Da Travessa do Pintor à Rua do Hospital de Dona Estefânia de 1871

Planta de 1879, do Engº Ressano Garcia, com a Rua do Hospital de Dona Estefânia
(Imagem: © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

A  edilidade lisboeta após proceder a melhoramentos na Travessa do Pintor, que a levaram a considerar essa «uma das melhores servidões de Lisboa», solicitou ao Governo Civil de Lisboa que lhe alterasse a denominação para Rua do Hospital de Dona Estefânia, o que sucedeu pelo Edital do Governo Civil de 25 de novembro de 1871, considerando a proximidade ao primeiro Hospital construído de raiz em Lisboa, especificamente para esse fim.

Em memória da rainha Dona Estefânia o rei Dom Pedro V iniciou a construção do Hospital da Bemposta em 1860 mas como faleceu no ano seguinte foi o seu irmão, o rei Dom Luís I, que assegurou a continuidade da obra e a inauguração do Hospital a 17 de julho de 1877, dia da morte de Dona Estefânia, vítima de angina diftérica. Este Hospital foi erguido na quinta do paço real da Bemposta, chamada Quinta Velha, então nos arredores da cidade.

A rainha Estefânia Frederica Guilhermina Antónia (Alemanha/1837 – 1859/Lisboa), que se casara com D. Pedro V em 1858, desejou muito fazer erguer um hospital para crianças, após ter ficado impressionada numa visita ao Hospital de São José, num período de epidemias de cólera e febre amarela, com a junção de adultos e crianças nas mesmas enfermarias. Dona Estefânia ofereceu o seu dote de casamento para que fosse criada uma enfermaria apenas pediátrica. O rei português pediu ajuda a diversas casas reais europeias  para cumprir esse desejo de criar em Lisboa um hospital pediátrico moderno e o traçado escolhido foi o desenhado por Humbert, arquiteto da casa real inglesa, numa decisão da comissão a que o rei presidia e constituíra com Bernardino António Gomes (médico real, lente da Escola Médico-Cirúrgica e presidente da Sociedade de Ciências Médicas), os médicos Barral, Kessler e Simas, o Conde da Ponte ( vedor da casa real portuguesa) e o militar e matemático Filipe Folque .

Em 1879, dois anos após a inauguração do Hospital de Dona Estefânia, a Câmara Municipal de Lisboa presidida por Rosa Araújo entendeu que a Rua do Hospital de Dona Estefânia com todo o seu prolongamento até às Portas da Cidade seria um único arruamento com o topónimo Rua de Dona Estefânia, conforme Edital municipal de 22 de agosto de 1879.

Mais tarde, também em Arroios,  por proximidade à Rua, foi atribuído o Largo de Dona Estefânia, através do Edital municipal de 19 de abril de 1893.

O Hospital de Dona Estefânia
(Foto: Ferreira da Cunha, sem data © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

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José Régio e o Sanatório da Alameda das Linhas de Torres Vedras

Em 1961
(Foto: Artur João Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa)

Em novembro de 1966 José Régio ficou internado em Lisboa no antigo Sanatório do Lumiar, na Alameda das Linhas de Torres, diagnosticado com uma afeção pulmonar. Aí permaneceu cerca de quatro meses tendo regressado a Vila do Conde em março de 1967.

Esse tempo de internamento, conforme relatou em carta a Adolfo Casais Monteiro, em 11 de Julho de 1968, virou-o mais para o desenho do que para a escrita: « Durante esses meses, quase não consegui escrever nada. […] Quando digo que nada, então me vinha para o papel não estou a ser exacto: vinham-me desenhos, a que chamava então os meus poemas. »

Sito na então Alameda do Lumiar, o Sanatório do Lumiar ou Hospital de Repouso de Lisboa foi inaugurado em fevereiro de 1910, no espaço de uma quinta, recebendo a denominação D. Carlos I. Em 1926, o Sanatório Popular D. Carlos I tinha 64 camas. Nele trabalhou muitos anos o médico e escritor Prista Monteiro. Em 1932, a  lotação aumentou para 182 camas, com o acrescento de dois pavilhões, um financiado pelo casal Lambert de Morais e outro graças a um grupo de senhoras que promoveu festas e peditórios para conseguir o montante necessário. Em 1975, o então denominado Centro Sanatorial do Lumiar passou pelo Decreto-Lei 260/75 a ser o Hospital  Central de Pulido Valente e e hoje está integrado no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.

