Na antiga Vila do Olival, a oficialização das Escadinhas de João de Deus em 1917

As Escadinhas de João de Deus em data anterior a 1945
(Foto: Fernando Martinez Pozal, Arquivo Municipal de Lisboa)

As Escadinhas de João de Deus que são a continuação da Travessa de João de Deus na forma de escadaria, foram um topónimo oficializado pelo Edital municipal de 8 de novembro de 1917, já que como refere o documento «denominação esta por que é vulgarmente conhecida», assim guardando a memória do  proprietário de outrora deste local da quinhentista Vila do Olival.

Sobre a Trindade, escreveu Gil Vicente na sua Nau dos Amores de 1527: Antes que fosse Lisboa/ nem houvesse aqui cidade,/ iam todos à Trindade,/ com três cães e uma furôa, caçar à sua vontade. E 24 anos depois, a zona já estava urbanizada como Cristóvão Rodrigues de Oliveira mostra no seu Sumário de 1551, no qual já menciona a Rua de João de Deus, bem como as Ruas de Mestre Gonçalo, de João do Barreiro, da Condessa de Cantanhede, do Conde da Vidigueira, do Arco do Capitão dos Ginetes, de Jerónimo Dias, de André Soares, do Cabo da Porta Principal da Trindade, de João Fialho, da Oliveira, da Portaria do Carmo, de João Brandão (seria a antiga Rua dos Laudatos, segundo Gustavo Matos Sequeira), a Rua Direita da Trindade, a Rua da Calçada do Carmo, o Campo da Trindade, a Frontaria do Carmo e o Bairro do Marquês, na então freguesia de São Nicolau.

A Travessa  de João de Deus, de acordo com Gustavo de Matos Sequeira, no seu O Carmo e a Trindade (1939), existiria pelo menos desde a primeira metade do séc. XVI e incluiria mais um troço que hoje é parte da Rua Nova da Trindade, entre a Travessa de João de Deus e o Largo Trindade Coelho. Ainda segundo este olisipógrafo, na quinhentista Vila Nova do Olival, a Travessa de João de Deus teria antes sido designada Rua de João de Deus, Rua do Olival ou Rua da Oliveira (1535), Rua do Poço no chão do Olival (em 1536), Travessa da Portaria do Carro da Trindade e outra vez Rua ou Travessa de João de Deus. Precisa ainda Matos Sequeira que «o caminho que se abria no olival em frente ao postigo do Conde e em direcção ao Mosteiro do Carmo, dividindo as herdades dos Trinos e dos Carmelitas, obrigaria a outra que veio a chamar-se, depois, rua da Condessa da Vidigueira, e hoje [1939], simplesmente, rua da Condessa; e os quintais e ortas dos Trinitários que limitavam, pelo Poente e Norte, o olival, determinariam outros dois alinhamentos, ambos chamados ruas do Olival mas que depois se distinguiram: – o primeiro passando a nomear-se rua da Oliveira, e o segundo travessa ou rua de João de Deus».

O João de Deus que surge neste topónimo e que da antiga Travessa ou Rua se estendeu às Escadinhas, era um proprietário local quinhentista. Gustavo de Matos Sequeira atestou-o a partir de «Uma escritura de venda, de 1558, sôbre umas casas que eram de Francisco Martins e de sua sogra e mulher, herdeiros de um Manuel Gonçalves, e passaram a ser do nosso conhecido Diôgo de Neiva, e depois de João Rodrigues Pascoal e de seu filho Baltazar Rodrigues Pascoal, já também referidos, diz-nos que tal moradia “partia com casas que foram de João de Deus e com quintal de Diogo de Neiva, cavaleiro-fidalgo da casa de El rei e Escrivão dos Armazens do reino, e com quintal de João Fernandes, ladrilhador.» 

