As Avenidas dedicadas a António José de Almeida

António José de Almeida e o marechal Joffre durante a homenagem aos soldados mortos na Grande Guerra 1921 sa

António José de Almeida e o marechal Joffre em 1921, durante a homenagem aos soldados mortos na Grande Guerra (Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

António José de Almeida era Chefe de Governo quando Portugal entrou na I Grande Guerra e Presidente da República no ano em que foi assinada a paz em Versailles sendo homenageado na toponímia alfacinha no mesmo ano em que faleceu, naquela que hoje conhecemos como Avenida Guerra Junqueiro, embora decorridos quatro anos tenha passado para o local onde hoje encontramos a Avenida de António José de Almeida.

Cerca de quinze dias após o falecimento de António José de Almeida decidiu a edilidade, pela deliberação camarária de 07/11/1929 e o edital de 12/11/1929 que a  a Avenida 12 do Novo Bairro no seguimento da Avenida Almirante Reis (hoje, Avenida Guerra Junqueiro) se denominasse Avenida Dr. António José de Almeida. Mas em 1933, pela deliberação camarária de 13 e edital de 18 de julho passou a Avenida António José de Almeida a ser no prolongamento da Avenida Miguel Bombarda, entre a Avenida dos Defensores de Chaves e a Avenida de Manuel da Maia, onde ainda hoje a encontramos, sendo ao mesmo tempo Guerra Junqueiro colocado no arruamento que antes levava o nome do antigo Presidente da República. Acresce que conforme um parecer da Comissão de Toponímia na sua reunião de 13/04/1951, homologado pelo Vice-presidente da edilidade, foi acrescentada a partícula «de», sendo desde então Avenida de António José de Almeida.

Freguesias das Avenidas Novas e do Areeiro - Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas e do Areeiro – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

António José de Almeida defendeu a participação de Portugal na Guerra logo em 1914, caso a Inglaterra o desejasse, posição sintetizada na frase «Vamos até onde for preciso, mas sendo preciso!». Foi Chefe do Governo da União Sagrada e Ministro das Colónias (1916-1917) e depois, como Presidente da República (1919-1923) – o único da I República a cumprir integralmente o seu mandato -, participou com o marechal Joffre na homenagem aos soldados mortos na Grande Guerra em 1921 e deu andamento à transladação dos restos mortais dos soldados portugueses mortos na Flandres.

Monumento a António José de Almeida, na Avenida do mesmo nome, em 1937 (Foto: Fernando Martinez Pozal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Monumento a António José de Almeida, na Avenida do mesmo nome, em 1937
(Foto: Fernando Martinez Pozal, Arquivo Municipal de Lisboa)

António José de Almeida (Penacova – Vale da Vinha/27.07.1866 – 31.10.1929/Lisboa), formado em Medicina pela Universidade de Coimbra (1895) aderiu logo nessa época ao Partido Republicano e em 23 de março de 1890 publicou na folha académica Ultimatum o artigo «Bragança, o último», que lhe custou a pena de três meses de prisão. Exerceu medicina em Angola e depois, em São Tomé e Príncipe até 1903, após o que estagiou em Paris e regressou a Lisboa onde abriu o seu primeiro consultório, na Baixa, primeiro na Rua Áurea, que depois transferiu para Largo do Camões nº 6 – 1º (hoje, Praça Dom João da Câmara), onde ganhou fama de médico dos pobres.

Contudo, a sua carreira política foi a que  mais importância ganhou na sua vida. Foi eleito deputado pelo círculo oriental de Lisboa (1906) e integrou a Maçonaria (1907) ainda antes da proclamação da República, tendo depois exercido as funções de Ministro do Interior do Governo Provisório (1910-1911), formado o Partido Republicano Evolucionista (24 de fevereiro de 1912), sido Chefe do Governo da chamada «União Sagrada» e Ministro das Colónias (1916-1917) e ainda Presidente da República (1919-1923), sendo de destacar o seu papel na reforma do ensino superior, sobretudo no estudo da medicina  e  na criação das Universidades de Lisboa e do Porto, bem como a sua visita ao Brasil em setembro de 1922 por ocasião do Centenário da sua independência de que Luís Derouet fez reportagem: Duas Pátrias – O que foi a visita do Sr. Dr. António José de Almeida ao Brasil.

António José de Almeida ainda colaborou em vários periódicos e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o diário República (1911). Foi também ele que proferiu um discurso no funeral de Rafael Bordalo Pinheiro (1905), e postumamente, em 1934, foram coligidos os seus principais artigos e discursos e publicados em 3 volumes sob o título Quarenta anos de vida literária e política. Três anos mais tarde,  em 31 de dezembro de 1937, foi inaugurada uma estátua a homenageá-lo, da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arquiteto Pardal Monteiro, na Avenida com o seu nome.

Freguesia do Areeiro (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia das Avenidas Novas e do Areeiro
(Planta: Sérgio Dias)

 

O Largo que perpetua o militar e escritor Carlos, Selvagem por alcunha e pseudónimo

Freguesia de São Domingos de Benfica (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Sérgio Dias)

O escritor Carlos Selvagem, formado em Cavalaria e participante em Moçambique na frente africana da I Guerra Mundial, de cuja experiência publicará Tropa de África (1919), foi perpetuado cerca de dois meses após a sua morte  no impasse projectado à Rua Prof. Reinaldo dos Santos feito Largo lisboeta, através do Edital municipal de 28/08/1973 e com a legenda «Escritor/1890 – 1973».

Alma Nova, novembro de 1925

Alma Nova, novembro de 1925

Carlos Tavares de Andrade Afonso dos Santos (Lisboa/13.08.1890 – 04.06.1973/Lisboa), que na frequência do Colégio Militar (1901-1907) ganhou a alcunha de «Selvagem» que escolheu como pseudónimo, foi um militar de carreira, da arma de Cavalaria, que se reformou com o posto de coronel em 1947, tendo participado no Niassa e no norte de Moçambique na frente africana da I Guerra Mundial. Desempenhou também os cargos de governador do distrito de Inhambane (1931-34) e da província da Huíla (1934-35) bem como de comandante militar de Cabo Verde. Em 1963 publicou também A batalha de La Lys e o marechal Gomes da Costa.

Carlos Selvagem foi ainda jornalista e escritor – ficcionista e dramaturgo – e o 4º presidente da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses no período de 1968 até ao seu falecimento em 1973. A pedido do Ministro do Interior, fundou em 1927 o jornal O Imparcial, com Henrique Galvão, com quem aliás também deu corpo aos 4 volumes de Império ultramarino português : monografia do império, publicado entre 1950 e 1953 pela Empresa Nacional de Publicidade, para além da ligação de ambos ainda ter resultado na defesa de Carlos Selvagem por Henrique Galvão após a tentativa de golpe da Junta de Libertação Nacional comandada pelo Almirante Mendes Cabeçadas, de 10 de abril de 1947, também conhecida por Abrilada e de a inspiração do nome Operação Dulcineia para o assalto ao paquete Santa Maria ser a peça Dulcinéa ou a última aventura de D. Quixote (1943) de Carlos Selvagem.

No teatro, Carlos Selvagem estreou-se com o drama rural Entre Giestas (1915) e a comédia dramática Ninho de águias (1920) tendo recebido ainda o Prémio Gil Vicente pelas suas peças Telmo, o Aventureiro (1937) e Encruzilhada (1941). Saliente-se ainda o seu Portugal Militar editado em 1931,  escolhido em concurso público para compêndio a utilizar nas escolas militares, os contos infantis Picapau – Bonecos Falantes, e em conjunto com Hernâni Cidade, para além de Cultura Portuguesa (1967) terem publicado diversas obras historiográficas nos anos 60 e 70 do século XX,  época durante a qual também discursou em diversos eventos da Câmara Municipal de Lisboa, como em 1963 no descerramento da lápide de homenagem a Gustavo Matos Sequeira na casa onde ele nasceu e faleceu.

Freguesia de São Domingos de Benfica (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida Afonso Costa do Parque Eduardo VII para o Areeiro

 

Freguesia do Areeiro (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Areeiro
(Foto: Sérgio Dias)

Afonso Costa que foi um dos Primeiros Ministros da I República e nessa qualidade acompanhou o Presidente da República, Bernardino Machado, em 1917, na visita às tropas portuguesas em França, ficou desde 1976 fixado numa Avenida lisboeta, embora no decorrer desse ano tenha passado do topo do Parque Eduardo VII para o Areeiro.

A Comissão Consultiva Municipal de Toponímia, na sua reunião de 29 de junho de 1976, sugeriu  que Avenida Afonso Costa fosse o topónimo para o arruamento situado a Norte do Parque Eduardo VII, entre a Avenida Sidónio Pais e a Rua Castilho, artéria que hoje conhecemos por Alameda Cardeal Cerejeira (Edital municipal de 14/04/1982). No entanto, duas reuniões depois, em 30 de dezembro de 1976 passou o topónimo para «o arruamento que, partindo da Praça do Areeiro segue para Nascente e é vulgarmente designada por prolongamento da Avenida João XXI», com a legenda «Professor e estadista/1871 – 1937» e assim ficou registado pelo edital municipal desse mesmo dia. No ano seguinte, no dia 6 de março, o próprio Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Aquilino Ribeiro Machado, procedeu à inauguração desta Avenida que nos dias de hoje faz a ligação da Praça Francisco Sá Carneiro à Rotunda das Olaias.

Atlântida, 15.09.1916

Atlântida, 15.09.1916

Afonso Costa  foi Presidente do Ministério (hoje diríamos Primeiro Ministro) desde 1913 e assim continuava em 1917, tendo visitado as tropas do Corpo Expedicionário Português em França, de 8 a 25 de outubro, com o Presidente da República Bernardino Machado, quando Portugal tinha mais de 100 mil homens a combater  na I Guerra Mundial, sendo que cerca de metade defendiam as fronteiras de Angola e Moçambique desde  o verão de 1914, enquanto os outros 50 mil portugueses combatiam na Flandres.  Em dezembro de 1917, foi destituído como a tomada do poder por Sidónio Pais, mas em 28 de junho de 1919 chefiou a delegação portuguesa à Conferência de Paz e assinou em representação de Portugal o Tratado de Versalhes e recebeu a 10 de Julho a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada.

Afonso Augusto da Costa (Seia/06.03.1871 – 11.05.1937/Paris) licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e  doutorado com a tese «A Igreja e a Questão Social» (1895), foi um advogado de prestígio e um dos juristas mais respeitados do seu tempo devido ao rigor da argumentação e a fundamentação das suas teses. Desenvolveu também uma carreira académica como professor na Universidade de Coimbra (de Economia Política e Organização Judiciária), na Escola Politécnica de Lisboa, na Faculdade de Direito de Lisboa – que fundou em 1913 e de que foi o primeiro diretor – e ainda, no Instituto Superior de Comércio (1915).

A sua participação política começara antes da proclamação da República, no Partido Republicano, tendo em 1890 publicado com António José de Almeida o jornal anti-monárquico Ultimatum e  participado na organização das revoltas de 31 de janeiro de 1891 e de 28 de janeiro de 1908 (em que foi preso). Distinguiu-se pelo ímpeto dos seus discursos contra o regime monárquico e como deputado pelo Partido Republicano (1899, 1906-1907, 1908 e 1910). Após a implantação da República  foi também deputado (de 1911 a 1926) e assumiu funções governativas como Ministro da Justiça (1910 e 1911), Ministro das Finanças (1913-1914 e 1915-1917) e Presidente do Ministério (1913-1914, 1915-1916 e 1917). Refira-se ainda que para além do contributo que deu à Constituição Republicana (1911), devem-se-lhe as iniciativas políticas que conduziram à elaboração de leis, como a Lei da Família, a Lei do Registo Civil, a Lei do Divórcio, a Lei da Separação do Estado e das Igrejas (1911), a Lei do Inquilinato, a Lei da Reorganização Judiciária, a Lei da Reforma Monetária ou a Lei da Expulsão das Ordens Religiosas. Foi afastado pelo golpe de Sidónio Pais mas depois dele, Afonso Costa foi nomeado presidente da delegação portuguesa na Conferência de Paz de Versalhes e mais tarde, presidente da delegação portuguesa junto da Sociedade das Nações, cargo de que foi demitido logo após o golpe de Estado de 28 de Maio de 1926. Exilado em Paris, fundou em fevereiro de 1927,  a Liga da Defesa da República com Álvaro de Castro, António Sérgio , Jaime Cortesão e José Domingues dos Santos. Foi agraciado postumamente com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1980).

 

Freguesia de São Domingos de Benfica (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Areeiro
(Planta: Sérgio Dias)

Bernardino Machado, duas vezes Presidente da República, numa Praça do Lumiar

0 Bernardino Machado PortugalnaGuerra 1 Jun. 1917

Bernardino Machado que era Primeiro-Ministro quando eclodiu a I Guerra Mundial e Presidente da República quando Portugal entrou no conflito, e nessa qualidade  visitou os militares em França em outubro de 1917, foi perpetuado numa Praça lisboeta 41 anos após a sua morte, através do Edital de 21/10/1985, com a legenda «Presidente da República/1851 – 1944», ficando na Praça J da Urbanização dos Terrenos da Tobis Portuguesa, também designada como Praça J à Rua Luís Pastor de Macedo.

A sua entrada na toponímia alfacinha passou por algumas peripécias. O jornal A Capital sugeriu que os nomes dos antigos Presidentes da República Portuguesa Bernardino Machado e João do Canto e Castro fossem consagrados na toponímia de Lisboa mas a Comissão Consultiva Municipal de Toponímia na sua reunião de 08/07/1970 « foi de parecer que deverá aguardar-se a existência de arruamentos condignos». Seis anos mais tarde, na reunião de 06/07/1976, a Comissão Consultiva Municipal de Toponímia  sugeriu que a Avenida Sidónio Pais, no troço compreendido entre a Avenida Afonso Costa ( é a  Alameda Cardeal Cerejeira  desde o Edital de 14/04/1982) e a Rua Marquês de Fronteira, passasse a Avenida Bernardino Machado. No entanto, só 41 anos após a sua morte, por sugestão de um munícipe, Bernardino Machado foi mesmo consagrado por Edital na toponímia de Lisboa, na Praça do Lumiar onde o encontramos hoje.

Bernardino Machado e Afonso Costa de visita às tropas em França (Portugal na Guerra, novembro de 1917)

Bernardino Machado e Afonso Costa de visita às tropas em França
(Portugal na Guerra, novembro de 1917)

Bernardino Luís Machado Guimarães (Rio de Janeiro/28.o3. 1851 – 28.04.1944/Porto) foi duas vezes eleito para Presidente da República. No primeiro período, para o quadriénio de 5 de outubro de 1915 a 1919, e no segundo, para o de dezembro de 1925 a 1929. Não chegou a cumprir nenhum deles até final, abortados que foram pelo movimento de Sidónio Pais de 8 de dezembro de 1917 que o expulsou do país e no segundo caso, pelo movimento militar do 28 de maio de 1926.

Bernardino Machado formado em Filosofia e Matemática pela Universidade de Coimbra (1875), com a tese  «Teoria Mecânica da Refleção da Luz» e catedrático desde 1879, foi Lente de Matemática e par do Reino nomeado pelo corpo de catedráticos da Universidade de Coimbra até que ao juntar-se aos estudantes por ocasião da crise académica de 1907 foi  obrigado a pedir a demissão do cargo de lente da Universidade. Integrou ainda o Conselho Superior de Instrução Pública (1892), presidiu ao  Instituto de Coimbra (1894) e dirigiu o Instituto Comercial e Industrial de Lisboa. Casou em 1882 com Elzira Dantas, de quem teve 18 filhos.

Iniciou em 1882 as suas funções políticas  como deputado por Lamego, eleito pelo Partido Regenerador. Depois foi deputado por Coimbra (1886), Ministro das Obras Públicas (1893) que elaborou legislação protetora do trabalho das mulheres e dos menores e procedeu à criação do primeiro Tribunal de Trabalho, grão-mestre da Maçonaria (entre 1895 e 1899) e presidente do Diretório do Partido Republicano entre 1906 e 1909. Proclamada a República, foi Ministro dos Negócios Estrangeiros (1910-1911; 1914), Embaixador no Brasil (1912-1914),  ministro do Interior e presidente do Ministério (em 1914 e em 1921). Após o 28 de maio de 1926 ficou em Portugal até às derrotas das revoltas de 3 e 7 de fevereiro de 1927 e foi novamente expulso do País, tendo-se exilado na Galiza e depois, em França. Foi autorizado a regressar em junho de 1940, quando as forças nazis invadiram França mas como estava proibido de residir em Lisboa, fixou residência no Alto Douro onde veio a falecer.

Finalmente, refiram-se algumas das suas obras:  A Introdução à Pedagogia (1892), O Ministério das Obras Públicas (1893), A Indústria (1898), O Ensino (1898), O Ensino Primário e Secundário (1899), O Ensino Profissional (1900), A Agricultura (1900), Pela Liberdade (1900), Da Monarquia para a República (1903), Os Meios de Comunicação e o Comércio (1903), Conferências Políticas (1904), Pela República (1908), No Exílio (1920), A Irresponsabilidade Governativa e as Duas Reacções Monárquica e Republicana (1924).

 

Freguesia do Lumiar (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias)

A Avenida do oftalmologista Mário Moutinho

Freguesias de Belém e Ajuda (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias de Belém e da Ajuda
(Foto: Sérgio Dias)

O médico oftalmologista Mário Moutinho que integrou o CEP – Corpo Expedicionário Português em França, em 1917 e 1918, sendo por isso condecorado com a medalha de Bons Serviços em Campanha, dá nome a uma Avenida do Restelo que era Rua CD à Avenida das Descobertas, desde a publicação do Edital municipal de 17/02/1970, artéria onde se encontra o Centro Infantil Helen Keller que ele fundou. Dezassete anos depois, o arruamento construído no prolongamento da Avenida Dr. Mário Moutinho foi denominado Avenida Helen Keller, através do edital de 07/09/1987.

Mário Moutinho

Mário Moutinho (Angra do Heroísmo/28.05.1877 – 18.01.1961/ Lisboa) que foi aluno do Colégio Militar de 1888 a 1894, formou-se como médico-cirurgião na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e ainda completou o curso de Oftalmologia do Prof. Gama Pinto. Este médico militar oftalmologista  integrou o Corpo Expedicionário Português em França em 1917 e 1918,  onde desempenhou o cargo de Chefe dos Serviços de Oftalmologia e por isso foi condecorado com a medalha de Bons Serviços em Campanha. O Tenente Coronel Médico Mário Moutinho havia fundado em 1905 a clínica oftalmológica no Hospital Militar Principal de Lisboa, no Largo da Estrela, serviço que dirigiu a partir de 1909. A partir de 1918 foi mesmo subdiretor e depois diretor deste Hospital pelo que teve de abandonar a Clínica Oftalmológica Militar e assim resolveu fundar uma nova clínica no Asilo-Escola de Cegos A. F. de Castilho (1935) e a Liga Portuguesa de Profilaxia da Cegueira (1936), a que presidiu, e a partir da qual desenvolveu o seu plano de criar uma clínica de reeducação de diminuídos visuais em Portugal, o que veio a concretizar em 1955, com o seu filho, o também oftalmologista Dr. Henrique Moutinho ( existe a Rua Henrique Moutinho na freguesia de Belém desde a publicação do Edital de 03/07/2008), o psiquiatra Dr. João dos Santos  e a pedagoga Drª Maria Amália Borges, que a partir do ano seguinte teve o nome de Centro Infantil Helen Keller, sediado no nº 20 desta que viria a ser a Avenida Dr. Mário Moutinho. Quando em março de 1956 Helen Keller veio a Portugal a convite da LPPC, passou a designar-se Centro Infantil Helen Keller.

Mário Moutinho foi agraciado com a Ordem de Sant’iago da Espada (1928) e as comendas de Avis (1928) e de Mérito (1932).

Freguesia de Belém (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias de Belém e Ajuda
(Planta: Sérgio Dias)

Magalhães Lima na Avenida Central do Arco do Cego

Freguesia do Areeiro (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Areeiro
(Foto: Sérgio Dias)

Magalhães Lima que pugnou pelo apoio claro aos Aliados na I Guerra e pelo envio de tropas para França, teve o seu nome perpetuado na cidade de Lisboa menos de quatro anos após o seu falecimento, com a Avenida Dr. Magalhães Lima na Avenida Central do Bairro Social do Arco do Cego, através do Edital municipal de 12 de março de 1932, a que a edilidade juntou no ano seguinte no mesmo Bairro, pelo Edital de 21 de janeiro de 1933, mais topónimos de outras figuras republicanas: Costa Goodolfim na Rua A, Bacelar e Silva na  Rua B, Ladislau Piçarra na Rua C,  Gomes da Silva na Rua D, Braz Pacheco na Rua U e Desidério Beça na Rua V.

O título de «Doutor» foi retirado do topónimo em 1948, por parecer  da Comissão de Toponímia emitido de 19/08/1948 e homologação em 13/12/1948 do Presidente da edilidade, Álvaro Salvação Barreto.

Galeria Republicana, outubro de 1882

Galeria Republicana, outubro de 1882

Sebastião de Magalhães Lima (Rio de Janeiro/30.05.1850 – 07.12.1928/Lisboa) pugnou para que o governo português tivesse uma política clara de apoio aos Aliados e enviasse tropas para França, tendo até realizado um conjunto de conferências em Itália e França sobre a Guerra e o envolvimento de Portugal, tendo partido de Lisboa a 8 de maio de 1916 e discursado na Sorbonne a 13 de junho. A Junta Patriótica de Arroios realizou até uma manifestação pública de reconhecimento pela campanha de Magalhães Lima em defesa da Guerra, em 5 de maio de 1917. Ainda em 1923, na cerimónia de colocação da primeira pedra do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, na Avenida da Liberdade, Magalhães Lima foi orador.

