As Escadinhas de João de Deus que são a continuação da Travessa de João de Deus na forma de escadaria, foram um topónimo oficializado pelo Edital municipal de 8 de novembro de 1917, já que como refere o documento «denominação esta por que é vulgarmente conhecida», assim guardando a memória do proprietário de outrora deste local da quinhentista Vila do Olival.
Sobre a Trindade, escreveu Gil Vicente na sua Nau dos Amores de 1527: Antes que fosse Lisboa/ nem houvesse aqui cidade,/ iam todos à Trindade,/ com três cães e uma furôa, caçar à sua vontade. E 24 anos depois, a zona já estava urbanizada como Cristóvão Rodrigues de Oliveira mostra no seu Sumário de 1551, no qual já menciona a Rua de João de Deus, bem como as Ruas de Mestre Gonçalo, de João do Barreiro, da Condessa de Cantanhede, do Conde da Vidigueira, do Arco do Capitão dos Ginetes, de Jerónimo Dias, de André Soares, do Cabo da Porta Principal da Trindade, de João Fialho, da Oliveira, da Portaria do Carmo, de João Brandão (seria a antiga Rua dos Laudatos, segundo Gustavo Matos Sequeira), a Rua Direita da Trindade, a Rua da Calçada do Carmo, o Campo da Trindade, a Frontaria do Carmo e o Bairro do Marquês, na então freguesia de São Nicolau.
A Travessa de João de Deus, de acordo com Gustavo de Matos Sequeira, no seu O Carmo e a Trindade (1939), existiria pelo menos desde a primeira metade do séc. XVI e incluiria mais um troço que hoje é parte da Rua Nova da Trindade, entre a Travessa de João de Deus e o Largo Trindade Coelho. Ainda segundo este olisipógrafo, na quinhentista Vila Nova do Olival, a Travessa de João de Deus teria antes sido designada Rua de João de Deus, Rua do Olival ou Rua da Oliveira (1535), Rua do Poço no chão do Olival (em 1536), Travessa da Portaria do Carro da Trindade e outra vez Rua ou Travessa de João de Deus. Precisa ainda Matos Sequeira que «o caminho que se abria no olival em frente ao postigo do Conde e em direcção ao Mosteiro do Carmo, dividindo as herdades dos Trinos e dos Carmelitas, obrigaria a outra que veio a chamar-se, depois, rua da Condessa da Vidigueira, e hoje [1939], simplesmente, rua da Condessa; e os quintais e ortas dos Trinitários que limitavam, pelo Poente e Norte, o olival, determinariam outros dois alinhamentos, ambos chamados ruas do Olival mas que depois se distinguiram: – o primeiro passando a nomear-se rua da Oliveira, e o segundo travessa ou rua de João de Deus».
O João de Deus que surge neste topónimo e que da antiga Travessa ou Rua se estendeu às Escadinhas, era um proprietário local quinhentista. Gustavo de Matos Sequeira atestou-o a partir de «Uma escritura de venda, de 1558, sôbre umas casas que eram de Francisco Martins e de sua sogra e mulher, herdeiros de um Manuel Gonçalves, e passaram a ser do nosso conhecido Diôgo de Neiva, e depois de João Rodrigues Pascoal e de seu filho Baltazar Rodrigues Pascoal, já também referidos, diz-nos que tal moradia “partia com casas que foram de João de Deus e com quintal de Diogo de Neiva, cavaleiro-fidalgo da casa de El rei e Escrivão dos Armazens do reino, e com quintal de João Fernandes, ladrilhador.»
No início do séc. XVI, o Carmo e a Trindade, território que depois veio a constituir a freguesia do Sacramento em 1584, estava na posse dos frades do Convento da Santíssima Trindade bem como do Mosteiro do Carmo, da Câmara de Lisboa e dos Marqueses de Vila Real. Matos Sequeira descreve que «todos os prédios destas ruas, foreiros aos Trinos, tinham aposta nas fachadas uma lápide com o letreiro Trindade, significativo do domínio directo dos frades» e no seu O Carmo e a Trindade, publicado em 1939, revela mesmo que «Na fachada da casa que torneja da travessa de João de Deus para a rua Nova da Trindade, além do letreiro, ainda se vê, superiormente a êle, a primitiva cruz.»