No início do séc. XVI, o Carmo e a Trindade, território que depois veio a constituir a freguesia do Sacramento em 1584, estava na posse  dos frades do Convento da Santíssima Trindade bem como do  Mosteiro do Carmo, da Câmara de Lisboa e dos Marqueses de Vila Real. Matos Sequeira descreve que «todos os prédios destas ruas, foreiros aos Trinos, tinham aposta nas fachadas uma lápide com o letreiro Trindade, significativo do domínio directo dos frades» e no seu O Carmo e a Trindade, publicado em 1939, revela mesmo que  «Na fachada da casa que torneja da travessa de João de Deus para a rua Nova da Trindade, além do letreiro, ainda se vê, superiormente a êle, a primitiva cruz.»

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Do Alto das Pulgas às Escadinhas do Mirador de 17 de novembro de 1917

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Alto das Pulgas na Ajuda, através do Edital municipal de 17 de novembro de 1917, passou a ter Escadinhas do Mirador como topónimo, por sugestão da Junta local.

Conforme se pode ler na Ata da Comissão Executiva da CML de 15 de novembro de 1917, a Junta de Paróquia da Ajuda pelo seu ofício nº 208, de 4 de setembro de 1917, solicitou à edilidade «que parte da rua do Mirador e uma parte da rua do Machado, vulgarmente conhecida pelo Alto das Pulgas, passe a denominar-se Escadinhas do Mirador e à Travessa de Sant’Ana, Travessa Aliança.» A Câmara deliberou a pretensão favoravelmente e assim foi publicado o Edital municipal de 17 de novembro de 1917 que atribuiu o topónimo Escadinhas do Mirador, arruamento que hoje podemos encontrar a ligar a  Rua do Mirador à Travessa do Moinho de Vento.

 

Este novo topónimo segue outros dois da zona, a Rua e a Travessa do Mirador que foram oficializados pelo Edital da CML de 26 de setembro de 1916, e sobre ele, o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo defendeu, na sua Lisboa de Lés a Lés, que «Não há dúvida que o nome devia ser Miradouro e não Mirador. Vejamos por exemplo um passo das “Artes e Indústrias em Portugal no século XVIII”, de Vítor Ribeiro, onde se faz referência a uma notícia da “Gazeta de Lisboa” que fala na rua do Miradoiro, em Belém, e onde nos é apresentada uma célebre bordadora que morava nessa mesma rua (…) A mudança do nome de Miradouro para Mirador foi feita depois de 1890.»

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

As Escadinhas de São Cristóvão junto da Igreja da mesma invocação

Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

As Escadinhas de São Cristóvão – que ligam a Rua de São Cristóvão à  Rua da Madalena – são um topónimo gerado pela proximidade à Igreja de São Cristóvão que lhe fica no topo, tal como aconteceu com a  Rua e o Largo de São Cristóvão.

A primitiva igreja seria moçárabe, de finais do século XII, designada como Igreja de Santa Maria de Alcamim. Depois o templo passou para a invocação de São Cristóvão, talvez após um incêndio ocorrido no reinado de D. Manuel I e a sua reedificação, mas seguramente já assim era em 1551, já que Cristóvão Rodrigues de Oliveira no seu Sumário de Lisboa de 1551 regista a Freguesia de São Cristóvão e sobre a sua Igreja menciona que tem um prior e cinco beneficiados, rendendo 225 cruzados e cada benefício tem 80 cruzados. A igreja foi também restaurada entre 1610 e 1672, sendo das poucas da  área central de Lisboa a resistir ao terramoto de 1755.

Em 25 de julho de 1969
(Foto: Armando Serôdio, Arquivo Municipal de Lisboa)

São Cristóvão é um santo venerado pela Igreja Católica – Igreja Ortodoxa Oriental, Ocidental e Umbandista-, sendo o seu dia celebrado a 9 de maio nas igrejas orientais e a 25 de julho (até 1969) nas igrejas ocidentais, em conjunto com outros Santos Mártires. São Cristóvão é um santo mártir que  viveu no séc. III, tendo pregado na Lícia e que a mando do governador de Antioquia foi preso e martirizado no ano de 251. Após a sua canonização por volta de 1550 ficou como santo padroeiro dos viajantes, automobilistas, sendo também invocado contra as tempestades e os furacões.

