A Rua Cidade de Bucareste

Freguesia do Areeiro

Freguesia do Areeiro

Como amanhã se comemora o Dia dos Romenos de Portugal, lembramos que Lisboa tem na sua toponímia a Rua Cidade de Bucareste desde o ano de 1995.

Pelo Edital 16/01/1995 foi esse o topónimo atribuído à designada Rua A à Avenida João XXI ou arruamento de ligação entre a Avenida João XXI e a Rua Brito Aranha, correspondendo assim a edilidade a um pedido da Embaixada da Roménia para que a sua cidade capital, nas margens do rio Dimbovica, fosse incluída na toponímia da capital portuguesa.

 

Edital nº6/95

Edital nº6/95

Rua Venceslau de Morais no seu 160º aniversário

Venceslau de Morais-02 -FOTO DO 1ºLIVRO

Neste dia em que o oficial da Marinha e escritor Venceslau de Morais faria 106 anos, recordamos a rua a que dá nome na Freguesia de Santo António – arruamento  entre a Rua Rodrigo da Fonseca e a Rua de Artilharia Um -, sete anos após o seu falecimento, através do Edital de 20/02/1936.

Nascido Wenceslau José de Sousa de Moraes (Lisboa/30.05.1854 – 01.07.1929/Tokushima- Japão), no nº 4 da Rua Cruz do Torel, destacou-se mais como o escritor de viagens que divulgou os costumes do Japão com títulos como Doi-Nippon, O Culto do Chá, Traços do Extremo Oriente e Relance da História do Japão, país onde aliás se fixou por mais de 30 anos.

Numa nota biográfica que lhe pediram, escreveu «Sou português. Nasci em Lisboa (a capital do país) no dia 30 de Maio de 1854. Estudei o curso de Marinha e dediquei-me a oficial de marinha de guerra. Em tal qualidade fiz numerosas viagens, visitando as costas de África, da Ásia, da América, etc. Estive cerca de cinco anos na China, tendo ocasião de vir ao Japão a bordo de uma canhoneira de guerra e visitando Nagasaki, Kobe e Yokohama. Em 1893, 1894, 1895 e 1896 voltei ao Japão, por curtas demoras, ao serviço de Macau, onde estava comissionado na capitania do porto de Macau. Em 1896 regressei a Macau, demorando-me por pouco tempo e voltando ao Japão (Kobe). Em 1899 fui nomeado cônsul de Portugal em Hiogo e Osaka, lugar que exerci até 1913».

Casa onde nasceu no nº 4 da Rua Cruz do Torel

Casa onde nasceu no nº 4 da Rua Cruz do Torel

Venceslau de Morais completou a Escola Naval em 1875 e ingressou na Marinha portuguesa. Em 1885 foi pela 1ª vez a Macau e aí se estabeleceu como imediato da capitania do Porto e professor do Liceu de Macau, para além de ter feito amizade com Camilo Pessanha e casado com Vong-Io-Chan (Atchan), uma chinesa de quem teve dois filhos.

Em 1889 viajou para o Japão, país ao qual regressará várias vezes no exercício das suas funções nos anos seguintes, até em 1898 abandonar mulher e filhos para se mudar definitivamente para o Japão, como cônsul em Kobe, crescendo também a sua ocupação literária e jornalística – nomeadamente, nas revistas Branco e Negro, Brasil-Portugal ou Serões – para divulgar o quotidiano japonês e, mantendo um relacionamento amoroso com a japonesa Ó-Yoné Fukumoto e, após a morte desta, com a sua sobrinha Ko-Haru. Venceslau de Morais determinou para si um funeral budista com a suas cinzas ao lado das de Ko-Haru no cemitério de Chionji.

A TAP deu o seu nome a uma das suas aeronaves e, no Japão teve direito a um estátua na praça principal de Kobe, bem como na principal avenida de Tokushima, onde existe também  um Museu Wenceslau de Moraes.

