O Largo da Ponte Nova de Alcântara

Freguesia de Alcântara
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Largo da Ponte Nova, hoje juntinho a um dos lados da Avenida de Ceuta, é um topónimo do final do séc. XIX que guarda a memória de uma ponte de Alcântara junto à Ribeira de Alcântara, bem como da Rua da Ponte Nova já que é o espaço que dela resta.

Na planta de 1807 de Duarte Fava, a zona era ainda campestre mas quase cinquenta anos passados, na planta de 1856 de Filipe Folque surge a Rua da Ponte Nova, que começava no espaço que é hoje o Largo da Fonte Nova na junção com a Rua da Fábrica da Pólvora, tal e qual como aparece ainda em 1871 na planta da CML para canalizações.

Ainda sob a administração da  Câmara Municipal de Belém, surge a referência à Ponte Nova de Alcântara em 12 de junho de 1858, num auto da arrematação da reconstrução e melhoramento da Azinhaga de Vila Pouca até à dita ponte. E já no território de Lisboa mas ainda no séc. XIX, o Largo da Ponte Nova surge pela primeira vez mencionado num documento em 1892, numa planta municipal anexa ao orçamento nº 153 do Chefe da 3ª Repartição, bem como na planta sobre uma conduta na Rua da Fábrica da Pólvora.

No séc. XX, o Largo da Ponte Nova surge logo em 1903 no estudo de Ressano Garcia para uma avenida entre o Largo de Alcântara e Benfica, sendo do ano seguinte a primeira ideia de «reconhecida necessidade que era o desaparecimento do Caneiro de Alcântara», conforme refere o engº Inácio Francisco da Silva em 3 de agosto de 1935. Continua a surgir o Largo da Ponte Nova na planta da cidade de 1911, de Júlio Silva Pinto,  assim como seis anos depois surge no plano da Avenida de Ceuta, cujo topónimo será dado por deliberação municipal de 1915, e que o engº Inácio Francisco da Silva também considera «que será de futuro a transversal de maior trânsito». Na década de trinta, aparece na alteração ao projeto da Avenida de Ceuta, do engº António Emídio Abrantes, entre o Largo de Alcântara e a Ponte Nova, onde se inclui a cobertura do Caneiro de Alcântara, obra continuada pelo engº Inácio Francisco da Silva, prosseguindo com a construção da Avenida de Ceuta no troço entre a Ponte Nova e Vila Pouca, após a resolução do problema do Caneiro de Alcântara. Aliás, o Diário Municipal de 12 de fevereiro de 1944, publica o programa do concurso para a empreitada da canalização da Ribeira de Alcântara.

Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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A Travessa da Escola Araújo

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Travessa da Escola Araújo, na Freguesia de Arroios, foi um topónimo solicitado à edilidade lisboeta pelo dono de umas propriedades nessa artéria e desconhece-se que Escola seria essa cujo mentor teria Araújo como apelido.

Um requerimento de «Raymundo da Silva Leal, dono d’umas propriedades situadas na via publica, que dá serventia para a Quinta do Pinheiro, no bairro Estephania, freguezia de S. Jorge» solicitou a denominação Travessa da Escola Araújo para poder ser atribuída numeração às suas propriedades, o que teve o parecer favorável da repartição de polícia municipal e a câmara deliberou nesse sentido na sua reunião de 10 de janeiro de 1894, tendo no dia 26 do mesmo mês, sido publicado o Edital que identificava a «2ª à direita na Rua de Dona Estefânia, vindo do lado sul e que partindo desta rua vai terminar no portão da entrada da Quinta do Pinheiro» doravante como Travessa Escola Araújo. O roteiro das ruas de Lisboa de Queirós Veloso, do ano seguinte (1895) refere ainda que o arruamento não tinha saída.

Menos de quarenta anos antes, em 1856, na planta de Filipe Folque o espaço era um conjunto de terrenos e ainda antes, na planta de  1807, de Duarte Fava,  era uma espécie de azinhaga que dava acesso à Rua da Cruz do Tabuado. Recuando ainda mais à planta de Lisboa de 1780, vemos nela apenas um espaço rural.

Como curiosidade, refira-se que o pintor Henrique Medina, talvez o maior pintor retratista do séc. XX,  tinha casa e ateliê nesta artéria,  para atender as personalidades da capital ou outras a quem a cidade de Lisboa fosse mais favorável para deslocação, situação que manteve até ao final da sua vida.

