A Praça das Amoreiras de 1761 e da Mãe d’Água

Praça das Amoreiras no início do século XX
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

As amoreiras que dão nome a esta Praça, que começou por ser Largo, datam de 1761 e ligam-se ao pombalino Bairro das Águas Livres de que o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras no º 10 do arruamento ainda guarda a memória.

O Marquês de Pombal, no seu ímpeto de desenvolvimento das manufaturas nacionais, traçou em 1759 o plano do Bairro das Águas Livres, aprovado pelo Decreto de 14 de março. Este Bairro englobava mais uma Fábrica de Sedas, a pombalina, cujo epíteto de Real Colégio de Manufacturas Nacionais demonstrava que a Real Fábrica das Sedas para além de manufaturas de seda se dedicava a dar aulas aos aprendizes. Foi para esta fábrica que  de 1761 a 1771 se plantaram as  331 amoreiras, que mais tarde ficarão no topónimo Bairro das Amoreiras. Nas proximidades ficava  um conjunto de fábricas de outra natureza desde cartas de jogar a pentes, passando por botões, lençaria, chapéus, cutelaria, fundição de metais, relógios, serralharia, tapeçaria e louça. E em volta da Praça da fábrica – como a apelidava D. José I -,  ou Largo das Águas Livres mas que pelo menos desde de 1807 é a Praça das Amoreiras –  conforme é denominada na planta de Duarte Fava -, foram rasgadas diversas ruas, onde foram edificados prédios de estrutura pombalina, destinados a residências dos fabricantes que trabalhavam na fiação e aos aprendizes que trabalhavam com eles.

Freguesia de Santo António
(Foto: Rui Mendes)

Foi o Aqueduto das Águas Livres que começou por dar o topónimo ao Bairro pombalino e à sua praça central como Largo das Águas Livres. Ainda por ordem de Marquês de Pombal será na segunda metade do século XVIII aqui colocado o reservatório da Mãe d’Água. Algures na passagem do séc. XVIII para o XIX, as amoreiras pombalinas tomaram conta da toponímia da zona.  Por exemplo, em  1867, a feira que se realizava no Príncipe Real denominava-se Feira das Amoreiras e em 1868, numa informação municipal sobre a posse da Ermida de Nossa Senhora de Monserrate, a artéria é denominada Praça da Fábrica da Seda no original da doação de D. José I e nas notas do séc. XIX tanto surge Largo das Amoreiras como Praça das Amoreiras .

Para além das amoreiras, o ajardinamento desta Praça das Amoreiras começou a ser executado a partir de 1886, a que em 1892 se juntou um chafariz com duas torneiras e tanque para o gado, um lavadouro, um telheiro, uma casa do capataz e uma casa de arrecadação anexa à do capataz.

Nos dias de hoje a Praça das Amoreiras encontra-se na confluência da Rua das Amoreiras, Rua João Penha e Travessa da Légua da Póvoa, e a partir deja surgiram mais topónimos locais semelhantes: a Rua das Amoreiras (Edital do  Governo Civil de Lisboa de 03/02/1874) e a Travessa das Amoreiras (Edital municipal de 08/06/1889).

Freguesia de Santo António
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do Engº Carlos Alves da Cometna e da AIP

Freguesia de Carnide
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Engº Carlos Alfredo Garcia Alves, fundador da Cometna e Presidente da AIP- Associação Industrial Portuguesa, está perpetuado na Rua Carlos Alves, a ligar a Rua Corino de Andrade à Rua Cesina Adães Bermudes, no Pólo Tecnológico de Lisboa.

Com a legenda «Industrial/1898 – 1972», a Rua Carlos Alves nasceu a partir de uma proposta da Lispolis – Pólo Tecnológico de Lisboa para serem denominados os arruamentos onde se encontra instalada e assim ficou na Rua I do Pólo Tecnológico de Lisboa, através do Edital municipal de 24 de setembro de 2009.

Carlos Alfredo Garcia Alves (Lisboa/17.03.1898 – 24.05.1972/Lisboa), licenciado em engenharia eletrotécnica (1921) e mecânica (1922) pela francesa Universidade de Toulouse, distinguiu-se como fundador da Cometna, bem como enquanto Presidente da AIP- Associação Industrial Portuguesa no período de 1960 a 1972, tendo logo em 1962  mudado a sede social da AIP  em definitivo para a Junqueira. Também assumiu funções de membro da Comissão Administrativa da FIL – Feira das Indústrias Portuguesas e dirigiu a revista Indústria Portuguesa da AIP de 1938 a 1961.

Enquanto engenheiro e industrial, Carlos Alves  também desempenhou funções de administração nos setores siderúrgico, metalúrgico e elétrico como Sócio-gerente da firma Alfredo Alves & C.ª e Filhos, Presidente da Assembleia Geral da Cometna, Presidente da Assembleia Geral da Companhia Metalúrgica Nacional, administrador da Siderurgia Nacional.  Foi também membro da administração  e Vice-presidente em 1966 das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade (a antecessora da EDP), para além de ter assumido a presidência do Conselho Geral da Caixa de Previdência dos Técnicos e Operários Metalúrgicos e Metalomecânicos, bem como da Caixa de Previdência das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade e também do Grémio dos Industriais Metalúrgicos do Sul, em cuja qualidade integrou a Câmara Corporativa. Em junho de 1966, na I Semana da Metalomecânica, no Grémio dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos do Sul em Lisboa, apresentou a comunicação «Indústria e Metalúrgica e Metalomecânica. Alguns aspectos e problemas do seu desenvolvimento». Somou ainda à sua carreira a participação no  Conselho Fiscal do Banco Burnay e no Conselho da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial.

Carlos Alves foi ainda deputado na Assembleia Nacional durante 24 anos, de 1949 a 1973, da V à X Legislatura, tendo sempre participado nas comissões ligadas às Indústrias metalúrgicas e metalomecânicas, bem como sido  Vogal do Conselho Superior da Indústria;  da Comissão Reguladora do Comércio de Metais;  da Comissão Revisora de Pautas e dos Tribunais Técnicos Aduaneiros de 1.ª Instância.

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua da Fábrica de Estamparia da Gualdim Pais

Freguesia do Beato
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua da Fábrica de Estamparia, na freguesia do Beato,  guarda desde 2004 a memória de uma unidade fabril de estampagem da 2ª metade do século XIX, sediada numa importante concentração fabril de Xabregas dos séculos XIX e XX, a Estrada de Chelas , mas que mais tarde será registada como da Rua Gualdim Pais, no seu nº 57.

Este arruamento resulta da junção da Rua B e da Rua F à Rua Carlos Botelho sob o topónimo Rua da Fábrica de Estamparia através do Edital municipal de 10 de fevereiro de 2004. Pelo mesmo edital foram atribuídos nos restantes arruamentos do bairro outros topónimos relativos a fábricas, a saber, o Largo da Fábrica de Fiação de Xabregas, o Largo da Fábrica de Tecidos Oriental, a Rua da Fábrica de Tecidos Lisbonenses e a Rua da Fábrica das Moagens, assim perpetuando a edilidade lisboeta a memória da industrialização da zona do Beato e Xabregas desde meados do século XIX até quase ao final do século XX através de expoentes simbólicos dessa memória da zona oriental de Lisboa, industrialização que no pólo ocidental se centrou na Boavista, Alcântara e Belém.

Toda a zona de Xabregas esteve recheada de estamparias e as primeiras estabeleceram-se ali logo desde o século XVIII, como foram os casos das de António Ignácio de Almeida (1783 a 1834), de Bernardo José Pacheco na Quinta da Misericórdia (1786), de António Mercadé na Calçada de Chelas (1791), de João Gomes Loureiro e Paulo José Rocha (1795), de Joaquim José Vasques & Cª (anteriores a 1798) e de Manuel Lopes Pereira (referenciada em 1798). No século XIX ficaram arroladas as estamparias de Pedro Dias de Sousa (1822 a 1834), de Joaquim Pedro Xavier (anterior a 1813), de António José de Brito e a Vasques e Companhia. No início do século XX, já só existiam duas estamparias nesta zona,  que eram a de Ignácio de Magalhães Bastos & Cª e a de José Pedro de Mattos, ambas na então Estrada de Chelas, sendo que a primeira trabalhava materiais como o algodão e a lã, com um tipo de maquinaria moderna para a época e cerca de 80 operários, enquanto a segunda, com 150 trabalhadores, produzia peças como camisas ou lençóis para todo o país.

Na Estrada de Chelas funcionavam ainda a Fábrica de Grude, também de Ignácio de Magalhães Basto & Cª bem como a Fábrica de Fiação e Tecidos de Lã, de José Lourenço  de Medely & Filhos (pelo menos até 1907). A Fábrica de Estamparia a que este  topónimo se reporta nasceu na 2ª metade do século XIX na artéria que hoje conhecemos como Rua Gualdim Pais (assim denominada desde o Edital de municipal de 19 de junho de 1933 uma parte da antiga Estrada de Chelas), no espaço que teve o 57 como numeração de polícia. O historiador Jorge Custódio realça que «Na cota menor do vale veio a implantar-se uma avenida – a Estrada de Chelas – , espécie de cordão umbilical da actividade industrial e comercial da vasta área, por onde saíram ainda os produtos hortícolas das quintas vizinhas.»

Na freguesia do Beato existiram ainda várias outras unidades fabris de relevo económico e social como a fábrica de João de Brito, mais tarde  conhecida como A Nacional; a fábrica de preparo de cortiça de José Viallonga; a fábrica de Licores de Moraes Ferrão & Irmãos; a Companhia Portuguesa de Fósforos; a Fábrica de Sabão Viúva Macieira & Filhos e a Fábrica de Sabão Sousa & Ca.

Freguesia do Beato
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do dono da Fábrica Alves Gouveia

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Francisco Alves Gouveia era o proprietário de uma estamparia que criou nos Olivais, assim como de um bairro para os seus operários, sito no arruamento entre a sua fábrica e a igreja, então denominado Rua das Casas Novas, mas que mais tarde virá a ser a Rua Alves Gouveia.

Tudo começa em 1874 quando o  industrial Francisco Alves Gouveia funda na antiga Quinta das Casas Novas, nos Olivais, a  Fábrica Francisco Alves Gouveia. Era uma  estamparia de tecidos, com tinturaria e branqueamento de algodões que gradualmente se foi expandindo para fora dos limites da primitiva quinta onde foi construída, sendo que  três anos depois do início da laboração, em 1877, empregava já mais de 200 operários.  Esta unidade fabril produzia chitas, zuartes (gangas azuis), lenços de cores e algodões branqueados, onde os processos manuais se mantiveram por mais de três décadas coexistindo com máquinas a vapor. O caminho-de-ferro nascera cerca de 20 anos antes, em 1856, a ligar Lisboa ao Carregado, tendo os Olivais uma estação própria que facilitava o escoamento de produtos.

Supomos que o industrial Alves Gouveia tenha falecido nos anos trinta do séc. XX, uma vez que a sua esposa  Maria José Marques Alves Gouveia comprou em 24 de agosto de 1932 um terreno no Cemitério do Alto de São João para a construção do jazigo (que ficou com o n.º 5618). Também porque a Fábrica mudou de nome em 1935 passando a designar-se União de Estamparia, Lda. e desde 1944 tornou-se a F. A. Gouveia Lda., denominação sob a qual solicitou à Câmara Municipal de Lisboa licença para demolição dos edifícios da fábrica de estamparia, na zona sul da Avenida de Berlim, em 18 de setembro de 1973, tendo assim esta empresa laborado quase cem anos.

Já o bairro operário disposto ao longo de um arruamento que virá a ser a Rua Alves Gouveia, surge oito depois do início da laboração da fábrica, em 1882, para as casas dos números pares, datando as dos  números ímpares de 1889. Francisco Alves Gouveia mandou construir  um bairro com habitações de renda económica para os seus trabalhadores,  no arruamento que se estendia desde a fábrica até à Igreja de Santa Maria e que nessa época se denominava Rua das Casas Novas. Alves Gouveia também mandou edificar um prédio no largo do rossio da Igreja, de maior volumetria e qualidade estética, provavelmente para os empregados técnicos e administrativos. Este bairro operário só ficou totalmente concluído em 1907 e a sua única artéria, que era também a principal via dos Olivais Velho, foi nomeada Rua Alves Gouveia, conforme aparece já na planta de Silva Pinto de março de 1907. Alves Gouveia também mandou construir no local uma escola primária para os operários e os filhos destes, bem como um clube de bairro, embora de todo o conjunto industrial e social edificado por este empresário hoje só sobrevivam as habitações operárias.

Finalmente, refira-se que nos Olivais de 1891 a 1896, foi erguido um chafariz, um coreto – onde então a Filarmónica Capricho Olivalense abrilhantava os bailes de domingo – e ainda, um urinol público em ferro, no Rossio dos Olivais delineado após o terramoto de 1755 (é a Praça da Viscondessa dos Olivais desde 22 de julho de 1892), que alguns estudiosos apontam ter sido Francisco Alves Gouveia o mecenas destes equipamentos.

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua Francisco Cortês Pinto, do Laboratório Sanitas e da AIP

Freguesia de Carnide
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Por sugestão da Lispolis, os arruamentos do Pólo Tecnológico de Lisboa receberam nomes de industriais, banqueiros e investigadores, sendo assim que a Rua G do Pólo Tecnológico de Lisboa foi denominada Rua Francisco Cortês Pinto, com a legenda «Industrial/1885 – 1974», pelo Edital municipal de 24 de setembro de 2009, para homenagear o fundador do Laboratório Sanitas e Presidente da AIP.

Pelo mesmo Edital, assim também como pelo Edital municipal de 02/10/2009, a edilidade colocou nas restantes Ruas do local os nomes dos industriais António Champalimaud (Rua A) e Carlos Alves (Rua I),  do banqueiro Cupertino de Miranda (Ruas C e D), do  precursor das modernas teorias de economia e finanças Carlos Morato Roma (Rua J ) e das médicas Cesina Adães Bermudes (Ruas E e F) e Laura Ayres (Rua H).

Francisco Cortez Pinto (Leiria/12.02.1885 – 30.07.1974/Lisboa) foi um major médico de carreira, que teve consultório no nº 24 da Rua Dom João V e que em 1911 fundou, com o farmacêutico Horácio Pimentel,  a firma Cortês Pinto Pimentel, Lda., a proprietária do Laboratório Sanitas que sempre teve sede em Lisboa e se tornou uma importante indústria de produtos farmacêuticos.  Nesta área, a partir de 1939, foi também o 1º Presidente da Direção do Grémio Nacional dos Industriais de Especialidades Farmacêuticas.

Como industrial, Cortez Pinto exerceu cargos dirigentes em empresas dos setores metalúrgico, elétrico, do papel, do mobiliário metálico, da banca e dos seguros tendo também até aos seus 89 anos de vida desempenhado vários funções na direção da AIP  – a Associação Industrial Portuguesa cujos primeiros estatutos datam de 1837 – a partir do triénio de 1924- 1926, tendo sido Presidente da AIP no período de 1941 a 1960, qualidade em que logo no primeiro mandato a AIP adquiriu uma nova sede na Avenida da Liberdade. Em 1949, recuperou os pavilhões da Exposição do Mundo Português e transformou-os na FIP – Feira das Indústrias Portuguesas, a antecessora da Feira Internacional de Lisboa de 1957 , construída de raiz na Junqueira segundo o traço dos arqºs  Francisco Keil do Amaral, Alberto José Pessoa e Hernâni Gandra, de que mais tarde será Presidente.

Acresce que Francisco Cortez Pinto, licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra, chefiou o Laboratório de Bacteriologia e Análises do Hospital Militar da Estrela, assim como os serviços de saúde da coluna enviada a Cassinga e Evale (1915-1916),  tal como foi diretor do Hospital-Ambulância de Fauquembergues e dos serviços de saúde do Batalhão de Infantaria 24, ambos na  Flandres (1917).

Refira-se ainda que este leiriense foi membro do Rotary Club of Lisbon e doou à sua cidade-natal no 4º Centenário de Elevação a cidade (1945) o grupo escultórico A caminho da feira de Anjos Teixeira , tendo sido distinguido  em 5 de outubro de 1932 com o grau de Comendador da Ordem do Mérito (Classe do Mérito Industrial), bem como em 1975, a título póstumo,  foi condecorado pelo governo polaco pelo seu apoio aos judeus  polacos perseguidos pelo nazismo ao disponibilizar uma casa-refúgio em Caxias.

Freguesia de Carnide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua da Quinta do Cabrinha e a Fábrica Cabrinha

Freguesia de Alcântara

A Quinta do Cabrinha, cujo topónimo radica num antepassado de D. Francisco Manuel de Melo, passou esse nome alguns séculos mais tarde à Fábrica Cabrinha da Companhia Lisbonense de Algodões  e ambas criaram no lugar a memória para fazer nascer a Rua da Quinta do Cabrinha em 1999, através do  Edital municipal de 9 de fevereiro, no arruamento situado entre a Avenida de Ceuta e a Rua da Fábrica da Pólvora.

Esta Rua da Quinta do Cabrinha foi um novo arruamento de Lisboa do final do séc. XX, a funcionar como um bairro, construído por iniciativa municipal entre 1998 e 1999, para realojamento de famílias oriundas do Casal Ventoso, num contexto de renovação e qualificação da cidade.

Mas indo ao século XVII vemos Alcântara, no Reguengo de Algés e próxima da cidade de Lisboa, a acolher a família real em 1605 e consequentemente, seguiram a instalação de várias quintas de nobres, como a dos Saldanhas, as de Diogo Mendonça e dos Caldas, a dos Carvalhos (depois chamada do Fiúza) e a Quinta do Cabrinha,  de D. Francisco Manuel de Melo (Lisboa/1608 – 1666/Alcântara – Lisboa), localizada na margem da ribeira de Alcântara,  na qual faleceu em 1666 este nobre, político e escritor, conhecido autor de Apólogos Dialogais ou de O Fidalgo Aprendiz.

O antepassado de Francisco Manuel de Melo de nome Antão Rodrigues da Câmara,  filho bastardo de Rui Gonçalves da Câmara e neto de João Gonçalves Zarco, era Cabrinha de alcunha, tal como sucedeu com Francisco de Mello Manuel da Câmara, que governou o Maranhão de 1806 a 1809,  por ser muito moreno e nestas alcunhas se originou o nome pela qual a Quinta de Alcântara acabou por ficar conhecida, segundo Edgar Prestage no seu D. Francisco Manuel de Mello – Esboço Biographico,  publicado em 1914 pela Universidade de Coimbra.

Em 1690, começou a ser construída próxima da Quinta do Cabrinha a Fábrica da Pólvora,  por iniciativa de Carlos de Sousa e Azevedo. A obra foi acabada em 1728 por António Cremer, que era então o Intendente da Pólvora do Reino. Esta indústria cessou as suas funções  após o Terramoto de 1755 passando a laboração para a Fábrica de Barcarena. Por outro lado, entre os séculos XVII e XVIII, nos terrenos da Quinta do Cabrinha foi criado o Páteo 149,  num edifício da Quinta, para acolher quem trabalhava na Fábrica.

Já em meados do século XIX, em 1874, foi instalada na Quinta a Fábrica de Chitas da Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodões, em dois edifícios imponentes, que foi designada Fábrica Cabrinha. Para os seus operários, que segundo o Inquérito Industrial de 1881 eram 65,  foi construído em 1878 um conjunto de habitações de três pisos, ao longo de 150 metros,  sob o nome de Vila Cabrinha. Esta situação foi também mencionada por Edgar Prestage: «Do lado esquerdo da estrada que vae de Alcântara a Sete-Rios encontramos uma quinta extensa plantada com oliveiras e chamada “do Cabrinha”, que é propriedade da Estamparia lá installada; foi comprada, ao que nos disseram, ao Sr. Joaquim José Anjos ha trinta e cinco annos [por volta de 1879] . » Mais tarde, esta Fábrica passará a ser propriedade da Sociedade Têxtil do Sul.

Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua da Fábrica das Moagens Aliança na Rua de Xabregas

Freguesia do Beato                                                                      (Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Fábrica de Moagens a Vapor Aliança, nascida em 1870, na então Rua Direita de Xabregas, dá nome a uma artéria da Freguesia do Beato desde 2004, a Rua da Fábrica das Moagens, num conjunto de arruamentos em que a edilidade quis perpetuar a memória das fábricas desta zona oriental de Lisboa.

A Fábrica Aliança, como era conhecida, ficou perpetuada na Rua da Fábrica das Moagens,  topónimo dado à Rua A e à Rua C à Rua Carlos Botelho, pelo Edital de 10 de fevereiro de 2004, o mesmo que  atribuiu a Rua da Fábrica de Estamparia (Rua B e Rua F), o  Largo da Fábrica de Fiação de Xabregas (Rua D),  o Largo da Fábrica de Tecidos Oriental ( Rua E ) e a Rua da Fábrica de Tecidos Lisbonenses (Rua G).

A Rua de Xabregas em 1871, numa planta municipal

Propriedade de João Luiz de Sousa & Filho, a Fábrica de Moagens a Vapor Aliança estabeleceu-se em 1870 na Rua de Xabregas,  junto ao viaduto ferroviário,  num edifício de três andares expressamente construído para o efeito como um edifício-máquina, para permitir  a moagem de trigo austro-húngara, um processo mecanizado a vapor disposto em andares, de amplos salões travejados a ferro, com um mecanismo de rolos de porcelana, ferro fundido ou aço, produzindo uma fina e alva.  Este novo sistema de moagem terá sido inventado entre 1821 e 1832, ou na Suíça ou na Hungria, mas o seu nome deve-se a terem sido os húngaros e os austríacos os primeiros a usá-lo e a difundi-lo, por exemplo, nas Exposições Universais de Viena (1873) e Paris (1874). Em 1898, a Fábrica de Moagens a Vapor Aliança empregava 50 operários.

Os mesmos proprietários tinham desde 1877 mais uma fábrica, para produção de massas alimentícias, na Rua do Barão, próxima da Rua de São João da Praça. A Fábrica Aliança  acabará  por integrar-se na Nova Companhia Nacional de Moagem em 1908 e a partir de dezembro de 1919 na Companhia Industrial de Portugal e Colónias, SARL que comercializava as marcas Nacional e Napolitana.

Freguesia do Beato
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Rua do industrial da CUF, Alfredo da Silva

Freguesia da Ajuda
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O empresário e industrial Alfredo da Silva, sobretudo conhecido pela sua obra na CUF, desde a publicação do Edital municipal de 21 de dezembro de 1960 que dá o seu nome à Rua D à Quinta do Almargem ou à Calçada da Boa-Hora, com a legenda «Industrial/1871 – 1942», oito anos após o ofício nº 485/52 do Sindicato Nacional dos Comercialistas solicitar a inclusão do nome de Alfredo da Silva na toponímia de Lisboa.

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Alfredo da Silva (Lisboa/30.06.1871 – 22.08.1942/Sintra) era filho de um rico comerciante de Lisboa, Caetano Isidoro da Silva,  com casa comercial e morada no n.º 185 da Rua Bela da Rainha [Rua da Prata desde novembro de 1910], e de Emília Augusta Laymée Ferreira, de ascendência francesa, pelo que estudou no Liceu Francês até à morte do seu pai em 1885. Dois anos depois matriculou-se no Curso Superior de Comércio do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa,  sendo que em 1890 já detinha o encargo de gerir a herança da família e três anos depois, em 1893,  era por herança acionista um dos administradores do Banco Lusitano e da Companhia Aliança Fabril (CAF), que fabricava sabões e velas em Alcântara e de que era administrador Henry Burnay.

No ano seguinte, em 19 de abril de 1894, casou-se com Maria Cristina Resende Dias de Oliveira, tendo como padrinho o banqueiro João Baptista Dotti, um dos principais acionistas da CAF. A filha nascida desse casamento – Amélia de Resende Dias de Oliveira da Silva- casará com Manuel Augusto José de Mello, o genro que depois comandará a CUF, empresa que pertencerá por esta aliança familiar ao Grupo Mello.

Henry Burnay era administrador da CAF mas também da CUF (Companhia União Fabril) e após um incêndio da primeira, conjugou a sua vontade com a de Alfredo da Silva para a fusão das duas, união que foi formalizada em 22 de abril de 1898 sob o nome de CUF e que se desenvolveu produzindo adubos em grande escala, aproveitando a ideia do Estado potenciar o cultivo de cereais no Alentejo.

Acionista da Carris também por herança paterna, Alfredo da Silva foi convidado pela empresa em 1892 a fazer uma visita a algumas cidades da Europa para estudo dos melhores sistemas de tracção mecânica, tendo o seu relatório apontado para o que viriam a ser os Eléctricos da Carris, tendo o primeiro circulado no dia 31 de agosto de 1901 da Praça do Comércio a Algés.  Alfredo da Silva  foi diretor da Carris entre 1896 e 1899, com Zófimo Consiglieri Pedroso e Carlos Krus.

Alfredo da Silva diversificou os seus negócios em várias áreas e tornou-se um dos industriais mais ricos de Portugal. Esteve na criação da Tabaqueira do Poço do Bispo (1927) e na produção de tecidos para sacas de adubos, arrecadou a exploração do Porto de Lisboa no Estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos (1936),  entrou na navegação e nos territórios africanos para controlar o transporte e matérias-primas, comprou o Banco Totta e a Companhia de Seguros Império, investiu na metalurgia.

Como diversos industriais do final do séc. XIX e principio do séc. XX, também Alfredo da Silva  se mostrou interessado em fixar os seus trabalhadores nas cercanias das suas fábricas, através da construção de  bairros operários, mercearias, padarias e até posto médico, de que foi exemplo maior o Barreiro, onde instalou fábricas de adubos a partir de 1907, assim como chegou mesmo a abrir uma escola para ambos os sexos em 1927. Todavia Alfredo da Silva geriu a CUF à distância quando se refugiou em Espanha e França após ter sido vitima de três atentados fracassados, tendo o último sido de outubro de 1921 e a sua ausência de Portugal até 1927.

Envolveu-se na política  ao ser eleito deputado  regenerador em 1906 e apoiante de João Franco; ao apoiar Sidónio Pais (1918) e depois o Estado Novo, tendo conquistado um lugar na Câmara Corporativa logo em 1935 e opôs-se frontalmente à lei das 8 horas de trabalho diário. No ano seguinte, conseguiu que fosse adjudicada à CUF a concessão do Estaleiro da Rocha Conde de Óbidos que será o embrião da Lisnave.

Alfredo Silva foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial (1932), como Sócio Honorário do Ginásio Clube Figueirense (1933) e com a atribuição do seu nome a agrupamentos escolares do Barreiro e de Rio de Mouro, bem como uma Avenida no Barreiro e outra em Rio de Mouro (no Bairro da Tabaqueira), assim como ruas em  Alfragide e São Domingos de Rana.

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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A Calçada Agostinho de Carvalho, o industrial das Olarias do séc. XVII

Freguesias de Santa Maria Maior e de São Vicente
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Agostinho de Carvalho, industrial de cerâmica do séc. XVII no Bairro das Olarias, ficou com o seu nome gravado na Calçada onde viveu, entre a Rua das Olarias e a Rua do Terreirinho.

Luís Pastor de Macedo, citando o Dicionário Bibliográfico de Inocêncio Francisco da Silva, afirma que Agostinho de Carvalho foi um importante industrial de cerâmica que casou em 1618 com Bárbara Fernandes, ano em que vivia no arruamento que depois tomou o seu nome: a Calçada Agostinho de Carvalho, então ainda com a partícula «de». Segundo Pastor de Macedo «a calçada aparece já com o nome que hoje tem em 1637 [na Notícia histórica do bairro das Olarias do padre António Lourenço Farinha], mas de facto sem a partícula “de”, como já observara G. de B. [Gomes de Brito] encontrar-se mencionada no “Itinerário Lisbonense” de 1804.»

No último quartel do séc. XIX a Calçada Agostinho de Carvalho passou a ter  passeios e valetas (1880) e um cano de esgoto ligado ao cano da Rua do Benformoso (1887). De 10 de novembro de 1890 a 12 de outubro de 1912, a artéria foi alinhada,  desde a Rua do Terreirinho até à Rua das Olarias, tendo para o efeito a Câmara Municipal de Lisboa trocado terrenos com  Joaquina Amélia dos Santos de que se lavrou escritura em 3 de fevereiro de 1910.

O olisipógrafo Luís Pastor de Macedo acrescenta ainda que «Nesta serventia pública aparece em 1698, o “pátio dos órfãos”, que depois passou à categoria de beco. Deve ser o actual beco do Alegrete, que se abre defronte do nº 21 e não tem saída.»

Freguesias de Santa Maria Maior e de São Vicente
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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A Praceta CUF onde existiu a fábrica de Alcântara

Freguesia de Alcântara
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Na Urbanização Alcântara Nascente, onde existiu a fábrica da CUF (Companhia União Fabril) a partir da segunda metade do séc. XIX e até a sua laboração ter sido transferida para o Barreiro, local onde hoje permanece uma das suas chaminés como  memória do lugar, também a edilidade lisboeta guardou este património industrial através do topónimo Praceta CUF.

Foi por  deliberação camarária de 10 de setembro e consequente Edital municipal de 23 de setembro de 2008 que o Jardim B à Rua das Fontaínhas, da Urbanização Alcântara Nascente, passou a denominar-se Praceta CUF, tal como o Jardim A passou a ser a Praceta Teófilo Ferreira.

Esta urbanização edificada junto à Rua das Fontaínhas, no terreno onde foi  outrora  a Fábrica da CUF, manteve no local uma chaminé da antiga indústria, razão para a Câmara Municipal de Lisboa manter a memória deste património no local também com a atribuição do topónimo.

A CUF em 1904
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A Companhia União Fabril foi fundada em Lisboa, com um capital de 200 contos de réis,  recebendo em 1865 o alvará de licenciamento para a produção de sabões, de velas de estearina e óleos vegetais. Trinta e três anos depois, em 1898, Alfredo da Silva (1871 – 1942), administrador da Companhia Aliança Fabril (CEF), promoveu a fusão desta empresa com a CUF e avançou para a produção de adubos em grande escala. Também nesta data entrou para o património da CUF a Fábrica Sol, situada na Avenida 24 de Julho.

Alfredo da Silva continuou um forte ritmo de expansão da CUF e a 19 de setembro de 1908 inaugurou uma fábrica na pequena vila piscatória do Lavradio, onde iniciou a produção de ácidos, transformando óleo de bagaço de azeitona para o fabrico de sabões, começando aqui a sua incursão no Barreiro.

Na década de trinta, a CUF tinha fábricas em Lisboa, Barreiro, Alferrarede, Soure, Canas de Senhorim e Mirandela, de indústria ligeira e pesada, somando um  gigantesco conglomerado empresarial que no início de 1974 contava com A Tabaqueira do Poço do Bispo (desde 1927), o Banco Totta & Açores e mais um outro para Angola e outro para Moçambique, três Companhias de Seguros, várias sociedades financeiras e  empresas de construção, para além do Grupo Desportivo da CUF que competia nas principais divisões nacionais e no mais alto patamar do futebol português. A CUF foi o maior grupo empresarial privado em Portugal e em 1975, foi nacionalizado e extinto, sendo que em 1997, como pertença do Grupo José de Mello, voltou a usar o nome CUF.

Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

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