Edital  Wenceslau de Morais

 

A Rua do Electric General Edison

Thomas Edison em 1818/19

Thomas Edison em 1818-1819

Já que hoje é o Dia Mundial da Energia recordamos que Lisboa acolhe a Rua Edison, na freguesia do Areeiro, em homenagem ao inventor americano da lâmpada e dos dínamos para gerar corrente eléctrica, o qual também fundou a empresa General Electric.

A Rua Edison, que liga a Avenida de Roma à Avenida Madrid, foi atribuída pelo Edital de 29 de julho de 1948 à Rua F da Zona compreendida entre a Alameda Dom Afonso Henriques e a Linha Férrea de Cintura, e por esse mesmo Edital a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu mais onze topónimos na então freguesia de São João de Deus, todos ligados a personalidades de cariz internacional ou, a cidades europeias e brasileiras procurando assim dar algum cosmopolitismo à capital, e neste contexto foram escolhidos os cientistas Pasteur e Marconi (em Praça e Avenida), os  escritores Cervantes e Vítor Hugo (em Ruas), os brasileiros Afrânio Peixoto e João do Rio (em Praças), o único Papa português João XXI (em Avenida) e, as cidades capitais Madrid, Paris, Rio de Janeiro (em Avenidas) e Londres (numa Praça). 

Thomas Alva Edison (Ohio/11.02.1847 – 19.09.1931/Nova Jersey) foi um inventor prolífero que registou mais de duas mil patentes – embora os inventos dos empregados da Edison General Electric também fossem registados em seu nome – sendo obra sua a lâmpada elétrica incandescente, os dínamos para gerar corrente elétrica, o gramafone, o cinematógrafo e o cinescópio, o megafone, o microfone de grânulos de carvão para o telefone, bem como o sistema automático de telegrafia.

Edison foi um dos precursores da revolução tecnológica do século XX e, a sua Edison General Electric (fundada em 1888) revelou-se uma potência económica dominando a eletricidade, fabricando todos os tipos de dispositivos elétricos, como gereadores, motores e válvulas. Durante a Primeira Guerra Mundial a empresa entrou também no campo da metalurgia naval, produzindo máquinas e novos equipamentos para navios.

Rua Edison em 1964 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua Edison em 1964 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

 

A Rua do homem de Alcoitão e do Totobola

José Guilherme Melo e Castro

Neste dia em que passa o centenário do nascimento de  José de Mello e Castro, dinamizador do Centro de Reabilitação de Alcoitão e do Totobola para o financiar, evocamos a sua rua lisboeta, na freguesia do Lumiar, atribuída pelo Edital de 09/12/1988 à Rua A à Quinta do Lambert ou à Rua Amílcar Cabral, após um pedido escrito da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa a solicitar que o   seu antigo provedor desse nome à Rua das Taipas.

José Guilherme Rato de Mello e Castro (Covilhã/28.05.1914 – 27.09.1972), provedor da Santa Casa da Misericórdia de dezembro de 1957  até 11 de outubro de 1963, foi o grande impulsionador do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, onde entrou o primeiro doente em 1966, dez anos depois do início da construção do edifício. Este Centro procurava dar resposta às necessidades dos mutilados da guerra colonial, possibilitando-lhes a sua integração na sociedade e, por outro lado, criava um centro especializado em medicina de reabilitação que também garantia  a formação em Portugal de pessoal especializado .

Em 1955, o Dr. José de Mello e Castro, então Secretário de Estado da Assistência, defendeu a ideia de através das apostas mútuas se financiarem os serviços de reabilitação a nível nacional e ao mesmo tempo, criar uma nova fonte de receita para as modalidades desportivas, com que o governo concordou em 30 de novembro de 1960 e, assim foi nomeado o director do departamento das Apostas Mútuas Desportivas, o Dr. Ricardo Jorge Correia da Fonseca que em abril de 1961 deu início à organização e montagem do que constituiria o Totobola. E em 1966 foi inaugurado o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.

