A primeira jornalista de reportagem portuguesa numa rua de Caselas

Placa Tipo V – Freguesia de Belém
(Foto: José Carlos Batista)

A primeira jornalista de reportagem portuguesa, de seu nome Virgínia Quaresma, desde 1988 que dá nome a uma rua do Bairro de Caselas, quinze anos após o seu falecimento.

Foi pelo Edital municipal de 20.04.1988, que atribuiu denominações aos arruamentos do Bairro de Caselas que antes tinham apenas denominações numéricas, correspondendo a uma solicitação da Junta de Freguesia e, que assim a juntou a outras mulheres pioneiras como Carolina Ângelo (a primeira mulher a votar em Portugal ) e Aurora de Castro (a primeira notária em Portugal), às escritoras Alice Pestana, Leonor Pimentel e Olga Morais Sarmento, à pintora Sara Afonso, a antigas figuras daquela zona como os Margiochis, o Manuelzinho D’ Arcolena, o Padre Reis Lima e a Quinta do Paizinho (de António José Paizinho) e ainda, ao nome antigo da toponímia local que é o Pai Calvo.

Virgínia Sofia da Guerra Quaresma (Elvas/28.12.1882 – 26.10.1973/Lisboa) foi uma das primeiras licenciadas do então Curso Superior de Letras (hoje, Faculdade de Letras de Lisboa), em 1903, e a 1ª mulher que exerceu a profissão de jornalista em Portugal.

Começou a trabalhar no Jornal da Noite e, a colaborar na secção “Jornal da Mulher” d’ O Mundo, onde assinou importantes textos em defesa do feminismo, até Manuel Guimarães a convidar para O Século, em 1908, onde voltou repetidas vezes na sua carreira. Passou por outros jornais, como A Capital, quando em 1910 Manuel Guimarães fundou este jornal, tendo até Virgínia arrendado um apartamento na Rua do Norte, mesmo em frente ao jornal que era no nº 3, o prédio da esquina com a Praça de Luís de Camões. Virgínia Quaresma distinguiu-se nas reportagens políticas e, no Século chegou a chefe de Informações Gerais e Reportagens Especiais, dando um forte impulso à reportagem e fazendo dela um género nobre.

Entrevistada para A Capital em 26 de Agosto de 1911, confessou adorar a sua profissão e afirmou que os colegas homens sempre a acolheram muito bem, desejando ver outras mulheres a ganhar a vida como jornalistas. Assumia-se como feminista e republicana, tendo engrossado a campanha de 1909 a favor da aprovação da Lei do Divórcio e discursado na Assembleia Geral da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas de 26 de Outubro de 1910, onde foi aprovado o caderno reivindicativo feminista a apresentar a Afonso Costa. Consequentemente, escreveu pelo direito ao voto das mulheres e acesso às mesmas profissões que os homens, à administração dos bens e ao divórcio, nomeadamente na revista Sociedade Futura de Olga Morais Sarmento, bem como na revista Alma Feminina (1907-1908), na qual pela 1ª vez em Portugal colocou uma mulher operária em destaque. 

De 1912  a 1917 foi para o Brasil onde fez carreira n’ A Época, Correio Português e Gazeta de Notícias e, ganhou a distinção de Cidadã Carioca Honorária. Voltou mais tarde ao Rio de Janeiro para organizar a visita do Presidente da República António José de Almeida de 1922 e, a Semana de Portugal na Feira de Amostras do Rio de Janeiro (1933). Foi ainda no Brasil que conheceu Óscar de Carvalho Azevedo que a convidou para chefiar a delegação lisboeta da Agência Americana de Notícias (agência noticiosa criada por Olavo Bilac), paredes meias com o Chiado Terrace ali na Rua António Maria Cardoso. Durante a I Guerra, colocou esta estrutura ao serviço da Cruzada das Mulheres Portuguesas, promovendo o auxílio aos estropiados de guerra, órfãos e viúvas e foi por isso condecorada com a Ordem de Santiago.

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