Curiosamente, no dia de  São Cristóvão de 1969, a Câmara Municipal de Lisboa procedeu à inauguração de um baixo-relevo com a imagem do Santo justamente nas Escadinhas de São Cristóvão, assim como de uma estátua do mesmo santo, da autoria de  Leopoldo de Almeida, numa placa ajardinada da Avenida Cidade do Porto, entre o arruamento de acesso ao aeroporto e o de saída da capital para outros destinos,  com missa campal e bênção de viaturas.

Em 2012, por iniciativa da Associação Amigos de São Cristóvão, com o patrocínio da marca de tintas CIN, estas Escadinhas de São Cristóvão receberam um mural alusivo ao Fado, pintado por Nuno Saraiva, Hugo Makarov, Mário Belém, Pedro Soares Neves, UAT e Vanessa Teodoro.

Este hagiotopónimo está muito difundido em Portugal, nomeadamente em Alcácer do Sal, Alcoutim, Alenquer, Almada, Amadora,  Barcelos, Beja, Caldas da Rainha, Cascais, Cinfães, Coimbra, Elvas, Esposende, Évora, Faro, Felgueiras, Gondomar, Guarda, Guimarães, Ílhavo, Leiria, Lixa, Loures, Lousada, na Madeira, em Marco de Canavezes, Matosinhos, Mealhada, Mondim de Basto, Odivelas, Ovar, Ponte de Lima, Portalegre, Portimão, Santa Maria da Feira, Santarém, Santo Tirso, São Pedro do Sul, Seia, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra, Trofa, Valença, Viana do Castelo, Vila do Conde, Vila Nova da Barquinha, Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de Gaia, Vila Real e Vila Verde.

Freguesia de Santa Maria Maior (Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)


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Olarias em beco, escadinhas, largo e rua

Rua das Olarias –
Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O sítio das Olarias guarda a memória dos oleiros desta zona, reforçada ainda por quatro topónimos:  o Beco das Olarias (freguesia de Santa Maria Maior ), as Escadinhas das Olarias ( freguesias de Santa Maria Maior e de  Arroios ), o Largo das Olarias (freg. de Santa Maria Maior e São Vicente ) e a Rua das Olarias ( freg. de Santa Maria Maior , São Vicente e Arroios ).

Por ordem cronológica, o Largo das Olarias que vai do Largo do Terreirinho à Rua dos Lagares, bem com a Rua das Olarias que une o  Largo das Olarias às Escadas do Monte, são os primeiros topónimos que se fixaram no local. A meio do século XIX, por Edital de 1 de setembro de 1859, o Governo Civil de Lisboa resolveu substituir a denominação Beco das Amoreiras por Beco das Olarias, considerando que o arruamento começa junto ao nº 54 do Largo das Olarias. E no último quartel do séc. XIX, o Edital municipal de 4 de dezembro de 1883 colocou o topónimo Escadinhas das Olarias para substituir o  Beco dos Emprenhadores, o qual de acordo com Luís Pastor de Macedo, «(…) desde 1748 [ visto no Prazo nº 64 da Freguesia dos Anjos], pelo menos, esta serventia denominou-se beco dos Empenhadores», a ligar a Rua das Olarias à Rua do Benformoso.

