Jardim Botânico

O Jardim Botânico da Ajuda na planta de Silva Pinto de 1908
(Foto: © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O Jardim Botânico da Ajuda foi o primeiro de Lisboa, nascido no ano de 1768, e ficou registado na memória toponímica lisboeta 148 anos depois, na Rua do Jardim Botânico, que faz a ligação da Calçada da Ajuda à Calçada do Galvão, pelo Edital municipal de 26 de setembro de 1916 que oficializou 56 artérias da Ajuda.

O Jardim Botânico da Ajuda foi fundado em 1768, de acordo com o desenho do botânico italiano Domingos Vandelli (1735-1816), chamado de Pádua pelo rei D. José I, por influência de Miguel Franzini, mestre dos príncipes e com o intuito de servir para a educação destes. O espaço escolhido foram os terrenos arborizados que haviam sido da Quinta do Conde da Ponte e que D. José I em boa hora adquiriu para cultura de frutas e hortaliças necessárias ao palácio real, instalado na Ajuda após o terramoto de 1 de novembro de 1755. No Jardim se procurou estudar e colecionar o máximo de espécies do mundo vegetal, tendo tido 5000 espécies dispostas segundo o sistema sexual proposto por Lineu, que fora mestre de Vandelli.

Em 1765, Domingos Vandelli ficou com o encargo de delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botânico da Ajuda enquanto o ministro da Marinha, Francisco Xavier de Carvalho, irmão do Marquês de Pombal, as devia fiscalizar. Domingos Vandelli dirigiu o então denominado Real Jardim Botânico da Ajuda de 1768 a 1774 e o 2º diretor foi o botânico Félix de Avelar Brotero, de 1811 a 1828, altura em que por ordem de D. João VI o Jardim foi aberto ao público às quintas-feiras. Por decreto de 27 de agosto de 1836,o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda foi confiado à administração da Academia das Ciências de Lisboa mas passados dois anos, a partir de 1838-1839 o Jardim Botânico da Ajuda passou para a tutela da Escola Politécnica e a ser usado pelos seus alunos. Em 1874, o Jardim foi entregue à administração da Casa Real, altura em que decaiu progressivamente.

Já no século XX, em 1910, o Jardim Botânico da Ajuda passou a integrar o património nacional e em 1918 foi entregue ao Instituto Superior de Agronomia permitindo assim que em 1934, sob a direção do Prof. André Navarro, o Prof. Caldeira Cabral estabelecesse o traçado dos canteiros do tabuleiro superior, que se tinha perdido completamente. Entre 1993 e 1997, com o apoio do Prémio de Conservação do Património Europeu e do Fundo de Turismo, sob a orientação da Profª. Cristina Castel-Branco, foi restaurado o Jardim, com a recuperação da coleção botânica, do sistema de rega e a instalação do Jardim dos Aromas.

O outro Jardim Botânico de Lisboa pertence ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC) e data de 1878. Foi por iniciativa do Conde de Ficalho que em 1873 se iniciaram os trabalhos deste novo jardim que esteve aberto ao público desde 1878 e está classificado como Monumento Nacional desde 2010, integrando todo o património artístico (esculturas) e edificado que nele se encontra: Observatório Astronómico da Escola Politécnica, Edifício dos Herbários, Estufas, Palmário e ainda, a antiga estufa em madeira.

Por definição, um jardim botânico é o local onde se colecionam plantas e onde estas são cultivadas e identificadas, sendo ao longo do tempo utilizados com diversas finalidades. Assim, os que surgiram na Europa no séc. XVI, então denominados «hortus medicus» (jardins de plantas medicinais), tinham como finalidade o fornecimento de plantas às boticas e serviam de apoio ao estudo da medicina. Já nos séculos seguintes, passaram sobretudo a ser utilizados como locais de plantação e estudo de novas espécies vegetais exóticas trazidas para o continente europeu.

