Brotero

Gravura de Félix de Avelar Brotero
(Foto: Eduardo Portugal © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

Félix de Avelar Brotero, médico que preferiu dedicar-se à botânica e assim dirigiu o Jardim Botânico da Ajuda, começou por ter Rua em Lisboa na freguesia de Alcântara no final do séc. XIX e em 1916, também passou a dar nome a uma artéria da Ajuda e depois, foi também o nome do Jardim do Alto de Santo Amaro em Alcântara.

Por deliberação camarária de 8 de julho de 1892 passou a existir em Alcântara, na Rua 6 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro, a Rua Avelar Brotero. Já no séc. XX, o Edital municipal de 26 de setembro de 1916, alterou o topónimo Rua da Paz para Rua Brotero, considerando a localização desta entre o Largo da Paz e o Jardim Botânico que Brotero dirigira. Nos anos 80 do séc. XX, perante a manifesta escassez de novos arruamentos na cidade, a edilidade alterou pelo Edital de 7 de setembro de 1987 a Rua Avelar Brotero para Rua Pedro Calmon, passando a existir apenas uma rua dedica a Brotero em Lisboa, a da Ajuda, à qual em 1992 foi aditada a legenda «Félix de Avelar Brotero / Médico e Botânico/1744 – 1828», a partir da sugestão de um munícipe para se identificar convenientemente o antropónimo.

Ainda em Alcântara, no início do séc. XX, o Jardim do Alto de Santo Amaro, sito na Rua Filinto Elísio- que antes de 8 de julho de 1892 era a Rua 2 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro-, foi denominado Jardim Avelar Brotero mas tal resolução nunca tornou oficial o topónimo do Jardim. A CML aumentou o número de bancos deste espaço verde nos anos 50, a pedido dos moradores da zona e a última remodelação do Jardim aconteceu no ano passado.

Nascido Félix da Silva de Avelar (Loures – Santo Antão do Tojal/25.11.1744 – 04.08.1828/Lisboa), pela forte amizade que o ligava a Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento) e pelo ardor com que se dedicava à ciência tornou-se suspeito para o Santo Ofício e para fugir à polícia de Pina Manique, emigrou para Paris em 1778, com Filinto Elísio. Durante os 12 anos de permanência em Paris, fez os principais estudos de história natural e doutorou-se na Escola de Medicina de Reims, assim como adotou o apelido de Brotero, que significa amante dos mortais (pela junção do grego brothos com eros). Publicou o Compêndio Botânico (Compendio de Botanica ou Noçoens Elementares desta Sciencia, segundo os melhores Escritores modernos, expostas na língua Portugueza) em 1788, em Paris.

Regressou a Lisboa no ano de 1790, tendo sido logo nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, em 1791 e que manteve até 1807, acumulando com a direção do Jardim Botânico da Universidade e publicou Flora Lusitanica (1804). As invasões francesas alcançaram Coimbra em 1807 e Brotero veio refugiar-se em Lisboa e só lá voltou para ser jubiliado, o que sucedeu por Carta Régia de 27 de abril e Decreto de 16 de agosto de 1811. Passou então a dirigir o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda (o primeiro jardim botânico português e o 15.º da Europa, desenhado em 1768 por Domingos Vandelli por ordem de D. José I), reabilitando o Jardim Botânico e elaborando o seu catálogo. Da sua investigação, resultaram também as suas obras Phytographia Lusitaniae selectior – em 2 tomos- 1816 e 1827 – e a História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos (1827).

Em 1821, Félix Avelar Brotero foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura, tendo participado na discussão da lei dos cereais, onde exortou os agricultores a cultivarem centeio e trigo, para que fosse possível produzir pão para toda a população e a um preço acessível à bolsa de todos mas 4 meses depois pediu dispensa, pela idade avançada (77 anos) e foi-lhe concedida. Faleceu aos 83 anos de idade na sua casa, na Calçada do Galvão, em Alcolena, em Belém.

Brotero foi homenageado com a atribuição do seu nome a várias plantas, como é o caso da Brotera ovata e da Brotera trinervata e está também na toponímia de Coimbra, do seu concelho natal – em Loures, Santo António dos Cavaleiros e Santo Antão do Tojal-, da Amadora, do Barreiro, Carnaxide, Custóias, Mafra, Matosinhos, Montijo, Odivelas (em Ramada e em Caneças), do Porto, Santa Maria da Feira, Seixal e Setúbal.

Também os seus pares, perpetuando a sua memória e sua importância decisiva para o desenvolvimento da Botânica em Portugal fundaram em Coimbra, em 1880, a agremiação científica “Sociedade Broteriana”. O seu prestígio internacional de Brotero é confirmado pelas várias Sociedades e Academias a que pertenceu, entre outras, a Sociedade de Horticultura e a de Linnean, ambas de Londres, a Academia de História Natural e Filomática de Paris, a Sociedade Fisiográfica de Lunden na Suécia, a Sociedade de História Natural de Rostock e a Academia Cesarea de Bona (Alemanha). Em Portugal, pertenceu à Academia Real das Ciências de Lisboa.

O sucesso dos seus trabalhos de registo, inventariação e compilação de espécies botânicas, traduz na prática o enquadramento do novo espírito científico e filocientífico de oitocentos, bem como o prestígio crescente das ciências naturais que decorreu dos novos paradigmas do pensamento Iluminista.

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A criação da Avenida Miguel Torga, que com Régio esteve na «Presença»

Freguesia de Campolide

Alunos da mesma Universidade de Coimbra, Régio e Torga foram elementos participativos da revista Presença, fundada nessa cidade em 1927 pelo primeiro, sendo ambos os poetas também topónimos de Avenidas lisboetas.

Em torno da Presença desenvolveu-se a segunda geração do Modernismo português, com a pretensão de prosseguir os ideais modernistas iniciados pela revista Orpheu, sem compromisso com correntes políticas ou religiosas e por uma arte livre e original. Aliás, se pegarmos em poemas emblemáticos de Pessoa, Régio e Miguel Torga –  «Lisbon Revisited» de Álvaro de Campos, «Cântico Negro» de José Régio  e «Livro de Horas» de Miguel Torga – podemos notar o tema comum do olhar relativo sobre a existência, da poesia que opõe a consciência individual à submissão coletiva, da reflexão sobre a condição humana quer pela negação dos sistemas predeterminados quer pela constatação da liberdade de escolha.

A Avenida Miguel Torga, com a legenda «Escritor/1907 – 1995», pelo Edital municipal de 19 de junho de 1995, consagrou no próprio ano do falecimento do escritor, na toponímia de Lisboa e na Freguesia de Campolide, Adolfo Correia da Rocha que escolheu Miguel Torga como pseudónimo, no ano de 1934, em homenagem a Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno a que uniu torga, uma planta da montanha que sobrevive com as usas raízes cravadas na rocha.

Adolfo Coelho da Rocha (São Martinho da Anta, Sabrosa, Trás-os-Montes/12.08.1907 – 17.01.1995/Coimbra), filho de Francisco Correia da Rocha e Maria da Conceição de Barros, que se fixou em Coimbra com consultório médico mas que ficou mais na memória dos portugueses pelos livros que escreveu, estudou na Faculdade de Medicina de Coimbra a partir de 1928, o mesmo ano em que publicou o seu primeiro livro, de poesia, Ansiedade. No ano seguinte, começou a colaborar na Presença, com o poema «Altitudes» mas em 1930 rompeu com a revista modernista e assumiu uma posição independente.  Em 1932, com Branquinho da Fonseca, funda a revista Sinal, e com Albano Nogueira, o periódico Manifesto, em 1936.

A sua vasta obra, de mais de cinquenta livros ao longo de seis décadas, inclui títulos de que se destacam na poesia como Rampa (1930), Abismo (1931), O Outro Livro de Job (1936), Cântico do Homem (1950),  Orfeu Rebelde (1958), Poemas Ibéricos (1965),e na ficção Pão Ázimo (1931), as colectâneas Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), Novos Contos da Montanha (1944), o romance Vindima (1945), a  série de 5 volumes do romance autobiográfico A Criação do Mundo –  começada em 1937 – e os 16 volumes do seu Diário, cujo primeiro foi publicado em 1941, para além do teatro de Terra Firme (1941) e Mar (que acabou por refundir numa peça só) ou Sinfonia (1947) e O Paraíso (1949). Por isto, Miguel Torga foi agraciado, entre outros galardões, com o Prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Camões (1989) , o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e várias vezes foi o indicado para Prémio Nobel da Literatura.

Em 1917, com dez anos, no Porto, servia de porteiro e moço de recados numa casa apalaçada mas foi despedido um ano passado por constante insubmissão e foi então enviado para o Seminário de Lamego, onde estudou português, latim, geografia e história. Em 1920, com treze anos, emigrou para o Brasil para trabalhar na fazenda do tio, em Minas Gerais, mas passados quatro anos o tio coloca-o a estudar no Ginásio Leopoldinense, onde se distingue. Depois, o  o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal e a concluir os estudos liceais para vir a ser doutor em Coimbra, o que concretizou em 1933.

Como médico começou por exercer a profissão em terras transmontanas, em São Martinho da Anta, logo em 1933, para no ano seguinte se mudar para Vila Nova do concelho de Miranda do Corvo. Depois, já como otorrinolaringologista, vai estabelecer-se em Leiria, de 1939 a 1942, antes de se fixar em definitivo em Coimbra, com consultório no Largo da Portagem.

Na sua vida pessoal, casou-se com Andrée Crabbé em 27 de julho de 1940, que conhecera na casa de Vitorino Nemésio de Coimbra, de quem teve uma filha em 1955, Clara Rocha. Era  avesso à agitação e manteve-se sempre distante de movimentos políticos e literários, embora em 1979 tenha surgido a apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República.

O último poema de Torga publicado na Presença – Remendo – no nº 23, de dezembro de 1929                                                  (Imagem: © CER)

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com o apoio de 

O emissor do Porto Alto, a Casa da Moeda e a Avenida de António José de Almeida

A partir das 3H15, uma coluna de nove viaturas militares da EPE de Tancos segue para Lisboa, para ocupar a Casa da Moeda, onde chega cerca das 18 horas, depois de horas a defender o emissor do Rádio Clube Português no Porto Alto.

Cerca das 3:15 do dia 25 de abril de 1974 uma coluna motorizada da EPE- Escola Prática de Engenharia saiu de Tancos com destino a Lisboa e a intenção de ocupar a Casa da Moeda. Contudo, cerca das 8:50, estacionou no centro emissor de Onda Média de 120 kw do Rádio Clube Português, no Porto Alto, para reforçar a sua defesa, pelo que só por volta das 18 horas ocupou a Casa da Moeda, na Avenida de António José de Almeida nº 42.

As Companhias de Caçadores 4241 e 4246 do Campo de Instrução Militar de Santa Margarida encontraram-se na Ponte da Golegã com a coluna da Escola Prática de Engenharia de Tancos e entregaram-lhe munições. A 4246 seguiu para a Ponte de Vila Franca de Xira e as outras duas, comandadas pelo capitão miliciano Luís Pessoa, acorreram a defender as instalações do Porto Alto, onde estavam as antenas do Rádio Clube Português, garantindo assim a transmissão. Às 8 horas da manhã, o governo do Estado Novo ainda  ordenou o corte de energia elétrica e dos telefones ao Rádio Clube Português, tanto nos estúdios da Rua Sampaio Pina como nas antenas do Porto Alto, situação que só foi normalizada às 19:00 horas e assim entraram em funcionamento geradores automáticos que asseguraram a emissão e a EPE permaneceu mais tempo no local e apenas às 18 horas ocupou a Casa da Moeda -Imprensa Nacional.

Desde 1972 que a Casa da Moeda havia tido uma fusão com a Imprensa Nacional sendo em 25 de abril de 1974 a INCM – Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Cerca de 30 anos antes,  sob o traçado de 1933 do Arqº Jorge Segurado, abriu em 1941 a nova sede da Casa da Moeda na Avenida de António José de Almeida, oriunda da Rua de São Paulo, onde estava desde 1720 estando essa memória guardada no local através do Beco e da Rua da Moeda.

Já a Avenida de António José de Almeida nasceu do Edital municipal de 18 de julho de 1933. Quatro anos mais tarde,  em 31 de dezembro de 1937, foi inaugurada nesta artéria uma estátua a homenagear este Presidente da República, da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do Arqº Pardal Monteiro. E quatro anos depois abriu a Casa da Moeda.

Cerca de quinze dias após o falecimento de António José de Almeida determinou a edilidade, através do Edital de 12/11/1929 que a  a Avenida 12 do Novo Bairro no seguimento da Avenida Almirante Reis (hoje, Avenida Guerra Junqueiro) se denominasse Avenida Dr. António José de Almeida. Mas em 1933, a autarquia mudou o topónimo para o prolongamento da Avenida Miguel Bombarda, entre a Avenida dos Defensores de Chaves e a Avenida de Manuel da Maia, onde ainda hoje a encontramos.

António José de Almeida (Penacova – Vale da Vinha/27.07.1866 – 31.10.1929/Lisboa), formado em 1895 em Medicina pela Universidade de Coimbra, aderiu logo nessa época ao Partido Republicano e ao longo da sua vida exerceu medicina em Angola, São Tomé e Príncipe e Lisboa. Fez a sua vida como político: deputado pelo círculo oriental de Lisboa (1906); Ministro do Interior do Governo Provisório (1910-1911), fundou o Partido Republicano Evolucionista (24 de fevereiro de 1912); defendeu a participação de Portugal na Guerra logo em 1914; foi Chefe do Governo da União Sagrada e Ministro das Colónias (1916-1917); foi o único Presidente da I República a cumprir integralmente o seu mandato, de 1919 a 1923. Refira-se ainda que António José de Almeida proferiu um discurso no funeral de Rafael Bordalo Pinheiro (1905), e postumamente, em 1934, foram coligidos os seus principais artigos e discursos e publicados em 3 volumes sob o título Quarenta anos de vida literária e política.

A Casa da Moeda na Avenida de António José de Almeida, nos anos 50 do séc. XX
(Foto: António Passaporte, Arquivo Municipal de Lisboa)

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Rua Alberto MacBride

Olisipo nº 62, abril de 1953

 

Rua Alberto MacBride, topónimo atribuído por Edital de 20 de Janeiro de 1998 a um arruamento da freguesia dos Olivais

Alberto Mac-Bride Fernandes (1886-1953), médico, escritor, coleccionador e olisipógrafo. Formou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1909) começando a sua carreira hospitalar com o pediatra Salazar de Sousa, no Hospital de São José, mas optou por seguir cirurgia, desenvolvendo uma notável carreira como cirurgião hospitalar ao longo dos 40 anos em que permaneceu neste Hospital, chegando a Director do Banco e Director do Serviço de Cirurgia dos Hospitais Civis de Lisboa. Durante a I Grande Guerra Mundial, serviu como cirurgião militar em diversos hospitais da frente de batalha. Ao mesmo tempo, sempre que pode, participa em diversos encontros médicos em França, com outros colegas de diversas nacionalidades, aprofundando a sua formação. No entanto, o seu interesse pela Medicina era bem mais vasto do que uma única especialidade. Debruçou-se sobre a organização hospitalar, apresentando ao Governo várias propostas nesse sentido, e reformando os serviços hospitalares de S. José incluindo os de Laboratório, de Enfermagem e os Serviços de Apoio (por exemplo, as cozinhas e as farmácias hospitalares). Pugnou pela reabertura do Regime de Internato Médico que permitia aos estudantes de Medicina um contacto mais directo com a prática hospitalar. Propôs uma profunda alteração na rede hospitalar da cidade, com o encerramento dos Hospitais de Arroios e Desterro, e sugerindo a criação de 3 grandes hospitais (Norte, Ocidental e Oriental), numa antevisão daquilo a que hoje a cidade assiste. E dedicou-se à história da Medicina, quer como investigador, quer fazendo conferências, quer ainda como coleccionador de objetos ligados ao passado da Medicina (pintura, utensílios, livros). A partir desta sua colecção, um ano após a sua morte, foi realizada uma exposição no Hospital de Santa Marta, sobre História da Medicina. O êxito da exposição levou a que fosse criado o Museu de História dos Hospitais Civis de Lisboa – Dr. Alberto Mac-Bride, o qual funcionou entre 1957 e os anos 70 do século XX, procurando corresponder ao seu desejo de criar um museu dedicado à história da Medicina, ideia à qual se dedicara desde 1911. Dirigiu a Associação dos Médicos Portugueses, antecessora da Ordem dos Médicos e presidiu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. Foi autor de largas dezenas de artigos médicos em publicações periódicas da especialidade e redactor e secretário da Medicina Contemporânea.

Para além da sua actividade médica Alberto Mac-Bride foi sócio fundador da Associação dos Arqueólogos Portugueses, quando esta instituição se reestruturou em 1911. Participou na fundação da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, em 1923, organismo criado para dar apoio aos militares vítimas da guerra e suas famílias, da qual chegou a ser presidente. Fez parte do Grupo Pró-Évora (fundado em 1919), onde incentivou a criação de um curso para cicerones. Em 1938, foi sócio fundador do Grupo Amigos de Lisboa. Em 1938, em conjunto com Gustavo de Matos Sequeira assinou um relatório sobre a reabilitação do Castelo de S. Jorge. Na década de 30 veio a público referir-se ao estado da higiene em Lisboa, procurando fazer um levantamento das condições das habitações particulares (escuras, sem esgotos centrais e sem água canalizada) e das infraestruturas municipais (deficiente rede de esgotos, ausência de jardins e balneários públicos). Mas a sua iniciativa mais interessante terá sido o inovador Bosque de Lisboa. O seu interesse pela qualidade de vida da cidade de Lisboa leva-o a estudar e a apresentar, em conjunto com seu irmão Eugénio (também ele médico), e com o General Vicente de Freitas (que viria a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1928 a 1933), em 1925, uma proposta para a criação de um grande parque arbóreo na cidade. O projecto incluía ainda novas e amplas vias de comunicação, áreas de lazer, e procurava estruturar os novos bairros a serem desenvolvidos. Estender-se-ia desde a Serra de Monsanto, à época, sem arborização, até Benfica, Carnide, Telheiras e Campo Grande, e seria servido por uma ampla rede de vias de forma a permitir que o lisboeta pudesse dele usufruir. A ideia deste parque, tendo em vista melhores condições sanitárias, será retomada numa dimensão menor com a gestão de Duarte Pacheco e a florestação de Monsanto, dotando a cidade de um pulmão verde.

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Rua Dr. Eduardo Neves

Olisipo nº 136, janeiro-dezembro de 1973

Rua Dr. Eduardo Neves, topónimo atribuído por Edital de 28 de Agosto de 1973 a um arruamento da freguesia das Avenidas Novas

Eduardo Augusto da Silva Neves (1895-1973), médico, coleccionador, numismata e olisipógrafo. Colaborou no Olisipo: boletim do Grupo Amigos de Lisboa, no Jornal da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, na Feira da Ladra: Revista Mensal Ilustrada, entre outras publicações. Licenciou-se em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1920. Durante o curso foi Presidente da Associação de Estudantes de Medicina, e seu representante na Assembleia Geral da Universidade. Durante a sua presidência da associação, criou uma biblioteca para os estudantes e promoveu diversas iniciativas sociais cujos lucros revertiam para instituições de assistência. Fez os Cursos das Especialidades de Medicina Legal e de Higiene Pública. No início da sua carreira foi assistente do Professor Azevedo Neves na cadeira de Medicina Legal, mas a sua carreira clínica desenvolveu-se na assistência médica na Santa Casa da Misericórdia, na Associação dos Empregados do Comércio e no Albergue dos Inválidos do Trabalho. Pertenceu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, do qual foi tesoureiro.

Foi um coleccionador apaixonado de medalhas tema que sempre procurava desenvolver nas inúmeras conferências que proferiu, mesmo nas que não eram específicas sobre a numismática. Foi sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses, na sua secção de Numismática. Igualmente se dedicou ao coleccionismo e estudo de ex-libris, pertencendo à Academia Portuguesa de Ex-Libris, fundada em 1955. A sua colecção, que incluía ainda peças de arte, estava reunida na quinta da Eira, em Ferreira do Zêzere, e por diversas vezes a disponibilizou para exposições.

Em 1936 integra o Grupo Amigos de Lisboa como sócio fundador, participando activamente na vida desta instituição, sendo o seu primeiro Tesoureiro. Desempenhou os cargos de Vogal, de Secretário Geral, dirigiu a Secção de Movimento Cultural e de Propaganda e à data da sua morte era Presidente da Junta Directiva do Grupo. No vigésimo ano do Grupo lançou a campanha 20 Anos-20 Sócios-20 Escudos, que se destinava a recolher fundos para a renovação da Biblioteca e Arquivo do GAL, iniciativa a que aderiram dezenas de associados, enriquecendo o seu fundo sempre disponível para o público em geral. Foi no âmbito dos Amigos de Lisboa, que Eduardo Neves se revelou olisipógrafo, proferindo conferências, conduzindo visitas e colaborando no Boletim Olisipo desde o número 2 e até ao final da vida, assinando dezenas de artigos. Editou através do GAL diversas monografias, entre as quais se salientam, Igreja de Nossa Senhora da Penha de França: apontamentos para uma monografia (1938), A Faculdade de Medicina de Lisboa: apontamentos sobre o edifício e o local (1939), Lisboa nos Ex-libris (1943), Do sítio do Intendente (1950), Lisboa na Índia e luso-indianos em Lisboa (1954), Um arcebispo-primaz natural de Lisboa (1956) e Uma recordação sebástica no Sítio da Luz: uma pedra-de-armas, um testamento e um poema (1958).

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Retalhos da vida de Fernando Namora numa Rua de Telheiras

Freguesias de Carnide e do Lumiar
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O escritor e médico Fernando Namora, autor de Retalhos da Vida de um Médico, logo no ano seguinte ao seu falecimento passou a ser o topónimo da até aí identificada como Rua A do estudo de urbanização da Quinta de Santo António a Telheiras, ficando a ligar a Rua Prof. Francisco Gentil à Rua do Seminário desde a publicação do Edital Municipal de 17 de julho de 1990.

Capa da revista Ilustração de 22 de dezembro de 1975

Fernando Gonçalves Namora (Condeixa/15.04.1919 – 31.01.1989/Lisboa) foi um médico que se construiu também como escritor. Começou a sua carreira literária a solo com poesia –  Relevos (1937) onde se notam a influência do grupo da Presença – e o seu terceiro livro de poesia, Terra, iniciou em 1941 a colecção Novo Cancioneiro, uma iniciativa neorrealista nascida nas tertúlias coimbrãs de José João Cochofel. Contudo, o seu primeiro prémio – o Prémio Almeida Garrett – obteve-o com o romance As Sete Partidas do Mundo (1938). São também obra sua que aqui destacamos Fogo na Noite Escura (1943), Casa da Malta (1945),  As Minas de S. Francisco (1946), Retalhos da Vida de um Médico (1949-1963),  A Noite e a Madrugada (1950), Deuses e demónios da medicina (1952) que foi Prémio Ricardo Malheiros, O Trigo e o Joio (1954), Domingo à Tarde (1961) que foi Prémio José Lins do Rego e sobretudo, Rio Triste (1982) que foi galardoado com o Prémio Fernando Chinaglia, o Prémio Fialho de Almeida e o Prémio D. Dinis.

Refira-se que várias da suas obras passaram às telas cinematográficas. Retalhos da Vida de um Médico realizado por Jorge Brum do Canto (1962) foi mesmo selecionado para o Festival de Berlim e foi adaptado para série televisiva (1979-1980) por Artur Ramos e Jaime Silva. Manuel Guimarães, com Manuel da Fonseca levou o Trigo e o Joio para um filme (1965), no mesmo ano em que António Macedo realizou Domingo à Tarde, selecionado para o festival de Veneza. Artur Ramos  voltou a pegar neste escritor em A Noite e a Madrugada (1985) e no ano seguinte, com adaptação de Dinis Machado para televisão, em Resposta a Matilde. Vítor Silva também fez a curta metragem O Rapaz do Tambor (1990).

Como médico,  Fernando Namora exerceu na sua terra natal, na Beira Baixa (na aldeia de Monsanto permaneceu entre outubro de 1944 e outubro de 1946) e no Alentejo, até se fixar em Lisboa, no Instituto Português de Oncologia. Ao longo da sua vida também foi ensaísta de temáticas diversas e pintou, tendo mesmo em 1938 alcançado o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves.

Fernando Namora foi condecorado com a Medalha de Ouro da Societé d’Encouragement au Progrés (1979) e com a Grã Cruz da Ordem do Infante (1988). Em 1981, foi proposto para o Prémio Nobel da Literatura, pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo PEN Clube.

O nome deste escritor integra também a toponímia de Condeixa-a-Nova, Abrantes, Albufeira, Alcabideche, Alhos Vedros, Almada (Caparica, Charneca da Caparica ), Alverca do Ribatejo, Amadora, Baixa da Banheira, Barreiro (Santo António da Charneca, Barreiro), Beja, Borba, Braga, Bragança, Loures ( Bobadela, Camarate), Castelo Branco, Coimbra, Estoril, Évora, Fafe (Fafe, Regadas ),  Faro, Ferreira do Alentejo ( Canhestros, Figueira dos Cavaleiros ), Gondomar ( Rio Tinto, São Cosme), Idanha-a-Nova, Lagos, Loulé, Loures (Loures, Prior Velho, Santa Iria de Azóia, São João da Talha, São Julião do Tojal  ), Lousã, Maia ( Pedrouços, Vermoim), Mangualde, Marvão, Massamá, Moita,  Montemor-o-Novo, Odivelas ( Odivelas, Famões, Póvoa de Santo Adrião, Ramada), Oeiras, Ovar, de Palmela, Pavia, Póvoa de Santa Iria, São Domingos de Rana, Santa Maria da Feira ( Arrifana, Fiães ), Seixal (na Amora, Arrentela, Corroios ), Sabugal, Salvaterra de Magos, Sesimbra (Quinta do Conde,Sesimbra),  Setúbal, Torres Vedras, Trofa (São Mamede Coronado), Valongo, Vila Franca de Xira, de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Gaia (Arcozelo, Vila Nova de Gaia).

Freguesias de Carnide e do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: António Marques, 1998, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações é uma herança toponímica da Expo 98, que pelo Edital municipal de 16 de setembro de 2009 se viu acrescido de «ao Parque das Nações», para evitar equívocos com a Rua Garcia de Orta que desde 1911 existe na freguesia da Estrela (antes, Santos-o-Velho).

Estátua de Garcia de Orta, da autoria de Martins Correia, no IHMT desde 1958
(Foto: 1969, António da Silva Fernandes Duarte, Arquivo Municipal de Lisboa)

Junto ao Passeio das Tágides, o Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações evoca o médico e naturalista que nasceu em Castelo de Vide por volta do ano de 1500 e morreu em Goa em 1568, filho de pais de ascendência judaica, que estudou Artes, Filosofia e Medicina nas Universidades de Salamanca e Alcalá. Regressado a Portugal em 1525, foi médico de D. João III e obteve a cátedra de Filosofia Natural da Universidade de Lisboa em 1530. Todavia, por temer a Inquisição, partiu para a Índia em 1534 e aí se dedicou ao estudo de plantas raras desconhecidas na Europa, publicando em Goa em 1563, o Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia e Frutas nela Achadas, com a particularidade de nele incluir a primeira poesia impressa de Camões.

Este jardim integra 5 talhões com floras representativas de 5 locais diferentes: o de África, com vegetação representativa do deserto de Moçâmedes ( Angola) e da ilha de Inhaca (Moçambique); o da Macaronésia, com flora da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde; o de S. Tomé e do Brasil, com uma estrutura que ajuda a reproduzir o ambiente das plantas tropicais; o de Goa, baseado nos registos de Garcia de Orta; e o de Coloane que representa a vegetação da China meridional.

Cerca de doze anos após a morte de Garcia de Orta, em 1580, como era uso fazer-se aos judeus que tinham escapado com vida às malhas da Inquisição, foram desenterrados os seus ossos e queimados. Por outro lado, foi criado em Castelo de Vide, o Centro de Estudos Luso-Hebraicos Garcia d’ Orta (1988), o seu nome foi dado ao Hospital de Almada (1991), é o nome de uma Escola no Porto e é também topónimo um pouco por todo o país, como acontece em Abrantes, Albufeira, Almada, Amadora, Baixa da Banheira, Braga, Cabanas de Tavira, Caneças, Casal de Cambra, Corroios, Elvas, Ermesinde, Estoril, Lagos, Linda-a-Velha, Montijo, Odivelas, Oeiras, Portimão, Porto, Quinta do Conde (Sesimbra), Rio de Mouro, Rio Tinto, Seixal, Senhora da Hora (Matosinhos), Vale da Amoreira (Moita), Valongo, Vila do Conde ou Vila Nova de Gaia.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jardim Ferreira de Mira, o médico do Instituto Rocha Cabral

Freguesia de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Médico fisiologista da Faculdade de Medicina de Lisboa e historiador da medicina portuguesa, que a partir de 1922 fundou e dirigiu o Instituto Rocha Cabral, Ferreira de Mira dá o seu nome a um jardim lisboeta de Benfica, próximo do Hospital da Luz, 63 anos após o seu falecimento, através da deliberação camarária de 26 de outubro de 2016 e consequente Edital de 10 de novembro, a partir da sugestão do Prof. José Pedro Sousa Dias enquanto membro da Comissão Municipal de Toponímia em representação da Universidade de Lisboa.

Em 1926 na Ilustração Portuguesa

Mathias Boleto Ferreira de Mira (Montijo – Canha/21.02.1875 – 07.03.1953/Lisboa), formado na  Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1898 e discípulo de Mark Athias, foi um médico e professor universitário que também fundou e dirigiu o Instituto Bento da Rocha Cabral a partir de 1922. Começou por exercer medicina no Hospital da Misericórdia da vila de Canha, mas veio viver para Lisboa em 1910 e dois anos depois era já  professor de Fisiologia, na então nova Faculdade de Medicina de Lisboa, a que mais tarde somou a regência da cadeira de Química.

Como investigador científico, Ferreira de Mira teve a oportunidade de fundar e dirigir a partir de 1922 um Instituto de Investigação na área das Ciências Biológicas, com o nome de um transmontano que no Brasil ficou multimilionário –  Bento da Rocha Cabral (1847-1921)- e que  no seu testamento deixou as verbas necessárias para o efeito com a indicação de quem o devia dirigir. O Instituto de Investigação Científica de Bento da Rocha Cabral ficou instalado na casa adquirida e reconstruída em 1902 pelo benemérito e que até aí lhe servira de morada em Lisboa, no nº 14 da Calçada Bento Rocha Cabral – assim denominada desde 1924 já que antes era a Calçada da Fábrica da Louça – e começou a realizar investigação a partir de 1925 com quatro investigadores: o próprio Matias Boleto Ferreira de Mira, o seu filho Manuel Ferreira de Mira (falecido em 1929), Luís Simões Raposo – na toponímia da freguesia do Lumiar desde 25/10/1989- e Fausto Lopo de Carvalho- na toponímia da freguesia de Marvila desde  04/11/1970-, que na década seguinte conseguiu dominar a tuberculose em Portugal. Foi este Instituto que acolheu as primeiras investigações com animais que permitiram a Egas Moniz a descoberta da angiografia e o desenvolvimento da angiopneumografia em conjunto com Almeida Lima e Lopo de Carvalho. Também aqui trabalho como investigadora a  primeira portuguesa doutorada em ciências biológicas, a fitopatologista Matilde Bensaúde.

Matias Ferreira de Mira foi também um membro dirigente da Sociedade Portuguesa de Biologia e, sobretudo nos jornais e revistas Luta de Brito Camacho, Diário de Notícias e Seara Nova, escreveu dezenas de artigos de vulgarização científica, na área da biologia e de outras ciências, assim como redigiu livros didáticos como Lições de Químico-Fisiologia elementar, Exercícios de Química Fisiológica (com Mark Athias) ou Manual de Química Fisiológica. Também deu dezenas de conferências sobre temas científicos e foi o autor da  História da Medicina Portuguesa (1947) e de biografias como a de Brito Camacho (1942), com Aquilino Ribeiro.

Ferreira de Mira foi também um cidadão empenhado na política tendo sido vereador da Câmara Municipal de Lisboa, com o pelouro da Instrução Primária, a partir de 1912, assim como foi  deputado da Primeira República, de 1922 a 1925, por Santarém, eleito com António Tavares Ferreira, Ginestal Machado e João Teixeira de Queiroz Vaz Guedes.

Matias Ferreira de Mira está também presente na toponímia da Charneca da Caparica.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Brotero do jardim Botânico da Ajuda, várias vezes na toponímia de Lisboa

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Félix de Avelar Brotero, médico que preferiu dedicar-se à botânica e assim dirigiu o Jardim Botânico da Ajuda, começou por ter Rua em Lisboa na freguesia de Alcântara no final do séc. XIX e em 1916, também passou a dar nome a uma artéria da Ajuda e depois, foi também o nome do Jardim do Alto de Santo Amaro em Alcântara.

Por deliberação camarária de 8 de julho de 1892 passou a existir em Alcântara,  na Rua 6 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro, a Rua Avelar Brotero. Já no séc. XX, o Edital municipal de 26 de setembro de 1916, alterou o topónimo Rua da Paz para Rua Brotero, considerando a localização desta entre o Largo da Paz e o Jardim Botânico que Brotero dirigira. Nos anos 80 do séc. XX, perante a manifesta escassez de novos arruamentos na cidade, a edilidade alterou pelo Edital de 7 de setembro de 1987 a Rua Avelar Brotero para Rua Pedro Calmon, passando a existir apenas uma rua dedica a Brotero em Lisboa, a da Ajuda, à qual em 1992 foi aditada a legenda «Félix de Avelar Brotero / Médico e Botânico/1744 – 1828», a partir da sugestão de um munícipe para se identificar  convenientemente o antropónimo.

Ainda em Alcântara, no início do séc. XX, o Jardim do Alto de Santo Amaro, sito na Rua Filinto Elísio- que antes de 8 de julho de 1892 era a Rua 2 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro-, foi denominado Jardim Avelar Brotero mas tal resolução nunca tornou oficial o topónimo do Jardim. A CML aumentou o número de bancos deste espaço verde nos anos 50, a pedido dos moradores da zona e a última remodelação do Jardim aconteceu no ano passado.

Freguesia da Ajuda – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Nascido Félix da Silva de Avelar (Loures – Santo Antão do Tojal/25.11.1744 – 04.08.1828/Lisboa), pela forte amizade que o ligava a Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento) e pelo ardor com que se dedicava à ciência tornou-se suspeito para o Santo Ofício e para fugir à polícia de Pina Manique, emigrou para Paris em 1778, com Filinto Elísio. Durante os 12 anos de permanência em Paris, fez os principais estudos de história natural e doutorou-se na Escola de Medicina de Reims, assim como adotou o apelido de Brotero, que significa amante dos mortais (pela junção do grego brothos com eros). Publicou o Compêndio Botânico em 1788, em Paris.

Regressou a Lisboa no ano de 1790, tendo sido logo nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, em 1791 e que manteve até 1807, acumulando com a direção do Jardim Botânico da Universidade e publicou Flora Lusitanica (1804). As invasões francesas alcançaram Coimbra em 1807 e Brotero veio refugiar-se em Lisboa e só lá voltou para ser jubiliado, o que sucedeu por Carta Régia de 27 de abril e Decreto de 16 de agosto de 1811. Passou então a dirigir o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, reabilitando o Jardim Botânico e elaborando o seu catálogo. Da sua investigação, resultaram também as suas obras Phytographia Lusitaniae selectior – em 2 tomos- 1816 e 1827 – e a História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos (1827).

Em 1821, Félix Avelar Brotero foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura, tendo participado  na discussão da lei dos cereais, onde exortou os agricultores a cultivarem centeio e trigo, para que fosse possível produzir pão para toda a população e a um preço acessível à bolsa de todos mas 4 meses depois pediu dispensa, pela idade avançada (77 anos) e foi-lhe concedida. Faleceu aos 83 anos de idade na sua casa, na Calçada do Galvão, em Alcolena, em Belém.

Brotero foi homenageado com a atribuição do seu nome a várias plantas, como é o caso da Brotera ovata e da Brotera trinervata e está também na toponímia de Coimbra, do seu concelho natal – em Loures, Santo António dos Cavaleiros e Santo Antão do Tojal-, da Amadora, do Barreiro, Carnaxide, Custóias, Mafra, Matosinhos, Montijo, Odivelas (em Ramada e em Caneças), do Porto, Santa Maria da Feira, Seixal e Setúbal.

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Francisco Cortês Pinto, do Laboratório Sanitas e da AIP

Freguesia de Carnide
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Por sugestão da Lispolis, os arruamentos do Pólo Tecnológico de Lisboa receberam nomes de industriais, banqueiros e investigadores, sendo assim que a Rua G do Pólo Tecnológico de Lisboa foi denominada Rua Francisco Cortês Pinto, com a legenda «Industrial/1885 – 1974», pelo Edital municipal de 24 de setembro de 2009, para homenagear o fundador do Laboratório Sanitas e Presidente da AIP.

Pelo mesmo Edital, assim também como pelo Edital municipal de 02/10/2009, a edilidade colocou nas restantes Ruas do local os nomes dos industriais António Champalimaud (Rua A) e Carlos Alves (Rua I),  do banqueiro Cupertino de Miranda (Ruas C e D), do  precursor das modernas teorias de economia e finanças Carlos Morato Roma (Rua J ) e das médicas Cesina Adães Bermudes (Ruas E e F) e Laura Ayres (Rua H).

Francisco Cortez Pinto (Leiria/12.02.1885 – 30.07.1974/Lisboa) foi um major médico de carreira, que teve consultório no nº 24 da Rua Dom João V e que em 1911 fundou, com o farmacêutico Horácio Pimentel,  a firma Cortês Pinto Pimentel, Lda., a proprietária do Laboratório Sanitas que sempre teve sede em Lisboa e se tornou uma importante indústria de produtos farmacêuticos.  Nesta área, a partir de 1939, foi também o 1º Presidente da Direção do Grémio Nacional dos Industriais de Especialidades Farmacêuticas.

Como industrial, Cortez Pinto exerceu cargos dirigentes em empresas dos setores metalúrgico, elétrico, do papel, do mobiliário metálico, da banca e dos seguros tendo também até aos seus 89 anos de vida desempenhado vários funções na direção da AIP  – a Associação Industrial Portuguesa cujos primeiros estatutos datam de 1837 – a partir do triénio de 1924- 1926, tendo sido Presidente da AIP no período de 1941 a 1960, qualidade em que logo no primeiro mandato a AIP adquiriu uma nova sede na Avenida da Liberdade. Em 1949, recuperou os pavilhões da Exposição do Mundo Português e transformou-os na FIP – Feira das Indústrias Portuguesas, a antecessora da Feira Internacional de Lisboa de 1957 , construída de raiz na Junqueira segundo o traço dos arqºs  Francisco Keil do Amaral, Alberto José Pessoa e Hernâni Gandra, de que mais tarde será Presidente.

Acresce que Francisco Cortez Pinto, licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra, chefiou o Laboratório de Bacteriologia e Análises do Hospital Militar da Estrela, assim como os serviços de saúde da coluna enviada a Cassinga e Evale (1915-1916),  tal como foi diretor do Hospital-Ambulância de Fauquembergues e dos serviços de saúde do Batalhão de Infantaria 24, ambos na  Flandres (1917).

Refira-se ainda que este leiriense foi membro do Rotary Club of Lisbon e doou à sua cidade-natal no 4º Centenário de Elevação a cidade (1945) o grupo escultórico A caminho da feira de Anjos Teixeira , tendo sido distinguido  em 5 de outubro de 1932 com o grau de Comendador da Ordem do Mérito (Classe do Mérito Industrial), bem como em 1975, a título póstumo,  foi condecorado pelo governo polaco pelo seu apoio aos judeus  polacos perseguidos pelo nazismo ao disponibilizar uma casa-refúgio em Caxias.

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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