunhão. Na década de vinte, ilustrou obras de Adolfo Portela, Agostinho de Campos, António Sérgio, Augusto de Santa-Rita, Emília de Sousa Costa, Rodrigues Lapa, Sara Beirão e Tomás Borba, bem como na década seguida, entre outros, ilustrou o Livro de Leitura para a 1.ª Classe (1932) e, com Martins Barata e Emérico Nunes,  A lição de Salazar (1938).

Participou em várias mostras no país e no estrangeiro, como a Exposição de Artistas Portugueses no Rio de Janeiro e o Salão Internacional de Aguarela Hispano-Português de Madrid (1945). Teve destaque na “Exposição da Obra Feminina, antiga e moderna de caráter literário, artístico e científico”, organizada pelo jornal O Século e por Maria Lamas, em 1930. Foi distinguida com uma 1ª Medalha de Honra da SNBA (1929) e o prémio Ex-Libris da Imprensa Nacional. Está representada no Museu do Chiado-Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Museu José Malhoa nas Caldas da Rainha e no Museu de Arte Contemporânea de Madrid.

Refira-se que além da ilustração de livros e manuais escolares, Raquel Roque Gameiro também colaborou, sobretudo na década de trinta,  com diversas publicações periódicas como o ABCzinhoComércio do Porto, Diário de Notícias, O Domingo IlustradoEvaIlustração PortuguesaJoaninhaJornal dos Pequeninos,  LusitasModas e BordadosO MosquitoMickeyPortugal Feminino, O Século, Serões, Sphinx e Tic-Tac.

Raquel Roque Gameiro foi também professora particular de Desenho, Aguarela e Pastel. Manteve grupos de alunos, primeiro no atelier da família na Rua Dom Pedro V e depois, na sua casa de Benfica. Com o pai, Raquel caricaturou várias personalidades da Amadora, do que resultou uma coleção de desenhos com forte sentido humorístico.

Na sua vida pessoal, casou com o 4º Conde de Ottolini, Jorge Gomes Ottolini e foi mãe da ilustradora Guida Ottolini e de mais duas filhas e um filho, vivendo primeiro na casa da família da Amadora e mudando-se depois para Benfica, em Lisboa.

O seu nome está também atribuído à Escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico/Jardim de Infância Raquel Gameiro, na Freguesia da Venteira, na Amadora, bem como a uma Praceta de Odivelas.

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

O azulejador e caricaturista Jorge Colaço numa Rua de Alvalade

Freguesia de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jorge Colaço, da azulejaria azul e branca e das caricaturas do Thalassa, cujo 150º aniversário este ano se completa, desde 1957 dá nome à Rua de Alvalade que era o troço da Estrada das Amoreiras a norte da Avenida do Brasil até à projetada Segunda Circular.

Jorge Colaço foi inscrito na toponímia de Lisboa pelo Edital  municipal de 17 de maio de 1957, cerca de nove anos depois da sua mulher, Branca de Gonta Colaço, que era também  um topónimo do Bairro de Alvalade desde a publicação do Edital municipal de 22 de julho de 1948 .  A sugestão para homenagear Jorge Colaço surgiu do seu filho, Tomás Ribeiro Colaço, em carta datada de 29/11/1956 dirigida ao Presidente da edilidade lisboeta.

«Ilustração Portuguesa» de 20 de dezembro de 1905

Jorge Daniel Rey Colaço (Tânger/26.02.1868 – 23.08.1942/Caxias),  notabilizou-se sobretudo como azulejador e caricaturista, bem como enquanto Presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, no período de 1906 a 1910, por ter sido, em grande parte,  o obreiro da construção da sede.

Nascido em Tânger, no Consulado de Portugal , por ser filho do escritor e diplomata José Daniel Colaço ( 1.º barão de Colaço e Macnamara) e de Virgínia Maria Clara Vitória Raimunda Rey Colaço, sendo assim também primo de Amélia Rey Colaço ( mais nova 30 anos). Estudou arte em Lisboa, Madrid e Paris, onde foi discípulo de Ferdinand Cormon, após o que trabalhou para a Fábrica de Louça de Sacavém até 1923, fazendo ressurgir o azulejo artístico em Portugal. A partir de 1924 e até à data da sua morte passou a colaborar com a Fábrica de Cerâmica Lusitânia,  de Coimbra. Inovador nos processos foi dos primeiros a usar a  técnica da serigrafia nos azulejos mas, distinguiu-se ainda mais pela transposição para o azulejo de efeitos aguarelados ou semelhantes aos da pintura a óleo graças a uma segunda cozedura. A azulejaria de Jorge Colaço foi preferencialmente em azul e branco e tradicionalista, com painéis historiados de azulejaria e exaltação da  vida rural.