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Travessa do Tesouro das Necessidades

Freguesia da Estrela
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Travessa do Tesouro surge já com tal nome em 1857, no Atlas da Carta Topográfica de Lisboa de Filipe Folque, na época o mais completo levantamento dos arruamentos da cidade.

Norberto de Araújo dá-nos a explicação do topónimo quando nas suas Peregrinações em Lisboa afirma que «Depois da proclamação da República, o Palácio, com todas as suas preciosidades de ourivesaria, que ficaram constituindo o “Tesouro das Necessidades” – do qual quase todas as peças mais notáveis foram transportadas anos depois para o Museu Nacional de Arte Antiga – esteve encerrado (…).»

Grato à Senhora das Necessidades pelas melhoras da paralisia de que padecera, D. João V comprou este local  e resolveu ampliar a ermida que lhe era dedicada, bem como erguer para si próprio um palácio no local, para além de ter mandado construir um hospício e um convento que em 1744 doou à Congregação do Oratório: o Convento de Nossa Senhora das Necessidades. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o edifício do convento foi anexado para os serviços da Casa Real e tornou-se Paço Real a partir de D. Maria II (Rio de Janeiro/1815 – 1853/Lisboa) e até 1910, embora o seu filho D. Luís tenha usado antes o Palácio da Ajuda. Refira-se assim que o 2º marido de D. Maria II, desde 9 de abril de 1836, D. Fernando II (Viena/1816 – 1885/Lisboa), pai dos reis D. Pedro V e D. Luís I, reuniu no Palácio das Necessidades uma  grande coleção de arte, tanto mais ele que ele próprio pintava, o que lhe valeu o cognome de Rei Artista. D. Fernando também se dedicou à  proteção do património arquitectónico português edificado, nomeadamente com obras de restauração e manutenção na vila da Batalha, no Convento de Mafra, no Convento de Cristo e em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, na e  na Torre de Belém.

Após a implantação da República em 5 de outubro de 1910, com grande parte do Tesouro colocado no Museu de Arte Antiga, o Palácio das Necessidades ficou desocupado até em 1950 ser transformado em sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sob o traçado do arqº Raúl Lino.

Freguesia da Estrela
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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A Rua das Escolas do Bairro da Encarnação

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua das Escolas, no Bairro da  Encarnação, faz referência à sua proximidade às antigas escolas primárias 113 e 114 (uma para o sexo feminino e outra para o sexo masculino) e foi atribuída a parte da Rua O pelo Edital municipal de 15 de março de 1950, como os restantes topónimos do Bairro da Encarnação.

Numa época em que o ensino separava as raparigas dos rapazes, as escolas referidas no topónimo são hoje a Escola Básica Paulino Montez e jardim infantil nº 6, assumindo agora como patrono o arquiteto que traçou o Bairro da Encarnação. As escolas originais serão da década de cinquenta do século XX que tiveram obras de beneficiação geral em 1964, conforme o contrato de empreitada n.º 5/64 estabelecido entre a edilidade e António Correia da Silva.

Esta Rua das Escolas, que vai da   Rua do Poço Coberto à Rua da Quinta de Santa Maria, é uma das 12 do Bairro da Encarnação que fugiu à regra de ter toponímia numérica como era uso nos bairros sociais de então, e se pode ver no Edital municipal de 15/03/195o, também para os Bairros de Casas Económicas do Alto da Ajuda, do Alto da Serafina, da Calçada dos Mestres, de Caselas e das Terras do Forno, com a maioria das ruas a receberem denominações numéricas.

No quinhentista sítio da Panasqueira – cuja memória ainda se mantinha em 1939 numa Azinhaga da Panasqueira – foi inaugurado em 1946 o Bairro da Encarnação, da autoria do arquiteto Paulino Montez, o qual procurou reproduzir neste bairro social um pretenso modelo de aldeia portuguesa, mas em forma de borboleta que poderia ser admirada por vista aérea, sendo a Alameda da Encarnação o eixo principal das duas asas simétricas de borboleta do Bairro-Jardim da Encarnação. O Bairro Económico da Encarnação, foi construído de 1940 a 1943 numa área de cerca de 47 ha, em terrenos do então Ministério das Obras Públicas e Comunicações.

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana

Freguesia de Arroios
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Desde 1918 que a Rua do Instituto Bacteriológico homenageia  o instituto nascido em 1892 no Hospital de São José, por iniciativa do médico Luís da Câmara Pestana.

O topónimo Rua do Instituto Bacteriológico, nasceu em resultado da publicação do Edital de 13 de agosto de  1918, sobre a Rua do Convento de Santana, topónimo que por seu vez, viera substituir a  Rua do Convento das Freiras de Santana.