José de Mello e Castro, licenciado em  Direito pela Universidade de Coimbra, foi advogado (1944-1947), Governador Civil de Setúbal (1944-1947), Subsecretário da Estado da Assistência Social (1954-1957), Presidente da Comissão Executiva da União Nacional (1968-1972), Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas e ainda, deputado na Assembleia Nacional  pelo distrito de Setúbal, de 1949 até à data do seu falecimento, tendo em 3 legislaturas sido Presidente da Comissão Parlamentar de Política e Administração Geral e Social, sendo considerado até o mais «liberal» dirigente da União Nacional por ter incluído nas listas de 1969  os nomes dos mais significativos membro da Ala Liberal como Francisco Sá Carneiro.

Em 2013, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa criou uma Bolsa com o nome do Dr. José de Mello e Castro, no valor de  200 mil euros, para premiar anualmente o melhor projeto de investigação científica, clínica ou tecnológica que permita avanço na recuperação ou tratamento de lesões vertebro-medulares.

A Rua do 1º Presidente da República Portuguesa

Freguesia da Estrela (Foto: José Carlos Batista)

Freguesia da Estrela
(Foto: José Carlos Batista)

A Rua Presidente Arriaga consagra o 1º Presidente da República Portuguesa, três anos após a sua morte (pelo Edital de 18/05/1920), na que era a Rua de São Francisco de Paula,  com a extensa  legenda de «Primeiro Presidente da República Portuguesa Eleito pela Assembleia Nacional Constituinte em 24 de Agosto de 1911/Nasceu em 08.07.1840 e Morreu em 05.03.1917».

Manuel José de Arriaga Brum da Silveira (Horta/08.07.1840 – 05.03.1917/Lisboa) foi o 1º Presidente da República Portuguesa constitucionalmente eleito, com o apoio parlamentar dos partidários de António José de Almeida e Brito Camacho, em 24 de agosto de 1911, aos 71 anos.

Filho de Sebastião de Arriaga e de Maria Antónia Pardal Ramos Caldeira de Arriaga, ambos descendentes de famílias nobres açorianas, desde novo se empenhou na propaganda republicana o que lhe valeu ser deserdado pelo pai e obrigado a dar aulas de Inglês no liceu para conseguir custear os seus estudos na Universidade de Coimbra onde se formou em Leis  em 1865 e, foi depois advogado com escritório em Lisboa, professor universitário e político.

Destaque-se do seu percurso de vida ter sido vereador na Câmara Municipal de Lisboa no biénio 1886-1887; a defesa que fez de António José de Almeida em 1890 por causa do artigo «Bragança, o último» no jornal académico O Ultimatum; o ser membro do Directório do Partido Republicano (1891); ter sido deputado em duas legislaturas ainda durante a Monarquia (1882 e 1892) ;  a sua nomeação como reitor da Universidade de Coimbra em 17 de Outubro de 1910 e, um mês depois como  Procurador-Geral da República, bem como a sua eleição para as Constituintes de 1911 pelo círculo da Madeira.

Manuel de Arriaga enquanto Presidente da República desenvolveu uma política baseada em propósitos de defesa da honra nacional e na concórdia de toda a família portuguesa que colidiu com as tendências golpistas sempre presentes no novo regime e, em 1915, ao empossar Pimenta de Castro, que envolveu a dissolução do Parlamento, mais a amnistia de Paiva Couceiro,  o Parlamento considerou-o fora da lei e setores da Armada chefiados por Leote do Rego e José de Freitas Ribeiro no que ficou conhecido como a Revolta de 14 de maio de 1915 demitiram o Governo e obrigaram Manuel de Arriaga a resignar em 26 de maio de 1915, após o que se retirou da atividade política, tendo escrito e publicado a sua experiência em Na Primeira Presidência da República Portuguesa (1916).