Das muitas centenas de painéis de azulejos seus espalhados pelo país e até pelo mundo, cuja inventariação ainda está a ser completada, destacamos em Lisboa, os da Casa do Alentejo no Palácio Alverca (1918), do Pavilhão dos Desportos- Pavilhão Carlos Lopes (1922), da Academia Militar no palácio da Bemposta, da  pastelaria A Merendinha na Rua dos Condes de Monsanto, na sede da Cruz Vermelha Portuguesa no Palácio dos Condes de Óbidos e do desaparecido Mercado da Fruta do Cais do Sodré. No resto do país salientamos os painéis das muitas estações e apeadeiros de caminho de ferro que são da sua autoria, como os da Estação de São Bento (1903) no Porto  ou os da Estação de Beja (1940), os do Aquário Vasco da Gama (1898) no Dafundo, da decoração do Palace-Hotel do Buçaco (1907), do revestimento exterior da Igreja dos Congregados (1929) no Porto, da Casa Baeta em Olhão (1930), bem como a nível internacional o seu tríptico no Palácio de Windsor (Inglaterra), o painel na Sociedade das Nações em Genebra (Suíça), na Maternidade de Buenos Aires (Argentina) e em diversas residências no Brasil, Cuba e Uruguai.

Jorge Colaço usou também o seu exímio traço de  desenhador na caricatura e foi galardoado com a 1ª medalha em caricatura da Sociedade Nacional de Belas Artes e a medalha de honra na Exposição Portuguesa no Rio de Janeiro (1908). Em 1913, com Alfredo Lamas, Chrispim ( E. Severim de Azevedo) e João Martins,  fundou o semanário humorístico O Thalassa, com sede na Rua da Alegria nº 26 e dirigiu-o na totalidade a partir de 13 de fevereiro de 1914 e até ao seu 100º e último número de 14 de maio de 1915. Também aqui privilegiava a caricatura política, nitidamente influenciado por Bordalo Pinheiro. Colaborou ainda com os jornais Branco e Negro (1896 – 1898) , O Branco e Negro (1899) e a revista Ilustração Portuguesa, a partir de 1903.

Freguesia de Alvalade
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Fernando Bento, pioneiro da banda desenhada portuguesa, numa Rua do Bairro do Oriente

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Desde 1998 que Fernando Bento, pioneiro da banda desenhada portuguesa, de traço original e inconfundível, que serviu de modelo a Eduardo Teixeira Coelho e outros das gerações seguintes, está homenageado numa Rua do Bairro do Oriente, na freguesia do Parque das Nações.

A Rua Fernando Bento, que liga a Rua Padre Abel Varzim à Rua Carlos Daniel, foi o topónimo atribuído à  Rua F do Bairro dos Retornados pelo Edital municipal de 24 de junho de 1998. O antigo Bairro dos Retornados, como era popularmente conhecido, foi renomeado como Bairro do Oriente no dia 7 de maio de 1999 e as suas artérias, até aí denominadas por letras, passaram a ostentar nas suas placas toponímicas os nomes de vários artistas, como Fernando Bento, os cantores António Variações e Carlos Paião, os atores Mário Viegas e Carlos Daniel, o compositor Jaime Mendes e o Palhaço Luciano.

Fernando Trindade Carvalho Bento (Lisboa/26.10.1910 – 19.09.1996*/Lisboa) nasceu  na Praça das Flores 21 dias após a implantação da República em Portugal, filho de um pintor de cenários e de cartazes do Coliseu dos Recreios e tornou-se  a partir de 1938 um autor de banda desenhada portuguesa, modelo para os desenhadores das gerações seguintes, como Eduardo Teixeira Coelho. Refira-se ainda neste mês de junho que Fernando Bento foi também o primeiro a fazer uma biografia de Santo António em banda desenhada, em 1943, para o Diabrete nº 128.

Antes de se dedicar em força à  9ª Arte, Fernando Bento fizera apenas o curso de desenho por correspondência da escola de desenho ABC de Paris. A partir de 1935, trabalhou como figurinista e cenógrafo no Coliseu de Lisboa e, dois anos depois, com 27 anos de idade, fez a sua primeira exposição individual. Ainda na década de trinta do séc. XX, Fernando Bento teve uma fase em que publicava caricaturas na imprensa escrita, primeiro no Coliseu Os Sports, como depois no Diário de Lisboa. E como em Portugal nunca a profissão de artista de banda desenhada foi remunerada de forma a permitir ser a única ocupação, desde muito cedo que Fernando Bento era funcionário da British Petroleum, pelo que com o lançamento da revista BP foi convidado a participar nela e tornou-se até  seu diretor mais tarde. Quando se reformou da BP, abriu um gabinete de publicidade.