O Jardim Botânico da Ajuda não foi exceção, acolhendo plantas e sementes vindas de outros jardins, mas sobretudo oriundas dos territórios portugueses na América, África e Ásia e das ilhas atlânticas, viabilizando a observação direta, a análise e interpretação da natureza, imperativo filosófico e científico que decorreu dos novos postulados do Iluminismo. Este espaço, ornamentado com esculturas e artes decorativas, construído na proximidade da Real Barraca, desde o seu início que foi pensado e criado em torno de várias premissas que se mantiveram até à atualidade: ser um espaço lúdico e de lazer; e, ser um espaço de aprendizagem e de produção de conhecimento.

O jardim Botânico da Ajuda em 1973
(Foto: Artur Pastor © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

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O Fado Português de José Régio e o Jardim Amália Rodrigues

Manuscrito do « Fado Português» de José Régio
(Imagem: © CER)

 

O «Fado Português» de José Régio foi musicado por Alain Oulman para ser interpretado por Amália Rodrigues que em Lisboa dá nome a um Jardim nas Avenidas Novas, no topo do Parque Eduardo VII.

José Régio publicara esse poema no seu Fado, obra de 173 páginas editadas em Coimbra em 1941, com desenhos do seu irmão Júlio. Alain Oulman musicou esse poema de Régio para a voz de Amália e juntou outros poetas portugueses para criar aquilo que se veio a denominar novo fado, do que resultou o disco Fado Português da fadista, editado internacionalmente em junho de 1965 e em Portugal, apenas em 1970, pela Valentim de Carvalho.

Amália nascida em Lisboa no mês de julho, oficialmente no dia 23 embora ela festejasse mais o dia 1 como seu aniversário, logo sete dias após o seu falecimento recebeu uma deliberação de Câmara para que o seu nome designasse uma via de Lisboa, o que se concretizou com a publicação do Edital de 18 de abril de 2000, que atribuiu o topónimo Jardim Amália Rodrigues a um espaço de 5,7 ha da autoria do arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, que é parte integrante do Corredor Verde, que une o Parque Eduardo VII a Monsanto.

Em 1958
(Foto: Amadeu Ferrari, Arquivo Municipal de Lisboa)

De seu nome completo Amália da Piedade Rebordão Rodrigues (Lisboa/23.07.1920 – 06.10.1999/Lisboa), por muitos considerada a maior voz portuguesa pela interpretação única e invulgar, nasceu na Rua de Martim Vaz, em casa dos seus avós maternos. Aos seis anos mudou-se com os avós para Alcântara, bairro onde viveria até aos 19 anos.

Como cantora profissional estreou-se em 1939, no Retiro da Severa, para rapidamente virar cabeça de cartaz  no Café Luso, com um cachet de valor nunca antes pago a uma fadista. Como nome artístico começara por usar Amália Rebordão mas, por  sugestão de Filipe Pinto, diretor artístico do Solar da Alegria, mudou para Amália Rodrigues. A carismática Amália também ousará a singularidade de reinventar a  postura da fadista, à frente e não atrás dos guitarristas, a que ainda somou um inovador estilo de vestidos e xailes negros.

Entre os seus inúmeros êxitos musicais, para além do novo fado musicado por Oulman, no período de 1962 a 1975, onde cantou José Régio, podem também destacar-se  Ai, Mouraria,  Barco negro, Casa portuguesaEstranha forma de vida, Nem às paredes confesso, Foi DeusGostava de ser quem eraPovo que lavas no rio ou Vou dar de beber à dor.  Ela própria acabou por escrever as letras de alguns dos seus temas como é o caso de Gostava de ser quem era e, estes poemas foram editados pela Cotovia, em 1997, com o título Versos. Amália foi também considerada a maior embaixatriz de Portugal no mundo, por ter levado o nome de Portugal ao resto do mundo, dada a sua permanente e constante exibição pelos cinco continentes, ao longo da sua carreira. Data de  1943 a sua primeira vez no estrangeiro, em Madrid, a que se seguiram por ordem cronológica Brasil, Paris, Londres, Berlim, Roma, Dublin, Moscovo, Nova Iorque, e depois muitas outras cidades e países.