Por deliberação camarária de 3 de agosto e consequente Edital municipal de 7 de agosto de 1911,  a Alameda do Lumiar passou a denominar-se Alameda das Linhas de Torres, no âmbito do centenário das  Linhas de Torres Vedras, construídas em 1810, para defender militarmente Lisboa das invasões francesas.

Esta artéria de saída de Lisboa para norte, fazia a  ligação com a Estrada para Torres Vedras pelo que foi a escolha para homenagear os combatentes das Linhas de Torres Vedras e, tanto mais que o mesmo Edital de 1911 também homenageou Neves Costa, engenheiro militar que participou no estudo dessas mesmas Linhas militares.

As Linhas de Torres Vedras ou simplesmente Linhas de Torres  integram o conjunto de fortificações da península de Lisboa que no contexto da Guerra Peninsular foram concebidas para impedir um exército invasor de atingir a capital ou, em caso de derrota, permitir a retirada, em segurança, do Exército Britânico.

A ordem para a sua construção foi dada em outubro de 1809,  por Arthur Wellesley, então comandante do exército anglo-luso e o oficial do exército de Wellington responsável pelos trabalhos de engenharia era o Coronel Richard Fletcher. Já em 1807, Junot encarregara o coronel de engenharia Vincent de estudar a defesa de Lisboa e, na execução dessa tarefa esteve o major de engenharia José Maria das Neves Costa e,  após a expulsão das tropas francesas foram feitas diligências pelas autoridades portuguesas no sentido de fazer o levantamento topográfico que servisse de base aos trabalhos da defesa de Lisboa, comissão em que esteve novamente Neves Costa, que já em 1801 publicara Observações sobre o plano de ataque e defesa do reino de Portugal em relação à sua Geografia e topografia.

Na Terceira Invasão Francesa foram as Linhas de Torres Vedras que impediram o exército de Massena de atingir Lisboa e acabaram por provocar a sua retirada de Portugal.

Desenho de José Régio realizado no decorrer do internamento
(Imagem: © CER)

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com o apoio de 

Rua Alberto MacBride

Olisipo nº 62, abril de 1953

 

Rua Alberto MacBride, topónimo atribuído por Edital de 20 de Janeiro de 1998 a um arruamento da freguesia dos Olivais

Alberto Mac-Bride Fernandes (1886-1953), médico, escritor, coleccionador e olisipógrafo. Formou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1909) começando a sua carreira hospitalar com o pediatra Salazar de Sousa, no Hospital de São José, mas optou por seguir cirurgia, desenvolvendo uma notável carreira como cirurgião hospitalar ao longo dos 40 anos em que permaneceu neste Hospital, chegando a Director do Banco e Director do Serviço de Cirurgia dos Hospitais Civis de Lisboa. Durante a I Grande Guerra Mundial, serviu como cirurgião militar em diversos hospitais da frente de batalha. Ao mesmo tempo, sempre que pode, participa em diversos encontros médicos em França, com outros colegas de diversas nacionalidades, aprofundando a sua formação. No entanto, o seu interesse pela Medicina era bem mais vasto do que uma única especialidade. Debruçou-se sobre a organização hospitalar, apresentando ao Governo várias propostas nesse sentido, e reformando os serviços hospitalares de S. José incluindo os de Laboratório, de Enfermagem e os Serviços de Apoio (por exemplo, as cozinhas e as farmácias hospitalares). Pugnou pela reabertura do Regime de Internato Médico que permitia aos estudantes de Medicina um contacto mais directo com a prática hospitalar. Propôs uma profunda alteração na rede hospitalar da cidade, com o encerramento dos Hospitais de Arroios e Desterro, e sugerindo a criação de 3 grandes hospitais (Norte, Ocidental e Oriental), numa antevisão daquilo a que hoje a cidade assiste. E dedicou-se à história da Medicina, quer como investigador, quer fazendo conferências, quer ainda como coleccionador de objetos ligados ao passado da Medicina (pintura, utensílios, livros). A partir desta sua colecção, um ano após a sua morte, foi realizada uma exposição no Hospital de Santa Marta, sobre História da Medicina. O êxito da exposição levou a que fosse criado o Museu de História dos Hospitais Civis de Lisboa – Dr. Alberto Mac-Bride, o qual funcionou entre 1957 e os anos 70 do século XX, procurando corresponder ao seu desejo de criar um museu dedicado à história da Medicina, ideia à qual se dedicara desde 1911. Dirigiu a Associação dos Médicos Portugueses, antecessora da Ordem dos Médicos e presidiu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. Foi autor de largas dezenas de artigos médicos em publicações periódicas da especialidade e redactor e secretário da Medicina Contemporânea.

Para além da sua actividade médica Alberto Mac-Bride foi sócio fundador da Associação dos Arqueólogos Portugueses, quando esta instituição se reestruturou em 1911. Participou na fundação da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, em 1923, organismo criado para dar apoio aos militares vítimas da guerra e suas famílias, da qual chegou a ser presidente. Fez parte do Grupo Pró-Évora (fundado em 1919), onde incentivou a criação de um curso para cicerones. Em 1938, foi sócio fundador do Grupo Amigos de Lisboa. Em 1938, em conjunto com Gustavo de Matos Sequeira assinou um relatório sobre a reabilitação do Castelo de S. Jorge. Na década de 30 veio a público referir-se ao estado da higiene em Lisboa, procurando fazer um levantamento das condições das habitações particulares (escuras, sem esgotos centrais e sem água canalizada) e das infraestruturas municipais (deficiente rede de esgotos, ausência de jardins e balneários públicos). Mas a sua iniciativa mais interessante terá sido o inovador Bosque de Lisboa. O seu interesse pela qualidade de vida da cidade de Lisboa leva-o a estudar e a apresentar, em conjunto com seu irmão Eugénio (também ele médico), e com o General Vicente de Freitas (que viria a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1928 a 1933), em 1925, uma proposta para a criação de um grande parque arbóreo na cidade. O projecto incluía ainda novas e amplas vias de comunicação, áreas de lazer, e procurava estruturar os novos bairros a serem desenvolvidos. Estender-se-ia desde a Serra de Monsanto, à época, sem arborização, até Benfica, Carnide, Telheiras e Campo Grande, e seria servido por uma ampla rede de vias de forma a permitir que o lisboeta pudesse dele usufruir. A ideia deste parque, tendo em vista melhores condições sanitárias, será retomada numa dimensão menor com a gestão de Duarte Pacheco e a florestação de Monsanto, dotando a cidade de um pulmão verde.

© CML | DPC | Gabinete de Estudos Olisiponenses | 2019

A Rua do cirurgião professor de Anatomia, José António Serrano

Freguesias de Santa Maria Maior e de Arroios
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

José António Serrano, «Doutor Tratadista, Osteólogo», conforme diz a sua placa toponímica foi um professor de Anatomia que desde 1906 dá o seu nome à artéria que liga a Rua do Arco da Graça à Rua de São Lázaro, dois anos após o seu falecimento.

Esta artéria hoje do território administrativo das freguesias de Santa Maria Maior e de Arroios, tem o seu topónimo em resultado da deliberação camarária de 6 de dezembro de 1906, para substituir a Calçada do Colégio que fixava a proximidade ao Colégio Jesuíta de Santo Antão que se tornara Hospital de São José após o terramoto de 1755. Ainda hoje encontramos a Travessa do Colégio junto à Rua do Arco da Graça.