Filipim de Fernando Bento

Publicou as suas primeiras histórias aos quadradinhos em 1938, no suplemento infantil do jornal República, o Pim-Pam Pum versando geralmente temas desportivos como O Mais Importante Desafio de Futebol da Época ou A Volta A Portugal em Bicicleta. A partir de 1941 e de parceria com Mário Costa,  assegurou o grafismo do Pim-Pam Pum durante quase 20 anos,  até 1959, tendo aí também publicado 14 séries, onde  se destaca A Volta ao Mundo Por Pim Pam Pum (1941-1942) e As Férias de Pim Pam e Pum (1942) e mais 836 tiras e 49 pranchas de uma página de sua autoria. Em paralelo, trabalhou também na revista infantil Diabrete (1941 a 1951), onde foi maquetista, ilustrador de capas e autor das bandas desenhadas de adaptações de obras de Júlio Verne, Conan Doyle, Kipling ou  Mark Twain,  bem como de outras com argumento didático-histórico de Adolfo Simões Muller, para além das suas personagens cómicas  AnitaZé Quitolas ou Zuca. Da sua ligação a  Adolfo Simões Muller resultaram  também ilustrações para a literatura infantil deste. Em 1946, fez uma adaptação para banda desenhada do filme de Robert Vernay de 1942, Le Comte de Monte-Cristo, com um estilo aproximado da fotografia, para suporte de uma folha volante de publicidade e o seu enorme sucesso garantiu-lhe de seguida a passagem  das suas histórias para os manuais escolares de inglês e francês dessa época. A partir de 1952, Fernando Bento instalou-se na revista juvenil Cavaleiro Andante, para dar vida a inúmeras séries como Beau Geste – que foi editada na BélgicaO Anel da Rainha do Sabá ou Quintino Durward, que era a sua favorita. Até 1962 foi para esta revista que também produziu anúncios, capas,  37 séries e 175 histórias curtas. De igual modo, para o Pagem, o  suplemento infantil do Cavaleiro Andante, não faltaram as suas histórias cómicas do Zé Quitolas, da Anita e do Filipim.

Depois, só voltou a publicar em  1973, com um grafismo mais modernista, 16 pranchas inéditas intituladas Um Homem Chamado Joaquim Agostinho, impressas diariamente nas páginas de A Capital , entre 5 e 20 de agosto desse ano. Essa década foi também a das  reedições das suas obras para o suplemento Nau Catrineta do Diário de Notícias (1975), A Ilha do Tesouro (1977) e Serpa Pinto (1979) para o Templário Juvenil, bem como Luís de Camões e Alguns Passos de ‘Os Lusíadas’ para o Boletim do Serviço de Biblioteca Itinerantes da Fundação Gulbenkian, tendo assim continuado a acontecer nos anos 80 para as revistas Mundo de Aventuras Quadradinhos. Foram também reeditados os álbuns Beau Geste (1982), Com a Pena e com a Espada (1983), O Anel da Rainha do Sabá  e As mil e Uma Noites (ambos em 1988). No início da década de 90, Fernando Bento nos seus 80 anos de idade,  retomou a sua A Ilha do Tesoiro de 1947, desta feita com argumento de Jorge Magalhães e o titulo de Regresso à Ilha do Tesouro (1993), para além de ter sido reeditado no  Almada BD Fanzine (1990), nos Cadernos Sobreda-BD (1991 e 2002) e no fanzine Zero  da Póvoa do Varzim ( de 1990 a 1998).

Fernando Bento foi agraciado com o troféu O Mosquito (1983) pelo Clube Português de Banda Desenhada, assim como postumamente foi homenageado em 2010, no 1º centenário do seu nascimento, através de uma exposição  que esteve patente em Moura, Sobreda, Viseu e Beja, assim como por outra, exibida na Amadora, concelho que em 2016, também acolheu uma nova mostra, no Clube Português de Banda Desenhada.

A Câmara Municipal de Lisboa, através da Bedeteca, já o havia homenageado através da publicação de Fernando Bento – Uma Ilha de Tesouros ou  Diabruras da prima Zuca (ambos em 1998), mas no ano seguinte consagrou-o também na toponímia lisboeta. O seu nome consta também da toponímia da Sobreda, no concelho de Almada.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

a data de falecimento foi a indicada pelo filho de Fernando Bento, em 1999, para a elaboração da brochura publicada para a inauguração da Rua Fernando Bento

Os desenhadores, pintores e escultores de Lisboa

No mês das Festas de Lisboa, em que a cidade se enche de imagens e de colorido de arco e balão vamos avançar por aqueles que nascidos ou não em Lisboa contribuíram para o imaginário alfacinha pelo desenho, pela ilustração, pela pintura e pela escultura.