Beco das Olarias –
Placa de azulejo
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O jornalista e olisipógrafo Norberto de Araújo retrata este sítio da seguinte forma : «Olarias – a palavra o diz – corresponde ao aglomerado de fabricantes de louças de barro, de que esta raiz ou encosta do Monte era fértil. (…) Quando Afonso Henriques tomou Lisboa já por aqui andavam, é claro, os mouros pois deles eram a Cidade e os subúrbios. Por este sítio cultivavam-se terras, em hortas frescas (as almuinhas) e em olivais, que haviam de dar os Lagares (de azeite e não de vinho), e abriam-se barrocais de greda, no desenvolvimento da arte de olaria e cerâmica seguimos para o vale que deu a Mouraria , e da passagem que havia de ser dos Cavaleiros para nascente, isto é: para o sopé da encosta da praça e do Monte, numa planície de relativa extensão, ficou um subúrbio de oleiros, e de cujas primeiras dinastias há vagas noticias, as suficientes para se saber que existiram. No século XVI, no seu começo, o sítio era caracterizadamente dos oleiros, certo como era que pelo primeiro Foral dado a Lisboa em 1179, tempos finais do primeiro Afonso era livre o fabricar “ollas” tanto como o fabricar pão. (…) A urbanização do sitio começou por 1498, em arrabalde definido, depois de D. Manuel tomar conta do “Almocovar” ou cemitério dos mouros (na encosta do Monte do lado da Bombarda), (…) Os lagares foram desaparecendo lei inevitável da urbanização lenta; as olarias resistiram e chegavam no tempo dos Felipes, de Espanha, e, pelo século XVII dentro, ao seu apogeu. Na terceira década de seiscentos havia por aqui oitenta artífices oleiros. Só no século XVIII, com a criação de fábricas já em grande, “modernas”, e com outros horizontes industriais, as olarias entraram em declínio (…)  Presentemente, e desde há três dezenas de anos [Norberto de Araújo escreve em 1938-1939], das olarias do sítio das Olarias não restam vestígios, sendo delas uma reminiscência, aliás importante, a, já citada atrás, Fábrica da Viúva Lamego, no Intendente, que, encostada à Bombarda, fazia parte da área; em 1885 havia ainda duas ou três olarias na Calçada Agostinho de Carvalho, e que agonizavam no começo do nosso século [século XX].»

Freguesias de Santa Maria Maior, de Arroios e de São Vicente
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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Escolas Gerais: a universidade no Pátio dos Quintalinhos

O entroncamento da Calçada de São Vicente com as Escolas Gerais
Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Sob o nome de Escolas Gerais, a Universidade de Lisboa funcionou no Pátio dos Quintalinhos, no Paço do Infante Dom Henrique, antes de ser transferida para Coimbra em 1537, tendo gerado no local os topónimos Escolas Gerais, Rua das Escolas Gerais e Escadinhas das Escolas Gerais.

O olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, na sua Lisboa de Lés a Lés explica que «Como decerto o leitor já viu, ao Bairro dos Escolares chamaríamos hoje Bairro Universitário, e as Escolas Gerais ou o Estudo Geral são a Universidade transferida definitivamente para Coimbra em tempo de El-Rei D. João III (1537). Também com certeza sabe o leitor que na Lisboa de hoje existem duas serventias públicas com nomes determinados pelo Estudo fundado por El-Rei D. Dinis: as Escolas Gerais, artéria inclassificada que pertenceu às antigas freguesias de Santa Marinha e de S. Vicente [hoje sob administração das freguesias de  Santa Maria Maior e São Vicente], que a compartilhavam, e a Rua das Escolas Gerais que pertenceu à antiga freguesia de S. Tomé, e durante algum tempo, pelo menos, também à do Salvador [hoje também na administração das freguesias de  Santa Maria Maior e São Vicente].»

A primeira universidade portuguesa foi estabelecida em Lisboa, entre 1288 e 1290, tendo D. Dinis promulgado a carta Scientiae thesaurus mirabili em que conferia vários privilégios aos estudantes do Estudo Geral de Lisboa. Localizar-se-ia então no Campo da Pedreira, uma zona no arrabalde ocidental da cidade, no espaço que hoje conhecemos entre a Rua Garrett e o Convento da Trindade. No século seguinte a Universidade foi transferida várias vezes de Lisboa para Coimbra e vice-versa. Em 1377 regressou por um longo período a Lisboa e em 1431, o Infante Dom Henrique concedeu-lhe várias casas no Pátio dos Quintalinhos, hoje com entrada pelo nº 3 da Rua das Escolas Gerais.