Manuel de Arriaga no Galeria Republicana, abril de 1882

Manuel de Arriaga no Galeria Republicana, abril de 1882

 

A Travessa da Manutenção Militar do Estado

Freguesia do Beato  (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Beato
(Foto: Sérgio Dias)

Tal como a Rua da Manutenção, a Travessa da Manutenção consagra a Manutenção Militar, um estabelecimento fabril do exército português destinado a assegurar o fornecimento de víveres às forças militares.

 Ambos os topónimos começaram por ser «da Manutenção do Estado» mas viram a sua denominação encurtada por deliberação camarária de 22/06/1921 e Edital de 30/06/1921.

A Manutenção Militar foi criada pelo Decreto de 11 de junho de 1897,  em conformidade com o disposto no art.º 4.º da Carta de Lei de 19 de Julho de 1888, e foi instalada no antigo Convento de freiras carmelitas ou Grilas, no Beato. Já no ano anterior, a 13 de janeiro, o Governo determinara que o Ministério da Guerra tomasse posse do edifício, já em adaptação pelo risco do Engº Renato Baptista, que sobre essa matéria publicou o livro Manutenção Militar. A Manutenção incluía uma fábrica de moagem, de panificação e de bolacha, depósitos, armazéns, cocheiras e cavalariças.

O primeiro diretor da Manutenção Militar foi o Comandante Augusto Eugénio Alves, no período de 1897 a 1900, mas a toponímia lisboeta apenas regista um outro diretor, Artur Xavier da Mata Pereira, que a dirigiu de 1942 a 1944.

No entanto,a responsabilidade pela alimentação militar foi atribuída ao Estado em 1772. Trinta e nove anos depois, em 1811, foi criado o Comissariado de Víveres do Exército e, cinquenta anos depois, por iniciativa do então Ministro da Guerra, Marquês de Sá da Bandeira, iniciou-se a a título experimental o fabrico e fornecimento de pão ao Exército por administração direta do Estado sendo criada então no ano seguinte a Padaria Militar,  no Aterro da Boa Vista, junto à rocha do Conde de Óbidos, que virá a originar a Manutenção Militar do Estado. O 1.º Regulamento da Manutenção Militar nasceu em 1907 e nele se especifica «que é um estabelecimento com sede em Lisboa (Beato) com sucursais e depósitos noutros pontos do País, destinado à preparação e distribuição de víveres ao Exército e a outras instituições oficiais.»

Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

A 1ª notária portuguesa numa Rua de Caselas

Freguesia de Belém  (Foto: José Carlos Batista)

Freguesia de Belém
(Foto: José Carlos Batista)

Aurora de Castro, a 1ª notária portuguesa,  com cartório em Alcântara, deu nome à  Rua 6 do Bairro de Caselas, pelo Edital 20/04/1988, com a legenda «Publicista/Séc. XX».

Este Edital correspondeu a uma solicitação da Junta de Freguesia para substituir as denominações numéricas dos arruamentos do Bairro de Caselas, e assim a Aurora de Castro  juntou outras mulheres pioneiras como Carolina Ângelo (a primeira mulher a votar em Portugal ), Virgínia Quaresma (a 1ª jornalista portuguesa), as escritoras Alice Pestana, Leonor Pimentel e Olga Morais Sarmento, a pintora Sara Afonso, bem como antigas figuras daquela zona como os Margiochis,  o Manuelzinho D’ Arcolena, o Padre Reis Lima,  a Quinta do Paizinho (de António José Paizinho) e ainda, o nome antigo da toponímia local que é o Pai Calvo.

Aurora Teixeira de Castro e Gouveia (Porto/1891-1931/Valongo) foi a primeira notária em Portugal e, as suas qualidades a impuseram no notariado lisbonense. Também tomou parte no I Congresso Feminista da Educação, em maio de 1924, no qual apresentou 2 teses sobre a mulher – Reivindicações Sociais e Políticas da Mulher Portuguesa na República e Situação da Mulher Casada nas Relações Matrimoniais dos Bens do Casal –, sendo uma delas bastante ousada para a época ao exigir para as mulheres portuguesas a igualdade política plena, em nome dos princípios de uma autêntica democracia e, consequentemente, o direito ao voto, para além de também enaltecer a justiça da igualdade na família e no casamento.

Das suas obras destacam-se Notariado Português – sua História, Evolução e Natureza (1923), Monografia da Cidade do Porto (1926), Idades legais da mulher (1926), Influência da Educação na Vida Psicológica do Homem (1926), Reivindicações feministas (1928), a peça Na Sombra – Mistérios do Amor (1927) e o livro de poesia Lembrança do Passado (1927), para além dos seus artigos na Alma Feminina do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.

Placa Tipo V (Foto: José Carlos Batista)

Placa Tipo V
(Foto: José Carlos Batista)

A Rua das Salgadeiras do Bairro Alto

Freguesia da Misericórdia (Foto: Artur Matos)

Freguesia da Misericórdia
(Foto: Artur Matos)

 A Rua das Salgadeiras, no Bairro Alto, já existia como topónimo nos meados do séc. XVI sendo o seu o nome no singular – Rua da Salgadeira –  e assim continuava a ser na primeira metade do século seguinte. Posteriormente, esta artéria teve também a classificação de travessa, no período de 1712 a 1755, e depois, pelo menos desde o começo do século XIX, passou a denominar-se Rua das Salgadeiras, conforme refere Luís Pastor de Macedo na sua Lisboa de Lés-A-Lés.

Também o olisipógrafo Norberto de Araújo nas suas Peregrinações em Lisboa considera que «a Rua do Norte, no seu começo, liga com a Rua da Atalaia pela Rua das Salgadeiras – ainda uma evocação da borda de água -, serventia transversal, curta e inexpressiva, com um ou outro prédiozito a acusar Bairro Alto Antigo, e um renque de barracões no lado Sul que assentam nas traseiras dos edifícios, post-Terramoto, com frente ao Camões».

No Bairro Alto do século XVI, povoado de gentes do mar e dos Descobrimentos, o mais provável é que este topónimo referencie uma zona de salgas, onde se salgava o peixe para o  conservar até que fosse para o mercado para venda ou para as naus dos Descobrimentos.

Ainda em Lisboa existe também uma Travessa das Salgadeiras, na Freguesia de Arroios .

Placa Tipo II (Foto: Artur Matos)

Placa Tipo II
(Foto: Artur Matos)

A Calçada de Dom Gastão

Freguesia do Beato (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Beato (Foto: Sérgio Dias)

 

A Calçada de Dom Gastão, que vai da rua do Grilo à Rua de Xabregas, é um topónimo cuja data de fixação na memória da cidade se desconhece embora seja evidente a sua origem num dos membros da família Coutinho, de nome Gastão, que no local tem palácio edificado.

Norberto Araújo aponta que este Dom Gastão seja o 1º titular do condado de Taipa do decreto de 3 de julho de 1823 de D. João VI: «À Rua de Xabregas segue-se a Calçada de D. Gastão – um lanço apenas de caminho que liga Xabregas à Rua do Grilo -, Calçada que deve seu nome a D. Gastão da Câmara Coutinho Pereira de Sande, que foi 1º Conde de Taipa, e neste sítio habitou o palácio de seus maiores, casa que teve princípio no final de seiscentos e foi depois muito melhorada». Gastão da Câmara Coutinho Pereira de Sande (26.07.1794 – 27.03.1866)  foi Par do Reino em 1826 e após a aclamação de D. Miguel tomou posição activa pelos liberais pelo que foi forçado a emigrar. Em 1833, publicou as suas cartas de desavenças com o duque de Bragança D. Pedro, então o regente. No regime constitucional foi repetidas vezes deputado e acumulou as comendas da Ordem de Cristo e de Nª Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa, a cruz de 3 campanhas da Guerra Peninsular, a Estrela de Montevideu e o título de cavaleiro da Legião de Honra francesa.

No entanto, outros autores afirmam que será antes D. Gastão de Sousa Coutinho, um dos conjurados de 1640 que com o seu vizinho D. Vasco de Meneses, residente no Palácio dos Melos, tornaram a zona de Xabregas/Beato um dos mais empenhados centros de conspiração contra o domínio filipino. Em 1644, teria mesmo mandado edificar junto do seu palácio (onde no século XX passou a funcionar a Escola Básica nº 20) uma ermida dedicada a Nª Sr.ª da Restauração de que não restam vestígios. De acordo com Pastor de Macedo, teria morado na Rua do Norte em 1633-34 e falecido em 27 de janeiro de 1653 nas suas casas da Quinta do Grilo.

Por documentos do espólio do Arquivo Municipal de Lisboa sabe-se que esta Calçada foi alinhada em 1916 e que para além desta artéria existiu também um Largo de Dom Gastão já que ambos os arruamentos aparecem referidos numa planta de 1892 referente à construção da Rua da Manutenção que antes era leito do rio e permitia o acesso ao cais fluvial do Palácio de D. Gastão.

Placa Tipo II (Foto:  Sérgio Dias)

Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

A Avenida do poeta provençal

 

Le Petit Journal  de 25.12.1904

Le Petit Journal de 25.12.1904

Frédéric Mistral, poeta galardoado com o Prémio Nobel em 1904, foi reconhecido 26 anos depois pela cidade de Lisboa, através da atribuição do seu nome ao  arruamento projetado entre as Avenidas de Berna e de Elias Garcia, como Avenida Poeta Mistral (Provençal), conforme regista o Edital de 27/12/1930, a partir da proposta do General Vicente de Freitas, então Presidente da edilidade.

De seu nome completo Joseph Étienne Frédéric Mistral (Maillane/08.09.1830 – 25.03.1914/Maillane), ou Frederi Mistral ou Mistrau em provençal,  foi um escritor francês que se dedicou à poesia em língua provençal ( ou occitana) e liderou a moderna revivescência deste idioma no sul da França. A sua poesia épica foi fundamental para reabilitar o antigo idioma provençal e a cultura do País d’Oc.

O poeta Mistral estudara em Avinhão onde em 1845 conheceu o poeta Roumanille, autor do poema provençal «Li Margarideto», encontro que lhe inspirou   um poema em 4 cantos denominado «Li Meisson». Uniram-se e fundaram em 1854 o movimento do félibrige para promover a língua occitana, que contou também com a ajuda de Alphonse de Lamartine e que acolheu  todos os poetas provençais expulsos de Espanha por Isabel II. Publicavam também um órgão anual intitulado L’Armana Prouvençau. Em 1859, Mistral publicou a sua obra principal, o poema Mirèio, narrativa pastoral do amor de Vincent e de Mireia em 12 cantos e revelação do felibrismo, que teve em 1863 uma versão em ópera de Charles Gounod.

Frederi Mistral produziu ainda Calendal, NerteLis isclo d’or , Lis oulivado, O poema do Ródanoainda codificou a ortografia no Tesouro do Felibrige (1878-1886), um dicionário provençal-francês com os vários dialetos do idioma d’oc moderno. Defendeu as suas convicções federalistas também através do seu jornal L’aioli, fundado em 1891, mas não conseguiu que a língua provençal fosse ensinada na escola primária.

Quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1904, atribuído nesse ano também ao dramaturgo espanhol José Echegaray y Eizaguirre, criou o  Museu Arlaten , em Arles, dedicado ao modo de vida e história da Provença.

Em 1961 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

Avenida Poeta Mistral em 1961 (Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)