Já antes aqui publicámos artigos, ou brochuras, sobre os seguintes  desenhadores, caricaturistas, ilustradores, pintores e escultores:

  1.  Avenida Columbano Bordalo Pinheiro
  2.  Avenida José Malhoa
  3.  Jardim Amélia Carvalheira
  4. Largo Artur Bual
  5. Largo Francisco Smith
  6. Largo Júlio Pereira
  7. Largo Luís Dourdill
  8. Largo Rafael Bordalo Pinheiro
  9. Praça Cottinelli Telmo
  10. Praça José Queirós
  11. Praça Nuno Gonçalves
  12. Rua Alfredo Roque Gameiro
  13. Rua Almada Negreiros
  14. Rua Amadeu de Sousa Cardoso
  15. Rua Amarelhe
  16. Rua António Dacosta
  17. Rua António Duarte
  18. Rua Augusto Pina
  19. Rua Bernardo Marques
  20. Rua Carlos Reis
  21. Rua Cipriano Dourado
  22. Rua Domingos Rebelo
  23. Rua Domingos Sequeira
  24. Rua Eduarda Lapa
  25. Rua Eduardo Viana
  26. Rua Francisco Metrass
  27. Rua Frederico George
  28. Rua Hein Semke
  29. Rua João Anastácio Rosa
  30. Rua João Hogan
  31. Rua Jorge Barradas
  32. Rua Jorge Vieira
  33. Rua José Dias Coelho
  34. Rua José Escada
  35. Rua José Farinha
  36. Rua Josefa de Óbidos
  37. Rua Leandro Braga
  38. Rua Leitão de Barros
  39. Rua Maluda
  40. Rua Manuel Guimarães
  41. Rua Marciano Henriques da Silva
  42. Rua Mário Botas
  43. Rua Mário Cesariny
  44. Rua Mário Dionísio
  45. Rua Raul Carapinha
  46. Rua Sá Nogueira
  47. Rua Sara Afonso
  48. Rua Severo Portela
  49. Rua Simões de Almeida
  50. Rua Sousa Lopes
  51. Rua Sousa Pinto
  52. Rua Stuart Carvalhais
  53. Rua Teixeira Lopes
  54. Rua Tenente Espanca
  55. Rua Tomás da Anunciação
  56. Rua Veloso Salgado

A Rua João Anastácio Rosa, o ator pai de dois atores

 

Página dedicada a João Anastácio Rosa n’ O António Maria de 18 de dezembro de 1884

João Anastácio Rosa, pai dos também atores João Rosa e Augusto Rosa e por isso conhecido como Rosa-Pai, dá nome à Rua que liga a Avenida Álvares Cabral com a Rua de São Bernardo, desde a publicação do Edital municipal de 18 de novembro de 1913, tendo nesse mesmo ano havido uma permuta de terrenos entre a  CML e a Associação de Escolas Móveis e Jardins-Escolas João de Deus que permitiu concretizar a abertura deste arruamento.

Onze anos depois, o Edital municipal de 17/03/1924  consagrou o seu filho mais novo  Augusto Rosa (1850 – 1918) na antiga Rua do Arco do Limoeiro e dois anos depois, o Edital de 27 de janeiro de 1926 colocou o seu primogénito João Rosa (1842 – 1910) no Bairro dos Aliados ao Areeiro.

Freguesias de Campo de Ourique e da Estrela
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

João Anastácio Rosa (Redondo/1812 ou 1816 – 17.12.1884/Lisboa) nasceu no Redondo, filho de José Manuel da Rosa Munhoz e D. Merina do Carmo, embora se desconheça a sua data de nascimento, conforme afirma  Eduardo Augusto Vidal na biografia que lhe escreveu em dezembro de 1869 e publicou no ano seguinte, impressa na Tipografia Universal de Tomás Quintino Antunes, na Rua dos Calafates (é a Rua Diário de Notícias dos nossos dias).

Veio para Lisboa  em 1827, para estudar na Aula Régia de Desenho. Sabe-se que 18 de janeiro de 1832 foi a  data da sua matrícula na Aula Pública de Desenho de História, Figura e Arquitetura Civil, de acordo com registo guardado na Universidade de Lisboa, assim como segundo a biografia de E. A. Vidal, um tal de Marechal Raposo o encaminhou para discípulo do pintor Taborda no Palácio da Ajuda e mais tarde, o patriarca de Lisboa, Cardeal Frei Francisco de São Luís, também natural do Redondo, de quem ele pintou um retrato em 1835, conseguiu que fosse trabalhar para o Jardim Botânico da Ajuda. Na guerra civil entre liberais e miguelistas João Anastácio Rosa entrou na contenda, pelos liberais, tendo alcançado o posto de sargento do 5º batalhão móvel.