As Escadinhas das Escolas Gerais
Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior
(Foto: Ana Luísa Alvim| CML)

O topónimo primitivo do local será Escolas Gerais, arruamento que hoje une a Rua das Escolas Gerais à Calçada de São Vicente. Dele derivou o arruamento central do sítio, a Rua Direita das Escolas Gerais como aparece mencionada no Atlas de Lisboa de Filipe Folque em 1858 e que denominamos como Rua das Escolas Gerais, pelo menos desde que o Edital do Governo Civil de Lisboa de 1 de setembro de 1859 incorporou a Rua de Marco Salgado na referida como Rua das Escolas Gerais. Esta última teve vários alargamentos a partir de uma proposta do vereador Joaquim José Alves, desde que em 1879 foi expropriada uma parte do terreno do Convento do Salvador para o seu alargamento, a que seguiram mais em 1881 e 1886.

As Escadinhas construídas para ligar a Rua Guilherme Braga à Rua das Escolas Gerais, dada a proximidade, tomaram também a denominação de Escadinhas das Escolas Gerais, e são pertença também das freguesias de  Santa Maria Maior e São Vicente, sendo o último topónimo gerado pela Universidade medieval naquele local.

Mencione-se ainda que Escolas Gerais foi também o topónimo da freguesia local até 1959, quando o Decreto-Lei n.º 42142, de 7 de fevereiro de 1959, remodelou as freguesias da Conceição e das Escolas Gerais: a Conceição ou Conceição Nova viu o seu território repartido pelas freguesias da Baixa de Lisboa, como Madalena, Mártires e São Nicolau e a freguesia das Escolas Gerais passou a designar-se São Vicente de Fora.

Os 3 topónimos com Escolas Gerais
Freguesias de São Vicente e de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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As Escadinhas da Rocha e a Escadaria José António Marques

A Escadaria José António Marques – Freguesia da Estrela
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A ligar a então Rua 24 de Julho (desde 1928 é a Avenida 24 de Julho) ao Jardim das Albertas (desde 1925 é o Jardim Nove de Abril) foi construída uma escadaria entre 1887 e 1892, vulgarmente conhecida por Escadinhas da Rocha ou Escadinhas da Rocha Conde de Óbidos.

Quase um século depois, em 1985, foi atribuído ao espaço o topónimo Escadaria José António Marques pelo Edital municipal de 21/02/1985, para homenagear o fundador da Cruz Vermelha Portuguesa (Lisboa/29.01.1822 – 08.11.1884/Lisboa) no centenário do seu falecimento, junto da sede a instituição no Jardim Nove de Abril, instalada desde 1919 no palácio do primeiro Conde de Óbidos, D. Vasco de Mascarenhas, construído no segundo quartel do séc. XVII.

A edilidade lisboeta no programa das condições para fornecimento de uma grade de ferro para a parte superior da escadaria, de acordo com o desenho de Augusto César dos Santos, em 5 de setembro de 1891, denomina-a escadaria à Rocha do Conde de Óbidos enquanto os postais de 1910 a designam como Escadas da Rocha de Conde d’Óbidos e os de 1920 apenas com Rocha de Conde d’Óbidos. A coincidência de ambos os topónimos radicarem no mesmo palacete faz com que ainda hoje ambos os topónimos sejam usados para este arruamento.

As Escadinhas da Rocha, em construção, em 1891 (Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

 

Lisboa das Escadinhas, Escadas e Escadaria

A Escadaria José António Marques quando era vulgarmente conhecida por Escadinhas da Rocha, em 1965
(Foto: Armando Serôdio, Arquivo Municipal de Lisboa)

Lisboa, com as suas colinas, tem escadas que auxiliam as subidas e as descidas e isso também se espelha na sua toponomenclatura, através de 34 Escadinhas, umas Escadas repartidas por Arroios e São Vicente e ainda, uma Escadaria na freguesia da Estrela.