Amália Rodrigues foi ainda a voz de fados e canções de sucesso no teatro, de 1940 a 1947, tendo começado no palco do Teatro Maria Vitória. Passou também pelo cinema, a partir do  filme Capas Negras (estreado no cinema Condes a 16 de maio de 1947), a que se seguiram Fado – História de Uma Cantadeira (1947), Sol e Toiros (1949), Vendaval Maravilhoso (1949), Os Amantes do Tejo (1955), April in Portugal (1955), Sangue Toureiro (1958), Fado Corrido (1964), As Ilhas Encantadas (1965), Via Macau (1965) e ainda, curtas-metragens de Augusto Fraga.

A fadista foi agraciada com a Ordem de Santiago de Espada (Cavaleiro em 1958, Oficial em 1970 e  Grã-Cruz em 1990), a Grande Medalha de Prata da Cidade de Paris (1959), a Ordem do Infante D. Henrique (1980), a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa (1980), o Grau de Comendador da Ordem das Artes e Letras (1985), a Medalha de Ouro da Cidade do Porto (1986), a Legião de Honra francesa (1991),  uma homenagem pública num espetáculo na Expo’98 e, a 8 de julho de 2001, o seu corpo foi trasladado do Cemitério dos Prazeres para a Sala da Língua Portuguesa no Panteão Nacional.

Na toponímia portuguesa, o nome de Amália Rodrigues está presente em Abrantes, Alcabideche, Almada, Amadora, Arruda dos Vinhos, Beja, Bobadela, Braga, Bragança, Campo Maior, Carvoeiro-Lagoa, Cascais, Celorico de Basto, Celorico da Beira, Cuba, Entroncamento, Estoril, Fafe, Faro, Figueira da Foz, Fundão, Gaeiras, Gondomar, Ílhavo, Lagos, Leiria, Marco de Canaveses, Mem Martins, Mirandela, Moita, Montijo, Moura, Odemira, Odivelas, Olival Basto, Paço de Arcos, Palmela, Paredes, Pegões, Peniche, Queluz, Reguengos de Monsaraz, Salvaterra de Magos, Santa Iria de Azóia, São Domingos de Rana, Seixal, Setúbal, Sintra, Tavira, Trancoso, Unhos, Vendas Novas, Vila Franca de Xira, Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Poiares e Vizela.

Freguesia das Avenidas Novas

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A Festa do Japão no jardim da Rua Vieira Portuense

Rua Vieira Portuense e Jardim Vasco da Gama
(Foto: Ana Luísa Alvim| CML)

No próximo sábado, dia 22 de junho de 2019, das 14:00 às 22:00 horas, vai decorrer a 9ª Festa do Japão em Belém, no Jardim Vasco da Gama da Rua Vieira Portuense, inserida nas Festas de Lisboa’19.

Fronteiro à Rua Vieira Portuense o Jardim Vasco da Gama foi construído nos anos oitenta do século XX a partir do traçado do  arquiteto António Saraiva para uma área de 4,2 hectares. Já a Rua Vieira Portuense homenageia o pintor Francisco Vieira e foi atribuído pelo Edital municipal de 7 de agosto de 1911 na artéria até aí designada como Rua da Cadeia. Por Edital de 20 de setembro de 1915 foi-lhe acrescentada a artéria de continuação, a Rua do Cais de Belém e por isso a Rua Vieira Portuense estende-se hoje da Praça Afonso de Albuquerque até à Travessa da Praça.

O conjunto urbano da Rua Vieira Portuense integra prédios do séc. XVI ao XVIII,  junto ao que foi a antiga praia de Belém e ainda assim surge na planta de 1858 de Filipe Folque, sendo então o seu topónimo Rua da Cadeia, que era paralela e maior que a Rua Direita de Belém (hoje Rua de Belém) e que tinha a meio e mais próximo do rio um Mercado. Em 24 de julho de 1880 foi colocada a primeira pedra de um novo Mercado e na planta de 1909 de Silva Pinto já podemos observar o novo Mercado instalado no meio da Rua da Cadeia e da Rua do Cais. Ao lado do Mercado e paralela à Rua da Cadeia existia uma Rua Bahuto e Gonçalves que terminava na Praça Dom Vasco da Gama, sendo hoje ambas espaço dos jardins. O Edital municipal de toponímia de 1911 tornou a Rua da Cadeia em Rua Vieira Portuense e a Rua Bahuto e Gonçalves em Rua Paulo da Game e o Edital de 1915 somou a Rua do Cais à Rua Vieira Portuense. A partir de 1939 toda a zona começa a ser remodelada para aí se instalar a Exposição do Mundo Português de 1940, finda a qual ficou a Rua Vieira Portuense e uma zona de terras a separá-la do Tejo.

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D. Filipa de Vilhena armando seus filhos cavaleiros (1801, Londres) de Vieira Portuense

Francisco Vieira (Porto/13.05.1765 – 02.05.1805/Funchal) distinguiu-se como pioneiro do neoclassicismo na pintura portuguesa, tal como Domingos Sequeira, ambos pintores régios, com o nome artístico de Vieira Portuense, por referência à sua cidade natal e para se distinguir do lisboeta Vieira Lusitano.

Presume-se que terá aprendido a pintar paisagens com o seu pai, Domingos Francisco Vieira, a par do ofício como droguista, assim como terá tido João Glama Strobërle e Jean Pillment como mestres e terá frequentado a Aula de Debuxo e Desenho do Porto. Depois veio para Lisboa, onde estudou na Casa Pia e na Aula Régia de Desenho, a partir de 1787. Seguiu para Roma em 1789, financiado pela família, pela Feitoria Inglesa e talvez também pela Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro. Em Roma, foi discípulo de Domenico Corvi e obteve o 1.º prémio de Desenho no concurso da Academia do Nu do Capitólio. Em Itália, esteve ainda em Parma – onde em 1794 se tornou académico da Academia de Belas Artes local-, Cremona, Bolonha – onde ingressou na Academia Clementina em 1795-, e Nápoles, para além de ter viajado também  pela Alemanha e Inglaterra, onde residiu em Londres na casa do embaixador D. João de Mello e Castro em 1789 e a 9 de julho de 1799 casou com Maria Fabbri, uma bolonhesa viúva de um aluno de Bartolozzi, pelo que após o casamento passou a viver na casa de Bartolozzi em North End (Fulham).

Vieira Portuense regressou a Portugal em 1800 e foi contratado pela Junta da Administração da Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro como professor da Aula de Desenho da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto, de que viria a ser diretor em 1803. Entre 1801 e 1802 também trabalhou em Lisboa, nas ilustrações de uma edição de “Os Lusíadas“, promovida por D. Rodrigo de Sousa Coutinho.

Ao contrair tuberculose em 1805 mudou-se para a Madeira, por ser considerada mais saudável, mas acabou por falecer lá antes de completar 40 anos de vida. A sua obra está presente no Museu Nacional de Arte Antiga e no Museu Nacional de Soares dos Reis (Porto), sendo famosos os seus quadros Leda e o Cisne (1798) ou D. Filipa de Vilhena armando os filhos cavaleiros (1801), para além de Latona e os camponeses da Lícia pertença da Câmara Municipal do Porto, assim como Banho de Diana que se encontra na Galeria Nacional de Parma.

Freguesia de Belém

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Lisboa Mistura no jardim da quinta dos fósseis pré-históricos

Freguesia do Lumiar

Hoje é último dia do Lisboa Mistura 2019  que desde dia 8 de junho tem decorrido no Jardim da Quinta das Conchas, espaço cuja toponímia  decorre de vestígios aí encontrados, fósseis calcários do Miocénico lisboeta ( ou seja, de cerca de 20 a 7 milhões de anos atrás), como sucedeu no Alto das Conchas, em Marvila, e onde  no séc. XVI nasceu uma quinta agrícola.

Lisboa Mistura é um festival com músicos internacionais do Médio Oriente, da América do Norte e de África, assim  como grupos comunitários, de diferentes gerações e proveniências culturais, para celebrar a comunidade urbana e a diversidade que integra o ADN de Lisboa. Pela primeira vez realiza-se na Quinta das Conchas, na Freguesia do Lumiar, depois de ter tido como palcos o Castelo de São Jorge, o Largo do Intendente Pina Manique ou a Avenida da Ribeira das Naus.

 

A Quinta das Conchas está perpetuada na Rua da Quinta das Conchas e no parque ou jardim da Quinta das Conchas. Os fósseis pré-históricos definiram o nome do lugar e em meados do século XVI aí nasceu a Quinta de Afonso de Torres, sabendo-se que já em 1520 era um morgadio deste rico negociante de origem espanhola. Sucederam-se vários proprietários na Quinta das Conchas de que se destaca no final do séc. XIX,  em 1897, Francisco Mantero, um dos grandes exploradores das roças de café de São Tomé – que dá nome a uma Rua dos Olivais tal como seu filho, Mantero Belard, dá a uma Rua de Santa Clara -, que somou a parte rústica da Quinta das Conchas à sua Quinta dos Lilazes, onde a sua residência reproduzia o modelo  da mansão colonial, e incluindo um grande lago artificial,  com duas pequenas ilhas nas quais plantou palmeiras, em homenagem às ilhas de São Tomé e Príncipe.

Contudo, no século XX, a área desta Quinta foi mais utilizada pela então muito recente indústria cinematográfica, uma vez que  em 1920 foi nela fundada  a Caldevilla Film, que produziu por exemplo, Os Faroleiros e As Pupilas do Senhor Reitor e doze anos depois, em 1932, foi a vez da Tobis Portuguesa adquirir parte da Quinta para aí edificar os seus estúdios. Em 1966, os descendentes de Francisco Mantero transferiram para a Câmara Municipal de Lisboa a gestão da Quinta que recebeu obras de requalificação em 2005 que mereceram o Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura desse ano.

Freguesia do Lumiar

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Júlio de Castilho duas vezes topónimo lisboeta: em Largo e em Jardim

Júlio de Castilho com o fotógrafo José Artur Leitão Bárcia
(Foto: José A. Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa)

No último dia desta semana, 8 de fevereiro de 2019, completam-se cem anos da morte do Mestre da Olisipografia Júlio de Castilho, o autor  de obras tão importantes e pioneiras como Lisboa antiga – Primeira parte: 0 Bairro Alto (1879) – que teve uma 2ª edição ampliada em 5 tomos-,  Lisboa antiga – Segunda parte: Bairros orientais (1884 – 1890) – em 7 tomos – ou A Ribeira de Lisboa, descrição histórica da margem do Tejo desde a Madre de Deus até Santos o Velho (1893), pelo que foi considerado o fundador dos estudos olisiponenses.

De acordo com Raquel Henriques da Silva, na sua palestra de abertura de «Uma casa em Lisboa – Homenagem a José Sarmento Matos» no passado dia 22 de janeiro – dia de São Vicente, o padroeiro de Lisboa – , Lisboa tem uma disciplina própria que mais nenhuma cidade tem que é a Olisipografia que Júlio de Castilho inventou. Por isso mesmo, recomendou a reedição anotada de toda a obra de Mestre Castilho.

Júlio de Castilho (Lisboa/30.04.1840- 08.02.1919/Lisboa), era filho do escritor António Feliciano de Castilho que nascera no Bairro Alto, e por isso ao investigar para escrever as memórias de seu pai acabou por escrever a sua primeira obra sobre a história da cidade de Lisboa, dedicada a esse Bairro. Também por essa condição de nascimento foi o 2º visconde de Castilho e viveu a maior parte da sua vida no Lumiar, vindo a ter o seu nome consagrado no Largo contíguo à artéria onde morava, já que residente do n.º 11 da Travessa do Prior ( hoje n.º 26 da Rua Pena Monteiro),  junto ao Largo da Duquesa, este último topónimo passou a ser o Largo Júlio de Castilho, por Edital municipal de 2 de março de 1925, com a legenda «Erudito Escritor e Historiador/1840 – 1919».

Logo no ano do seu falecimento, havia sido  homenageado com a colocação de uma lápide na sua casa no Lumiar, por iniciativa dos seus amigos José Artur Leitão Bárcia, Miguel Trancoso e António César Mena Júnior.

Largo da Duqueza, depois Largo Júlio de Castilho
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

E quatro anos após a atribuição do Largo com o seu nome, o fundador da Olisipografia, foi também homenageado com a criação do Jardim de Júlio de Castilho, onde a Comissão Administrativa da CML inaugurou  um busto do olisipógrafo, da autoria do escultor Costa Mota (sobrinho), no dia 25 de julho de 1929, integrado num miradouro sobre Alfama, conhecido como Miradouro de Santa Luzia, cerimónia a que compareceram outros olisipógrafos como Gustavo de Matos Sequeira ou o Engº Augusto Vieira da Silva, assim como o fotógrafo José  Artur Leitão Bárcia.

Em 1939, a Câmara Municipal de Lisboa lançou ainda o Prémio Júlio de Castilho e no ano seguinte (1940), no centenário do nascimento de Júlio de Castilho,  promoveu no Palácio Galveias uma Exposição ilustrativa da obra deste olisipógrafo.

Busto de Júlio de Castilho
(Foto: José A. Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa)

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Jardim do Marquês de Marialva ou do Campo Pequeno

Lápide do Jardim Marquês de Marialva, nos anos 50 do séc. XX (Foto: Fernando Martinez Pozal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Em pleno Campo Pequeno encontramos o Jardim do Marquês de Marialva que ali nasceu no início do século XX.

Aquando da construção da Avenida Ressano Garcia (depois, Avenida da República), entre 1897 e 1903, foi organizado este Jardim, em quatro espaços equilibrados, a rodear a praça de touros que ali fora inaugurada em 1892. Com muitas árvores frondosas tornou-se frequentado nos dias de verão, assim como espaço de reunião dos aficionados para discutir as touradas, antes e depois das corridas. Mais tarde, por volta dos anos quarenta, foi acrescido de um parque infantil.

O Marquês de Marialva neste Jardim celebrado é o 4º, de seu nome completo Pedro José de Alcântara de Menezes Noronha Coutinho (09.11.1713-22.02.1799), filho de Diogo de Noronha e Joaquina Maria de Menezes ( 3ª marquesa de Marialva), conhecido como estribeiro-mor da Coudelaria Real de Alter do Chão, assim nomeado por D. José I, e nessa condição criador do sistema de equitação que ficou conhecido como arte de Marialva, em atenção ao seu nome nobiliárquico.

Na segunda metade do século XVIII foi considerado o melhor cavaleiro de Portugal do seu tempo, tendo tido um papel decisivo no aperfeiçoamento da Picaria Real e da arte equestre portuguesa, sendo conhecido pela chamada arte de Marialva de que foi  sucessora a Escola Portuguesa de Arte Equestre. Foi mesmo retratado demonstrando exercícios da alta escola no tratado de cavalaria do séc. XVIII, a  Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavallaria (1790), da autoria de Manuel Carlos de Andrade (1755-1817).

D. João V fundara em 1748   a Coudelaria de Alter, para o Alter-Real ( sub-raça do cavalo Lusitano), um apuramento ordenado pelo próprio rei. Na segunda metade do séc. XVIII, D. José I ampliou a iniciativa de seu pai, estruturou a Coudelaria e deu-lhe o primeiro regime coudélico, para assim iniciar o período áureo da Coudelaria e do Alter-Real, sob orientação de D. Pedro de Alcântara e Menezes.

Este 4º Marquês de Marialva foi marido de Eugénia de Assis Mascarenhas, com quem teve seis filhos.

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: António Marques, 1998, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações é uma herança toponímica da Expo 98, que pelo Edital municipal de 16 de setembro de 2009 se viu acrescido de «ao Parque das Nações», para evitar equívocos com a Rua Garcia de Orta que desde 1911 existe na freguesia da Estrela (antes, Santos-o-Velho).

Estátua de Garcia de Orta, da autoria de Martins Correia, no IHMT desde 1958
(Foto: 1969, António da Silva Fernandes Duarte, Arquivo Municipal de Lisboa)

Junto ao Passeio das Tágides, o Jardim Garcia de Orta ao Parque das Nações evoca o médico e naturalista que nasceu em Castelo de Vide por volta do ano de 1500 e morreu em Goa em 1568, filho de pais de ascendência judaica, que estudou Artes, Filosofia e Medicina nas Universidades de Salamanca e Alcalá. Regressado a Portugal em 1525, foi médico de D. João III e obteve a cátedra de Filosofia Natural da Universidade de Lisboa em 1530. Todavia, por temer a Inquisição, partiu para a Índia em 1534 e aí se dedicou ao estudo de plantas raras desconhecidas na Europa, publicando em Goa em 1563, o Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia e Frutas nela Achadas, com a particularidade de nele incluir a primeira poesia impressa de Camões.

Este jardim integra 5 talhões com floras representativas de 5 locais diferentes: o de África, com vegetação representativa do deserto de Moçâmedes ( Angola) e da ilha de Inhaca (Moçambique); o da Macaronésia, com flora da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde; o de S. Tomé e do Brasil, com uma estrutura que ajuda a reproduzir o ambiente das plantas tropicais; o de Goa, baseado nos registos de Garcia de Orta; e o de Coloane que representa a vegetação da China meridional.

Cerca de doze anos após a morte de Garcia de Orta, em 1580, como era uso fazer-se aos judeus que tinham escapado com vida às malhas da Inquisição, foram desenterrados os seus ossos e queimados. Por outro lado, foi criado em Castelo de Vide, o Centro de Estudos Luso-Hebraicos Garcia d’ Orta (1988), o seu nome foi dado ao Hospital de Almada (1991), é o nome de uma Escola no Porto e é também topónimo um pouco por todo o país, como acontece em Abrantes, Albufeira, Almada, Amadora, Baixa da Banheira, Braga, Cabanas de Tavira, Caneças, Casal de Cambra, Corroios, Elvas, Ermesinde, Estoril, Lagos, Linda-a-Velha, Montijo, Odivelas, Oeiras, Portimão, Porto, Quinta do Conde (Sesimbra), Rio de Mouro, Rio Tinto, Seixal, Senhora da Hora (Matosinhos), Vale da Amoreira (Moita), Valongo, Vila do Conde ou Vila Nova de Gaia.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Jardim com o busto de Júlio de Castilho

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Rui Mendes)

Com um miradouro sobre Alfama, a partir do Largo de Santa Luzia, encontramos o Jardim que desde o dia 25 de julho de 1929 se inaugurou com um busto do olisipógrafo Júlio de Castilho, da autoria do escultor Costa Mota (sobrinho).

Falecido dez anos antes, no dia 8 de fevereiro de 1919, o olisipógrafo Júlio de Castilho, havia sido já consagrado na toponímia de Lisboa por via do Edital municipal de 2 de março de 1925, com o Largo Júlio de Castilho, o largo mais próximo da rua onde morara no Lumiar, acrescido da legenda «Erudito Escritor e Historiador/1840 – 1919».

A inauguração em 25 de julho de 1929
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Quatro anos mais tarde, em 25 de julho de 1929, a Comissão Administrativa da CML inaugurou o busto de Júlio de Castilho neste pequeno jardim também conhecido por Jardim de Santa Luzia, pela proximidade à Igreja de São Brás ou de Santa Luzia, erguida sobre a muralha da antiga cerca. O miradouro resultou de uma iniciativa de Quirino da Fonseca, para fornecer à cidade uma panorâmica geral de Alfama e do Rio Tejo, sendo que o assunto esteve alguns anos em discussão. Raul Proença no seu Guia de Portugal afirma no seu 1º volume, publicado pela primeira vez em 1924,  afirma que «Pela parte detrás da igreja existe, suportado pela muralha que desce a calçada de S. João da Praça, contornando-a, um troço de terreno, hoje inculto» e defende que «Como o templo não tem nenhum valor, poder-se-ia arrasar todo esse terreno e transformá-lo num jardim público, o que não só ofereceria aos habitantes uma janela aberta sobre o Tejo como também teria a vantagem de evitar o futuro desaparecimento do mais importante trecho de muralha goda que Lisboa possui.» Mais tarde, o espaço somou um painel de azulejos representando A Tomada do Castelo de São Jorge aos Mouros por Dom Afonso Henriques e outro painel com a a antiga Praça do Comércio (da autoria de António Quaresma e produzidos na Fábrica Viúva Lamego)  e ainda um outro, com uma vista de Lisboa com barcos no Tejo (desenho de Martins Barata e pintado em 1939 por Victoria Pereira).

Júlio de Castilho (Lisboa/30.04.1840- 08.02.1919/Lisboa), 2.º visconde de Castilho por ser filho primogénito de António Feliciano de Castilho (também perpetuado em Lisboa na Rua Castilho), é considerado um percursor dos estudos olisiponenses, tendo acumulado ao logo da vida uma importante coleção pessoal de documentos sobre o tema, que se encontra depositada na Biblioteca Nacional.

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Pulido Garcia: dos jardins de Lisboa para o jardim com o seu nome

Freguesia de Belém
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Com a legenda «Responsável pelos Jardins de Lisboa/1904 – 1983», foi o engº agrónomo Pulido Garcia fixado como topónimo de um pequeno jardim  em Belém, situado junto à Avenida Ilha da Madeira,  no ano de 1985, dois anos após o falecimento do funcionário da autarquia, através do Edital municipal de 20 de agosto de 1985.

O Jardim Pulido Garcia homenageia José da Orta Cano Pulido Garcia (Serpa/21.11.1904 – 02.03.1983/Serpa), natural da freguesia de Salvador, no concelho de Serpa, filho de Domingos Pulido Garcia e de Mariana da Consolação Orta Cano Garcia.

Formado como engenheiro silvicultor e agrónomo foi trabalhar como funcionário da C.M.L., destacando-se na chefia da Repartição de Arborização e Jardinagem, em que foi o responsável pela instalação da maior parte dos espaços verdes da cidade, como o Parque Florestal de Monsanto ou o  Jardim do Castelo de São Jorge, este último com plano do engº agrónomo e arqº paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, em 1959.

Curiosamente, na sua terra natal – Serpa – existe também um Jardim com o seu nome, o Jardim Municipal Eng.º Pulido Garcia, o qual em  1975 teve uma grade  remodelação justamente estruturada por Pulido Garcia que se reformara em Lisboa e voltara para Serpa.

Freguesia de Belém
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)