Finda a guerra João Anastácio Rosa passou a assegurar o seu sustento como retratista, o que o fez ligar-se a gente do teatro, como os atores Epifânio e Delfina. No Teatro da Rua dos Condes, conheceu o  comediante Emile Doux, então radicado em Lisboa e acabou por se estrear como ator em 1839, nesse mesmo Teatro, no drama Maria Tudor.

Em 1846 foi inaugurado o Teatro D. Maria II e João Anastácio Rosa  lá estava, convidado para ser ator residente. Deu brado em O Estudante de São Ciro e alcançou também muito êxito como ensaiador, ator e responsável pela decoração e/ou o guarda-roupa de A Profecia ou a Queda de Jerusalém, tal como em O Morgado de Fafe em Lisboa de Camilo ou no Marquês de la Seiglière.

Em 1853, sendo Ministro do Reino Rodrigo da Fonseca Magalhães, conseguiu uma licença de 3 meses do Teatro Nacional para ir a Paris estagiar na Comédie Française e com uma bolsa concedida para o efeito. Conheceu nos Pirinéus o florista Constantino – o que dá nome a um jardim lisboeta-, de quem também pintará um retrato em 1854.  Mais tarde, João Anastácio Rosa dai do elenco do Teatro D. Maria II para percorrer o país com uma companhia que ele próprio formou, sendo certo estar a 25 de setembro 1862 no Porto, determinado a fazer a estreia do seu filho João no  Teatro de São João, o que aconteceu a 1 de novembro na comédia As jóias de família. Aceitou de seguida um convite para estar no Teatro Académico de Coimbra que mais tarde lhe concederá o diploma de sócio. Regressou a Lisboa em junho de 1863 e a 12 de agosto João Anastácio Rosa estreiava o seu Ricardo III, de Shakespeare, no São Carlos.

Quando se reformou do teatro em 1866, passou a dedicar-se à pintura, à caricatura, a criar o busto de Garrett para o átrio do D. Maria II e a desenvolver invenções, como umas botas impermeáveis para o exército, cujo sistema ganhou um prémio numa Exposição em Paris, em 1878. Mais tarde, em 1883 ou 1884,  segundo Luís Pastor de Macedo, morou na Rua Áurea (vulgarmente designada Rua do Ouro).

No dia seguinte ao seu falecimento, o António Maria de Rafael Bordalo Pinheiro dedicou-lhe uma página inteira, retratando-o em várias fases da vida. Foi também agraciado com a Ordem de Santiago. O Teatro do Redondo, construído em 1839, também tomou o nome de João Anastácio da Rosa. Para além de Lisboa, o seu nome está ainda na toponímia do Redondo, do Alandroal, de Queijas e da Venda Nova – Amadora.

Freguesias de Campo de Ourique e da Estrela
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Amadeu de Sousa Cardoso nascida em 1988 sobre a Rua Bocage

na Freguesia de Alcântara

Freguesia de Alcântara                                                                (Foto: José Carlos Batista)

Amadeu de Sousa Cardoso foi fixado na toponímia alfacinha setenta anos após a sua morte, no arruamento que liga a Rua dos Lusíadas à Rua João de Barros, através do Edital de 29 de fevereiro de 1988, naquela que era a Rua Bocage desde a deliberação camarária de 08/07/1892 e ainda antes, as Ruas nºs 7 e 8 do Bairro do Casal do Rolão, em Alcântara.

Conforme se pode ler na acta da reunião da Comissão de Toponímia de 17 de fevereiro de 1988, o Vereador Vítor Reis sugeriu o nome de Amadeu de Sousa Cardoso para identificar um arruamento citadino, e a Comissão de Toponímia então presidida  pelo Vereador Comandante Pinto Machado «Atendendo a que existem em Lisboa dois arruamentos ambos evocando a memória do poeta Bocage [o cientista na Avenida Barbosa du Bocage e o poeta na Rua Bocage], e que não se justifica essa duplicação toponímica»,  foi de parecer que a Rua Bocage em Alcântara se passasse a denominar Rua Amadeu de Sousa Cardoso. Mais tarde, em 1996, por proposta de Appio Sottomayor na Comissão Municipal de Toponímia voltou Manuel Maria Barbosa do Bocage a Lisboa com a denominação inequívoca de Rua Poeta Bocage.

Amadeo em 1913

Amadeo em 1913

Amadeo de Souza-Cardoso e pela grafia moderna Amadeu de Sousa Cardoso (Amarante-Manhufe/14.11.1887 – 25.10.1918/Espinho), foi um desenhador, caricaturista e pintor da primeira geração de modernistas portugueses. Aos 18 anos, matriculou-se em Arquitetura na Academia de Belas-Artes de Lisboa e manifestou também a sua arte no desenho, sobretudo como caricaturista.

