José Régio e Mário Dionísio, dois intelectuais multifacetados como topónimos de Lisboa

Poema de Mário Dionísio na Presença nº53 e 54, 1938
((Imagem: © CER))

José Régio e Mário Dionísio, ambos professores de carreira e intelectuais multifacetados empenhados na literatura, nas artes plásticas, na crítica e ensaio, também partilham a homenagem de darem nome a artérias de Lisboa, o primeiro desde 7 de agosto de 1997 e o segundo, desde 1 de agosto de 2005.

José Régio, o teorizador da Presença que logo no nº 1, na primeira página, publicou Literatura Viva, texto que pode ser visto como manifesto programático da publicação, aceitou a colaboração do jovem Mário Dionísio, quinze anos mais novo,  durante a década de trinta até este se afastar, em conjunto com João José Cochofel, Fernando Namora e Carlos de Oliveira.  E no espólio de Mário Dionísio, encontram-se originais manuscritos ou dactilografados de vários autores, sendo Régio um deles, o que nos recorda a ideia de 1937 nunca concretizada, por falta de sala, de organizar o I Certame de Arte Moderna, pelo que  pediu para uma brochura de inéditos a colaboração dos poetas contemporâneos José Régio, Edmundo de Bettencourt, Fausto José, Francisco Bugalho, José Gomes Ferreira, João Falco/Irene Lisboa e Vitorino Nemésio. Tanto Régio como Dionísio também publicaram nas páginas de Cadernos da Poesia, a revista literária de Tomás Kim, José Blanc de Portugal e Ruy Cinatti nas décadas de quarenta e cinquenta.

A Rua Mário Dionísio nasceu do Edital municipal de 1 de agosto de 2005, na Rua A do PER 8, na Freguesia do Lumiar, doze anos após o falecimento de Mário Dionísio de Assis Monteiro (Lisboa/16.07.1916-17.11.1993/Lisboa), nascido que fora no nº 2 da Rua Andrade  e licenciado em Filologia Românica em 1939, pela Universidade de Lisboa, que se mostrou um intelectual multifacetado como escritor, ensaísta, pintor, crítico de arte e tradutor, para além de ter sido professor do Ensino Secundário durante praticamente quarenta anos, no Colégio Moderno e no Liceu Camões, assim como a partir de 1978 e até 1987 foi docente de Técnicas de Expressão do Português na Faculdade de Letras de Lisboa.

Mário Dionísio foi autor de uma obra literária autónoma, com ensaio, poesia, conto e romance, onde se podem salientar Poemas (1941), As Solicitações e Emboscadas (1945), O Riso Dissonante (1950), Memória dum Pintor Desconhecido (1965), os poemas em francês Le Feu qui dort (1967), Terceira Idade (1982), o seu único romance Não há morte nem princípio (1969),os seus contos O Dia Cinzento (1944), Monólogo a Duas Vozes (1986) , a sua Autobiografia (1987) e o seu último livro, de contos,A morte é para os outros (1988).

Ao longo da sua vida foi um dos principais promotores e teorizadores do neorrealismo português, sendo assinalável a sua regular colaboração em jornais e revistas literárias para além da Presença, como Altitude, A Capital, Diário de LisboaO DiaboGazeta MusicalLiberdadeRepúblicaRevista de PortugalSeara Nova, O Tempo e o Modo ou Vértice. Foi ainda diretor de programas da RTP de dezembro 1975 a março de 1976.

Pintor desde 1941, usou os pseudónimos de Leandro Gil e José Alfredo Chaves, expondo em mostras coletivas desde a década de quarenta mas só em 1989 realizou a sua primeira exposição individual de pintura. Publicou também A Paleta e o Mundo,  obra editada em fascículos a partir de 1956 ( e até 1962) com orientação gráfica de Maria Keil que lhe valeu o Grande Prémio de Ensaio da Sociedade Portuguesa de Escritores (1963). Refira-se ainda que na sua obra pictórica pintou retratos dos seus contemporâneos, como Joaquim Namorado (1952),  Carlos de Oliveira e João José Cochofel (1988) ou José Gomes Ferreira (1989). Obteve também o troféu «Pintor do Ano» da Antena 1, em 1989.

Como cidadão, casou em 1940  com a sua antiga colega de curso Maria Letícia Clemente da Silva, de quem terá uma única filha, a escritora Eduarda Dionísio. Também se mostrou empenhadamente antirregime desde o início dos anos 30 do século passado, integrando o Movimento de Unidade Democrática (MUD), onde ficará responsável por estabelecer a ligação entre a sua Comissão de Escritores, Jornalistas e Artistas e o Partido Comunista Português, para onde entrará em 1945 e ficará até 1952. Na década de 60 frequentava ainda a tertúlia do Café Bocage, na Avenida da República, onde se encontrava com Augusto Abelaira, José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira, João José Cochofel,  e outros.

Mário Dionísio foi galardoado com o Prémio do Centro Português da Associação Internacional de Críticos, ex-aequo com Alexandre O’Neill, em 1982 e, nove anos depois, em 1991, o Museu do Neo-Realismo organizou em Vila Franca de Xira e em Lisboa, exposições e colóquios sobre os seus 50 Anos de Vida Literária e Artística. Finalmente, em setembro de 2008, familiares, amigos, ex-alunos, ex-assistentes, conhecedores e estudiosos da sua obra fundaram em Lisboa, na Rua da Achada, a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, que abriu ao público um ano depois.

Rua Mário Dionísio na Freguesia do Lumiar

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A «Presença» de Régio e as capas de Almada Negreiros e Sara Afonso

Sara Afonso e Almada Negreiros em óleo sobre tela de 1937, da autoria de Almada

Desde 1927 fundador e diretor da revista PresençaJosé Régio também se cruzou com dois dos artistas que elaboraram artigos sobre arte e capas para a publicação, que neste artigo juntamos por serem o casal Almada Negreiros e Sara Afonso, ambos topónimos de Ruas nas Freguesias dos Olivais e em Belém, respectivamente desde 1970 e 1988.