A Escadaria, construída entre 1880 e 1882, era vulgarmente conhecida por Escadinhas da Rocha, dando acesso a partir da Rua 24 de Julho (desde 1928 é a Avenida 24 de Julho) ao Jardim das Albertas (desde 1925 é o Jardim 9 de Abril), até o Edital municipal de 21/02/1985 a tornar a Escadaria José António Marques, para homenagear o fundador da Cruz Vermelha Portuguesa conforme está na legenda, um lisboeta de nascimento (Lisboa/29.01.1822 – 08.11.1884/Lisboa) que foi cirurgião do Exército e em 11 de fevereiro de 1865 fundou a Comissão Provisória para Socorros e Feridos e Doentes em Tempo de Guerra, sendo o seu primeiro Secretário Geral, influenciado pela participação em representação de Portugal, na Conferência Internacional de Genebra, em que Portugal foi um dos doze países que assinou a I Convenção de Genebra de 22 de agosto de 1864, destinada a melhorar a sorte dos militares feridos em campanha.

A unir a Rua Damasceno Monteiro à Rua das Olarias encontramos as Escadas do Monte, ainda atribuídas por do Edital do Governo Civil de Lisboa, em 11 de janeiro de 1876, que se caracteriza segundo Norberto de Araújo assim: « A empinada Calçada do Monte, defronte do Largo, é, como estás vendo, a resultante de um caminho ou vereda que nos séculos velhos dividia a Cerca do Convento da Graça da encosta poente do Monte de S. Gens».

Escadinhas do Alto do Restelo – Freguesia de Belém

Já Escadinhas são 34 e qualquer que seja a sua época de construção, do início de Lisboa até ao nosso séc. XXI, têm a característica comum de terem recebido, informalmente da população ou do município lisboeta, denominações relativas ao local onde estão implantadas.

Em  Belém,  na Urbanização da Encosta do Restelo estão as Escadinhas do Alto do Restelo, firmadas pelo Edital municipal de 30/07/1999.

Na Ajuda, encontramos as Escadinhas do Mirador do antigo Alto das Pulgas, fixadas pelo Edital municipal de   17/11/1917.

Escadinhas da Saúde – Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Ana Luísa Alvim)

Em Alcântara, por via da Ermida de Santo Amaro edificada em 1549 temos as Escadinhas de Santo Amaro e as Escadinhas do Quebra Costas a avisar do perigo que as mesmas representam.

Em Campolide, no Bairro da Liberdade , estão as Escadinhas da Liberdade, fixadas pelo Edital municipal de 12/04/1995.

Em Campo de Ourique, encontramos as Escadinhas dos Terramotos relativas à Ermida do Senhor Jesus dos Terramotos, situada na Rua Arco do Carvalhão.

Na freguesia da Estrela temos as Escadinhas da Praia fluvial da Madragoa.

Na freguesia da Misericórdia deparamos com as Escadinhas de São João Nepomuceno  a denunciarem a proximidade ao Convento do mesmo santo.

Escadinhas do Carmo – Freguesia de Santa Maria Maior

Em Santa Maria Maior concentram-se 16 Escadinhas. Relativas à proximidade a Ermidas ou Igrejas surgem as Escadinhas de Santo Estêvão próximas da Igreja de Santo Estêvão, as Escadinhas de São Crispim da Ermida de São Crispim, as Escadinhas de São Cristóvão da Igreja de São Cristóvão, as Escadinhas dos Remédios da Ermida de Nossa Senhora dos Remédio (Edital municipal de 24/12/1879), as Escadinhas da Saúde próximas da Ermida da Senhora da Saúde (Edital de 17/05/1906), as Escadinhas de São Miguel, resultado das remodelações de Alfama nos anos 60 do séc. XX e próximas da Igreja da mesma invocação (Edital de 25/01/1963), e também através da recuperação do Chiado após o incêndio de 1988, da autoria do Arqº Siza Vieira, nasceram as  Escadinhas do Santo Espírito da Pedreira pegando no nome do convento dessa Irmandade que ali existiu antes de passar a Armazéns do Chiado (Edital de 12/04/1995), bem como as  Escadinhas do Carmo que permitem a circulação pelos Terraços do Carmo (Edital de 06/06/2016). Com toponímia relativa a moradores locais encontramos as Escadinhas do Marquês de Ponte de Lima (Edital de 01/11/1905) e as Escadinhas de João de Deus (Edital de 08/11/1917). E por último, existem aquelas que guardam a memória do sítio: as Escadinhas Costa do Castelo, as Escadinhas da Rua das Farinhas, as Escadinhas do Terreiro do Trigo, as Escadinhas das Portas do Mar que até ao séc. XVIII eram conhecidas como Escada de Pedra,  as Escadinhas da Oliveira da Rua da Oliveira, ao Carmo (Edital de 29/09/1920) e as Escadinhas da Achada (Edital de 02/05/1940).