No ano seguinte (1906) viajou para Paris, na companhia de Francisco Smith, e acabou por se instalar no Boulevard Montparnasse , onde reforçou a sua inclinação para o desenho e a caricatura que  publicou n’ O Primeiro de Janeiro (1907) e na Ilustração Popular (1908-1909). Arrendou um estúdio no 14, Cité Falguière que se tornou também espaço de tertúlias com artistas emigrados como Manuel Bentes, Eduardo Viana, Emmérico Nunes, Domingos Rebelo e  Francisco Smith. No final de 1908 conheceu Lucia Pecetto (Lyon/23.07.1890-23.03.1989/Paris) –  com quem casará em 1914 no Porto- e começou a frequentar as classes do pintor espanhol Anglada-Camarasa, para além de mudar o seu estúdio para a rue des Fleurus, num espaço contíguo ao apartamento de Gertrude Stein. Em 1910 fez uma estadia de três meses em Bruxelas investigando as pinturas dos primitivos flamengos e no ano seguinte expôs trabalhos no Salon des Indépendants de Paris (também em 1912 e 1914) e aprofundou a sua amizade com Amedeo Modigliani, tendo realizado uma exposição conjunta no novo atelier de Amadeu perto do Quai d’Orsay, na rue du Colonel Combes. Amadeu aproximava-se cada vez mais das vanguardas e de artistas como Brancusi, Archipenko, Diego Rivera, Juan Gris ou Max Jacob.  Em 1912, publicou o álbum XX Dessins e expôs no Salon d’Automne a que voltou em 1914. Em 1913, convidado por Walter Pach, integrou com 8 trabalhos a Exposição Internacional de Arte Moderna Armory Show (Nova Iorque, Chicago e Boston),  ao lado de Braque, Matisse ou Duchamp. Nesse mesmo ano voltou a Montparnasse, para novo estúdio na rue Ernest Cresson e participou  no I Herbstsalon de Berlim. Em 1914,  Amadeo veio passar o verão em Manhufe como costumava, após uma passagem por Barcelona para visitar o escultor León Solá onde conheceu Gaudí, sendo  surpreendido pelo deflagrar da I Guerra que o impedirá de regressar a Paris, tal como sucedeu a Robert e Sonia Delaunay que ficaram em Vila do Conde, tendo em conjunto pensado criar uma Corporation Nouvelle para promover exposições internacionais itinerantes, para além de através de Almada Negreiros ter conhecido o grupo dos Futuristas lisboetas, reunidos inicialmente em torno da revista Orpheu e assim em 1917 publicou três obras na revista Portugal Futurista, mas a edição foi apreendida.

Em 1918 contraiu uma doença de pele que lhe atingiu o rosto e as mãos impedindo-o de trabalhar e, trocou Manhufe por Espinho, na tentativa vã de escapar à epidemia de Gripe Espanhola à qual acabou por sucumbir nesse ano. A sua morte antes de completar 31 anos de idade ditou o fim abrupto de uma obra pictórica em plena maturidade e, de uma carreira internacional promissora, conduzindo a que o seu nome só alguns anos após a sua morte ganhasse em Portugal a importância e o reconhecimento que possuía no estrangeiro e muito graças à divulgação do seu trabalho por Almada Negreiros.

Em 1935, foi criado o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso para o Salão Anual de Arte Moderna e em, 1957 José Augusto-França publicou a primeira monografia sobre ele e em 1968 a Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu 5 obras de Amadeo que hoje está representando no Museu Municipal Amadeu de Sousa Cardoso em Amarante, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian e no Museu de Arte Contemporânea/Museu do Chiado.

Placa Tipo II

Placa Tipo II                                                            (Foto: José Carlos Batista)

Freguesia de Alcântara (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias)

Stuart do Quim e Manecas numa rua do Arco do Cego

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Stuart Carvalhais, o autor de Quim e Manecas (1915-1953), a primeira e mais longa série  de banda desenhada portuguesa e, inconfundível ilustrador a tinta-da-china do quotidiano lisboeta, deu o seu nome à Rua E do Bairro Social do Arco do Cego, pelo Edital 31/03/1970, que também atribuiu em artérias próximas os nomes do jornalista José Sarmento e de Esculápio.

José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais (Vila Real/07.03.1888 – 02.03.1961/Lisboa) destacou-se como desenhador e caricaturista mas foi um artista multifacetado sendo também pintor, repórter fotográfico, decorador e cenógrafo. Filho de mãe inglesa e, pai português de abastadas famílias rurais do Douro, passou parte da infância em Espanha e voltou a Portugal em 1891, tendo frequentado o Real Instituto de Lisboa (1901-1903) e trabalhado como pintor de azulejos no atelier de Jorge Colaço (1905).