Licenciado em Direito na Universidade de Coimbra (1875), Magalhães Lima ingressou nessa época na Maçonaria (1874), organização na qual veio a ser o grão-mestre a partir de 22 de março de 1907 sendo depois sucessivamente reeleito até à data da sua morte em 1928. Fixou-se em Lisboa e dedicou-se à defesa do ideal republicano, com uma participação importante em momentos cruciais da afirmação republicana, como na comissão executiva da imprensa do Centenário de Camões (1880) ou durante o Ultimatum (1890), como membro do Directório do Partido Republicano Português  e enquanto vereador eleito em 1886 pela lista republicana para a Câmara de Lisboa,  deputado às Constituintes de 1911 ou  enquanto Ministro da Instrução (de 17 de maio a 19 de junho de 1915) do governo de José Ribeiro de Castro instituído após a revolução de 14 de maio de 1915 que pôs termo à ditadura do general Pimenta de Castro.

No jornalismo, foi fundador do Distrito de Aveiro, Comércio de Portugal (1879) e de O Século (1881), assim como diretor dos jornais A Folha do Povo (1896-1898) e Vanguarda (1898-1911), para além de ter sido dirigente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras de Lisboa, instituição que representou em congressos de jornalismo em Estocolmo, Paris, Lisboa, Roma e Viena. Da sua obra publicada destaque-se A Actualidade (1872), Padres e Reis (1873), o romance A Senhora Viscondessa (1875), o opúsculo A questão do Banco Nacional Ultramarino (1879 ou 80), Pela Pátria e pela República (1891), O Socialismo na Europa (1892), O Primeiro de Maio (1894), Da monarquia à república: história da implantação da república em Portugal (1910)  e os dois volumes de Episódios da Minha Vida.

Este tribuno republicano que foi o primeiro presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Homem, em 1922, na sua última mensagem como Grão-Mestre, em 1928, condenou a opressão do regime ditatorial imposto a Portugal desde 1926 contrapondo «Pátria» e «Liberdade» como sinónimos e nesse mesmo ano o seu funeral reuniu dezenas de milhar de pessoas.

Freguesia do Areeiro (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Areeiro
(Planta: Sérgio Dias)

 

A Rua Contra-Almirante Armando Ferraz, o único português com «Distinguished Service Cross»

Freguesia dos Olivais (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

O Contra-Almirante Armando Ferraz, imediato do Caça-minas Augusto de Castilho que sob o comando de Carvalho Araújo heroicamente enfrentou o ataque do Submarino Alemão U 139 ao vapor São Miguel e,  o único português condecorado com a Distinguished Service Cross, teve o seu nome atribuído cerca de dois meses após o seu falecimento no prolongamento da Avenida Cidade de Luanda, compreendido entre as Avenidas de Berlim e Dr. Francisco Luís Gomes, pelo Edital municipal de 22/06/1971.

(Foto da coleção de Paulo Jorge Estrela)

(Foto da coleção de Paulo Jorge Estrela)

Manuel Armando Ferraz ( Lisboa/19.04.1897 – 23.04.1971/Lisboa) era um oficial da marinha portuguesa formado pela Escola Naval em 1915 que chegou a ser  Comandante da Canhonheira Cuanza mas que se destacou logo em 14 de outubro de 1918 como imediato do Caça-minas Augusto de Castilho, um arrastão de pesca convertido em Caça-Minas, no episódio em que sob o comando de Carvalho Araújo a guarnição enfrentou o ataque do Submarino Cruzador Alemão U-139 ao vapor São Miguel da Marinha Mercante portuguesa, a 200 milhas dos Açores. Carvalho Araújo bateu-se até à morte e ao afundamento do seu navio e os sobreviventes viveram durante uma semana numa pequena balsa.

O Contra-Almirante Armando Ferraz foi também inspector da marinha e chefe do Estado-Maior da Armada de 1954 a 1957 e acumulou inúmeras condecorações como a Medalha da Cruz de Guerra de 1ª classe (1918), a Medalha dos promovidos por distinção e a Medalha de Ouro de Coragem, Abnegação e Humanidade do Instituto de Socorros a Náufragos (1919), a comenda (1934), o grau de Oficial (1947) e o Colar da Ordem de Avis (1954), bem como a Distinguished Service Cross britânica (1924).

 

Freguesia dos Olivais (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua General José Paulo Fernandes, de Carnide à Ajuda

Freguesia da Ajuda (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia da Ajuda
(Foto: Sérgio Dias)

O General José Paulo Fernandes que no decorrer da I Guerra Mundial integrou o Corpo de Artilharia Pesada em França, e por isso foi condecorado com o grau de cavaleiro da Legião de Honra, está desde 1972 perpetuado na Freguesia da Ajuda.

Seis meses após o falecimento do General José Paulo Fernandes, a Câmara Municipal de Lisboa deu logo o seu nome à Rua B do plano de arruamentos entre a Luz e Carnide, por deliberação de 12/04/1934 e Edital de 17/04/1934. Sete anos depois, no Guia das Ruas de Lisboa de 1941 da Tipografia Gonçalves, aparece referido como «General José Paulo Fernandes (Rua). A construir nuns terrenos, à Rua da Fonte (em Carnide)» e a própria Comissão Municipal de Toponímia na sua reunião de 21/11/1944 confirmou o topónimo. Contudo, este projeto de urbanização não chegou a concretizar-se.

Assim, este topónimo foi recuperado em 1972. Em janeiro, a Comissão sugeriu que o nome do General José Paulo Fernandes fosse atribuído ao arruamento circundante do Hospital Júlio de Matos, onde se integra parte da Azinhaga das Murtas e da Rua do Fidié mas, em maio, considerando um despacho do Presidente do Município «solicitando parecer sobre alteração dos topónimos Rua junto do Quartel e Rua Detrás dos Quartéis, tendo em vista a circunstância de poderem confundir-se com a Rua dos Quartéis» a Comissão alterou a sugestão anterior sugerindo antes que as ruas Junto do Quartel e Detrás dos Quartéis (na Freguesia da Ajuda) passassem a constituir um único arruamento, denominado Rua General José Paulo Fernandes, o que se tornou realidade pelo Edital municipal de 5 de junho de 1972.

General José Paulo Fernandes

José Paulo Fernandes (17.08.1871-29.10.1933) foi um Oficial e escritor militar. Fez parte do Corpo de Artilharia Pesada, em França, durante a guerra de 1914 – 1918, pelo que foi condecorado com o grau de cavaleiro da Legião de Honra. Foi da sua responsabilidade a organização defensiva da estrada militar do Campo Entrincheirado de Lisboa bem como a reorganização do Arsenal do Exército e chegou a General em 1931.

Foi ainda diretor da Revista Militar (fundada em 1848) e colaborou com a Revista de Artilharia e a Révue Militaire Suisse, de que foi correspondente durante 20 anos. Estava também agraciado como grande oficial das Ordens de Sant’iago da Espada (1919) e de Avis (1932).

Freguesia da Ajuda (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias)

O General Pereira de Eça e o Paço da Rainha

O Largo General Pereira de Eça em 1949 (Foto: Estúdio Mário Novais, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Largo General Pereira de Eça em 1949
(Foto: Estúdio Mário Novais, Arquivo Municipal de Lisboa)

A artéria que hoje conhecemos como Paço da Rainha foi o Largo General Pereira de Eça durante cerca de 30 anos, de 1924 a 1954, homenageando o militar que era Ministro da Guerra quando eclodiu a I Guerra Mundial.

Em termos toponímicos, o Paço da Rainha remete para o Palácio da Bemposta e para a Rainha D. Catarina (? – 1705) já que esta ao enviuvar de Carlos II de Inglaterra regressou a Portugal (em 1693) e acabou por fazer casa no lugar do Campo da Bemposta, onde já habitava em 1702. A partir daí ficou conhecido como Paço da Rainha e assim se manteve até o primeiro edital de toponímia após a implantação da República, de 5 de novembro de 1910, o tornar no Largo da Escola do Exército, por aí se situar esse estabelecimento de ensino. Contudo, cerca de 12 anos mais tarde, o edital de  17/10/1924, que entre outros topónimos também atribuiu a denominação Bairro América e a dos seus arruamentos, designou-o como Largo General Pereira de Eça, topónimo que assim permaneceu perto de 32 anos até o Edital de 23/03/1954 o renomear como Paço da Rainha. Refira-se que esse mesmo Edital de 1954 transferiu o General Pereira de Eça  para um Largo do Vale Escuro mas esse arruamento nunca chegou a ser executado.

António Júlio da Costa General_Pereira_d'EçaPereira de Eça (31.03.1852 – 06.11.1917/Lisboa) foi um  oficial de  Artilharia que a 9 de fevereiro de 1914 foi nomeado Ministro da Guerra e ocupava esse cargo quando eclodiu a I Guerra Mundial. Foi defensor da participação portuguesa ao lado dos Aliados, posição que não era partilhada pela maioria governamental e o General Pereira de Eça foi exonerado em 12 de dezembro desse ano.

No entanto,  quando em fevereiro de 1915 aumentou o perigo das incursões alemãs no sul de Angola, o Governo reconheceu a conveniência de colocar um oficial general ao comando das operações militares naquela região e escolheu o General Pereira d’Eça para substituir Alves Roçadas  como governador-geral de Angola  e Norton de Matos como comandante das forças expedicionárias, tendo chegado a Luanda em 21 de março de 1915 e assim comandou as tropas portuguesas que foram enviadas para o sul de Angola como reforço após o Combate de Naulila e a revolta dos povos indígenas que se lhe seguiu. Nesta ocasião teve sob o seu comando o Batalhão de Marinha, comandado por Afonso Cerqueira, então primeiro-tenente.

Já antes desempenhara as missões de capitão numa força expedicionária nomeado por Mouzinho de Albuquerque; de governador do distrito de Lourenço Marques (1896) e participara também nos combates de Mapulanguene de 1897; bem como de chefe do estado-maior em Cabo Verde (1903). Em Portugal, combateu as incursões monárquicas após a implantação da República, nomeadamente impedindo o alastramento de rebelião em Viana do Castelo e após ser promovido a general, em 1913, dirigiu o Arsenal do Exército.

Regressado a Lisboa após a pacificação do sul de Angola, tomou posse do comando da 1ª Divisão de Exército até falecer. No seu testamento legou à Armada Portuguesa a sua espada que se encontra no Museu de Marinha e, a título póstumo, foi agraciado  com a Grã-Cruz da ordem do Império Colonial (1932) e a Marinha Portuguesa dedicou-lhe a corveta NRP General Pereira d’Eça.

 

Freguesia de Arroios - Paço da Rainha na planta dos dias de hoje (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios – Paço da Rainha na planta dos dias de hoje
(Planta: Sérgio Dias)

 

A Rua do Condestável de Rovuma

Rua Francisco Pedro Curado Rua

Freguesia da Penha de França                                                                                                    (Foto: Sérgio Dias)

Francisco Pedro Curado ganhou o cognome de «Condestável de Rovuma» por se ter distinguiu na luta contra os alemães em Moçambique, entre 1916 e 1918, e a partir da publicação do Edital municipal de 23/03/1954 ganhou expressão na toponímia de Lisboa ao dar o seu nome à Rua nº 3 do Vale Escuro.

A sugestão deste topónimo resultou de uma carta do General Francisco Higino de Craveiro Lopes, presidente da Comissão Executiva das Comemorações a prestar em maio de 1951 ao Tenente-Coronel Francisco Pedro Curado, solicitando que na mesma data fosse inaugurada em Lisboa uma rua com o nome daquele oficial. Assim a Rua Francisco Pedro Curado nasceu em Lisboa  nos arruamentos do Vale Escuro através do Edital de 23/03/1954, junto com mais 11 denominações: Avenida Caldas Xavier, Avenida Coronel Eduardo Galhardo, Avenida Mouzinho de Albuquerque, Largo General Pereira de Eça, Praça Aires de Ornelas, Praça João de Azevedo Coutinho, Praça Paiva Couceiro, Rua Artur de Paiva, Rua Doutor Lacerda e Almeida, Rua Eduardo Costa, Rua Teixeira Pinto.

Francisco Pedro Curado

Francisco Pedro Curado (Mação – Carvoeiro/02.01.1873 – 24.05.1945/Lisboa) foi um oficial de Infantaria que se alistou em 1889, como voluntário, e após 40 anos de serviço passou à reserva no posto de Tenente-Coronel (7 de dezembro de 1929). Fez comissões em Angola ( com Norton de Matos e Pereira de Eça), Moçambique, Timor e São Tomé, tendo-se distinguido, particularmente, em Timor nos anos de 1911 e 1912,   ao esmagar as forças do fundador da ideia nacionalista timorense, D. Boaventura Soto-maior, o que lhe valeu o epíteto de «Herói de Manufahi», bem como mais tarde, entre 1916 e 1918, na luta contra os alemães no  norte de Moçambique, ganhou uma promoção por distinção e o cognome de «o Condestável de Rovuma».

Foi agraciado com a Medalha Militar de Ouro, a Cruz de Guerra, assim como com as comenda da Torre e Espada (1921), de Avis (1923),  de Cristo (1928) e do Império (1932).

 

Freguesia da Penha de França (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia da Penha de França
(Planta: Sérgio Dias)