Santa Maria Maior ainda partilha com  Arroios as Escadinhas da Barroca, por referência ao Palácio da Barroca já citado em 1755, bem como as Escadinhas das Olarias que vieram susbtituir o antigo Beco dos Empenhadores por Edital municipal de  04/12/1883.

A freguesia de Arroios detém em exclusivo as Escadinhas da Porta do Carro  de abastecimentos do Hospital de S. José e partilha com  São Vicente as Escadinhas Damasceno Monteiro, junto à Rua Damasceno Monteiro (Edital de  21/03/1914).

São Vicente tem 3: as Escadinhas de São Tomé da Igreja de São Tomé do Penedo, as Escadinhas do Bairro América (Edital de 28/12/1932) e as Escadinhas das Comendadeiras de Santos da Quinta das Comendadeiras de Santos (Edital de 10/04/2007). Partilha ainda com  Santa Maria Maior as Escadinhas das Escolas Gerais e as Escadinhas do Arco de Dona Rosa que ali morou numa casa com capela.

Por último, a freguesia do Beato apresenta as Escadinhas de Dom Gastão junto à Calçada de Dom Gastão.

Escadinhas do Santo Espírito da Pedreira – Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Sérgio Dias)

Os Remédios da Senhora da Ermida do Espírito Santo

Escadinhas dos Remédios, nos anos 40 do séc. XX
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Capela de Nossa Senhora dos Remédios, com o seu portal manuelino, edificada no séc. XVI e profundamente alterada no séc. XVIII deu origem a três topónimos nas freguesias de Santa Maria Maior e São Vicente: as Escadinhas dos Remédios, a Rua dos Remédios e a Travessa dos Remédios.

A Ermida de Nossa Senhora dos Remédios chamava-se do Espírito Santo mas Norberto de Araújo esclarece como se passou de um orago a outro ao relatar que «Nesta Ermida do Espírito Santo havia um poço, onde certo dia apareceu uma imagem de Nossa Senhora, a qual apesar de ser tirada da água, vinha enxuta em sua pintura e tecido. Milagre foi! E acorriam os pescadores e famílias a implorar à Virgem remédio a seus males, e Nossa Senhora os curava. Daí a receber a imagem a invocação de Nossa Senhora dos Remédios foi um salto.»

A Rua dos Remédios, ainda segundo Norberto de Araújo, foi até 1859 a Rua das Portas da Cruz, aludindo a uma das mais importantes portas naturais de Lisboa que ali existia, que se integrou na Cerca de D. Fernando, embora pelo menos no seu troço inicial fosse  no séc. XVIII denominada como Calçada dos Remédios.

Já as Escadinhas dos Remédios, pertença apenas da Freguesia de Santa Maria Maior, ligam o Beco da Lapa à Rua dos Remédios, desde a publicação do Edital municipal de 24/12/1879.

E finalmente, a Travessa dos Remédios que se abre junto ao nº 171 da Rua dos Remédios e não tem saída, foi o resultado de nova categoria dada pelo Edital de 13/12/1882 ao Beco dos Remédios, que ainda antes disso era conhecido como Beco do Frois.