Ilustração humorística de Stuart Carvalhais

Ilustração humorística de Stuart Carvalhais

Stuart começa a trabalhar em jornais como repórter fotográfico e, em 1906, publica pela primeira vez os seus desenhos no jornal O Século. Em 1911 é já um dos responsáveis pela revista humorística A Sátira e colabora na fundação da Sociedade de Humoristas Portugueses, a que presidirá Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, filho de Rafael Bordalo Pinheiro, para além de participar na I e II Exposição de Humoristas Portugueses (1912 e 1913) e, mais tarde na Exposição dos Humoristas Portugueses e Espanhóis (1920). Na passagem de um ano para o outro está alguns meses em Paris, trabalhando como ilustrador no jornal Gil Blas e no regresso a Lisboa casa com a varina Fausta Moreira, com quem tem o seu único filho, Raul Carvalhais. Em 1914, e apesar de ser republicano, Stuart colabora no jornal satírico monárquico Papagaio Real, sob a direção artística de Almada Negreiros. No ano seguinte publica no suplemento humorístico do jornal O Século a sua banda desenhada pioneira em Portugal, inicialmente intitulada Quim e Manecas (1915-1953), a mais longa série  de banda desenhada portuguesa e que dará origem ao primeiro filme cómico português, hoje desaparecido, onde o próprio Stuart fez o argumento e desempenhou o papel de pai do Manecas, realizado por Ernesto de Albuquerque e que estreou em Lisboa no Cinema Colossal, na Rua da Palma.

Nos anos vinte Stuart acumula sucessos ao dirigir a revista ABC a Rir e a publicar na Ilustração – em cuja fundação também participa -, no Diário de Lisboa, no Diário de Notícias, O Domingo Ilustrado, A Corja, O Espectro, no semanário humorístico Sempre Fixe, ABCzinho, o Batalha e A Choldra. O seu trabalho reparte-se ainda por postais ilustrados para a exposição dos Mercados de 1925, ementas para o Bristol Clube,  uma pintura para a decoração do café A Brasileira, no Chiado  e,  a criação da publicidade da editora musical Sasseti, sendo o artista com mais capas de livros e de pautas de música, um trabalho gráfico em que associa o desenho aos tipos de letra a usar e assim ganhou dois prémios em concursos internacionais, em Itália e Espanha.

Encontramos ainda a assinatura a tinta-da-china de Stuart Carvalhais em diversos jornais e revistas, como a Gazeta dos Caminhos de Ferro e a Contemporânea. Em 1932 realiza a sua única exposição individual, na Casa da  Imprensa e, integra mostras coletivas de Artes Plásticas, mas será sempre uma figura isolada da 1ª geração de modernistas portugueses, não seguindo Almada ou Santa-Rita Pintor mas antes afirmando-se como um cronista perspicaz herdeiro da caricatura de Bordalo, deambulando pelas zonas de bas-fond lisboeta. Em 1948 recebe o prémio Domingos Sequeira na Exposição do SNI – Secretariado Nacional da Informação.

Para o teatro, Stuart trabalha como cenógrafo e figurinista do Teatro Nacional e do Politeama para além de ter experimentado a realização em cinema com Mário Huguin, para O Condenado, desdobrando-se ainda como ator.

Freguesia do Areeiro

Freguesia do Areeiro

Freguesia do Areeiro

Freguesia do Areeiro

A Rua Amarelhe com a caricatura diplomática em cena

Amarelhe

O caricaturista Amarelhe, considerado um diplomata nessa arte, desde a publicação do Edital de 30/10/1997 que dá nome a uma artéria da Freguesia do Lumiar, que era o Impasse II à Avenida Maria Helena Vieira da Silva, paralela à Rua Mário Eloy que também nasceu no mesmo Edital e, ambas paralelas à Rua da Tobis Portuguesa, empresa em que tantos dos retratados por Amarelhe passaram em película de filme.

Américo da Silva Amarelhe (Porto/26.12.1892 – 03.04.1946/Lisboa) era filho de mãe portuguesa e de pai espanhol – José Amarelle -, e daí se gerou o seu apelido aportuguesado que utilizou como assinatura e, que muitos interpretaram como um pseudónimo. Aos 14 anos fez a sua 1ª Exposição pública de «retratos caricaturais», no Salão da Fotografia União da sua cidade natal, conseguindo um inegável êxito artístico e comercial, impondo-se mesmo como um artista de moda : os lojistas do Porto passaram a ter pelo menos uma caricatura de Amarelhe na sua montra, eles próprios lisonjeados por se mandarem caricaturar e, num clima em que quase parecia mal não ter uma caricatura de Amarelhe.