Ilustração Portuguesa, 12 de dezembro de 1904

José António Serrano (Castelo de Vide/01.10.1851 – 07.12.1904/Lisboa), foi Lente da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e o primeiro cirurgião português que conseguiu curar um tumor sólido do ovário, por meio de laparatomia (em 1889), bem como pioneiro na realização da histerectomia (remoção do útero).

Licenciado em 1875,  começou por fazer clínica na sua terra natal, durante dois anos, até ser  nomeado preparador e conservador do Museu de Anatomia da Escola Médica (1878), ao mesmo tempo se exercia como cirurgião do Banco do Hospital de São José (1879). A partir de 1895, desempenhou também funções de diretor de enfermaria de São Fernando do Hospital do Desterro bem como de Secretário e Bibliotecário da Escola Médica em 1896, para além de diretor da Repartição de Estatística do Hospital de São José, em 1901. Foi lente de Anatomia Descritiva a partir de 1880, para além de ter regido na Escola de Belas Artes a cadeira de Anatomia Artística e Higiene de Edifícios desde 1888. As suas obras essenciais foram o Manual Sinóptico de Anatomia Descritiva e o Tratado de Osteologia Humana (1895).

José António Serrano integrou o grupo Vencedores da Medicina (1890), a Sociedade Portuguesa de Bromatologia Prática e assumiu a vice-presidência da Sociedade das Ciências Médicas. O Anfiteatro de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (construída em 1953) recebeu o nome de Auditório Professor José António Serrano e na sua parede fundeira foram sendo colocadas placas de homenagem e medalhões de falecidos professores de Anatomia, como José António Serrano, Armando Ferreira, Barbosa Sueiro, Caria Mendes,  José Gentil e Victor Fontes.

Freguesias de Santa Maria Maior e de Arroios (Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

 

A Rua do cirurgião de hospital e olisipógrafo Alberto MacBride

Freguesia dos Olivais (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Alberto MacBride perpetua o cirurgião de hospital, como ele próprio se intitulava, que também se empenhou no estudo da olisipografia, tanto como membro da comissão organizadora e sócio fundador nº 3 do Grupo «Amigos de Lisboa» quer enquanto sócio fundador nº 18 da Associação de Arqueólogos Portugueses, colaborando em particular na secção de estudos olisiponenses. Alberto Mac Bride foi fixado na  Rua D à Avenida Doutor Alfredo Bensaúde, pelo Edital municipal de 20/01/1998, sendo na mesma data atribuído o nome do também médico Alfredo Franco na Rua A e B. Na Rua C, já desde 17/02/1995 dava nome à artéria o médico Carlos George.

Alberto MacBride

Alberto MacBride Fernandes  (Lisboa/11.09.1886 – 29.01.1953/Lisboa) nasceu na Rua dos Fanqueiros nº286 – 2º Dtº, filho do Dr. Gregório Rodrigues Fernandes também presente na toponímia do Bairro Grandela, e foi cirurgião no Hospital de S. José e presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. O seu irmão Eugénio também foi médico e o seu grande colaborador ao longo da vida.

Paralelamente à carreira clínica e ligado que estava à Biblioteca de S. José desde 1918, produziu história da Medicina, dos Hospitais Civis de Lisboa e da Medicina na Índia Portuguesa e, na Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, elaborou uma extensa monografia correspondente ao período 1835-1846 que integrou o volume da comemoração centenária da Sociedade em 1923. Mac-Bride defendeu mesmo a criação de um Museu da Medicina em 1911 e dois anos depois, a ideia inovadora de um serviço de pronto-socorro na via pública com ambulâncias-automóveis que hoje poderíamos chamar INEM. Foi ainda secretário e redator da revista Medicina Contemporânea durante 29 anos, de 1910 a 1939. No Grupo «Amigos de Lisboa» foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral de janeiro de 1942 até ao seu falecimento e presidiu ao trabalho «A Urbanização de Lisboa» e à ideia do Parque de Monsanto como pulmão de Lisboa.

Formado pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1909 passou a cirurgião dos hospitais civis em 1911, iniciando assim uma carreira profissional completamente dedicada aos hospitais, intitulando-se a si próprio cirurgião de hospital. O seu lema era que a Medicina nasce e cresce nos hospitais e o Banco do Hospital de São José foi para Alberto MacBride a sua aplicação prática, deixando uma obra incomparável no campo da cirurgia e anestesia em Portugal, bem como reformas que prestigiaram o Hospital como a reabertura dos internatos médicos, em 1912. Foi pioneiro em quase todas cirurgias modernas como as transfusões de sangue diretas, as anestesias endovasculares e raquidianas, a cirurgia vascular ou a cirurgia abdominal de urgência. Exerceu ainda os cargos de subdirector do Banco do Hospital São José (1920), Diretor-Geral dos Hospitais (1927), Diretor do Banco  de São José (1930), Diretor do Serviço Clínico (1931) e Diretor  do Serviço de Cirurgia dos Hospitais Civis de Lisboa.

Foi diretor da Associação dos Médicos (precursora da Ordem dos Médicos) e presidente do Conselho Regional de Lisboa, Membro do Conselho Geral da Ordem dos Médicos (1939-43), bem como o 49.º Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (1952 e 1953), 50 anos depois do seu pai, e já antes havia sido seu Secretário-Geral Adjunto, entre 1949 e 1951. Porque fez parte do CEP (1917-1919), como adjunto dos serviços de saúde do QGB esteve destacado no hospital militar inglês, no hospital canadiano de Montreal e em 1918, como chefe de cirurgia no hospital da base n.º 1 em Ambleteuse, tendo em 1923 sido sócio fundador da Liga dos Combatentes da Grande Guerra e mais tarde, seu Presidente.

Alberto MacBride foi condecorado com a Medalha Militar de Ouro de Serviços Distintos em Campanha, a Medalha de Prata de Campanhas do Exército Português, a Medalha inglesa Military Cross, o Grau de Cavaleiro da Bélgica e  a comenda da Ordem de Santiago  da Espada, para além de em 1957, de forma efémera ter existido um museu com o seu nome Hospital de Santa Marta.

Freguesia dos Olivais (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua da Capela de Nª Srª do Amparo junto do Hospital de Todos os Santos

Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Sérgio Dias)

De acordo com Luís Pastor de Macedo a abertura deste arruamento foi determinada por Sebastião José de Carvalho e Melo (1.º conde de Oeiras e 1.º marquês de Pombal) em 19/06/1759 «e viria a passar por parte do chão onde se erguera o hospital de Todos os Santos e cortar quase pelo meio o convento de S. Camilo de Lélis». Designada primeiramente por Rua do Hospital Real, aparece nos  registos paroquiais de 1763 já com o nome de Rua Nova do Amparo, passando em 1786 a denominar-se simplesmente Rua do Amparo.  O topónimo adveio da Capela de Nª Srª do Amparo da Enfermaria dos Incuráveis, anexa ao Hospital de Todos os Santos, onde já provavelmente estaria  no séc. XVI.

No Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, de 1858, levantamento da cidade de Lisboa da responsabilidade de Filipe Folque, já se encontra referenciada a Rua do Amparo e Gomes de Brito adiantou a nota de que seria «em 1800 a 1834 chamada: Travessa do Amparo, ou dos Doudos em razão da vizinhança das enfermarias dos alienados do Hospital de Todos os Santos (…).»

Com a demolição do Mercado da Figueira e a consequente remodelação urbanística ficou a Rua do Amparo definida entre a Praça da Figueira e a Praça de Dom Pedro, conforme o Edital municipal de 28/08/1950. O mesmo Edital atribuiu também a Praça da Figueira, a Rua dos Condes de Monsanto,  a Rua João das Regras, a Rua Dom Duarte e a Rua Dom Antão de Almada, assim como estabeleceu novas dimensões para a Rua dos Correeiros, a Rua dos Fanqueiros e a Rua da Betesga.

Freguesia de Santa Maria Maior (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias)

No Dia Mundial da Saúde Mental a Rua do diretor do Miguel Bombarda na antiga Rua de Rilhafoles

Já que hoje se celebra o Dia Mundial da Saúde Mental, vamos até à Rua Dr. Almeida Amaral, artéria que homenageia um dos Diretores do Hospital Miguel Bombarda que antes se denominava Hospital de Rilhafoles.

Este arruamento das freguesias de Santo António e de Arroios, que liga a Alameda de Santo António dos Capuchos à Rua da Cruz da Carreira, foi atribuído pelo Edital de 12/08/1982 à Rua da Alameda, que antes (até à publicação do Edital municipal de 18/12/1893) era a Rua de Rilhafoles, por mor da Quinta local com o mesmo nome. O Atlas da Carta Topográfica de Lisboa de Filipe Folque, de 1858, já menciona o Hospital e a Quinta de Rilhafoles.

Rua da Alameda (Foto: Arquivo Municipal)

Rua da Alameda (Foto: s/d, Arquivo Municipal de Lisboa)

Com a legenda «Médico/1903 – 1960» foi fixado na memória de Lisboa Manuel Almeida Amaral (Lisboa/1903 – 15.05.1960/Lisboa), um médico formado pela Faculdade de Medicina de Lisboa (1926) com a tese de licenciatura «O Tratamento Cirúrgico das Doenças Mentais – Contribuição para o Estudo dos Resultados Terapêuticos e Leucotomia Pré-Frontal» e que mais tarde,  em 1944, concluiu um doutoramento e  se dedicou à Psiquiatria.

Trabalhou como Médico da Armada, sendo chefe de neuropsiquiatria do Hospital da Marinha a partir de 1933 e, instituiu a selecção psicotécnica na admissão dos futuros marinheiros. Discípulo de Sobral Cid, frequentou as mais importantes clínicas da especialidade em França, Espanha, Suíça, onde estudou a aplicação da ergoterapia nos hospitais de doenças mentais.

Foi ainda, a partir de 1945 e até ao ano do seu falecimento, diretor do Hospital Miguel Bombarda, estrutura hospitalar nascida em 1848 como Hospital de Rilhafoles, por se situar na Quinta de Rilhafoles, onde imprimiu profundas transformações que muito melhoraram as condições de hospitalização e o tratamento dos doentes. É na sua gestão que o Hospital muda de nome para Hospital Miguel Bombarda, se autonomiza do Hospital de São José e, são feitas comemorações do centenário (1948) com obras de recuperação das instalações.

Refira-se ainda que o Dr. Almeida Amaral foi assistente da cadeira de Psiquiatria, em 1927, na Faculdade de Lisboa e, Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria.

Freguesias de Santo António e de Arroios

Freguesias de Santo António e de Arroios

O Beco próximo do antigo Hospital da Marinha

Placa Tipo II

Placa Tipo II
(Foto: Artur Matos)

Este Beco que liga a Rua dos Caminhos de Ferro à Calçada do Cardeal retira o seu nome da proximidade ao Hospital da Marinha que nos seus 216 de existência,  funcionou no local de 1806 a 2013.

O Hospital da Armada Real ou Real da Marinha foi criado pelo Alvará do Príncipe Regente D. João, de 27 de Setembro de 1797, e erguido no local do antigo Colégio de S. Francisco Xavier, também conhecido como Hospício dos Jesuítas ao Paraíso, sob o projecto do arquitecto Francisco Xavier Fabri, tendo sido inaugurado em 1 de Novembro de 1806. Desde da expulsão da ordem dos Jesuítas que o espaço estava transformado em recolhimento de mulheres na dependência do Intendente Geral da Policia, Pina Manique.

Foi o imóvel concebido para funcionar como hospital, com um «Laboratório Chímico» e um «Dispensatório Pharmacêutico», assegurando não só o tratamento e reabilitação dos efectivos da Armada Real, mas também o abastecimento de medicamentos e material sanitário dos navios e dos hospitais então existentes no Ultramar e ilhas atlânticas. E mesmo não existindo então uma rede de distribuição domiciliária de água em Lisboa,  o Hospital Real da Marinha destacava-se por dispor de um sistema interno de águas correntes quentes e frias.

Freguesia de São Vicente

Freguesia de São Vicente
(Foto: Artur Matos)

Escadinhas da Porta do Carro de abastecimentos do Hospital de S. José

Freguesia de Arroios

Freguesia de Arroios

Estas escadinhas que fazem a ligação da Rua de São Lázaro à Travessa do Hospital, têm no seu topo os armazéns do Hospital de São José junto aos quais parava o carro que vinha trazer os abastecimentos necessários e, assim ficou fixado na memória do local.

Este topónimo já aparece referido no Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, de 1858, de Filipe Folque, como Travessa da Porta do Carro do Hospital de São José. Em 1875, a Comissão de Obras e Melhoramentos Municipais propôs a «construção de calçada nas Escadinhas da Porta do Carro». Também na Planta Topográfica de Lisboa, de 1910, da responsabilidade de Silva Pinto, o arruamento aparece como Travessa da Porta do Carro. E, em 1943, após a criação da Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa esta aprovou a manutenção do topónimo Escadinhas da Porta do Carro que até hoje permanece.

Placa Tipo II

Placa Tipo II
(Foto: Artur Matos)

A rua do médico dos Hospitais Civis, Carlos George, no seu centenário

Placa Tipo II

Placa Tipo II

No próximo domingo, dia 20 de Outubro, completa-se o centenário de nascimento de Carlos George, médico lisboeta que se dedicou particularmente aos Hospitais Civis desta cidade e, que por sugestão do munícipe  António de Castro Pina, foi consagrado na Rua C à Avenida Doutor Alfredo Bensaúde, pela publicação do Edital de 17/02/1995.

Carlos Henrique George (Lisboa/20.10.1913 – 03.09.1986/Lisboa), nasceu e residiu toda a  sua vida em Campo de Ourique, na Rua Coelho da Rocha e na Rua 4 de Infantaria e, concluiu o curso de Medicina em 1936, como aluno de professores da célebre geração de 1911, tendo a sua vocação para a Medicina Interna sido orientada por Francisco Pulido Valente (1884-1963). Nessa época, foi o mais novo assistente dos Hospitais Civis de Lisboa e, foi discípulo de Diogo Furtado, com quem se dedicou à Neurologia, tendo também em 1944, com Diogo Furtado e Rodolfo Iriarte Peixoto integrado a Comissão que elaborou o Manual do Médico Interno dos HCL. Esteve ainda no Banco de São José na equipa chefiada por Jorge Silva Araújo e, em regime complementar, exerceu também clínica privada em consultórios estabelecidos, sucessivamente na Rua do Loreto, na Rua Domingues Sequeira e na Praça Marquês de Pombal.

Carlos George que tinha como centro preferido da sua actividade as funções públicas nos Hospitais Civis, exerceu as funções de Director-Geral dos Hospitais, tendo redigido projectos regulamentares, como o do Serviço Nacional de Ambulâncias e, em 1951, com Alberto Mac-Bride Fernandes e Aleu Saldanha preparou o Regulamento dos Serviços Clínicos dos HCL. Em 1954, foi encarregue de modernizar e apetrechar o Hospital de Santa Marta e, em 1958 foi-lhe entregue a Direcção Clínica do Hospital. Esteve também brevemente, na direcção do conjunto dos Hospitais Civis de Lisboa (1956), desempenhando o cargo de Enfermeiro-Mor, tendo sido o último médico a usar esta designação tradicional para Director dos Hospitais Civis de Lisboa. Foi ainda Adjunto do primeiro Director-Geral dos Hospitais, Coriolano Ferreira, de 1965 a 1968.

Carlos George participou ainda em várias direcções da Ordem dos Médicos, a partir de 1945 e, em 1956, com Jorge Silva Araújo e Arsénio Nunes foi membro da Comissão Regional de Deontologia da Ordem dos Médicos, para além de a partir de 1950 acumular uma consulta diária nos Serviços Clínicos da Companhia Carris de Ferro de Lisboa.

Freguesia dos Olivais

Freguesia dos Olivais