O  Instituto Bacteriológico de Lisboa foi criado por Luís da Câmara Pestana (Funchal/1863 – 1899/Lisboa), numa enfermaria do Hospital de S. José, em  1892, para combater um surto de febre tifóide em Lisboa e arredores, situação formalizada por decreto de 29 de dezembro desse ano, ou seja, apenas 4 anos após a criação do Instituto Pasteur de Paris, o de referência na matéria, e no ano imediatamente seguinte aos congéneres de Berlim (Instituto Robert Koch) e Londres (Instituto Lister). Em 1895 passou a designar-se como Real Instituto Bacteriológico de Lisboa e a partir de 1899 mudou-se para o edifício da Rua Câmara Pestana, obra dos arquitetos Pedro Romano Folque e Joaquim Pedro Xavier da Silva, edificada sobre as ruínas do Convento e Ermida de Sant’Ana e sendo o primeiro exemplar português da arquitectura hospitalar e laboratorial de investigação construído de raiz, denominando-se a partir daí Instituto Câmara Pestana, em homenagem ao seu fundador, falecido nesse mesmo ano, por proposta dos estudantes da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Em 1911, o Instituto foi incorporado na Universidade de Lisboa, agregado à  Faculdade de Medicina de Lisboa.

O Instituto foi uma instituição de investigação biomédica, com intervenção no campo da saúde pública, por exemplo, nos domínios da difteria, microbiologia clínica ou verificação de produtos biológicos, tendo sido o laboratório nacional produtor da vacina contra a tuberculose, assim como pela vacina antirrábica. A partir de 2008 a maior parte do edifício da Instituto Bacteriológico foi entregue à Universidade Nova de Lisboa que aí instalou um centro de investigação biomédica e as principais atividades do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana passaram para o campus do Hospital de Santa Maria.

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Azinhaga de um Jogo com Bola

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

No Paço do Lumiar, ainda hoje permanece a Azinhaga do Jogo da Bola, a ligar a Alameda Mahatma Gandhi ao Largo de São Sebastião, como memória da ruralidade desta zona outrora, antes mesmo de ser parte da cidade de Lisboa.

Referências escritas à Azinhaga do Jogo da Bola surgem em  1907 na planta Topográfica de Lisboa de Júlio Silva Pinto e Alberto de Sá Correia, a correr junto à Quinta dos Ingleses, à Azinhaga e Quinta da Torre do Fato, à Estrada de Telheiras e à Quinta de Santo António.

O jogo da bola evocado neste topónimo deve provavelmente ser o jogo da pela, um antepassado do ténis,  cuja prática aproveitava terrenos amplos ao ar livre usando uma bola de cortiça forrada a flanela que era batida com a mão nua. Mais tarde, passaram a usar-se umas luvas e raquetes especiais.O jogo da pela uma das  atividades de lazer dos nobres e dos burgueses nos séculos XVIII e XIX.

Na cidade de Lisboa, já antes do Terramoto de 1755 existia uma Calçada do Jogo de Pela na freguesia do Socorro, a ligar a Rua da Palma à Rua do Arco da Graça e que é a mesma artéria que existe hoje sob a administração das freguesias de Arroios e de Santa Maria Maior. Também na freguesia de Carnide encontramos hoje a Travessa e o Largo do Jogo da Bola,  junto ao Palácio dos Condes de Carnide, que segundo Adélia Maria Caldas Carreira na sua comunicação nas 4ªs Jornadas de Toponímia de Lisboa «É provável que esse terreno, enquanto ainda parte integrante da Quinta, constituísse o local escolhido para as práticas desportivas dos proprietários e respectivos convidados, especialmente para o jogo da bola ou da péla.»

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Largo das Escolas do Bairro das Terras do Forno em Belém

O Largo das Escolas em data entre 1941 e 1945
(Foto: Domingos Alvão, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Largo das Escolas no Bairro das Terras do Forno, em Belém, nasceu como topónimo do Edital de 15 de março de 1950, que atribuiu toponímia a 6 bairros sociais de Lisboa: o do Alto da Ajuda, o do Alto da Serafina, o da Calçada dos Mestres, o de Caselas, o da Encarnação e o da Terras dos Forno.

O Largo das Escolas foi o único topónimo não numérico atribuído no Bairro das Terras do Forno, ao espaço na confluência das Ruas 1, 2 e 3. A designação de Largo das Escolas, no plural, radica no ensino separado por sexos que era então a norma, sendo estas escolas primárias a masculina e a feminina. O edifício foi construído em 1941 e desde 24 de setembro de 2015 que é um Jardim de Infância da rede pública da autarquia.

O Bairro das Casas Económicas Terras do Forno ou Bairro Económico de Belém, traçado pelo arquiteto Raul Lino a partir de 1933, foi inaugurado em 1938 e era constituído por 204 habitações destinadas a funcionários civis e militares, assim como a sócios dos Sindicatos Nacionais.

Por último, refira-se que o Edital de 15 de março de 1950, atribuiu  denominação sobretudo numérica ao Bairro do Alto da Ajuda, de Caselas e da Encarnação;  exclusivamente numérica ao Bairro do Alto da Serafina, e com apenas um topónimo não numérico ao Bairro da Calçada dos Mestres e ao Bairro das Terras do Forno.

Freguesias de Belém
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do Arco do Aqueduto a São Mamede

Freguesias de Santo António e Campo de Ourique
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Era a Rua do Arco, por mor de ter em si um dos 127 arcos do Aqueduto das Águas Livres, até lhe ser acrescentada a localização a São Mamede no ano de 1953.

Este arruamento que liga a Rua de São Bento à Rua da Escola Politécnica tem um topónimo posterior a 1748 e que já surge referido nas plantas da cidade de Lisboa após a remodelação paroquial de 1780. A Rua do Arco a São Mamede ostenta um dos 127 arcos do Aqueduto das Águas Livres, equipamento que começou a fornecer água à cidade de Lisboa a partir de 1748, aumentando assim de 6 para 15 litros o volume de água diário que cada cidadão de Lisboa tinha ao seu dispor.

Por volta de 1808, ficou o arco com um chafariz de encosto, da autoria de Honorato Correia de Macedo e Sá, seguindo a influência do modelo de chafariz ligado ao Aqueduto que foi introduzido por Reinaldo Manuel dos Santos. A ordem para a construção deste chafariz,  alimentado pelas águas provenientes da Galeria da Esperança e da Água Livre por intermédio da Casa do Registo das Amoreiras, partiu da Direção das Águas Livres em 12 de junho de 1805.

Já o topónimo ficou a ser Rua do Arco a São Mamede por parecer da Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa, que no dia 21 de outubro de 1953 foi  homologado pelo Vice-Presidente da CML que era então Luís Pastor de Macedo.

Refira-se que na parte da rua mais próxima da Rua de São Bento foi morador Frederico Romão Daupiás d’Alcochete (1839-1928) que também tinha aí os seus jardins de ensaio de floricultura.

Também no século XVIII terá ali vivido uma família Soares já que Gustavo de Matos Sequeira menciona que o prédio da Rua do Arco que torneja para a Rua do Noronha tem «uma lápide com os seguintes dizeres : SOARES — N.” 21», para além de acrescentar  que em 1762 é mencionada pela primeira vez uma Rua dos Soares que o olisipógrafo não conseguiu apurar se seria a Rua do Arco ou a Rua do Noronha. Mencione-se que Gustavo de Matos Sequeira residiu numa artéria transversal a esta Rua do Arco a São Mamede, a Rua Nova de Santo António, que depois ficou com o seu nome.

Freguesias de Santo António e Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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A Rua do Instituto Industrial de Fontes Pereira de Melo

Freguesia da Misericórdia
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do Instituto Industrial, que liga a Avenida 24 de Julho à Rua da Boavista, é um topónimo resultante de ser a artéria onde nasceu em 1852 o Instituto Industrial de Lisboa, estabelecimento de ensino técnico criado por Fontes Pereira de Melo, por decreto de 30 de dezembro desse ano.

Refira-se ainda que não muito longe podemos encontrar o Largo Vitorino Damásio, topónimo que consagra o engenheiro do Conselho Superior de Obras Públicas e Minas que dirigiu em 1852 as obras do Aterro – que viriam a permitir a Avenida 24 de Julho –  e a partir do ano seguinte, desempenhou as funções de Reitor do Instituto Industrial.

Dezassete anos após o seu nascimento, em 1869, o Instituto Industrial de Lisboa sofreu uma fusão com a Escola de Comércio e passou a denominar-se Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, denominação que manteve até 1911, ano em que foi divido em duas instituições: o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior de Comércio (hoje ISEG), tendo em 1930 integrado a criação da Universidade Técnica de Lisboa sob a denominação de Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras.

A data de fixação deste topónimo será posterior a 1852, provavelmente ainda atribuído pelo Governo Civil de Lisboa. Na documentação municipal descortinamos as primeiras menções à Rua do Instituto Industrial no último quartel do séc. XIX, nomeadamente numa resolução municipal de 28 de dezembro de 1874 sobre redução do arrendamento de prédios na artéria, bem como num requerimento de 16 de fevereiro de 1878 do Director da Companhia Previdente pedindo a prorrogação do prazo para a conclusão da reconstrução do edifício da Fábrica da Companhia neste arruamento, ou ainda na identificação do traçado de uma casa de banhos que Teresa de Jesus Soares pretendia em 1883 construir no prédio com o nº 91 da Rua da Boavista, fazendo esquina para a Rua do Instituto Industrial. Certo também é que a primeira planta em que surge a Rua do Instituto Industrial como topónimo é na de 1876, executada por Francisco Goullard para a Câmara Municipal de Lisboa.

Freguesia da Misericórdia
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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Do Largo do Matadouro público ao Largo da Escola Municipal nº 1

O Largo da Escola Municipal no início do séc. XX
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Largo da Escola Municipal, na confluência da Rua de São Lázaro, Rua Nova do Desterro e Rua do Saco, consagra desde a publicação do Edital municipal de 8 de agosto de 1889 a Escola Municipal nº 1, ali construída 14 anos antes – em 1875 – no local onde fora o matadouro público que havia dado ao local o nome de Largo do Matadouro.

Sobreposição da planta de Filipe Folque de 1858 com a dos nossos dias para se ver o Largo da Escola Municipal no Largo do Matadouro

Como se pode ver  na planta de Filipe Folque de 1858, o espaço deste Largo da Escola Municipal era o Largo do Matadouro, contíguo ao Matadouro público instalado entre a Rua das Forçureiras [vendedoras de forçuras que eram  os bofes e os intestinos das reses] e o Beco do Saco [hoje Rua do Saco] que não deve ser confundido com o Largo do Matadouro que mais tarde alojou o Matadouro Municipal e hoje conhecemos como Praça José Fontana.

Dois anos depois da abertura da Escola nº 1, um ofício de 25 de junho de 1877, do professor António Simões Lopes, pedia à Câmara providências para um muro com apenas 5 a 6 cm de altura do lado do edifício escolar, pelo perigo dos alunos caírem para o lado da rua. Também oito anos depois, em 5 de agosto de 1883, nasceu encostada a esta Escola Municipal nº 1 a então Biblioteca Municipal de São Lázaro.

O Serviço de Instrução fora criado na Câmara Municipal de Lisboa dois anos antes desta Escola nº 1, em 16 de setembro de 1873, sucedendo ao «Pelouro das escolas municipaes de artes e industria, e Beneficencia» que existia desde 1852. Este Serviço dependia do Pelouro da Instrução que teve como primeiro vereador José Elias Garcia, que desempenhou essas funções em 1873-1875 e 1878-1881, com competências no domínio da instrução primária e das bibliotecas municipais.

Quando da atribuição do Largo da Escola Municipal, em 8 de agosto de 1889, era vereador Augusto José da Cunha que manteve as funções até ao final desse ano. Três anos depois, em 1892, a responsabilidade da instrução primária passou para o Estado e o Pelouro da Instrução municipal foi extinto, ficando apenas uma delegação na 1ª Repartição do Serviço de Fazenda Municipal que durou até setembro de 1913, porque o Decreto de 29 de junho de 1913 procedera à descentralização do ensino primário e a Câmara Municipal de Lisboa voltou a ter responsabilidades na área da instrução primária até 1918, quando o Decreto de 12 de julho transferiu novamente a responsabilidade da instrução primária para o Estado, o que gerou contestação por parte de alguns vereadores.

Em 1919, por proposta do vereador Vladimiro Contreiras, a Instrução passou a inserir-se nos serviços da Secretaria Geral da edilidade, na 2ª Secção da 3ª Repartição (Instrução, Estatística, Bibliotecas e Arquivos), à qual competia as direções das bibliotecas municipais e dos estabelecimentos de instrução pública.  Em 1921, com uma reorganização dos Serviços Municipais, a Instrução passou para a 6ª Repartição dos Serviços Técnicos, de Bibliotecas, Museus, Arquivos e Escolas. Em  1924, o Pelouro passou a denominar-se Pelouro da Instrução e Assistência, responsável pela instrução primária e pela assistência do município, sendo Alexandre Ferreira o vereador, até junho de 1926.

Freguesia dos Arroios
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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