Cinco anos mais tarde, radicou-se em Lisboa  e foi o primeiro artista a querer viver apenas do retrato caricatural. Em 9 de maio de 1912, nas salas do Grémio Literário sito na Rua Ivens, participou com uma vintena de trabalhos no I Salão de Humoristas Portugueses e as suas imagens encheram os principais diários portugueses, sobretudo em publicações como o Primeiro de Janeiro, na revista Ilustração Portuguesa e no semanário humorístico Sempre Fixe. Américo Amarelhe dedicou-se especialmente a caricaturar gente das mais variadas áreas do meio teatral, como Adelina Fernandes, António Silva, Beatriz Costa, Francis Graça, Henrique Alves, Hortense Luz, João Bastos, José Loureiro, Josefina Silva, Leopoldo Fróis, Manuel Joaquim de Araújo Pereira, Maria Matos ou Palmira Bastos, podendo mesmo afirmar-se que Amarelhe foi o cronista gráfico do teatro em Portugal.

E apesar da caricatura ser o género jornalístico que revela o lado escondido das coisas a de Amarelhe, era contudo, sempre amável e diplomática para não ofender nenhum dos retratados. O seu estilo não privilegiou as deformações e exageros da caricatura e enveredou mais pela sátira pitoresca do que pelo grotesco, aliás espelhando o seu próprio comportamento  social e o seu modo de vestir.

Finalmente acrescente-se que ainda ligado ao teatro, Amarelhe executou decorações e cenários para além de conceber cartazes para o teatro de revista e para empresas discográficas.

Amarelhe teve ainda direito a uma exposição própria no Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria II em 1928 e, a sua grande relação com o mundo teatral levava os Teatros lisboetas a manterem sempre duas cadeiras livres na primeira fila:  para «o Amarelhe» e possível acompanhante.

0 Painel de  Amarelhe (1939 ) com caricaturas de Beatriz Costa

O Painel de Amarelhe (1939 ) com caricaturas de Beatriz Costa

Freguesia do Lumiar

Freguesia do Lumiar

 

O pintor modernista Jorge Barradas numa Rua de Benfica

Autocaricatura publicada na Ilustração Portuguesa

Autocaricatura publicada na Ilustração Portuguesa

No próprio ano do falecimento de Jorge Barradas, teve este pintor e ceramista  o seu nome atribuído à artéria formada pelas Ruas III e IV à Estrada dos Arneiros, por Edital de 25/11/1971.

O mesmo Edital atribuiu na proximidade a Rua João Ortigão Ramos, em homenagem a este  cinéfilo que ajudou a erguer a Tobis Portuguesa e que dirigiu o Automóvel Clube de Portugal, onde aliás, em no mês de maio de 1920,  fez Jorge Barradas uma exposição individual.

Jorge Nicholson Moore Barradas (Lisboa/1894 – 1971/Lisboa), também conhecido como o «Barradinhas», foi um pintor e ceramista da primeira geração dos modernistas portugueses, que participou nas primeiras manifestações «livres» destes na primeira década do século XX . Nos anos vinte foi o mais popular dos ilustradores lisboetas de jornais e revistas, tendo sido um dos mais assíduos do Sempre Fixe. Em 1925, participou na decoração do Bristol Club e executou duas telas para a Brasileira do Chiado.

Com Henrique Roldão fundou e, dirigiu o quinzenário O Riso da Vitória, que embora efémera foi uma das mais brilhantes publicações humorísticas portuguesas. Foi ainda director artístico do ABC a Rir, dando depois o lugar a Stuart de Carvalhais. Participou, desta forma, numa tentativa de renovação gráfica protagonizada por uma geração que se inspirava no estrangeiro e que atravessa a imprensa periódica e a publicidade portuguesa nos anos 20. Na sua obra gráfica são notórias as influências da Arte Nova e da Art Déco. Mas isto não impediu Jorge Barradas de ter um traço original e moderno, cheio de qualidades, de que são exemplo os desenhos que publicou nas primeiras páginas do Diário de Lisboa, do Sempre Fixe ou de  O Riso da Vitória,  com tipos alfacinhas como protagonistas – relação que repetirá nos seus outros domínios artísticos. Essa originalidade e modernidade estão igualmente patentes nas requintadas capas que fez para a revista ABC,  Magazine Bertrand ou Ilustração, com o corpo feminino

Em 1945 lançou-se como ceramista e e na azulejaria, tendo mesmo  obtido o Prémio Sebastião de Almeida na 1ª Exposição de Cerâmica Moderna, em 1949. Em 1969 fez também os painéis em relevo do refeitório da Fundação Calouste Gulbenkian.

Freguesia de Benfica

Freguesia de Benfica