A estudar em Coimbra onde se licenciou em 1925, José Régio conheceu na Universidade Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões com os quais fundou e dirigiu a revista Presença – Folha de Arte e Crítica. O  primeiro número saiu em 10 de março de 1927 e esta publicação vai marcar  a história do modernismo em Portugal. Ao longo de 13 anos e 54 números, até encerrar em 1940, a Presença contou com inúmeras colaborações de nomes da cultura portuguesa como António Botto, António Navarro, Arlindo Vicente, Casais Monteiro, Delfim Santos, Diogo de Macedo, Edmundo de Bettencourt, Irene Lisboa, José Marinho, Luís de Montalvor, Maria Helena Vieira da Silva, Miguel Torga ou Saul Dias (pseudónimo usado pelo irmão de José Régio, Júlio Pereira), entre outros. A Presença foi ainda essencial para divulgar em Portugal autores estrangeiros como Apollinaire, Cecília Meireles, Ibsen, Dostoiesvky, Jorge Amado, Marcel Proust, Paul Valéry ou Pirandello.

Rua Sara Afonso na Freguesia de Belém

José Sobral de Almada Negreiros (S. Tomé e Príncipe – Roça da Saudade/07.04.1893 – 15.06.1970/Lisboa), artista multifacetado das artes plásticas e da literatura, que fez coreografia para bailado, caricatura, pintura a óleo, tapeçaria, gravura, pintura mural, mosaico, azulejo e vitral, deu o seu nome a uma rua dos Olivais praticamente um mês após o seu falecimento: faleceu a 15 de junho de 1970, no Hospital de S. Luís dos Franceses, mesmo ao cimo da Rua Luz Soriano, no mesmo quarto onde morrera o seu amigo Fernando Pessoa e a 11 de julho seguinte, um Edital municipal colocou o seu nome na artéria referenciada como  Rua E 2 da Célula E dos Olivais Sul, incluindo os Impasse EJ, 3D, 3D1, EU e EV e abrangendo os lotes 454 a 462, 470a 474, 487a 494 e 504 a 506.

Essencialmente autodidata, publicou em 1911 os primeiros desenhos e caricaturas e, no ano imediato, redigiu e ilustrou de forma integral o jornal manuscrito A Paródia, para em 1913 voltar a participar na Exposição dos Humoristas Portugueses, preparar o primeiro projeto de bailado (O sonho da rosa), desenhar o primeiro cartaz (Boxe) e, em 1914 ser diretor artístico no semanário monárquico Papagaio Real, para além de ter sido colaborador da revista Orpheu em 1915, veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa e,  publicou o «Manifesto Anti-Dantas e por extenso»,  por ocasião da estreia da peça de teatro Soror Mariana Alcoforado de Júlio Dantas, reagindo assim às críticas negativas deste à Orpheu segundo a «estética do soco» de Marinetti. Ainda nesse ano escreve a novela A engomadeira (publicada em 1917) e o poema A cena do Ódio (publicado parcialmente em 1923). Em 1917, publicou a novela K4 O Quadrado Azul, realizou a conferência Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX  e colaborou no único número de Portugal Futurista, revista apreendida pela polícia pela inclusão da novela Saltimbancos do próprio Almada , considerada obscena por mencionar cavalos a cobrirem éguas. De 1920 para a frente Almada colaborou em diversos jornais e revistas, publicando desenhos humorísticos, textos e ilustrações; realizou capas de livros e revistas; publicou Invenção do Dia Claro (1921) e escreveu o romance Nome de Guerra (em 1925 e publicado em 1938); produziu quadros para A Brasileira do Chiado (1925) e para o Bristol Club (1926); escreve a peça Deseja-se Mulher dedicada a Sarah Afonso; cria o cartaz político Votai a Nova Constituição (1933); colabora com Pardal Monteiro com os vitrais para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1934) e a decoração do edifício do Diário de Notícias (1935); executou as pinturas murais da Gare Marítima de Alcântara (1945-1947) e da Rocha do Conde de Óbidos (1946- 1948); pintou o retrato de Fernando Pessoa (1954), realizou painéis decorativos para a Cidade Universitária (1957 – 1961) e o painel de pedra geométrico para o átrio do edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian (1968-1969), fazendo a sua derradeira intervenção pública no programa televisivo Zip-Zip, em julho de 1969.

Sarah Affonso que sobreviveu treze anos a Almada, só foi nome de rua dezoito anos depois de ele o ser, na artéria que antes era vulgarmente conhecida por Rua da Cooperativa de Caselas, pelo Edital municipal de 20 de abril de 1988 que atribuiu 12 topónimos em ruas, sendo 7 de mulheres, a saber:  a pintora Sara Afonso e 1ª mulher a frequentar as tertúlias de A Brasileira (Rua da Cooperativa de Caselas), a médica Carolina Ângelo e  1ª mulher a votar em Portugal (Rua 1), a republicana setecentista Leonor Pimentel (Rua 2), a pedagoga Alice Pestana (Rua 3),  Virgínia Quaresma a 1ª jornalista portuguesa (Rua 4), a 1ª notária portuguesa Aurora de Castro (Rua 6) e a escritora Olga Morais Sarmento (Rua 7).

Sarah Affonso (Lisboa/ 13.05.1899 – 14.12.1983/Lisboa) foi uma pintora e ilustradora que foi uma das últimas discípulas de Columbano na Escola de Belas Artes de Lisboa, a que somou duas estadias em Academias livres de Paris (1923-1924 e 1928-1929) e a frequência das tertúlias de A Brasileira, nos anos trinta do séc. XX, que até aí eram território masculino. Produziu um estilo oriundo do imaginário popular minhoto, zona onde viveu dos 4 aos 15 anos, a que aliou uma intensa temática de noivados, maternidades e famílias. Sara integrou a   segunda geração de pintores modernistas portugueses, com Bernardo Marques, Mário Eloy ou Carlos Botelho. Acabou  por  abandonar a pintura no final da década de quarenta, tendo ainda sido galardoada com o Prémio Amadeo de Sousa Cardoso (1944) do SNI. Na década seguinte regressou à ilustração, em obras de literatura infantil com A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner Andresen, para além de na sua carreira ter colaborado no grafismo das revistas Presença e Eva. A sua obra pictórica está representada no Museu do Chiado, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, bem como nos Museus de Bragança e de Amarante, tendo sido agraciada com Ordem de Santiago de Espada (1981). Dá também nome à Escola Básica e Jardim de Infância sita na Rua Almada Negreiros, nos Olivais.

José de Almada Negreiros e Sarah Affonso casaram 1934, residiram  no nº 42 da Rua de São Filipe Nery, tendo tido dois filhos: José Afonso e Ana Paula.

Rua Almada Negreiros na Freguesia dos Olivais

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A Festa do Japão no jardim da Rua Vieira Portuense

Rua Vieira Portuense e Jardim Vasco da Gama
(Foto: Ana Luísa Alvim| CML)

No próximo sábado, dia 22 de junho de 2019, das 14:00 às 22:00 horas, vai decorrer a 9ª Festa do Japão em Belém, no Jardim Vasco da Gama da Rua Vieira Portuense, inserida nas Festas de Lisboa’19.

Fronteiro à Rua Vieira Portuense o Jardim Vasco da Gama foi construído nos anos oitenta do século XX a partir do traçado do  arquiteto António Saraiva para uma área de 4,2 hectares. Já a Rua Vieira Portuense homenageia o pintor Francisco Vieira e foi atribuído pelo Edital municipal de 7 de agosto de 1911 na artéria até aí designada como Rua da Cadeia. Por Edital de 20 de setembro de 1915 foi-lhe acrescentada a artéria de continuação, a Rua do Cais de Belém e por isso a Rua Vieira Portuense estende-se hoje da Praça Afonso de Albuquerque até à Travessa da Praça.

O conjunto urbano da Rua Vieira Portuense integra prédios do séc. XVI ao XVIII,  junto ao que foi a antiga praia de Belém e ainda assim surge na planta de 1858 de Filipe Folque, sendo então o seu topónimo Rua da Cadeia, que era paralela e maior que a Rua Direita de Belém (hoje Rua de Belém) e que tinha a meio e mais próximo do rio um Mercado. Em 24 de julho de 1880 foi colocada a primeira pedra de um novo Mercado e na planta de 1909 de Silva Pinto já podemos observar o novo Mercado instalado no meio da Rua da Cadeia e da Rua do Cais. Ao lado do Mercado e paralela à Rua da Cadeia existia uma Rua Bahuto e Gonçalves que terminava na Praça Dom Vasco da Gama, sendo hoje ambas espaço dos jardins. O Edital municipal de toponímia de 1911 tornou a Rua da Cadeia em Rua Vieira Portuense e a Rua Bahuto e Gonçalves em Rua Paulo da Game e o Edital de 1915 somou a Rua do Cais à Rua Vieira Portuense. A partir de 1939 toda a zona começa a ser remodelada para aí se instalar a Exposição do Mundo Português de 1940, finda a qual ficou a Rua Vieira Portuense e uma zona de terras a separá-la do Tejo.

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D. Filipa de Vilhena armando seus filhos cavaleiros (1801, Londres) de Vieira Portuense

Francisco Vieira (Porto/13.05.1765 – 02.05.1805/Funchal) distinguiu-se como pioneiro do neoclassicismo na pintura portuguesa, tal como Domingos Sequeira, ambos pintores régios, com o nome artístico de Vieira Portuense, por referência à sua cidade natal e para se distinguir do lisboeta Vieira Lusitano.

Presume-se que terá aprendido a pintar paisagens com o seu pai, Domingos Francisco Vieira, a par do ofício como droguista, assim como terá tido João Glama Strobërle e Jean Pillment como mestres e terá frequentado a Aula de Debuxo e Desenho do Porto. Depois veio para Lisboa, onde estudou na Casa Pia e na Aula Régia de Desenho, a partir de 1787. Seguiu para Roma em 1789, financiado pela família, pela Feitoria Inglesa e talvez também pela Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro. Em Roma, foi discípulo de Domenico Corvi e obteve o 1.º prémio de Desenho no concurso da Academia do Nu do Capitólio. Em Itália, esteve ainda em Parma – onde em 1794 se tornou académico da Academia de Belas Artes local-, Cremona, Bolonha – onde ingressou na Academia Clementina em 1795-, e Nápoles, para além de ter viajado também  pela Alemanha e Inglaterra, onde residiu em Londres na casa do embaixador D. João de Mello e Castro em 1789 e a 9 de julho de 1799 casou com Maria Fabbri, uma bolonhesa viúva de um aluno de Bartolozzi, pelo que após o casamento passou a viver na casa de Bartolozzi em North End (Fulham).

Vieira Portuense regressou a Portugal em 1800 e foi contratado pela Junta da Administração da Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro como professor da Aula de Desenho da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto, de que viria a ser diretor em 1803. Entre 1801 e 1802 também trabalhou em Lisboa, nas ilustrações de uma edição de “Os Lusíadas“, promovida por D. Rodrigo de Sousa Coutinho.

Ao contrair tuberculose em 1805 mudou-se para a Madeira, por ser considerada mais saudável, mas acabou por falecer lá antes de completar 40 anos de vida. A sua obra está presente no Museu Nacional de Arte Antiga e no Museu Nacional de Soares dos Reis (Porto), sendo famosos os seus quadros Leda e o Cisne (1798) ou D. Filipa de Vilhena armando os filhos cavaleiros (1801), para além de Latona e os camponeses da Lícia pertença da Câmara Municipal do Porto, assim como Banho de Diana que se encontra na Galeria Nacional de Parma.

Freguesia de Belém

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Leitão de Barros o realizador do 1º filme sonoro português, numa Rua de São Domingos de Benfica

Leitão de Barros, por Amarelhe, na capa do Sempre Fixe, de 22 de agosto de 1929

Leitão de Barros, o realizador de A Severa – o primeiro filme sonoro português, exibido em 1931 – e o criador das Marchas Populares de Lisboa em 1932, conhecido como o homem dos sete instrumentos, teve o seu nome perpetuado numa Rua de São Domingos de Benfica, pelo Edital municipal de 4 de novembro de 1970, três anos após o seu falecimento.

A Rua Leitão de Barros resultou de uma sugestão do próprio Presidente da edilidade de então, Engº Santos e Castro,  e ficou no 1º Impasse à Rua Padre Francisco Álvares, tendo pelo mesmo Edital  ficado no 2º Impasse a Rua Raquel Roque Gameiro, consagrando a cunhada de Leitão de Barros e igualmente ilustradora como a sua irmã Helena Roque Gameiro.

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

José Júlio Marques Leitão de Barros (Lisboa/22.10.1896 – 29.06.1967/Lisboa), homem dos sete ofícios, foi: professor do ensino secundário, pintor, cenógrafo, dramaturgo e ainda, jornalista e cineasta (as duas áreas pelas quais ganhou mais fama), bem como por aquilo que hoje designaríamos como produtor de eventos.

Leitão de Barros foi o pioneiro da primeira geração de cineastas do sonoro, sendo seu o primeiro filme sonoro português: A Severa, adaptado do original de Júlio Dantas,estreado em 1931, . Leitão de Barros começou como cineasta em 1918, com Malmequer e Mal de Espanha, distinguindo-se depois pelas suas super produções históricas como Bocage(1936), Inês de Castro (1945) ou Camões (1946), para além de Maria do Mar (1930), Lisboa, Crónica Anedótica (1930), As Pupilas do Senhor Reitor (1935), Maria  Papoila (1937), Ala Arriba! (1942) ou Vendaval Maravilhoso (1949), no qual Amália Rodrigues integrou o elenco.  No documentário, salientam-se os seus Sidónio Pais – Proclamação do Presidente da República (1918), Nazaré (1927),  Legião Portuguesa (1937), Mocidade Portuguesa (1937), A Pesca do Atum (1939), Comemorações Henriquinas (1960), A Ponte da Arrábida Sobre o Rio Douro (1961) ou A Ponte Salazar sobre o Rio Tejo em Portugal (1966).  Leitão de Barros foi também o principal animador da concretização dos estúdios da Tobis Portuguesa, na Quinta das Conchas, no Lumiar.

Leitão de Barros frequentou a Faculdade de Ciências e a de Letras mas  acabou por concluir o curso de arquitetura na  Escola de Belas Artes de Lisboa, assim como o curso da Escola Normal Superior de Lisboa, após o que foi professor de Desenho, Geometria Descritiva e Matemática nos Liceus Camões e Passos Manuel. Casou em 17 de agosto de 1923 com a ilustradora Helena Roque Gameiro (1895 – 1986), a 2ª filha de Alfredo Roque Gameiro.

No jornalismo, começou em 1916. Fundou e dirigiu O Domingo Ilustrado (1925-1927) e O Notícias Ilustrado (1928-1935). Colaborou em jornais como O Século – onde criou O Século Ilustrado e a Feira Popular de Lisboa, em 1943 -,  A Capital,  ABC, a revista Contemporânea e a revista de cinema Movimento, tendo sido o Diário de Notícias a sua última tribuna, de 1953 a 1967, onde saía aos domingos a sua crónica semanal «Os Corvos».

Nas décadas de trinta e quarenta, Leitão de Barros investiu em eventos de animação da cidade. Começou as Marchas Populares em 1932, no Capitólio, para revitalizar o Parque Mayer, sendo que em 1934 já foram cerca de 300 mil pessoas que assistiram ao desfile da Praça do Comércio ao Parque Eduardo VII. Depois, foram os monumentais cortejos como o Cortejo das Viaturas (1934), os Cortejos das Festas da Cidade (em 1934 e 1935), o da Embaixada do século XVIII (1936),  o Cortejo e o Torneio Medieval dos Jerónimos (1938) e o Cortejo Histórico de Lisboa(1947).  Em 1939 e 1940, foi o Secretário Geral da Exposição do Mundo Português e o  responsável pela Nau Portugal.  Foi agraciado com a comenda da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada em 1935 e com o Grande-Oficialato da Ordem Militar de Cristo em 1941. Também foi o organizador das receções triunfais a Franco (1949) e à Rainha Isabel II (1957).

Como pintor, dispunha de  ateliê na Rua D. Pedro V e expôs em museus portugueses, no Museu de Arte Contemporânea de Madrid e ainda, no Brasil. Foi também cenógrafo e dramaturgo de muitas peças que subiram à cena em Lisboa, nomeadamente no Teatro Nacional, para além de ter sido diretor da Sociedade Nacional de Belas-Artes.

Fernando Matos Silva fez sobre ele Leitão de Barros, O Senhor Impaciente (1998) e o seu nome é também topónimo de Almada ( num Jardim, numa Rua e numa Praceta da Sobreda), Amadora (Alfragide), Loures (São João da Talha), Montijo, Oeiras (Queijas), Portimão, Seixal (Fernão Ferro) e Sintra (em Mem Martins e em Rio de Mouro).

Retalhos da vida de Fernando Namora numa Rua de Telheiras

Freguesias de Carnide e do Lumiar
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O escritor e médico Fernando Namora, autor de Retalhos da Vida de um Médico, logo no ano seguinte ao seu falecimento passou a ser o topónimo da até aí identificada como Rua A do estudo de urbanização da Quinta de Santo António a Telheiras, ficando a ligar a Rua Prof. Francisco Gentil à Rua do Seminário desde a publicação do Edital Municipal de 17 de julho de 1990.

Capa da revista Ilustração de 22 de dezembro de 1975

Fernando Gonçalves Namora (Condeixa/15.04.1919 – 31.01.1989/Lisboa) foi um médico que se construiu também como escritor. Começou a sua carreira literária a solo com poesia –  Relevos (1937) onde se notam a influência do grupo da Presença – e o seu terceiro livro de poesia, Terra, iniciou em 1941 a colecção Novo Cancioneiro, uma iniciativa neorrealista nascida nas tertúlias coimbrãs de José João Cochofel. Contudo, o seu primeiro prémio – o Prémio Almeida Garrett – obteve-o com o romance As Sete Partidas do Mundo (1938). São também obra sua que aqui destacamos Fogo na Noite Escura (1943), Casa da Malta (1945),  As Minas de S. Francisco (1946), Retalhos da Vida de um Médico (1949-1963),  A Noite e a Madrugada (1950), Deuses e demónios da medicina (1952) que foi Prémio Ricardo Malheiros, O Trigo e o Joio (1954), Domingo à Tarde (1961) que foi Prémio José Lins do Rego e sobretudo, Rio Triste (1982) que foi galardoado com o Prémio Fernando Chinaglia, o Prémio Fialho de Almeida e o Prémio D. Dinis.

Refira-se que várias da suas obras passaram às telas cinematográficas. Retalhos da Vida de um Médico realizado por Jorge Brum do Canto (1962) foi mesmo selecionado para o Festival de Berlim e foi adaptado para série televisiva (1979-1980) por Artur Ramos e Jaime Silva. Manuel Guimarães, com Manuel da Fonseca levou o Trigo e o Joio para um filme (1965), no mesmo ano em que António Macedo realizou Domingo à Tarde, selecionado para o festival de Veneza. Artur Ramos  voltou a pegar neste escritor em A Noite e a Madrugada (1985) e no ano seguinte, com adaptação de Dinis Machado para televisão, em Resposta a Matilde. Vítor Silva também fez a curta metragem O Rapaz do Tambor (1990).

Como médico,  Fernando Namora exerceu na sua terra natal, na Beira Baixa (na aldeia de Monsanto permaneceu entre outubro de 1944 e outubro de 1946) e no Alentejo, até se fixar em Lisboa, no Instituto Português de Oncologia. Ao longo da sua vida também foi ensaísta de temáticas diversas e pintou, tendo mesmo em 1938 alcançado o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves.

Fernando Namora foi condecorado com a Medalha de Ouro da Societé d’Encouragement au Progrés (1979) e com a Grã Cruz da Ordem do Infante (1988). Em 1981, foi proposto para o Prémio Nobel da Literatura, pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo PEN Clube.

O nome deste escritor integra também a toponímia de Condeixa-a-Nova, Abrantes, Albufeira, Alcabideche, Alhos Vedros, Almada (Caparica, Charneca da Caparica ), Alverca do Ribatejo, Amadora, Baixa da Banheira, Barreiro (Santo António da Charneca, Barreiro), Beja, Borba, Braga, Bragança, Loures ( Bobadela, Camarate), Castelo Branco, Coimbra, Estoril, Évora, Fafe (Fafe, Regadas ),  Faro, Ferreira do Alentejo ( Canhestros, Figueira dos Cavaleiros ), Gondomar ( Rio Tinto, São Cosme), Idanha-a-Nova, Lagos, Loulé, Loures (Loures, Prior Velho, Santa Iria de Azóia, São João da Talha, São Julião do Tojal  ), Lousã, Maia ( Pedrouços, Vermoim), Mangualde, Marvão, Massamá, Moita,  Montemor-o-Novo, Odivelas ( Odivelas, Famões, Póvoa de Santo Adrião, Ramada), Oeiras, Ovar, de Palmela, Pavia, Póvoa de Santa Iria, São Domingos de Rana, Santa Maria da Feira ( Arrifana, Fiães ), Seixal (na Amora, Arrentela, Corroios ), Sabugal, Salvaterra de Magos, Sesimbra (Quinta do Conde,Sesimbra),  Setúbal, Torres Vedras, Trofa (São Mamede Coronado), Valongo, Vila Franca de Xira, de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Gaia (Arcozelo, Vila Nova de Gaia).

Freguesias de Carnide e do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do Parque Silva Porto

Freguesia de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Parque Silva Porto, conhecido como Mata de Benfica, foi a razão para nascer a Rua do Parque, no Bairro de Casas Económicas de Santa Cruz de Benfica, em 1957.

A Rua do Parque era a Rua A do plano de urbanização do Bairro de Casas Económicas de Santa Cruz de Benfica,  e foi atribuída pelo Edital municipal de 5 de agosto de 1957. Este topónimo resultou da proximidade ao Parque Silva Porto e por ser um arruamento principal do Bairro como se pode ler na Ata da Comissão Municipal de Toponímia de 22 de fevereiro de 1957: «(…) a Comissão emitiu o parecer de que em virtude do bairro se encontrar dividido em dois grupos, separados pelo Parque Silva Porto, que as ruas transversais do grupo à direita daquele Parque, sejam designados com números ímpares, a exemplo do que se tem feito para outros bairros de casas económicas; e que às quatro artérias principais, ou sejam as ruas um, e A, junto ao Parque, e ruas sete, e A, junto à Estrada Militar, se atribuam, respectivamente, os nomes de Rua das Garridas, Rua do Parque, Rua da Casquilha, e Rua da Várzea.»

Conhecido vulgarmente por Mata de Benfica, este espaço verde lisboeta foi inaugurado no dia 23 de julho de 1911, mas só em 1918 adquiriu a designação Parque Silva Porto, em homenagem ao pintor António Carvalho da Silva (Porto/1850-1893/Lisboa), que adoptara o apelido Porto como demonstração de amor à sua cidade natal. Neste Parque foi colocado um busto seu, da autoria de Costa Mota (Sobrinho), a que foi acrescentada uma palma em bronze em 1950, por ocasião do centenário do nascimento do artista, por iniciativa da Sociedade Nacional de Belas Artes.

Nos dias de hoje esta Rua do Parque liga a Rua das Garridas à Alameda Padre Álvaro Proença.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A rua do pintor ibérico Sanches Coelho ou Sánchez Coello

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Sanches Coelho, o pintor retratista do século XVI, português segundo uns ou espanhol de acordo com outros, conhecido como o Ticiano Português é o topónimo de uma artéria da Freguesia das Avenidas Novas desde 1972, que hoje encontramos a unir a Avenida das Forças Armadas à Rua da Cruz Vermelha.

Uma informação da Escrivania municipal deu conta à Comissão Municipal de Toponímia que os nomes de Sanches Coelho, Frei António Brandão, Inocêncio Francisco da Silva, Dom António Caetano de Sousa, General José Paulo Fernandes e Dom João II haviam tido deliberações municipais de 23 de março de 1932, 14 de abril de 1932 e 12 de abril de 1934 mas que esses arruamentos nunca chegaram a ter execução, e daqui surgiu  que Sanches Coelho e os três seguintes fossem atribuídos pelo Edital municipal de 1 de fevereiro de 1972, tendo cabido ao pintor a Rua A à Avenida 28 de Maio a que já em 2009, pelo Edital de 16 de julho, se acrescentou a Rua D no prolongamento da Rua Sanches Coelho do Loteamento da Avenida das Forças Armadas.

O homenageado é o pintor Afonso Sanches Coelho ou Alonso Sánchez Coello, que terá nascido em Benifairó (Valência, Espanha) entre 1529 e 1532 e falecido em Madrid entre 1588 e 1590, sendo certo que foi muito apreciado tanto na corte de Lisboa como na de Madrid e pelos seus retratos conhecido em diversas cortes europeias.

Supõe-se que terá viajado para Lisboa na sua juventude e assim foi na capital portuguesa que iniciou a sua formação artística. Sabido é que se tornou protegido de D. João III, que adorava os seus quadros e por isso mesmo o enviou para a Flandres para completar a sua formação, com o já reconhecido pintor António Moro, que foi o mestre que mais o marcou e influenciou. Julga-se que também terá estudado com Rafael Urbino, em Roma.

Há quem garanta que era conhecido como o Ticiano Português, nome que lhe terá sido dado por Filipe II,  como há quem defenda que foi o mais proeminente pintor do Renascimento espanhol e grande retratista da corte de Filipe II, monarca que muitas vezes retratou e para quem trabalhou a partir de 1555 e que enviou os seus quadros a todas as cortes europeias, sendo certo que Sanches Coelho também retratou D. Sebastião em 1562.

A exemplo de Ticiano, os retratos em tela de Sanches Coelho destacam-se pelo consistente detalhe dos trajes e dos seus tecidos, pela imponência do escuro e pela penetração psicológica do modelo retratado, como se pode observar, por exemplo na obra  Infantas Isabel Clara Eugénia e Catalina Micaela (1568).

Segundo Cyrillo Volkmar-Machado escreveu no séc. XIX, o pintor teve uma filha nascida em 1564 em Espanha, de nome Isabel Sanches, que foi sua discípula em pintura.

A obra deste pintor está representada no Museu do Prado (em Madrid) e no Museu Nacional de Arte Antiga (em Lisboa).

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do pintor de Lisboa, Carlos Botelho

Freguesia do Beato
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Carlos Botelho fez de Lisboa a protagonista central das suas telas  e no próprio ano em que faleceu a edilidade lisboeta colocou-o como topónimo de uma Rua da freguesia do Beato, que era identificada como arruamento D do Plano de Reconversão Urbana da Curraleira-Embrechados, através do Edital municipal de 16 de novembro de 1982. A artéria foi aumentada em 2008,  com a incorporação da Rua 8 à Rua Carlos Botelho, através do Edital municipal de 3 de julho.

Carlos Botelho em 1968
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, Casa Fotográfica Garcia Nunes)

Carlos António Teixeira Basto Nunes Botelho (Lisboa/18.09.1894 – 18.08.1982/Lisboa) foi um artista multifacetado que trabalhou em cerâmica, banda desenhada, pintura, ilustração, caricatura. Filho único de pais músicos, Carlos Botelho aprendeu a tocar violino. Estudou no Liceu Pedro Nunes onde em 1918 fez a sua primeira exposição individual e no ano seguinte inscreveu-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, que abandonou cerca de um ano depois, avançando como autodidata tal como Bernardo Marques ou Mário Eloy, outros nomes da sua geração.

Em 1924 empregou-se numa fábrica de cerâmica mas alguns êxitos em concursos de cartazes, levou-o em 1926 a dedicar-se exclusivamente à banda desenhada, à caricatura e à ilustração. Entre 1926 e 1929 produziu com regularidade pranchas de banda desenhada para o semanário infantil ABC-zinho. Também a partir de 1928 e durante 22 anos fez a página humorística Ecos da Semana, no semanário Sempre Fixe.

Em 1929 Botelho partiu para Paris, para frequentar as Academias Livres Grande Chaumière e Colarossi e a partir daí optou pela pintura, sendo desse ano o seu primeiro quadro de Lisboa: Uma vista do Zimbório da Basílica da Estrela. Nos anos 30, passou a integrar a equipa de decoradores do Secretariado de Propaganda Nacional, com Bernardo Marques, José Rocha, Tom e Fred Kradolfer, trabalhando na participação portuguesa em grandes mostras internacionais, como Paris, Lyon, Nova Iorque e São Francisco.  O ano de 1930 foi também aquele em que instalou o seu atelier na Costa do Castelo, na casa a que a sua mulher – Beatriz Santos Botelho com quem casara em 1922 e de quem teve dois filhos – tinha direito pela função de professora do ensino primário, e onde viveu até 1949. Em 1933 foi assistente de realização de Cottinelli Telmo no filme A Canção de Lisboa e cinco anos depois, em 1938 foi galardoado com o Prémio Sousa-Cardoso na Exposição de Arte Moderna do SNI pelo retrato de Músico Carlos Botelho (ou Meu Pai) e no seguinte  o 1º Prémio na Exposição Internacional de Arte Contemporânea de S. Francisco, o que lhe permitiu construir a casa-atelier no Buzano (Parede) onde se instalará em 1949.

Em 1940 também esteve na equipa de decoradores da Exposição do Mundo Português e recebeu o Prémio Columbano, para além de  conceber cenários e figurinos para a Companhia de bailados portugueses Verde Gaio, sendo a partir desta década que a paisagem urbana passou a ter um lugar central na sua obra, com Lisboa como tema primordial, que na década de 50 comportará experiências abstratizantes e será quase o seu único tema nas décadas seguintes.

Em 1955 voltou a residir em Lisboa, no então novo bairro do Areeiro e recebeu uma Menção de Honra por ocasião da III Bienal de S. Paulo, repetindo o prémio de 1951, a que somou em 1961, o 1º Prémio de Pintura na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.

A obra de Carlos Botelho está representado em inúmeras colecções públicas e privadas, como no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian ou no Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Câmara Municipal de Lisboa instituiu um prémio com o seu nome para a melhor pintura sobre a cidade de Lisboa.

Carlos Botelho é ainda topónimo de uma Avenida na Brandoa, de um Largo em Linda-a-Velha, de Pracetas em Cascais, Corroios e São João da Talha, bem como de Ruas na Charneca da Caparica,  em Famões, na Parede, em Rio de Mouro e em São Domingos de Rana.

Freguesia do Beato
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Vítor Bastos, autor do Monumento a Camões, numa rua de Campolide

Freguesia de Campolide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Desde 1903 que Vítor Bastos, o pintor e escultor que idealizou e concretizou o Monumento a Camões, para a Praça do mesmo nome, considerado o escultor mais importante do Romantismo português, está perpetuado na toponímia do então Bairro Novo de Campolide.

O Bairro Novo de Campolide construído nos finais do século XIX, teve as suas ruas denominadas por deliberação camarária de 23 de setembro de 1903 e edital municipal de dia 25 seguinte, fixando nelas os nomes dos escultores Vítor Bastos e Soares dos Reis, bem como dos militares Dom Carlos de Mascarenhas, General Taborda e Conde das Antas, sendo que este último também se distinguiu como político. Vítor Bastos ficou na Rua nº 3 e esta artéria aumentou pelo edital camarário de 7 de agosto de 1911, ao incorporar nela a rua no prolongamento da Rua Vítor Bastos até à Calçada dos Mestres, sendo que a Rua Vítor Bastos dos dias de hoje se estende da Rua de Campolide à Rua General Taborda.

O Occidente, 1 de julho de 1894

António Vítor Figueiredo de Bastos (Lisboa/entre 1829 e 1834 –17.06.1894/Lisboa) estudou na Academia Real das Belas Artes a partir de 1845, tendo tido aulas de Desenho Histórico, Arquitetura Civil e Gravura Histórica. Também foi discípulo de António Manuel da Fonseca em Pintura Histórica e concluiu o curso com a sua tela Amor e Psiché, em 1852. É ainda na Academia de Belas-Artes de Lisboa que se liga ao grupo de artistas da geração romântica e é assim o único escultor representado no retrato de grupo Cinco Artistas em Sintra (1855), de João Cristino da Silva, porque na época era ainda apenas pintor. Este grupo de românticos convivia no Marrare do Chiado e depois de 1847, na oficina de ourives de Cristino da Silva na Rua da Prata ou na oficina de Manuel Maria Bordalo na Praça da Alegria.

Vítor Bastos é contudo mais recordado como escultor e, sobretudo, como o autor do monumento a Luís de Camões (1867), na praça que lhe está destinada. Sob a base octogonal onde assenta a estátua do poeta do Dia de Portugal, estão representadas figuras das letras e das ciências da época do Renascimento: Fernão Lopes de Castanheda, Fernão Lopes, Francisco de Sá de Meneses, Gomes Eanes de Azurara, Jerónimo Corte Real, João de Barros, Pedro Nunes e Vasco Mouzinho de Quevedo.

Também para o Arco da Rua Augusta, em 1872, executou as estátuas de Vasco da Gama, Viriato, Marquês de Pombal, D. Nuno Álvares Pereira e as figuras alegóricas dos rios Tejo e Douro. Já em 1870 modelara a estátua de corpo inteiro em bronze de José Estêvão que foi inaugurada em 1878 no então designado Largo das Cortes, passando depois para o Palácio de São Bento, para voltar em 15 de outubro de 1984 à praça agora denominada Praça da Constituição de 1976. Refira-se ainda o baixo-relevo Colera Morbus (1861), a estátua do Conde das Antas no seu túmulo no Cemitério dos Prazeres e os bustos do Duque de Saldanha, de Joaquim António de Aguiar ou de João Anastácio da Rosa.

Vítor Bastos exerceu também a docência. Em 1854 foi aprovado para professor de Desenho na Universidade de Coimbra e seis anos depois, obteve a cátedra de Escultura na Academia lisboeta, com a obra Adónis partindo para a caça ao javali. Pertenceu ainda à comissão nomeada pela Academia de Belas-Artes de Lisboa para a reforma do ensino artístico em 1870.

Freguesia de Campolide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Avenida da Vieira da Silva que era Maria Helena

Freguesia do Lumiar
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

No Dia Internacional da Mulher de 1993 foi inaugurada a Avenida Maria Helena Vieira da Silva, no Lumiar, em homenagem à pintora considerada um  expoente maior da pintura contemporânea, com as suas originais geometrias.

Vieira da Silva faleceu em 6 de março de 1992 e logo em 26 de agosto a edilidade lisboeta deliberou atribuir o seu nome a esta Avenida que nasce junto à Alameda das Linhas de Torres e onde a artista ficou fixada pela publicação do Edital municipal de 15 de setembro. Para evitar equívocos na toponímia de Lisboa recordamos que em Lisboa existem também a Rua Engenheiro Vieira da Silva, em Arroios, dedicada ao engenheiro olisipógrafo que integrou a 1ª Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa em 1943, bem como a Rua Vieira da Silva, na freguesia da Estrela, em homenagem ao tipógrafo e jornalista que foi o 2º Presidente da Direção do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas.

Autorretrato de 1930

Maria Helena Vieira da Silva (Lisboa/13.06.1908 – 06.03.1992/Paris) nasceu filha única de Marcos Vieira da Silva e de Maria do Céu da Silva Graça  e tendo estudado de 1919 a 1927, apesar de ter tido aulas de música, preferiu a pintura, tendo assim estudado  desenho com Emília Santos Braga e pintura com Armando Lucena, professor na Escola de Belas Artes de Lisboa, bem como modelagem com Rogério de Andrade. A partir de 1926, com outros alunos de Belas Artes, também assistiu às aulas de Anatomia do Professor Henrique Vilhena na Faculdade de Medicina. Nesse mesmo ano foi viver com a mãe para o nº 3 do Alto de São Francisco.

Ainda com a a mãe, seguiu para Paris em 1928, para se aperfeiçoar com mestres como o escultor Bourdelle e nessa cidade começou a expôr no ano de 1933, por ocasião da edição do livro Kô et Kô. No entretanto, em 1929, estudou na Academia Escandinava com o escultor Despiau mas optou pela pintura e foi então estudar com Dufresne, Waroquier, Friesz, assim como gravura no atelier de Stanley W. Hayter e arte aplicada com Fernand Léger. Conheceu o pintor húngaro Arpad Szénes e com ele se casou em 1930, tendo passado a habitar na  Villa des Camélias.

Maria Helena Vieira da Silva tornou-se uma das artistas abstratas mais celebradas na Europa do pós-guerra, com as suas originais composições geometrizadas. Até aí, em 1935 e 1936, o casal esteve em Portugal, expondo telas de ambos, no atelier de Lisboa. Em 1939,  Vieira da Silva, Arpad Szénes e Étienne Hajdu , sensibilizados com a guerra espanhola, expuseram com fins beneméritos na Galeria Jeanne-Bucher em Paris e ainda nesse ano voltam a viver em Portugal, partindo no seguinte para o Brasil já que o Estado português negou a nacionalidade portuguesa aos artistas apesar de Arpad se ter convertido ao catolicismo e de terem contraído casamento religioso. Finda a II Guerra regressaram a Paris e ambos se naturalizaram franceses em 1956.

Para além do desenho, ilustração e pintura, Vieira da Silva também se dedicou à  cenografia, à tapeçaria e ao vitral, sendo de igual forma o seu percurso artístico associado a importantes encomendas de  arte pública. Também a paisagem urbana de Lisboa integra a obra da pintora, como no caso da decoração da estação do Metropolitano de Lisboa da Cidade Universitária, inaugurada em 1988, assim como parte da estação do Rato, inaugurada em 1997. Para mais, a capital acolhe ainda a Fundação Arpad Szènes- Vieira da Silva, criada em 1990 e que abriu ao público em 3 de novembro de 1994, na antiga Fábrica das Sedas da Praça das Amoreiras.

Recordem-se ainda os cartazes de Maria Helena Vieira da Silva, como aqueles dois com a frase «A Poesia está na Rua», feitos a pedida da sua amiga Sophia de Mello Breyner para serem editados pela Gulbenkian para comemorar o 25 de Abril de 1974, ou um outro que Vieira concebeu para a UNESCO para comemorar o Ano da Paz em 1986.

Maria Helena Vieira da Silva foi agraciada como Sócia Honorária do Grémio Literário de Lisboa, Sócia Honorária da Academia de Belas Artes de Lisboa,  com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago de Espada (1977), o filme  Ma femme chamada Bicho (1978) – realizado por José Álvaro Morais e sobre o casal a partir da ideia do pintor Jorge Martins-, como membro  da Academia das Ciências das Artes e das Letras de Lisboa (1984), o Grande Prémio Antena I (1986), a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1988), a Medalha da Cidade de Lisboa (1988), a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1989) e também as mais altas condecorações francesas, estando a sua obra representada no Museu do Chiado- Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Museu da Fundação Calouste Gulbenkian, assim como no Centre Pompidou de Paris,  no  Guggenheim de Nova Iorque e na Tate Gallery de Londres.

A artista consta ainda da toponímia de Abrantes, Entroncamento, Grândola, Lagos, Leça da Palmeira (Matosinhos), Montemor-o-Novo, Odivelas, Rio de Mouro, Santo António dos Cavaleiros, Tapada das Mercês (Sintra), Tavira e do Vale da Amoreira (Moita).

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)