Freguesias de Santa Maria Maior e São Vicente
(Planta: Sérgio Dias)

 

As Escadinhas e a Rua da Senhora da Saúde contra a peste

As Escadinhas da Saúde em 1945 (Foto: Fernando Pozal Martinez, Arquivo Municipal de Lisboa)

As Escadinhas da Saúde em 1945
(Foto: Fernando Pozal Martinez, Arquivo Municipal de Lisboa)

As Escadinhas da Saúde e a Rua da Senhora da Saúde, hoje artérias integrantes da freguesia de  Santa Maria Maior, são topónimos que derivam da proximidade à Ermida da Senhora da Saúde, erguida no séc. XVI em honra de São Sebastião,  para combater a peste que grassava em Lisboa e que a partir de 1661 passou a ser Ermida da Senhora da Saúde.

A Ermida da Senhora da Saúde foi construída em 1505 mas dedicada a São Sebastião, mártir cristão padroeiro contra os males da peste, da fome e da guerra, por iniciativa dos artilheiros da guarnição de Lisboa, denominados bombardeiros, justamente em agradecimento por ajudar a debelar a peste que grassou na cidade.

Em 1570,  também em agradecimento por a epidemia não ter progredido mais o Senado dirigiu uma petição ao rei D. Sebastião para se realizar uma cerimónia religiosa, com toda a solenidade, desta feita já dedicada a Nª Sr.ª da Saúde e assim, em 20 de abril desse ano saiu a 1ª procissão de Nossa Senhora da Saúde, cuja imagem se encontrava então no oratório do Colégio dos Meninos Órfãos. Foi ainda nesse ano que se fundou a Irmandade da Senhora da Saúde, sediada no Colégio dos Meninos Órfãos, onde ficava guardada a imagem da padroeira. A procissão da Senhora da Saúde ganhou tradição, tanto mais que  o Senado da Câmara deliberou em  1572 que a procissão se realizasse todos os anos, na terceira quinta-feira do mês de Abril.

Em 1596 foi criada a paróquia de São Sebastião, na Mouraria, por desmembramento de Santa Justa e a Ermida ficou sede da paróquia. Depois, a sede de paróquia mudou  para a Igreja do Socorro, em 1646. E passados 17 anos, em 1661, as duas irmandades – artilheiros de S. Sebastião e Nª Srª da Saúde –  fundiram-se na Associação da Senhora da Saúde e de S. Sebastião e a Capela passou a ser de Nossa Senhora da Saúde, com a imagem da Senhora a ocupar o altar principal, à qual  Dom Pedro V conferiu a  dignidade de Capela Real, em 1861.

Escadinhas da Saúde -Freguesia de Santa Maria Maior (Foto: Sérgio Dias)

Escadinhas da Saúde -Freguesia de Santa Maria Maior
(Foto: Sérgio Dias)

As Escadinhas da Saúde, que ligam a  Rua da Mouraria à Rua Marquês de Ponte de Lima, enquanto topónimo resultaram de uma deliberação camarária de 17 de maio de 1906 e com esta denominação surgem na Planta Topográfica de 1910 de Júlio Silva Pinto e Alberto de Sá Correia. O seu traçado havia sido entregue à Câmara em 12 de dezembro de 1899, por António Caetano Macieira, que no seu terreno  pretendia construir uma escadaria para ligar a Rua da Mouraria à Rua Marquês Ponte de Lima.

Já a Rua da Senhora da Saúde só nasceu no final do séc. XX. Em 1991, a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa (EPUL), como Gestora do Plano de Recuperação Urbana do Martim Moniz, solicitou à Câmara a atribuição de nomenclatura própria aos arruamentos recentemente construídos na zona do Martim Moniz e assim, pelo Edital de 30 de abril de 1991 foi atribuída a denominação de Rua Martim Moniz  e ao arruamento compreendido entre a Rua Fernandes da Fonseca e a Rua Martim Moniz, coube a designação de Rua da Senhora da Saúde.

Todavia, passados 6 anos,  o Edital de 15 de dezembro de 1997 uniu as Ruas da Senhora da Saúde e Martim Moniz numa única artéria, sob a denominação Rua da Senhora da Saúde, e levou Martim Moniz a ser o topónimo da Praça adjacente.

Freguesia de Santa Maria Maior (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias)