A Rua de São Bartolomeu passou pelo Edital municipal de 13 de dezembro de 1911 a denominar-se Rua Bartolomeu de Gusmão, com a legenda «Inventor dos Aeróstatos/1675 – 1724», em homenagem ao criador da Passarola Voadora, embora mais de 40 anos depois a legenda tenha passado a «Precursor da Aeronáutica/1685 – 1724» de acordo com o parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 24 de julho de 1958.
Este arruamento da antiga Freguesia de Santiago (hoje, Santa Maria Maior), com início na Rua do Milagre de Santo António e fim na Rua do Chão da Feira, que segundo Norberto de Araújo corresponde «sensivelmente à setecentista Rua Direita das Portas de Alfofa», veio com a vereação republicana a perpetuar Bartolomeu Lourenço de Gusmão (Brasil- Santos/1685 – 18.11.1724/Toledo -Espanha), filho do português Francisco Lourenço Rodrigues e da brasileira Maria Álvares, que aos 24 anos inventou um aeróstato – um balão de ar aquecido capaz de voar – e mostrou as suas experiências a D. João V e à sua corte, em 1709. Por tal feito foi cognominado pelos seus contemporâneos como Padre Voador e o seu invento ficou conhecido como Passarola Voadora. Durante a segunda metade do século XVIII difundiu-se a ideia de que o próprio Bartolomeu de Gusmão teria voado entre o Castelo de São Jorge e o Terreiro do Paço, num aeróstato por ele construído, mas que só se pode entender como uma lenda enquanto não se encontrarem documentos que registem esse acontecimento.
Este padre jesuíta estudou no Seminário de Belém, na Baía, com especial empenho em Matemática e Ciências Físicas e aí foi ordenado. Logo aos 15 anos, para resolver o problema de falta de água do Seminário concretizou o seu primeiro invento: uma máquina de elevar água até ao cume do monte onde se encontrava instalada a instituição. Também aí teve importância o reitor do Seminário e seu preceptor, Alexandre de Gusmão, que aliás era um dos seus 11 irmãos e que se tornou um importante diplomata de D. João V, fazendo com que Bartolomeu em 1718 escolhesse «de Gusmão» como apelido e o acrescentasse ao seu nome original.
O padre Bartolomeu viveu em Lisboa, de 1701 a 1705, alojado na casa do 3º Marquês de Fontes e regressou em 1708 para ficar até 1724, com algumas interrupções. Houve um interregno entre 1713 e 1715 quando residiu na Holanda, e talvez também em Inglaterra e França. Em 1710 inventou «vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água»; em 1721 foi a vez do «carvão de lama» e em 1724, da «máquina para aumentar o rendimento dos moinhos hidráulicos». Para desenvolver este trabalho arrendou umas casas em Santa Apolónia, que eram do senhor de Pancas, onde construiu um moinho de vento e fazia observações astronómicas. Sabe-se também que vivia no Vale de Santo António, perto da Bica do Sapato.
Em 1720, Bartolomeu de Gusmão tornou-se bacharel, licenciado e doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra e foi nomeado académico da Academia Real de História, também com a incumbência de redigir a História Eclesiástica do Bispado do Porto. O rei D. João V colocou-o em Lisboa, na Secretaria de Estado, para decifrar mensagens interceptadas aos diplomatas estrangeiros, tanto mais que como poliglota que era, também executou traduções de francês, italiano, flamengo, inglês, grego, latim e hebraico. Em 1722, foi nomeado fidalgo-capelão da casa real.
No entanto, em setembro de 1724 fugiu de Portugal, por ter sido acusado de bruxaria e judaísmo, fruto da denúncia do padre Luiz Gonzaga à Inquisição. Na viagem de fuga adoeceu e foi internado no Hospital da Misericórdia de Toledo, onde acabou por falecer, com 38 anos de idade, mas ao longo dos séculos seguintes foi recebendo inúmeras homenagens.
Em 1912, houve uma cerimónia de colocação de uma lápide, na esplanada do Castelo de São Jorge, a comemorar a primeira elevação do Aeróstato do Padre Bartolomeu de Gusmão, promovida pelo Aero Club de Portugal, onde estiveram presentes o Tenente Coronel Hermano de Oliveira e o Dr. Veloso Rebelo, encarregado dos negócios do Brasil. Setenta anos depois, o Memorial do Convento (1982) de José Saramago, colocou Bartolomeu de Gusmão como uma das personagens centrais do romance. E sete anos mais tarde, em 25 de outubro de 1989, foi inaugurada na Alameda das Comunidades Portuguesas, via de acesso ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, uma estátua de pedra sua, da autoria do escultor Mestre Martins Correia, executada no início da década de setenta, quando já dava o seu nome a um Aeroporto da Força Aérea Brasileira. Na década de noventa do séc. XX, a Escola Básica do 2º ciclo sita na Rua da Bela Vista à Lapa nº 43 deixou de ser a Escola Paula Vicente para ter como Patrono Bartolomeu de Gusmão.
Para além disto, Bartolomeu de Gusmão teve honras de retrato em selos de Portugal, Brasil, Paraguai e Vaticano, assim como o seu nome passou a topónimo em inúmeras artérias portuguesas como em Chaves, Damaia, Fernão Ferro, Murtosa, Oeiras, Ovar, Parede, Rio de Mouro e Tires, assim como no Brasil, em Anápolis, Aparecida, Baía, Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Mangueira, Minas Gerais, Pernambuco, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Salvador, Santa Catarina, Santos e São Paulo, entre outras.
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